Aquilombamento

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 11h55min de 11 de abril de 2024 por Suzane30 (discussão | contribs) (Criou página com 'A palavra aquilombamento significa ‘’pau de feira’’ um tipo de material utilizado para levantar telhados, ressignificada hoje quer dizer potência e luta pela liberdade. Os quilombos foram o espaço de resistência e luta contra a escravidão os escravos que fugiam e encontravam outros escravos construíam quilombos, comunidades que se recusavam a aceitar a escravidão. Para além do sentido inicial da palavra aquilombamento e do sentido dos quilombos como comun...')
(dif) ← Edição anterior | Revisão atual (dif) | Versão posterior → (dif)

A palavra aquilombamento significa ‘’pau de feira’’ um tipo de material utilizado para levantar telhados, ressignificada hoje quer dizer potência e luta pela liberdade. Os quilombos foram o espaço de resistência e luta contra a escravidão os escravos que fugiam e encontravam outros escravos construíam quilombos, comunidades que se recusavam a aceitar a escravidão. Para além do sentido inicial da palavra aquilombamento e do sentido dos quilombos como comunidade física propriamente dita, temos o aquilombamento como luta material e imaterial como símbolo de resistência e ancestralidade. Por meio da coletividade, conexão e afeto para sustentar e solidificar essas relações como resgate de coletividade e identidade o aquilombamento potencializa nossas relações individuais através da potencialização do coletivo, essa monografia nasceu a partir das minhas experiencias individuais que tornaram-se coletivas quando entendi que milhares de meninas e mulheres negras passavam o mesmo que eu. O resgate da minha autoestima e identidade, âmbito social, emocional e cultural só foi possível por construir com meus pares o afeto, exercer meu pertencimento por mais que não soubesse que o tinha, era nada em lugar nenhum, por mais dura que essa frase possa ser transformei a solidão da mulher preta em encontros que teceram relações em um sentimento único, não estamos sozinhas. Se você é negro provavelmente já ouviu a frase ‘’ o racismo nosso de cada dia’’ é a expressão usada para cada santo dia desde a hora que acordamos a hora que vamos dormir e enfrentamos o racismo em seus diversos aspectos, velados ou não, sutis ou abertos eles estão lá como um lobo a espreita ou uma cobra que anseia em dar o bote, nossos qSegundo Bell Hooks, “estar na margem é ser parte do todo, mas fora do corpo principal” (2019, p. 67) dessa forma a margem como foram criados os quilombos transformaram-se em um movimento de possibilidades através do aquilombamento, um espaço de reescrever, foi o que mudou o curso da minha história e de tantas outras o que mais me motiva a continuar escrevendo, a certeza do encontro, que esse pequeno pedaço do meu caminho encontre tantos outros até tronar-se grande o nosso aquilombamento. Não vejo e não quero outra forma de resistir que não seja pela luta coletiva é a forma de se religar com sua comunidade de origem resgatando e regando nossa cultura, quantas vezes sentimos as dores causadas pela falta de pertencimento, como aponta Frantz Fanon ‘’um-não-lugar-eterno’’ (FANON, 2008, p. 35) uma vez que a diáspora negra, leia-se escravidão, não só não ficou como arrancou todas as raízes negras que eram possíveis sendo esse um marcador fundamental para entender essa construção e reconstrução de identidade. quilombos modernos são nossa forma de não sucumbir e nos fortalecer cotidianamente. Foi junto dos meus que descobri abri espaço e passagem para um lugar fundando meus próprios referenciais para manter a ancestralidade, memórias e existências, mais que a organização social é a rendição e salvamento individual que acaba por tornar-se coletivo quando me descobri e descobri tantas, outras senti que o fardo que carregava de estranheza e inadequação tinha um nome, racismo. Não era nada sobre mim, não era nada comigo, não era nada que eu tivesse feito ou nada que pudesse fazer para evitar, era a cor da minha pele que gritava sem eu falar que vinha antes de qualquer atitude ou apresentação minha, era meu carro chefe, meu outdoor em letras garrafais, meu carro de tele mensagem daqueles cafonas do anos 90 que são impossíveis de não ouvir no quarteirão, eu sou preta! É e vai ser pra sempre assim, mas dessa vez aquilombada e nutrida dos meus, abram caminho.