https://wikifavelas.com.br/api.php?action=feedcontributions&user=Fornazin&feedformat=atomDicionário de Favelas Marielle Franco - Contribuições do usuário [pt-br]2024-03-29T01:33:43ZContribuições do usuárioMediaWiki 1.39.5https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Rolezinho&diff=26113Rolezinho2024-02-06T18:56:23Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>"Rolezinho" começou como um simples passeio entre amigos, mas evoluiu para uma manifestação cultural e coletiva da juventude em busca do direito à cidade, enfrentando proibições de circular em shoppings. Na [[Complexo da Maré|Maré]], essa prática se tornou popular, incentivando os jovens a ocupar os espaços urbanos historicamente negados a eles. Apesar de ser visto de maneira negativa pelas elites, o rolezinho é um instrumento de afirmação de direitos da juventude, que busca apropriação e troca de experiências, envolvendo jovens de diferentes favelas.<br />
'''Autoria: Gizele Martins e Thais Cavalcante.'''<br />
<br />
== Sobre ==<br />
Era para ser um simples passeio entre amigos, mas virou uma afirmação de identidades e estilos quando estes passaram a ser proibidos de circularem em locais como os shoppings da cidade. Hoje, é uma manifestação cultural e conjunta da [[:Categoria:Juventude|juventude]] para afirmação e busca pelo direito à cidade. Virou a afirmação de identidades, de estilos, além de mostrar que é necessário atravessar os muros invisíveis da cidade e é possível se manifestar em espaços ditos particulares, fechados ao grande público. Na [[Complexo da Maré|Maré]], o rolezinho também virou febre quando a juventude mareense passou a dizer que é preciso sim ocupar a cidade, a disputar os espaços que historicamente disseram que não eram nossos. Na [[Complexo da Maré|Mar]]<nowiki/>é, ainda é difícil circular pela própria favela, mas o rolezinho que virou febre nacional, nos deu exemplo de que é necessário ocupar as ruas, os espaços, a favela, a cidade. Visto de forma negativa pelas elites, o rolezinho é um instrumento de afirmação de direitos da juventude. Na Maré, o rolezinho acontece como forma de os jovens moradores de apropriarem do território. Mas a atividade também é um momento de troca, pois jovens de outras favelas também são convidados a participar e compartilhar experiências.<br />
<br />
== Documentário "Hiato" (2008) ==<br />
<br />
'''Ficha técnica''': 20'00" | MiniDV | Cor NTSC | Estéreo | 16:9 | 2008 | Brasil<br />
<br />
'''Direção''': Vladimir Seixas<br />
<br />
'''Roteiro''': Vladimir Seixas e Maria Socorro e Silva<br />
<br />
'''Montagem''':&nbsp;Ricardo Moreira e Roberta Rangé<br />
<br />
'''Fotografia''': Maurício Stal e Vladimir Seixas<br />
<br />
'''Som direto''': Vitor Kruter e Helen Ferreira<br />
<br />
'''Assistente de finalização''': Juliana Oakim<br />
<br />
'''Sinopse''': Em agosto de 2000 um grupo de manifestantes organizou uma ocupação em um grande shopping da zona sul carioca. O episódio obteve grande repercussão na imprensa nacional e ainda hoje é discutido por alguns teóricos. O filme recuperou imagens de arquivo e traz entrevistas de alguns personagens 7 anos após essa inusitada manifestação.<br />
<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=UHJmUPeDYdg}}<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
== Veja também ==<br />
*[[Mobilidades]] <br />
*[[Mobilidade Urbana e o impacto da violência na vida das favelas no Rio de Janeiro (artigo)]]<br />
*[[Mobilidade urbana e direito à cidade no Complexo do Alemão (livro)]]<br />
*[[Direito à cidade: a favela circulando (live)]]<br />
*[[Direito à Favela]]<br />
*[[A cor da mobilidade (artigo)]]<br />
<br />
[[Category:Direito à cidade]] [[Category:Maré]] [[Category:Lazer]] [[Category:Temática - Juventude]] [[Category:Temática - Mobilidades]] [[Category:Filmes]] [[Category:Documentários]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Folia_de_Reis_-_Os_Penitentes_do_Santa_Marta&diff=25526Folia de Reis - Os Penitentes do Santa Marta2024-01-09T14:59:39Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>[[Arquivo:Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz.jpg|alt=Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz|miniaturadaimagem|300x300px|Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz]]A tradição de Folia de Reis no [[Santa Marta Favela|Morro de Santa Marta]] é muito antiga, e encontrou aqui [no [[Santa Marta Favela|Santa Marta]]] as condições para sua sobrevivência: pessoas que vieram de São Fidelis, Itaperuna, Miracema, Sul de Minas puderam reencontrar suas raízes culturais, agora adaptadas às condições da cidade grande.<br />
Autor: [[Itamar Silva (entrevista)|Itamar Silva]]<br />
<br />
Fotografias: [[Ratão Diniz (fotógrafo)|Ratão Diniz]]<br />
== Um pouco da história da Folia de Reis - Os Penitentes do Santa Marta ==<br />
<br />
[[File:85079752 853496691730582 7351050949051285504 n.jpg|thumb|400x400px|Folia de Reis no Santa Marta|alt=]]<br />
<br />
Em meados dos anos 60 a Folia de Reis do mestre Zé Cândido,&nbsp;morador da Ilha do Governador, convidou pessoas&nbsp;do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]] para integrarem a sua Folia de Reis: Luiz, Dodô, Zé Diniz, Borrachinha, Clarisse, Manoelina, Machado, Joãozinho, Manezinho, entre outros se incorporaram e assumiram aquela missão. Muito rapidamente a maioria dos componentes da Folia de Reis da Ilha do Governador era de foliões do Santa Marta.<br />
<br />
Com a morte de Zé Cândido, o Sr. Luiz assumiu a posição de mestre e a Folia passou a sair de sua casa, no [[Santa Marta Favela|Santa Marta]]. Pode-se dizer que aí começou oficialmente a Folia de Reis dessa Comunidade. Mestre Luiz manteve este posto até quando a saúde lhe permitiu. Foi substituído pelo mestre Joãozinho, que depois de anos&nbsp; dedicados ao ofício de palhaço, assumiu a tarefa de conduzir a Folia de Reis. Após sua morte, o cargo ficou sob a responsabilidade de Mestre Dodô, que desempenhou com orgulho a função de dar os versos e puxar a cantoria na Folia do Santa Marta. Quando morreu, o lugar de mestre&nbsp; foi ocupado por Zé Diniz que, desde o início, exercia o cargo de presidente da referida Folia. Até hoje Mestre Diniz acumula o posto de mestre e de presidente dos Penitentes do Santa Marta.<br />
<br />
[[File:85021902 2528131160763238 4425434774521249792 n.jpg|thumb|600px|alt=|esquerda]]<br />
<br />
<br />
As mulheres sempre tiveram um papel importante na [[Folia no Morro (documentário)|Folia de Reis do Santa Marta]]. A responsabilidade de carregar o símbolo máximo da Folia, a bandeira dos Reis Magos, sempre esteve a cargo de dedicadas mulheres. Várias delas&nbsp; já desempenharam esta função: Clarisse, D. Neusa, Marina e, atualmente, D. Eva cumpre a missão de carregar a bandeira da Folia. No entanto, a presença das&nbsp; pastorinhas, como são chamadas as mulheres neste cortejo, foi além da bandeira,&nbsp; formando o coro de cantoria, outros nomes se incorporaram: D. Maura, *D. Rosa, Marina, Rita ,&nbsp; *Maria Bela, *Delfina, *Eunice e duas recentes participações Eliane e Roberta se agregaram, alterando definitivamente o perfil desta Folia de Reis.<br />
<br />
[[File:85043309 1587230384785970 7492156881176100864 n.jpg|thumb|400x400px|Palhaços na Folia de Reis|alt=]]<br />
<br />
<br />
<br />
Os palhaços são um capítulo á parte: Na origem da Folia do Santa Marta&nbsp;está o nome de Totonho, lembrado com admiração pelos que lhe sucederam. A linha de sucessão foi preenchida por Joãzinho, que durante muitos anos foi mestre dos palhaços, dividindo as atenções com seus contemporâneo: Borrachinha, Zezinho Capirai, Zé Carlos, Macalé.<br />
<br />
Com apenas nove anos de idade, Ronaldo, filho do mestre Diniz, começou a sair como palhaço nessa Folia. Desde muito cedo mostrou que seria um grande palhaço. Nos últimos 30 anos, Ronaldo reinou como palhaço e, de certo, estará na galeria dos melhores palhaços de [[Espaços, lugares e festas|Folia de Reis]] do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Seguindo seus passos, seu filho Júnior, iniciou-se na vida de palhaço&nbsp;aos&nbsp;sete anos de idade. Nos últimos 15 anos, pai e filho, juntamente com o companheiro Guinho,&nbsp; se transformaram no cartão de visita dos Penitentes do Santa Marta.<br />
<br />
<br />
A Folia tem hoje, como suporte básico, um núcleo familiar formado a partir do Mestre Zé Diniz, reforçando a importância dos laços familiares na transmissão das&nbsp;tradições culturais: Mulher, filhos, netos, irmãos, primo e amigos compõem&nbsp; o grupo Os Penitentes Foliões do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]]: Zé Diniz, Arlindo, Riquinho, Maura, Eva, Gilson,Ronaldo, Junior, Borrachinha, Cosme (Macieira), Inácio,&nbsp; Jorge, Russo (sanfoneiro), *Mário, Daniel, Dudu, Haroldo, Fábio.<br />
<br />
== Dinâmica das apresentações ==<br />
<br />
[[File:80007821 813740105717723 3816033955224748032 n.jpg|thumb|400x400px|alt=]]<br />
<br />
A folia sai no dia 25 de dezembro a meia noite e encerra sua jornada no dia 20 de janeiro, realizando a procissão de São Sebastião.<br />
<br />
Diferente dos hábitos da "Roça", onde os foliões saiam de casa no dia 25 de dezembro e só retornavam no dia 06 de janeiro (dia de Reis), a Folia urbana, como é o caso desta do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]], sai em todos os finais de semana e feriados existentes no intervalo entre o dia 25 de dezembro e 20 de janeiro. Esta adaptação tem a ver com a disponibilidade de tempo dos participantes, como também daqueles que lhes vão receber.&nbsp;<br />
<br />
A Folia visita casas no Morro de Santa Marta e também em outras favelas: Rocinha, Morro 117, Tavares Bastos, Trapicheiro, ilha do Governador.<br />
<br />
Homenagem a cinco foliões históricos que deixaram saudades pelo falecimento nos últimos três anos:&nbsp; Jofiene (Manézinho) – Sanfoneiro, Delfina ( Tia Delfina) – A viola era a sua marca, D. Eunice, D. Maria Bela e&nbsp;Mário&nbsp;-&nbsp; A devoção aos Reis Magos e ao mártir São Sebastião uniu-os a este grupo.<br />
<br />
== O contexto urbano ==<br />
<br />
<br/>As grandes cidades, como o Rio de Janeiro, receberam uma população que veio da área rural seja do norte e nordeste ou de áreas adjacentes a esses núcleos de crescimento urbano. No caso da Cidade do Rio e, em particular o [[Santa Marta Favela|Santa Marta]],&nbsp;recebeu uma população rural do norte fluminense, sul de minas e adjacências, no primeiro movimento migratório (1939/1960).<br />
<br />
Cada grupo trouxe a sua [[:Categoria:Cultura|cultura]]: seu jeito de viver, de ver a vida e de celebrar. A [[Folia de Reis|Folia de Rei]]<nowiki/>s é uma das muitas expressões dessa população. No entanto, as condições físicas e materiais são diferentes da roça e, muita coisa fica perdida.&nbsp; A Folia de Reis do Santa Marta é um núcleo de [[Favelas como resistência à cidade do Capital|resistência da arte popular]]. E, no mínimo há&nbsp; três décadas, mantém essa tradição no morro de [[Santa Marta Favela|Santa Marta]].<br />
<br />
== Objetivos do grupo ==<br />
<br />
# Tornar o [[Santa Marta Favela|Morro de Santa Marta]] uma referência no que diz respeito a [[Folia de Reis]] na área urbana. Trazendo para esta favela outras Folias de Reis existentes no Estado. Definir o Santa Marta como o lugar de encontro das Folias de Reis. Dessa forma, ampliar a percepção dos moradores do Morro, pondo-os em contato com outros grupos populares, que lutam pela sobrevivência da cultura popular.<br />
# Formar novos conhecedores e admiradores de Folia de Reis, estabelecendo com&nbsp; as escolas pública e particulares da Cidade uma parceria onde o encontro do foliões com professores e alunos seria um canal para qualificar as informações sobre as manifestações populares de nosso Estado.<br />
<br />
== Entrevista ==<br />
<br />
<br/>''Autores: Riquinho (Mestre da Folia de Reis), Ronaldo, Junior (palhaços da Folia de Reis) e Adair Rocha (Santa Marta).''<br />
<br />
De Mestre para Mestre: "Joãozinho foi uma das pessoas mais inteligentes que conheci, dentro de sua capacidade". Do Mestre Zé Diniz, na hora derradeira do Mestre Joãozinho.<br />
<br />
Inicialmente, "jornada" e "profecia" são palavras importantes para se compreender a existência da Folia de Reis, no Santa Marta e em toda parte.<br />
<br />
A grande viagem dos Reis Magos para visitar o Menino que havia nascido em Belém e que seria o Salvador, chamada também de Messias, segundo as "profecias", durou doze dias, do Natal ao Dia de Reis, para levarem seus presentes: ouro, incenso e mirra. Gaspar, Melquior e Baltasar eram seus nomes.<br />
<br />
Os antecedentes e a trajetória dessa folia foi descrita pelos mestres Dodô, um dos primeiros moradores do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]], quando em 1941 foram construídos os primeiros barracos, e pelo Mestre Zé Diniz, Filhos da "Quinha", uma espécie de matriarca ou sacerdotisa, guia da família Silva, abre caminhos conduzindo a Bandeira dos Três Reis, abria os caminhos para seus filho Zé Diniz e sua esposa Maura, que comanda as pastorinhas. Seu neto Ronaldo e o bisneto Juninho, palhaços da Folia e o Mestre atual Riquinho, também seu neto, conviveram com "Quinha".<br />
<br />
Segundo Dodô e Zé Diniz "nós vamos começar pelos fundamentos da Folia. Essa Folia de Reis do Santa Marta é nascida lá na Ilha do Governador, do pai do finado Mestre Joãozinho. Nós saíamos lá, na folia dele. Depois ele faleceu e nós fomos sair numa outra folia. Ele se chamava João Lopes Israel. Então aprendemos a cantar na Folia de Reis com ele. Já o Joãozinho é quem armou a Folia, com o Luis Santos Silva, que passou para mim (Dodô) e depois, o finado Joãzinho. Cantamos em seguida numa Folia do Leme, do [[Favelas Chapéu-Mangueira e Babilônia|Chapéu Mangueira]], com o Manoel Balbino, também falecido. Então descobrimos que tínhamos sabedoria para armar nossa Folia. Inicialmente, fomos ajudados pelo birosqueiro João Silva que nos deu o 'fardamento'. Então o fundamento dessa Folia tem: o Luis dos Santos, José Hilário dos Santos (Dodô), Zé Diniz, Paulinho e Joãozinho.Dodô cantou quatro anos e passou para o Joãozinho (grande Mestre). Depois, Dodô e Luis se revezavam de Mestre o contra-mestre. Tiveram a mesma escola".<ref> Entrevista concedida em 1985 para a dissertação de Mestrado: Na reza se conta a história e se canta a luta. Um estudo da Folia de Reis do Morra Santa Marta, defendido na Educação da PUC-Rio, por Adair Rocha.</ref><br />
<br />
O mestre seguinte foi Zé Diniz, que faleceu também mas é memória viva da Folia, que tem hoje, em seu filho Riquinho o Mestre que mantem a "jornada" sempre mais viva e atual, na parceria de Juninho e Ronaldo liderando a escolinha que agrega a criançada que dá futuro a essa tradição.<br />
<br />
A trajetória do 25 de dezembro ao 6 de janeiro, ainda celebra um devoto e padroeiro, o Mestre São Sebastião, com a Procissão de 20 de janeiro, organizada e conduzida pelos Foliões e Penitentes do Santa. Reúne-se novamente na metade do ano para o 'Descante" ( para cantar de novo no ano seguinte).<br />
<br />
Com Mestre, contra-Mestre, o cordão das vozes, pastorinhas e percussionistas, e ainda com dois ou quatro palhaços, mascarados que representam os soldados de Herodes e, portanto, distraem e divertem, especialmente a criançada, que faz a festa, essa composição da [[Folia de Reis]] representa uma atitude de fé e cultura, que atualiza a anunciação, o nascimento, a perseguição, o sofrimento, a morte e a ressurreição, na sabedoria da palavra que o Mestre domina, cantando em versos a significação do Presépio e a sequência da profecia, conforme o acolhimento doméstico ou institucional.<br />
<br />
== Mais imagens da Folia de Reis ==<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
<span style="font-size:smaller;"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif;">[[File:84879331 639039003578535 2484095129934102528 n.jpg|thumb|center|600px|84879331 639039003578535 2484095129934102528 n.jpg]][[File:80001439 2825813950771709 175139755489492992 n.jpg|thumb|center|600px|80001439 2825813950771709 175139755489492992 n.jpg]][[File:79200609 2517803398542170 2670442362064338944 n.jpg|thumb|center|600px|79200609 2517803398542170 2670442362064338944 n.jpg]][[File:79108795 572504220200135 2278546031031353344 n.jpg|thumb|center|600px|79108795 572504220200135 2278546031031353344 n.jpg]][[File:78871405 2402476826548392 7888423474576752640 n.jpg|thumb|center|600px|78871405 2402476826548392 7888423474576752640 n.jpg]][[File:78861398 2668853783173603 9058143863293607936 n.jpg|thumb|center|600px|78861398 2668853783173603 9058143863293607936 n.jpg]][[File:78854770 2668423399891335 1213450564608720896 n.jpg|thumb|center|600px|78854770 2668423399891335 1213450564608720896 n.jpg]][[File:78231906 768784453636859 7238332285441802240 n.jpg|thumb|center|600px|78231906 768784453636859 7238332285441802240 n.jpg]]</span></span><br />
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[[Category:Temática - Cultura]][[Category:Folia de Reis]][[Category:Santa Marta]][[Category:Religiosidade]][[Category:Temática - Religião]]<br />
<references /><br />
[[Categoria:Festas populares]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Folia_de_Reis_-_Os_Penitentes_do_Santa_Marta&diff=25525Folia de Reis - Os Penitentes do Santa Marta2024-01-09T14:53:15Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>A tradição de Folia de Reis no [[Santa Marta Favela|Morro de Santa Marta]] é muito antiga, e encontrou aqui [no [[Santa Marta Favela|Santa Marta]]] as condições para sua sobrevivência: pessoas que vieram de São Fidelis, Itaperuna, Miracema, Sul de Minas puderam reencontrar suas raízes culturais, agora adaptadas às condições da cidade grande.<br />
Autor: [[Itamar Silva (entrevista)|Itamar Silva]]<br />
<br />
Fotografias: [[Ratão Diniz (fotógrafo)|Ratão Diniz]]<br />
[[Arquivo:Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz.jpg|alt=Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz|centro|miniaturadaimagem|500x500px|Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz]]<br />
<br />
== Um pouco da história da Folia de Reis - Os Penitentes do Santa Marta ==<br />
<br />
Em meados dos anos 60 a Folia de Reis do mestre Zé Cândido,&nbsp;morador da Ilha do Governador, convidou pessoas&nbsp;do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]] para integrarem a sua Folia de Reis: Luiz, Dodô, Zé Diniz, Borrachinha, Clarisse, Manoelina, Machado, Joãozinho, Manezinho, entre outros se incorporaram e assumiram aquela missão. Muito rapidamente a maioria dos componentes da Folia de Reis da Ilha do Governador era de foliões do Santa Marta.<br />
<br />
Com a morte de Zé Cândido, o Sr. Luiz assumiu a posição de mestre e a Folia passou a sair de sua casa, no [[Santa Marta Favela|Santa Marta]]. Pode-se dizer que aí começou oficialmente a Folia de Reis dessa Comunidade. Mestre Luiz manteve este posto até quando a saúde lhe permitiu. Foi substituído pelo mestre Joãozinho, que depois de anos&nbsp; dedicados ao ofício de palhaço, assumiu a tarefa de conduzir a Folia de Reis. Após sua morte, o cargo ficou sob a responsabilidade de Mestre Dodô, que desempenhou com orgulho a função de dar os versos e puxar a cantoria na Folia do Santa Marta. Quando morreu, o lugar de mestre&nbsp; foi ocupado por Zé Diniz que, desde o início, exercia o cargo de presidente da referida Folia. Até hoje Mestre Diniz acumula o posto de mestre e de presidente dos Penitentes do Santa Marta.<br />
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[[File:85079752 853496691730582 7351050949051285504 n.jpg|thumb|center|600px|85079752 853496691730582 7351050949051285504 n.jpg]]<br />
<br />
As mulheres sempre tiveram um papel importante na [[Folia no Morro (documentário)|Folia de Reis do Santa Marta]]. A responsabilidade de carregar o símbolo máximo da Folia, a bandeira dos Reis Magos, sempre esteve a cargo de dedicadas mulheres. Várias delas&nbsp; já desempenharam esta função: Clarisse, D. Neusa, Marina e, atualmente, D. Eva cumpre a missão de carregar a bandeira da Folia. No entanto, a presença das&nbsp; pastorinhas, como são chamadas as mulheres neste cortejo, foi além da bandeira,&nbsp; formando o coro de cantoria, outros nomes se incorporaram: D. Maura, *D. Rosa, Marina, Rita ,&nbsp; *Maria Bela, *Delfina, *Eunice e duas recentes participações Eliane e Roberta se agregaram, alterando definitivamente o perfil desta Folia de Reis.<br />
<br />
[[File:85043309 1587230384785970 7492156881176100864 n.jpg|thumb|center|600px|85043309 1587230384785970 7492156881176100864 n.jpg]]<br />
<br />
Os palhaços são um capítulo á parte: Na origem da Folia do Santa Marta&nbsp;está o nome de Totonho, lembrado com admiração pelos que lhe sucederam. A linha de sucessão foi preenchida por Joãzinho, que durante muitos anos foi mestre dos palhaços, dividindo as atenções com seus contemporâneo: Borrachinha, Zezinho Capirai, Zé Carlos, Macalé.<br />
<br />
[[File:85021902 2528131160763238 4425434774521249792 n.jpg|thumb|center|600px|85021902 2528131160763238 4425434774521249792 n.jpg]]<br />
<br />
Com apenas nove anos de idade, Ronaldo, filho do mestre Diniz, começou a sair como palhaço nessa Folia. Desde muito cedo mostrou que seria um grande palhaço. Nos últimos 30 anos, Ronaldo reinou como palhaço e, de certo, estará na galeria dos melhores palhaços de [[Espaços, lugares e festas|Folia de Reis]] do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Seguindo seus passos, seu filho Júnior, iniciou-se na vida de palhaço&nbsp;aos&nbsp;sete anos de idade. Nos últimos 15 anos, pai e filho, juntamente com o companheiro Guinho,&nbsp; se transformaram no cartão de visita dos Penitentes do Santa Marta.<br />
<br />
A Folia tem hoje, como suporte básico, um núcleo familiar formado a partir do Mestre Zé Diniz, reforçando a importância dos laços familiares na transmissão das&nbsp;tradições culturais: Mulher, filhos, netos, irmãos, primo e amigos compõem&nbsp; o grupo Os Penitentes Foliões do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]]: Zé Diniz, Arlindo, Riquinho, Maura, Eva, Gilson,Ronaldo, Junior, Borrachinha, Cosme (Macieira), Inácio,&nbsp; Jorge, Russo (sanfoneiro), *Mário, Daniel, Dudu, Haroldo, Fábio.<br />
<br />
== Dinâmica das apresentações ==<br />
<br />
A folia sai no dia 25 de dezembro a meia noite e encerra sua jornada no dia 20 de janeiro, realizando a procissão de São Sebastião.<br />
<br />
Diferente dos hábitos da "Roça", onde os foliões saiam de casa no dia 25 de dezembro e só retornavam no dia 06 de janeiro (dia de Reis), a Folia urbana, como é o caso desta do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]], sai em todos os finais de semana e feriados existentes no intervalo entre o dia 25 de dezembro e 20 de janeiro. Esta adaptação tem a ver com a disponibilidade de tempo dos participantes, como também daqueles que lhes vão receber.&nbsp;<br />
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[[File:80007821 813740105717723 3816033955224748032 n.jpg|thumb|center|600px|80007821 813740105717723 3816033955224748032 n.jpg]]<br />
<br />
A Folia visita casas no Morro de Santa Marta e também em outras favelas: Rocinha, Morro 117, Tavares Bastos, Trapicheiro, ilha do Governador.<br />
<br />
Homenagem a cinco foliões históricos que deixaram saudades pelo falecimento nos últimos três anos:&nbsp; Jofiene (Manézinho) – Sanfoneiro, Delfina ( Tia Delfina) – A viola era a sua marca, D. Eunice, D. Maria Bela e&nbsp;Mário&nbsp;-&nbsp; A devoção aos Reis Magos e ao mártir São Sebastião uniu-os a este grupo.<br />
<br />
== O contexto urbano ==<br />
<br />
<br/>As grandes cidades, como o Rio de Janeiro, receberam uma população que veio da área rural seja do norte e nordeste ou de áreas adjacentes a esses núcleos de crescimento urbano. No caso da Cidade do Rio e, em particular o [[Santa Marta Favela|Santa Marta]],&nbsp;recebeu uma população rural do norte fluminense, sul de minas e adjacências, no primeiro movimento migratório (1939/1960).<br />
<br />
Cada grupo trouxe a sua [[:Categoria:Cultura|cultura]]: seu jeito de viver, de ver a vida e de celebrar. A [[Folia de Reis|Folia de Rei]]<nowiki/>s é uma das muitas expressões dessa população. No entanto, as condições físicas e materiais são diferentes da roça e, muita coisa fica perdida.&nbsp; A Folia de Reis do Santa Marta é um núcleo de [[Favelas como resistência à cidade do Capital|resistência da arte popular]]. E, no mínimo há&nbsp; três décadas, mantém essa tradição no morro de [[Santa Marta Favela|Santa Marta]].<br />
<br />
== Objetivos do grupo ==<br />
<br />
# Tornar o [[Santa Marta Favela|Morro de Santa Marta]] uma referência no que diz respeito a [[Folia de Reis]] na área urbana. Trazendo para esta favela outras Folias de Reis existentes no Estado. Definir o Santa Marta como o lugar de encontro das Folias de Reis. Dessa forma, ampliar a percepção dos moradores do Morro, pondo-os em contato com outros grupos populares, que lutam pela sobrevivência da cultura popular.<br />
# Formar novos conhecedores e admiradores de Folia de Reis, estabelecendo com&nbsp; as escolas pública e particulares da Cidade uma parceria onde o encontro do foliões com professores e alunos seria um canal para qualificar as informações sobre as manifestações populares de nosso Estado.<br />
<br />
== Entrevista ==<br />
<br />
<br/>''Autores: Riquinho (Mestre da Folia de Reis), Ronaldo, Junior (palhaços da Folia de Reis) e Adair Rocha (Santa Marta).''<br />
<br />
De Mestre para Mestre: "Joãozinho foi uma das pessoas mais inteligentes que conheci, dentro de sua capacidade". Do Mestre Zé Diniz, na hora derradeira do Mestre Joãozinho.<br />
<br />
Inicialmente, "jornada" e "profecia" são palavras importantes para se compreender a existência da Folia de Reis, no Santa Marta e em toda parte.<br />
<br />
A grande viagem dos Reis Magos para visitar o Menino que havia nascido em Belém e que seria o Salvador, chamada também de Messias, segundo as "profecias", durou doze dias, do Natal ao Dia de Reis, para levarem seus presentes: ouro, incenso e mirra. Gaspar, Melquior e Baltasar eram seus nomes.<br />
<br />
Os antecedentes e a trajetória dessa folia foi descrita pelos mestres Dodô, um dos primeiros moradores do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]], quando em 1941 foram construídos os primeiros barracos, e pelo Mestre Zé Diniz, Filhos da "Quinha", uma espécie de matriarca ou sacerdotisa, guia da família Silva, abre caminhos conduzindo a Bandeira dos Três Reis, abria os caminhos para seus filho Zé Diniz e sua esposa Maura, que comanda as pastorinhas. Seu neto Ronaldo e o bisneto Juninho, palhaços da Folia e o Mestre atual Riquinho, também seu neto, conviveram com "Quinha".<br />
<br />
Segundo Dodô e Zé Diniz "nós vamos começar pelos fundamentos da Folia. Essa Folia de Reis do Santa Marta é nascida lá na Ilha do Governador, do pai do finado Mestre Joãozinho. Nós saíamos lá, na folia dele. Depois ele faleceu e nós fomos sair numa outra folia. Ele se chamava João Lopes Israel. Então aprendemos a cantar na Folia de Reis com ele. Já o Joãozinho é quem armou a Folia, com o Luis Santos Silva, que passou para mim (Dodô) e depois, o finado Joãzinho. Cantamos em seguida numa Folia do Leme, do [[Favelas Chapéu-Mangueira e Babilônia|Chapéu Mangueira]], com o Manoel Balbino, também falecido. Então descobrimos que tínhamos sabedoria para armar nossa Folia. Inicialmente, fomos ajudados pelo birosqueiro João Silva que nos deu o 'fardamento'. Então o fundamento dessa Folia tem: o Luis dos Santos, José Hilário dos Santos (Dodô), Zé Diniz, Paulinho e Joãozinho.Dodô cantou quatro anos e passou para o Joãozinho (grande Mestre). Depois, Dodô e Luis se revezavam de Mestre o contra-mestre. Tiveram a mesma escola".<ref> Entrevista concedida em 1985 para a dissertação de Mestrado: Na reza se conta a história e se canta a luta. Um estudo da Folia de Reis do Morra Santa Marta, defendido na Educação da PUC-Rio, por Adair Rocha.</ref><br />
<br />
O mestre seguinte foi Zé Diniz, que faleceu também mas é memória viva da Folia, que tem hoje, em seu filho Riquinho o Mestre que mantem a "jornada" sempre mais viva e atual, na parceria de Juninho e Ronaldo liderando a escolinha que agrega a criançada que dá futuro a essa tradição.<br />
<br />
A trajetória do 25 de dezembro ao 6 de janeiro, ainda celebra um devoto e padroeiro, o Mestre São Sebastião, com a Procissão de 20 de janeiro, organizada e conduzida pelos Foliões e Penitentes do Santa. Reúne-se novamente na metade do ano para o 'Descante" ( para cantar de novo no ano seguinte).<br />
<br />
Com Mestre, contra-Mestre, o cordão das vozes, pastorinhas e percussionistas, e ainda com dois ou quatro palhaços, mascarados que representam os soldados de Herodes e, portanto, distraem e divertem, especialmente a criançada, que faz a festa, essa composição da [[Folia de Reis]] representa uma atitude de fé e cultura, que atualiza a anunciação, o nascimento, a perseguição, o sofrimento, a morte e a ressurreição, na sabedoria da palavra que o Mestre domina, cantando em versos a significação do Presépio e a sequência da profecia, conforme o acolhimento doméstico ou institucional.<br />
<br />
== Mais imagens da Folia de Reis ==<br />
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<span style="font-size:smaller;"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif;">[[File:84879331 639039003578535 2484095129934102528 n.jpg|thumb|center|600px|84879331 639039003578535 2484095129934102528 n.jpg]][[File:80001439 2825813950771709 175139755489492992 n.jpg|thumb|center|600px|80001439 2825813950771709 175139755489492992 n.jpg]][[File:79200609 2517803398542170 2670442362064338944 n.jpg|thumb|center|600px|79200609 2517803398542170 2670442362064338944 n.jpg]][[File:79108795 572504220200135 2278546031031353344 n.jpg|thumb|center|600px|79108795 572504220200135 2278546031031353344 n.jpg]][[File:78871405 2402476826548392 7888423474576752640 n.jpg|thumb|center|600px|78871405 2402476826548392 7888423474576752640 n.jpg]][[File:78861398 2668853783173603 9058143863293607936 n.jpg|thumb|center|600px|78861398 2668853783173603 9058143863293607936 n.jpg]][[File:78854770 2668423399891335 1213450564608720896 n.jpg|thumb|center|600px|78854770 2668423399891335 1213450564608720896 n.jpg]][[File:78231906 768784453636859 7238332285441802240 n.jpg|thumb|center|600px|78231906 768784453636859 7238332285441802240 n.jpg]]</span></span><br />
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[[Category:Temática - Cultura]][[Category:Folia de Reis]][[Category:Santa Marta]][[Category:Religiosidade]][[Category:Temática - Religião]]<br />
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[[Categoria:Festas populares]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Folia_de_Reis_-_Os_Penitentes_do_Santa_Marta&diff=25524Folia de Reis - Os Penitentes do Santa Marta2024-01-09T14:48:59Z<p>Fornazin: interlinks</p>
<hr />
<div>A tradição de Folia de Reis no [[Santa Marta Favela|Morro de Santa Marta]] é muito antiga, e encontrou aqui [no [[Santa Marta Favela|Santa Marta]]] as condições para sua sobrevivência: pessoas que vieram de São Fidelis, Itaperuna, Miracema, Sul de Minas puderam reencontrar suas raízes culturais, agora adaptadas às condições da cidade grande.<br />
Autor: [[Itamar Silva (entrevista)|Itamar Silva]]<br />
<br />
Fotografias: [[Ratão Diniz (fotógrafo)|Ratão Diniz]]<br />
[[Arquivo:Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz.jpg|alt=Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz|centro|miniaturadaimagem|500x500px|Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz]]<br />
<br />
== Um pouco da história da Folia de Reis - Os Penitentes do Santa Marta ==<br />
<br />
Em meados dos anos 60 a Folia de Reis do mestre Zé Cândido,&nbsp;morador da Ilha do Governador, convidou pessoas&nbsp;do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]] para integrarem a sua Folia de Reis: Luiz, Dodô, Zé Diniz, Borrachinha, Clarisse, Manoelina, Machado, Joãozinho, Manezinho, entre outros se incorporaram e assumiram aquela missão. Muito rapidamente a maioria dos componentes da Folia de Reis da Ilha do Governador era de foliões do Santa Marta.<br />
<br />
Com a morte de Zé Cândido, o Sr. Luiz assumiu a posição de mestre e a Folia passou a sair de sua casa, no [[Santa Marta Favela|Santa Marta]]. Pode-se dizer que aí começou oficialmente a Folia de Reis dessa Comunidade. Mestre Luiz manteve este posto até quando a saúde lhe permitiu. Foi substituído pelo mestre Joãozinho, que depois de anos&nbsp; dedicados ao ofício de palhaço, assumiu a tarefa de conduzir a Folia de Reis. Após sua morte, o cargo ficou sob a responsabilidade de Mestre Dodô, que desempenhou com orgulho a função de dar os versos e puxar a cantoria na Folia do Santa Marta. Quando morreu, o lugar de mestre&nbsp; foi ocupado por Zé Diniz que, desde o início, exercia o cargo de presidente da referida Folia. Até hoje Mestre Diniz acumula o posto de mestre e de presidente dos Penitentes do Santa Marta.<br />
<br />
As mulheres sempre tiveram um papel importante na [[Folia no Morro (documentário)|Folia de Reis do Santa Marta]]. A responsabilidade de carregar o símbolo máximo da Folia, a bandeira dos Reis Magos, sempre esteve a cargo de dedicadas mulheres. Várias delas&nbsp; já desempenharam esta função: Clarisse, D. Neusa, Marina e, atualmente, D. Eva cumpre a missão de carregar a bandeira da Folia. No entanto, a presença das&nbsp; pastorinhas, como são chamadas as mulheres neste cortejo, foi além da bandeira,&nbsp; formando o coro de cantoria, outros nomes se incorporaram: D. Maura, *D. Rosa, Marina, Rita ,&nbsp; *Maria Bela, *Delfina, *Eunice e duas recentes participações Eliane e Roberta se agregaram, alterando definitivamente o perfil desta Folia de Reis.<br />
<br />
Os palhaços são um capítulo á parte: Na origem da Folia do Santa Marta&nbsp;está o nome de Totonho, lembrado com admiração pelos que lhe sucederam. A linha de sucessão foi preenchida por Joãzinho, que durante muitos anos foi mestre dos palhaços, dividindo as atenções com seus contemporâneo: Borrachinha, Zezinho Capirai, Zé Carlos, Macalé.<br />
<br />
Com apenas nove anos de idade, Ronaldo, filho do mestre Diniz, começou a sair como palhaço nessa Folia. Desde muito cedo mostrou que seria um grande palhaço. Nos últimos 30 anos, Ronaldo reinou como palhaço e, de certo, estará na galeria dos melhores palhaços de [[Espaços, lugares e festas|Folia de Reis]] do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Seguindo seus passos, seu filho Júnior, iniciou-se na vida de palhaço&nbsp;aos&nbsp;sete anos de idade. Nos últimos 15 anos, pai e filho, juntamente com o companheiro Guinho,&nbsp; se transformaram no cartão de visita dos Penitentes do Santa Marta.<br />
<br />
A Folia tem hoje, como suporte básico, um núcleo familiar formado a partir do Mestre Zé Diniz, reforçando a importância dos laços familiares na transmissão das&nbsp;tradições culturais: Mulher, filhos, netos, irmãos, primo e amigos compõem&nbsp; o grupo Os Penitentes Foliões do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]]: Zé Diniz, Arlindo, Riquinho, Maura, Eva, Gilson,Ronaldo, Junior, Borrachinha, Cosme (Macieira), Inácio,&nbsp; Jorge, Russo (sanfoneiro), *Mário, Daniel, Dudu, Haroldo, Fábio.<br />
<br />
== Dinâmica das apresentações ==<br />
<br />
A folia sai no dia 25 de dezembro a meia noite e encerra sua jornada no dia 20 de janeiro, realizando a procissão de São Sebastião.<br />
<br />
Diferente dos hábitos da "Roça", onde os foliões saiam de casa no dia 25 de dezembro e só retornavam no dia 06 de janeiro (dia de Reis), a Folia urbana, como é o caso desta do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]], sai em todos os finais de semana e feriados existentes no intervalo entre o dia 25 de dezembro e 20 de janeiro. Esta adaptação tem a ver com a disponibilidade de tempo dos participantes, como também daqueles que lhes vão receber.&nbsp;<br />
<br />
A Folia visita casas no Morro de Santa Marta e também em outras favelas: Rocinha, Morro 117, Tavares Bastos, Trapicheiro, ilha do Governador.<br />
<br />
Homenagem a cinco foliões históricos que deixaram saudades pelo falecimento nos últimos três anos:&nbsp; Jofiene (Manézinho) – Sanfoneiro, Delfina ( Tia Delfina) – A viola era a sua marca, D. Eunice, D. Maria Bela e&nbsp;Mário&nbsp;-&nbsp; A devoção aos Reis Magos e ao mártir São Sebastião uniu-os a este grupo.<br />
<br />
== O contexto urbano ==<br />
<br />
<br/>As grandes cidades, como o Rio de Janeiro, receberam uma população que veio da área rural seja do norte e nordeste ou de áreas adjacentes a esses núcleos de crescimento urbano. No caso da Cidade do Rio e, em particular o [[Santa Marta Favela|Santa Marta]],&nbsp;recebeu uma população rural do norte fluminense, sul de minas e adjacências, no primeiro movimento migratório (1939/1960).<br />
<br />
Cada grupo trouxe a sua [[:Categoria:Cultura|cultura]]: seu jeito de viver, de ver a vida e de celebrar. A [[Folia de Reis|Folia de Rei]]<nowiki/>s é uma das muitas expressões dessa população. No entanto, as condições físicas e materiais são diferentes da roça e, muita coisa fica perdida.&nbsp; A Folia de Reis do Santa Marta é um núcleo de [[Favelas como resistência à cidade do Capital|resistência da arte popular]]. E, no mínimo há&nbsp; três décadas, mantém essa tradição no morro de [[Santa Marta Favela|Santa Marta]].<br />
<br />
== Objetivos do grupo ==<br />
<br />
# Tornar o [[Santa Marta Favela|Morro de Santa Marta]] uma referência no que diz respeito a [[Folia de Reis]] na área urbana. Trazendo para esta favela outras Folias de Reis existentes no Estado. Definir o Santa Marta como o lugar de encontro das Folias de Reis. Dessa forma, ampliar a percepção dos moradores do Morro, pondo-os em contato com outros grupos populares, que lutam pela sobrevivência da cultura popular.<br />
# Formar novos conhecedores e admiradores de Folia de Reis, estabelecendo com&nbsp; as escolas pública e particulares da Cidade uma parceria onde o encontro do foliões com professores e alunos seria um canal para qualificar as informações sobre as manifestações populares de nosso Estado.<br />
<br />
== Entrevista ==<br />
<br />
<br/>''Autores: Riquinho (Mestre da Folia de Reis), Ronaldo, Junior (palhaços da Folia de Reis) e Adair Rocha (Santa Marta).''<br />
<br />
De Mestre para Mestre: "Joãozinho foi uma das pessoas mais inteligentes que conheci, dentro de sua capacidade". Do Mestre Zé Diniz, na hora derradeira do Mestre Joãozinho.<br />
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Inicialmente, "jornada" e "profecia" são palavras importantes para se compreender a existência da Folia de Reis, no Santa Marta e em toda parte.<br />
<br />
A grande viagem dos Reis Magos para visitar o Menino que havia nascido em Belém e que seria o Salvador, chamada também de Messias, segundo as "profecias", durou doze dias, do Natal ao Dia de Reis, para levarem seus presentes: ouro, incenso e mirra. Gaspar, Melquior e Baltasar eram seus nomes.<br />
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Os antecedentes e a trajetória dessa folia foi descrita pelos mestres Dodô, um dos primeiros moradores do [[Santa Marta Favela|Santa Marta]], quando em 1941 foram construídos os primeiros barracos, e pelo Mestre Zé Diniz, Filhos da "Quinha", uma espécie de matriarca ou sacerdotisa, guia da família Silva, abre caminhos conduzindo a Bandeira dos Três Reis, abria os caminhos para seus filho Zé Diniz e sua esposa Maura, que comanda as pastorinhas. Seu neto Ronaldo e o bisneto Juninho, palhaços da Folia e o Mestre atual Riquinho, também seu neto, conviveram com "Quinha".<br />
<br />
Segundo Dodô e Zé Diniz "nós vamos começar pelos fundamentos da Folia. Essa Folia de Reis do Santa Marta é nascida lá na Ilha do Governador, do pai do finado Mestre Joãozinho. Nós saíamos lá, na folia dele. Depois ele faleceu e nós fomos sair numa outra folia. Ele se chamava João Lopes Israel. Então aprendemos a cantar na Folia de Reis com ele. Já o Joãozinho é quem armou a Folia, com o Luis Santos Silva, que passou para mim (Dodô) e depois, o finado Joãzinho. Cantamos em seguida numa Folia do Leme, do [[Favelas Chapéu-Mangueira e Babilônia|Chapéu Mangueira]], com o Manoel Balbino, também falecido. Então descobrimos que tínhamos sabedoria para armar nossa Folia. Inicialmente, fomos ajudados pelo birosqueiro João Silva que nos deu o 'fardamento'. Então o fundamento dessa Folia tem: o Luis dos Santos, José Hilário dos Santos (Dodô), Zé Diniz, Paulinho e Joãozinho.Dodô cantou quatro anos e passou para o Joãozinho (grande Mestre). Depois, Dodô e Luis se revezavam de Mestre o contra-mestre. Tiveram a mesma escola".<ref> Entrevista concedida em 1985 para a dissertação de Mestrado: Na reza se conta a história e se canta a luta. Um estudo da Folia de Reis do Morra Santa Marta, defendido na Educação da PUC-Rio, por Adair Rocha.</ref><br />
<br />
O mestre seguinte foi Zé Diniz, que faleceu também mas é memória viva da Folia, que tem hoje, em seu filho Riquinho o Mestre que mantem a "jornada" sempre mais viva e atual, na parceria de Juninho e Ronaldo liderando a escolinha que agrega a criançada que dá futuro a essa tradição.<br />
<br />
A trajetória do 25 de dezembro ao 6 de janeiro, ainda celebra um devoto e padroeiro, o Mestre São Sebastião, com a Procissão de 20 de janeiro, organizada e conduzida pelos Foliões e Penitentes do Santa. Reúne-se novamente na metade do ano para o 'Descante" ( para cantar de novo no ano seguinte).<br />
<br />
Com Mestre, contra-Mestre, o cordão das vozes, pastorinhas e percussionistas, e ainda com dois ou quatro palhaços, mascarados que representam os soldados de Herodes e, portanto, distraem e divertem, especialmente a criançada, que faz a festa, essa composição da [[Folia de Reis]] representa uma atitude de fé e cultura, que atualiza a anunciação, o nascimento, a perseguição, o sofrimento, a morte e a ressurreição, na sabedoria da palavra que o Mestre domina, cantando em versos a significação do Presépio e a sequência da profecia, conforme o acolhimento doméstico ou institucional.<br />
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== Mais imagens da Folia de Reis ==<br />
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<span style="font-size:smaller;"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif;">[[File:85079752 853496691730582 7351050949051285504 n.jpg|thumb|center|600px|85079752 853496691730582 7351050949051285504 n.jpg]][[File:85043309 1587230384785970 7492156881176100864 n.jpg|thumb|center|600px|85043309 1587230384785970 7492156881176100864 n.jpg]][[File:85021902 2528131160763238 4425434774521249792 n.jpg|thumb|center|600px|85021902 2528131160763238 4425434774521249792 n.jpg]][[File:84879331 639039003578535 2484095129934102528 n.jpg|thumb|center|600px|84879331 639039003578535 2484095129934102528 n.jpg]][[File:80007821 813740105717723 3816033955224748032 n.jpg|thumb|center|600px|80007821 813740105717723 3816033955224748032 n.jpg]][[File:80001439 2825813950771709 175139755489492992 n.jpg|thumb|center|600px|80001439 2825813950771709 175139755489492992 n.jpg]][[File:79200609 2517803398542170 2670442362064338944 n.jpg|thumb|center|600px|79200609 2517803398542170 2670442362064338944 n.jpg]][[File:79108795 572504220200135 2278546031031353344 n.jpg|thumb|center|600px|79108795 572504220200135 2278546031031353344 n.jpg]][[File:78871405 2402476826548392 7888423474576752640 n.jpg|thumb|center|600px|78871405 2402476826548392 7888423474576752640 n.jpg]][[File:78861398 2668853783173603 9058143863293607936 n.jpg|thumb|center|600px|78861398 2668853783173603 9058143863293607936 n.jpg]][[File:78854770 2668423399891335 1213450564608720896 n.jpg|thumb|center|600px|78854770 2668423399891335 1213450564608720896 n.jpg]][[File:78231906 768784453636859 7238332285441802240 n.jpg|thumb|center|600px|78231906 768784453636859 7238332285441802240 n.jpg]]</span></span><br />
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[[Category:Temática - Cultura]][[Category:Folia de Reis]][[Category:Santa Marta]][[Category:Religiosidade]][[Category:Temática - Religião]]<br />
<references /><br />
[[Categoria:Festas populares]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Coc%C3%B4zap&diff=23288Cocôzap2023-09-19T17:51:28Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>[[Arquivo:Cocozap-datalabe-mare.png|left|Cocozap-datalabe-mare.png]] <br />
'''[[Cocôzap]]''' é um projeto do [[Data Labe|data_labe]] de geração cidadã de dados a partir de denúncias sobre os problemas de saneamento básico no [[Complexo da Maré|conjunto de favelas da Maré]], Rio de Janeiro.<br />
<br />
Autoria: Arthur William Cardoso Santos e R Ramires<br />
<br />
{{#seo:<br />
|description=Cocôzap é um projeto do data_labe de geração cidadã de dados a partir de denúncias sobre os problemas de saneamento básico no conjunto de favelas da Maré, Rio de Janeiro.<br />
|keywords=cocozap, whatsapp, cocô, lixo, esgoto, saneamento básico, maré, favela da maré, complexo da maré,<br />
|author=Arthur William Cardoso Santos, R Ramires<br />
|citation_author=SANTOS, Arthur William Cardoso; Ramires, R<br />
|image=Cocozap-datalabe-mare.png<br />
|image_alt=DataLabe<br />
|title={{FULLPAGENAME}} - Wikifavelas<br />
|site_name={{SITENAME}}<br />
|locale=pt-BR<br />
|type=website<br />
|modified_time={{REVISIONYEAR}}-{{REVISIONMONTH}}-{{REVISIONDAY2}}<br />
}}<br />
==Origem do projeto==<br />
[[Arquivo:Mapa nome favelas.jpg|alt=Mapa do território da Maré, com linhas vermelhas no contorno dos subbairros da Maré.|miniaturadaimagem|Mapa nome das favelas – Foto: Acervo Cocôzap]]<br />
<br />
A região que engloba o [[Complexo da Maré|Conjunto de Favelas da Maré]] teve sua origem na década de 1940, sendo erguida sobre palafitas em uma área de mangue, sem infraestrutura de saneamento básico e direitos adequados. O surgimento da Maré está diretamente ligado aos processos de remoção, desenvolvimento e expansão da cidade do Rio de Janeiro, iniciados no século XX, por meio de reformas urbanísticas visando modernização. A construção da rodovia BR-101, hoje conhecida como Avenida Brasil, inaugurada em 1946, levou a uma migração para a região devido à demanda por mão-de-obra. Posteriormente, houve também uma migração vinda do Nordeste<ref>Vieira, Gilberto. “Geração Cidadã de Dados: Um Fazer Político.” Cocozap, 9 Nov. 2020, medium.com/cocozap/gera%C3%A7%C3%A3o-cidad%C3%A3-de-dados-um-fazer-pol%C3%ADtico-6bb6b6e1f675. Acesso em: 19 set. 2023.</ref>.<br />
<br />
Na década de 1980, com a implementação do Projeto Rio, uma iniciativa governamental para fornecer infraestrutura para algumas favelas da cidade, a Maré recebeu suas primeiras melhorias em saneamento. Antes disso, a coleta de esgoto e os encanamentos eram feitos manualmente pelos próprios moradores. Até então, era comum o uso do "rola-rola", uma tecnologia criada pelos moradores em um barril de madeira adaptado para transportar água até suas casas (Relatório CocôZap, 2021).<br />
<br />
As associações de moradores sempre tiveram um papel crucial na história da Maré, mobilizando a comunidade local. As mulheres do território foram líderes nas decisões, buscando garantir seus direitos. A Chapa Rosa, formada na década de 1980, foi a primeira chapa democrática composta exclusivamente por mulheres. É importante ressaltar que, ao longo da história, as mulheres são as mais afetadas por doenças e pela falta de acesso ao saneamento adequado. Essa mobilização resultou na conquista do acesso à luz, água e esgoto. <br />
<br />
A falta de acesso ao saneamento adequado, junto com desigualdades raciais e sociais, resulta em racismo ambiental, afetando principalmente comunidades negras, periféricas e marginalizadas. As favelas são as mais prejudicadas por eventos climáticos, como enchentes, devido à falta de planejamento e ação governamental. A coleta de dados nas favelas é essencial para criar políticas públicas que atendam às necessidades reais da comunidade, combatendo o [[Racismo ambiental deveria ser crime (artigo)|racismo ambiental]] e promovendo a [[justiça climática]] e racial. <br />
<br />
[[Arquivo:Logotipo Cocozap.jpg|alt=Logotipo do Cocozap.|miniaturadaimagem|Foto: Logotipo Cocôzap]]<br />
O "Cocôzap" é uma iniciativa promovida pelo [[Data Labe|data_labe]], voltada para mapeamento, incidência e promoção da participação cidadã no âmbito do saneamento básico nas favelas. O projeto tem sua atuação centralizada no [[Complexo da Maré|Complexo de favelas da Maré]], uma localidade da Zona Norte do Rio de Janeiro que abriga aproximadamente 140 mil habitantes.<br />
<br />
Desde 2018, o grupo executor do projeto, em colaboração com instituições como a [[Casa Fluminense]] e a [[Redes da Maré|Redes de Desenvolvimento da Maré]], tem trabalhado para estabelecer, por meio de um número específico no aplicativo WhatsApp, uma plataforma dedicada para recepção de denúncias, além de promover debates e proposições relativas ao saneamento básico, abastecimento de água e gestão de resíduos sólidos na região.<br />
[[Arquivo:Mapa das queixas Cocozap.png|alt=Mapa da Maré, com pequenas marcações espalhadas pelo bairro, cada pontinho tem um significado e uma cor diferente, na legenda descreve as seguintes categorias: Lixo, Esgoto, Drenagem e Abastecimento de Água.|miniaturadaimagem|Captura de tela: Mapa das queixas no site oficial do [https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas/fig Cocozap]]]<br />
<br />
==Funcionamento do Cocôzap==<br />
<br />
O mecanismo de funcionamento da iniciativa é estruturado de maneira simplificada: os moradores enviam fotos, vídeos e descrições narrativas sobre problemas relacionados ao lixo e ao esgoto para o número de WhatsApp do Cocôzap. Esta estratégia permite uma identificação precisa e ilustrativa dos desafios enfrentados diariamente em razão das desigualdades no acesso a serviços públicos essenciais. Com isso, o projeto visa construir uma base de dados robusta, servindo como ferramenta complementar para diagnósticos que auxiliem no desenvolvimento de políticas públicas fundamentadas e eficazes.<br />
<br />
==Objetivos do Cocôzap==<br />
[[Arquivo:Morador com a carta de saneamento da Maré, publicação que reúne dados do Cocôzap. Foto Patrick Marinho-Data Labe.png|alt=Homem de camisa vermelha e mascara facial segurando o caderno roxo da carta de saneamento da Maré|miniaturadaimagem|400x400px|Morador com a carta de saneamento da Maré. Foto Patrick Marinho/Data Labe]]<br />
A perspectiva do Cocôzap é fomentar debates que possam intensificar a pressão por políticas mais assertivas e legitimadas, com base em evidências fornecidas diretamente pelos residentes da área afetada. Além do enriquecimento do banco de dados, são realizadas reuniões mensais envolvendo moradores, representantes de escolas, postos de saúde e associações locais, com o objetivo de promover a divulgação do canal de denúncias e incentivar uma discussão contínua sobre as questões sanitárias pertinentes ao bairro.<br />
<br />
Como resultados concretos do engajamento e das atividades desenvolvidas, destacam-se a elaboração de uma carta-manifesto e a criação de um plano de monitoramento<ref>https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/COCOZAP-CARTA-DE-SANEAMENTO-DA.pdf</ref><ref>https://medium.com/cocozap/carta-para-o-saneamento-b%C3%A1sico-na-mar%C3%A9-aa90832f5b35</ref>. Ademais, a equipe engajada no eixo de justiça ambiental do data_labe, composta por jovens residentes na [[Complexo da Maré|favela da Maré]], tem produzido reportagens e relatos que delineiam as questões socioambientais do território, contribuindo assim para uma maior visibilidade e compreensão dos desafios enfrentados pela comunidade.<br />
<br />
==Linha do Tempo==<br />
<br />
O Cocôzap (Poopoozap) iniciou seus trabalhos com o recebimento de um prêmio no edital da organização não-governamental CIVICUS em 2016. Sua atuação voltada para a compreensão e melhoria das condições sanitárias na região do conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. está detalhada nos principais marcos e desenvolvimentos deste projeto até o ano de 2020.<br />
<br />
<br><br />
<itimeline><br />
<!-- YYYY-MM- DD/YYYY-MM-DD|Nome do evento --><br />
2016-01-01|Edital Civicus<br />
2018-01-01|1º Residência Cocôzap<br />
2018-01-01|Jogo Sujo<br />
2019-01-01|1º Encontro de Saneamento da Maré<br />
2019-01-01|2º Residência Cocôzap<br />
2020-01-01|3º Residência Cocôzap<br />
2020-01-01|Lançamento da Agenda 2030 de Saneamento da Maré<br />
2020-01-01|Plano de Monitoramento do Saneamento Básico na Maré<br />
2021-01-01|Relatório Cocôzap 5.0<br />
</itimeline><br />
<br><br />
<br />
<br />
<br />
'''2016 - Edital Civicus'''<br />
<br />
O Cocôzap foi lançado como resultado da colaboração inicial com a Casa Fluminense, tendo recebido um prêmio para o planejamento do projeto.<br />
<br />
'''2018 - 1º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Nesta fase, três jovens da Maré, com engajamento em causas ambientais, foram selecionados para estruturar o formato do projeto e iniciar os testes práticos nas ruas da comunidade.<br />
<br />
'''2018 - Jogo Sujo'''<br />
<br />
Dentro das atividades da 1º Residência Cocôzap, emergiu uma reportagem investigativa focada na gestão pública do saneamento básico na Maré e as consequências desta para a comunidade.<br />
<br />
'''2019 - 1º Encontro de Saneamento da Maré'''<br />
<br />
O projeto articulou um encontro pioneiro reunindo ativistas, especialistas e moradores da comunidade para uma análise coletiva dos problemas e potenciais soluções para as questões de saneamento básico na favela.<br />
<br />
'''2019 - 2º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Para ampliar o alcance do Cocôzap, duas jovens ativistas ambientais da Maré foram incorporadas para promover o projeto junto a várias instituições situadas no Complexo da Maré.<br />
<br />
'''2020 - 3º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Esta fase teve como objetivo principal a difusão intensiva do projeto pela Maré, no entanto, foi interrompida devido à pandemia de COVID-19. Mesmo assim, houve a oportunidade de conduzir uma pesquisa com 15 famílias da região para entender as relações entre as condições sanitárias e os impactos da pandemia na comunidade.<br />
<br />
'''2020 - Lançamento da Agenda 2030 de Saneamento da Maré'''<br />
<br />
Após a elaboração da Carta do Saneamento da Maré, o projeto em parceria com a Casa Fluminense estruturou uma agenda para endereçar reivindicações políticas relacionadas ao saneamento no território.<br />
<br />
'''2020 - Plano de Monitoramento do Saneamento Básico na Maré'''<br />
<br />
Em uma colaboração com a Embaixada Britânica e o Parque Tecnológico da UFRJ, o Cocôzap lançou um plano compreensivo que consolidou pesquisas, análises e dados sobre o saneamento na Maré, levando em consideração o contexto da pandemia de COVID-19.<br />
<br />
'''2021 - Relatório Cocôzap 5.0'''<br />
<br />
Entre maio e agosto de 2021, o Cocôzap recebeu 229 queixas de saneamento<br />
básico nas 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, sendo 122 de Esgoto, 78 de Lixo, 23 de Drenagem e 4 de Abastecimento de água.<br />
<br />
==Políticas Públicas==<br />
<br />
A partir de estudos, o Cocôzap propõe uma série de políticas para melhoria dos indicadores sobre o saneamento básico no conjunto de favelas da Maré:<br />
<br />
- Programa voltados para reciclagem de resíduos sólidos;<br />
<br />
- Comunicação de risco;<br />
<br />
- Monitorar e fortalecer os programas de saúde;<br />
<br />
- Mobilizar e democratizar o conhecimento<br />
<br />
- Jardim de chuva.<br />
<br />
==Parceiros==<br />
<br />
O Cocôzap tem como parceiras as seguintes organizações:<br />
<br />
- [[Casa Fluminense]]<br />
<br />
- Durham University<br />
<br />
- Great for Partnership<br />
<br />
- Fundo Socioambiental Casa Investindo em Cuidar<br />
<br />
- Fundação Heinrich Boll<br />
<br />
- Parque Tecnológico da UFRJ<br />
<br />
- PUC-PR<br />
<br />
- [[Redes da Maré]]<br />
<br />
- Soltec UFRJ<br />
<br />
== Contatos e Redes Sociais ==<br />
'''[https://twitter.com/cocozapmare Twitter]''' <br />
<br />
'''[https://www.instagram.com/cocozapmare/ Instagram]'''<br />
<br />
'''[https://cocozap.datalabe.org/ Site Oficial]'''<br />
<br />
'''E-mail''' contatococozap@datalabe.org <br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Data Labe]]<br />
<br />
[[Centro de Estudos e Ações Culturais e de Cidadania (CEACC)]]<br />
<br />
[[Museu da Maré]]<br />
<br />
[[Casa Fluminense]]<br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
[https://mareonline.com.br/direito-ao-saneamento-basico-na-mare/ mareonline. “A Luta Histórica Pelo Direito Ao Saneamento Básico Na Maré.” ''Maré de Notícias Online | Portal de Notícias Da Maré'', 5 July 2023, mareonline.com.br/direito-ao-saneamento-basico-na-mare/. Acesso em: 19 set. 2023.]<br />
<br />
[https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/09/03/cocozap-iniciativa-engaja-moradores-da-mare-em-luta-por-saneamento-digno.htm Burgos, Rafael. “WhatsApp de Cocô? “Cocôzap” Une Moradores Da Maré Em Luta Por Saneamento.” ''Www.uol.com.br'', 3 Sept. 2022, www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/09/03/cocozap-iniciativa-engaja-moradores-da-mare-em-luta-por-saneamento-digno.htm. Acesso em: 19 Set. 2023.]<br />
<br />
[https://radarsaudefavela.com.br/cocozap-uma-tecnologia-social-de-geracao-cidada-de-dados-de-saneamento-basico-no-complexo-da-mare/ Oliveira, Victoria . “CocôZap: Uma Tecnologia Social de Geração Cidadã de Dados de Saneamento Básico No Complexo Da Maré - Radar Saúde Favela.” ''Radar Saúde Favela'', 1 June 2023, radarsaudefavela.com.br/cocozap-uma-tecnologia-social-de-geracao-cidada-de-dados-de-saneamento-basico-no-complexo-da-mare/. Acesso em: 19 Set. 2023.]<br />
<br />
[https://www.parque.ufrj.br/saneamento-basico-e-covid-19-conheca-o-projeto-cocozap/ MATOS, T. '''Saneamento Básico E covid-19: Conheça O Projeto Cocôzap'''. Disponível em: <https://www.parque.ufrj.br/saneamento-basico-e-covid-19-conheca-o-projeto-cocozap/>. Acesso em: 19 set. 2023.] <br />
<br />
[https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/cocozap-mapeamento-mobilizacao-e-incidencia-em-saneamento-em-favelas ASSOCIAÇÃO DATA_LABE. '''Cocôzap: Mapeamento, Mobilização E Incidência Em Saneamento Em Favelas | Tecnologias Sociais | Transforma! - Rede De Tecnologias Sociais'''. Disponível em: <https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/cocozap-mapeamento-mobilizacao-e-incidencia-em-saneamento-em-favelas>. Acesso em: 19 set. 2023.] <br />
<br />
[https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas COCOZAP. '''Cocôzap: Mapa das Queixas'''. Disponível em: <https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas>. Acesso em: 19 set. 2023.]<br />
<br />
https://mareonline.com.br/por-dentro-do-saneamento-basico-na-mare/<br />
<br />
https://diariodorio.com/aproximadamente-35-dos-fluminenses-nao-tem-acesso-a-rede-de-esgoto/#:~:text=Dentre%20as%2027%20capitais%20brasileiras,que%20acumulou%208%2C76%20pontos.<br />
<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Favelas]]<br />
[[Categoria:Dados]]<br />
[[Categoria:Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Juventude]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Territórios]]<br />
[[Categoria:Complexo da Maré]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Coc%C3%B4zap&diff=23287Cocôzap2023-09-19T17:50:01Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>[[Arquivo:Cocozap-datalabe-mare.png|left|Cocozap-datalabe-mare.png]] <br />
'''[[Cocôzap]]''' é um projeto do [[Data Labe|data_labe]] de geração cidadã de dados a partir de denúncias sobre os problemas de saneamento básico no [[Complexo da Maré|conjunto de favelas da Maré]], Rio de Janeiro.<br />
<br />
Autoria: Arthur William Cardoso Santos e R Ramires<br />
<br />
{{#seo:<br />
|description=Cocôzap é um projeto do data_labe de geração cidadã de dados a partir de denúncias sobre os problemas de saneamento básico no conjunto de favelas da Maré, Rio de Janeiro.<br />
|keywords=cocozap, whatsapp, cocô, lixo, esgoto, saneamento básico, maré, favela da maré, complexo da maré,<br />
|author=Arthur William Cardoso Santos, R Ramires<br />
|citation_author=SANTOS, Arthur William Cardoso; Ramires, R<br />
|image=Cocozap-datalabe-mare.png<br />
|image_alt=DataLabe<br />
|title={{FULLPAGENAME}} - Wikifavelas<br />
|site_name={{SITENAME}}<br />
|locale=pt-BR<br />
|type=website<br />
|modified_time={{REVISIONYEAR}}-{{REVISIONMONTH}}-{{REVISIONDAY2}}<br />
}}<br />
==Origem do projeto==<br />
[[Arquivo:Mapa nome favelas.jpg|alt=Mapa do território da Maré, com linhas vermelhas no contorno dos subbairros da Maré.|miniaturadaimagem|Mapa nome das favelas – Foto: Acervo Cocôzap]]<br />
<br />
A região que engloba o [[Complexo da Maré|Conjunto de Favelas da Maré]] teve sua origem na década de 1940, sendo erguida sobre palafitas em uma área de mangue, sem infraestrutura de saneamento básico e direitos adequados. O surgimento da Maré está diretamente ligado aos processos de remoção, desenvolvimento e expansão da cidade do Rio de Janeiro, iniciados no século XX, por meio de reformas urbanísticas visando modernização. A construção da rodovia BR-101, hoje conhecida como Avenida Brasil, inaugurada em 1946, levou a uma migração para a região devido à demanda por mão-de-obra. Posteriormente, houve também uma migração vinda do Nordeste<ref>Vieira, Gilberto. “Geração Cidadã de Dados: Um Fazer Político.” Cocozap, 9 Nov. 2020, medium.com/cocozap/gera%C3%A7%C3%A3o-cidad%C3%A3-de-dados-um-fazer-pol%C3%ADtico-6bb6b6e1f675. Acesso em: 19 set. 2023.</ref>.<br />
<br />
Na década de 1980, com a implementação do Projeto Rio, uma iniciativa governamental para fornecer infraestrutura para algumas favelas da cidade, a Maré recebeu suas primeiras melhorias em saneamento. Antes disso, a coleta de esgoto e os encanamentos eram feitos manualmente pelos próprios moradores. Até então, era comum o uso do "rola-rola", uma tecnologia criada pelos moradores em um barril de madeira adaptado para transportar água até suas casas (Relatório CocôZap, 2021).<br />
<br />
As associações de moradores sempre tiveram um papel crucial na história da Maré, mobilizando a comunidade local. As mulheres do território foram líderes nas decisões, buscando garantir seus direitos. A Chapa Rosa, formada na década de 1980, foi a primeira chapa democrática composta exclusivamente por mulheres. É importante ressaltar que, ao longo da história, as mulheres são as mais afetadas por doenças e pela falta de acesso ao saneamento adequado. Essa mobilização resultou na conquista do acesso à luz, água e esgoto. <br />
<br />
A falta de acesso ao saneamento adequado, junto com desigualdades raciais e sociais, resulta em racismo ambiental, afetando principalmente comunidades negras, periféricas e marginalizadas. As favelas são as mais prejudicadas por eventos climáticos, como enchentes, devido à falta de planejamento e ação governamental. A coleta de dados nas favelas é essencial para criar políticas públicas que atendam às necessidades reais da comunidade, combatendo o [[Racismo ambiental deveria ser crime (artigo)|racismo ambiental]] e promovendo a [[justiça climática]] e racial. <br />
<br />
[[Arquivo:Logotipo Cocozap.jpg|alt=Logotipo do Cocozap.|miniaturadaimagem|Foto: Logotipo Cocôzap]]<br />
O "Cocôzap" é uma iniciativa promovida pelo [[Data Labe|data_labe]], voltada para mapeamento, incidência e promoção da participação cidadã no âmbito do saneamento básico nas favelas. O projeto tem sua atuação centralizada no [[Complexo da Maré|Complexo de favelas da Maré]], uma localidade da Zona Norte do Rio de Janeiro que abriga aproximadamente 140 mil habitantes.<br />
<br />
Desde 2018, o grupo executor do projeto, em colaboração com instituições como a [[Casa Fluminense]] e a [[Redes da Maré|Redes de Desenvolvimento da Maré]], tem trabalhado para estabelecer, por meio de um número específico no aplicativo WhatsApp, uma plataforma dedicada para recepção de denúncias, além de promover debates e proposições relativas ao saneamento básico, abastecimento de água e gestão de resíduos sólidos na região.<br />
[[Arquivo:Mapa das queixas Cocozap.png|alt=Mapa da Maré, com pequenas marcações espalhadas pelo bairro, cada pontinho tem um significado e uma cor diferente, na legenda descreve as seguintes categorias: Lixo, Esgoto, Drenagem e Abastecimento de Água.|miniaturadaimagem|Captura de tela: Mapa das queixas no site oficial do [https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas/fig Cocozap]]]<br />
<br />
==Funcionamento do Cocôzap==<br />
<br />
O mecanismo de funcionamento da iniciativa é estruturado de maneira simplificada: os moradores enviam fotos, vídeos e descrições narrativas sobre problemas relacionados ao lixo e ao esgoto para o número de WhatsApp do Cocôzap. Esta estratégia permite uma identificação precisa e ilustrativa dos desafios enfrentados diariamente em razão das desigualdades no acesso a serviços públicos essenciais. Com isso, o projeto visa construir uma base de dados robusta, servindo como ferramenta complementar para diagnósticos que auxiliem no desenvolvimento de políticas públicas fundamentadas e eficazes.<br />
<br />
==Objetivos do Cocôzap==<br />
[[Arquivo:Morador com a carta de saneamento da Maré, publicação que reúne dados do Cocôzap. Foto Patrick Marinho-Data Labe.png|alt=Homem de camisa vermelha e mascara facial segurando o caderno roxo da carta de saneamento da Maré|miniaturadaimagem|400x400px|Morador com a carta de saneamento da Maré. Foto Patrick Marinho/Data Labe]]<br />
A perspectiva do Cocôzap é fomentar debates que possam intensificar a pressão por políticas mais assertivas e legitimadas, com base em evidências fornecidas diretamente pelos residentes da área afetada. Além do enriquecimento do banco de dados, são realizadas reuniões mensais envolvendo moradores, representantes de escolas, postos de saúde e associações locais, com o objetivo de promover a divulgação do canal de denúncias e incentivar uma discussão contínua sobre as questões sanitárias pertinentes ao bairro.<br />
<br />
Como resultados concretos do engajamento e das atividades desenvolvidas, destacam-se a elaboração de uma carta-manifesto e a criação de um plano de monitoramento<ref>https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/COCOZAP-CARTA-DE-SANEAMENTO-DA.pdf</ref><ref>https://medium.com/cocozap/carta-para-o-saneamento-b%C3%A1sico-na-mar%C3%A9-aa90832f5b35</ref>. Ademais, a equipe engajada no eixo de justiça ambiental do data_labe, composta por jovens residentes na [[Complexo da Maré|favela da Maré]], tem produzido reportagens e relatos que delineiam as questões socioambientais do território, contribuindo assim para uma maior visibilidade e compreensão dos desafios enfrentados pela comunidade.<br />
<br />
==Linha do Tempo==<br />
<br />
O Cocôzap (Poopoozap) iniciou seus trabalhos com o recebimento de um prêmio no edital da organização não-governamental CIVICUS em 2016. Sua atuação voltada para a compreensão e melhoria das condições sanitárias na região do conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. está detalhada nos principais marcos e desenvolvimentos deste projeto até o ano de 2020.<br />
<br />
<br />
<itimeline><br />
<!-- YYYY-MM- DD/YYYY-MM-DD|Nome do evento --><br />
2016-01-01|Edital Civicus<br />
2018-01-01|1º Residência Cocôzap<br />
2018-01-01|Jogo Sujo<br />
2019-01-01|1º Encontro de Saneamento da Maré<br />
2019-01-01|2º Residência Cocôzap<br />
2020-01-01|3º Residência Cocôzap<br />
2020-01-01|Lançamento da Agenda 2030 de Saneamento da Maré<br />
2020-01-01|Plano de Monitoramento do Saneamento Básico na Maré<br />
2021-01-01|Relatório Cocôzap 5.0<br />
</itimeline><br />
<br />
<br />
<br />
'''2016 - Edital Civicus'''<br />
<br />
O Cocôzap foi lançado como resultado da colaboração inicial com a Casa Fluminense, tendo recebido um prêmio para o planejamento do projeto.<br />
<br />
'''2018 - 1º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Nesta fase, três jovens da Maré, com engajamento em causas ambientais, foram selecionados para estruturar o formato do projeto e iniciar os testes práticos nas ruas da comunidade.<br />
<br />
'''2018 - Jogo Sujo'''<br />
<br />
Dentro das atividades da 1º Residência Cocôzap, emergiu uma reportagem investigativa focada na gestão pública do saneamento básico na Maré e as consequências desta para a comunidade.<br />
<br />
'''2019 - 1º Encontro de Saneamento da Maré'''<br />
<br />
O projeto articulou um encontro pioneiro reunindo ativistas, especialistas e moradores da comunidade para uma análise coletiva dos problemas e potenciais soluções para as questões de saneamento básico na favela.<br />
<br />
'''2019 - 2º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Para ampliar o alcance do Cocôzap, duas jovens ativistas ambientais da Maré foram incorporadas para promover o projeto junto a várias instituições situadas no Complexo da Maré.<br />
<br />
'''2020 - 3º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Esta fase teve como objetivo principal a difusão intensiva do projeto pela Maré, no entanto, foi interrompida devido à pandemia de COVID-19. Mesmo assim, houve a oportunidade de conduzir uma pesquisa com 15 famílias da região para entender as relações entre as condições sanitárias e os impactos da pandemia na comunidade.<br />
<br />
'''2020 - Lançamento da Agenda 2030 de Saneamento da Maré'''<br />
<br />
Após a elaboração da Carta do Saneamento da Maré, o projeto em parceria com a Casa Fluminense estruturou uma agenda para endereçar reivindicações políticas relacionadas ao saneamento no território.<br />
<br />
'''2020 - Plano de Monitoramento do Saneamento Básico na Maré'''<br />
<br />
Em uma colaboração com a Embaixada Britânica e o Parque Tecnológico da UFRJ, o Cocôzap lançou um plano compreensivo que consolidou pesquisas, análises e dados sobre o saneamento na Maré, levando em consideração o contexto da pandemia de COVID-19.<br />
<br />
'''2021 - Relatório Cocôzap 5.0'''<br />
<br />
Entre maio e agosto de 2021, o Cocôzap recebeu 229 queixas de saneamento<br />
básico nas 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, sendo 122 de Esgoto, 78 de Lixo, 23 de Drenagem e 4 de Abastecimento de água.<br />
<br />
==Políticas Públicas==<br />
<br />
A partir de estudos, o Cocôzap propõe uma série de políticas para melhoria dos indicadores sobre o saneamento básico no conjunto de favelas da Maré:<br />
<br />
- Programa voltados para reciclagem de resíduos sólidos;<br />
<br />
- Comunicação de risco;<br />
<br />
- Monitorar e fortalecer os programas de saúde;<br />
<br />
- Mobilizar e democratizar o conhecimento<br />
<br />
- Jardim de chuva.<br />
<br />
==Parceiros==<br />
<br />
O Cocôzap tem como parceiras as seguintes organizações:<br />
<br />
- [[Casa Fluminense]]<br />
<br />
- Durham University<br />
<br />
- Great for Partnership<br />
<br />
- Fundo Socioambiental Casa Investindo em Cuidar<br />
<br />
- Fundação Heinrich Boll<br />
<br />
- Parque Tecnológico da UFRJ<br />
<br />
- PUC-PR<br />
<br />
- [[Redes da Maré]]<br />
<br />
- Soltec UFRJ<br />
<br />
== Contatos e Redes Sociais ==<br />
'''[https://twitter.com/cocozapmare Twitter]''' <br />
<br />
'''[https://www.instagram.com/cocozapmare/ Instagram]'''<br />
<br />
'''[https://cocozap.datalabe.org/ Site Oficial]'''<br />
<br />
'''E-mail''' contatococozap@datalabe.org <br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Data Labe]]<br />
<br />
[[Centro de Estudos e Ações Culturais e de Cidadania (CEACC)]]<br />
<br />
[[Museu da Maré]]<br />
<br />
[[Casa Fluminense]]<br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
[https://mareonline.com.br/direito-ao-saneamento-basico-na-mare/ mareonline. “A Luta Histórica Pelo Direito Ao Saneamento Básico Na Maré.” ''Maré de Notícias Online | Portal de Notícias Da Maré'', 5 July 2023, mareonline.com.br/direito-ao-saneamento-basico-na-mare/. Acesso em: 19 set. 2023.]<br />
<br />
[https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/09/03/cocozap-iniciativa-engaja-moradores-da-mare-em-luta-por-saneamento-digno.htm Burgos, Rafael. “WhatsApp de Cocô? “Cocôzap” Une Moradores Da Maré Em Luta Por Saneamento.” ''Www.uol.com.br'', 3 Sept. 2022, www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/09/03/cocozap-iniciativa-engaja-moradores-da-mare-em-luta-por-saneamento-digno.htm. Acesso em: 19 Set. 2023.]<br />
<br />
[https://radarsaudefavela.com.br/cocozap-uma-tecnologia-social-de-geracao-cidada-de-dados-de-saneamento-basico-no-complexo-da-mare/ Oliveira, Victoria . “CocôZap: Uma Tecnologia Social de Geração Cidadã de Dados de Saneamento Básico No Complexo Da Maré - Radar Saúde Favela.” ''Radar Saúde Favela'', 1 June 2023, radarsaudefavela.com.br/cocozap-uma-tecnologia-social-de-geracao-cidada-de-dados-de-saneamento-basico-no-complexo-da-mare/. Acesso em: 19 Set. 2023.]<br />
<br />
[https://www.parque.ufrj.br/saneamento-basico-e-covid-19-conheca-o-projeto-cocozap/ MATOS, T. '''Saneamento Básico E covid-19: Conheça O Projeto Cocôzap'''. Disponível em: <https://www.parque.ufrj.br/saneamento-basico-e-covid-19-conheca-o-projeto-cocozap/>. Acesso em: 19 set. 2023.] <br />
<br />
[https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/cocozap-mapeamento-mobilizacao-e-incidencia-em-saneamento-em-favelas ASSOCIAÇÃO DATA_LABE. '''Cocôzap: Mapeamento, Mobilização E Incidência Em Saneamento Em Favelas | Tecnologias Sociais | Transforma! - Rede De Tecnologias Sociais'''. Disponível em: <https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/cocozap-mapeamento-mobilizacao-e-incidencia-em-saneamento-em-favelas>. Acesso em: 19 set. 2023.] <br />
<br />
[https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas COCOZAP. '''Cocôzap: Mapa das Queixas'''. Disponível em: <https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas>. Acesso em: 19 set. 2023.]<br />
<br />
https://mareonline.com.br/por-dentro-do-saneamento-basico-na-mare/<br />
<br />
https://diariodorio.com/aproximadamente-35-dos-fluminenses-nao-tem-acesso-a-rede-de-esgoto/#:~:text=Dentre%20as%2027%20capitais%20brasileiras,que%20acumulou%208%2C76%20pontos.<br />
<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Favelas]]<br />
[[Categoria:Dados]]<br />
[[Categoria:Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Juventude]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Territórios]]<br />
[[Categoria:Complexo da Maré]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Coc%C3%B4zap&diff=23286Cocôzap2023-09-19T17:48:42Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>[[Arquivo:Cocozap-datalabe-mare.png|left|Cocozap-datalabe-mare.png]] <br />
'''[[Cocôzap]]''' é um projeto do [[Data Labe|data_labe]] de geração cidadã de dados a partir de denúncias sobre os problemas de saneamento básico no [[Complexo da Maré|conjunto de favelas da Maré]], Rio de Janeiro.<br />
<br />
Autoria: Arthur William Cardoso Santos e R Ramires<br />
<br />
{{#seo:<br />
|description=Cocôzap é um projeto do data_labe de geração cidadã de dados a partir de denúncias sobre os problemas de saneamento básico no conjunto de favelas da Maré, Rio de Janeiro.<br />
|keywords=cocozap, whatsapp, cocô, lixo, esgoto, saneamento básico, maré, favela da maré, complexo da maré,<br />
|author=Arthur William Cardoso Santos, R Ramires<br />
|citation_author=SANTOS, Arthur William Cardoso; Ramires, R<br />
|image=Cocozap-datalabe-mare.png<br />
|image_alt=DataLabe<br />
|title={{FULLPAGENAME}} - Wikifavelas<br />
|site_name={{SITENAME}}<br />
|locale=pt-BR<br />
|type=website<br />
|modified_time={{REVISIONYEAR}}-{{REVISIONMONTH}}-{{REVISIONDAY2}}<br />
}}<br />
==Origem do projeto==<br />
[[Arquivo:Mapa nome favelas.jpg|alt=Mapa do território da Maré, com linhas vermelhas no contorno dos subbairros da Maré.|miniaturadaimagem|Mapa nome das favelas – Foto: Acervo Cocôzap]]<br />
<br />
A região que engloba o [[Complexo da Maré|Conjunto de Favelas da Maré]] teve sua origem na década de 1940, sendo erguida sobre palafitas em uma área de mangue, sem infraestrutura de saneamento básico e direitos adequados. O surgimento da Maré está diretamente ligado aos processos de remoção, desenvolvimento e expansão da cidade do Rio de Janeiro, iniciados no século XX, por meio de reformas urbanísticas visando modernização. A construção da rodovia BR-101, hoje conhecida como Avenida Brasil, inaugurada em 1946, levou a uma migração para a região devido à demanda por mão-de-obra. Posteriormente, houve também uma migração vinda do Nordeste<ref>Vieira, Gilberto. “Geração Cidadã de Dados: Um Fazer Político.” Cocozap, 9 Nov. 2020, medium.com/cocozap/gera%C3%A7%C3%A3o-cidad%C3%A3-de-dados-um-fazer-pol%C3%ADtico-6bb6b6e1f675. Acesso em: 19 set. 2023.</ref>.<br />
<br />
Na década de 1980, com a implementação do Projeto Rio, uma iniciativa governamental para fornecer infraestrutura para algumas favelas da cidade, a Maré recebeu suas primeiras melhorias em saneamento. Antes disso, a coleta de esgoto e os encanamentos eram feitos manualmente pelos próprios moradores. Até então, era comum o uso do "rola-rola", uma tecnologia criada pelos moradores em um barril de madeira adaptado para transportar água até suas casas (Relatório CocôZap, 2021).<br />
<br />
As associações de moradores sempre tiveram um papel crucial na história da Maré, mobilizando a comunidade local. As mulheres do território foram líderes nas decisões, buscando garantir seus direitos. A Chapa Rosa, formada na década de 1980, foi a primeira chapa democrática composta exclusivamente por mulheres. É importante ressaltar que, ao longo da história, as mulheres são as mais afetadas por doenças e pela falta de acesso ao saneamento adequado. Essa mobilização resultou na conquista do acesso à luz, água e esgoto. <br />
<br />
A falta de acesso ao saneamento adequado, junto com desigualdades raciais e sociais, resulta em racismo ambiental, afetando principalmente comunidades negras, periféricas e marginalizadas. As favelas são as mais prejudicadas por eventos climáticos, como enchentes, devido à falta de planejamento e ação governamental. A coleta de dados nas favelas é essencial para criar políticas públicas que atendam às necessidades reais da comunidade, combatendo o [[Racismo ambiental deveria ser crime (artigo)|racismo ambiental]] e promovendo a [[justiça climática]] e racial. <br />
<br />
[[Arquivo:Logotipo Cocozap.jpg|alt=Logotipo do Cocozap.|miniaturadaimagem|Foto: Logotipo Cocôzap]]<br />
O "Cocôzap" é uma iniciativa promovida pelo [[Data Labe|data_labe]], voltada para mapeamento, incidência e promoção da participação cidadã no âmbito do saneamento básico nas favelas. O projeto tem sua atuação centralizada no [[Complexo da Maré|Complexo de favelas da Maré]], uma localidade da Zona Norte do Rio de Janeiro que abriga aproximadamente 140 mil habitantes.<br />
<br />
Desde 2018, o grupo executor do projeto, em colaboração com instituições como a [[Casa Fluminense]] e a [[Redes da Maré|Redes de Desenvolvimento da Maré]], tem trabalhado para estabelecer, por meio de um número específico no aplicativo WhatsApp, uma plataforma dedicada para recepção de denúncias, além de promover debates e proposições relativas ao saneamento básico, abastecimento de água e gestão de resíduos sólidos na região.<br />
[[Arquivo:Mapa das queixas Cocozap.png|alt=Mapa da Maré, com pequenas marcações espalhadas pelo bairro, cada pontinho tem um significado e uma cor diferente, na legenda descreve as seguintes categorias: Lixo, Esgoto, Drenagem e Abastecimento de Água.|miniaturadaimagem|Captura de tela: Mapa das queixas no site oficial do [https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas/fig Cocozap]]]<br />
<br />
==Funcionamento do Cocôzap==<br />
<br />
O mecanismo de funcionamento da iniciativa é estruturado de maneira simplificada: os moradores enviam fotos, vídeos e descrições narrativas sobre problemas relacionados ao lixo e ao esgoto para o número de WhatsApp do Cocôzap. Esta estratégia permite uma identificação precisa e ilustrativa dos desafios enfrentados diariamente em razão das desigualdades no acesso a serviços públicos essenciais. Com isso, o projeto visa construir uma base de dados robusta, servindo como ferramenta complementar para diagnósticos que auxiliem no desenvolvimento de políticas públicas fundamentadas e eficazes.<br />
<br />
==Objetivos do Cocôzap==<br />
[[Arquivo:Morador com a carta de saneamento da Maré, publicação que reúne dados do Cocôzap. Foto Patrick Marinho-Data Labe.png|alt=Homem de camisa vermelha e mascara facial segurando o caderno roxo da carta de saneamento da Maré|miniaturadaimagem|400x400px|Morador com a carta de saneamento da Maré. Foto Patrick Marinho/Data Labe]]<br />
A perspectiva do Cocôzap é fomentar debates que possam intensificar a pressão por políticas mais assertivas e legitimadas, com base em evidências fornecidas diretamente pelos residentes da área afetada. Além do enriquecimento do banco de dados, são realizadas reuniões mensais envolvendo moradores, representantes de escolas, postos de saúde e associações locais, com o objetivo de promover a divulgação do canal de denúncias e incentivar uma discussão contínua sobre as questões sanitárias pertinentes ao bairro.<br />
<br />
Como resultados concretos do engajamento e das atividades desenvolvidas, destacam-se a elaboração de uma carta-manifesto e a criação de um plano de monitoramento<ref>https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/COCOZAP-CARTA-DE-SANEAMENTO-DA.pdf</ref><ref>https://medium.com/cocozap/carta-para-o-saneamento-b%C3%A1sico-na-mar%C3%A9-aa90832f5b35</ref>. Ademais, a equipe engajada no eixo de justiça ambiental do data_labe, composta por jovens residentes na [[Complexo da Maré|favela da Maré]], tem produzido reportagens e relatos que delineiam as questões socioambientais do território, contribuindo assim para uma maior visibilidade e compreensão dos desafios enfrentados pela comunidade.<br />
<br />
==Linha do Tempo==<br />
<br />
O Cocôzap (Poopoozap) iniciou seus trabalhos com o recebimento de um prêmio no edital da organização não-governamental CIVICUS em 2016. Sua atuação voltada para a compreensão e melhoria das condições sanitárias na região do conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. está detalhada nos principais marcos e desenvolvimentos deste projeto até o ano de 2020.<br />
<br />
<itimeline><br />
<!-- YYYY-MM- DD/YYYY-MM-DD|Nome do evento --><br />
2016-01-01|Edital Civicus<br />
2018-01-01|1º Residência Cocôzap<br />
2018-01-01|Jogo Sujo<br />
2019-01-01|1º Encontro de Saneamento da Maré<br />
2019-01-01|2º Residência Cocôzap<br />
2020-01-01|3º Residência Cocôzap<br />
2020-01-01|Lançamento da Agenda 2030 de Saneamento da Maré<br />
2020-01-01|Plano de Monitoramento do Saneamento Básico na Maré<br />
2021-01-01|Relatório Cocôzap 5.0<br />
</itimeline><br />
<br />
<br />
'''2016 - Edital Civicus'''<br />
<br />
O Cocôzap foi lançado como resultado da colaboração inicial com a Casa Fluminense, tendo recebido um prêmio para o planejamento do projeto.<br />
<br />
'''2018 - 1º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Nesta fase, três jovens da Maré, com engajamento em causas ambientais, foram selecionados para estruturar o formato do projeto e iniciar os testes práticos nas ruas da comunidade.<br />
<br />
'''2018 - Jogo Sujo'''<br />
<br />
Dentro das atividades da 1º Residência Cocôzap, emergiu uma reportagem investigativa focada na gestão pública do saneamento básico na Maré e as consequências desta para a comunidade.<br />
<br />
'''2019 - 1º Encontro de Saneamento da Maré'''<br />
<br />
O projeto articulou um encontro pioneiro reunindo ativistas, especialistas e moradores da comunidade para uma análise coletiva dos problemas e potenciais soluções para as questões de saneamento básico na favela.<br />
<br />
'''2019 - 2º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Para ampliar o alcance do Cocôzap, duas jovens ativistas ambientais da Maré foram incorporadas para promover o projeto junto a várias instituições situadas no Complexo da Maré.<br />
<br />
'''2020 - 3º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Esta fase teve como objetivo principal a difusão intensiva do projeto pela Maré, no entanto, foi interrompida devido à pandemia de COVID-19. Mesmo assim, houve a oportunidade de conduzir uma pesquisa com 15 famílias da região para entender as relações entre as condições sanitárias e os impactos da pandemia na comunidade.<br />
<br />
'''2020 - Lançamento da Agenda 2030 de Saneamento da Maré'''<br />
<br />
Após a elaboração da Carta do Saneamento da Maré, o projeto em parceria com a Casa Fluminense estruturou uma agenda para endereçar reivindicações políticas relacionadas ao saneamento no território.<br />
<br />
'''2020 - Plano de Monitoramento do Saneamento Básico na Maré'''<br />
<br />
Em uma colaboração com a Embaixada Britânica e o Parque Tecnológico da UFRJ, o Cocôzap lançou um plano compreensivo que consolidou pesquisas, análises e dados sobre o saneamento na Maré, levando em consideração o contexto da pandemia de COVID-19.<br />
<br />
'''2021 - Relatório Cocôzap 5.0'''<br />
<br />
Entre maio e agosto de 2021, o Cocôzap recebeu 229 queixas de saneamento<br />
básico nas 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, sendo 122 de Esgoto, 78 de Lixo, 23 de Drenagem e 4 de Abastecimento de água.<br />
<br />
==Políticas Públicas==<br />
<br />
A partir de estudos, o Cocôzap propõe uma série de políticas para melhoria dos indicadores sobre o saneamento básico no conjunto de favelas da Maré:<br />
<br />
- Programa voltados para reciclagem de resíduos sólidos;<br />
<br />
- Comunicação de risco;<br />
<br />
- Monitorar e fortalecer os programas de saúde;<br />
<br />
- Mobilizar e democratizar o conhecimento<br />
<br />
- Jardim de chuva.<br />
<br />
==Parceiros==<br />
<br />
O Cocôzap tem como parceiras as seguintes organizações:<br />
<br />
- [[Casa Fluminense]]<br />
<br />
- Durham University<br />
<br />
- Great for Partnership<br />
<br />
- Fundo Socioambiental Casa Investindo em Cuidar<br />
<br />
- Fundação Heinrich Boll<br />
<br />
- Parque Tecnológico da UFRJ<br />
<br />
- PUC-PR<br />
<br />
- [[Redes da Maré]]<br />
<br />
- Soltec UFRJ<br />
<br />
== Contatos e Redes Sociais ==<br />
'''[https://twitter.com/cocozapmare Twitter]''' <br />
<br />
'''[https://www.instagram.com/cocozapmare/ Instagram]'''<br />
<br />
'''[https://cocozap.datalabe.org/ Site Oficial]'''<br />
<br />
'''E-mail''' contatococozap@datalabe.org <br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Data Labe]]<br />
<br />
[[Centro de Estudos e Ações Culturais e de Cidadania (CEACC)]]<br />
<br />
[[Museu da Maré]]<br />
<br />
[[Casa Fluminense]]<br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
[https://mareonline.com.br/direito-ao-saneamento-basico-na-mare/ mareonline. “A Luta Histórica Pelo Direito Ao Saneamento Básico Na Maré.” ''Maré de Notícias Online | Portal de Notícias Da Maré'', 5 July 2023, mareonline.com.br/direito-ao-saneamento-basico-na-mare/. Acesso em: 19 set. 2023.]<br />
<br />
[https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/09/03/cocozap-iniciativa-engaja-moradores-da-mare-em-luta-por-saneamento-digno.htm Burgos, Rafael. “WhatsApp de Cocô? “Cocôzap” Une Moradores Da Maré Em Luta Por Saneamento.” ''Www.uol.com.br'', 3 Sept. 2022, www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/09/03/cocozap-iniciativa-engaja-moradores-da-mare-em-luta-por-saneamento-digno.htm. Acesso em: 19 Set. 2023.]<br />
<br />
[https://radarsaudefavela.com.br/cocozap-uma-tecnologia-social-de-geracao-cidada-de-dados-de-saneamento-basico-no-complexo-da-mare/ Oliveira, Victoria . “CocôZap: Uma Tecnologia Social de Geração Cidadã de Dados de Saneamento Básico No Complexo Da Maré - Radar Saúde Favela.” ''Radar Saúde Favela'', 1 June 2023, radarsaudefavela.com.br/cocozap-uma-tecnologia-social-de-geracao-cidada-de-dados-de-saneamento-basico-no-complexo-da-mare/. Acesso em: 19 Set. 2023.]<br />
<br />
[https://www.parque.ufrj.br/saneamento-basico-e-covid-19-conheca-o-projeto-cocozap/ MATOS, T. '''Saneamento Básico E covid-19: Conheça O Projeto Cocôzap'''. Disponível em: <https://www.parque.ufrj.br/saneamento-basico-e-covid-19-conheca-o-projeto-cocozap/>. Acesso em: 19 set. 2023.] <br />
<br />
[https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/cocozap-mapeamento-mobilizacao-e-incidencia-em-saneamento-em-favelas ASSOCIAÇÃO DATA_LABE. '''Cocôzap: Mapeamento, Mobilização E Incidência Em Saneamento Em Favelas | Tecnologias Sociais | Transforma! - Rede De Tecnologias Sociais'''. Disponível em: <https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/cocozap-mapeamento-mobilizacao-e-incidencia-em-saneamento-em-favelas>. Acesso em: 19 set. 2023.] <br />
<br />
[https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas COCOZAP. '''Cocôzap: Mapa das Queixas'''. Disponível em: <https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas>. Acesso em: 19 set. 2023.]<br />
<br />
https://mareonline.com.br/por-dentro-do-saneamento-basico-na-mare/<br />
<br />
https://diariodorio.com/aproximadamente-35-dos-fluminenses-nao-tem-acesso-a-rede-de-esgoto/#:~:text=Dentre%20as%2027%20capitais%20brasileiras,que%20acumulou%208%2C76%20pontos.<br />
<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Favelas]]<br />
[[Categoria:Dados]]<br />
[[Categoria:Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Juventude]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Territórios]]<br />
[[Categoria:Complexo da Maré]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Coc%C3%B4zap&diff=22770Cocôzap2023-09-12T11:48:38Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>{{#seo:<br />
|description=Cocôzap é um projeto do data_labe de geração cidadã de dados a partir de denúncias sobre os problemas de saneamento básico no conjunto de favelas da Maré, Rio de Janeiro.<br />
|keywords=cocozap, whatsapp, cocô, lixo, esgoto, saneamento básico, maré, favela da maré, complexo da maré,<br />
|author=Arthur William Cardoso Santos, R Ramires<br />
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}}<br />
Cocôzap é um projeto do [[Data Labe|data_labe]] de geração cidadã de dados a partir de denúncias sobre os problemas de saneamento básico no [[Complexo da Maré|conjunto de favelas da Maré]], Rio de Janeiro.<br />
<br />
Autoria: Arthur William Cardoso Santos e R Ramires<br />
<br />
[[Arquivo:Cocozap-datalabe-mare.png|Cocozap-datalabe-mare.png]]<br />
==Origem do projeto==<br />
<br />
O "Cocôzap" é uma iniciativa promovida pelo data_labe, voltada para mapeamento, incidência e promoção da participação cidadã no âmbito do saneamento básico nas favelas. O projeto tem sua atuação centralizada no [[Complexo da Maré|Complexo de favelas da Maré]], uma localidade da Zona Norte do Rio de Janeiro que abriga aproximadamente 140 mil habitantes.<br />
<br />
Desde 2018, o grupo executor do projeto, em colaboração com instituições como a [[Casa Fluminense]] e a [[Redes da Maré|Redes de Desenvolvimento da Maré]], tem trabalhado para estabelecer, por meio de um número específico no aplicativo WhatsApp, uma plataforma dedicada para recepção de denúncias, além de promover debates e proposições relativas ao saneamento básico, abastecimento de água e gestão de resíduos sólidos na região.<br />
<br />
==Funcionamento do Cocôzap==<br />
<br />
O mecanismo de funcionamento da iniciativa é estruturado de maneira simplificada: os moradores enviam fotos, vídeos e descrições narrativas sobre problemas relacionados ao lixo e ao esgoto para o número do Cocôzap. Esta estratégia permite uma identificação precisa e ilustrativa dos desafios enfrentados diariamente em razão das desigualdades no acesso a serviços públicos essenciais. Com isso, o projeto visa construir uma base de dados robusta, servindo como ferramenta complementar para diagnósticos que auxiliem no desenvolvimento de políticas públicas fundamentadas e eficazes.<br />
<br />
==Objetivos do Cocôzap==<br />
[[Arquivo:Morador com a carta de saneamento da Maré, publicação que reúne dados do Cocôzap. Foto Patrick Marinho-Data Labe.png|alt=Homem de camisa vermelha e mascara facial segurando o caderno roxo da carta de saneamento da Maré|miniaturadaimagem|400x400px|Morador com a carta de saneamento da Maré. Foto Patrick Marinho/Data Labe]]<br />
A perspectiva do Cocôzap é fomentar debates que possam intensificar a pressão por políticas mais assertivas e legitimadas, com base em evidências fornecidas diretamente pelos residentes da área afetada. Além do enriquecimento do banco de dados, são realizadas reuniões mensais envolvendo moradores, representantes de escolas, postos de saúde e associações locais, com o objetivo de promover a divulgação do canal de denúncias e incentivar uma discussão contínua sobre as questões sanitárias pertinentes ao bairro.<br />
<br />
Como resultados concretos do engajamento e das atividades desenvolvidas, destacam-se a elaboração de uma carta-manifesto e a criação de um plano de monitoramento<ref>https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/COCOZAP-CARTA-DE-SANEAMENTO-DA.pdf</ref><ref>https://medium.com/cocozap/carta-para-o-saneamento-b%C3%A1sico-na-mar%C3%A9-aa90832f5b35</ref>. Ademais, a equipe engajada no eixo de justiça ambiental do data_labe, composta por jovens residentes na [[Complexo da Maré|favela da Maré]], tem produzido reportagens e relatos que delineiam as questões socioambientais do território, contribuindo assim para uma maior visibilidade e compreensão dos desafios enfrentados pela comunidade.<br />
<br />
==Linha do Tempo==<br />
<br />
O Cocôzap (Poopoozap) iniciou seus trabalhos com o recebimento de um prêmio no edital da organização não-governamental CIVICUS em 2016. Sua atuação voltada para a compreensão e melhoria das condições sanitárias na região do conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. está detalhada nos principais marcos e desenvolvimentos deste projeto até o ano de 2020.<br />
<br />
'''2016 - Edital Civicus'''<br />
<br />
O Cocôzap foi lançado como resultado da colaboração inicial com a Casa Fluminense, tendo recebido um prêmio para o planejamento do projeto.<br />
<br />
'''2018 - 1º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Nesta fase, três jovens da Maré, com engajamento em causas ambientais, foram selecionados para estruturar o formato do projeto e iniciar os testes práticos nas ruas da comunidade.<br />
<br />
'''2018 - Jogo Sujo'''<br />
<br />
Dentro das atividades da 1º Residência Cocôzap, emergiu uma reportagem investigativa focada na gestão pública do saneamento básico na Maré e as consequências desta para a comunidade.<br />
<br />
'''2019 - 1º Encontro de Saneamento da Maré'''<br />
<br />
O projeto articulou um encontro pioneiro reunindo ativistas, especialistas e moradores da comunidade para uma análise coletiva dos problemas e potenciais soluções para as questões de saneamento básico na favela.<br />
<br />
'''2019 - 2º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Para ampliar o alcance do Cocôzap, duas jovens ativistas ambientais da Maré foram incorporadas para promover o projeto junto a várias instituições situadas no Complexo da Maré.<br />
<br />
'''2020 - 3º Residência Cocôzap'''<br />
<br />
Esta fase teve como objetivo principal a difusão intensiva do projeto pela Maré, no entanto, foi interrompida devido à pandemia de COVID-19. Mesmo assim, houve a oportunidade de conduzir uma pesquisa com 15 famílias da região para entender as relações entre as condições sanitárias e os impactos da pandemia na comunidade.<br />
<br />
'''2020 - Lançamento da Agenda 2030 de Saneamento da Maré'''<br />
<br />
Após a elaboração da Carta do Saneamento da Maré, o projeto em parceria com a Casa Fluminense estruturou uma agenda para endereçar reivindicações políticas relacionadas ao saneamento no território.<br />
<br />
'''2020 - Plano de Monitoramento do Saneamento Básico na Maré'''<br />
<br />
Em uma colaboração com a Embaixada Britânica e o Parque Tecnológico da UFRJ, o Cocôzap lançou um plano compreensivo que consolidou pesquisas, análises e dados sobre o saneamento na Maré, levando em consideração o contexto da pandemia de COVID-19.<br />
<br />
'''2021 - Relatório Cocôzap 5.0'''<br />
<br />
Entre maio e agosto de 2021, o Cocôzap recebeu 229 queixas de saneamento<br />
básico nas 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, sendo 122 de Esgoto, 78 de Lixo, 23 de Drenagem e 4 de Abastecimento de água.<br />
<br />
==Políticas Públicas==<br />
<br />
A partir de estudos, o Cocôzap propõe uma série de políticas para redução dos indicadores sobre o saneamento básico no conjunto de favelas da Maré:<br />
<br />
- Programa voltados para reciclagem de resíduos sólidos;<br />
<br />
- Comunicação de risco;<br />
<br />
- Monitorar e fortalecer os programas de saúde;<br />
<br />
- Mobilizar e democratizar o conhecimento<br />
<br />
- Jardim de chuva.<br />
<br />
==Parceiros==<br />
<br />
O Cocôzap tem como parceiros as seguintes organizações:<br />
<br />
- [[Casa Fluminense]]<br />
<br />
- Durham University<br />
<br />
- Great for Partnership<br />
<br />
- Fundo Socioambiental Casa Investindo em Cuidar<br />
<br />
- Fundação Heinrich Boll<br />
<br />
- Parque Tecnológico da UFRJ<br />
<br />
- PUC-PR<br />
<br />
- [[Redes da Maré]]<br />
<br />
- Soltec UFRJ<br />
<br />
== Contatos e Redes Sociais ==<br />
'''[https://twitter.com/cocozapmare Twitter]''' <br />
<br />
'''[https://www.instagram.com/cocozapmare/ Instagram]'''<br />
<br />
'''[https://cocozap.datalabe.org/ Site Oficial]'''<br />
<br />
'''E-mail''' contatococozap@datalabe.org <br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Data Labe]]<br />
<br />
[[Centro de Estudos e Ações Culturais e de Cidadania (CEACC)|CEASM]]<br />
<br />
[[Museu da Maré]]<br />
<br />
[[Casa Fluminense]]<br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
https://medium.com/cocozap/gera%C3%A7%C3%A3o-cidad%C3%A3-de-dados-um-fazer-pol%C3%ADtico-6bb6b6e1f675<br />
<br />
https://mareonline.com.br/direito-ao-saneamento-basico-na-mare/<br />
<br />
https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/09/03/cocozap-iniciativa-engaja-moradores-da-mare-em-luta-por-saneamento-digno.htm<br />
<br />
https://medium.com/cocozap/gera%C3%A7%C3%A3o-cidad%C3%A3-de-dados-um-fazer-pol%C3%ADtico-6bb6b6e1f675<br />
<br />
https://radarsaudefavela.com.br/cocozap-uma-tecnologia-social-de-geracao-cidada-de-dados-de-saneamento-basico-no-complexo-da-mare/<br />
<br />
https://www.parque.ufrj.br/saneamento-basico-e-covid-19-conheca-o-projeto-cocozap/<br />
<br />
https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/cocozap-mapeamento-mobilizacao-e-incidencia-em-saneamento-em-favelas<br />
<br />
https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas<br />
<br />
https://mareonline.com.br/por-dentro-do-saneamento-basico-na-mare/<br />
<br />
https://diariodorio.com/aproximadamente-35-dos-fluminenses-nao-tem-acesso-a-rede-de-esgoto/#:~:text=Dentre%20as%2027%20capitais%20brasileiras,que%20acumulou%208%2C76%20pontos.<br />
<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Favela]]<br />
[[Categoria:Dados]]<br />
[[Categoria:Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Juventude]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Território]]<br />
[[Categoria:Complexo da Maré]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Aten%C3%A7%C3%A3o_prim%C3%A1ria,_empoderamento_e_direito_%C3%A0_sa%C3%BAde&diff=20722Atenção primária, empoderamento e direito à saúde2023-08-02T15:08:43Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><div><br />
'''<span style="color:#000000;">Autora: </span>[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Usuário:Sonia_fleury <span style="color:#000000;">Sonia Fleury</span>]'''<br />
<br />
==<span style="color:#000000;">Introdução</span>==<br />
<br />
A maior parte dos serviços de saúde localizados em favelas são unidades de Atenção Primária de Saúde - APS. Muitas delas envolvem o trabalho de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e de Equipes de Saúde da Família (ESF). O Programa de Agentes Comunitários de Saúde do Ministério da Saúde foi criado oficialmente em 1991, com o objetivo de melhorar o acolhimento dos usuários do sistema de saúde por meio de pessoas da própria comunidade que fossem treinadas para exercer funções no sistema e encaminhar os pacientes para outros profissionais especializados. Espera-se, desta forma, diminuir a distância entre os agentes públicos e os usuários, já que o agente comunitário seria o elo de ligação entre ambos. Também se supõe que a capacitação de pessoas da comunidade represente um processo de empoderamento dos moradores. O conceito de empoderamento, que vem do termo inglês empowerment, passou a ser usado como um objetivo em todos os projetos comunitários, em especial os financiados pelas agências internacionais de cooperação e/ou executados pelas Organizações Não Governamentais – ONG.<br />
<br />
A Estratégia de Saúde da família é definida pelo Ministério da Saúde como um meio para expansão, qualificação e consolidação da atenção básica, de forma a permitir a reorganização do sistema de saúde. Dessa maneira, espera-se que o sistema, que está basicamente centrado no processo curativo, com base nas unidades hospitalares seja revertido para um modelo de atenção que privilegia a prevenção e é executado em unidades básicas de saúde, a menor custo e maior proximidade com a comunidade. O Manual de Atenção Básica do Ministério da Saúde<ref name=":0">Ministério da Saúde – Política Nacional de Atenção Básica – 2017. <nowiki>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html</nowiki></ref> considera que:<blockquote>“Um ponto importante é o estabelecimento de uma equipe multiprofissional (equipe de Saúde da Família – eSF) composta por, no mínimo: (I) médico generalista, ou especialista em Saúde da Família, ou médico de Família e Comunidade; (II) enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família; (III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e (IV) agentes comunitários de saúde. Podem ser acrescentados a essa composição os profissionais de Saúde Bucal: cirurgião-dentista generalista ou especialista em Saúde da Família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal”.</blockquote>No entanto, esse modelo de atenção à saúde voltado para a prevenção e com o envolvimento de equipes multidisciplinares e agentes comunitários, tem raízes bem mais antigas, dentro e fora do Brasil. Uma referência fundamental foi a Conferência de Alma-Ata, realizada em 1978 nessa cidade da antiga URSS, cuja declaração, assinada pelos governos participantes, assumiu o compromisso de assegurar “Saúde para Todos até o Ano 2000”<ref name=":1">Organização Mundial de Saúde - Declaração de Alma-Ata <nowiki>http://cmdss2011.org/site/wp-content/uploads/2011/07/Declara%C3%A7%C3%A3o-Alma-Ata.pdf</nowiki></ref>.<br />
<br />
# Os principais pontos da Declaração de Alma-Ata<ref name=":1" /> foram a definição de saúde como resultante de um processo de determinação social; o estatuto da saúde como direito; o reconhecimento das desigualdades; a relação entre saúde e desenvolvimento; o direito à participação; a responsabilização dos governos pela saúde de seus cidadãos, e a centralidade dos cuidados primários de saúde.<br />
# &nbsp;A Conferência enfatiza que a saúde - estado de completo bem- estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade - é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor saúde.<br />
# A chocante desigualdade existente no estado de saúde dos povos, particularmente entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim como dentro dos países, é política, social e economicamente inaceitável e constitui, por isso, objeto da preocupação comum de todos os países.<br />
# O desenvolvimento econômico e social baseado numa ordem econômica internacional é de importância fundamental para a mais plena realização da meta de Saúde para Todos no Ano 2000 e para a redução da lacuna existente entre o estado de saúde dos países em desenvolvimento e o dos desenvolvidos. A promoção e proteção da saúde dos povos é essencial para o contínuo desenvolvimento econômico e social e contribui para a melhor qualidade de vida e para a paz mundial.<br />
# É direito e dever dos povos participar individual e coletivamente no planejamento e na execução de seus cuidados de saúde.<br />
# Os governos têm pela saúde de seus povos uma responsabilidade que só pode ser realizada mediante adequadas medidas sanitárias e sociais. Uma das principais metas sociais dos governos, das organizações internacionais e de toda a comunidade mundial na próxima década deve ser a de que todos os povos do mundo, até o ano 2000, atinjam um nível de saúde que lhes permita levar uma vida social e economicamente produtiva. Os cuidados primários de saúde constituem a chave para que essa meta seja atingida, como parte do desenvolvimento, no espírito da justiça social.<br />
# Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e automedicação. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do país, do qual constituem a função central e o foco principal, quanto do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde.<br />
<br />
A Conferência de Alma-Ata influenciou governos em todo o mundo na busca de organização de sistemas universais de saúde, organizados a partir da atenção primária de saúde, como porta de entrada dos usuários no sistema. Também influenciou as lutas dos movimentos sociais, como o Movimento da Reforma Sanitária no Brasil, na luta pela inscrição do Direito à Saúde como um direito constitucional.<ref name=":2">Giovanella, Ligia et al - De Alma-Ata a Astana. Atenção primária à saúde e sistemas universais de saúde: compromisso indissociável e direito humano fundamental. Cad. Saúde Pública vol.35 no.3 Rio de Janeiro 2019 Epub 25-Mar-2019</ref><ref>Escorel, Sarah – Reviravolta na Saúde: ORIGENS E ARTICULAÇÃO DO Movimento Sanitário, Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. 208 p. <nowiki>ISBN 978-85-7541-361-6</nowiki>. <nowiki>http://books.scielo.org</nowiki></ref><br />
<br />
Desde o meado dos anos 1970, inicia-se a introdução desse modelo de atenção baseado na APS, em diferentes partes do Brasil como consequência da vitória da oposição, organizada na frente partidária que ficou conhecida como MDB, impondo a primeira derrota significativa ao partido do governo militar, a ARENA, em importantes cidades de porte médio onde eram permitidas eleições. Inspirados no sucesso do modelo cubano de atenção à saúde e legitimados pela declaração de Alma-Ata, buscou-se uma saída para uma atenção mais próxima da população, com abordagem preventiva e uso de agentes comunitários de saúde. Foram implantados projetos pioneiros em Montes Claros<ref>Fleury, Sonia (org) – Projeto Montes Claros – A Utopia Revisitada, Rio de Janeiro, ABRASCO, 1995</ref>, no PIASS em vários estados do Nordeste, em Niterói, em Campinas. Dessas experiências surgiram as bases materiais do projeto de construção do SUS.<br />
<br />
Em 2018, celebrando os 30 anos da Declaração de Alma-Ata, a Organização Mundial de Saúde convocou uma nova conferência, que se realizou em Astana, no Cazaquistão. Em um contexto de avanço das ideias neoliberais que defendem a redução do Estado e as parcerias entre Estado e Mercado, a conferência de Astana foi marcada pela sua falta de importância na definição global das políticas de saúde. A começar pela afirmação do diretor geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Guebreyesus, em cuja carta comemorativa do seu primeiro ano à frente da instituição onde afirma que não existe mercadoria no mundo mais preciosa que a saúde (“There is no commodity in the world more precious than health”).<br />
<br />
Ao assumir a linguagem de mercado, tratando a saúde como uma mercadoria, aponta claramente a posição de negação do papel do governo na garantia do direito à saúde, substituindo a responsabilidades e o papel do governo por uma ambígua governança, na qual todos os atores, públicos e privados, são tratados igualmente em relação ao provimento dos serviços de atenção à saúde.<br />
<br />
Por outro lado, a ênfase no conceito de empoderamento da comunidade foi reduzida à sua atuação no espaço das unidades de atenção básica, ofuscando a discussão de poder que deve ser o centro da noção de empoderamento.<br />
<br />
Em seguida, confrontamos essas duas posições que envolvem as relações de poder entre governo, mercado e comunidade.<br />
<br />
==<span style="color:#000000;"><span style="font-size:smaller;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Papel do Governo em Saúde</span></span></span>==<br />
<br />
O papel do governo é garantir a saúde como direito da pessoa humana e da cidadania. A saúde é um bem de relevância pública, como está afirmado na Constituição Federal do Brasil de 1988. A saúde é também um valor socialmente construído, o que representa a evolução das sociedades para um patamar civilizatório baseado na dignidade da pessoa humana e nos princípios da justiça social e do reconhecimento dos direitos sociais.<br />
<br />
Ela não é uma mercadoria porque não tem um valor no mercado, apenas um uso para os indivíduos e as sociedades. Sendo um bem de relevância pública o Estado tem que assegurar as condições que os indivíduos e a sociedade possam desfrutar de boa saúde, evitando que os determinantes sociais sejam responsáveis pelas condições precárias de saúde de grupos marginalizados. Essa responsabilidade pública diante dos cidadãos não pode ser terceirizada.<br />
<br />
Por ser um bem público o Estado não pode usar critérios de outra natureza que não a defesa da dignidade e da saúde, individual e coletiva, na organização dos serviços e na definição dos critérios de acesso aos serviços. Assim, em situações de escassez de recursos e elevadas taxas de migração, o governo nacional não pode utilizar a defesa da cidadania em oposição à dignidade da pessoa humana, restringindo o acesso dos que estão em território nacional, documentados ou não, aos serviços de saúde.<br />
<br />
A universalização do acesso aos serviços de saúde deve ter como porta de entrada a APS, pela sua garantida efetividade na solução de problemas sanitários individuais e coletivos, sendo que essa precisa ser assegurada por meio de políticas públicas que forneçam condições materiais para que equipes multidisciplinares, bem organizadas e com formação adequada, realizem o trabalho de promoção, prevenção e atenção curativa. Sem estas condições o trabalho da APS se torna paliativo e com baixa capacidade de resolver as demandas sanitárias.<br />
<br />
A atuação destas equipes, dentro e fora do Centro de Saúde, muitas vezes em locais com riscos elevados, envolve uma situação de grande complexidade que requer formação específica, integração da equipe de trabalho e utilização de tecnologias adequadas, que devem ser exigidas e garantidas pelo poder público.<br />
<br />
O planejamento governamental é fundamental para a efetividade da ação da APS, bem como de sua real integração como central no Sistema Nacional de Saúde, revertendo assim o modelo de atenção que tem como foco o hospital, de baixa eficiência, alto custo, absorvedor de tecnologia e insumos sofisticados, muitas vezes provocando iatrogenias - enfermidades que são consequência das ações em saúde - e disseminando bactérias cada vez mais resistentes.<br />
<br />
Reservar ao setor público apenas a atuação nas unidades de APS impediria a construção de um Sistema Nacional de Saúde, cujas unidades trabalhem de forma planejada, articulada e colaborativa, em uma rede de referência ( do nível primário para o secundário e terciário) e contrarreferência ( o caminho inverso) dirigida pelas políticas públicas em prol do interesse público. A tensão entre lógicas distintas, uma dirigida pelo interesse público e outra pela oferta de mercadorias e busca da lucratividade certamente compromete a concepção de Sistema Nacional de Saúde. Essa tensão já se expressa de forma dramática na falta de investimentos para tratamento de doenças negligenciáveis, muitas delas representando um desafio para a ação da APS. Os governos precisam usar o seu papel reitor na normatização do sistema, na produção e compra de insumos indispensáveis que, ou não se encontram no mercado ou cujo preço impede que sejam incorporados nos tratamentos da população que deles necessita.<br />
<br />
A defesa da soma de recursos públicos e privados na composição do Sistema Nacional de Saúde não pode ignorar as contradições existentes e nem deve especializar as funções de forma que o governo se encarregue da APS e o setor privado se dedique a oferta de serviços que permitem maior margem de lucratividade. Sendo um bem público o governo tem que exercer sua autoridade, para a qual foi legitimamente eleito pelos cidadãos, para prover as condições de desenvolvimento social e econômico por meio das políticas públicas. A recente substituição da noção de autoridade governamental pela governança, incluindo uma pluralidade de atores envolvidos na prestação dos serviços de saúde, não retira a responsabilidade nem a autoridade do governo. Caso contrário, o resultado será a desilusão dos cidadãos eleitores com a própria democracia e com os políticos, abrindo margem para o aparecimento de soluções antidemocráticas e autoritárias.<br />
<br />
==<span style="color:#000000;">Empoderamento em Saúde</span>==<br />
<br />
O conceito de empoderamento é pouco preciso e merece ser detalhado ao invés de ser circunscrito ao âmbito da atenção primária, em especial quando ela é vista como um espaço físico e não uma abordagem no tratamento da saúde. A temática do empoderamento em saúde transcende esses limites e pode ser compreendida em suas várias dimensões, como aumento dos graus de liberdade de indivíduos e grupos para tomar decisões em relação à sua saúde. Diz respeito a um processo tanto subjetivo quanto objetivo em que se constituem sujeitos políticos, capazes de afirmar a sua vontade e tomar decisões em relação ao conjunto de alternativas que lhes é oferecida. Nesse sentido, a questão da comunicação e da troca de informações é crucial para aumentar as condições de conhecimento e possibilitar a tomada de decisões que correspondem às necessidades e desejos dos indivíduos. Porém, não se trata de um processo pedagógico no qual os pacientes e/ou usuários são ensinados sobre questões de saúde, mas de um processo dialógico, no qual a interação entre profissionais e usuários permite a troca de informações, o respeito ao conhecimento de ambos, a capacidade de aceitação do outro como sujeito, isto é, aquele que pode agir em função de suas necessidades e desejos. Essa proposição implica que a equipe de saúde seja capaz de reconhecer os indivíduos como iguais, ainda que em posições funcionais distintas, portanto, capazes de responder às demandas por informação, estimular e compartilhar novos conhecimentos, compreender e respeitar a forma como os indivíduos constroem seu modo de vida. Só assim será possível que o cuidado de saúde seja fonte de transformação social. No entanto, essa capacidade só se realiza se existem condições materiais para propiciar a adequada atenção à saúde. Não se pode falar de empoderamento quando não existe liberdade, pois não há alternativas. Assim, o empoderamento requer condições materiais objetivas de prestação do cuidado em todos os níveis de complexidade e de tratamento necessários ao atendimento das necessidades. Nesse sentido, só haverá verdadeiramente empoderamento se a atenção primária em saúde não estiver restrita a um espaço, ou centro de APS, mas seja uma diretriz que articula o conjunto de unidades que compõem o sistema de saúde.<br />
<br />
Empoderamento significa a garantia do direito à saúde, a segurança que esse direito está garantido pelo poder público e que possa ser exigível. Poder e segurança se imbricam, pois não há poder se não está garantido que o cuidado necessário será garantido. Consequentemente, a APS não pode ser reduzida aos cuidados de menor complexidade e/ou mais baixo custo. Ela é uma estratégia para atenção que permite a promoção e prevenção, mas também deverá ser a garantidora do acolhimento das demandas de tratamento e reabilitação que serão derivadas para outras unidades adequadas.<br />
<br />
Empoderamento significa a capacidade de compartilhar poder na gestão do sistema de saúde, em todos os seus níveis – nacional, regional, local, unidades de saúde – com os beneficiários do sistema de saúde. Dessa forma, o sistema de saúde passa a ter um papel estratégico na democratização das políticas públicas, na socialização das informações sobre o funcionamento do governo e na prestação de contras e transparência do processo decisório. A experiência brasileira avançou muito na construção de uma arquitetura democrática com base na participação social, através do estabelecimento dos Conselhos Setoriais em todos os níveis de governo – Nacional, Regional e Local – por meio das Conferências Temáticas e das Audiências Públicas, dentre outros instrumentos. No entanto, estudos recentes identificam que a participação nessas instancias requer um nível prévio de organização, o que favorece a presença de grupos corporativos mais bem estruturados. Nesse sentido, é importante que as unidades de atenção à saúde, nos seus diferentes níveis, construam formas institucionalizadas de participação dos usuários, para além das ouvidorias, que garantam a efetividade das deliberações ali estabelecidas. Dessa forma, indivíduos e grupos da comunidade, que não tenham maior nível de organização, mas que representem as demandas dos usuários, poderão intervir na condução da atenção à saúde. A possibilidade de compatibilizar a participação social no sistema de saúde com a contratação de serviços privados pelo sistema público tem sido um dos grandes problemas enfrentados no Brasil, já que a gestão privada não se submete ao compartilhamento do poder com os usuários e à transparência dos dados relativos à gestão empresarial.<br />
<br />
Empoderamento significa que o interesse público na saúde seja garantido por meio da estrita regulação pelo governo de todas as mercadorias, produtos, processos e serviços que possam provocar danos à saúde dos consumidores ou negação da prestação do serviço de saúde. A diretriz sanitária de promoção da saúde pela difusão de estilos de vida saudáveis não pode ignorar a oferta descontrolada de produtos que provocam danos à saúde, processos de trabalho que comprometem a saúde do trabalhador, condições de moradia e transporte que provocam danos irreparáveis à saúde dos moradores das comunidades. Também não se pode falar de empoderamento quando os consumidores de serviços de saúde privados ou por meio de seguros de saúde não têm seus direitos assegurados pelo poder público, ou que estes não sejam fiscalizados devidamente.<br />
<br />
==<span style="color:#000000;">Das ameaças à PNAB à Pandemia do Coronavírus</span>==<br />
<br />
Em 2017 houve a reformulação da Política Nacional de Atenção Básica - PNAB<ref name=":0" />, em um contexto de restrição de recursos financeiros, desvalorização da participação social e tentativas de desmantelamento do sistema público de saúde. Contra essas ameaças as entidades do setor saúde - CEBES - Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva e ENSP- Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca se pronunciaram em nota conjunta, alertando para as ameaças transcrita abaixo aos princípios e diretrizes do SUS de universalidade, integralidade, equidade e participação social<ref name=":2" />. A revisão das diretrizes para a organização da Atenção Básica proposta pelo Ministério da Saúde revoga a prioridade do modelo assistencial da Estratégia Saúde da Família no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS):<blockquote>“Embora a minuta da PNAB afirme a Saúde da Família estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica, o texto na prática rompe com sua centralidade na organização do SUS, instituindo financiamento específico para quaisquer outros modelos na atenção básica (para além daquelas populações específicas já definidas na atual PNAB como ribeirinhas, população de rua) que não contemplam a composição de equipes multiprofissionais com a presença de agentes comunitários de saúde. Esta decisão abre a possibilidade de organizar a AB com base em princípios opostos aos da Atenção Primária em Saúde estabelecidos em Alma-Ata e adotados no SUS”.</blockquote>Denunciavam o subfinanciamento crônico na saúde, ao qual se acrescentava outro problema, com o novo modelo de financiamento, alterando as regras anteriores que estabeleciam uma parte fixa e outra variável, passando a utilizar o critério de população vinculada ao Centro de Saúde, o que transgride o princípio da universalidade da cobertura. Finalmente, denunciam os riscos implícitos na definição de uma carteira de serviços essenciais, o que sinaliza a aproximação com a cesta de serviços ofertada pelos seguros focalizados, abrindo porta para a privatização da APS.<br />
<br />
Em 2020, com a emergência da pandemia da COVID-9, a rede de Pesquisas em Atenção Primária emitiu nota alertando para a importância da prevenção e do fortalecimento da atenção primária, já que seus profissionais têm relações de proximidade com as populações que apresentam maior vulnerabilidade<ref>Giovanella, Ligia -'Algumas questões suscitadas pelo debate no seminário'Desafios da APS no SUS no enfrentamento da Covid-19, realizado em 16 abril de 2020 organizado pela Rede de Pesquisa em APS da Abrasco, BLOG do CEE <nowiki>http://www.cee.fiocruz.br/?q=node/1162</nowiki> </ref>. Chamam atenção para inúmeros aspectos envolvidos nas ações das equipes de APS:<blockquote>“No controle de uma epidemia além da garantia do cuidado individual – que no caso da Covid-19, para reduzir mortes, torna necessário prover atenção oportuna com transporte sanitário exclusivo, leitos hospitalares e UTIs equipadas que permitam a intubação dos pacientes por longo tempo –, é necessária uma abordagem comunitária. E nossas equipes de APS conhecem seus territórios, sua população, suas vulnerabilidades e têm papel importante na abordagem comunitária. Urge ativar esses atributos comunitários da ESF, associar-se às iniciativas solidárias das organizações comunitárias, articular-se intersetorialmente para apoiar sua população em suas diversas vulnerabilidades e garantir a continuidade das ações de promoção, prevenção e cuidado criando novos processos de trabalho na vigilância em saúde, no apoio social e sanitário aos grupos vulneráveis, na continuidade da atenção rotineira para quem dela precisa”.</blockquote>No entanto, o que se viu foi muito diferente. Toda a ênfase dos governos locais e estaduais esteve voltada para equipar os hospitais com respiradores e criar hospitais de campanha, enquanto pouca atenção foi dada à integração dos trabalhos preventivos com a atenção curativa. Esta postura termina por afetar profundamente as populações mais pobres, residentes em periferias e favelas, já que seu acesso ao sistema de saúde se dá por meio da atenção primária, fundamentalmente. O movimento O SUS nas Ruas<ref>Movimento O SUS nas Ruas <nowiki>https://drive.google.com/file/d/1Y4Ua1YAocIma6rCXgadj6-aOQJeHQPgE/view?fbclid=IwAR1tcGU6KuzaCStjA7caPwYSObjfYZq-ukpUdxJP8sDaROaPTtl9PAmfEsk</nowiki></ref>&nbsp;denuncia&nbsp;a falta de valorização da ampla rede atenção comunitária que não tem sido ressaltada no planejamento das políticas públicas de enfrentamento da COVID-19, o que representa uma potência subutilizada:<blockquote>“São cerca de 400.000 Agente comunitários de Saúde e Agentes de Controle de Endemias espalhados em quase todos os recantos da nação, que conhecem as peculiaridades de seus moradores e têm sua confiança. Apesar dees desprezo, em todo o país, inúmeros ACS e ACE vêm desenvolvendo ações extremamente criativas e eficientes no enfrentamento da atual crise sanitária. Mas, a maioria tem se sentido extremamente desorientada e desamparada”.</blockquote>Desamparar os agentes comunitários de saúde é desamparar a população das favelas e periferias<span style="color:#000000;"><span style="widows:2"><span style="orphans:2"><font face="Arial, sans-serif">.</font></span></span></span><br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
<br />
== Veja também ==<br />
*[[Educação Popular em Saúde em tempos de negacionismo: formação e experiências comunitárias (projeto de extensão)]]<br />
*[[Violência e Saúde de moradores de Favelas]]<br />
*[[Comunidades Ampliada de Pesquisa-Ação]]<br />
*[[Necropolítica e o adoecimento das favelas]]<br />
*[[Agentes comunitárias]]<br />
*[[Promoção Emancipatória da Saúde]]<br />
<br />
[[Category:Agentes Comunitários]] [[Category:Empoderamento]] [[Category:Temática - Saúde]] [[Category:Pandemia]] [[Category:Atenção primária]]<br />
[[Categoria:Direitos Humanos]]<br />
[[Categoria:Cidadania]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Aten%C3%A7%C3%A3o_prim%C3%A1ria,_empoderamento_e_direito_%C3%A0_sa%C3%BAde&diff=20721Atenção primária, empoderamento e direito à saúde2023-08-02T15:08:06Z<p>Fornazin: citações no formato wiki</p>
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<div><div><br />
'''<span style="color:#000000;">Autora: </span>[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Usuário:Sonia_fleury <span style="color:#000000;">Sonia Fleury</span>]'''<br />
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==<span style="color:#000000;">Introdução</span>==<br />
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A maior parte dos serviços de saúde localizados em favelas são unidades de Atenção Primária de Saúde - APS. Muitas delas envolvem o trabalho de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e de Equipes de Saúde da Família (ESF). O Programa de Agentes Comunitários de Saúde do Ministério da Saúde foi criado oficialmente em 1991, com o objetivo de melhorar o acolhimento dos usuários do sistema de saúde por meio de pessoas da própria comunidade que fossem treinadas para exercer funções no sistema e encaminhar os pacientes para outros profissionais especializados. Espera-se, desta forma, diminuir a distância entre os agentes públicos e os usuários, já que o agente comunitário seria o elo de ligação entre ambos. Também se supõe que a capacitação de pessoas da comunidade represente um processo de empoderamento dos moradores. O conceito de empoderamento, que vem do termo inglês empowerment, passou a ser usado como um objetivo em todos os projetos comunitários, em especial os financiados pelas agências internacionais de cooperação e/ou executados pelas Organizações Não Governamentais – ONG.<br />
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A Estratégia de Saúde da família é definida pelo Ministério da Saúde como um meio para expansão, qualificação e consolidação da atenção básica, de forma a permitir a reorganização do sistema de saúde. Dessa maneira, espera-se que o sistema, que está basicamente centrado no processo curativo, com base nas unidades hospitalares seja revertido para um modelo de atenção que privilegia a prevenção e é executado em unidades básicas de saúde, a menor custo e maior proximidade com a comunidade. O Manual de Atenção Básica do Ministério da Saúde<ref name=":0">Ministério da Saúde – Política Nacional de Atenção Básica – 2017. <nowiki>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html</nowiki></ref> considera que:<blockquote>“Um ponto importante é o estabelecimento de uma equipe multiprofissional (equipe de Saúde da Família – eSF) composta por, no mínimo: (I) médico generalista, ou especialista em Saúde da Família, ou médico de Família e Comunidade; (II) enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família; (III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e (IV) agentes comunitários de saúde. Podem ser acrescentados a essa composição os profissionais de Saúde Bucal: cirurgião-dentista generalista ou especialista em Saúde da Família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal”.</blockquote>No entanto, esse modelo de atenção à saúde voltado para a prevenção e com o envolvimento de equipes multidisciplinares e agentes comunitários, tem raízes bem mais antigas, dentro e fora do Brasil. Uma referência fundamental foi a Conferência de Alma-Ata, realizada em 1978 nessa cidade da antiga URSS, cuja declaração, assinada pelos governos participantes, assumiu o compromisso de assegurar “Saúde para Todos até o Ano 2000”<ref name=":1">Organização Mundial de Saúde - Declaração de Alma-Ata <nowiki>http://cmdss2011.org/site/wp-content/uploads/2011/07/Declara%C3%A7%C3%A3o-Alma-Ata.pdf</nowiki></ref>.<br />
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# Os principais pontos da Declaração de Alma-Ata<ref name=":1" /> foram a definição de saúde como resultante de um processo de determinação social; o estatuto da saúde como direito; o reconhecimento das desigualdades; a relação entre saúde e desenvolvimento; o direito à participação; a responsabilização dos governos pela saúde de seus cidadãos, e a centralidade dos cuidados primários de saúde.<br />
# &nbsp;A Conferência enfatiza que a saúde - estado de completo bem- estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade - é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor saúde.<br />
# A chocante desigualdade existente no estado de saúde dos povos, particularmente entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim como dentro dos países, é política, social e economicamente inaceitável e constitui, por isso, objeto da preocupação comum de todos os países.<br />
# O desenvolvimento econômico e social baseado numa ordem econômica internacional é de importância fundamental para a mais plena realização da meta de Saúde para Todos no Ano 2000 e para a redução da lacuna existente entre o estado de saúde dos países em desenvolvimento e o dos desenvolvidos. A promoção e proteção da saúde dos povos é essencial para o contínuo desenvolvimento econômico e social e contribui para a melhor qualidade de vida e para a paz mundial.<br />
# É direito e dever dos povos participar individual e coletivamente no planejamento e na execução de seus cuidados de saúde.<br />
# Os governos têm pela saúde de seus povos uma responsabilidade que só pode ser realizada mediante adequadas medidas sanitárias e sociais. Uma das principais metas sociais dos governos, das organizações internacionais e de toda a comunidade mundial na próxima década deve ser a de que todos os povos do mundo, até o ano 2000, atinjam um nível de saúde que lhes permita levar uma vida social e economicamente produtiva. Os cuidados primários de saúde constituem a chave para que essa meta seja atingida, como parte do desenvolvimento, no espírito da justiça social.<br />
# Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e automedicação. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do país, do qual constituem a função central e o foco principal, quanto do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde.<br />
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A Conferência de Alma-Ata influenciou governos em todo o mundo na busca de organização de sistemas universais de saúde, organizados a partir da atenção primária de saúde, como porta de entrada dos usuários no sistema. Também influenciou as lutas dos movimentos sociais, como o Movimento da Reforma Sanitária no Brasil, na luta pela inscrição do Direito à Saúde como um direito constitucional.<ref name=":2">Giovanella, Ligia et al - De Alma-Ata a Astana. Atenção primária à saúde e sistemas universais de saúde: compromisso indissociável e direito humano fundamental. Cad. Saúde Pública vol.35 no.3 Rio de Janeiro 2019 Epub 25-Mar-2019</ref><ref>Escorel, Sarah – Reviravolta na Saúde: ORIGENS E ARTICULAÇÃO DO Movimento Sanitário, Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. 208 p. <nowiki>ISBN 978-85-7541-361-6</nowiki>. <nowiki>http://books.scielo.org</nowiki></ref><br />
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Desde o meado dos anos 1970, inicia-se a introdução desse modelo de atenção baseado na APS, em diferentes partes do Brasil como consequência da vitória da oposição, organizada na frente partidária que ficou conhecida como MDB, impondo a primeira derrota significativa ao partido do governo militar, a ARENA, em importantes cidades de porte médio onde eram permitidas eleições. Inspirados no sucesso do modelo cubano de atenção à saúde e legitimados pela declaração de Alma-Ata, buscou-se uma saída para uma atenção mais próxima da população, com abordagem preventiva e uso de agentes comunitários de saúde. Foram implantados projetos pioneiros em Montes Claros<ref>Fleury, Sonia (org) – Projeto Montes Claros – A Utopia Revisitada, Rio de Janeiro, ABRASCO, 1995</ref>, no PIASS em vários estados do Nordeste, em Niterói, em Campinas. Dessas experiências surgiram as bases materiais do projeto de construção do SUS.<br />
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Em 2018, celebrando os 30 anos da Declaração de Alma-Ata, a Organização Mundial de Saúde convocou uma nova conferência, que se realizou em Astana, no Cazaquistão. Em um contexto de avanço das ideias neoliberais que defendem a redução do Estado e as parcerias entre Estado e Mercado, a conferência de Astana foi marcada pela sua falta de importância na definição global das políticas de saúde. A começar pela afirmação do diretor geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Guebreyesus, em cuja carta comemorativa do seu primeiro ano à frente da instituição onde afirma que não existe mercadoria no mundo mais preciosa que a saúde (“There is no commodity in the world more precious than health”).<br />
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Ao assumir a linguagem de mercado, tratando a saúde como uma mercadoria, aponta claramente a posição de negação do papel do governo na garantia do direito à saúde, substituindo a responsabilidades e o papel do governo por uma ambígua governança, na qual todos os atores, públicos e privados, são tratados igualmente em relação ao provimento dos serviços de atenção à saúde.<br />
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Por outro lado, a ênfase no conceito de empoderamento da comunidade foi reduzida à sua atuação no espaço das unidades de atenção básica, ofuscando a discussão de poder que deve ser o centro da noção de empoderamento.<br />
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Em seguida, confrontamos essas duas posições que envolvem as relações de poder entre governo, mercado e comunidade.<br />
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==<span style="color:#000000;"><span style="font-size:smaller;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Papel do Governo em Saúde</span></span></span>==<br />
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O papel do governo é garantir a saúde como direito da pessoa humana e da cidadania. A saúde é um bem de relevância pública, como está afirmado na Constituição Federal do Brasil de 1988. A saúde é também um valor socialmente construído, o que representa a evolução das sociedades para um patamar civilizatório baseado na dignidade da pessoa humana e nos princípios da justiça social e do reconhecimento dos direitos sociais.<br />
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Ela não é uma mercadoria porque não tem um valor no mercado, apenas um uso para os indivíduos e as sociedades. Sendo um bem de relevância pública o Estado tem que assegurar as condições que os indivíduos e a sociedade possam desfrutar de boa saúde, evitando que os determinantes sociais sejam responsáveis pelas condições precárias de saúde de grupos marginalizados. Essa responsabilidade pública diante dos cidadãos não pode ser terceirizada.<br />
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Por ser um bem público o Estado não pode usar critérios de outra natureza que não a defesa da dignidade e da saúde, individual e coletiva, na organização dos serviços e na definição dos critérios de acesso aos serviços. Assim, em situações de escassez de recursos e elevadas taxas de migração, o governo nacional não pode utilizar a defesa da cidadania em oposição à dignidade da pessoa humana, restringindo o acesso dos que estão em território nacional, documentados ou não, aos serviços de saúde.<br />
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A universalização do acesso aos serviços de saúde deve ter como porta de entrada a APS, pela sua garantida efetividade na solução de problemas sanitários individuais e coletivos, sendo que essa precisa ser assegurada por meio de políticas públicas que forneçam condições materiais para que equipes multidisciplinares, bem organizadas e com formação adequada, realizem o trabalho de promoção, prevenção e atenção curativa. Sem estas condições o trabalho da APS se torna paliativo e com baixa capacidade de resolver as demandas sanitárias.<br />
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A atuação destas equipes, dentro e fora do Centro de Saúde, muitas vezes em locais com riscos elevados, envolve uma situação de grande complexidade que requer formação específica, integração da equipe de trabalho e utilização de tecnologias adequadas, que devem ser exigidas e garantidas pelo poder público.<br />
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O planejamento governamental é fundamental para a efetividade da ação da APS, bem como de sua real integração como central no Sistema Nacional de Saúde, revertendo assim o modelo de atenção que tem como foco o hospital, de baixa eficiência, alto custo, absorvedor de tecnologia e insumos sofisticados, muitas vezes provocando iatrogenias - enfermidades que são consequência das ações em saúde - e disseminando bactérias cada vez mais resistentes.<br />
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Reservar ao setor público apenas a atuação nas unidades de APS impediria a construção de um Sistema Nacional de Saúde, cujas unidades trabalhem de forma planejada, articulada e colaborativa, em uma rede de referência ( do nível primário para o secundário e terciário) e contrarreferência ( o caminho inverso) dirigida pelas políticas públicas em prol do interesse público. A tensão entre lógicas distintas, uma dirigida pelo interesse público e outra pela oferta de mercadorias e busca da lucratividade certamente compromete a concepção de Sistema Nacional de Saúde. Essa tensão já se expressa de forma dramática na falta de investimentos para tratamento de doenças negligenciáveis, muitas delas representando um desafio para a ação da APS. Os governos precisam usar o seu papel reitor na normatização do sistema, na produção e compra de insumos indispensáveis que, ou não se encontram no mercado ou cujo preço impede que sejam incorporados nos tratamentos da população que deles necessita.<br />
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A defesa da soma de recursos públicos e privados na composição do Sistema Nacional de Saúde não pode ignorar as contradições existentes e nem deve especializar as funções de forma que o governo se encarregue da APS e o setor privado se dedique a oferta de serviços que permitem maior margem de lucratividade. Sendo um bem público o governo tem que exercer sua autoridade, para a qual foi legitimamente eleito pelos cidadãos, para prover as condições de desenvolvimento social e econômico por meio das políticas públicas. A recente substituição da noção de autoridade governamental pela governança, incluindo uma pluralidade de atores envolvidos na prestação dos serviços de saúde, não retira a responsabilidade nem a autoridade do governo. Caso contrário, o resultado será a desilusão dos cidadãos eleitores com a própria democracia e com os políticos, abrindo margem para o aparecimento de soluções antidemocráticas e autoritárias.<br />
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==<span style="color:#000000;">Empoderamento em Saúde</span>==<br />
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O conceito de empoderamento é pouco preciso e merece ser detalhado ao invés de ser circunscrito ao âmbito da atenção primária, em especial quando ela é vista como um espaço físico e não uma abordagem no tratamento da saúde. A temática do empoderamento em saúde transcende esses limites e pode ser compreendida em suas várias dimensões, como aumento dos graus de liberdade de indivíduos e grupos para tomar decisões em relação à sua saúde. Diz respeito a um processo tanto subjetivo quanto objetivo em que se constituem sujeitos políticos, capazes de afirmar a sua vontade e tomar decisões em relação ao conjunto de alternativas que lhes é oferecida. Nesse sentido, a questão da comunicação e da troca de informações é crucial para aumentar as condições de conhecimento e possibilitar a tomada de decisões que correspondem às necessidades e desejos dos indivíduos. Porém, não se trata de um processo pedagógico no qual os pacientes e/ou usuários são ensinados sobre questões de saúde, mas de um processo dialógico, no qual a interação entre profissionais e usuários permite a troca de informações, o respeito ao conhecimento de ambos, a capacidade de aceitação do outro como sujeito, isto é, aquele que pode agir em função de suas necessidades e desejos. Essa proposição implica que a equipe de saúde seja capaz de reconhecer os indivíduos como iguais, ainda que em posições funcionais distintas, portanto, capazes de responder às demandas por informação, estimular e compartilhar novos conhecimentos, compreender e respeitar a forma como os indivíduos constroem seu modo de vida. Só assim será possível que o cuidado de saúde seja fonte de transformação social. No entanto, essa capacidade só se realiza se existem condições materiais para propiciar a adequada atenção à saúde. Não se pode falar de empoderamento quando não existe liberdade, pois não há alternativas. Assim, o empoderamento requer condições materiais objetivas de prestação do cuidado em todos os níveis de complexidade e de tratamento necessários ao atendimento das necessidades. Nesse sentido, só haverá verdadeiramente empoderamento se a atenção primária em saúde não estiver restrita a um espaço, ou centro de APS, mas seja uma diretriz que articula o conjunto de unidades que compõem o sistema de saúde.<br />
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Empoderamento significa a garantia do direito à saúde, a segurança que esse direito está garantido pelo poder público e que possa ser exigível. Poder e segurança se imbricam, pois não há poder se não está garantido que o cuidado necessário será garantido. Consequentemente, a APS não pode ser reduzida aos cuidados de menor complexidade e/ou mais baixo custo. Ela é uma estratégia para atenção que permite a promoção e prevenção, mas também deverá ser a garantidora do acolhimento das demandas de tratamento e reabilitação que serão derivadas para outras unidades adequadas.<br />
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Empoderamento significa a capacidade de compartilhar poder na gestão do sistema de saúde, em todos os seus níveis – nacional, regional, local, unidades de saúde – com os beneficiários do sistema de saúde. Dessa forma, o sistema de saúde passa a ter um papel estratégico na democratização das políticas públicas, na socialização das informações sobre o funcionamento do governo e na prestação de contras e transparência do processo decisório. A experiência brasileira avançou muito na construção de uma arquitetura democrática com base na participação social, através do estabelecimento dos Conselhos Setoriais em todos os níveis de governo – Nacional, Regional e Local – por meio das Conferências Temáticas e das Audiências Públicas, dentre outros instrumentos. No entanto, estudos recentes identificam que a participação nessas instancias requer um nível prévio de organização, o que favorece a presença de grupos corporativos mais bem estruturados. Nesse sentido, é importante que as unidades de atenção à saúde, nos seus diferentes níveis, construam formas institucionalizadas de participação dos usuários, para além das ouvidorias, que garantam a efetividade das deliberações ali estabelecidas. Dessa forma, indivíduos e grupos da comunidade, que não tenham maior nível de organização, mas que representem as demandas dos usuários, poderão intervir na condução da atenção à saúde. A possibilidade de compatibilizar a participação social no sistema de saúde com a contratação de serviços privados pelo sistema público tem sido um dos grandes problemas enfrentados no Brasil, já que a gestão privada não se submete ao compartilhamento do poder com os usuários e à transparência dos dados relativos à gestão empresarial.<br />
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Empoderamento significa que o interesse público na saúde seja garantido por meio da estrita regulação pelo governo de todas as mercadorias, produtos, processos e serviços que possam provocar danos à saúde dos consumidores ou negação da prestação do serviço de saúde. A diretriz sanitária de promoção da saúde pela difusão de estilos de vida saudáveis não pode ignorar a oferta descontrolada de produtos que provocam danos à saúde, processos de trabalho que comprometem a saúde do trabalhador, condições de moradia e transporte que provocam danos irreparáveis à saúde dos moradores das comunidades. Também não se pode falar de empoderamento quando os consumidores de serviços de saúde privados ou por meio de seguros de saúde não têm seus direitos assegurados pelo poder público, ou que estes não sejam fiscalizados devidamente.<br />
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==<span style="color:#000000;">Das ameaças à PNAB à Pandemia do Coronavírus</span>==<br />
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Em 2017 houve a reformulação da Política Nacional de Atenção Básica - PNAB<ref name=":0" />, em um contexto de restrição de recursos financeiros, desvalorização da participação social e tentativas de desmantelamento do sistema público de saúde. Contra essas ameaças as entidades do setor saúde - CEBES - Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva e ENSP- Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca se pronunciaram em nota conjunta, alertando para as ameaças transcrita abaixo aos princípios e diretrizes do SUS de universalidade, integralidade, equidade e participação social<ref name=":2" />. A revisão das diretrizes para a organização da Atenção Básica proposta pelo Ministério da Saúde revoga a prioridade do modelo assistencial da Estratégia Saúde da Família no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS):<blockquote>“Embora a minuta da PNAB afirme a Saúde da Família estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica, o texto na prática rompe com sua centralidade na organização do SUS, instituindo financiamento específico para quaisquer outros modelos na atenção básica (para além daquelas populações específicas já definidas na atual PNAB como ribeirinhas, população de rua) que não contemplam a composição de equipes multiprofissionais com a presença de agentes comunitários de saúde. Esta decisão abre a possibilidade de organizar a AB com base em princípios opostos aos da Atenção Primária em Saúde estabelecidos em Alma-Ata e adotados no SUS”.</blockquote>Denunciavam o subfinanciamento crônico na saúde, ao qual se acrescentava outro problema, com o novo modelo de financiamento, alterando as regras anteriores que estabeleciam uma parte fixa e outra variável, passando a utilizar o critério de população vinculada ao Centro de Saúde, o que transgride o princípio da universalidade da cobertura. Finalmente, denunciam os riscos implícitos na definição de uma carteira de serviços essenciais, o que sinaliza a aproximação com a cesta de serviços ofertada pelos seguros focalizados, abrindo porta para a privatização da APS.<br />
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Em 2020, com a emergência da pandemia da COVID-9, a rede de Pesquisas em Atenção Primária emitiu nota alertando para a importância da prevenção e do fortalecimento da atenção primária, já que seus profissionais têm relações de proximidade com as populações que apresentam maior vulnerabilidade<ref>Giovanella, Ligia -'Algumas questões suscitadas pelo debate no seminário'Desafios da APS no SUS no enfrentamento da Covid-19, realizado em 16 abril de 2020 organizado pela Rede de Pesquisa em APS da Abrasco, BLOG do CEE <nowiki>http://www.cee.fiocruz.br/?q=node/1162</nowiki> </ref>. Chamam atenção para inúmeros aspectos envolvidos nas ações das equipes de APS:<blockquote>“No controle de uma epidemia além da garantia do cuidado individual – que no caso da Covid-19, para reduzir mortes, torna necessário prover atenção oportuna com transporte sanitário exclusivo, leitos hospitalares e UTIs equipadas que permitam a intubação dos pacientes por longo tempo –, é necessária uma abordagem comunitária. E nossas equipes de APS conhecem seus territórios, sua população, suas vulnerabilidades e têm papel importante na abordagem comunitária. Urge ativar esses atributos comunitários da ESF, associar-se às iniciativas solidárias das organizações comunitárias, articular-se intersetorialmente para apoiar sua população em suas diversas vulnerabilidades e garantir a continuidade das ações de promoção, prevenção e cuidado criando novos processos de trabalho na vigilância em saúde, no apoio social e sanitário aos grupos vulneráveis, na continuidade da atenção rotineira para quem dela precisa”.</blockquote>No entanto, o que se viu foi muito diferente. Toda a ênfase dos governos locais e estaduais esteve voltada para equipar os hospitais com respiradores e criar hospitais de campanha, enquanto pouca atenção foi dada à integração dos trabalhos preventivos com a atenção curativa. Esta postura termina por afetar profundamente as populações mais pobres, residentes em periferias e favelas, já que seu acesso ao sistema de saúde se dá por meio da atenção primária, fundamentalmente. O movimento O SUS nas Ruas<ref>Movimento O SUS nas Ruas <nowiki>https://drive.google.com/file/d/1Y4Ua1YAocIma6rCXgadj6-aOQJeHQPgE/view?fbclid=IwAR1tcGU6KuzaCStjA7caPwYSObjfYZq-ukpUdxJP8sDaROaPTtl9PAmfEsk</nowiki></ref>&nbsp;denuncia&nbsp;a falta de valorização da ampla rede atenção comunitária que não tem sido ressaltada no planejamento das políticas públicas de enfrentamento da COVID-19, o que representa uma potência subutilizada:<br />
“São cerca de 400.000 Agente comunitários de Saúde e Agentes de Controle de Endemias espalhados em quase todos os recantos da nação, que conhecem as peculiaridades de seus moradores e têm sua confiança. Apesar dees desprezo, em todo o país, inúmeros ACS e ACE vêm desenvolvendo ações extremamente criativas e eficientes no enfrentamento da atual crise sanitária. Mas, a maioria tem se sentido extremamente desorientada e desamparada”.<br />
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Desamparar os agentes comunitários de saúde é desamparar a população das favelas e periferias<span style="color:#000000;"><span style="widows:2"><span style="orphans:2"><font face="Arial, sans-serif">.</font></span></span></span><br />
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== Referências ==<br />
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== Veja também ==<br />
*[[Educação Popular em Saúde em tempos de negacionismo: formação e experiências comunitárias (projeto de extensão)]]<br />
*[[Violência e Saúde de moradores de Favelas]]<br />
*[[Comunidades Ampliada de Pesquisa-Ação]]<br />
*[[Necropolítica e o adoecimento das favelas]]<br />
*[[Agentes comunitárias]]<br />
*[[Promoção Emancipatória da Saúde]]<br />
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[[Category:Agentes Comunitários]] [[Category:Empoderamento]] [[Category:Temática - Saúde]] [[Category:Pandemia]] [[Category:Atenção primária]]<br />
[[Categoria:Direitos Humanos]]<br />
[[Categoria:Cidadania]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Arquivo:81097052_2748324048536363_4273250811775025152_n.jpg&diff=20545Arquivo:81097052 2748324048536363 4273250811775025152 n.jpg2023-07-26T18:01:19Z<p>Fornazin: Fornazin moveu Arquivo:81097052 2748324048536363 4273250811775025152 n.jpg para Arquivo:Logo Maré Vive.jpg</p>
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<div>#REDIRECIONAMENTO [[Arquivo:Logo Maré Vive.jpg]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Arquivo:Logo_Mar%C3%A9_Vive.jpg&diff=20544Arquivo:Logo Maré Vive.jpg2023-07-26T18:01:19Z<p>Fornazin: Fornazin moveu Arquivo:81097052 2748324048536363 4273250811775025152 n.jpg para Arquivo:Logo Maré Vive.jpg</p>
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<div></div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Movimenta%C3%A7%C3%A3o_cultural_da_periferia_Sul_de_S%C3%A3o_Paulo&diff=20535Movimentação cultural da periferia Sul de São Paulo2023-07-26T17:39:41Z<p>Fornazin: </p>
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<div> Autora: Elisa Dassoler<ref group="Notas">Graduada em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Mestre em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Linha de Pesquisa: Processos Artísticos Contemporâneos (PPGAV/UDESC). Contato: elisadassoler@gmail.com; https://www.elisadassoler.com. Grupo de Pesquisa Poéticas do Urbano (CNPq - PPGAV/UDESC)</ref>. <br />
Texto originalmente publicado nos [http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000132012000100012&script=sci_arttext Anais do Primeiro Colóquio Internacional de Culturas Jovens: Afro-Brasil América: Encontros e Desencontros]. <br />
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=== Resumo ===<br />
Este artigo tem por objetivo apresentar a análise feita sobre a movimentação cultural da periferia sul de São Paulo, notadamente nos últimos anos, a partir da experiência de dois projetos artístico-culturais: "''Semana de Arte Moderna da Periferia: Antropofagia Periférica"'' e "''Expedición Donde Miras: Caminhada Cultural pela América Latina"'' <ref>DASSOLER, Elisa Rodrigues. Coletivo Arte na Periferia: por uma outra dimensão territorial das artes visuais. Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Florianópolis, 2011.</ref>. Tendo em vista que ambos os projetos foram protagonizados por artistas e agentes culturais moradores da referida região, este trabalho procura evidenciar a organização desses jovens realizadores a partir da análise dos ''usos do território'', do qual fala o geógrafo Milton Santos. Em linhas gerais, este trabalho apresenta a dinâmica cultural da periferia sul de São Paulo como um processo híbrido, marcado pelo conflito entre a racionalização hegemônica do espaço e a emergência de ''contra-racionalidades'' que, no lugar e mediante os sistemas técnicos, se desenvolvem na perspectiva da construção de práticas sociais horizontalizadas pautadas na solidariedade e na resignificação da cidadania.<ref group="Notas">Texto originalmente publicado nos [http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000132012000100012&script=sci_arttext Anais do Primeiro Colóquio Internacional de Culturas Jovens: Afro-Brasil América: Encontros e Desencontros]</ref><br />
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=== Introdução: "Pânico na zona sul" ===<br />
No ranking das maiores economias do mundo, a cidade de São Paulo é considerada o centro econômico, financeiro e político mais importante da América Latina. Visto que esta concentra riqueza na mesma lógica em que distribui miséria a uma parcela significativa da população, a cidade-metrópole paulistana carrega, assim, a “glória” e o “peso” dessa situação. Espaço profícuo das grandes contradições, São Paulo é pensada aqui como lugar da concentração e ao mesmo tempo da fragmentação <ref>SANTOS, Milton. '''A Natureza do Espaço:''' Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4ª edição, 2ª reimpressão. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.</ref>,<ref>SANTOS, Milton. '''Por uma Economia Política da Cidade:''' o caso de São Paulo. 2ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.</ref>.<br />
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Inseridas nesse processo contraditório, as periferias urbanas se apresentam como os grandes receptáculos de pessoas que, geralmente na condição de migrantes, não encontram na cidade grande o sonho de “crescer na vida” e alcançar as bases, materiais e imateriais, tão sonhadas como educação, saúde, trabalho e moradia digna. Esse processo de periferização, de segregação socioespacial, assinala o quão perverso é o modo de produção capitalista na sua fase atual, e nos alerta para a urgência – para a necessidade – de se pensar novas formas de habitar, trabalhar, produzir arte, cultura e conhecimento. Formas que se dêem de modo solidário e compartilhado, que respeitem a diversidade humana e que sejam de fato democráticas.<br />
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A força popular por melhores condições de existência é percebida em diversos movimentos organizados, mas também em movimentos espontâneos, sem organização prévia. Assim como os vetores da globalização se instituem nos territórios de modos desiguais, o nível de acirramento das contradições e as formas de luta que emergem desse movimento também se apresentam de diferentes maneiras, diferenciando-se, assim, em sua intensidade e intencionalidade. Sposito (1992), em seu artigo Espacialidade, cotidiano e poder, aponta que:<blockquote>A construção desta reação a uma espacialidade e a um cotidiano determinados pela produção e pelo consumo vai se dando como um movimento que não é retilíneo, mas que vai se construindo com avanços e recuos. Esse movimento é, às vezes, organização (o piquete que se organiza para a garantia da greve, ou a ocupação dos sem teto discutida e efetivada), mas é, às vezes, explosão (o ônibus que é depredado, o supermercado que é saqueado). É informação que se impõe (as televisões ligadas, de ouvidos no Cid Moreira), mas também informação que se produz (o panfleto que circula na fábrica, os jornais das minorias). Esse movimento para conquistar a condição de determinação, enquanto poder social que transforma a sua espacialidade e o seu cotidiano, tem que ser alimentado, educado no sentido mais concreto destes termos tanto quanto no seu sentido mais simbólico. Não há construção do novo (e não da novidade) se não houver uma alimentação de qualidade, uma escola pública com proposta social, um sistema que seja realmente de saúde (e não das doenças), uma cultura que se dê a partir de todos e de cada um e para cada um e para todos. Não há construção de cidadania se não houver a construção de uma nova concepção de sociedade, e portanto de poder (SPOSITO, 1992, pp. 64-65).</blockquote>Ressaltamos, desse modo, a importância da comunicação, da informação, da arte e da cultura para a realização de processos e lutas sociais que visam melhores condições de vida para toda a sociedade. Sujeitos que foram historicamente marginalizados conseguem, nos tempos atuais, a partir de bases técnicas desenvolvidas para intensificar a dominação e a eficácia do capital nos territórios – tal com a informática e as telecomunicações –, efetivar processos artísticos e culturais que problematizam a vida dos pobres e, por sua vez, indicam novas formas organizativas de trabalho e produção de conhecimento. <br />
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Milton Santos (2002) traz algumas reflexões nesse sentido. Para ele, na contemporaneidade, existem dois comportamentos políticos indissociáveis: a política dos de cima e a política dos de baixo. A política dos de cima faz referência direta às “[...] questões das grandes empresas e do aparelho do Estado [... e] se constitui dentro de um sistema que é solidamente estabelecido, funcionalmente autônomo e autoreferido”. Já na política dos de baixo, “[...] há uma busca de coerência entre o interesse do maior número de pessoas e a elaboração de novas idéias e novos projetos”. Ainda assim, por não deterem a força material, jurídica e política dos de cima, os de baixo “[...] mostram-se freqüentemente incapazes de uma articulação mais ampla e continuada, e em conseqüência, encontram dificuldades tanto para propor como para levar adiante ações políticas mais válidas” (SANTOS, 2002, pp. 106-107). <br />
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Esse jogo de forças hostil ao desenvolvimento humano, já que privilegia uns poucos em detrimento da maioria, está cada vez mais sendo discutido e pensado pelos de baixo. A atual geografia do mundo impõe um novo olhar aos povos oprimidos pelo capital e violentamente reprimidos pelas políticas de Estado.<br />
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Daniela Embón, integrante do coletivo Arte na Periferia e moradora do bairro Campo Limpo, argumenta que a efervescência da movimentação cultural na periferia da zona sul de São Paulo teve início nos anos 1990, principalmente com a repercussão das primeiras músicas do grupo de rap Racionais MC´s, do Capão Redondo, e em especial com a música Pânico na zona sul – que chamava a atenção dos moradores para a necessidade de mudança daquela realidade. O surgimento de escritores de prosa e poesia, juntamente com os Saraus Literários, assim como a emergência de diversos coletivos de arte, incluindo, além da música, o teatro, a dança e o audiovisual, veio se desenvolvendo ao longo desse período, ganhando maior força e visibilidade a partir dos anos 2000 (EMBÓN, 2009, p. 43). <br />
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Destacamos, nesse sentido, a importância do movimento Hip-Hop como elemento basilar no processo de organização popular através da arte e da cultura na referida região (MOASSAB, 2008; EMBÓN, 2009). Seu caráter aglutinador e propulsor da ‘revolução da palavra’ é expresso através do canto falado do rap, da dança break, da pintura grafite e da “[...] chamada ‘consciência’ ou ‘atitude’, que é o modo pelo qual os integrantes do hip-hop se posicionam diante do grupo e da sociedade, isto é, seu comprometimento social” (MOASSAB, 2008, p. 50). <br />
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Para Célia Ramos, o Hip-Hop apresenta-se, assim, dotado de “novas possibilidades de ser e agir frente aos sistemas hegemônicos de dominação capitalista” (RAMOS, 2006, p. 03).<blockquote>Os rappers contam o cotidiano da vida nas favelas, contestam as políticas discriminatórias, denunciam a corrupção e a brutalidade do sistema que explora sistematicamente os habitantes das favelas. Condenam a ideologia dominante, descrevem a crise da modernidade e o sistema de valores da elite dirigente. O movimento hip-hop vem provocando mudanças significativas no sistema cultural, artístico e político-social (RAMOS, 2006, p. 07).</blockquote>A intensificação do movimento Hip-Hop na década de 1990, e seu desdobramento nos últimos anos em um movimento artístico-cultural ainda maior – com a proliferação de saraus literários e coletivos de arte – podem ser pensados, portanto, como resposta das classes populares às crescentes contradições do sistema capitalista, no que tange, principalmente, as condições de vida dos pobres urbanos.<br />
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A década de 1990 no Brasil, como cediço, foi caracterizada por uma enorme crise de desemprego e o abandono do Estado em diversos serviços públicos. A adoção de políticas econômicas neoliberais se intensificou e proporcionou a parcelas significativas da população precárias condições existenciais. No caso particular da periferia sul de São Paulo, as repercussões foram ainda maiores. Estimativas indicam que nesse período praticamente metade da população encontrava-se desempregada, e as consequências, nesse sentido, foram inevitáveis: aumento exponencial da pobreza, da miséria<ref>Milton Santos distingue pobreza de miséria no exame da produção do presente e futuro. Para ele: “A miséria acaba por ser a privação total, como um aniquilamento, ou quase, da pessoa. A pobreza é uma situação de carência, mas também de luta, um estado vivo, de vida ativa, em que a tomada de consciência é possível. Miseráveis são os que se confessam derrotados. Mas os pobres não se entregam. Eles descobrem cada dia formas inéditas de trabalho e de luta. Assim, eles enfrentam e buscam remédio para suas dificuldades. Nessa condição de alerta permanente, não tem repouso intelectual. A memória é sua inimiga. A herança do passado é temperada pelo sentimento de urgência, essa consciência do novo que é, também, um motor do conhecimento” (SANTOS, 2009 a, p. 132). </ref> e da violência urbana. <br />
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Para se ter uma ideia, o bairro do Jardim Ângela foi considerado em 1996 pela ONU o distrito mais violento do mundo (FILHO, 2006). Foi nesse período que o Jardim Ângela, juntamente com os bairros vizinhos Jardim São Luis e Capão Redondo, ficaram conhecidos pela mídia hegemônica como o triângulo da morte, dado os altos índices de homicídios. <br />
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Hoje a situação se difere. Ainda que a região mantenha altos índices de violência, quando comparada a outras localidades, notamos um grande avanço na diminuição nas taxas de homicídios. De acordo com as pesquisas do SEADE<ref>Sistema Estadual de Análise de Dados de São Paulo. </ref>, as taxas nessa região caíram mais de 45% entre os anos 2000 e 2004, de, aproximadamente, 118 para 64 homicídios por cem mil habitantes (FILHO, 2006). Essa queda não pode ser explicada somente pela intervenção do poder público em aumentar e qualificar o sistema de policiamento e os investimentos em infraestrutura no local. A mobilização da população foi, sem dúvida, a base desse processo (EMBÓN, 2009; FILHO 2006). A Caminhada pela Vida e pela Paz, realizada em 1996 e liderada pelo padre Jaime Crowe, que reuniu mais de cinco mil pessoas ao longo do trajeto entre a igreja e o cemitério da região, e que logo se converteu no Fórum de Defesa da Vida, existente até hoje, se apresenta apenas como um exemplo, dentre tantos outros, da importância das ações coletivas no processo de mobilização popular nessa região.<br />
<br />
Percebemos, portanto, que diante dessa necessidade de mudança, dessa urgência de transformação nas condições de vida dos moradores desse lugar, é que as classes populares procuraram com maior intensidade articular forças e organizar novas formas de se reproduzir a vida. Nesse sentido, as reflexões de Milton Santos sobre as populações empobrecidas nos parecem reveladoras:<blockquote>Crescentemente reunidas em cidades, cada vez mais numerosas e maiores, e experimentando a situação de vizinhança (que, segundo Sartre, é reveladora), essas pessoas não se subordinam de forma permanente a racionalidade hegemônica e, por isso, com freqüência podem se entregar a manifestações que são a contraface do pragmatismo. Assim, junto à busca da sobrevivência, vemos produzirse, na base da sociedade, um pragmatismo mesclado com a emoção, a partir dos lugares e das pessoas juntos. Esse é, também, um modo de insurreição em relação à globalização, com a descoberta de que, a despeito de sermos o que somos, podemos desejar ser outra coisa (SANTOS, 2009 a, p. 114).</blockquote>Essa busca incessante, dia a dia, pela sobrevivência, através de novas formas de se produzir a vida, gera, segundo o autor, a construção e efetivação de uma política territorializada, visto que esta encontra no lugar e nos sistemas técnicos ali disponíveis, as bases para o seu desenvolvimento. Nas palavras do autor: <blockquote>É dessa forma que, na convivência com a necessidade e com o outro, se elabora uma política, a política dos de baixo, constituída a partir das suas visões do mundo e dos lugares. Trata-se de uma política de novo tipo, que nada tem que ver com a política institucional. Esta última se funda na ideologia do crescimento, da globalização etc. e é conduzida pelo cálculo dos partidos e das empresas. A política dos pobres é baseada no cotidiano vivido por todos, pobres e não pobres, e é alimentada pela simples necessidade de continuar existindo (SANTOS, 2009 a, p. 132). </blockquote>Como exemplo de política territorializada, marcada pela experiência da escassez e pela tomada de consciência pelos pobres a partir do lugar, citamos, no campo da produção artístico-cultural, a organização da Semana de Arte Moderna da Periferia: Antropofagia Periférica, realizada em novembro de 2007 e referendada por muitos artistas como um marco da cultura política produzida na periferia sul de São Paulo nos últimos anos.<br />
<br />
=== Acesse ao artigo na íntegra ===<br />
<br />
=== Referências ===<br />
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<br />
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RAMOS, Célia Maria Antonacci. '''Hip Hop:''' protagonista de novas políticas midiáticas. Anais: 15º Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas - ANPAP. Salvador: UNIFACS/ANPAP, 2006.<br />
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______. '''O Espaço do Cidadão'''. 7ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.<br />
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<br />
VAZ, Sérgio. '''Cooperifa:''' antropofagia periférica. Coleção Tramas Urbanas. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2008.<br />
<br />
== Notas ==<br />
<references group="Notas" /><br />
<br />
== Referências ==<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Arte]]<br />
[[Categoria:Movimentos sociais]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Chacina_de_Nova_Bras%C3%ADlia_-_18_de_outubro_de_1994&diff=20532Chacina de Nova Brasília - 18 de outubro de 19942023-07-26T17:28:09Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>[[Arquivo:Chacina Nova Brasília 1994.png|centro|miniaturadaimagem]]<br />
<br />
<br />
A primeira Chacina de Nova Brasília aconteceu no dia 18 de outubro de 1994 e, juntamente com a segunda Chacina de Nova Brasília, ocorrida em 1995, culminaram na primeira condenação do Estado Brasileiro na OEA. Somadas, as duas chacinas causaram a morte de 26 pessoas. <br />
Este trabalho é uma parceria entre os grupos GENI/UFF e CASA (IESP-UERJ) com o Dicionário de Favelas Marielle Franco.<br />
<br />
== Histórico ==<br />
Em 18 de outubro de 1994, as polícias Civil e Militar do Rio realizaram uma incursão na favela Nova Brasília, no [[Complexo do Alemão]], com auxílio de helicóptero. Na ação, 13 jovens foram executados. De acordo com as denúncias formuladas, três mulheres, duas delas adolescentes na época, teriam sido torturadas e violentadas sexualmente.<br />
<br />
Após a repercussão da operação, uma comissão especial de sindicância instaurada para fornecer dados adicionais ao inquérito policial apurou indícios de execuções sumárias dos jovens e recolheu provas da violência sexual e tortura das adolescentes.<br />
<br />
=== As vítimas executadas ===<br />
Em sua maioria, jovens negros foram mortos na Chacina: <br />
<br />
* Alberto dos Santos Ramos, 22 anos<br />
* André Luiz Neri da Silva, 17 anos<br />
* Macmiller Faria Neves, 17 anos<br />
* Fábio Henrique Fernandes, 19 anos<br />
* Robson Genuíno dos Santos, 30 anos<br />
* Adriano Silva Donato, 18 anos<br />
* Evandro de Oliveira, 22 anos<br />
* Alex Vianna dos Santos, 17 anos<br />
* Alan Kardec Silva de Oliveira, 14 anos<br />
* Sérgio Mendes Oliveira, 20 anos<br />
* Ranílson José de Souza, 21 anos<br />
* Clemilson dos Santos Moura, 19 anos<br />
* Alexander Batista de Souza, 19 anos<br />
<br />
=== Tramitação no Brasil ===<br />
<blockquote>Informações retiradas do site Réu Brasil. Acesse o original [https://reubrasil.jor.br/caso-favela-nova-brasilia-versus-brasil/ clicando aqui]. </blockquote>Em 18 de outubro de 1994, mesmo dia da chacina, a Divisão de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que participou da incursão policial, abriu inquérito sobre o ocorrido. As 13 mortes foram registradas como “resistência com morte dos opositores” e foram incluídas no inquérito uma lista de armas e drogas, além do depoimento de seis policiais da DRE, que participaram da operação. De acordo com eles, os corpos dos "opositores" haviam sido retirados do lugar da morte com a intenção de salvar-lhes a vida.<br />
<br />
Em 22 de novembro, o Secretário de Estado da Polícia Civil solicitou que os autos do inquérito fossem enviados à Delegacia Especial de Tortura e Abuso de Autoridade (Detaa), que seria responsável por continuar as investigações, demanda que não foi cumprida por vários anos.<br />
<br />
Alguns dias antes disso, em 10 de novembro, a Divisão de Assuntos Internos da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (Divai) iniciou um inquérito administrativo, como consequência de uma carta da jornalista Fernanda Portugal, que havia realizado uma investigação de campo um dia após a chacina. No documento, a repórter relatou ter visitado duas casas abandonadas com sinais de que pessoas haviam sido gravemente feridas ou mortas ali, e relatou sua conversa com duas adolescentes que teriam testemunhado ações violentas da polícia, inclusive uma das vítimas de abuso sexual. Essas duas casas só foram examinadas por peritos um mês depois, sem resultados conclusivos, já que os lugares não haviam sido preservados.<br />
<br />
Paralelamente aos inquéritos da DRE e Divai, em 19 de outubro, o então governador do Rio, Nilo Batista (PDT), criou uma Comissão Especial de Sindicância. O grupo contava com o Secretário Estadual de Justiça, a Corregedora Geral da Polícia Civil, o Diretor-Geral do Departamento Geral de Polícia Especializada e dois representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).<br />
<br />
Em 12 de novembro, a Comissão Especial recebeu os depoimentos de L.R.J., C.S.S. e J.F.C., as três vítimas de violência sexual [ver contexto]. Dois dias depois, quase um mês após os fatos, elas foram submetidas a exames no Instituto Médico Legal (IML) para verificar suas lesões físicas ou sexuais. Esses exames não tiveram resultados conclusivos em virtude do tempo transcorrido. No dia 18, as três participaram de um processo de identificação dos policiais militares e civis envolvidos na chacina e nos abusos, reconhecendo ou apontando semelhanças entre oito agentes e aqueles que haviam participado dos fatos.<br />
<br />
A Comissão Especial emitiu seu relatório final no primeiro dia de dezembro, afirmando que existiam fortes indícios de que pelo menos alguns dos mortos haviam sido executados sumariamente e que haviam ocorrido abusos sexuais contra crianças. Com base nisso, o Secretário Estadual de Justiça solicitou que membros do Ministério Público (MP-RJ) acompanhassem o inquérito, o que foi atendido com a designação de dois promotores.<br />
<br />
O relatório da Comissão Especial de Sindicância fez com que o chefe da Detaa solicitasse a instauração de novo inquérito policial e administrativo, iniciado em 5 de dezembro. Nas semanas seguintes, nove policiais da DRE depuseram perante o delegado encarregado da investigação, sendo que sete reconheceram participação na operação. Os agentes, porém, afirmaram não ter participado ou testemunhado de nenhum ato de tortura ou de abuso.<br />
<br />
Entre 1995 e 2002, não houve nenhuma atuação processual relevante em nenhum dos dois inquéritos policiais que investigavam o caso. Em agosto de 2002, o inquérito iniciado pela Detaa passou para as mãos da Corregedoria Interna da Polícia Civil (Coinpol). Em dezembro do ano seguinte, a investigação que estava a cargo da DRE também passou para o controle da Coinpol. Nos anos subsequentes, foram feitas uma série de solicitações de adiamento do prazo para o cumprimento de diligências.<br />
<br />
Em 2007, os inquéritos foram unificados e, entre fevereiro de 2008 e agosto de 2009, foram realizadas algumas diligências, bem como solicitadas uma série de adiamentos. Em 14 de agosto, o responsável pela investigação emitiu relatório final, apontando extinção da ação penal por conta de prescrição por decurso de prazo. Com base nisso, o Ministério Público solicitou o arquivamento do caso “em razão da inevitável extinção de punibilidade pela prescrição”, pedido acolhido pelo juiz responsável em 3 de novembro de 2009.<br />
<br />
Mais de três anos depois, em março de 2013, o Subprocurador-Geral de Justiça do Estado solicitou o desarquivamento do inquérito sobre a chacina, por conta do relatório emitido pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 2011. No documento, o Subprocurador-Geral destacou que o inquérito policial original se referia a crimes de “abuso de autoridade, agressões, torturas, bem como outras infrações penais”, e não aos homicídios efetivamente ocorridos naquela data. Em contrapartida, ele ressaltou que os delitos de violência sexual estavam prescritos e não poderiam ser investigados novamente.<br />
<br />
Em 16 de maio de 2013, o MP-RJ, por intermédio do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), iniciou uma ação penal (nº 2009.001.272489-7) contra seis policiais envolvidos na operação, pelo homicídio das 13 vítimas. A denúncia foi aceita pela 1ª Vara Criminal poucos dias depois e, nos meses seguintes, foram ordenadas a realização de uma série de diligências, inclusive na tentativa de localizar J.F.C, C.S.S. e L.R.J., para que pudessem testemunhar. Em 18 de dezembro de 2013, foi realizada uma audiência de instrução e julgamento com a presença dos seis acusados.<br />
<br />
Em fevereiro de 2014, a 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negou habeas corpus movido por um dos acusados, que tentava o trancamento da ação penal.<br />
<br />
Até a sentença da Corte, as investigações ainda não haviam esclarecido as mortes e ninguém havia sido punido pelos fatos denunciados. Com relação à violência sexual contra C.SS., L.R.J e L.F.C., as autoridades públicas sequer chegaram a realizar uma investigação sobre os fatos.<br />
<br />
=== A sentença ===<br />
Leia aqui a sentença na íntegra:<br />
<br />
== Ver também==<br />
*[[Chacinas no Rio de Janeiro]]<br />
*[[Chacinas no Rio de Janeiro entre 2019 e 2022]]<br />
<br />
[[Category:Segurança Pública]] [[Category:Direitos Humanos]] [[Category:Extermínio]] [[Category:Chacinas]] [[Category:Temática - Violência]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Chacina_do_Morro_do_Engenho_-_23_de_junho_de_2011&diff=20530Chacina do Morro do Engenho - 23 de junho de 20112023-07-26T17:24:30Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>Em junho de 2011, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) promoveu uma chacina no Morro do Engenho, no bairro do Engenho da Rainha, no subúrbio do Rio de Janeiro. Com o objetivo de checar denúncias de tráfico de drogas, a operação resultou em oito pessoas mortas.<br />
Autoria: Este trabalho é uma pareceria entre os grupos GENI/UFF, Radar Saúde Favela e CASA (IESP/UERJ) juntamente com o Dicionário de Favelas Marielle Franco.<br />
[[Arquivo:Enegenho da Rainha.jpg|miniaturadaimagem|Engenho da Rainha, Rio de Janeiro.]]<br />
<br />
== A operação ==<br />
Na madrugada de 23 de junho de 2011, uma operação policial deixou oito pessoas mortas, num confronto entre policiais do (Bope) e traficantes no Morro do Engenho. As informações foram confirmadas pelo próprio batalhão e pela Polícia Militar.<br />
<br />
De acordo com a assessoria de imprensa do batalhão, a ação teve início à 0 hora de quinta-feira. Quatro equipes do Bope entraram na comunidade por vários locais, para verificar denúncias de tráfico de drogas. Ainda segundo a assessoria, pelo menos inicialmente, a operação não tinha o objetivo específico de capturar traficantes que fugiram do Morro da Mangueira, também na zona norte, ocupado no domingo para a instalação de uma [[UPP- A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro (resenha)|Unidade de Polícia Pacificadora (UPP)]].<br />
<br />
Foram apreendidas quantidades de cocaína, crack e óxi. Os militares também apreenderam dois fuzis, cinco pistolas, duas granadas e 239 munições. O material foi encaminhado à 24º DP (Piedade). A ação, de acordo com o Bope, terminou às 5 horas desta quinta-feira.<br />
<br />
== Notícias na mídia ==<br />
<br />
* [https://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/06/acao-do-bope-no-morro-do-engenho-acaba-com-8-mortes.html Ação do Bope no morro do Engenho acaba com 8 mortes]<br />
* [https://dialogospoliticos.wordpress.com/2011/06/23/operacao-do-bope-no-morro-do-engenho-termina-com-oito-mortos/ Operação do Bope no morro do Engenho termina com oito mortos]<br />
* [https://www.douradosnews.com.br/noticias/brasil/operacao-policial-mata-oito-no-rio-de-janeiro/14470/ Operação policial mata oito no Rio de Janeiro]<br />
* [https://www.otempo.com.br/brasil/apos-morte-de-oito-a-pm-do-rio-entra-em-alerta-geral-1.347878 Após morte de oito,a PM do Rio entra em alerta geral]<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Chacinas no Rio de Janeiro]]<br />
* [[Chacinas no Rio de Janeiro entre 2019 e 2022]]<br />
* [[Chacinas policiais (relatório)]]<br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
[[Categoria:Chacinas]]<br />
[[Categoria:Morro do Engenho]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Temática - Violência]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=F%C3%B3rum_Grita_Baixada_e_a_luta_por_justi%C3%A7a_racial_na_Baixada_Fluminense&diff=20438Fórum Grita Baixada e a luta por justiça racial na Baixada Fluminense2023-07-20T13:06:28Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div> Autoria: Douglas Almeida<br />
A Baixada Fluminense, historicamente, vive processos de violência, desde os grupos de extermínio à atuação de facções criminosas do tráfico de drogas e das milícias na região. Ao longo da história, a população conviveu com diversos problemas estruturais, para além da violência dada as escolhas do Estado na política de segurança pública e as desigualdades que marcam o território, sobretudo quando examinamos e comparamos a Baixada com a cidade do Rio de Janeiro. Diante disso, movimentos, coletivos e organizações constroem lutas urbanas nessa região em defesa dos direitos e no combate às desigualdades, em destaque o [[Fórum Grita Baixada]] <ref name=":0">FÓRUM GRITA BAIXADA; CASA FLUMINENSE. '''Carta da Baixada'''. 2015. Disponível em <nowiki>https://agendario.org/documentos/carta-da-baixada/</nowiki> Acessado em 01 fev 2020.</ref>. Este verbete é baseado na tese de doutorado de Douglas Almeida de título "Como falar de violência na periferia? O Fórum Grita Baixada e os discursos sobre a segurança pública na Baixada Fluminense".<ref>ALMEIDA, Douglas Monteiro de. '''Como falar de violência na periferia? O Fórum Grita Baixada e os discursos sobre a segurança pública na Baixada Fluminense''' / Douglas Monteiro de Almeida. – 2022. Orientadora: Palloma Valle Menezes. Tese de Doutorado em Sociologia - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos Sociais e Políticos.</ref> <br />
<br />
O Fórum Grita Baixada , há 10 anos, constitui-se com um fórum de lideranças sociais, movimentos, pastorais e organizações que reivindicam políticas públicas para a Baixada Fluminense com foco na redução dos homicídios na região, além de construir caminhos para uma cultura de valorização da vida na região. O FGB busca a construção de uma narrativa de segurança pública com cidadania, defesa dos direitos humanos e direito à memória e justiça racial.<br />
<br />
O Fórum nasceu enquanto movimento social e ao longo dos anos passou por “metamorfoses”, com mudanças nos seus discursos e nas formas de atuação. O presente verbete busca identificar algumas das mudanças que ocorreram no modo de se debater a violência na região, tendo em vista as transformações que ocorreram nas próprias dinâmicas da violência, na política e no perfil das organizações da sociedade civil da Baixada Fluminense no início do século XXI.<br />
<br />
== A criação do movimento ==<br />
<br />
A história de luta de um movimento da sociedade civil pode ser contada sob diferentes ângulos, dependendo de quem conta, dos interlocutores ouvidos por aquele que decide (re)construir a narrativa, do período histórico no qual tal (re)construção ocorre e ainda da forma como a narrativa é tecida. No presente verbete faço uma (re)construção da história de um movimento social, a partir de uma pesquisa militante, que envolveu observação participante e análise de materiais e publicações produzidas pelo próprio movimento. Trata-se de um esforço de analisar as “metamorfoses de um movimento social”<ref>BRITES, Jurema; FONSECA, Cláudia. '''As metamorfoses de um movimento social: Mães de vítimas de violência no Brasil'''. Análise Social, v. 48, n. 209, 2013.</ref>: o Fórum Grita Baixada (FGB). O FGB constitui-se com um fórum de lideranças sociais, movimentos, pastorais e organizações que reivindicam políticas públicas para a Baixada Fluminense com foco na redução dos homicídios na região, além de construir caminhos para uma cultura de valorização da vida na região. O FGB busca a construção de uma narrativa de segurança pública com cidadania, defesa dos direitos humanos e direito à memória e justiça racial. <br />
<br />
Como dito mais acima, o Fórum Grita Baixada nasceu como um movimento social. Para Gohn (2004, p. 141) <ref>GOHN, Maria da Glória Marcondes. '''Sociedade civil no Brasil: movimentos sociais e ONGs.''' Nomadas (col), n. 20, p. 140-150, 2004.</ref>, os movimentos sociais são “ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas”. A autora afirma, ainda, que esses movimentos “possuem uma identidade, têm um opositor e articulam ou se fundamentam num projeto de vida e de sociedade” (GOHN, 2004, p. 145)<ref>GOHN, Maria da Glória Marcondes. '''Sociedade civil no Brasil: movimentos sociais e ONGs.''' Nomadas (col), n. 20, p. 140-150, 2004.</ref>. Assim o FGB entra neste conceito pela identidade territorial, pela oposição à violência e por levantar uma bandeira da segurança pública com cidadania, mesmo que isso fosse algo a ser construído ao longo de sua trajetória de atuação.<br />
<br />
Sobre a história da fundação do Fórum Grita Baixada, dois momentos históricos são colocados como marcos desse processo: a [[Chacina da Baixada Fluminense, 31 de março de 2005|Chacina da Baixada]], em 2005 e a criação das [[Unidades de Polícia Pacificadora]] (UPP), em 2008. O contexto de (in)segurança na Baixada, é o ponto de partida para compreender como um grupo de organizações e pessoas lideradas por pastorais da Igreja Católica, igrejas evangélicas e o Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu decidiram em 2012 realizar alguns encontros para pensar alternativas para a superação da violência urbana na região. Naquele momento, tal reação surgiu porque uma parcela da população estava muito assustada com uma “onda de violência” na Baixada que era sentida a partir do alto índice de homicídios, o grande número de desaparecimentos forçados e o crescimento do número de roubos e furtos. Tal onda ganhava ainda mais força com rumores sobre a suposta migração da capital para Baixada de pessoas ligadas às facções criminosas a partir da expansão das UPPs (RODRIGUES, 2018)<ref name=":1">RODRIGUES, André (org). '''Homicídios na Baixada Fluminense''': Estado, Mercado, Criminalidade e Poder. Comunicações do ISER, n. 71, ano 37, 2018. Disponível em <nowiki>http://www.iser.org.br/site/wp-content/uploads/2013/12/2018-08-06-publicacao71-iser-WEB</nowiki>. pdf Acessado em 15 jun 2020.</ref>.<br />
<br />
No primeiro momento, o grupo se reuniu para ouvir as demandas de pessoas indignadas com esse crescente contexto de violência. Em 2012 houve um encontro com diversas instituições e movimentos da Baixada com o vice-governador na época, Luiz Fernando Pezão, e depois a elaboração de um documento às autoridades. No entanto, a “onda de violência” continuou com as chacinas da Chatuba e Japeri ainda naquele ano. O grupo continuou atuando e solicitou uma audiência pública com a presença do secretário de segurança. Mariano Beltrame, secretário na época, que foi até Nova Iguaçu. Ao ouvir as demandas da população ele e uma de suas intervenções disse que era “a primeira vez que a Baixada grita tão forte. O movimento era batizado: Fórum Grita Baixada” (FÓRUM GRITA BAIXADA, 2016).<br />
<br />
== Uma história de resistência ==<br />
Na noite de 31 de março de 2005 ocorreu a Chacina da Baixada Fluminense, como ficou conhecida essa que é considerada a maior chacina da região. A Baixada historicamente tem muitos casos registrados de morte com três ou mais pessoas, característica essa que é usada por muitos especialistas e policiais da Divisão de Homicídios para tipificar o crime de chacina. É comum ouvir em jornais, revistas e nas redes sociais a palavra chacina, mas existem poucos estudos sobre o assunto, que na maioria das vezes, como neste trabalho, aparecem de forma secundária para falar de outras situações que as envolvem, como violência policial, tráfico de drogas, corrupção e grupos de extermínio<ref>SILVA, L. H. P. da. '''Hildebrando de Goes e sua leitura sobre História da Baixada Fluminense'''. ''Ágora'', ''21''(1), 106-118, 2019.</ref>. <br />
<br />
No caso da chacina da Baixada, os executores eram policiais militares. Em menos de duas horas eles assassinaram 29 pessoas, nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados, deslocando-se de carro. A motivação dos policiais teria sido o descontentamento dos policiais com o comandante do 15° Batalhão de Polícia Militar, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que havia prendido 60 policiais por desvio de conduta. Os atiradores executaram adolescentes, jovens e adultos, homens e mulheres, estudantes, travestis, comerciantes, biscateiro, padeiro, funcionário público, pessoas reunidas em um bar, em frente ao lava-jato, no portão de casa, pontos de ônibus e nas ruas. A repercussão da maior chacina registrada oficialmente no estado do Rio de Janeiro foi nacional e internacional. Entre os envolvidos no crime, 11 policiais foram denunciados, mas apenas quatro foram condenados<ref name=":0" />. <br />
<br />
Um ano antes da chacina da Baixada, uma análise do Laboratório de Análise da Violência (LAV), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), apontava o impacto da violência no Rio de Janeiro e como a política de segurança pública no estado havia sido implementada nos 25 anos anteriores. O estudo apontou, dentre outras coisas, que as políticas de segurança oscilaram entre dois pólos antagônicos, um onde as políticas deveriam prezar o 92 cumprimento da lei, sem abusos, capacitando a polícia e combatendo a corrupção dentro dela, e outro onde o uso há privilégio do uso da força no combate ao crime, aceitando excessos da força policial e já qualificando os direitos humanos como “direito dos bandidos”. Na verdade, não houve uma implementação completa de uma segurança pública democrática, pois a tentativa esbarrava nas ações contra setores corruptos da instituição <ref>CANO, Ignacio et al. '''O impacto da violência no Rio de Janeiro'''. Rio de Janeiro: Laboratório de Análise Violência, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2004.</ref>. Em uma tentativa de implementar o combate à corrupção no ano posterior a essa publicação, alguns policiais cometem uma chacina em represália ao comandante do Batalhão, mostrando o quão profundo e complexo é o modelo de segurança pública do estado. <br />
<br />
O exemplo da Chacina da Baixada, para introduzir a história recente de luta na região, é uma forma de exemplificar um momento em que atores da sociedade civil se reuniram em prol de determinado tema e desenvolveram uma atuação em resposta ao que ocorreu na noite do dia 31 de março de 2005. Como visto no capítulo anterior, muitas bandeiras de luta na Baixada surgiram a partir da influência de setores da Igreja Católica, em alguns casos envolvendo a participação direta do clero. Na chacina da Baixada, o pároco Paulo, padre responsável pela paróquia localizada na Posse, bairro de Nova Iguaçu que teve o maior número de vítimas, telefonou para o bispo Dom Luciano depois de ter sido avisado sobre a chacina. O bispo da Diocese de Nova Iguaçu foi para o local e também foram o então prefeito de Nova Iguaçu, Lindbergh Farias (PT) para que houvesse celeridade na resolução do caso<ref>ASSIS, João Marcus Figueiredo. '''A Diocese de Nova Iguaçu frente à chacina da Baixada Fluminense: memória e identidade.''' HORIZONTE-Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, p. 69-84, 2008.</ref>. <br />
<br />
Diversas organizações da sociedade civil construíram um processo de mobilização frente a violência na região após a chacina, como polo de rede foi criado o Fórum Reage Baixada, que acompanhou as apurações da chacina de Nova Iguaçu e Queimados. Foi destaque também a atuação de organizações locais, como o SOS Queimados e o Centro dos Direitos Humanos de Nova Iguaçu (CDHNI), ligado à Diocese de Nova Iguaçu, que já trabalhava com o tema da violência na região. Algumas pesquisas já apontavam os problemas na Baixada, mas a segurança pública não mobilizou as organizações da sociedade civil, nem os movimentos sociais da região, com exceção do CDHNI e de líderes comunitários que participavam de reuniões nos batalhões<ref name=":2">IMPUNIDADE NA BAIXADA FLUMINENSE. 2005. Disponível em: <nowiki>http://www.dhnet.org.br/dados/relatorios/a_pdf/r_jg_rj_impunidade_baixada.pdf</nowiki> Acessado em 02 jan 2022.</ref>. <br />
<br />
As reuniões nos batalhões, principalmente os cafés da manhã, tinham pouco efeito prático. Denúncias feitas poderiam ser ouvidas por pessoas que eram ligadas a grupos criminosos ou que praticavam ações ilícitas. Mesmo assim, muitas lideranças participaram 93 desses encontros como forma de apresentar a insatisfação com a insegurança, principalmente em relação a crimes patrimoniais, a partir da abordagem do aumento da produtividade policial e da quantidade de policiais na Baixada Fluminense. Uma pauta sempre colocada por participantes desses espaços, percebido até mesmo em depoimentos posteriores à chacina da Baixada e já no início do Fórum Grita Baixada, que a vida na Zona Sul da capital vale mais do que na Baixada, porque o policiamento na região é proporcionalmente maior do que nos municípios da região. <br />
<br />
Tendo em vista a baixa efetividade dos cafés da manhã nos batalhões e da necessidade de outros interlocutores para o tema da segurança pública na Baixada, para além do CDHNI, o Fórum Reage Baixada teve um importante papel nessa nova fase de organização popular na região. Esse fórum chegou a reunir mais de 80 organizações da sociedade civil dos 13 municípios da Baixada, constituindo-se como um fórum híbrido, até então inédito, de movimentos, partidos, ONGs, acadêmicos e outros atores sociais, mas, ao longo do tempo, o fórum Reage Baixada se desfez aos poucos<ref>FREIRE, Jussara. '''Problemas públicos e mobilizações coletivas em Nova Iguaçu'''. Editora Garamond, 2019</ref>. <br />
<br />
Após a chacina, houve uma grande mobilização de instituições da capital e da Baixada, além da cobertura da mídia sobre os fatos. Esse processo impulsionou inicialmente a criação do “Fórum Baixada contra a Violência”, que depois recebeu o nome de “Fórum Reage Baixada” e posteriormente de “Fórum de Entidades Reage Baixada”, o FERB. Vale notar que, com essa última mudança de nome, a ‘violência’ desapareceu do título, o que indica o deslocamento de concepções associadas ao Fórum que ocorreu a partir de então<ref name=":3">LANDIM, Leilah; GUARIENTO, Suellen. 2010. '''Violência e ação coletiva na Baixada Fluminense'''. Paper apresentado no 34º Encontro Anual da ANPOCS. ST31S1; Mimeo.</ref>. A pauta da segurança pública é sempre considerada uma pauta de risco quando debatida em territórios com altos índices de violência, sobretudo, com as interferência e relação direta do Estado. <br />
<br />
Landim e Guariento (2010)<ref name=":3" /> ressaltam que a mudança de nome é um esvaziamento da centralidade do foco na violência como tentativa de criar uma central de organizações da Baixada Fluminense por direitos, a partir da visão de ONGs do Rio de Janeiro que faziam na época um debate pautado nas relações da violência com as desigualdades provenientes de fatores sociais e infra estruturais. Além disso, podemos adicionar aqui mais uma hipótese para 94 esse movimento: diluir o debate sobre violência pode ser uma tentativa de ter mais segurança ao discutir problemas no território, reduzindo a dificuldade de dialogar com as pessoas na Baixada a partir de um tema considerado arriscado pela população.<br />
<br />
Enquanto membro do Fórum Grita Baixada percebi diversas vezes essa dificuldade em reuniões gerais e principalmente no processo de nucleação, quando discutíamos esses temas diretamente nos territórios. Sendo assim, a dificuldade que ocorreu no período do Fórum Reage Baixada pode se assemelhar a essa dificuldade, assim como ocorreu na pesquisa realizada pelo ISER sobre homicídios na Baixada Fluminense em 2017, onde entrevistas foram realizadas com ativistas, lideranças e moradores. Como aponta Rodrigues et al (2018)<ref name=":1" />: “São comuns as falas que tratam dos homicídios dolosos como algo que acontece quase todo dia ou semana. Essas falas indicam que a banalidade é o operador que resolve o paradoxo da frequência exacerbada conjugada com baixa visibilidade. De tão recorrentes e cotidianas essas mortes deixam de chamar a atenção, deixam de ser investigadas, problematizadas, evitadas” (Rodrigues et al, 2018, p. 42)<ref name=":1" />. <br />
<br />
A dificuldade de falar sobre a violência na região não é algo restrito a população, mas algo presente nas lutas sociais da Baixada Fluminense. A história dos movimentos sociais durante o período da ditadura, em tempos que os homicídios eram bem altos na Baixada Fluminense, com a atuação dos grupos de extermínio, as lideranças sociais se organizavam em associações de moradores, em lutas por melhorias nos bairros e nos movimentos ligados à Igreja Católica. Nessa discussão, a violência aparecia como reflexo da situação de miséria na Baixada, colocando ela como segundo plano na discussão e a melhoria urbana como o principal debate a ser feito (SALES; FORTES, 2016)<ref>SALES, Jean Rodrigues; FORTES, Alexandre (Ed.). '''A Baixada Fluminense e a ditadura militar: movimentos sociais, repressão e poder local'''. Editora Prismas, 2016.</ref>. <br />
<br />
De certo modo, mesmo que não tenha sido o motivo da escolha, priorizar a violência acabou sendo importante para uma cobertura da mídia que por algum tempo cobriu os desdobramentos da chacina da Baixada e o Fórum Reage Baixada era apontado, mesmo que de forma tímida, como um espaço de aglutinação de quem lutava por justiça e por melhorias no campo da segurança pública na região, sempre sendo lembrado à sua origem no pós-chacina da Baixada, em 2005. Segundo Landim e Guariento (2010)<ref name=":3" /> mesmo com a razoável cobertura da mídia sobre a chacina, o Fórum Reage Baixada, que de perto dos pesquisadores parecia dinâmico, vigoroso, participativo e novo, pouco apareceu em jornais e 95 na TV, como componente dessa história, principalmente pensando o viés da superação da violência. <br />
<br />
A atuação rendeu uma homenagem na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) em dezembro de 2007 ao Fórum de Entidade Reage Baixada. O Fórum recebeu da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania o Prêmio Dom Helder Câmara, concedido a organizações/ movimentos e pessoas que se destacaram por suas conquistas em áreas da militância social<ref name=":3" />. O Fórum tinha inspiração em movimentos que já existiam na Baixada, antes mesmo da chacina. Membro do Reage Baixada na época, o SOS Queimados, fundado em 2003, tinha o objetivo de apresentar propostas ao poder público, sobre os diversos problemas enfrentados pela população de Queimados. Participavam desse movimento professores, profissionais liberais, articuladores de outros movimentos sociais, políticos, trabalhadores informais, estudantes e outros membros da sociedade civil queimadense. Inclusive, a estratégia de atuação do SOS Queimados parecia muito com a estratégia do Reage Baixada e posteriormente, da primeira fase do Fórum Grita Baixada, sempre dialogando com a Câmara de Vereadores, chegando ao Ministério Público, Legislativos e Executivos Estadual/Federal e a mobilização de lideranças territoriais, além da articulação com ONGs e igrejas, sobretudo, a Igreja Católica e algumas igrejas evangélicas. Com a Chacina da Baixada, em 2005, “outras e específicas propostas foram criadas, juntamente com familiares das vítimas e outras Ongs, de forma ampliada, aos governos estadual e federal”<ref name=":2" />. <br />
<br />
O SOS Queimados, em publicação de autores do Laboratório de Violência da UERJ, lançou um conjunto de propostas para a superação da violência na Baixada Fluminense, no relatório Impunidade na Baixada Fluminense. Essas propostas dialogam com as propostas apresentadas cerca de 10 anos depois na Carta da Baixada e no relatório do Fórum Grita Baixada, e em publicações do FGB e da Casa 96 Fluminense, para assim perceber se houve modificações no discurso desse campo da sociedade civil no debate sobre violência na região. Tanto o Fórum Reage Baixada quanto o SOS Queimados encerram suas atividades em 2008.<br />
<br />
== Fases do Fórum Grita Baixada ==<br />
O Fórum Grita Baixada já teve várias composições respeitando a estrutura base do movimento previamente acordada no estatuto. Originalmente, em documento elaborado em 2013, a composição do FGB tem quatro espaços de participação: a plenária, a coordenação, a executiva e as comissões temáticas. O estatuto foi elaborado também no período em que se buscava financiamento para o FGB, sendo assim é contemplada na estrutura também uma secretaria, uma tesouraria, uma assessoria jurídica e uma assessoria de comunicação.<br />
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Quadro 1 - Fases e formas de atuação do Fórum Grita Baixada <br />
{| class="wikitable"<br />
|FGB ORIGEM<br />
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|TRANSIÇÃO<br />
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| colspan="5" |NOVOS PROJETOS<br />
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|2012-2014<br />
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|2015-2016<br />
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|2017<br />
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|2018-2019<br />
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|2020<br />
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|Debate sobre segurança pública<br />
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|Segurança Pública com Cidadania<br />
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|Segurança Pública com cidadania<br />
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|Segurança Pública com cidadania<br />
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|Segurança Pública com cidadania<br />
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|O que é segurança pública?<br />
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|Formação, Incidência e Mobilização<br />
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|Formação, Incidência e Mobilização<br />
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|Formação, Incidência e Mobilização<br />
|<br />
|Formação, Incidência e Mobilização<br />
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|Reunir diversos atores / audiências públicas<br />
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|Produção de documentos<br />
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|Produção de documentos<br />
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|Produção de documentos<br />
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|Produção de documentos<br />
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|Ênfase na defesa dos direitos humanos<br />
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|Ênfase na defesa dos direitos humanos<br />
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|Ênfase na defesa dos direitos humanos<br />
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|Trabalho nos territórios<br />
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|Trabalho nos territórios<br />
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|Trabalho nos territórios<br />
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|Articulação com a rede de mães<br />
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|Articulação com a rede de mães<br />
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|Combate ao racismo<br />
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|Combate ao racismo<br />
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|Combate ao Covid-19 e suas consequências<br />
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O quadro acima mostra algumas fases e a forma de atuação do Fórum Grita Baixada. Primeiro, a atuação do fórum é pautada numa diversidade de atores e na possibilidade da definição interna do que é segurança pública, podendo assim ter visões distintas sobre as soluções para o tema na Baixada. É considerada uma fase de transição o período em que o movimento passa a pautar uma definição de segurança com cidadania, dialogando principalmente com o direito à vida. Mesmo com a presença do Centro dos Direitos Humanos de Nova Iguaçu na coordenação do Fórum. A partir de 2016, sobretudo em 2017, a defesa dos direitos humanos precisou ser incorporada com ênfase na narrativa, para evitar os crescentes discursos de que bandido bom é bandido morto que inflama a sociedade como um todo. Após o lançamento do filme Nossos mortos têm voz, o FGB incorporou na sua discussão o acompanhamento da rede de mães e também a pauta racial, sobretudo com o projeto direito à memória e a justiça racial. Por fim, o ano de 2020 traz a peculiaridade da pandemia e olhar para outras violações que a baixada sofre principalmente em relação à segurança alimentar, além de retornar a estrutura anterior de 2017 com a saída do projeto direito à memória e a justiça racial da alçada do Fórum.<br />
<br />
Quadro 2 - Histórico da “equipe liberada” do Fórum Grita Baixada <br />
{| class="wikitable"<br />
|FGB ORIGEM<br />
|<br />
| colspan="3" |TRANSIÇÃO<br />
|<br />
| colspan="7" |NOVOS PROJETOS<br />
|-<br />
|2012 - 2014<br />
|<br />
| colspan="3" |2015-2016<br />
|<br />
|2017<br />
|<br />
| colspan="3" |2018/2019<br />
|<br />
|2020<br />
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| rowspan="7" |SECRETARIA<br />
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| rowspan="7" |SECRETARIA<br />
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| rowspan="3" |MANUTENÇÃO SITE<br />
|<br />
| rowspan="7" |COORDENADOR<br />
<br />
ARTICULADOR DE TERRITÓRIO<br />
<br />
COMUNICADOR<br />
|<br />
| rowspan="7" |COORDENADOR<br />
<br />
ARTICULADOR DE TERRITÓRIO<br />
<br />
COMUNICADOR<br />
|<br />
| rowspan="7" |EQUIPE DIREITO À MEMÓRIA E JUSTIÇA RACIAL<br />
|<br />
| rowspan="7" |COORDENADOR<br />
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ARTICULADOR DE TERRITÓRIO<br />
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COMUNICADOR<br />
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| rowspan="3" |ASSESSORIA DE IMPRENSA<br />
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O quadro acima retrata as modificações na “equipe liberada” do Fórum Grita Baixada ao longo dos anos desde a sua fundação. A partir de 2017 a equipe ganhou uma estrutura maior já a partir da concepção do novo projeto aprovado pela financiadora alemã. O projeto aprovado pela Misereor tinha três objetivos específicos, o primeiro relacionado aos núcleos, o segundo sobre a elucidação de casos de homicídio na Baixada e o terceiro sobre o impacto na incidência nas políticas públicas de segurança na região. A descrição do primeiro, segundo pesquisa em materiais recebidos por correio eletrônico durante minha participação ativa no Fórum Grita Baixada, continha a organização dos moradores de Imbariê, em Duque de Caxias, e Gogó da Ema, em Belford Roxo, em núcleos de direitos humanos. O segundo objetivo descrevia o aumento no número de investigações de homicídios na Baixada Fluminense, e a necessidade de investir nos processos de responsabilização dos culpados, em parceria com órgãos do Poder Judiciário e entidades que atuam no campo do atendimento psicológico e de defesa dos direitos humanos. Por último, o terceiro apontava para o aumento no número de incidências do Fórum Grita Baixada nos processos de construção das políticas públicas de direitos humanos e segurança da população, a partir da articulação do mesmo com entidades nacionais e internacionais.<br />
<br />
== As atividades do Fórum ==<br />
De 2012 a 2020, o FGB realizou ou participou de centenas de atividades, desde ações promovidas na carteira de projetos ou estimuladas pelos participantes ativos do fórum. No quadro vemos um perfil parecido de ações entre 2012 e 2015, tendo os anos de 2015 e 2016 como transição para um novo momento do movimento social. Em 2012, 2013 e 2014, o fórum se dedicou em promover encontros, caminhadas, ser um espaço de discussão, é definido originalmente como um movimento social, que possuía disputas internas sobre o discurso a ser feito sobre a segurança pública. Mesmo majoritariamente composto por pessoas progressistas, existiam disputas mais à esquerda, como a criação de espaços de denúncia, e mais à direita, como a defesa de invasões e confrontos como método eficaz de enfrentamento ao tráfico. Nesses anos, os principais parceiros do fórum eram internos à Diocese de Nova Iguaçu, com poucas exceções como o Viva Rio e os conselhos comunitário e de segurança de Nova Iguaçu. Neste período, também foi oficializado o primeiro projeto da Misereor.<br />
<br />
Em 2015 e 2016, é possível observar um processo de transição para uma fase de mais reconhecimento, o que posteriormente possibilitou ao fórum aprofundar o debate sobre violência na Baixada. Mas, nesse período, houve um misto de atividades que focaram na violência e que falavam sobre outros assuntos. O curso de segurança pública com cidadania marcou a entrada de vez do termo segurança cidadã no vocabulário do fórum, demarcando um primeiro posicionamento sobre a postura do grupo frente às discussões da violência. A Carta da Baixada trouxe propostas construídas por várias mãos, o que não possibilitou uma identidade mais marcante. Em 2016, o relatório “Um Brasil dentro do Brasil pede socorro”, mesmo trazendo a desigualdade e os problemas da Baixada para além da violência, demarcou a defesa dos direitos humanos como algo central. Neste mesmo ano, as ações contra o impeachment e o revezamento da tocha da vergonha mostraram o fórum ainda preocupado em debater temas para além da segurança, dedicando inclusive boa parte do tempo para isso.<br />
<br />
Ao considerar o período entre 2017 e 2019, nestes anos houve a renovação do projeto Misereor, com um foco maior no debate direto de violações de direitos humanos na Baixada. Inicialmente, os núcleos que eram para ser "de direitos humanos" para encaminhar denúncias, se tornaram espaços de diálogo sobre a violência com outras ações como pré-vestibular, debate sobre mobilidade urbana, ações pró melhoramento no bairro, dentre outras coisas. Resumindo, a primeira iniciativa ainda enfrentava o medo de discutir a violência na Baixada, as ações dos núcleos não caminhavam para o debate sobre a violência na região. Além do fator medo, falar sobre outros temas também sempre foi uma estratégia de mobilização do Fórum Grita Baixada. É muito mais fácil mobilizar pessoas em um pré-vestibular do que em uma roda sobre as invasões no Gogó da Ema; ou para falar da qualidade do trem em Imbariê do que do histórico dos grupos de extermínio em Duque de Caxias. A metodologia das cartografias sociais ajudou a discutir esses problemas, incluindo a violência. A dificuldade neste processo é que ao focar em outras ações, a tendência era perder a identidade do grupo local com o FGB.<br />
<br />
Quadro 3 - Resumo das principais atividade, parcerias e financiamento do FGB<br />
{| class="wikitable"<br />
|ANO<br />
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|PRINCIPAIS ATIVIDADES<br />
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|PRINCIPAIS PARCERIAS INSTITUCIONAIS<br />
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|FINANCIAMENTO<br />
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| rowspan="3" |2012<br />
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|1. Fundação<br />
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| rowspan="3" |CDH e Diocese de Nova Iguaçu<br />
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| rowspan="3" |Sem financiamento / apoio do CDH e da Diocese de Nova Iguaçu<br />
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| rowspan="2" |2. Audiência Pública<br />
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| rowspan="3" |2013<br />
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|1. Formações<br />
|<br />
| rowspan="3" |CDH, Diocese de Nova Iguaçu, Viva Rio, Conselhos de Segurança e Defensoria Pública<br />
|<br />
| rowspan="3" |Sem financiamento / apoio do CDH e da Diocese de Nova Iguaçu<br />
|-<br />
|<br />
|2. Reuniões<br />
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|3. Estruturação da Coordenação<br />
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| rowspan="3" |2014<br />
|<br />
|1. Reuniões<br />
|<br />
| rowspan="3" |CDH, Diocese de Nova Iguaçu, movimentos e pastorais da Baixada<br />
|<br />
| rowspan="3" |Misereor<br />
|-<br />
|<br />
|2. Caminhadas pela Paz<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|3. Eleições 2014<br />
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| rowspan="4" |2015<br />
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|1. Curso de Segurança Pública e Cidadã<br />
|<br />
| rowspan="4" |CDH, Casa Fluminense, movimentos e pastorais da Baixada<br />
|<br />
| rowspan="4" |Misereor, crowdfunding e Casa Fluminense<br />
|-<br />
|<br />
|2. Carta da Baixada<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
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|3. Reuniões e atos públicos<br />
|<br />
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|4. Assembleia do FGB<br />
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| rowspan="3" |2016<br />
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|1. Ato contra o impeachment da Dilma<br />
|<br />
| rowspan="3" |CDH, movimentos e partidos de esquerda da Baixada<br />
|<br />
| rowspan="3" |Misereor, contribuição dos grupos envolvidos nas ações e CDH<br />
|-<br />
|<br />
|2. Revezamento da Tocha da Vergonha<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|3. Relatório "Um Brasil dentro do Brasil..."<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
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| rowspan="5" |2017<br />
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|1. Coordenação do projeto e assembleia<br />
|<br />
| rowspan="5" |CDH, movimentos da Baixada, Casa Fluminense<br />
|<br />
| rowspan="5" |Misereor<br />
|-<br />
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|2. Criação dos núcleos<br />
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|3. Semana da Baixada<br />
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|4. FIVV<br />
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|5. Seminários (Queimados, comunicação, etc.)<br />
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| rowspan="4" |2018<br />
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|1. Documentário Nossos Mortos têm voz<br />
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| rowspan="4" |CDH, Casa Fluminense, Quiprocó Filmes, Rede de Mães da Baixada, movimentos da Baixada e da capital<br />
|<br />
| rowspan="4" |Misereor, Fundo Brasil dos Direitos Humanos, Fundação Ford, Fundação Heinrich Böll e CDH<br />
|-<br />
|<br />
|2. Projeto Direito à Memória e Justiça Racial<br />
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|3. Reuniões e atos públicos<br />
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|4. Encontros nos núcleos<br />
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| rowspan="5" |2019<br />
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|1. Materiais informativos (boletins, cartografias)<br />
|<br />
| rowspan="5" |Casa Fluminense, PROFEC, Rede de Mães, Quiprocó Filmes, movimentos da Baixada e da capital<br />
|<br />
| rowspan="5" |Misereor, Fundo Brasil dos Direitos Humanos e Fundação Ford<br />
|-<br />
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|2. Exibições do documentário<br />
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|3. Atividades com a Rede de Mães<br />
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|4. Encontros nos núcleos<br />
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|5. Separação da IDMJR<br />
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| rowspan="3" |2020<br />
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|1. Ação nas redes<br />
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| rowspan="3" |Viva Rio, movimentos da Baixada e da capital<br />
|<br />
| rowspan="3" |Misereor, Fundo Brasil dos Direitos Humanos, doações de cestas e cartões de alimentação de parceiros.<br />
|-<br />
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|2. Ações de enfrentamento ao COVID-19<br />
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|}<br />
Enquanto isso, no eixo da incidência política, a Frente Intermunicipal de Valorização da Vida (FIVV) não decolava, pelo próprio perfil das prefeituras da Baixada. O grande diferencial neste período foi o documentário "[[Nossos Mortos Têm Voz (documentário)|Nossos mortos têm voz]]", a partir dele foi possível discutir a violência de Estado e o racismo através das histórias das mães vítimas da violência na Baixada Fluminense. Através do documentário, o FGB se aproximou de outros financiadores como o Fundo Brasil de Direitos Humanos e a Fundação Ford, ampliando através dos projetos a discussão sobre racismo na Baixada Fluminense, surgindo assim o projeto Direito à Memória e Justiça Racial. Vemos aqui a metamorfose acontecendo como consequência de uma ação / produto (documentário e exibições) e da conjuntura de violência no Rio de Janeiro, após assassinato da vereadora Marielle Franco. <br />
<br />
O trabalho realizado pelo projeto era bem didático, de promoção de espaços de diálogos com a população e na tentativa de reunir jovens dispostos a debater a temática do racismo. Acompanhava de perto pela Casa Fluminense as ações do projeto Direito à Memória e Justiça Racial, ligado ao Fórum Grita Baixada, e o projeto da ONG PROFEC (Programa de Formação e Educação Comunitária). Junto da Casa Fluminense, ambos tinham como foco no projeto enviado à FORD FOUNDATION, a discussão do racismo e a segurança pública. Em 2018, na Igreja Senhor do Bonfim, em Engenheiro Pedreira (Japeri), foi lançado durante a realização do Fórum Rio, o Boletim “As Juventudes da Baixada querem viver”, organizado pelas três instituições, tratando sobre “a questão da evasão escolar, da baixa taxa de investigação de assassinatos, do direito à memória, das oportunidades para a juventude e do racismo estrutural”<ref>CASA FLUMINENSE. '''Mapa da desigualdade Região Metropolitana do Rio de Janeiro'''. 2020. Disponível em: <nowiki>https://casafluminense.org.br/mapa-da-desigualdade/</nowiki>. Acesso em 01 jun. 2021.</ref>. <br />
<br />
No final de 2019, no processo de renovação do projeto da Ford Foundation, houve uma ruptura entre o projeto Direito à Memória e Justiça Racial e o Fórum Grita Baixada. Nesse processo, o grupo se intitulou IDMJR (Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial)<ref name=":4">INICIATIVA DIREITO À MEMÓRIA E JUSTIÇA RACIAL. '''SOS Queimados e a luta contra as violações do Estado.''' 2020. Disponível em <nowiki>https://dmjracial.com/2020/04/25/s-o-s-queimados-e-a-luta-contra-as-violacoes-do-estado/</nowiki> Acessado em 02 jan 2022.</ref> e passou a executar o projeto de forma independente. A IDMJR fez com que os membros do FGB refletissem sobre as dificuldades históricas de inserção da pauta racial no debate público da Baixada Fluminense e no próprio espaço institucional, limites esses que podem ser considerados parte do racismo institucional e estrutural. <br />
<br />
Mesmo com a saída da [[Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial]]<ref name=":4" />, o FGB continuou pautando o racismo em suas ações. Antes, além de não fazer essa discussão interna sobre o tema, o projeto Misereor não tinha essa discussão como eixo central. Sendo assim, nem o coletivo de organizações e movimentos antes de 2017 / 2018 fazia essa discussão do racismo, como observamos na ausência dessa pauta nas publicações e ações, nem o projeto Misereor tinha o tema como eixo central, passando o racismo a ser discutido com mais veemência no espaço com o documentário “Nossos mortos têm voz” e depois com o projeto financiado pela Fundação Ford.<br />
<br />
== As metamorfoses do movimento ==<br />
As “metamorfoses” do Fórum Grita Baixada tiveram um papel mais central para o grupo na maneira em que se discute violência na Baixada do que as mudanças na conjuntura política e na segurança pública. Diante da lógica do medo e da aproximação da população com um discurso conservador, era mais fácil acreditar que o fórum recuaria em suas ações em 2018, mas não foi o que aconteceu, sobretudo a partir da execução dos projetos. No entanto, não podemos deixar de destacar as transformações na violência, o que gerou novos debates no fórum e a sua própria fundação. Além disso, a conjuntura política colocou a organização mais num lugar de enfrentamento às práticas governamentais do que de colaboração, o que inicialmente era buscado nos encontros e reuniões com autoridades. O FGB se mostrou, parafraseando Raul Seixas, uma “metamorfose ambulante”, não mantendo “a velha opinião formada sobre” a violência na Baixada.<br />
<br />
Dada essa “metamorfose”, é possível dizer que de forma prática e teórica o Fórum Grita Baixada deixou de ser um movimento social e se tornou uma instituição não formalizada do terceiro setor. Ele não é mais o espaço onde apenas se discute a violência e possíveis soluções coletivas para superar os problemas; isso é até feito, mas no âmbito da execução de projetos, diferentemente do período pós-fundação onde as proposições saíam do grupo (pessoas, movimentos e organizações).<br />
<br />
A própria estrutura do Fórum Grita Baixada, com a “equipe liberada” (quem recebe mensalmente para trabalhar no fórum) sendo financiada pelos projetos, fez com que boa parte da dedicação desta equipe (coordenação geral, articulação territorial e comunicação) fosse para as ações que foram acordadas com o financiador. Com isso, o espaço da “coordenação ampliada” tornou-se o momento em que outras ideias e ações poderiam surgir, desde que os membros assumissem a execução das tarefas, pois a equipe contratada tem um conjunto de ações para desenvolver, a partir da gestão dos projetos. No entanto, desde a chegada de novos projetos para além da Misereor, ficou mais difícil a “equipe liberada” assumir outras ações. Com a pandemia e o esvaziamento do espaço de coordenação ampliada pela ausência de encontros, o FGB passou a se dedicar mais à execução dos projetos. Não estou aqui questionando a efetividade dos projetos, nem a relevância, pelo contrário, o que muda nesse processo é a caracterização do fórum enquanto movimento social.<br />
<br />
O Fórum enquanto movimento social encontrou dificuldades ao longo dos anos em discutir a violência na Baixada Fluminense, pois as pessoas esbarram no medo e num campo fluido de ideias, onde vários temas podem ser abordados para mobilizar e aconchegar pessoas e coletivos da região. Quando a equipe de coordenação liberada passa a se dedicar quase integralmente à execução dos projetos, fica mais evidente a pauta da segurança pública e com um perfil progressista que envolve discussões sobre o racismo e a defesa dos direitos humanos, mesmo numa conjuntura mais desfavorável do que no período da fundação do Fórum Grita Baixada. <br />
<br />
A mudança na discussão sobre racismo vai além da atuação do fórum, até mesmo nas pesquisas há uma mudança na centralidade dessa discussão. Simões (2011)<ref>SIMÕES, Manoel Ricardo. '''Ambiente e sociedade na Baixada Fluminense'''. Mesquita: Editora Entorno, p. 1-358, 2011.</ref> e Alves (2003)<ref>ALVES, José Cláudio Souza. '''Dos barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada Fluminense'''. Associação de Professores e Pesquisadores de História, CAPPH-CLIO, 2003.</ref> não trouxeram em suas obras o debate do conceito de racismo ao retratar a realidade da Baixada Fluminense. A própria história mais contada sobre o processo de ocupação da Baixada traz o migrante nordestino como principal responsável pela ocupação do território, mas não há um debate que racializa esse migrante. Quando comparamos os mapas produzidos pela Casa Fluminense é possível identificar o fator cor como indicador paralelo aos indicadores de desigualdade. <br />
<br />
Mapa - Percentual de população preta ou parda em relação ao total de habitantes.<br />
<br />
[[File:Imagem1.png|thumb|center|800px|Mapa]]<br />
<br />
Fonte: Casa Fluminense<br />
<br />
O mapa acima revela que a população negra da Região Metropolitana do Rio de Janeiro está em sua maioria nas áreas periféricas, sobretudo na Baixada Fluminense. Quando observamos os eixos Barra da Tijuca e Zona Sul da capital, e Niterói, é possível identificar uma predominância de brancos nas áreas mais ricas destas cidades. Isso corrobora a afirmação de que a desigualdade social está relacionada com o racismo. A metodologia utilizada pela Casa Fluminense foi através da soma dos valores percentuais da população de pardos e pretos, conforme definição do IBGE. Sendo assim, com a academia, as instituições e a sociedade evidenciando o debate sobre o racismo, o Fórum Grita Baixada acompanhou também esse processo validando a hipótese que as organizações da sociedade civil de uma forma geral vivem numa constante atualização no seu discurso, incluindo nos últimos anos o combate ao racismo enquanto principal bandeira, contribuindo para uma visão diferente sobre a segurança pública em territórios periféricos. Nesse sentido, até mesmo os financiamentos para as instituições e as linhas de atuação foram reformulados a partir dessa demanda interna e externa para debater o tema, tendo como evidência os indicadores de cor / raça que não eram disponibilizados anteriormente quando se abordavam as diferentes políticas públicas, incluindo a segurança.<br />
<br />
== Considerações finais ==<br />
Como lição para outros movimentos sociais e organizações da sociedade civil, a discussão sobre violência na Baixada não é trivial e passa por estratégias de ação que garantam a segurança dos mobilizadores. É muito difícil juntar pessoas para falarem sobre temas mais diretos, como homicídios, milícias, violência política, ações que mexam com a economia das organizações criminosas, violência do Estado, dentre outras situações que envolvam atores locais. Mas é possível não só fazer ações sobre temas distintos à segurança pública, mesmo relacionando a ausência de políticas públicas a má qualidade de vida da população, é possível falar de segurança abordando o tema do racismo, popularizando a ideia de "necropolítica" e ampliando o imaginário sobre os direitos humanos. Essas discussões foram feitas pelo FGB no âmbito da execução de projetos financiados, principalmente nas exibições populares do documentário “Nossos mortos têm voz”, o que envolve uma equipe menor, uma tomada de decisão mais direta e a necessidade de prestar contas ao financiador. Esse caminho pode ser a curto prazo o mais rápido para garantir que esse tipo de assunto seja colocado em pauta na região.<br />
<br />
No entanto, esse método enfrenta problemas. A descaracterização enquanto movimento social pode a longo prazo fazer com que o FGB deixe de existir caso não tenha mais financiamento. Ao contrário do início da trajetória, em que as ações eram na maioria voluntárias e a participação envolvia mais membros do que a “equipe liberada”, a comodidade da execução por parte dessa equipe e o resultado positivo da gestão de projetos, afastou boa parte da coordenação ampliada e de membros antigos do fórum do processo de execução, tornando-os na maioria “simpatizantes ou conselheiros”, dando este formato, mesmo que informal, de instituição da sociedade civil. <br />
<br />
Em 2022, o FGB completou 10 anos com um histórico robusto de ações pela Baixada Fluminense. Essas ações foram reconhecidas publicamente, tanto que o fórum foi indicado pelo mandato dos deputados Waldeck Carneiro e André Ceciliano a receber a Medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Atualmente, com a estratégia de informação, de produzir relatórios e boletins, o fórum se prepatica. Esse tipo de inspiração em organizações da sociedade civil, como a Casa Fluminense, é algo a ser mantido e pode no futuro colocar o fórum como um "player" para o poder público da segurança pública na Baixada, desde que a conjuntura possibilite esse tipo de atuação. A estratégia de mobilização também é necessária para engajar mais pessoas e tentar ao máximo criar vínculos que possibilitem a continuidade do fórum mesmo sem os financiamentos atuais. <br />
<br />
Ao falar de futuro, o grande desafio será a sustentabilidade. Ao contrário do passado em que movimentos locais na Baixada mantinham a atuação sem recursos, mesmo que reduzido o alcance, devido o suporte principalmente da Igreja Católica, atualmente esse tipo de ação não é mais prioridade, além da própria Igreja ter reduzido o número de fiéis e a influência de outrora. No formato atual na qual o fórum se transformou será necessário garantir recursos para a execução de projetos ou precisará voltar a suas origens de “fórum” e “movimento social”, entendendo melhor as estratégias para continuar falando de violência, sem perder o foco com a enxurrada de outros temas.<br />
<br />
Podemos concluir também que há um vácuo de um movimento que aglutina várias pautas da região, uma espécie de “fórum de lutas da Baixada”. Durante quase uma década, o FGB foi também esse espaço. Por essa ausência e pelo nome escolhido para o Fórum Grita Baixada muitas pessoas acreditavam que este seria o espaço onde os diversos movimentos da região pautaram suas lutas e reivindicações. O não entendimento ou a necessidade de transformar o FGB nesse espaço foi também um entrave durante os anos para um foco maior na pauta da violência. Para o futuro, precisa ficar claro que o Fórum Grita Baixada tem como prioridade a discussão sobre a violência, a partir daquilo que é enviado para os financiadores. Caso contrário, no planejamento é necessário expandir as temáticas com futuros financiadores ou dividir melhor essas ações com a coordenação ampliada. São desafios do presente e do futuro.<br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
[[Categoria:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]<br />
[[Categoria:Temática - Violência]]<br />
[[Categoria:Segurança Pública]]<br />
[[Categoria:Baixada Fluminense]]<br />
[[Categoria:Violência Policial]]<br />
[[Categoria:Direitos Humanos]]<br />
[[Categoria:Movimento negro]]<br />
[[Categoria:Justiça racial]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=F%C3%B3rum_Grita_Baixada_e_a_luta_por_justi%C3%A7a_racial_na_Baixada_Fluminense&diff=20437Fórum Grita Baixada e a luta por justiça racial na Baixada Fluminense2023-07-20T13:05:24Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div> Autoria: Douglas Almeida<br />
A Baixada Fluminense, historicamente, vive processos de violência, desde os grupos de extermínio à atuação de facções criminosas do tráfico de drogas e das milícias na região. Ao longo da história, a população conviveu com diversos problemas estruturais, para além da violência dada as escolhas do Estado na política de segurança pública e as desigualdades que marcam o território, sobretudo quando examinamos e comparamos a Baixada com a cidade do Rio de Janeiro. Diante disso, movimentos, coletivos e organizações constroem lutas urbanas nessa região em defesa dos direitos e no combate às desigualdades, em destaque o [[Fórum Grita Baixada]] <ref name=":0">FÓRUM GRITA BAIXADA; CASA FLUMINENSE. '''Carta da Baixada'''. 2015. Disponível em <nowiki>https://agendario.org/documentos/carta-da-baixada/</nowiki> Acessado em 01 fev 2020.</ref>. Este verbete é baseado na tese de doutorado de Douglas Almeida de título "Como falar de violência na periferia? O Fórum Grita Baixada e os discursos sobre a segurança pública na Baixada Fluminense".<ref>ALMEIDA, Douglas Monteiro de. '''Como falar de violência na periferia? O Fórum Grita Baixada e os discursos sobre a segurança pública na Baixada Fluminense''' / Douglas Monteiro de Almeida. – 2022. Orientadora: Palloma Valle Menezes. Tese de Doutorado em Sociologia - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos Sociais e Políticos.</ref> <br />
<br />
O Fórum Grita Baixada , há 10 anos, constitui-se com um fórum de lideranças sociais, movimentos, pastorais e organizações que reivindicam políticas públicas para a Baixada Fluminense com foco na redução dos homicídios na região, além de construir caminhos para uma cultura de valorização da vida na região. O FGB busca a construção de uma narrativa de segurança pública com cidadania, defesa dos direitos humanos e direito à memória e justiça racial.<br />
<br />
O Fórum nasceu enquanto movimento social e ao longo dos anos passou por “metamorfoses”, com mudanças nos seus discursos e nas formas de atuação. O presente verbete busca identificar algumas das mudanças que ocorreram no modo de se debater a violência na região, tendo em vista as transformações que ocorreram nas próprias dinâmicas da violência, na política e no perfil das organizações da sociedade civil da Baixada Fluminense no início do século XXI.<br />
<br />
== A criação do movimento ==<br />
<br />
A história de luta de um movimento da sociedade civil pode ser contada sob diferentes ângulos, dependendo de quem conta, dos interlocutores ouvidos por aquele que decide (re)construir a narrativa, do período histórico no qual tal (re)construção ocorre e ainda da forma como a narrativa é tecida. No presente verbete faço uma (re)construção da história de um movimento social, a partir de uma pesquisa militante, que envolveu observação participante e análise de materiais e publicações produzidas pelo próprio movimento. Trata-se de um esforço de analisar as “metamorfoses de um movimento social”<ref>BRITES, Jurema; FONSECA, Cláudia. '''As metamorfoses de um movimento social: Mães de vítimas de violência no Brasil'''. Análise Social, v. 48, n. 209, 2013.</ref>: o Fórum Grita Baixada (FGB). O FGB constitui-se com um fórum de lideranças sociais, movimentos, pastorais e organizações que reivindicam políticas públicas para a Baixada Fluminense com foco na redução dos homicídios na região, além de construir caminhos para uma cultura de valorização da vida na região. O FGB busca a construção de uma narrativa de segurança pública com cidadania, defesa dos direitos humanos e direito à memória e justiça racial. <br />
<br />
Como dito mais acima, o Fórum Grita Baixada nasceu como um movimento social. Para Gohn (2004, p. 141) <ref>GOHN, Maria da Glória Marcondes. '''Sociedade civil no Brasil: movimentos sociais e ONGs.''' Nomadas (col), n. 20, p. 140-150, 2004.</ref>, os movimentos sociais são “ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas”. A autora afirma, ainda, que esses movimentos “possuem uma identidade, têm um opositor e articulam ou se fundamentam num projeto de vida e de sociedade” (GOHN, 2004, p. 145)<ref>GOHN, Maria da Glória Marcondes. '''Sociedade civil no Brasil: movimentos sociais e ONGs.''' Nomadas (col), n. 20, p. 140-150, 2004.</ref>. Assim o FGB entra neste conceito pela identidade territorial, pela oposição à violência e por levantar uma bandeira da segurança pública com cidadania, mesmo que isso fosse algo a ser construído ao longo de sua trajetória de atuação.<br />
<br />
Sobre a história da fundação do Fórum Grita Baixada, dois momentos históricos são colocados como marcos desse processo: a [[Chacina da Baixada Fluminense, 31 de março de 2005|Chacina da Baixada]], em 2005 e a criação das [[Unidades de Polícia Pacificadora]] (UPP), em 2008. O contexto de (in)segurança na Baixada, é o ponto de partida para compreender como um grupo de organizações e pessoas lideradas por pastorais da Igreja Católica, igrejas evangélicas e o Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu decidiram em 2012 realizar alguns encontros para pensar alternativas para a superação da violência urbana na região. Naquele momento, tal reação surgiu porque uma parcela da população estava muito assustada com uma “onda de violência” na Baixada que era sentida a partir do alto índice de homicídios, o grande número de desaparecimentos forçados e o crescimento do número de roubos e furtos. Tal onda ganhava ainda mais força com rumores sobre a suposta migração da capital para Baixada de pessoas ligadas às facções criminosas a partir da expansão das UPPs (RODRIGUES, 2018)<ref name=":1">RODRIGUES, André (org). '''Homicídios na Baixada Fluminense''': Estado, Mercado, Criminalidade e Poder. Comunicações do ISER, n. 71, ano 37, 2018. Disponível em <nowiki>http://www.iser.org.br/site/wp-content/uploads/2013/12/2018-08-06-publicacao71-iser-WEB</nowiki>. pdf Acessado em 15 jun 2020.</ref>.<br />
<br />
No primeiro momento, o grupo se reuniu para ouvir as demandas de pessoas indignadas com esse crescente contexto de violência. Em 2012 houve um encontro com diversas instituições e movimentos da Baixada com o vice-governador na época, Luiz Fernando Pezão, e depois a elaboração de um documento às autoridades. No entanto, a “onda de violência” continuou com as chacinas da Chatuba e Japeri ainda naquele ano. O grupo continuou atuando e solicitou uma audiência pública com a presença do secretário de segurança. Mariano Beltrame, secretário na época, que foi até Nova Iguaçu. Ao ouvir as demandas da população ele e uma de suas intervenções disse que era “a primeira vez que a Baixada grita tão forte. O movimento era batizado: Fórum Grita Baixada” (FÓRUM GRITA BAIXADA, 2016).<br />
<br />
== Uma história de resistência ==<br />
Na noite de 31 de março de 2005 ocorreu a Chacina da Baixada Fluminense, como ficou conhecida essa que é considerada a maior chacina da região. A Baixada historicamente tem muitos casos registrados de morte com três ou mais pessoas, característica essa que é usada por muitos especialistas e policiais da Divisão de Homicídios para tipificar o crime de chacina. É comum ouvir em jornais, revistas e nas redes sociais a palavra chacina, mas existem poucos estudos sobre o assunto, que na maioria das vezes, como neste trabalho, aparecem de forma secundária para falar de outras situações que as envolvem, como violência policial, tráfico de drogas, corrupção e grupos de extermínio<ref>SILVA, L. H. P. da. '''Hildebrando de Goes e sua leitura sobre História da Baixada Fluminense'''. ''Ágora'', ''21''(1), 106-118, 2019.</ref>. <br />
<br />
No caso da chacina da Baixada, os executores eram policiais militares. Em menos de duas horas eles assassinaram 29 pessoas, nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados, deslocando-se de carro. A motivação dos policiais teria sido o descontentamento dos policiais com o comandante do 15° Batalhão de Polícia Militar, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que havia prendido 60 policiais por desvio de conduta. Os atiradores executaram adolescentes, jovens e adultos, homens e mulheres, estudantes, travestis, comerciantes, biscateiro, padeiro, funcionário público, pessoas reunidas em um bar, em frente ao lava-jato, no portão de casa, pontos de ônibus e nas ruas. A repercussão da maior chacina registrada oficialmente no estado do Rio de Janeiro foi nacional e internacional. Entre os envolvidos no crime, 11 policiais foram denunciados, mas apenas quatro foram condenados<ref name=":0" />. <br />
<br />
Um ano antes da chacina da Baixada, uma análise do Laboratório de Análise da Violência (LAV), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), apontava o impacto da violência no Rio de Janeiro e como a política de segurança pública no estado havia sido implementada nos 25 anos anteriores. O estudo apontou, dentre outras coisas, que as políticas de segurança oscilaram entre dois pólos antagônicos, um onde as políticas deveriam prezar o 92 cumprimento da lei, sem abusos, capacitando a polícia e combatendo a corrupção dentro dela, e outro onde o uso há privilégio do uso da força no combate ao crime, aceitando excessos da força policial e já qualificando os direitos humanos como “direito dos bandidos”. Na verdade, não houve uma implementação completa de uma segurança pública democrática, pois a tentativa esbarrava nas ações contra setores corruptos da instituição <ref>CANO, Ignacio et al. '''O impacto da violência no Rio de Janeiro'''. Rio de Janeiro: Laboratório de Análise Violência, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2004.</ref>. Em uma tentativa de implementar o combate à corrupção no ano posterior a essa publicação, alguns policiais cometem uma chacina em represália ao comandante do Batalhão, mostrando o quão profundo e complexo é o modelo de segurança pública do estado. <br />
<br />
O exemplo da Chacina da Baixada, para introduzir a história recente de luta na região, é uma forma de exemplificar um momento em que atores da sociedade civil se reuniram em prol de determinado tema e desenvolveram uma atuação em resposta ao que ocorreu na noite do dia 31 de março de 2005. Como visto no capítulo anterior, muitas bandeiras de luta na Baixada surgiram a partir da influência de setores da Igreja Católica, em alguns casos envolvendo a participação direta do clero. Na chacina da Baixada, o pároco Paulo, padre responsável pela paróquia localizada na Posse, bairro de Nova Iguaçu que teve o maior número de vítimas, telefonou para o bispo Dom Luciano depois de ter sido avisado sobre a chacina. O bispo da Diocese de Nova Iguaçu foi para o local e também foram o então prefeito de Nova Iguaçu, Lindbergh Farias (PT) para que houvesse celeridade na resolução do caso<ref>ASSIS, João Marcus Figueiredo. '''A Diocese de Nova Iguaçu frente à chacina da Baixada Fluminense: memória e identidade.''' HORIZONTE-Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, p. 69-84, 2008.</ref>. <br />
<br />
Diversas organizações da sociedade civil construíram um processo de mobilização frente a violência na região após a chacina, como polo de rede foi criado o Fórum Reage Baixada, que acompanhou as apurações da chacina de Nova Iguaçu e Queimados. Foi destaque também a atuação de organizações locais, como o SOS Queimados e o Centro dos Direitos Humanos de Nova Iguaçu (CDHNI), ligado à Diocese de Nova Iguaçu, que já trabalhava com o tema da violência na região. Algumas pesquisas já apontavam os problemas na Baixada, mas a segurança pública não mobilizou as organizações da sociedade civil, nem os movimentos sociais da região, com exceção do CDHNI e de líderes comunitários que participavam de reuniões nos batalhões<ref name=":2">IMPUNIDADE NA BAIXADA FLUMINENSE. 2005. Disponível em: <nowiki>http://www.dhnet.org.br/dados/relatorios/a_pdf/r_jg_rj_impunidade_baixada.pdf</nowiki> Acessado em 02 jan 2022.</ref>. <br />
<br />
As reuniões nos batalhões, principalmente os cafés da manhã, tinham pouco efeito prático. Denúncias feitas poderiam ser ouvidas por pessoas que eram ligadas a grupos criminosos ou que praticavam ações ilícitas. Mesmo assim, muitas lideranças participaram 93 desses encontros como forma de apresentar a insatisfação com a insegurança, principalmente em relação a crimes patrimoniais, a partir da abordagem do aumento da produtividade policial e da quantidade de policiais na Baixada Fluminense. Uma pauta sempre colocada por participantes desses espaços, percebido até mesmo em depoimentos posteriores à chacina da Baixada e já no início do Fórum Grita Baixada, que a vida na Zona Sul da capital vale mais do que na Baixada, porque o policiamento na região é proporcionalmente maior do que nos municípios da região. <br />
<br />
Tendo em vista a baixa efetividade dos cafés da manhã nos batalhões e da necessidade de outros interlocutores para o tema da segurança pública na Baixada, para além do CDHNI, o Fórum Reage Baixada teve um importante papel nessa nova fase de organização popular na região. Esse fórum chegou a reunir mais de 80 organizações da sociedade civil dos 13 municípios da Baixada, constituindo-se como um fórum híbrido, até então inédito, de movimentos, partidos, ONGs, acadêmicos e outros atores sociais, mas, ao longo do tempo, o fórum Reage Baixada se desfez aos poucos<ref>FREIRE, Jussara. '''Problemas públicos e mobilizações coletivas em Nova Iguaçu'''. Editora Garamond, 2019</ref>. <br />
<br />
Após a chacina, houve uma grande mobilização de instituições da capital e da Baixada, além da cobertura da mídia sobre os fatos. Esse processo impulsionou inicialmente a criação do “Fórum Baixada contra a Violência”, que depois recebeu o nome de “Fórum Reage Baixada” e posteriormente de “Fórum de Entidades Reage Baixada”, o FERB. Vale notar que, com essa última mudança de nome, a ‘violência’ desapareceu do título, o que indica o deslocamento de concepções associadas ao Fórum que ocorreu a partir de então<ref name=":3">LANDIM, Leilah; GUARIENTO, Suellen. 2010. '''Violência e ação coletiva na Baixada Fluminense'''. Paper apresentado no 34º Encontro Anual da ANPOCS. ST31S1; Mimeo.</ref>. A pauta da segurança pública é sempre considerada uma pauta de risco quando debatida em territórios com altos índices de violência, sobretudo, com as interferência e relação direta do Estado. <br />
<br />
Landim e Guariento (2010)<ref name=":3" /> ressaltam que a mudança de nome é um esvaziamento da centralidade do foco na violência como tentativa de criar uma central de organizações da Baixada Fluminense por direitos, a partir da visão de ONGs do Rio de Janeiro que faziam na época um debate pautado nas relações da violência com as desigualdades provenientes de fatores sociais e infra estruturais. Além disso, podemos adicionar aqui mais uma hipótese para 94 esse movimento: diluir o debate sobre violência pode ser uma tentativa de ter mais segurança ao discutir problemas no território, reduzindo a dificuldade de dialogar com as pessoas na Baixada a partir de um tema considerado arriscado pela população.<br />
<br />
Enquanto membro do Fórum Grita Baixada percebi diversas vezes essa dificuldade em reuniões gerais e principalmente no processo de nucleação, quando discutíamos esses temas diretamente nos territórios. Sendo assim, a dificuldade que ocorreu no período do Fórum Reage Baixada pode se assemelhar a essa dificuldade, assim como ocorreu na pesquisa realizada pelo ISER sobre homicídios na Baixada Fluminense em 2017, onde entrevistas foram realizadas com ativistas, lideranças e moradores. Como aponta Rodrigues et al (2018)<ref name=":1" />: “São comuns as falas que tratam dos homicídios dolosos como algo que acontece quase todo dia ou semana. Essas falas indicam que a banalidade é o operador que resolve o paradoxo da frequência exacerbada conjugada com baixa visibilidade. De tão recorrentes e cotidianas essas mortes deixam de chamar a atenção, deixam de ser investigadas, problematizadas, evitadas” (Rodrigues et al, 2018, p. 42)<ref name=":1" />. <br />
<br />
A dificuldade de falar sobre a violência na região não é algo restrito a população, mas algo presente nas lutas sociais da Baixada Fluminense. A história dos movimentos sociais durante o período da ditadura, em tempos que os homicídios eram bem altos na Baixada Fluminense, com a atuação dos grupos de extermínio, as lideranças sociais se organizavam em associações de moradores, em lutas por melhorias nos bairros e nos movimentos ligados à Igreja Católica. Nessa discussão, a violência aparecia como reflexo da situação de miséria na Baixada, colocando ela como segundo plano na discussão e a melhoria urbana como o principal debate a ser feito (SALES; FORTES, 2016)<ref>SALES, Jean Rodrigues; FORTES, Alexandre (Ed.). '''A Baixada Fluminense e a ditadura militar: movimentos sociais, repressão e poder local'''. Editora Prismas, 2016.</ref>. <br />
<br />
De certo modo, mesmo que não tenha sido o motivo da escolha, priorizar a violência acabou sendo importante para uma cobertura da mídia que por algum tempo cobriu os desdobramentos da chacina da Baixada e o Fórum Reage Baixada era apontado, mesmo que de forma tímida, como um espaço de aglutinação de quem lutava por justiça e por melhorias no campo da segurança pública na região, sempre sendo lembrado à sua origem no pós-chacina da Baixada, em 2005. Segundo Landim e Guariento (2010)<ref name=":3" /> mesmo com a razoável cobertura da mídia sobre a chacina, o Fórum Reage Baixada, que de perto dos pesquisadores parecia dinâmico, vigoroso, participativo e novo, pouco apareceu em jornais e 95 na TV, como componente dessa história, principalmente pensando o viés da superação da violência. <br />
<br />
A atuação rendeu uma homenagem na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) em dezembro de 2007 ao Fórum de Entidade Reage Baixada. O Fórum recebeu da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania o Prêmio Dom Helder Câmara, concedido a organizações/ movimentos e pessoas que se destacaram por suas conquistas em áreas da militância social<ref name=":3" />. O Fórum tinha inspiração em movimentos que já existiam na Baixada, antes mesmo da chacina. Membro do Reage Baixada na época, o SOS Queimados, fundado em 2003, tinha o objetivo de apresentar propostas ao poder público, sobre os diversos problemas enfrentados pela população de Queimados. Participavam desse movimento professores, profissionais liberais, articuladores de outros movimentos sociais, políticos, trabalhadores informais, estudantes e outros membros da sociedade civil queimadense. Inclusive, a estratégia de atuação do SOS Queimados parecia muito com a estratégia do Reage Baixada e posteriormente, da primeira fase do Fórum Grita Baixada, sempre dialogando com a Câmara de Vereadores, chegando ao Ministério Público, Legislativos e Executivos Estadual/Federal e a mobilização de lideranças territoriais, além da articulação com ONGs e igrejas, sobretudo, a Igreja Católica e algumas igrejas evangélicas. Com a Chacina da Baixada, em 2005, “outras e específicas propostas foram criadas, juntamente com familiares das vítimas e outras Ongs, de forma ampliada, aos governos estadual e federal”<ref name=":2" />. <br />
<br />
O SOS Queimados, em publicação de autores do Laboratório de Violência da UERJ, lançou um conjunto de propostas para a superação da violência na Baixada Fluminense, no relatório Impunidade na Baixada Fluminense. Essas propostas dialogam com as propostas apresentadas cerca de 10 anos depois na Carta da Baixada e no relatório do Fórum Grita Baixada, e em publicações do FGB e da Casa 96 Fluminense, para assim perceber se houve modificações no discurso desse campo da sociedade civil no debate sobre violência na região. Tanto o Fórum Reage Baixada quanto o SOS Queimados encerram suas atividades em 2008.<br />
<br />
== Fases do Fórum Grita Baixada ==<br />
O Fórum Grita Baixada já teve várias composições respeitando a estrutura base do movimento previamente acordada no estatuto. Originalmente, em documento elaborado em 2013, a composição do FGB tem quatro espaços de participação: a plenária, a coordenação, a executiva e as comissões temáticas. O estatuto foi elaborado também no período em que se buscava financiamento para o FGB, sendo assim é contemplada na estrutura também uma secretaria, uma tesouraria, uma assessoria jurídica e uma assessoria de comunicação.<br />
<br />
Quadro 1 - Fases e formas de atuação do Fórum Grita Baixada <br />
{| class="wikitable"<br />
|FGB ORIGEM<br />
|<br />
|TRANSIÇÃO<br />
|<br />
| colspan="5" |NOVOS PROJETOS<br />
|-<br />
|2012-2014<br />
|<br />
|2015-2016<br />
|<br />
|2017<br />
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|2018-2019<br />
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|2020<br />
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|Debate sobre segurança pública<br />
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|Segurança Pública com Cidadania<br />
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|Segurança Pública com cidadania<br />
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|Segurança Pública com cidadania<br />
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|Segurança Pública com cidadania<br />
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|O que é segurança pública?<br />
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|Formação, Incidência e Mobilização<br />
|<br />
|Formação, Incidência e Mobilização<br />
|<br />
|Formação, Incidência e Mobilização<br />
|<br />
|Formação, Incidência e Mobilização<br />
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| <br />
|<br />
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|-<br />
|Reunir diversos atores / audiências públicas<br />
|<br />
|Produção de documentos<br />
|<br />
|Produção de documentos<br />
|<br />
|Produção de documentos<br />
|<br />
|Produção de documentos<br />
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|Ênfase na defesa dos direitos humanos<br />
|<br />
|Ênfase na defesa dos direitos humanos<br />
|<br />
|Ênfase na defesa dos direitos humanos<br />
|-<br />
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|Trabalho nos territórios<br />
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|Trabalho nos territórios<br />
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|Trabalho nos territórios<br />
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|Articulação com a rede de mães<br />
|<br />
|Articulação com a rede de mães<br />
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|Combate ao racismo<br />
|<br />
|Combate ao racismo<br />
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|Combate ao Covid-19 e suas consequências<br />
|}<br />
O quadro acima mostra algumas fases e a forma de atuação do Fórum Grita Baixada. Primeiro, a atuação do fórum é pautada numa diversidade de atores e na possibilidade da definição interna do que é segurança pública, podendo assim ter visões distintas sobre as soluções para o tema na Baixada. É considerada uma fase de transição o período em que o movimento passa a pautar uma definição de segurança com cidadania, dialogando principalmente com o direito à vida. Mesmo com a presença do Centro dos Direitos Humanos de Nova Iguaçu na coordenação do Fórum. A partir de 2016, sobretudo em 2017, a defesa dos direitos humanos precisou ser incorporada com ênfase na narrativa, para evitar os crescentes discursos de que bandido bom é bandido morto que inflama a sociedade como um todo. Após o lançamento do filme Nossos mortos têm voz, o FGB incorporou na sua discussão o acompanhamento da rede de mães e também a pauta racial, sobretudo com o projeto direito à memória e a justiça racial. Por fim, o ano de 2020 traz a peculiaridade da pandemia e olhar para outras violações que a baixada sofre principalmente em relação à segurança alimentar, além de retornar a estrutura anterior de 2017 com a saída do projeto direito à memória e a justiça racial da alçada do Fórum.<br />
<br />
Quadro 2 - Histórico da “equipe liberada” do Fórum Grita Baixada <br />
{| class="wikitable"<br />
|FGB ORIGEM<br />
|<br />
| colspan="3" |TRANSIÇÃO<br />
|<br />
| colspan="7" |NOVOS PROJETOS<br />
|-<br />
|2012 - 2014<br />
|<br />
| colspan="3" |2015-2016<br />
|<br />
|2017<br />
|<br />
| colspan="3" |2018/2019<br />
|<br />
|2020<br />
|-<br />
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|-<br />
| rowspan="7" |SECRETARIA<br />
|<br />
| rowspan="7" |SECRETARIA<br />
|<br />
| rowspan="3" |MANUTENÇÃO SITE<br />
|<br />
| rowspan="7" |COORDENADOR<br />
<br />
ARTICULADOR DE TERRITÓRIO<br />
<br />
COMUNICADOR<br />
|<br />
| rowspan="7" |COORDENADOR<br />
<br />
ARTICULADOR DE TERRITÓRIO<br />
<br />
COMUNICADOR<br />
|<br />
| rowspan="7" |EQUIPE DIREITO À MEMÓRIA E JUSTIÇA RACIAL<br />
|<br />
| rowspan="7" |COORDENADOR<br />
<br />
ARTICULADOR DE TERRITÓRIO<br />
<br />
COMUNICADOR<br />
|-<br />
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| rowspan="3" |ASSESSORIA DE IMPRENSA<br />
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|}<br />
O quadro acima retrata as modificações na “equipe liberada” do Fórum Grita Baixada ao longo dos anos desde a sua fundação. A partir de 2017 a equipe ganhou uma estrutura maior já a partir da concepção do novo projeto aprovado pela financiadora alemã. O projeto aprovado pela Misereor tinha três objetivos específicos, o primeiro relacionado aos núcleos, o segundo sobre a elucidação de casos de homicídio na Baixada e o terceiro sobre o impacto na incidência nas políticas públicas de segurança na região. A descrição do primeiro, segundo pesquisa em materiais recebidos por correio eletrônico durante minha participação ativa no Fórum Grita Baixada, continha a organização dos moradores de Imbariê, em Duque de Caxias, e Gogó da Ema, em Belford Roxo, em núcleos de direitos humanos. O segundo objetivo descrevia o aumento no número de investigações de homicídios na Baixada Fluminense, e a necessidade de investir nos processos de responsabilização dos culpados, em parceria com órgãos do Poder Judiciário e entidades que atuam no campo do atendimento psicológico e de defesa dos direitos humanos. Por último, o terceiro apontava para o aumento no número de incidências do Fórum Grita Baixada nos processos de construção das políticas públicas de direitos humanos e segurança da população, a partir da articulação do mesmo com entidades nacionais e internacionais.<br />
<br />
== As atividades do Fórum ==<br />
De 2012 a 2020, o FGB realizou ou participou de centenas de atividades, desde ações promovidas na carteira de projetos ou estimuladas pelos participantes ativos do fórum. No quadro vemos um perfil parecido de ações entre 2012 e 2015, tendo os anos de 2015 e 2016 como transição para um novo momento do movimento social. Em 2012, 2013 e 2014, o fórum se dedicou em promover encontros, caminhadas, ser um espaço de discussão, é definido originalmente como um movimento social, que possuía disputas internas sobre o discurso a ser feito sobre a segurança pública. Mesmo majoritariamente composto por pessoas progressistas, existiam disputas mais à esquerda, como a criação de espaços de denúncia, e mais à direita, como a defesa de invasões e confrontos como método eficaz de enfrentamento ao tráfico. Nesses anos, os principais parceiros do fórum eram internos à Diocese de Nova Iguaçu, com poucas exceções como o Viva Rio e os conselhos comunitário e de segurança de Nova Iguaçu. Neste período, também foi oficializado o primeiro projeto da Misereor.<br />
<br />
Em 2015 e 2016, é possível observar um processo de transição para uma fase de mais reconhecimento, o que posteriormente possibilitou ao fórum aprofundar o debate sobre violência na Baixada. Mas, nesse período, houve um misto de atividades que focaram na violência e que falavam sobre outros assuntos. O curso de segurança pública com cidadania marcou a entrada de vez do termo segurança cidadã no vocabulário do fórum, demarcando um primeiro posicionamento sobre a postura do grupo frente às discussões da violência. A Carta da Baixada trouxe propostas construídas por várias mãos, o que não possibilitou uma identidade mais marcante. Em 2016, o relatório “Um Brasil dentro do Brasil pede socorro”, mesmo trazendo a desigualdade e os problemas da Baixada para além da violência, demarcou a defesa dos direitos humanos como algo central. Neste mesmo ano, as ações contra o impeachment e o revezamento da tocha da vergonha mostraram o fórum ainda preocupado em debater temas para além da segurança, dedicando inclusive boa parte do tempo para isso.<br />
<br />
Ao considerar o período entre 2017 e 2019, nestes anos houve a renovação do projeto Misereor, com um foco maior no debate direto de violações de direitos humanos na Baixada. Inicialmente, os núcleos que eram para ser "de direitos humanos" para encaminhar denúncias, se tornaram espaços de diálogo sobre a violência com outras ações como pré-vestibular, debate sobre mobilidade urbana, ações pró melhoramento no bairro, dentre outras coisas. Resumindo, a primeira iniciativa ainda enfrentava o medo de discutir a violência na Baixada, as ações dos núcleos não caminhavam para o debate sobre a violência na região. Além do fator medo, falar sobre outros temas também sempre foi uma estratégia de mobilização do Fórum Grita Baixada. É muito mais fácil mobilizar pessoas em um pré-vestibular do que em uma roda sobre as invasões no Gogó da Ema; ou para falar da qualidade do trem em Imbariê do que do histórico dos grupos de extermínio em Duque de Caxias. A metodologia das cartografias sociais ajudou a discutir esses problemas, incluindo a violência. A dificuldade neste processo é que ao focar em outras ações, a tendência era perder a identidade do grupo local com o FGB.<br />
<br />
Quadro 3 - Resumo das principais atividade, parcerias e financiamento do FGB<br />
{| class="wikitable"<br />
|ANO<br />
|<br />
|PRINCIPAIS ATIVIDADES<br />
|<br />
|PRINCIPAIS PARCERIAS INSTITUCIONAIS<br />
|<br />
|FINANCIAMENTO<br />
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|<br />
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| rowspan="3" |2012<br />
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|1. Fundação<br />
|<br />
| rowspan="3" |CDH e Diocese de Nova Iguaçu<br />
|<br />
| rowspan="3" |Sem financiamento / apoio do CDH e da Diocese de Nova Iguaçu<br />
|-<br />
|<br />
| rowspan="2" |2. Audiência Pública<br />
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|-<br />
| rowspan="3" |2013<br />
|<br />
|1. Formações<br />
|<br />
| rowspan="3" |CDH, Diocese de Nova Iguaçu, Viva Rio, Conselhos de Segurança e Defensoria Pública<br />
|<br />
| rowspan="3" |Sem financiamento / apoio do CDH e da Diocese de Nova Iguaçu<br />
|-<br />
|<br />
|2. Reuniões<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|3. Estruturação da Coordenação<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
| rowspan="3" |2014<br />
|<br />
|1. Reuniões<br />
|<br />
| rowspan="3" |CDH, Diocese de Nova Iguaçu, movimentos e pastorais da Baixada<br />
|<br />
| rowspan="3" |Misereor<br />
|-<br />
|<br />
|2. Caminhadas pela Paz<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|3. Eleições 2014<br />
|<br />
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|-<br />
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|<br />
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|<br />
|-<br />
| rowspan="4" |2015<br />
|<br />
|1. Curso de Segurança Pública e Cidadã<br />
|<br />
| rowspan="4" |CDH, Casa Fluminense, movimentos e pastorais da Baixada<br />
|<br />
| rowspan="4" |Misereor, crowdfunding e Casa Fluminense<br />
|-<br />
|<br />
|2. Carta da Baixada<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|3. Reuniões e atos públicos<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|4. Assembleia do FGB<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
| rowspan="3" |2016<br />
|<br />
|1. Ato contra o impeachment da Dilma<br />
|<br />
| rowspan="3" |CDH, movimentos e partidos de esquerda da Baixada<br />
|<br />
| rowspan="3" |Misereor, contribuição dos grupos envolvidos nas ações e CDH<br />
|-<br />
|<br />
|2. Revezamento da Tocha da Vergonha<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|3. Relatório "Um Brasil dentro do Brasil..."<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
| rowspan="5" |2017<br />
|<br />
|1. Coordenação do projeto e assembleia<br />
|<br />
| rowspan="5" |CDH, movimentos da Baixada, Casa Fluminense<br />
|<br />
| rowspan="5" |Misereor<br />
|-<br />
|<br />
|2. Criação dos núcleos<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|3. Semana da Baixada<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|4. FIVV<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|5. Seminários (Queimados, comunicação, etc.)<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
| rowspan="4" |2018<br />
|<br />
|1. Documentário Nossos Mortos têm voz<br />
|<br />
| rowspan="4" |CDH, Casa Fluminense, Quiprocó Filmes, Rede de Mães da Baixada, movimentos da Baixada e da capital<br />
|<br />
| rowspan="4" |Misereor, Fundo Brasil dos Direitos Humanos, Fundação Ford, Fundação Heinrich Böll e CDH<br />
|-<br />
|<br />
|2. Projeto Direito à Memória e Justiça Racial<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|3. Reuniões e atos públicos<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|4. Encontros nos núcleos<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
| rowspan="5" |2019<br />
|<br />
|1. Materiais informativos (boletins, cartografias)<br />
|<br />
| rowspan="5" |Casa Fluminense, PROFEC, Rede de Mães, Quiprocó Filmes, movimentos da Baixada e da capital<br />
|<br />
| rowspan="5" |Misereor, Fundo Brasil dos Direitos Humanos e Fundação Ford<br />
|-<br />
|<br />
|2. Exibições do documentário<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|3. Atividades com a Rede de Mães<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|4. Encontros nos núcleos<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|5. Separação da IDMJR<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
| rowspan="3" |2020<br />
|<br />
|1. Ação nas redes<br />
|<br />
| rowspan="3" |Viva Rio, movimentos da Baixada e da capital<br />
|<br />
| rowspan="3" |Misereor, Fundo Brasil dos Direitos Humanos, doações de cestas e cartões de alimentação de parceiros.<br />
|-<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|<br />
|-<br />
|<br />
|2. Ações de enfrentamento ao COVID-19<br />
|<br />
|<br />
|}<br />
Enquanto isso, no eixo da incidência política, a Frente Intermunicipal de Valorização da Vida (FIVV) não decolava, pelo próprio perfil das prefeituras da Baixada. O grande diferencial neste período foi o documentário "[[Nossos Mortos Têm Voz (documentário)|Nossos mortos têm voz]]", a partir dele foi possível discutir a violência de Estado e o racismo através das histórias das mães vítimas da violência na Baixada Fluminense. Através do documentário, o FGB se aproximou de outros financiadores como o Fundo Brasil de Direitos Humanos e a Fundação Ford, ampliando através dos projetos a discussão sobre racismo na Baixada Fluminense, surgindo assim o projeto Direito à Memória e Justiça Racial. Vemos aqui a metamorfose acontecendo como consequência de uma ação / produto (documentário e exibições) e da conjuntura de violência no Rio de Janeiro, após assassinato da vereadora Marielle Franco. <br />
<br />
O trabalho realizado pelo projeto era bem didático, de promoção de espaços de diálogos com a população e na tentativa de reunir jovens dispostos a debater a temática do racismo. Acompanhava de perto pela Casa Fluminense as ações do projeto Direito à Memória e Justiça Racial, ligado ao Fórum Grita Baixada, e o projeto da ONG PROFEC (Programa de Formação e Educação Comunitária). Junto da Casa Fluminense, ambos tinham como foco no projeto enviado à FORD FOUNDATION, a discussão do racismo e a segurança pública. Em 2018, na Igreja Senhor do Bonfim, em Engenheiro Pedreira (Japeri), foi lançado durante a realização do Fórum Rio, o Boletim “As Juventudes da Baixada querem viver”, organizado pelas três instituições, tratando sobre “a questão da evasão escolar, da baixa taxa de investigação de assassinatos, do direito à memória, das oportunidades para a juventude e do racismo estrutural”<ref>CASA FLUMINENSE. '''Mapa da desigualdade Região Metropolitana do Rio de Janeiro'''. 2020. Disponível em: <nowiki>https://casafluminense.org.br/mapa-da-desigualdade/</nowiki>. Acesso em 01 jun. 2021.</ref>. <br />
<br />
No final de 2019, no processo de renovação do projeto da Ford Foundation, houve uma ruptura entre o projeto Direito à Memória e Justiça Racial e o Fórum Grita Baixada. Nesse processo, o grupo se intitulou IDMJR (Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial)<ref name=":4">INICIATIVA DIREITO À MEMÓRIA E JUSTIÇA RACIAL. '''SOS Queimados e a luta contra as violações do Estado.''' 2020. Disponível em <nowiki>https://dmjracial.com/2020/04/25/s-o-s-queimados-e-a-luta-contra-as-violacoes-do-estado/</nowiki> Acessado em 02 jan 2022.</ref> e passou a executar o projeto de forma independente. A IDMJR fez com que os membros do FGB refletissem sobre as dificuldades históricas de inserção da pauta racial no debate público da Baixada Fluminense e no próprio espaço institucional, limites esses que podem ser considerados parte do racismo institucional e estrutural. <br />
<br />
Mesmo com a saída da [[Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial]]<ref name=":4" />, o FGB continuou pautando o racismo em suas ações. Antes, além de não fazer essa discussão interna sobre o tema, o projeto Misereor não tinha essa discussão como eixo central. Sendo assim, nem o coletivo de organizações e movimentos antes de 2017 / 2018 fazia essa discussão do racismo, como observamos na ausência dessa pauta nas publicações e ações, nem o projeto Misereor tinha o tema como eixo central, passando o racismo a ser discutido com mais veemência no espaço com o documentário “Nossos mortos têm voz” e depois com o projeto financiado pela Fundação Ford.<br />
<br />
== As metamorfoses do movimento ==<br />
As “metamorfoses” do Fórum Grita Baixada tiveram um papel mais central para o grupo na maneira em que se discute violência na Baixada do que as mudanças na conjuntura política e na segurança pública. Diante da lógica do medo e da aproximação da população com um discurso conservador, era mais fácil acreditar que o fórum recuaria em suas ações em 2018, mas não foi o que aconteceu, sobretudo a partir da execução dos projetos. No entanto, não podemos deixar de destacar as transformações na violência, o que gerou novos debates no fórum e a sua própria fundação. Além disso, a conjuntura política colocou a organização mais num lugar de enfrentamento às práticas governamentais do que de colaboração, o que inicialmente era buscado nos encontros e reuniões com autoridades. O FGB se mostrou, parafraseando Raul Seixas, uma “metamorfose ambulante”, não mantendo “a velha opinião formada sobre” a violência na Baixada.<br />
<br />
Dada essa “metamorfose”, é possível dizer que de forma prática e teórica o Fórum Grita Baixada deixou de ser um movimento social e se tornou uma instituição não formalizada do terceiro setor. Ele não é mais o espaço onde apenas se discute a violência e possíveis soluções coletivas para superar os problemas; isso é até feito, mas no âmbito da execução de projetos, diferentemente do período pós-fundação onde as proposições saíam do grupo (pessoas, movimentos e organizações).<br />
<br />
A própria estrutura do Fórum Grita Baixada, com a “equipe liberada” (quem recebe mensalmente para trabalhar no fórum) sendo financiada pelos projetos, fez com que boa parte da dedicação desta equipe (coordenação geral, articulação territorial e comunicação) fosse para as ações que foram acordadas com o financiador. Com isso, o espaço da “coordenação ampliada” tornou-se o momento em que outras ideias e ações poderiam surgir, desde que os membros assumissem a execução das tarefas, pois a equipe contratada tem um conjunto de ações para desenvolver, a partir da gestão dos projetos. No entanto, desde a chegada de novos projetos para além da Misereor, ficou mais difícil a “equipe liberada” assumir outras ações. Com a pandemia e o esvaziamento do espaço de coordenação ampliada pela ausência de encontros, o FGB passou a se dedicar mais à execução dos projetos. Não estou aqui questionando a efetividade dos projetos, nem a relevância, pelo contrário, o que muda nesse processo é a caracterização do fórum enquanto movimento social.<br />
<br />
O Fórum enquanto movimento social encontrou dificuldades ao longo dos anos em discutir a violência na Baixada Fluminense, pois as pessoas esbarram no medo e num campo fluido de ideias, onde vários temas podem ser abordados para mobilizar e aconchegar pessoas e coletivos da região. Quando a equipe de coordenação liberada passa a se dedicar quase integralmente à execução dos projetos, fica mais evidente a pauta da segurança pública e com um perfil progressista que envolve discussões sobre o racismo e a defesa dos direitos humanos, mesmo numa conjuntura mais desfavorável do que no período da fundação do Fórum Grita Baixada. <br />
<br />
A mudança na discussão sobre racismo vai além da atuação do fórum, até mesmo nas pesquisas há uma mudança na centralidade dessa discussão. Simões (2011)<ref>SIMÕES, Manoel Ricardo. '''Ambiente e sociedade na Baixada Fluminense'''. Mesquita: Editora Entorno, p. 1-358, 2011.</ref> e Alves (2003)<ref>ALVES, José Cláudio Souza. '''Dos barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada Fluminense'''. Associação de Professores e Pesquisadores de História, CAPPH-CLIO, 2003.</ref> não trouxeram em suas obras o debate do conceito de racismo ao retratar a realidade da Baixada Fluminense. A própria história mais contada sobre o processo de ocupação da Baixada traz o migrante nordestino como principal responsável pela ocupação do território, mas não há um debate que racializa esse migrante. Quando comparamos os mapas produzidos pela Casa Fluminense é possível identificar o fator cor como indicador paralelo aos indicadores de desigualdade. <br />
<br />
Mapa - Percentual de população preta ou parda em relação ao total de habitantes.<br />
<br />
[[File:Imagem1.png|thumb|center|800px|Mapa]]<br />
<br />
Fonte: Casa Fluminense<br />
<br />
O mapa acima revela que a população negra da Região Metropolitana do Rio de Janeiro está em sua maioria nas áreas periféricas, sobretudo na Baixada Fluminense. Quando observamos os eixos Barra da Tijuca e Zona Sul da capital, e Niterói, é possível identificar uma predominância de brancos nas áreas mais ricas destas cidades. Isso corrobora a afirmação de que a desigualdade social está relacionada com o racismo. A metodologia utilizada pela Casa Fluminense foi através da soma dos valores percentuais da população de pardos e pretos, conforme definição do IBGE. Sendo assim, com a academia, as instituições e a sociedade evidenciando o debate sobre o racismo, o Fórum Grita Baixada acompanhou também esse processo validando a hipótese que as organizações da sociedade civil de uma forma geral vivem numa constante atualização no seu discurso, incluindo nos últimos anos o combate ao racismo enquanto principal bandeira, contribuindo para uma visão diferente sobre a segurança pública em territórios periféricos. Nesse sentido, até mesmo os financiamentos para as instituições e as linhas de atuação foram reformulados a partir dessa demanda interna e externa para debater o tema, tendo como evidência os indicadores de cor / raça que não eram disponibilizados anteriormente quando se abordavam as diferentes políticas públicas, incluindo a segurança.<br />
<br />
== Considerações finais ==<br />
Como lição para outros movimentos sociais e organizações da sociedade civil, a discussão sobre violência na Baixada não é trivial e passa por estratégias de ação que garantam a segurança dos mobilizadores. É muito difícil juntar pessoas para falarem sobre temas mais diretos, como homicídios, milícias, violência política, ações que mexam com a economia das organizações criminosas, violência do Estado, dentre outras situações que envolvam atores locais. Mas é possível não só fazer ações sobre temas distintos à segurança pública, mesmo relacionando a ausência de políticas públicas a má qualidade de vida da população, é possível falar de segurança abordando o tema do racismo, popularizando a ideia de "necropolítica" e ampliando o imaginário sobre os direitos humanos. Essas discussões foram feitas pelo FGB no âmbito da execução de projetos financiados, principalmente nas exibições populares do documentário “Nossos mortos têm voz”, o que envolve uma equipe menor, uma tomada de decisão mais direta e a necessidade de prestar contas ao financiador. Esse caminho pode ser a curto prazo o mais rápido para garantir que esse tipo de assunto seja colocado em pauta na região.<br />
<br />
No entanto, esse método enfrenta problemas. A descaracterização enquanto movimento social pode a longo prazo fazer com que o FGB deixe de existir caso não tenha mais financiamento. Ao contrário do início da trajetória, em que as ações eram na maioria voluntárias e a participação envolvia mais membros do que a “equipe liberada”, a comodidade da execução por parte dessa equipe e o resultado positivo da gestão de projetos, afastou boa parte da coordenação ampliada e de membros antigos do fórum do processo de execução, tornando-os na maioria “simpatizantes ou conselheiros”, dando este formato, mesmo que informal, de instituição da sociedade civil. <br />
<br />
Em 2022, o FGB completou 10 anos com um histórico robusto de ações pela Baixada Fluminense. Essas ações foram reconhecidas publicamente, tanto que o fórum foi indicado pelo mandato dos deputados Waldeck Carneiro e André Ceciliano a receber a Medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Atualmente, com a estratégia de informação, de produzir relatórios e boletins, o fórum se prepatica. Esse tipo de inspiração em organizações da sociedade civil, como a Casa Fluminense, é algo a ser mantido e pode no futuro colocar o fórum como um "player" para o poder público da segurança pública na Baixada, desde que a conjuntura possibilite esse tipo de atuação. A estratégia de mobilização também é necessária para engajar mais pessoas e tentar ao máximo criar vínculos que possibilitem a continuidade do fórum mesmo sem os financiamentos atuais. <br />
<br />
Ao falar de futuro, o grande desafio será a sustentabilidade. Ao contrário do passado em que movimentos locais na Baixada mantinham a atuação sem recursos, mesmo que reduzido o alcance, devido o suporte principalmente da Igreja Católica, atualmente esse tipo de ação não é mais prioridade, além da própria Igreja ter reduzido o número de fiéis e a influência de outrora. No formato atual na qual o fórum se transformou será necessário garantir recursos para a execução de projetos ou precisará voltar a suas origens de “fórum” e “movimento social”, entendendo melhor as estratégias para continuar falando de violência, sem perder o foco com a enxurrada de outros temas.<br />
<br />
Podemos concluir também que há um vácuo de um movimento que aglutina várias pautas da região, uma espécie de “fórum de lutas da Baixada”. Durante quase uma década, o FGB foi também esse espaço. Por essa ausência e pelo nome escolhido para o Fórum Grita Baixada muitas pessoas acreditavam que este seria o espaço onde os diversos movimentos da região pautaram suas lutas e reivindicações. O não entendimento ou a necessidade de transformar o FGB nesse espaço foi também um entrave durante os anos para um foco maior na pauta da violência. Para o futuro, precisa ficar claro que o Fórum Grita Baixada tem como prioridade a discussão sobre a violência, a partir daquilo que é enviado para os financiadores. Caso contrário, no planejamento é necessário expandir as temáticas com futuros financiadores ou dividir melhor essas ações com a coordenação ampliada. São desafios do presente e do futuro.<br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
<references /><br />
ALMEIDA, Douglas Monteiro de. '''Como falar de violência na periferia? O Fórum Grita Baixada e os discursos sobre a segurança pública na Baixada Fluminense''' / Douglas Monteiro de Almeida. – 2022. Orientadora: Palloma Valle Menezes. Tese de Doutorado em Sociologia - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos Sociais e Políticos. <br />
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[[Categoria:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]<br />
[[Categoria:Temática - Violência]]<br />
[[Categoria:Segurança Pública]]<br />
[[Categoria:Baixada Fluminense]]<br />
[[Categoria:Violência Policial]]<br />
[[Categoria:Direitos Humanos]]<br />
[[Categoria:Movimento negro]]<br />
[[Categoria:Justiça racial]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Coletivo_Tereza_de_Benguela&diff=20238Coletivo Tereza de Benguela2023-07-18T14:38:36Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>O Coletivo Tereza de Benguela, luta pela valorização e reconhecimento do trabalho das diaristas. Passando pela garantia de direitos, remuneração adequada, respeito à jornada de trabalho e tratamento digno à toda trabalhadora deste país.<br />
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco <br />
Fonte: Materiais reproduzidos a partir de canais de comunicação do Coletivo Tereza de Benguela e [https://prosas.com.br/empreendedores/7650-tereza-de-benguela-coletivo-de-faxinas-de-bh#!#tab_vermais_descricao;https:%2F%2Fperiferiaviva.org.br%2Fblog%2Fcoletivo-tereza-de-benguela%2F;https:%2F%2Fperiferiaviva.org.br%2Fblog%2Fapadrinhe-uma-de-nos-tereza-de-benguela%2F outras fontes].<br />
[[Arquivo:Coletivo Tereza de Benguela (Belo Horizonte – MG) - Logo.png|alt=Coletivo Tereza de Benguela (Belo Horizonte – MG)|centro|miniaturadaimagem|'''Coletivo Tereza de Benguela (Belo Horizonte – MG) - Logo''']]<br />
<br />
== Sobre ==<br />
[[Arquivo:Sobre - Coletivo Tereza de Benguela.png|alt=Sobre - Coletivo Tereza de Benguela|miniaturadaimagem|Sobre - Coletivo Tereza de Benguela]]<br />
A Quilombola [[Forjar|Tereza de Benguela]], homenageada pelo Coletivo, é um símbolo para a mulher negra, uma heroína que viveu no Mato Grosso no século XVIII e liderou o Quilombo de Quariterê.<br />
<br />
O Coletivo reuniu várias mulheres que realizam o trabalho de faxinas na cidade de Belo Horizonte e região metropolitana e essa união surgiu como uma forma de buscar mais valorização no mercado de trabalho. Afinal, mesmo sendo um trabalho informal e ainda visto como de servidão é um trabalho digno e que tem valor em empresas e casas.<br />
<br />
A luta visa o fortalecimento das mulheres com o intuito de evitar o lugar de exploração e assim mudar um quadro social imposto. Há também a necessidade de mudar a visão da sociedade com relação as pessoas que realizam faxinas e desconstruir o estigma de que faxineiras são pessoas mal remuneradas e que não deram “certo na vida”.<br />
<br />
O coletivo tem ainda a intenção de ensinar a essas mulheres, valores como: o fortalecimento feminino, trabalho em equipe, economia financeira doméstica, [[Associação de Mulheres da Economia Solidária (AMESOL)|economia solidária]] e o empreendedorismo. Além disso, auxiliamos as diaristas com o fornecimento de cestas básicas e apoio para se manterem até que possam fazer isto sozinhas. O trabalho é feito por meio de pedidos de ajuda na arrecadação de alimentos. Promovemos rodas de conversas com apoio psicológico, oficinas de capacitação e bem estar à saúde das diaristas.<br />
<br />
== Propósitos ==<br />
<br />
=== Missão ===<br />
Fortalecimento, Trabalho em equipe, Economia solidária.<br />
<br />
=== Visão ===<br />
Objetivar ações que promovam igualdade de direitos e a ressignificação do trabalho doméstico.<br />
<br />
=== Valores ===<br />
Solidariedade, Empatia, Resistência.<br />
<br />
== Quem foi Tereza de Benguela ==<br />
[[Arquivo:Tereza de Benguela.png|alt=Tereza de Benguela|miniaturadaimagem|Tereza de Benguela]]<br />
<br />
<br />
<br />
Tereza liderou, após a morte de seu marido, no século XVIII, o maior quilombo da região onde hoje é o estado do Mato Grosso, perto da fronteira com a Bolívia. O Quilombo de Quariterê, onde era conhecida como Rainha Tereza, abrigava mais de 100 pessoas, entre africanos e indígenas. A administração do quilombo era realizada por uma espécie de parlamento. O que era decidido ali tinha que ser obedecido com muita disciplina, o que fez com que a resistência ganhasse força econômica e militar – a fartura do quilombo era maior que a vila mais próxima na região aurífera de Mato Grosso.<br />
<br />
Após várias ofensivas das forças oficiais contra o quilombo, Tereza amuou e, logo depois, morreu. Para homenageá-la, em 2014, a presidenta Dilma Rousseff instituiu o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. <br />
<br />
== Projetos ==<br />
“Buscamos o fortalecimento dessas mulheres para que possam evitar e dizer não em situações de exploração. E, assim, mudar um quadro social em que as pessoas acreditam que quem realiza faxinas não deu certo na vida.”<br />
<br />
- Renata Aline Oliveira, coordenadora do coletivo<br />
<br />
=== Apadrinhe uma de nós ===<br />
Como resposta às necessidades econômicas diante da distanciamento social, o grupo de mulheres diaristas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) que compõem o Coletivo de Faxinas Tereza de Benguela criou a campanha “Apadrinhe uma de nós”. Durante quatro meses, o apadrinhador colabora com até R$120,00 para uma das trabalhadoras do coletivo. O valor arrecadado vai ajudar a trabalhadora a pagar as contas, a comprar alimentos e medicamentos e arcar com as necessidades básicas de suas famílias, diante da diminuição do número de faxinas.<br />
<br />
<br />
'''TEREZA DE BENGUELA COLETIVO DE FAXINEIRAS DE BH | #25deJulho'''<br />
<br />
{{#evu: https://www.youtube.com/watch?v=Bd81_4VGog0}}<br />
<br />
== Contatos e Redes Sociais ==<br />
Facebook [https://www.facebook.com/terezadebenguelacoletivo @terezadebenguelacoletivo] <br />
<br />
Instagram [https://www.instagram.com/coletivoterezadebenguela @coletivoterezadebenguela] <br />
<br />
E-mail: coletivoterezadebenguela@gmail.com<br />
<br />
[[Categoria:Belo Horizonte]]<br />
[[Categoria:Economia solidária]]<br />
[[Categoria:Trabalho coletivo]]<br />
[[Categoria:Ressignificação]]<br />
[[Categoria:Trabalho doméstico]]<br />
[[Categoria:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]<br />
[[Categoria:Temática - Ativismo]]<br />
[[Categoria:Vídeos]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Rolezinho&diff=19569Rolezinho2023-06-30T14:07:06Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div> '''Autoras: Gizele Martins e Thais Cavalcante.'''<br />
<br />
== Sobre ==<br />
Era para ser um simples passeio entre amigos, mas virou uma afirmação de identidades e estilos quando estes passaram a ser proibidos de circularem em locais como os shoppings da cidade. Hoje, é uma manifestação cultural e conjunta da [[:Categoria:Juventude|juventude]] para afirmação e busca pelo direito à cidade. Virou a afirmação de identidades, de estilos, além de mostrar que é necessário atravessar os muros invisíveis da cidade e é possível se manifestar em espaços ditos particulares, fechados ao grande público. Na [[Complexo da Maré|Maré]], o rolezinho também virou febre quando a juventude mareense passou a dizer que é preciso sim ocupar a cidade, a disputar os espaços que historicamente disseram que não eram nossos. Na [[Complexo da Maré|Mar]]<nowiki/>é, ainda é difícil circular pela própria favela, mas o rolezinho que virou febre nacional, nos deu exemplo de que é necessário ocupar as ruas, os espaços, a favela, a cidade. Visto de forma negativa pelas elites, o rolezinho é um instrumento de afirmação de direitos da juventude. Na Maré, o rolezinho acontece como forma de os jovens moradores de apropriarem do território. Mas a atividade também é um momento de troca, pois jovens de outras favelas também são convidados a participar e compartilhar experiências.<br />
<br />
== Documentário "Hiato" (2008) ==<br />
<br />
'''Ficha técnica''': 20'00" | MiniDV | Cor NTSC | Estéreo | 16:9 | 2008 | Brasil<br />
<br />
'''Direção''': Vladimir Seixas<br />
<br />
'''Roteiro''': Vladimir Seixas e Maria Socorro e Silva<br />
<br />
'''Montagem''':&nbsp;Ricardo Moreira e Roberta Rangé<br />
<br />
'''Fotografia''': Maurício Stal e Vladimir Seixas<br />
<br />
'''Som direto''': Vitor Kruter e Helen Ferreira<br />
<br />
'''Assistente de finalização''': Juliana Oakim<br />
<br />
'''Sinopse''': Em agosto de 2000 um grupo de manifestantes organizou uma ocupação em um grande shopping da zona sul carioca. O episódio obteve grande repercussão na imprensa nacional e ainda hoje é discutido por alguns teóricos. O filme recuperou imagens de arquivo e traz entrevistas de alguns personagens 7 anos após essa inusitada manifestação.<br />
<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=UHJmUPeDYdg}}<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
== Veja também ==<br />
*[[Mobilidades]] <br />
*[[Mobilidade Urbana e o impacto da violência na vida das favelas no Rio de Janeiro (artigo)]]<br />
*[[Mobilidade urbana e direito à cidade no Complexo do Alemão (livro)]]<br />
*[[Direito à cidade: a favela circulando (live)]]<br />
*[[Direito à Favela]]<br />
*[[A cor da mobilidade (artigo)]]<br />
<br />
[[Category:Direito à cidade]] [[Category:Maré]] [[Category:Lazer]] [[Category:Temática - Juventude]] [[Category:Temática - Mobilidades]] [[Category:Filmes]] [[Category:Documentários]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Jornadas_de_Junho_de_2013_no_Rio_de_Janeiro&diff=19568Jornadas de Junho de 2013 no Rio de Janeiro2023-06-30T14:05:37Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div> Autor: Arthur William Cardoso Santos.<br />
<p style="text-align: center;">[[Arquivo:Jornadas de Junho- 20 de junho 2013 Rio de Janeiro.jpg|alt=Protesto - 20 de junho de 2013 no Rio de Janeiro|700x700px|RTENOTITLE|frame|Protesto de 20 de Junho de 2013 na Avenida Presidente Vargas. Foto de Arthur William Santos]]</p><br />
<br />
==Jornadas de Junho de 2013==<br />
<br />
As Jornadas de Junho foram uma série de protestos organizados em todo o Brasil no contexto do direito à cidade. Nasceu como um movimento contrário ao aumento das tarifas dos ônibus urbanos, mas estendeu sua pauta a outros temas ligados aos megaeventos como gentrificação, opressão policial em favelas ([[UPP- A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro (resenha)|UPP]]), corrupção e falta de participação social nas esferas de governo. No Rio de Janeiro, as mobilizações começaram em junho de 2013 e terminaram em julho de 2014, ocasião da final da Copa do Mundo realizada no estádio do Maracanã. Na véspera do último ato, a Polícia Civil tornou pública a Operação Firewall, que investigou os grupos atuantes nas Jornadas de Junho e ordenou a prisão de 26 ativistas. Entre 2007 e 2016, a cidade sediou um conjunto de eventos internacionais que impactaram sua dinâmica social<ref>[https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/19200 SANTOS, Arthur William Cardoso. Rebaixada: hub da multidão inteligente durante os megaeventos. 2015. 108 f. Dissertação (Mestrado em Educação, Cultura e Comunicação) - Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, 2015.]</ref><ref>[https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=25438@1 SOUTO, Luisa Santiago Vieira Souto. Dissertação apresentada no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais. Rio de Janeiro, 2015.]</ref><ref>[https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=54879@1 TEIXEIRA, Antonio Claudio Engelke Menezes. INTERNET E DEMOCRACIA: COOPERAÇÃO, CONFLITO E O NOVO ATIVISMO POLÍTICO. Tese de doutorado apresentada como requisito parcial para obtenção de grau de doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2014.]</ref>: Jogos Pan-Americanos (2007), Jogos Mundiais Militares (2011), Rio+20 (2012), Copa das Confederações (2013), Jornada Mundial da Juventude (2013), Copa do Mundo (2014), Olimpíadas (2016) e Paralimpíadas (2016). O movimento brasileiro também ocorreu em sintonia com outras ações similares pelo mundo, como Primavera Árabe (2010), Occupy Wall Street (2011), 15M/Indignados (2011)<ref>https://revista.ibict.br/liinc/article/view/3764</ref> e Praça Taksim (2013)<ref>https://raquelrolnik.wordpress.com/2013/06/04/praca-taksim-protestos-em-istambul-pelo-direito-a-cidade/</ref>.<br />
<br />
==Pautas==<br />
<br />
===Mobilidade Urbana===<br />
Os protestos de Junho de 2013 tiveram início após o aumento de 20 centavos na tarifa dos ônibus urbanos do Rio de Janeiro. Após o recuo da Prefeitura, a pauta passou a ser a “Tarifa Zero”. Em paralelo, a Câmara dos Vereadores instalou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os problemas no transporte público da capital carioca. Em julho de 2013, um protesto foi organizado na frente do hotel Copacabana Palace, onde ocorria o casamento da neta do maior empresário de ônibus do Rio, Jacob Barata. O ato ficou conhecido como o “Casamento da Dona Baratinha”. Já em 2014, as manifestações passaram a focar em outros meios de mobilidade urbana, como trens e barcas.<br />
<br />
===Megaeventos===<br />
Entre 2013 e 2014, o Rio vivenciou três megaeventos. Neste contexto, foram várias as manifestações contrárias aos problemas que esses eventos traziam para os moradores da cidade. Em Junho de 2013, por exemplo, o segundo grande protesto aconteceu justamente durante partida da Copa das Confederações no Maracanã. Um mês depois, já ocorria a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento da Igreja Católica que reuniu milhões de pessoas de todo o mundo na praia de Copacabana, após cancelamento do local previsto em Guaratiba por conta de chuvas no bairro. A demolição do estádio de atletismo Célio de Barros, a privatização do Maracanã e o incipiente legado da Copa também foram pautas de atos. <br />
<br />
===Gentrificação===<br />
Como face da reorganização urbana por conta dos megaeventos, a [[Gentrificação e Favelas Cariocas|gentrificação]] tornou patente a desigualdade social na cidade do Rio de Janeiro. Em dezembro de 2013, foi organizado um “Farofaço” na praia de Ipanema com o objetivo de protestar contra a discriminação na Zona Sul de banhistas de favelas e periferias. Já em janeiro de 2014, foi promovido um “[[Rolezinho]]” no Shopping Leblon, que fechou as portas na data marcada para impedir a entrada dos jovens da periferia.<br />
<br />
===Educação===<br />
Os profissionais da Educação tiveram grande protagonismo nas Jornadas de Junho de 2013. A greve da categoria mobilizou professores tanto da rede estadual, quanto do município do Rio. Os principais focos dos protestos foram a Câmara Municipal, na Cinelândia, e o Palácio Guanabara, em Laranjeiras. O período também contou com o fechamento da universidade Gama Filho e a tentativa de demolição da Escola Municipal Friedenreich, localizada nas proximidades do estádio do Maracanã.<br />
<br />
===Saúde===<br />
Apesar da demolição do hospital do IASERJ ter ocorrido em 2012, no ano posterior a mobilização ainda estava ativa. Em novembro de 2013, foi promovido o “Arrastão Cultural pela Saúde” na Praça da Cruz Vermelha cobrando a punição dos responsáveis pelo fechamento do hospital que funcionava no local.<br />
<br />
===Remoções===<br />
Uma das principais ações do poder público no contexto dos megaeventos foi a remoção de comunidades e ocupações com a justificativa do atendimento ao projeto de planejamento urbano. Aldeia Maracanã, Favela Metrô-Mangueira, Favela da Telerj e Vila Autódromo foram algumas das que sofreram com a violenta ação do Estado na tentativa de retirar seus moradores dos locais de moradia.<br />
<br />
===Violência Policial===<br />
A ocupação de favelas pela Polícia Militar através da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foi a maior ação do Estado no quesito da Segurança Pública durante os megaeventos. Com a grande opressão policial e o reduzido investimento social, moradores de favelas organizaram manifestações e se incorporaram a outras. No período, houve a morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza na favela da Rocinha e do idoso José Joaquim de Santana em Manguinhos. Junho de 2013 também ficou marcado pela Chacina de Maré, que resultou na morte de 10 pessoas. Outros protestos ocorreram por conta de prisões arbitrárias de manifestantes, como o estudante Bruno Ferreira Teles e o catador Rafael Braga.<br />
<br />
===Corrupção===<br />
As denúncias de corrupção contra o então governador Sérgio Cabral Filho o tornaram um dos maiores focos dos protestos entre 2013 e 2014 com manifestações em frente a seu apartamento no Leblon e na sede do Governo do Estado no Palácio Guanabara, com destaque para as seguintes: Ocupe Delfim Moreira, Ocupa Cabral, Cabralhada, Fora Cabral e Ocupa Guanabara.<br />
<br />
===Liberdade de Expressão===<br />
Além da repressão policial, os manifestantes das Jornadas de Junho de 2013 foram criminalizados pela mídia tradicional, por isso houve a promoção de protestos na sede da TV Globo no Jardim Botânico. A proibição do uso de máscaras nos protestos também foi alvo de mobilizações, assim como o impedimento da realização de bailes Funk nas favelas pela UPP.<br />
<br />
==Principais protestos==<br />
<br />
{| class="wikitable" style="margin:auto"<br />
|+ Protestos entre Junho de 2013 e Julho de 2014<br />
|-<br />
! Data !! Local !! Protesto<br />
|-<br />
| 13/06/2013 || Candelária-Cinelândia || Protesto contra o Aumento das Tarifas de Ônibus<br />
|-<br />
| 16/06/2013 || São Cristóvão || Protesto no jogo México x Itália (Copa das Confederações)<br />
|-<br />
| 17/06/2013 || Candelária-Cinelândia-ALERJ || Protesto contra o Aumento das Tarifas de Ônibus<br />
|-<br />
| 19/06/2013 || Niterói || Protesto contra o Aumento das Tarifas de Ônibus (Niterói)<br />
|-<br />
| 20/06/2013 || Av Presidente Vargas || O Gigante Acordou<br />
|-<br />
| 21/06/2013 || Duque de Caxias e Nova Iguaçu || Passeatas na Baixada Fluminense<br />
|-<br />
| 21/06/2013 || Leblon || Ocupe Delfim Moreira<br />
|-<br />
| 27/06/2013 || Av Rio Branco || Ato Nacional 'Tarifa Zero'<br />
|-<br />
| 30/06/2013 || Leblon || Ocupa Cabral<br />
|-<br />
| 30/06/2013 || Tijuca || Final da Copa das Confederações<br />
|-<br />
| 02/07/2013 || Favela da Maré || Ato Ecumênico (Chacina da Maré)<br />
|-<br />
| 03/07/2013 || Jardim Botânico || Ocupa TV Globo<br />
|-<br />
| 08/07/2013 || Botafogo || Protesto dos Moradores da Favela Santa Marta<br />
|-<br />
| 11/07/2013 || Centro || Ato Unificado dos Movimentos Sociais<br />
|-<br />
| 11/07/2013 || Palácio Guanabara || Ocupa Guanabara<br />
|-<br />
| 13/07/2013 || Copacabana || Casamento da Dona Baratinha<br />
|-<br />
| 14/07/2013 || Laranjeiras || Protesto no Palácio Guanabara<br />
|-<br />
| 17/07/2013 || Leblon || Ocupa Cabral<br />
|-<br />
| 19/07/2013 || Rocinha || Cadê o Amarildo<br />
|-<br />
| 22/07/2013 || Palácio Guanabara || Visita do Papa Francisco<br />
|-<br />
| 25/07/2013 || Leblon || Missa de 7º dia dos Manequins da Toulon<br />
|-<br />
| 26/07/2013 || Copacabana || Protesto na JMJ<br />
|-<br />
| 27/07/2013 || Copacabana || Marcha das Vadias<br />
|-<br />
| 01/08/2013 || Rocinha || Cadê o Amarildo?<br />
|-<br />
| 07/08/2013 || Jardim Botânico || Protesto na TV Globo<br />
|-<br />
| 08/08/2013 || - || Greve dos Profissionais da Educação<br />
|-<br />
| 08/08/2013 || Centro || Ocupação da Câmara dos Vereadores (CPI dos Ônibus)<br />
|-<br />
| 11/08/2013 || Rocinha || Cadê o Amarildo?<br />
|-<br />
| 12/08/2013 || Laranjeiras || Protesto no Palácio Guanabara<br />
|-<br />
| 14/08/2013 || Botafogo || Protesto no Palácio da Cidade<br />
|-<br />
| 17/08/2013 || Alto da Boa Vista || Protesto no casa do prefeito Eduardo Paes<br />
|-<br />
| 18/08/2013 || Copacabana || Protesto de professores em greve<br />
|-<br />
| 19/08/2013 || Centro e Catete || Protestos no Centro e na Zonal Sul<br />
|-<br />
| 21/08/2013 || Botafogo || Ato contra privatização do Maracanã<br />
|-<br />
| 22/08/2013 || Leblon-Ipanema || Ato contra o genocídio negro<br />
|-<br />
| 27/08/2013 || Laranjeiras e Lapa || Ato Fora Cabral<br />
|-<br />
| 03/09/2013 || Cinelândia || 1º Grande Baile de Máscaras - Pelo livre direito a manifestação<br />
|-<br />
| 07/09/2013 || Centro || Grito dos Excluídos<br />
|-<br />
| 07/09/2013 || Laranjeiras || Protesto Palácio Guanabara<br />
|-<br />
| 25/09/2013 || Centro || Protesto na ALERJ<br />
|-<br />
| 26/09/2013 || Cinelândia || Professores ocupam Câmara dos Vereadores<br />
|-<br />
| 28/09/2013 || Cinelândia || Professores são retirados da Câmara dos Vereadores<br />
|-<br />
| 01/10/2013 || Centro || Protesto de Professores na Câmara de Vereadores<br />
|-<br />
| 04/10/2013 || Tijuca-Cidade Nova || Protesto de Professores na Prefeitura<br />
|-<br />
| 07/10/2013 || Centro || Protesto de Professores na Câmara de Vereadores<br />
|-<br />
| 15/10/2013 || Centro || Dia do Professor<br />
|-<br />
| 17/10/2013 || Gávea || Black PUC<br />
|-<br />
| 22/10/2013 || Barra da Tijuca || Leilão do Petróleo<br />
|-<br />
| 31/10/2013 || Centro || Grito da Liberdade<br />
|-<br />
| 06/11/2013 || Cinelândia || Nova ocupação da Câmara dos Vereadores<br />
|-<br />
| 07/11/2013 || Prefeitura do Rio || Ato contra a remoção da Vila Autódromo<br />
|-<br />
| 08/11/2013 || Cinelândia || Greve de Fome<br />
|-<br />
| 20/11/2013 || Cinelândia || 1° UPP - UH UH UH Prêmio de Protestos<br />
|-<br />
| 29/11/2013 || IASERJ || Arrastão Cultural pela Saúde<br />
|-<br />
| 30/11/2013 || Jardim Botânico || Ato Abaixo a Rede Globo<br />
|-<br />
| 01/12/2013 || Cinelândia || Gravação do vídeo 'Hoje a rua é sua, a rua é nossa, é de quem vier, quem quiser'<br />
|-<br />
| 02/12/2013 || Copacabana || Ato contra o governador Sérgio Cabral<br />
|-<br />
| 06/12/2013 || Maracanã || Ato no Célio de Barros<br />
|-<br />
| 07/12/2013 || Maré || 5 anos da morte do menino Matheus<br />
|-<br />
| 07/12/2013 || Santa Teresa || Back on Track - de volta aos trilhos<br />
|-<br />
| 08/12/2013 || Ipanema || Farofaço<br />
|-<br />
| 08/12/2013 || Copacabana Palace || Protesto contra Bill Clinton<br />
|-<br />
| 15/12/2013 || Maracanã || Remoção da Aldeia Maracanã<br />
|-<br />
| 18/12/2013 || Manguinhos || Morte de morador na UPP<br />
|-<br />
| 20/12/2013 || Candelária-Cinelândia || Protesto contra o Aumento das Tarifas de Ônibus<br />
|-<br />
| 21/12/2013 || Ipanema || Toplessaço<br />
|-<br />
| 23/12/2013 || Cinelândia || Celebração da Rua - Mais amor, menos capital<br />
|-<br />
| 07/01/2014 || Mangueira || Remoção da Favela Metrô-Mangueira<br />
|-<br />
| 09/01/2014 || Maracanã || 1 ano sem o estádio Célio de Barros<br />
|-<br />
| 10/01/2014 || Linha Vermelha || Protesto na Linha Vermelha<br />
|-<br />
| 12/01/2014 || Praça XV || Abertura não oficial do Carnaval (OcupaCarnaval)<br />
|-<br />
| 14/01/2014 || Centro || Protesto de alunos da Gama Filho<br />
|-<br />
| 16/01/2014 || Centro || Ato contra o aumento da passagem<br />
|-<br />
| 19/01/2014 || Leblon || Rolezinho no Shopping Leblon<br />
|-<br />
| 25/01/2014 || Copacabana || Copa para quem?<br />
|-<br />
| 28/01/2014 || Central do Brasil || Catracaço<br />
|-<br />
| 28/01/2014 || Central do Brasil || Passe Livre na Supervia<br />
|-<br />
| 06/02/2014 || Av Presidente Vargas || Protesto na Central do Brasil<br />
|-<br />
| 10/02/2014 || Centro || Ato contra o aumento das passagens<br />
|-<br />
| 13/02/2014 || Av Presidente Vargas || Grande Ato pela redução das passagens<br />
|-<br />
| 20/02/2014 || Praça XV || Ato contra o aumento das passagens (Barcas)<br />
|-<br />
| 25/02/2014 || Centro || Ato Unificado contra a Criminalização das Lutas<br />
|-<br />
| 27/02/2014 || Centro || Cabralhada / OcupaCarnaval<br />
|-<br />
| 28/02/2014 || - || Greve dos Garis<br />
|-<br />
| 09/03/2014 || Tijuca-Maracanã || BlocAto<br />
|-<br />
| 11/04/2014 || Engenho Novo || Remoção da Favela da Telerj<br />
|-<br />
| 27/04/2014 || Santa Marta || Copa Popular<br />
|-<br />
| 12/06/2014 || Lapa || Início da Copa do Mundo<br />
|-<br />
| 16/06/2014 || Tijuca-Maracanã|| Jogo da Copa no Maracanã<br />
|-<br />
| 13/07/2014 || Tijuca || Final da Copa do Mundo<br />
|}<br />
<br />
==Grupos e ativistas==<br />
<br />
*Projetação<br />
Coletivo que promoveu a projeção de palavras de ordem e imagens de protesto em prédios públicos e locais de visibilidade. O grupo utilizava um projetor ligado a um gerador para ganhar curtidas e compartilhamentos nas redes sociais a partir da viralização de fotos com suas projeções, a exemplo da pergunta “Cadê o Amarildo?” na fachada do prédio do então governador Sérgio Cabral Filho.<br />
<br />
*DDH<br />
Com presença no Rio de Janeiro, o Instituto dos Defensores de Direitos Humanos (DDH) reunia advogados remunerados e voluntários com o objetivo de prestar assistência jurídica aos manifestantes detidos. O instituto trabalhou na defesa do catador Rafael Braga Vieira, preso em 20 de junho de 2013 com uma garrafa de desinfetante, material interpretado pelos policiais como potencial explosivo. O DDH divulgou o relatório da Operação Firewall com a lista dos grupos acusados de organizarem as manifestações entre 2013 e 2014.<br />
<br />
*Rio na Rua<br />
O Rio na Rua foi uma das iniciativas de midiativismo de maior destaque que procurou compartilhar o conhecimento e a operação de suas coberturas. Lançou em 23 de julho de 2013 um manual ensinando a transmitir pelo aplicativo Twitcasting. Foi o primeiro grupo a criar um site com o software livre Wordpress, reunindo os conteúdos que publicava no Facebook e no YouTube, como também um dos primeiros a realizar parcerias com outros coletivos. No final de 2013, o Rio na Rua e outras sete iniciativas gravaram uma paródia do vídeo de final do ano da TV Globo, na Cinelândia, com a figuração de midiativistas.<br />
<br />
*Mídia NINJA<br />
Idealizado pelo ex-editor da revista Trip, Bruno Torturra, e gestado pelo grupo Fora do Eixo, a Mídia NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) apresentou-se com a principal referência de midiativismo entre junho de 2013 e julho de 2014. Sua ação começou em São Paulo durante a manifestação de 18 de junho. O objetivo primeiro de sua criação no final de 2012 era iniciar uma seção de jornalismo da Pós TV, canal de transmissão online do Fora do Eixo, que existia desde 2011. Por meio de streaming, a Pós TV exibia debates e programas culturais, além de shows do seu próprio festival, o Grito Rock. O modelo bem-sucedido na capital paulista ganhou força no Rio de Janeiro, tendo seu ápice durante a visita do Papa Francisco em 22 de julho de 2013, quando o repórter NINJA Filipe Peçanha (vulgo “Carioca”) foi detido enquanto transmitia ao vivo. Formou-se então uma mobilização em frente à delegacia do Catete para onde foi levado o midiativista. No mesmo dia, o Jornal Nacional, principal telejornal da maior emissora do país, veiculou a entrevista que o grupo fizera com o jovem Bruno Ferreira Telles, acusado injustamente de atacar a polícia. Alguns dias depois, em 5 de agosto, o programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo entrevistou o grupo dando a maior visibilidade a sua atuação. Atuou ainda na organização das manifestações, inclusive criando protestos próprios como o “Grito da Liberdade” (31 de outubro de 2013) e a ocupação República, esta última que ocorreria na Cinelândia durante da Copa do Mundo e que acabou acontecendo no campus Praia Vermelha da UFRJ (3 a 10 de agosto de 2014).<br />
<br />
*Rafucko<br />
Entre 2013 e 2014, Rafael Puetter, conhecido como Rafuko, foi o principal símbolo do artivismo, uma mescla entre arte e ativismo. Teve destaque nas manifestações ao interpretar personagens, como o “Ditador Gay”, em diversos vídeos de ficção humorística. O “artivista” foi censurado pela Globo ao fazer uma montagem com o discurso do apresentador do Jornal Nacional, William Bonner. No carnaval de 2014, Rafael gravou paródias de famosas marchinhas, que fizeram parte do movimento “Ocupa Carnaval”, cujo objetivo era cantar músicas de protestos durante a maior festa brasileira. Outra ação de Rafucko foi a promoção de uma premiação simbólica das manifestações de 2013. Em 20 de novembro, realizou o “1° UPP - UH UH UH Prêmio de Protestos – Edição Rio de Janeiro”.<br />
<br />
*OcupaCarnaval<br />
Movimento que surgiu no carnaval de 2014 com a reunião de blocos e coletivos artivistas, o OcupaCarnaval fez paródias de famosas marchinhas com letras relacionadas às pautas dos protestos de 2013. O movimento organizou um desfile próprio, a ‘Cabralhada’ na Praça XV, em 27 de fevereiro de 2014, mas sua principal ação foi a distribuição de cópias impressas com as letras das paródias em diversos blocos do Rio de Janeiro. O objetivo era amplificar a luta pelo direito à cidade no contexto dos megaeventos. Ao final do Carnaval, o Ocupa Carnaval se uniu aos blocos ‘Nada Deve Parecer Impossível de Mudar’ e ‘Comuna Que Pariu’ para organizar o ‘BlocAto’, um cortejo entre a praça Saens Peña e o estádio do Maracanã. Os organizadores pediram que os presentes fossem com camisas laranjas em homenagem aos garis que estavam em greve.<br />
<br />
*Rede Alternativa<br />
A Rede Alternativa foi o primeiro coletivo midiativista criado pós junho de 2013 para cobrir os protestos. Reunião de jornais comunitários, movimento estudantil de comunicação e jornalistas de sindicatos e movimentos sociais, é a reconfiguração do grupo “Comunicadores Comunitários”, que identificou a necessidade de pensar e organizar uma cobertura das manifestações, principalmente depois da forte repressão policial à imprensa. A ideia de criar um novo nome veio à tona para preservar a organização anterior e ampliar a mobilização para novos parceiros.<br />
<br />
*A Nova Democracia<br />
Entre os grupos de midiativismo, A Nova Democracia (AND) foi o mais citado por outros coletivos. Utilizava linguagem jornalística em seus vídeos, com OFF de repórter, passagem e sonoras: tradicionais técnicas que não foram usadas no período por outras iniciativas como Mídia NINJA, Rio na Rua e Rafucko. A sede do jornal, no bairro de São Cristóvão, abrigou reuniões de midiativistas. Nestas oportunidades, discutia-se estratégias de cobertura para denunciar a violência policial e garantir o anonimato dos ativistas.<br />
<br />
*NPC<br />
O Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) é uma organização de formação de sindicalistas e comunicadores populares. Em funcionamento desde 1992, ajudou a formar ativistas que tiveram relevante papel nos protestos a partir de junho de 2013, principalmente os oriundos de favelas como Gizele Martins e Renata Souza, do jornal ‘O Cidadão’ da Maré, além de Jane Nascimento, liderança da Vila Autódromo. Entre seus colaboradores estava o cartunista Carlos Latuff. O NPC era coordenado pela jornalista sindical Claudia Santiago e pelo escritor italiano Vito Giannotti, autor de diversos livros sobre movimentos sociais. Apesar da formação dentro dos preceitos tradicionais do ativismo social, seus cursos proporcionaram encontros entre velhos e os novos coletivos, resultando num aprendizado conjunto dos dois grupos durante o contexto dos megaeventos.<br />
<br />
*Advogados Ativistas<br />
Grupo de advogados que atuava durante as manifestações garantindo os direitos dos ativistas presentes. Em geral, evitavam detenções irregulares por parte da Polícia Militar, além de acompanhar os manifestantes detidos na delegacia, atuando para sua soltura. Entre 2013 e 2014, lançaram duas edições do “Manual Prático do Manifestante” com orientações jurídicas aos manifestantes. O grupo iniciou sua atuação em São Paulo.<br />
<br />
*Nada deve parecer impossível de mudar<br />
Criado em 2012 com a frase do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, o coletivo teve a ludicidade como uma de suas principais ações. Sua banda de percussão se apresentou em diversas manifestações entre 2013 e 2014.<br />
<br />
===Outros Grupos===<br />
{|<br />
|<br />
*Alfa Beto<br />
*Alalaô<ref>https://www.facebook.com/alalao.rio</ref><br />
*Aldeia Maracanã<br />
*Anonymous Rio<br />
*ApaFunk<br />
*Assembleia do Largo<br />
*Assembléia Popular<br />
*Auto Gestão<br />
*Batman Pobre<br />
*BeijATO<br />
*Black Bloc RJ<br />
*Bonde da Cultura<br />
*Brasil de Fato<br />
*Carlos Latuff<br />
*Censura Negada RJ<br />
*Central de Videoativismo<br />
*Choque de Ordem para Quem<br />
*Cine Subúrbio em Transe<br />
*Coletivo Calisto<ref>https://www.facebook.com/coletivocalistopagina</ref><br />
*Coletivo Carranca<br />
*Coletivo Fanfarra<br />
*Coletivo Intervozes<br />
*Coletivo Vinhetando<br />
*Comitê Popular Rio<br />
*Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas<br />
*CoVIL (Coletivo Videográfico Libertário)<br />
| <br />
*DasLutas<br />
*etnohaus<br />
*Favela não se cala<br />
*Fazendo Media<br />
*Focupação<br />
*Fora do Eixo<br />
*Fotógrafos Ativistas<br />
*Gapp<br />
*Jornal Zona de Conflito<br />
*Juntos<br />
*Laboratório de Ativismo e Comunicação<br />
*Linha de Frente<br />
*Linhas de Fuga<br />
*Los Vânda<br />
*Lutarmada Hip Hop<br />
*Mapping the Commons / Mapeamendo o bem Comum<br />
*Mariachi<br />
*Meu cu é laico<br />
*MIC (Mídia Independente Coletiva)<br />
*Mídia Gedai<br />
*Mídia Informal<br />
*Multidão Web<br />
*Não vai ter Copa<br />
*Northe Um<br />
*O Cidadão<br />
| <br />
*Ocupa Alemão<br />
*Ocupa Cabral<br />
*Ocupa Câmara<br />
*Ocupa Lapa<br />
*Oilo<br />
*Olhar Independente<br />
*Operation World Cup<br />
*Organização Anarquista Terra e Liberdade OATL<br />
*Pimenta do Fuleco<br />
*Porque eu quis<br />
*Pós TV<br />
*Real World Cup 2014<br />
*Reage Artista<br />
*Rio $urreal<br />
*Rio Distópico<br />
*Rio On Watch<br />
*Rio Riots<br />
*Web Realidade<br />
*Tavarez<br />
*Videoposter Livre<br />
*Vinagre<br />
*Vírus Planetário<br />
*Visão da Favela Brasil<br />
*Voz das Ruas<br />
*Vozes das Comunidades<br />
*Zona de Conflito Mídia<br />
*ZUMBI<br />
|}<br />
<br />
==Operação Firewall==<br />
Operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro que investigou as manifestações entre 2013 e 2014. Seu relatório listou 73 grupos<ref>https://arthurwilliam.com.br/blog/robo-foi-incluido-no-inquerito-policial-que-investigou-as-jornadas-de-junho-de-2013/</ref> e ordenou a prisão de 26 ativistas <ref>https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-07/Presos%20na%20Opera%C3%A7%C3%A3o%20Firewall%20s%C3%A3o%20transferidos%20para%20pres%C3%ADdio</ref> na véspera da final da Copa do Mundo, quando estava programado um protesto saindo da Praça Sáenz Peña em direção ao estádio do Maracanã.<br />
<br />
<p style="text-align: center;"><br />
[[Arquivo:Inquerito policia civil operacao firewall jornadas junho 2013 copa do mundo.jpg|alt=Inquérito da Operação Firewall da Polícia Civil do Rio de Janeiro|700px|Inquérito da Operação Firewall da Polícia Civil do Rio de Janeiro]]<br />
</p><br />
<br />
==Linha do Tempo dos Protestos 2013-2014==<br />
<br />
<itimeline><br />
2013-06-13|Protesto contra o Aumento das Tarifas de Ônibus (Candelária-Cinelândia)<br />
2013-06-16|Protesto no jogo México x Itália (Copa das Confederações_<br />
2013-06-17|Protesto contra o Aumento das Tarifas de Ônibus (Candelária-Cinelândia-ALERJ)<br />
2013-06-19|Protesto contra o Aumento das Tarifas de Ônibus (Niterói)<br />
2013-06-20|O Gigante Acordou (Av Presidente Vargas)<br />
2013-06-21|Protesto contra o Aumento das Tarifas de Ônibus (Baixada Fluminense)<br />
2013-06-21|Ocupe Delfim Moreira<br />
2013-06-27|Ato Nacional 'Tarifa Zero'<br />
2013-06-30|Final da Copa das Confederações (Maracanã)<br />
2013-06-30|Ocupa Cabral<br />
2013-07-02|Ato Ecumênico na Maré<br />
2013-07-03|Ocupa TV Globo (Jardim Botânico)<br />
2013-07-08|Protesto dos Moradores da Favela Santa Marta<br />
2013-07-11|Ato Unificado dos Movimentos Sociais<br />
2013-07-11|Ocupa Guanabara<br />
2013-07-13|Casamento da Dona Baratinha <br />
2013-07-14|Protesto no Palácio Guanabara<br />
2013-07-17|Ocupa Cabral<br />
2013-07-17|Cadê o Amarildo<br />
2013-07-22|Visita do Papa Francisco (Palácio Guanabara)<br />
2013-07-25|Missa de 7º dia dos Manequins da Toulon<br />
2013-07-26|Protesto na JMJ (Copacabana)<br />
2013-07-27|Marcha das Vadias (Copacabana)<br />
2013-08-01|Cadê o Amarildo? (Rocinha)<br />
2013-08-07|Protesto na TV Globo<br />
2013-08-08|Greve dos Profissionais da Educação<br />
2013-08-09|Ocupação da Câmara dos Vereadores (CPI dos Ônibus)<br />
2013-08-11|Cadê o Amarildo? (Rocinha)<br />
2013-08-12|Protesto no Palácio Guanabara<br />
2013-08-14|Protesto no Palácio da Cidade<br />
2013-08-17|Protesto na casa do prefeito Eduardo Paes<br />
2013-08-18|Protesto de professores em Copacabana<br />
2013-08-19|Protestos no Centro e na Zona Sul<br />
2013-08-21|Ato contra privatização do Maracanã<br />
2013-08-22|Ato contra o genocídio negro<br />
2013-08-27|Ato Fora Cabral<br />
2013-09-03|1º Grande Baile de Máscaras<br />
2013-09-07|Grito dos Excluídos<br />
2013-09-07|Protesto Palácio Guanabara<br />
2013-09-26|Professores ocupam Câmara dos Vereadores<br />
2013-09-28|Professores são retirados da Câmara dos Vereadores<br />
2013-10-01|Protesto de Professores na Câmara de Vereadores<br />
2013-10-04|Protesto de Professores na Prefeitura<br />
2013-10-07|Protesto de Professores na Câmara de Vereadores<br />
2013-10-15|Dia do Professor<br />
2013-10-17|Black PUC<br />
2013-10-22|Leilão do Petróleo<br />
2013-10-31|Grito da Liberdade<br />
2013-11-06|Nova ocupação da Câmara dos Vereadores<br />
2013-11-07|Ato na Prefeitura contra a remoção da Vila Autódromo<br />
2013-11-08|Greve de Fome<br />
2013-11-20|1° UPP - UH UH UH Prêmio de Protestos<br />
2013-11-29|Arrastão Cultural pela Saúde (IASERJ)<br />
2013-11-30|Ato Abaixo a Rede Globo<br />
2013-12-01|Gravação do vídeo de final de ano<br />
2013-12-02|Ato contra Sérgio Cabral<br />
2013-12-06|Ato no Célio de Barros<br />
2013-12-07|5 anos da morte de menino Matheus (Maré)<br />
2013-12-07|Back on Track (Santa Teresa)<br />
2013-12-08|Protesto contra Bill Clinton<br />
2013-12-08|Farofaço<br />
2013-12-15|Remoção da Aldeia Maracanã<br />
2013-12-18|Morte de morador na UPP de Manguinhos<br />
2013-12-20|Protesto contra o Aumento das Tarifas de Ônibus (Candelária-Cinelândia)<br />
2013-12-21|Toplessaço<br />
2013-12-23|Celebração da Rua - Mais amor, menos capital<br />
2014-01-07|Remoção da Favela Metrô-Mangueira<br />
2014-01-09|1 ano sem o estádio Célio de Barros<br />
2014-01-10|Protesto na Linha Vermelha<br />
2014-01-12|Abertura não oficial do Carnaval<br />
2014-01-14|Protesto de alunos da Gama Filho<br />
2014-01-16|Ato contra o aumento da passagem<br />
2014-01-19|Rolezinho no Shopping Leblon<br />
2014-01-25|Copa para quem? (Copacabana)<br />
2014-01-28|Catracaço na Central do Brasil<br />
2014-01-30|Passe Livre na Supervia<br />
2014-02-06|Protesto na Central do Brasil<br />
2014-02-10|Ato contra o aumento das passagens<br />
2014-02-13|Grande Ato pela redução das passagens<br />
2014-02-20|Ato contra o aumento das passagens (Barcas)<br />
2014-02-25|Ato unificado contra a criminalização das Lutas<br />
2014-02-27|Cabralhada / OcupaCarnaval<br />
2014-02-28|Greve dos Garis<br />
2014-03-09|BlocAto<br />
2014-04-27|Copa Popular (Santa Marta)<br />
2014-04-11|Remoção da Favela da Telerj<br />
2014-06-12|Início da Copa do Mundo (Protesto na Lapa)<br />
2014-06-12| Jogo da Copa no Maracanã<br />
2014-07-13|Final da Copa do Mundo<br />
</itimeline><br />
<br />
==Ligações externas==<br />
*[https://web.archive.org/web/20161022082255/http://rebaixada.org/protestos/ Linha do Tempo dos protestos entre 2013 e 2014 - Web Archive - WayBack Machine]<br />
*[https://web.archive.org/web/20160319112026/http://rebaixada.com.br/midiativismo-no-rio-de-janeiro/ Grupos que atuaram nos protestos entre 2013 e 2014 - Web Archive - WayBack Machine]<br />
*[https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/24874/24874_5.PDF Cronologia das Jornadas de Junho (2013)]<br />
*[https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/19200/2/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20-%20Arthur%20William%20Cardoso%20Santos%20-%202015%20-%20Completa.pdf Rebaixada: hub da multidão inteligente durante os megaeventos]<br />
*[https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/25438/25438.PDF O Movimento Passe Livre e as Jornadas de Junho: Mobilidade e direito à cidade em pauta nas ruas]<br />
<br />
==Verbetes relacionados==<br />
*[[Vila Autódromo: remoção e resistência]]<br />
*[[Vila_Recreio_2_-_Sonhos_Demolidos_(documentário)|Vila Recreio 2 - Sonhos Demolidos (documentário]])<br />
*[[Núcleo Piratininga de Comunicação - NPC]]<br />
*[[Curso_de_Comunicação_Popular_do_NPC|Curso de Comunicação Popular do NPC]]<br />
<br />
==Referências==<br />
<references /><br />
<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Violência de Estado]]<br />
[[Categoria:Violência Policial]]<br />
[[Category:Comunicação Popular]]<br />
[[Category:Temática - Mídia e Comunicação]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Espa%C3%A7os_lugares_e_festas&diff=18778Espaços lugares e festas2023-05-31T18:14:01Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>Esse trabalho se propões apresentar uma breve reflexão sobre as alterações nas dinâmicas urbanas em dias de festas populares. Nesse trabalho serão abordadas duas festividades em locais e temporalidades diferentes. O arremate da folia de reis “Nova flor do oriente” localizada no bairro do [[Mutua]] no município de São Gonçalo, Rio de janeiro, acompanhado no dia 1 de setembro de 2018. E a [[Festa na Favela|festa]] de São Cosme e Damião, que foi acompanhada no dia 27 de setembro de 2019, na zona norte do Rio de janeiro.<br />
<br />
=== Folia de reis ===<br />
[[Arquivo:Folia de Reis Santa Marta - Ratão Diniz.jpg|miniaturadaimagem|Folia de Reis no Santa Marta]]<br />
A folia de reis é uma festa popular que ocorre anualmente, que visa representar de maneira festiva e ritual a viagem dos três reis magos (Melchior, Baltasar e Gaspar) a cidade de Jerusalém. Na bíblia cristã essa viagem tem como intuito visitar, presentear e adorar o recém-nascido Jesus. A folia de reis é dividida em dois momentos distintos. O primeiro conhecido como giro, que tem seu início no dia 25 de dezembro e tradicionalmente tem a data de<br />
termino prevista para o dia 6 de janeiro (dia de reis). Porem no Rio de Janeiro esse<br />
período é prolongado até o dia 20 de janeiro, que é o dia de São Sebastião o padroeiro<br />
da cidade. O segundo momento é o arremate que será o foco deste trabalho. A data do<br />
arremate pode variar de folia para folia, sempre priorizando escolher dias em que não<br />
aconteça qualquer outra folia, uma vez que ocorre visitas de outras folias, durante o<br />
arremate.<br />
Durante o giro as folias levam suas respectivas bandeiras à casa dos adeptos,<br />
em um período de peregrinação que é uma das primeiras representações simbólicas da<br />
história dos três reis magos. Da mesma maneira que Melchior, Baltasar e Gaspar<br />
viajaram para abençoar o menino Jesus, a folia realiza essas viagens em que ao chegar<br />
nas casas iram entoara cânticos em um ritual que visa abençoar o lar e os anfitriões.<br />
Esse período as relações entre os foliões e os adeptos se estreitam uma vez que em troca<br />
da benção os anfitriões retribuem com oferendas que tradicionalmente são pequenos<br />
banquetes em que ocorre um contato menos ritualístico e mais social.<br />
<br />
Na segunda parte acontece o arremate. O arremate é o fechamento do ciclo da<br />
folia e uma festa de rua que integra as folias, os adeptos e os bairros que estão<br />
localizadas as folias. Essa segunda parte também está separada em momentos distintos,<br />
que ocorre em espaços, alterando a dinâmica dos mesmos. Por mais que nesse trabalho<br />
busco recortar esses espaços para desenvolver a analise, gostaria de pontuar como<br />
marcado por Mendel, esses espaços estão constantemente em dialogo se<br />
complementando e se sobrepondo.<br />
A casa e seus diversos “lugares”:<br />
Acionando o conceito de lugares apresentado por Marc Augé em seu livro “Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade”<ref name=":0">AUGÉ, Marc. Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1994</ref>, busco analisar as<br />
mudanças causadas pela festividade no domínio da casa e mais à frente no domínio da<br />
rua. Lembrando que além do caráter festivo a folia é marcada pelo seu caráter<br />
ritualístico. Esse caráter ritualístico é o que mais marca a primeira etapa que ocorre<br />
dentro do ambiente privado das dependências do quintal do mestre Fumaça. Nesse<br />
momento podemos dividir o quintal em três setores específicos: o altar que se encontra<br />
a bandeira da folia, um ambiente nos fundos do quintal que funciona como um refeitório<br />
e a entrada do quintal em que ocorre a cerimonia da folia tendo em mente as múltiplas<br />
noções da categoria espaço como escrito por Roberto Da Matta “Não é preciso<br />
especular muito para descobrir que temos espaços concebidos como eternos e<br />
transitórios, legais e mágicos, individualizados e coletivos.”<ref name=":1" /> Pensado o lugar antropológico como conjuntos de elementos ordenados<ref name=":0" /> caracterizado pelo percurso da sua linguagem e pensando no caráter relativo do espaço apresentado por Agier <ref>AGIER, Michel. “Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos". São Paulo: Terceiro Nome, 2011.</ref>, analisemos o primeiro desses setores que será o espaço do refeitório. O refeitório foi o primeiro lugar que me dirigi, era início da noite e<br />
fui convidado para jantar com os foliões. Como dito por Mendel, no arremate a refeição<br />
tem um importante papel de agente na construção da sociabilidade para a folia. Nesse<br />
ambiente se destaca o palhaço que não se sentava a mesa com os outros foliões,<br />
mostrando a influência do rito naquele espaço, o estruturando fora das dimensões de<br />
uma simples casa. Esse espaço, por mais que entre na categoria transitório dentro desse<br />
cosmo da folia, materializa a narrativa do evento, personificando a rejeição do palhaço<br />
com sua carga negativa (uma vez que o mesmo representa um dos perseguidores) e<br />
rompe o caráter privado do lar com o fluxo de indivíduos que não necessariamente<br />
pertence aquele lar.<br />
<br />
O segundo setor que podemos abordar nesse trabalho um cômodo da casa que<br />
acomoda a bandeira da folia e seu altar, funcionando como uma espécie de santuário. Se<br />
encaixando dentro da categoria de espaço magico e novamente materializando as<br />
narrativas abraças pela Communita (MATTA, 1973). O palhaço novamente se destaca<br />
agora nesse espaço, uma vez que, para entrar nesse ambiente o folião vestido de palhaço<br />
deveria retirar sua máscara e pôr no chão virada para baixo, além de entrar de joelhos.<br />
Me foi explicado que o palhaço é a representação dos perseguidores de jesus<br />
que se arrependeram e se incumbiram da missão de afastar outros perseguidores. É<br />
interessante pensar que toda essa carga profana causa uma série de limitações na<br />
ocupação do “lugar”, tornando o espaço da casa para o palhaço mais próximo do<br />
universo individualista da rua do que de um espaço doméstico, que como descreve Da Matta, “todos são pessoas” ligados por algum tipo de vínculo, nesse caso o da<br />
hospitalidade.<br />
O terceiro espaço é o quintal em que ocorre a cerimonia da folia, além de ser<br />
um espaço de transito e conexão entre as múltiplas localidades em que a festa está<br />
situada, podendo ser encarado como um espaço “arruado” (MATTA,1997). No final da<br />
cerimonia o altar com a bandeira da folia é movido para esse espaço do quintal e a folia<br />
sai da dependência do quintal para a rua. Durante a noite outras folias iram entrar no<br />
quintal depositando suas bandeiras próximas do altar, além de se dirigir para o espaço<br />
que está funcionado como refeitório.<br />
A ocupação da rua:<br />
Da Matta em seu livro “[[Carnaval de rua na Maré|carnavais malandros e heróis]]” fala sobre como a festa<br />
do carnaval muda o planejamento urbano, fechando o comercio e o transito da cidade<br />
por exemplo. No nosso caso a festa tem o impacto diferente do carnaval, uma vez que<br />
em vez de fechar ele abre comércios momentâneos, através de barracas de bebidas, além<br />
ocupar as ruas noturnas da periferia. Além da ocupação do espaço, modifica a rotina da<br />
vizinhança, inclusive daqueles que não participam da folia, uma vez que a folia é<br />
marcada pela sua bateria, brincadeiras e rezas, contando inclusive com um carro de som.<br />
Ou seja, antes do evento como descreve Mendel há toda uma preocupação em avisar os<br />
vizinhos sobre o mesmo, principalmente por se tratar de um evento que dura até a<br />
manhã do dia seguinte.<br />
<br />
Essas mudanças causadas pela aptidão que as festas de rua têm de subverter o cotidiano<ref name=":1">DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5° edição. Rio de Janeiro: 199</ref> afetando a esfera do público e do privado, do individual ao<br />
coletivo, da casa a rua, materializando suas narrativas nos espaços urbanos e<br />
construindo seus lugares de festa. Outra importante festa de rua que causa mudanças nas<br />
dinâmicas urbanas, inclusive transformando “não-lugares” em lugares de festa, de<br />
devoção e de memória é o dia de São Cosme e São Damião.<br />
<br />
=== O dia de São Cosme e São Damião ===<br />
No dia 27 de setembro ocorre a mais relevante expressão de devoção aos<br />
santos Cosme e Damião (BARTOLO, 2018). Marcado pela distribuição de doces e<br />
brinquedos e devoções o dia causa uma movimentação incomum de crianças pela rua,<br />
além da penetração desses indivíduos em ambientes que não fazem necessariamente<br />
parte do seu cotidiano. Para discorrer sobre o assunto me apoiarei em algumas<br />
observações realizadas no dia 27 de setembro de 2019 em que acompanhei a<br />
distribuição de doces na zona norte da cidade do rio, em que fui acompanhado por<br />
Lucas Bartolo que além de tradicionalmente participar da distribuição de doces, realiza<br />
pesquisa sobre a festa. Tendo em mente os conceitos abordados de Da Matta o primeiro<br />
ponto que gostaria de abordar é a dinâmica da rua com condôminos, em especifico o<br />
condomínio que visitei em que reside o Lucas.<br />
Cheguei no condomínio no início da tarde e já acontecia a movimentação das<br />
crianças em busca de doces. Pelo fato de região onde moro (São Gonçalo) não ter essa<br />
tradição tão viva estranhei a movimentação das crianças desde a entrada do condomínio.<br />
Aparentemente esse fluxo da rua para o condomínio é normal, porem como aborda<br />
Bartolo o binarismo entre rua/casa está presente principalmente quando pensamos em<br />
categorias como “morador e gente de fora” levantadas por Bartolo em seu texto. É<br />
importante observar que mesmo com essas categorias não havia nenhum impedimento<br />
perante essas crianças. Dentro do condomínio outra dinâmica que alterava o cotidiano<br />
da cidade era a presença dos pais, em que muitos faltaram seus empregos para<br />
acompanhar seus filhos, reproduzindo a tradição de pegar doces e assim mantendo a<br />
mesma. Um dos motivos desse fluxo pode ser tradição do local em distribuir doce,<br />
como aponta Hobsbaw, a tradição tem uma forte aptidão de atração para sim.<br />
Pensando em tradição, gostaria de abordar um outro momento do dia e outra<br />
ocupação de espaço urbano, mas dessa vez materializando não somente a devoção e a festa, mas também a memória e o afeto. Também no dia 27 visitei uma praça próxima a<br />
paroquia de São Cosme e Damião (que não estava distribuindo doces, uma vez que no<br />
calendário litúrgico a festa ocorre no dia 26) em que na praça havia um altar aos santos,<br />
além de uma mesa com doces que ocorria a distribuição de doce com uma longa fila de<br />
crianças e adolescentes.<br />
A praça e essa distribuição é mantida por moradores de um condomínio a<br />
frente da praça. Uma das interlocutoras ao falar do santuário que havia em frente,<br />
comentou sobre a ligação das estatuas achadas por seu falecido marido e sobre como ela<br />
cuida desde então, inclusive fazendo reparos das constantes depredações que o altar<br />
sofre. A depredação do altar que não modifica, porem focaliza o caráter do conflito,<br />
nesse caso religioso, envolvido no subúrbio carioca. Nas falas dos interlocutores a<br />
denúncia do preconceito religioso foi algo recorrente, tornando aquele espaço além de<br />
um lugar de devoção e de memória (POLLAK), um lugar de conflito.<br />
Gostaria de comentar brevemente outro ponto do dia de São Cosme e Damião<br />
que é a utilização do espaço público pelas crianças. Como aponto Freitas, na festa<br />
adultos e crianças compartilham um mesmo cosmo e mantém hábitos próprios durante a<br />
temporalidade da festa. O fato das crianças menores está sempre acompanhadas de<br />
crianças maiores ou adultos, a confecção dos sacos de doces pelos adultos paras<br />
crianças, confecção desses sacos que tem um impacto de direto nas vendas dos atacados<br />
(FREITAS,2015), além da necessidade do aumento da atenção dos adultos<br />
principalmente no transito uma vez, que há um fluxo desordenado de crianças inclusive<br />
pelas pistas.<br />
<br />
=== Conclusão ===<br />
Este breve trabalho se propôs levantar algumas questões sobre a construção de<br />
lugares de festas pela materialização dos seus discursos e narrativas e a utilização de<br />
espaços em dias de festas urbanas no estado do Rio de Janeiro, passando da utilização<br />
do espaço noturno a relação binaria entre o público e o privado.<br />
<br />
=== Referências Bibliográficas ===<br />
<references /><br />
BARTOLO, Lucas. Entre a caridade, a diversão e o medo: o dia de Cosme e Damião em<br />
uma vila do subúrbio carioca. Infratextos, Rio de Janeiro:, 2018.<br />
<br />
DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5°<br />
edição. Rio de Janeiro: 1997.<br />
<br />
__________. Carnavais, malandros e Heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro.<br />
4° edição. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.<br />
<br />
__________. Ensaios de antropologia estrutural. 2° edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.<br />
FREITAS, Morena B. M. De doces e crianças: a festa de Cosme e Damião no Rio de<br />
Janeiro. 2015. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Programa e<br />
Pós-graduação em Antropologia Social, UFRJ, Rio de Janeiro.<br />
<br />
HOBSBAWM Erick & Terence Ranger (orgs.). A invenção das tradições. Rio de<br />
Janeiro: Paz e Terra, 1984.<br />
<br />
MENDEL, Luiz Gustavo. Giros Urbanos: Uma etnografia da festa do arremate da folia<br />
de reis de São Gonçalo-RJ. 2017. Tese (Doutorado em antropologia social). Programa<br />
de pós-graduação em antropologia, UFF, Niterói.<br />
<br />
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,<br />
vol. 5, n. 10, 1992</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Espa%C3%A7os_lugares_e_festas&diff=18777Espaços lugares e festas2023-05-31T18:11:47Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>Esse trabalho se propões apresentar uma breve reflexão sobre as alterações nas dinâmicas urbanas em dias de festas populares. Nesse trabalho serão abordadas duas festividades em locais e temporalidades diferentes. O arremate da folia de reis “Nova flor do oriente” localizada no bairro do [[Mutua]] no município de São Gonçalo, Rio de janeiro, acompanhado no dia 1 de setembro de 2018. E a [[Festa na Favela|festa]] de São Cosme e Damião, que foi acompanhada no dia 27 de setembro de 2019, na zona norte do Rio de janeiro.<br />
<br />
=== Folia de reis ===<br />
A folia de reis é uma festa popular que ocorre anualmente, que visa representar de maneira festiva e ritual a viagem dos três reis magos (Melchior, Baltasar e Gaspar) a cidade de Jerusalém. Na bíblia cristã essa viagem tem como intuito visitar, presentear e adorar o recém-nascido Jesus. A folia de reis é dividida em dois momentos distintos. O primeiro conhecido como giro, que tem seu início no dia 25 de dezembro e tradicionalmente tem a data de<br />
termino prevista para o dia 6 de janeiro (dia de reis). Porem no Rio de Janeiro esse<br />
período é prolongado até o dia 20 de janeiro, que é o dia de São Sebastião o padroeiro<br />
da cidade. O segundo momento é o arremate que será o foco deste trabalho. A data do<br />
arremate pode variar de folia para folia, sempre priorizando escolher dias em que não<br />
aconteça qualquer outra folia, uma vez que ocorre visitas de outras folias, durante o<br />
arremate.<br />
Durante o giro as folias levam suas respectivas bandeiras à casa dos adeptos,<br />
em um período de peregrinação que é uma das primeiras representações simbólicas da<br />
história dos três reis magos. Da mesma maneira que Melchior, Baltasar e Gaspar<br />
viajaram para abençoar o menino Jesus, a folia realiza essas viagens em que ao chegar<br />
nas casas iram entoara cânticos em um ritual que visa abençoar o lar e os anfitriões.<br />
Esse período as relações entre os foliões e os adeptos se estreitam uma vez que em troca<br />
da benção os anfitriões retribuem com oferendas que tradicionalmente são pequenos<br />
banquetes em que ocorre um contato menos ritualístico e mais social.<br />
<br />
Na segunda parte acontece o arremate. O arremate é o fechamento do ciclo da<br />
folia e uma festa de rua que integra as folias, os adeptos e os bairros que estão<br />
localizadas as folias. Essa segunda parte também está separada em momentos distintos,<br />
que ocorre em espaços, alterando a dinâmica dos mesmos. Por mais que nesse trabalho<br />
busco recortar esses espaços para desenvolver a analise, gostaria de pontuar como<br />
marcado por Mendel, esses espaços estão constantemente em dialogo se<br />
complementando e se sobrepondo.<br />
A casa e seus diversos “lugares”:<br />
Acionando o conceito de lugares apresentado por Marc Augé em seu livro “Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade”<ref name=":0">AUGÉ, Marc. Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1994</ref>, busco analisar as<br />
mudanças causadas pela festividade no domínio da casa e mais à frente no domínio da<br />
rua. Lembrando que além do caráter festivo a folia é marcada pelo seu caráter<br />
ritualístico. Esse caráter ritualístico é o que mais marca a primeira etapa que ocorre<br />
dentro do ambiente privado das dependências do quintal do mestre Fumaça. Nesse<br />
momento podemos dividir o quintal em três setores específicos: o altar que se encontra<br />
a bandeira da folia, um ambiente nos fundos do quintal que funciona como um refeitório<br />
e a entrada do quintal em que ocorre a cerimonia da folia tendo em mente as múltiplas<br />
noções da categoria espaço como escrito por Roberto Da Matta “Não é preciso<br />
especular muito para descobrir que temos espaços concebidos como eternos e<br />
transitórios, legais e mágicos, individualizados e coletivos.”<ref name=":1" /> Pensado o lugar antropológico como conjuntos de elementos ordenados<ref name=":0" /> caracterizado pelo percurso da sua linguagem e pensando no caráter relativo do espaço apresentado por Agier <ref>AGIER, Michel. “Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos". São Paulo: Terceiro Nome, 2011.</ref>, analisemos o primeiro desses setores que será o espaço do refeitório. O refeitório foi o primeiro lugar que me dirigi, era início da noite e<br />
fui convidado para jantar com os foliões. Como dito por Mendel, no arremate a refeição<br />
tem um importante papel de agente na construção da sociabilidade para a folia. Nesse<br />
ambiente se destaca o palhaço que não se sentava a mesa com os outros foliões,<br />
mostrando a influência do rito naquele espaço, o estruturando fora das dimensões de<br />
uma simples casa. Esse espaço, por mais que entre na categoria transitório dentro desse<br />
cosmo da folia, materializa a narrativa do evento, personificando a rejeição do palhaço<br />
com sua carga negativa (uma vez que o mesmo representa um dos perseguidores) e<br />
rompe o caráter privado do lar com o fluxo de indivíduos que não necessariamente<br />
pertence aquele lar.<br />
<br />
O segundo setor que podemos abordar nesse trabalho um cômodo da casa que<br />
acomoda a bandeira da folia e seu altar, funcionando como uma espécie de santuário. Se<br />
encaixando dentro da categoria de espaço magico e novamente materializando as<br />
narrativas abraças pela Communita (MATTA, 1973). O palhaço novamente se destaca<br />
agora nesse espaço, uma vez que, para entrar nesse ambiente o folião vestido de palhaço<br />
deveria retirar sua máscara e pôr no chão virada para baixo, além de entrar de joelhos.<br />
Me foi explicado que o palhaço é a representação dos perseguidores de jesus<br />
que se arrependeram e se incumbiram da missão de afastar outros perseguidores. É<br />
interessante pensar que toda essa carga profana causa uma série de limitações na<br />
ocupação do “lugar”, tornando o espaço da casa para o palhaço mais próximo do<br />
universo individualista da rua do que de um espaço doméstico, que como descreve Da Matta, “todos são pessoas” ligados por algum tipo de vínculo, nesse caso o da<br />
hospitalidade.<br />
O terceiro espaço é o quintal em que ocorre a cerimonia da folia, além de ser<br />
um espaço de transito e conexão entre as múltiplas localidades em que a festa está<br />
situada, podendo ser encarado como um espaço “arruado” (MATTA,1997). No final da<br />
cerimonia o altar com a bandeira da folia é movido para esse espaço do quintal e a folia<br />
sai da dependência do quintal para a rua. Durante a noite outras folias iram entrar no<br />
quintal depositando suas bandeiras próximas do altar, além de se dirigir para o espaço<br />
que está funcionado como refeitório.<br />
A ocupação da rua:<br />
Da Matta em seu livro “[[Carnaval de rua na Maré|carnavais malandros e heróis]]” fala sobre como a festa<br />
do carnaval muda o planejamento urbano, fechando o comercio e o transito da cidade<br />
por exemplo. No nosso caso a festa tem o impacto diferente do carnaval, uma vez que<br />
em vez de fechar ele abre comércios momentâneos, através de barracas de bebidas, além<br />
ocupar as ruas noturnas da periferia. Além da ocupação do espaço, modifica a rotina da<br />
vizinhança, inclusive daqueles que não participam da folia, uma vez que a folia é<br />
marcada pela sua bateria, brincadeiras e rezas, contando inclusive com um carro de som.<br />
Ou seja, antes do evento como descreve Mendel há toda uma preocupação em avisar os<br />
vizinhos sobre o mesmo, principalmente por se tratar de um evento que dura até a<br />
manhã do dia seguinte.<br />
<br />
Essas mudanças causadas pela aptidão que as festas de rua têm de subverter o cotidiano<ref name=":1">DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5° edição. Rio de Janeiro: 199</ref> afetando a esfera do público e do privado, do individual ao<br />
coletivo, da casa a rua, materializando suas narrativas nos espaços urbanos e<br />
construindo seus lugares de festa. Outra importante festa de rua que causa mudanças nas<br />
dinâmicas urbanas, inclusive transformando “não-lugares” em lugares de festa, de<br />
devoção e de memória é o dia de São Cosme e São Damião.<br />
<br />
=== O dia de São Cosme e São Damião ===<br />
No dia 27 de setembro ocorre a mais relevante expressão de devoção aos<br />
santos Cosme e Damião (BARTOLO, 2018). Marcado pela distribuição de doces e<br />
brinquedos e devoções o dia causa uma movimentação incomum de crianças pela rua,<br />
além da penetração desses indivíduos em ambientes que não fazem necessariamente<br />
parte do seu cotidiano. Para discorrer sobre o assunto me apoiarei em algumas<br />
observações realizadas no dia 27 de setembro de 2019 em que acompanhei a<br />
distribuição de doces na zona norte da cidade do rio, em que fui acompanhado por<br />
Lucas Bartolo que além de tradicionalmente participar da distribuição de doces, realiza<br />
pesquisa sobre a festa. Tendo em mente os conceitos abordados de Da Matta o primeiro<br />
ponto que gostaria de abordar é a dinâmica da rua com condôminos, em especifico o<br />
condomínio que visitei em que reside o Lucas.<br />
Cheguei no condomínio no início da tarde e já acontecia a movimentação das<br />
crianças em busca de doces. Pelo fato de região onde moro (São Gonçalo) não ter essa<br />
tradição tão viva estranhei a movimentação das crianças desde a entrada do condomínio.<br />
Aparentemente esse fluxo da rua para o condomínio é normal, porem como aborda<br />
Bartolo o binarismo entre rua/casa está presente principalmente quando pensamos em<br />
categorias como “morador e gente de fora” levantadas por Bartolo em seu texto. É<br />
importante observar que mesmo com essas categorias não havia nenhum impedimento<br />
perante essas crianças. Dentro do condomínio outra dinâmica que alterava o cotidiano<br />
da cidade era a presença dos pais, em que muitos faltaram seus empregos para<br />
acompanhar seus filhos, reproduzindo a tradição de pegar doces e assim mantendo a<br />
mesma. Um dos motivos desse fluxo pode ser tradição do local em distribuir doce,<br />
como aponta Hobsbaw, a tradição tem uma forte aptidão de atração para sim.<br />
Pensando em tradição, gostaria de abordar um outro momento do dia e outra<br />
ocupação de espaço urbano, mas dessa vez materializando não somente a devoção e a festa, mas também a memória e o afeto. Também no dia 27 visitei uma praça próxima a<br />
paroquia de São Cosme e Damião (que não estava distribuindo doces, uma vez que no<br />
calendário litúrgico a festa ocorre no dia 26) em que na praça havia um altar aos santos,<br />
além de uma mesa com doces que ocorria a distribuição de doce com uma longa fila de<br />
crianças e adolescentes.<br />
A praça e essa distribuição é mantida por moradores de um condomínio a<br />
frente da praça. Uma das interlocutoras ao falar do santuário que havia em frente,<br />
comentou sobre a ligação das estatuas achadas por seu falecido marido e sobre como ela<br />
cuida desde então, inclusive fazendo reparos das constantes depredações que o altar<br />
sofre. A depredação do altar que não modifica, porem focaliza o caráter do conflito,<br />
nesse caso religioso, envolvido no subúrbio carioca. Nas falas dos interlocutores a<br />
denúncia do preconceito religioso foi algo recorrente, tornando aquele espaço além de<br />
um lugar de devoção e de memória (POLLAK), um lugar de conflito.<br />
Gostaria de comentar brevemente outro ponto do dia de São Cosme e Damião<br />
que é a utilização do espaço público pelas crianças. Como aponto Freitas, na festa<br />
adultos e crianças compartilham um mesmo cosmo e mantém hábitos próprios durante a<br />
temporalidade da festa. O fato das crianças menores está sempre acompanhadas de<br />
crianças maiores ou adultos, a confecção dos sacos de doces pelos adultos paras<br />
crianças, confecção desses sacos que tem um impacto de direto nas vendas dos atacados<br />
(FREITAS,2015), além da necessidade do aumento da atenção dos adultos<br />
principalmente no transito uma vez, que há um fluxo desordenado de crianças inclusive<br />
pelas pistas.<br />
<br />
=== Conclusão ===<br />
Este breve trabalho se propôs levantar algumas questões sobre a construção de<br />
lugares de festas pela materialização dos seus discursos e narrativas e a utilização de<br />
espaços em dias de festas urbanas no estado do Rio de Janeiro, passando da utilização<br />
do espaço noturno a relação binaria entre o público e o privado.<br />
<br />
=== Referências Bibliográficas ===<br />
<references /><br />
BARTOLO, Lucas. Entre a caridade, a diversão e o medo: o dia de Cosme e Damião em<br />
uma vila do subúrbio carioca. Infratextos, Rio de Janeiro:, 2018.<br />
<br />
DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5°<br />
edição. Rio de Janeiro: 1997.<br />
<br />
__________. Carnavais, malandros e Heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro.<br />
4° edição. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.<br />
<br />
__________. Ensaios de antropologia estrutural. 2° edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.<br />
FREITAS, Morena B. M. De doces e crianças: a festa de Cosme e Damião no Rio de<br />
Janeiro. 2015. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Programa e<br />
Pós-graduação em Antropologia Social, UFRJ, Rio de Janeiro.<br />
<br />
HOBSBAWM Erick & Terence Ranger (orgs.). A invenção das tradições. Rio de<br />
Janeiro: Paz e Terra, 1984.<br />
<br />
MENDEL, Luiz Gustavo. Giros Urbanos: Uma etnografia da festa do arremate da folia<br />
de reis de São Gonçalo-RJ. 2017. Tese (Doutorado em antropologia social). Programa<br />
de pós-graduação em antropologia, UFF, Niterói.<br />
<br />
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,<br />
vol. 5, n. 10, 1992</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Espa%C3%A7os_lugares_e_festas&diff=18776Espaços lugares e festas2023-05-31T18:10:41Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>Esse trabalho se propões apresentar uma breve reflexão sobre as alterações nas dinâmicas urbanas em dias de festas populares. Nesse trabalho serão abordadas duas festividades em locais e temporalidades diferentes. O arremate da folia de reis “Nova flor do oriente” localizada no bairro do [[Mutua]] no município de São Gonçalo, Rio de janeiro, acompanhado no dia 1 de setembro de 2018. E a [[Festa na Favela|festa]] de São Cosme e Damião, que foi acompanhada no dia 27 de setembro de 2019, na zona norte do Rio de janeiro.<br />
<br />
=== Folia de reis ===<br />
A folia de reis é uma festa popular que ocorre anualmente, que visa representar de maneira festiva e ritual a viagem dos três reis magos (Melchior, Baltasar e Gaspar) a cidade de Jerusalém. Na bíblia cristã essa viagem tem como intuito visitar, presentear e adorar o recém-nascido Jesus. A folia de reis é dividida em dois momentos distintos. O primeiro conhecido como giro, que tem seu início no dia 25 de dezembro e tradicionalmente tem a data de<br />
termino prevista para o dia 6 de janeiro (dia de reis). Porem no Rio de Janeiro esse<br />
período é prolongado até o dia 20 de janeiro, que é o dia de São Sebastião o padroeiro<br />
da cidade. O segundo momento é o arremate que será o foco deste trabalho. A data do<br />
arremate pode variar de folia para folia, sempre priorizando escolher dias em que não<br />
aconteça qualquer outra folia, uma vez que ocorre visitas de outras folias, durante o<br />
arremate.<br />
Durante o giro as folias levam suas respectivas bandeiras à casa dos adeptos,<br />
em um período de peregrinação que é uma das primeiras representações simbólicas da<br />
história dos três reis magos. Da mesma maneira que Melchior, Baltasar e Gaspar<br />
viajaram para abençoar o menino Jesus, a folia realiza essas viagens em que ao chegar<br />
nas casas iram entoara cânticos em um ritual que visa abençoar o lar e os anfitriões.<br />
Esse período as relações entre os foliões e os adeptos se estreitam uma vez que em troca<br />
da benção os anfitriões retribuem com oferendas que tradicionalmente são pequenos<br />
banquetes em que ocorre um contato menos ritualístico e mais social.<br />
<br />
Na segunda parte acontece o arremate. O arremate é o fechamento do ciclo da<br />
folia e uma festa de rua que integra as folias, os adeptos e os bairros que estão<br />
localizadas as folias. Essa segunda parte também está separada em momentos distintos,<br />
que ocorre em espaços, alterando a dinâmica dos mesmos. Por mais que nesse trabalho<br />
busco recortar esses espaços para desenvolver a analise, gostaria de pontuar como<br />
marcado por Mendel, esses espaços estão constantemente em dialogo se<br />
complementando e se sobrepondo.<br />
A casa e seus diversos “lugares”:<br />
Acionando o conceito de lugares apresentado por Marc Augé em seu livro “Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade”<ref name=":0">AUGÉ, Marc. Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1994</ref>, busco analisar as<br />
mudanças causadas pela festividade no domínio da casa e mais à frente no domínio da<br />
rua. Lembrando que além do caráter festivo a folia é marcada pelo seu caráter<br />
ritualístico. Esse caráter ritualístico é o que mais marca a primeira etapa que ocorre<br />
dentro do ambiente privado das dependências do quintal do mestre Fumaça. Nesse<br />
momento podemos dividir o quintal em três setores específicos: o altar que se encontra<br />
a bandeira da folia, um ambiente nos fundos do quintal que funciona como um refeitório<br />
e a entrada do quintal em que ocorre a cerimonia da folia tendo em mente as múltiplas<br />
noções da categoria espaço como escrito por Roberto Da Matta “Não é preciso<br />
especular muito para descobrir que temos espaços concebidos como eternos e<br />
transitórios, legais e mágicos, individualizados e coletivos.”<ref name=":1" /> Pensado o lugar antropológico como conjuntos de elementos ordenados<ref name=":0" /> caracterizado pelo percurso da sua linguagem e pensando no caráter relativo do espaço apresentado por Agier <ref>AGIER, Michel. “Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos". São Paulo: Terceiro Nome, 2011.</ref>, analisemos o primeiro desses setores que será o espaço do refeitório. O refeitório foi o primeiro lugar que me dirigi, era início da noite e<br />
fui convidado para jantar com os foliões. Como dito por Mendel, no arremate a refeição<br />
tem um importante papel de agente na construção da sociabilidade para a folia. Nesse<br />
ambiente se destaca o palhaço que não se sentava a mesa com os outros foliões,<br />
mostrando a influência do rito naquele espaço, o estruturando fora das dimensões de<br />
uma simples casa. Esse espaço, por mais que entre na categoria transitório dentro desse<br />
cosmo da folia, materializa a narrativa do evento, personificando a rejeição do palhaço<br />
com sua carga negativa (uma vez que o mesmo representa um dos perseguidores) e<br />
rompe o caráter privado do lar com o fluxo de indivíduos que não necessariamente<br />
pertence aquele lar.<br />
<br />
O segundo setor que podemos abordar nesse trabalho um cômodo da casa que<br />
acomoda a bandeira da folia e seu altar, funcionando como uma espécie de santuário. Se<br />
encaixando dentro da categoria de espaço magico e novamente materializando as<br />
narrativas abraças pela Communita (MATTA, 1973). O palhaço novamente se destaca<br />
agora nesse espaço, uma vez que, para entrar nesse ambiente o folião vestido de palhaço<br />
deveria retirar sua máscara e pôr no chão virada para baixo, além de entrar de joelhos.<br />
Me foi explicado que o palhaço é a representação dos perseguidores de jesus<br />
que se arrependeram e se incumbiram da missão de afastar outros perseguidores. É<br />
interessante pensar que toda essa carga profana causa uma série de limitações na<br />
ocupação do “lugar”, tornando o espaço da casa para o palhaço mais próximo do<br />
universo individualista da rua do que de um espaço doméstico, que como descreve Da Matta, “todos são pessoas” ligados por algum tipo de vínculo, nesse caso o da<br />
hospitalidade.<br />
O terceiro espaço é o quintal em que ocorre a cerimonia da folia, além de ser<br />
um espaço de transito e conexão entre as múltiplas localidades em que a festa está<br />
situada, podendo ser encarado como um espaço “arruado” (MATTA,1997). No final da<br />
cerimonia o altar com a bandeira da folia é movido para esse espaço do quintal e a folia<br />
sai da dependência do quintal para a rua. Durante a noite outras folias iram entrar no<br />
quintal depositando suas bandeiras próximas do altar, além de se dirigir para o espaço<br />
que está funcionado como refeitório.<br />
A ocupação da rua:<br />
Da Matta em seu livro “carnavais malandros e heróis” fala sobre como a festa<br />
do carnaval muda o planejamento urbano, fechando o comercio e o transito da cidade<br />
por exemplo. No nosso caso a festa tem o impacto diferente do carnaval, uma vez que<br />
em vez de fechar ele abre comércios momentâneos, através de barracas de bebidas, além<br />
ocupar as ruas noturnas da periferia. Além da ocupação do espaço, modifica a rotina da<br />
vizinhança, inclusive daqueles que não participam da folia, uma vez que a folia é<br />
marcada pela sua bateria, brincadeiras e rezas, contando inclusive com um carro de som.<br />
Ou seja, antes do evento como descreve Mendel há toda uma preocupação em avisar os<br />
vizinhos sobre o mesmo, principalmente por se tratar de um evento que dura até a<br />
manhã do dia seguinte.<br />
<br />
Essas mudanças causadas pela aptidão que as festas de rua têm de subverter o cotidiano<ref name=":1">DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5° edição. Rio de Janeiro: 199</ref> afetando a esfera do público e do privado, do individual ao<br />
coletivo, da casa a rua, materializando suas narrativas nos espaços urbanos e<br />
construindo seus lugares de festa. Outra importante festa de rua que causa mudanças nas<br />
dinâmicas urbanas, inclusive transformando “não-lugares” em lugares de festa, de<br />
devoção e de memória é o dia de São Cosme e São Damião.<br />
<br />
=== O dia de São Cosme e São Damião ===<br />
No dia 27 de setembro ocorre a mais relevante expressão de devoção aos<br />
santos Cosme e Damião (BARTOLO, 2018). Marcado pela distribuição de doces e<br />
brinquedos e devoções o dia causa uma movimentação incomum de crianças pela rua,<br />
além da penetração desses indivíduos em ambientes que não fazem necessariamente<br />
parte do seu cotidiano. Para discorrer sobre o assunto me apoiarei em algumas<br />
observações realizadas no dia 27 de setembro de 2019 em que acompanhei a<br />
distribuição de doces na zona norte da cidade do rio, em que fui acompanhado por<br />
Lucas Bartolo que além de tradicionalmente participar da distribuição de doces, realiza<br />
pesquisa sobre a festa. Tendo em mente os conceitos abordados de Da Matta o primeiro<br />
ponto que gostaria de abordar é a dinâmica da rua com condôminos, em especifico o<br />
condomínio que visitei em que reside o Lucas.<br />
Cheguei no condomínio no início da tarde e já acontecia a movimentação das<br />
crianças em busca de doces. Pelo fato de região onde moro (São Gonçalo) não ter essa<br />
tradição tão viva estranhei a movimentação das crianças desde a entrada do condomínio.<br />
Aparentemente esse fluxo da rua para o condomínio é normal, porem como aborda<br />
Bartolo o binarismo entre rua/casa está presente principalmente quando pensamos em<br />
categorias como “morador e gente de fora” levantadas por Bartolo em seu texto. É<br />
importante observar que mesmo com essas categorias não havia nenhum impedimento<br />
perante essas crianças. Dentro do condomínio outra dinâmica que alterava o cotidiano<br />
da cidade era a presença dos pais, em que muitos faltaram seus empregos para<br />
acompanhar seus filhos, reproduzindo a tradição de pegar doces e assim mantendo a<br />
mesma. Um dos motivos desse fluxo pode ser tradição do local em distribuir doce,<br />
como aponta Hobsbaw, a tradição tem uma forte aptidão de atração para sim.<br />
Pensando em tradição, gostaria de abordar um outro momento do dia e outra<br />
ocupação de espaço urbano, mas dessa vez materializando não somente a devoção e a festa, mas também a memória e o afeto. Também no dia 27 visitei uma praça próxima a<br />
paroquia de São Cosme e Damião (que não estava distribuindo doces, uma vez que no<br />
calendário litúrgico a festa ocorre no dia 26) em que na praça havia um altar aos santos,<br />
além de uma mesa com doces que ocorria a distribuição de doce com uma longa fila de<br />
crianças e adolescentes.<br />
A praça e essa distribuição é mantida por moradores de um condomínio a<br />
frente da praça. Uma das interlocutoras ao falar do santuário que havia em frente,<br />
comentou sobre a ligação das estatuas achadas por seu falecido marido e sobre como ela<br />
cuida desde então, inclusive fazendo reparos das constantes depredações que o altar<br />
sofre. A depredação do altar que não modifica, porem focaliza o caráter do conflito,<br />
nesse caso religioso, envolvido no subúrbio carioca. Nas falas dos interlocutores a<br />
denúncia do preconceito religioso foi algo recorrente, tornando aquele espaço além de<br />
um lugar de devoção e de memória (POLLAK), um lugar de conflito.<br />
Gostaria de comentar brevemente outro ponto do dia de São Cosme e Damião<br />
que é a utilização do espaço público pelas crianças. Como aponto Freitas, na festa<br />
adultos e crianças compartilham um mesmo cosmo e mantém hábitos próprios durante a<br />
temporalidade da festa. O fato das crianças menores está sempre acompanhadas de<br />
crianças maiores ou adultos, a confecção dos sacos de doces pelos adultos paras<br />
crianças, confecção desses sacos que tem um impacto de direto nas vendas dos atacados<br />
(FREITAS,2015), além da necessidade do aumento da atenção dos adultos<br />
principalmente no transito uma vez, que há um fluxo desordenado de crianças inclusive<br />
pelas pistas.<br />
<br />
=== Conclusão ===<br />
Este breve trabalho se propôs levantar algumas questões sobre a construção de<br />
lugares de festas pela materialização dos seus discursos e narrativas e a utilização de<br />
espaços em dias de festas urbanas no estado do Rio de Janeiro, passando da utilização<br />
do espaço noturno a relação binaria entre o público e o privado.<br />
<br />
=== Referências Bibliográficas ===<br />
<references /><br />
BARTOLO, Lucas. Entre a caridade, a diversão e o medo: o dia de Cosme e Damião em<br />
uma vila do subúrbio carioca. Infratextos, Rio de Janeiro:, 2018.<br />
<br />
DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5°<br />
edição. Rio de Janeiro: 1997.<br />
<br />
__________. Carnavais, malandros e Heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro.<br />
4° edição. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.<br />
<br />
__________. Ensaios de antropologia estrutural. 2° edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.<br />
FREITAS, Morena B. M. De doces e crianças: a festa de Cosme e Damião no Rio de<br />
Janeiro. 2015. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Programa e<br />
Pós-graduação em Antropologia Social, UFRJ, Rio de Janeiro.<br />
<br />
HOBSBAWM Erick & Terence Ranger (orgs.). A invenção das tradições. Rio de<br />
Janeiro: Paz e Terra, 1984.<br />
<br />
MENDEL, Luiz Gustavo. Giros Urbanos: Uma etnografia da festa do arremate da folia<br />
de reis de São Gonçalo-RJ. 2017. Tese (Doutorado em antropologia social). Programa<br />
de pós-graduação em antropologia, UFF, Niterói.<br />
<br />
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,<br />
vol. 5, n. 10, 1992</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Espa%C3%A7os_lugares_e_festas&diff=18775Espaços lugares e festas2023-05-31T18:06:07Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>Esse trabalho se propões apresentar uma breve reflexão sobre as alterações nas<br />
dinâmicas urbanas em dias de festas populares. Nesse trabalho serão abordadas duas<br />
festividades em locais e temporalidades diferentes. O arremate da folia de reis “Nova<br />
flor do oriente” localizada no bairro do Mutua no município de São Gonçalo, Rio de<br />
janeiro, acompanhado no dia 1 de setembro de 2018. E a festa de São Cosme e Damião,<br />
que foi acompanhada no dia 27 de setembro de 2019, na zona norte do Rio de janeiro.<br />
<br />
==== Folia de reis ====<br />
A folia de reis é uma festa popular que ocorre anualmente, que visa representar de maneira festiva e ritual a viagem dos três reis magos (Melchior, Baltasar e Gaspar) a cidade de Jerusalém. Na bíblia cristã essa viagem tem como intuito visitar, presentear e adorar o recém-nascido Jesus. A folia de reis é dividida em dois momentos distintos. O primeiro conhecido como giro, que tem seu início no dia 25 de dezembro e tradicionalmente tem a data de<br />
termino prevista para o dia 6 de janeiro (dia de reis). Porem no Rio de Janeiro esse<br />
período é prolongado até o dia 20 de janeiro, que é o dia de São Sebastião o padroeiro<br />
da cidade. O segundo momento é o arremate que será o foco deste trabalho. A data do<br />
arremate pode variar de folia para folia, sempre priorizando escolher dias em que não<br />
aconteça qualquer outra folia, uma vez que ocorre visitas de outras folias, durante o<br />
arremate.<br />
Durante o giro as folias levam suas respectivas bandeiras à casa dos adeptos,<br />
em um período de peregrinação que é uma das primeiras representações simbólicas da<br />
história dos três reis magos. Da mesma maneira que Melchior, Baltasar e Gaspar<br />
viajaram para abençoar o menino Jesus, a folia realiza essas viagens em que ao chegar<br />
nas casas iram entoara cânticos em um ritual que visa abençoar o lar e os anfitriões.<br />
Esse período as relações entre os foliões e os adeptos se estreitam uma vez que em troca<br />
da benção os anfitriões retribuem com oferendas que tradicionalmente são pequenos<br />
banquetes em que ocorre um contato menos ritualístico e mais social.<br />
<br />
Na segunda parte acontece o arremate. O arremate é o fechamento do ciclo da<br />
folia e uma festa de rua que integra as folias, os adeptos e os bairros que estão<br />
localizadas as folias. Essa segunda parte também está separada em momentos distintos,<br />
que ocorre em espaços, alterando a dinâmica dos mesmos. Por mais que nesse trabalho<br />
busco recortar esses espaços para desenvolver a analise, gostaria de pontuar como<br />
marcado por Mendel, esses espaços estão constantemente em dialogo se<br />
complementando e se sobrepondo.<br />
A casa e seus diversos “lugares”:<br />
Acionando o conceito de lugares apresentado por Marc Augé em seu livro “Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade”<ref name=":0">AUGÉ, Marc. Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1994</ref>, busco analisar as<br />
mudanças causadas pela festividade no domínio da casa e mais à frente no domínio da<br />
rua. Lembrando que além do caráter festivo a folia é marcada pelo seu caráter<br />
ritualístico. Esse caráter ritualístico é o que mais marca a primeira etapa que ocorre<br />
dentro do ambiente privado das dependências do quintal do mestre Fumaça. Nesse<br />
momento podemos dividir o quintal em três setores específicos: o altar que se encontra<br />
a bandeira da folia, um ambiente nos fundos do quintal que funciona como um refeitório<br />
e a entrada do quintal em que ocorre a cerimonia da folia tendo em mente as múltiplas<br />
noções da categoria espaço como escrito por Roberto Da Matta “Não é preciso<br />
especular muito para descobrir que temos espaços concebidos como eternos e<br />
transitórios, legais e mágicos, individualizados e coletivos.”<ref name=":1" /> Pensado o lugar antropológico como conjuntos de elementos ordenados<ref name=":0" /> caracterizado pelo percurso da sua linguagem e pensando no caráter relativo do espaço apresentado por Agier <ref>AGIER, Michel. “Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos". São Paulo: Terceiro Nome, 2011.</ref>, analisemos o primeiro desses setores que será o espaço do refeitório. O refeitório foi o primeiro lugar que me dirigi, era início da noite e<br />
fui convidado para jantar com os foliões. Como dito por Mendel, no arremate a refeição<br />
tem um importante papel de agente na construção da sociabilidade para a folia. Nesse<br />
ambiente se destaca o palhaço que não se sentava a mesa com os outros foliões,<br />
mostrando a influência do rito naquele espaço, o estruturando fora das dimensões de<br />
uma simples casa. Esse espaço, por mais que entre na categoria transitório dentro desse<br />
cosmo da folia, materializa a narrativa do evento, personificando a rejeição do palhaço<br />
com sua carga negativa (uma vez que o mesmo representa um dos perseguidores) e<br />
rompe o caráter privado do lar com o fluxo de indivíduos que não necessariamente<br />
pertence aquele lar.<br />
<br />
O segundo setor que podemos abordar nesse trabalho um cômodo da casa que<br />
acomoda a bandeira da folia e seu altar, funcionando como uma espécie de santuário. Se<br />
encaixando dentro da categoria de espaço magico e novamente materializando as<br />
narrativas abraças pela Communita (MATTA, 1973). O palhaço novamente se destaca<br />
agora nesse espaço, uma vez que, para entrar nesse ambiente o folião vestido de palhaço<br />
deveria retirar sua máscara e pôr no chão virada para baixo, além de entrar de joelhos.<br />
Me foi explicado que o palhaço é a representação dos perseguidores de jesus<br />
que se arrependeram e se incumbiram da missão de afastar outros perseguidores. É<br />
interessante pensar que toda essa carga profana causa uma série de limitações na<br />
ocupação do “lugar”, tornando o espaço da casa para o palhaço mais próximo do<br />
universo individualista da rua do que de um espaço doméstico, que como descreve Da Matta, “todos são pessoas” ligados por algum tipo de vínculo, nesse caso o da<br />
hospitalidade.<br />
O terceiro espaço é o quintal em que ocorre a cerimonia da folia, além de ser<br />
um espaço de transito e conexão entre as múltiplas localidades em que a festa está<br />
situada, podendo ser encarado como um espaço “arruado” (MATTA,1997). No final da<br />
cerimonia o altar com a bandeira da folia é movido para esse espaço do quintal e a folia<br />
sai da dependência do quintal para a rua. Durante a noite outras folias iram entrar no<br />
quintal depositando suas bandeiras próximas do altar, além de se dirigir para o espaço<br />
que está funcionado como refeitório.<br />
A ocupação da rua:<br />
Da Matta em seu livro “carnavais malandros e heróis” fala sobre como a festa<br />
do carnaval muda o planejamento urbano, fechando o comercio e o transito da cidade<br />
por exemplo. No nosso caso a festa tem o impacto diferente do carnaval, uma vez que<br />
em vez de fechar ele abre comércios momentâneos, através de barracas de bebidas, além<br />
ocupar as ruas noturnas da periferia. Além da ocupação do espaço, modifica a rotina da<br />
vizinhança, inclusive daqueles que não participam da folia, uma vez que a folia é<br />
marcada pela sua bateria, brincadeiras e rezas, contando inclusive com um carro de som.<br />
Ou seja, antes do evento como descreve Mendel há toda uma preocupação em avisar os<br />
vizinhos sobre o mesmo, principalmente por se tratar de um evento que dura até a<br />
manhã do dia seguinte.<br />
<br />
Essas mudanças causadas pela aptidão que as festas de rua têm de subverter o cotidiano<ref name=":1">DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5° edição. Rio de Janeiro: 199</ref> afetando a esfera do público e do privado, do individual ao<br />
coletivo, da casa a rua, materializando suas narrativas nos espaços urbanos e<br />
construindo seus lugares de festa. Outra importante festa de rua que causa mudanças nas<br />
dinâmicas urbanas, inclusive transformando “não-lugares” em lugares de festa, de<br />
devoção e de memória é o dia de São Cosme e São Damião.<br />
<br />
O dia de São Cosme e São Damião:<br />
<br />
No dia 27 de setembro ocorre a mais relevante expressão de devoção aos<br />
santos Cosme e Damião (BARTOLO, 2018). Marcado pela distribuição de doces e<br />
brinquedos e devoções o dia causa uma movimentação incomum de crianças pela rua,<br />
além da penetração desses indivíduos em ambientes que não fazem necessariamente<br />
parte do seu cotidiano. Para discorrer sobre o assunto me apoiarei em algumas<br />
observações realizadas no dia 27 de setembro de 2019 em que acompanhei a<br />
distribuição de doces na zona norte da cidade do rio, em que fui acompanhado por<br />
Lucas Bartolo que além de tradicionalmente participar da distribuição de doces, realiza<br />
pesquisa sobre a festa. Tendo em mente os conceitos abordados de Da Matta o primeiro<br />
ponto que gostaria de abordar é a dinâmica da rua com condôminos, em especifico o<br />
condomínio que visitei em que reside o Lucas.<br />
Cheguei no condomínio no início da tarde e já acontecia a movimentação das<br />
crianças em busca de doces. Pelo fato de região onde moro (São Gonçalo) não ter essa<br />
tradição tão viva estranhei a movimentação das crianças desde a entrada do condomínio.<br />
Aparentemente esse fluxo da rua para o condomínio é normal, porem como aborda<br />
Bartolo o binarismo entre rua/casa está presente principalmente quando pensamos em<br />
categorias como “morador e gente de fora” levantadas por Bartolo em seu texto. É<br />
importante observar que mesmo com essas categorias não havia nenhum impedimento<br />
perante essas crianças. Dentro do condomínio outra dinâmica que alterava o cotidiano<br />
da cidade era a presença dos pais, em que muitos faltaram seus empregos para<br />
acompanhar seus filhos, reproduzindo a tradição de pegar doces e assim mantendo a<br />
mesma. Um dos motivos desse fluxo pode ser tradição do local em distribuir doce,<br />
como aponta Hobsbaw, a tradição tem uma forte aptidão de atração para sim.<br />
Pensando em tradição, gostaria de abordar um outro momento do dia e outra<br />
ocupação de espaço urbano, mas dessa vez materializando não somente a devoção e a<br />
<br />
festa, mas também a memória e o afeto. Também no dia 27 visitei uma praça próxima a<br />
paroquia de São Cosme e Damião (que não estava distribuindo doces, uma vez que no<br />
calendário litúrgico a festa ocorre no dia 26) em que na praça havia um altar aos santos,<br />
além de uma mesa com doces que ocorria a distribuição de doce com uma longa fila de<br />
crianças e adolescentes.<br />
A praça e essa distribuição é mantida por moradores de um condomínio a<br />
frente da praça. Uma das interlocutoras ao falar do santuário que havia em frente,<br />
comentou sobre a ligação das estatuas achadas por seu falecido marido e sobre como ela<br />
cuida desde então, inclusive fazendo reparos das constantes depredações que o altar<br />
sofre. A depredação do altar que não modifica, porem focaliza o caráter do conflito,<br />
nesse caso religioso, envolvido no subúrbio carioca. Nas falas dos interlocutores a<br />
denúncia do preconceito religioso foi algo recorrente, tornando aquele espaço além de<br />
um lugar de devoção e de memória (POLLAK), um lugar de conflito.<br />
Gostaria de comentar brevemente outro ponto do dia de São Cosme e Damião<br />
que é a utilização do espaço público pelas crianças. Como aponto Freitas, na festa<br />
adultos e crianças compartilham um mesmo cosmo e mantém hábitos próprios durante a<br />
temporalidade da festa. O fato das crianças menores está sempre acompanhadas de<br />
crianças maiores ou adultos, a confecção dos sacos de doces pelos adultos paras<br />
crianças, confecção desses sacos que tem um impacto de direto nas vendas dos atacados<br />
(FREITAS,2015), além da necessidade do aumento da atenção dos adultos<br />
principalmente no transito uma vez, que há um fluxo desordenado de crianças inclusive<br />
pelas pistas.<br />
<br />
Conclusão:<br />
Este breve trabalho se propôs levantar algumas questões sobre a construção de<br />
lugares de festas pela materialização dos seus discursos e narrativas e a utilização de<br />
espaços em dias de festas urbanas no estado do Rio de Janeiro, passando da utilização<br />
do espaço noturno a relação binaria entre o público e o privado.<br />
<br />
==== Referências Bibliográficas ====<br />
<references /><br />
BARTOLO, Lucas. Entre a caridade, a diversão e o medo: o dia de Cosme e Damião em<br />
uma vila do subúrbio carioca. Infratextos, Rio de Janeiro:, 2018.<br />
<br />
DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5°<br />
edição. Rio de Janeiro: 1997.<br />
<br />
__________. Carnavais, malandros e Heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro.<br />
4° edição. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.<br />
<br />
__________. Ensaios de antropologia estrutural. 2° edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.<br />
FREITAS, Morena B. M. De doces e crianças: a festa de Cosme e Damião no Rio de<br />
Janeiro. 2015. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Programa e<br />
Pós-graduação em Antropologia Social, UFRJ, Rio de Janeiro.<br />
<br />
HOBSBAWM Erick & Terence Ranger (orgs.). A invenção das tradições. Rio de<br />
Janeiro: Paz e Terra, 1984.<br />
<br />
MENDEL, Luiz Gustavo. Giros Urbanos: Uma etnografia da festa do arremate da folia<br />
de reis de São Gonçalo-RJ. 2017. Tese (Doutorado em antropologia social). Programa<br />
de pós-graduação em antropologia, UFF, Niterói.<br />
<br />
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,<br />
vol. 5, n. 10, 1992</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Espa%C3%A7os_lugares_e_festas&diff=18774Espaços lugares e festas2023-05-31T18:03:59Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>Esse trabalho se propões apresentar uma breve reflexão sobre as alterações nas<br />
dinâmicas urbanas em dias de festas populares. Nesse trabalho serão abordadas duas<br />
festividades em locais e temporalidades diferentes. O arremate da folia de reis “Nova<br />
flor do oriente” localizada no bairro do Mutua no município de São Gonçalo, Rio de<br />
janeiro, acompanhado no dia 1 de setembro de 2018. E a festa de São Cosme e Damião,<br />
que foi acompanhada no dia 27 de setembro de 2019, na zona norte do Rio de janeiro.<br />
<br />
==== Folia de reis ====<br />
A folia de reis é uma festa popular que ocorre anualmente, que visa representar de maneira festiva e ritual a viagem dos três reis magos (Melchior, Baltasar e Gaspar) a cidade de Jerusalém. Na bíblia cristã essa viagem tem como intuito visitar, presentear e adorar o recém-nascido Jesus. A folia de reis é dividida em dois momentos distintos. O primeiro conhecido como giro, que tem seu início no dia 25 de dezembro e tradicionalmente tem a data de<br />
termino prevista para o dia 6 de janeiro (dia de reis). Porem no Rio de Janeiro esse<br />
período é prolongado até o dia 20 de janeiro, que é o dia de São Sebastião o padroeiro<br />
da cidade. O segundo momento é o arremate que será o foco deste trabalho. A data do<br />
arremate pode variar de folia para folia, sempre priorizando escolher dias em que não<br />
aconteça qualquer outra folia, uma vez que ocorre visitas de outras folias, durante o<br />
arremate.<br />
Durante o giro as folias levam suas respectivas bandeiras à casa dos adeptos,<br />
em um período de peregrinação que é uma das primeiras representações simbólicas da<br />
história dos três reis magos. Da mesma maneira que Melchior, Baltasar e Gaspar<br />
viajaram para abençoar o menino Jesus, a folia realiza essas viagens em que ao chegar<br />
nas casas iram entoara cânticos em um ritual que visa abençoar o lar e os anfitriões.<br />
Esse período as relações entre os foliões e os adeptos se estreitam uma vez que em troca<br />
da benção os anfitriões retribuem com oferendas que tradicionalmente são pequenos<br />
banquetes em que ocorre um contato menos ritualístico e mais social.<br />
<br />
Na segunda parte acontece o arremate. O arremate é o fechamento do ciclo da<br />
folia e uma festa de rua que integra as folias, os adeptos e os bairros que estão<br />
localizadas as folias. Essa segunda parte também está separada em momentos distintos,<br />
que ocorre em espaços, alterando a dinâmica dos mesmos. Por mais que nesse trabalho<br />
busco recortar esses espaços para desenvolver a analise, gostaria de pontuar como<br />
marcado por Mendel, esses espaços estão constantemente em dialogo se<br />
complementando e se sobrepondo.<br />
A casa e seus diversos “lugares”:<br />
Acionando o conceito de lugares apresentado por Marc Augé em seu livro<br />
“Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade”, busco analisar as<br />
mudanças causadas pela festividade no domínio da casa e mais à frente no domínio da<br />
rua. Lembrando que além do caráter festivo a folia é marcada pelo seu caráter<br />
ritualístico. Esse caráter ritualístico é o que mais marca a primeira etapa que ocorre<br />
dentro do ambiente privado das dependências do quintal do mestre Fumaça. Nesse<br />
momento podemos dividir o quintal em três setores específicos: o altar que se encontra<br />
a bandeira da folia, um ambiente nos fundos do quintal que funciona como um refeitório<br />
e a entrada do quintal em que ocorre a cerimonia da folia tendo em mente as múltiplas<br />
noções da categoria espaço como escrito por Roberto Da Matta “Não é preciso<br />
especular muito para descobrir que temos espaços concebidos como eternos e<br />
transitórios, legais e mágicos, individualizados e coletivos. ”<br />
Pensado o lugar antropológico (Augé, 1992) como conjuntos de elementos<br />
ordenados caracterizado pelo percurso da sua linguagem e pensando no caráter relativo<br />
do espaço apresentado por Agier, analisemos o primeiro desses setores que será o<br />
espaço do refeitório. O refeitório foi o primeiro lugar que me dirigi, era início da noite e<br />
fui convidado para jantar com os foliões. Como dito por Mendel, no arremate a refeição<br />
tem um importante papel de agente na construção da sociabilidade para a folia. Nesse<br />
ambiente se destaca o palhaço que não se sentava a mesa com os outros foliões,<br />
mostrando a influência do rito naquele espaço, o estruturando fora das dimensões de<br />
uma simples casa. Esse espaço, por mais que entre na categoria transitório dentro desse<br />
cosmo da folia, materializa a narrativa do evento, personificando a rejeição do palhaço<br />
com sua carga negativa (uma vez que o mesmo representa um dos perseguidores) e<br />
rompe o caráter privado do lar com o fluxo de indivíduos que não necessariamente<br />
pertence aquele lar.<br />
<br />
O segundo setor que podemos abordar nesse trabalho um cômodo da casa que<br />
acomoda a bandeira da folia e seu altar, funcionando como uma espécie de santuário. Se<br />
encaixando dentro da categoria de espaço magico e novamente materializando as<br />
narrativas abraças pela Communita (MATTA, 1973). O palhaço novamente se destaca<br />
agora nesse espaço, uma vez que, para entrar nesse ambiente o folião vestido de palhaço<br />
deveria retirar sua máscara e pôr no chão virada para baixo, além de entrar de joelhos.<br />
Me foi explicado que o palhaço é a representação dos perseguidores de jesus<br />
que se arrependeram e se incumbiram da missão de afastar outros perseguidores. É<br />
interessante pensar que toda essa carga profana causa uma série de limitações na<br />
ocupação do “lugar”, tornando o espaço da casa para o palhaço mais próximo do<br />
universo individualista da rua do que de um espaço doméstico, que como descreve Da<br />
Matta, “todos são pessoas” ligados por algum tipo de vínculo, nesse caso o da<br />
hospitalidade.<br />
O terceiro espaço é o quintal em que ocorre a cerimonia da folia, além de ser<br />
um espaço de transito e conexão entre as múltiplas localidades em que a festa está<br />
situada, podendo ser encarado como um espaço “arruado” (MATTA,1997). No final da<br />
cerimonia o altar com a bandeira da folia é movido para esse espaço do quintal e a folia<br />
sai da dependência do quintal para a rua. Durante a noite outras folias iram entrar no<br />
quintal depositando suas bandeiras próximas do altar, além de se dirigir para o espaço<br />
que está funcionado como refeitório.<br />
A ocupação da rua:<br />
Da Matta em seu livro “carnavais malandros e heróis” fala sobre como a festa<br />
do carnaval muda o planejamento urbano, fechando o comercio e o transito da cidade<br />
por exemplo. No nosso caso a festa tem o impacto diferente do carnaval, uma vez que<br />
em vez de fechar ele abre comércios momentâneos, através de barracas de bebidas, além<br />
ocupar as ruas noturnas da periferia. Além da ocupação do espaço, modifica a rotina da<br />
vizinhança, inclusive daqueles que não participam da folia, uma vez que a folia é<br />
marcada pela sua bateria, brincadeiras e rezas, contando inclusive com um carro de som.<br />
Ou seja, antes do evento como descreve Mendel há toda uma preocupação em avisar os<br />
vizinhos sobre o mesmo, principalmente por se tratar de um evento que dura até a<br />
manhã do dia seguinte.<br />
<br />
Essas mudanças causadas pela aptidão que as festas de rua têm de subverter o cotidiano<ref>DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5° edição. Rio de Janeiro: 199</ref> afetando a esfera do público e do privado, do individual ao<br />
coletivo, da casa a rua, materializando suas narrativas nos espaços urbanos e<br />
construindo seus lugares de festa. Outra importante festa de rua que causa mudanças nas<br />
dinâmicas urbanas, inclusive transformando “não-lugares” em lugares de festa, de<br />
devoção e de memória é o dia de São Cosme e São Damião.<br />
<br />
O dia de São Cosme e São Damião:<br />
<br />
No dia 27 de setembro ocorre a mais relevante expressão de devoção aos<br />
santos Cosme e Damião (BARTOLO, 2018). Marcado pela distribuição de doces e<br />
brinquedos e devoções o dia causa uma movimentação incomum de crianças pela rua,<br />
além da penetração desses indivíduos em ambientes que não fazem necessariamente<br />
parte do seu cotidiano. Para discorrer sobre o assunto me apoiarei em algumas<br />
observações realizadas no dia 27 de setembro de 2019 em que acompanhei a<br />
distribuição de doces na zona norte da cidade do rio, em que fui acompanhado por<br />
Lucas Bartolo que além de tradicionalmente participar da distribuição de doces, realiza<br />
pesquisa sobre a festa. Tendo em mente os conceitos abordados de Da Matta o primeiro<br />
ponto que gostaria de abordar é a dinâmica da rua com condôminos, em especifico o<br />
condomínio que visitei em que reside o Lucas.<br />
Cheguei no condomínio no início da tarde e já acontecia a movimentação das<br />
crianças em busca de doces. Pelo fato de região onde moro (São Gonçalo) não ter essa<br />
tradição tão viva estranhei a movimentação das crianças desde a entrada do condomínio.<br />
Aparentemente esse fluxo da rua para o condomínio é normal, porem como aborda<br />
Bartolo o binarismo entre rua/casa está presente principalmente quando pensamos em<br />
categorias como “morador e gente de fora” levantadas por Bartolo em seu texto. É<br />
importante observar que mesmo com essas categorias não havia nenhum impedimento<br />
perante essas crianças. Dentro do condomínio outra dinâmica que alterava o cotidiano<br />
da cidade era a presença dos pais, em que muitos faltaram seus empregos para<br />
acompanhar seus filhos, reproduzindo a tradição de pegar doces e assim mantendo a<br />
mesma. Um dos motivos desse fluxo pode ser tradição do local em distribuir doce,<br />
como aponta Hobsbaw, a tradição tem uma forte aptidão de atração para sim.<br />
Pensando em tradição, gostaria de abordar um outro momento do dia e outra<br />
ocupação de espaço urbano, mas dessa vez materializando não somente a devoção e a<br />
<br />
festa, mas também a memória e o afeto. Também no dia 27 visitei uma praça próxima a<br />
paroquia de São Cosme e Damião (que não estava distribuindo doces, uma vez que no<br />
calendário litúrgico a festa ocorre no dia 26) em que na praça havia um altar aos santos,<br />
além de uma mesa com doces que ocorria a distribuição de doce com uma longa fila de<br />
crianças e adolescentes.<br />
A praça e essa distribuição é mantida por moradores de um condomínio a<br />
frente da praça. Uma das interlocutoras ao falar do santuário que havia em frente,<br />
comentou sobre a ligação das estatuas achadas por seu falecido marido e sobre como ela<br />
cuida desde então, inclusive fazendo reparos das constantes depredações que o altar<br />
sofre. A depredação do altar que não modifica, porem focaliza o caráter do conflito,<br />
nesse caso religioso, envolvido no subúrbio carioca. Nas falas dos interlocutores a<br />
denúncia do preconceito religioso foi algo recorrente, tornando aquele espaço além de<br />
um lugar de devoção e de memória (POLLAK), um lugar de conflito.<br />
Gostaria de comentar brevemente outro ponto do dia de São Cosme e Damião<br />
que é a utilização do espaço público pelas crianças. Como aponto Freitas, na festa<br />
adultos e crianças compartilham um mesmo cosmo e mantém hábitos próprios durante a<br />
temporalidade da festa. O fato das crianças menores está sempre acompanhadas de<br />
crianças maiores ou adultos, a confecção dos sacos de doces pelos adultos paras<br />
crianças, confecção desses sacos que tem um impacto de direto nas vendas dos atacados<br />
(FREITAS,2015), além da necessidade do aumento da atenção dos adultos<br />
principalmente no transito uma vez, que há um fluxo desordenado de crianças inclusive<br />
pelas pistas.<br />
<br />
Conclusão:<br />
Este breve trabalho se propôs levantar algumas questões sobre a construção de<br />
lugares de festas pela materialização dos seus discursos e narrativas e a utilização de<br />
espaços em dias de festas urbanas no estado do Rio de Janeiro, passando da utilização<br />
do espaço noturno a relação binaria entre o público e o privado.<br />
<br />
==== Referências Bibliográficas ====<br />
<references /><br />
AGIER, Michel. “Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos". São<br />
Paulo: Terceiro Nome, 2011.<br />
<br />
AUGÉ, Marc. Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade.<br />
São Paulo: Papirus, 1994<br />
<br />
BARTOLO, Lucas. Entre a caridade, a diversão e o medo: o dia de Cosme e Damião em<br />
uma vila do subúrbio carioca. Infratextos, Rio de Janeiro:, 2018.<br />
<br />
DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5°<br />
edição. Rio de Janeiro: 1997.<br />
<br />
__________. Carnavais, malandros e Heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro.<br />
4° edição. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.<br />
<br />
__________. Ensaios de antropologia estrutural. 2° edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.<br />
FREITAS, Morena B. M. De doces e crianças: a festa de Cosme e Damião no Rio de<br />
Janeiro. 2015. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Programa e<br />
Pós-graduação em Antropologia Social, UFRJ, Rio de Janeiro.<br />
<br />
HOBSBAWM Erick & Terence Ranger (orgs.). A invenção das tradições. Rio de<br />
Janeiro: Paz e Terra, 1984.<br />
<br />
MENDEL, Luiz Gustavo. Giros Urbanos: Uma etnografia da festa do arremate da folia<br />
de reis de São Gonçalo-RJ. 2017. Tese (Doutorado em antropologia social). Programa<br />
de pós-graduação em antropologia, UFF, Niterói.<br />
<br />
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,<br />
vol. 5, n. 10, 1992</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Militariza%C3%A7%C3%A3o&diff=18615Militarização2023-05-23T18:48:42Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><section begin="resumo" />[[Arquivo:Exército na Rocinha em 2018 Foto Kita Pedroza.jpg|borda|left|semmoldura|400x400px]]<br />
'''[[Militarização]]''', verbete no qual são sistematizadas as principais teorias e ideias que definem este conceito, ainda em debate, nos contextos acadêmico e político. Além de autores que discutem o tema em escala mundial, são apresentados argumentos e formas de compreender a militarização a partir de estudos específicos sobre a realidade local do Rio de Janeiro. Seja como processo histórico-social onde instituições militares moldam o curso da vida, como justificativa ideológica que permite a transformação dos espaços cotidianos em "campos de batalha" ou "forma de governo" que põe em prática historicamente o exercício do poder violento contra as populações pobres, as ideias apresentadas oferecem chance de refletir sobre esse fenômeno que, embora não seja recente, toma conta da vida cotidiana de formas cada vez mais frequentes.<br />
Autora:[[Usuário:Lia_Rocha|Lia Rocha]].<br />
<section end="resumo" /><br />
<br />
==Conceito==<br />
Trata-se de conceito ainda em definição, parte de um importante debate travado politicamente e academicamente. [https://en.wikipedia.org/wiki/Catherine_Lutz Catherine Lutz],&nbsp;por exemplo, define militarização como um processo histórico-social através do qual instituições militares (as Forças Armadas nacionais) contribuíram para moldar a vida humana no planeta, seja através de sua ação seja através da disseminação de visões positivas sobre os militares e o mundo militar. A autora chama ainda atenção para os enormes investimentos públicos feitos nessas instituições que permitiram às Forças Armadas alcançarem essa influência<ref>Cf. em <https://www.academia.edu/2839719/Militarization>.</ref>.<br />
<br />
Em sentido similar, mas com algumas divergências, Stephen Graham define militarização como a justificativa moral e ideológica que permite transformar todos os espaços em “campos de batalha”, inclusive as ruas e espaços públicos das cidades dos países centrais que sempre viram a guerra de longe, sendo travada nos países da África, Ásia e América Latina. Para o autor, vivemos em uma época que tem a “guerra como metáfora dominante para descrever a condição constante e irrestrita das sociedades urbanas – em guerra contra as drogas, contra o crime, contra o terror, contra a própria insegurança” e apresenta os espaços urbanos como “locais prosaicos e cotidianos, áreas de circulação e espaços da cidade [que] estão se tornando” palco dessas “guerras” todas.<ref>Cf. em <https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2016/08/06/Como-o-%E2%80%98novo-urbanismo-militar%E2%80%99-est%C3%A1-redesenhando-as-grandes-cidades></ref><br />
<br />
Já Leite, Rocha, Farias e Carvalho argumentam, na Introdução do livro "Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção”, que a militarização é uma forma de governo, conforme pensou Foucault em seu debate sobre governamentalidade - uma forma de exercício de poder “que tem como alvo principal a população, como forma mais importante de saber, a economia política, como instrumento técnico essencial, os dispositivos de segurança”<ref>FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos IV. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 303. </ref> , e que envolve a preeminência da soberania e da disciplina para modelar condutas (e, portanto, não apenas o governo dos outros, mas também o governo de si). Isso significa que o poder não emana apenas das instituições estatais – ainda que seus operadores sejam atores centrais de vários dos processos e situações aqui analisados –, mas pode ser observado circulando em diversos contextos a partir de seus diferentes agentes e funcionários (aqui, o Exército, a Polícia Militar, a Polícia Civil; ali, seus agentes e a burocracia de suas diversas instituições), das igrejas, das ONGs, dos trabalhadores dos programas sociais, do mercado, e muitas vezes do crime.<br />
<br />
Muitos outros autores abordam o tema, mas não é possível recuperar todos os debates aqui. Cabe ressaltar por último que, ainda que a militarização não seja um fenômeno recente, suas configurações se modificaram em termos de um aprofundamento desta lógica, especialmente a partir dos ataques às Torres Gêmeas na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, em 09 de Setembro de 2011. Desde então, o país tem disseminado uma doutrina securitária que tem sido chamada de guerra de nova geração, ou Guerra 4.0, onde o "campo de batalha” deixa de ser um espaço rural pouco habitado (como na 2a Guerra Mundial ou nos Conflitos Pós-Coloniais, como a Guerra da Coréia e do Vietnã ou as guerras civis africanas) para ser travada nos espaços das cidades - sejam elas no Sul Global, como Bagdá ou Rio de Janeiro, ou no Norte, como Londres, Nova Iorque, etc. A guerra deixa de ser travada no “campo de batalha” (battlefield) para ser travada potencialmente em qualquer lugar ("espaço de batalha” ou battlespace). Como afirma Graham, a “militarização da sociedade civil é a extensão das ideias militares de rastreamento, identificação e seleção nos espaços e meios de circulação da vida cotidiana.”<ref>GRAHAM, Stephen. Cidades sitiadas: o novo urbanismo militar. São Paulo: Boitempo Editorial, Coleção Estado de Sítio, 2016, p. 24. </ref>.<br />
<br />
==Do que estamos falando quando falamos em militarização?==<br />
<br />
*Uso de armas e equipamentos considerados “de guerra” na repressão ao crime e/ou protestos e nos confrontos armados:<br />
<br />
:<br />
::Tanques sendo usados para reprimir protestos na Praça da Paz Celestial, na China em 1989 ([https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-foi-o-protesto-da-paz-celestial/ https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-foi-o-protesto-da-paz-celestial/]) <br />
:<br />
::Blindado conhecido como Caveirão, usado frequentemente nas favelas cariocas para levar policiais militares e civis para operações ([https://piaui.folha.uol.com.br/materia/dentro-do-caveirao/ https://piaui.folha.uol.com.br/materia/dentro-do-caveirao/] e [http://www.global.org.br/blog/lancamento-da-campanha-caveirao-nao-favelas-pela-vida-e-contra-as-operacoes/ http://www.global.org.br/blog/lancamento-da-campanha-caveirao-nao-favelas-pela-vida-e-contra-as-operacoes/])<br />
<br />
:<br />
::Armas “de guerra” sendo usadas também pelos membros das quadrilhas de comércio de drogas ilícitas com o treinamento de ex-militares ([https://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,no-rio-ex-militares-ensinam-taticas-do-exercito-a-faccoes-criminosas,70002212653 https://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,no-rio-ex-militares-ensinam-taticas-do-exercito-a-faccoes-criminosas,70002212653]) e só sendo possível porque os policiais, que têm acesso à essas armas, vendem para os traficantes ([https://istoe.com.br/113928_OS+SENHORES+DAS+ARMAS/ https://istoe.com.br/113928_OS+SENHORES+DAS+ARMAS/]).<br />
<br />
*Tecnologias de vigilância e controle sendo utilizadas para "patrulhar" cidades e seus moradores:<br />
<br />
:<br />
::Londres, por exemplo, é a cidade mais vigiada do mundo, com uma câmera para cada 14 habitantes ([https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1007200712.htm https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1007200712.htm])<br />
:<br />
::Algumas favelas ocupadas por forças de “pacificação" durante o programa das UPPs também passaram a ser vigiadas com câmeras ([http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/01/quatro-meses-apos-upp-rocinha-recebe-80-cameras-de-vigilancia.html http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/01/quatro-meses-apos-upp-rocinha-recebe-80-cameras-de-vigilancia.html]).<br />
<br />
:<br />
::Durante a Intervenção Federal no Rio de Janeiro (18 de fevereiro à 31 de dezembro de 2018) moradores de favelas foram “fichados” por agentes do Exército, sem qualquer justificativa ([http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/01/quatro-meses-apos-upp-rocinha-recebe-80-cameras-de-vigilancia.html http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/01/quatro-meses-apos-upp-rocinha-recebe-80-cameras-de-vigilancia.html]).<br />
<br />
*Forças Armadas sendo apresentadas como modelo moral e referências para outras instituições:<br />
<br />
:<br />
::Escolas públicas em Goiás e no Distrito Federal cuja gestão foi entregue à policiais militares, o que implicou em uma série de novas regras para o ambiente escolar ([https://epoca.globo.com/numero-de-escolas-publicas-militarizadas-no-pais-cresce-sob-pretexto-de-enquadrar-os-alunos-22904768 https://epoca.globo.com/numero-de-escolas-publicas-militarizadas-no-pais-cresce-sob-pretexto-de-enquadrar-os-alunos-22904768] e [https://istoe.com.br/colegios-publicos-com-gestao-militar-chegam-a-brasilia-na-era-bolsonaro/ https://istoe.com.br/colegios-publicos-com-gestao-militar-chegam-a-brasilia-na-era-bolsonaro/])<br />
:<br />
::Também grupos religiosos têm utilizado símbolos e lemas militares em suas práticas religiosas ([https://odia.ig.com.br/_conteudo/noticia/rio-de-janeiro/2015-03-05/polemico-exercito-da-igreja-universal-gladiadores-do-altar-chega-ao-rio.html https://odia.ig.com.br/_conteudo/noticia/rio-de-janeiro/2015-03-05/polemico-exercito-da-igreja-universal-gladiadores-do-altar-chega-ao-rio.html]) ou ainda membros das forças armadas se tornam líderes religiosos ([https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/07/1901929-bope-abre-templo-evangelico-e-utiliza-versiculos-para-justificar-letalidade.shtml https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/07/1901929-bope-abre-templo-evangelico-e-utiliza-versiculos-para-justificar-letalidade.shtml]).<br />
<br />
:<br />
::Tal propagação da imagem das Forças Armadas como uma instituição positiva, que deve servir de modelo para outras e que deve se tornar quase um “estilo de vida” é chamada de militarismo e teve por efeito, pelo menos no caso brasileiro, de tornar as Forças Armadas a instituição em que os brasileiros mais confiam, segundo pesquisa Datafolha de 2017. Segundo a pesquisa, 40% da população diz confiar muito nas Forças Armadas e 43% confiam um pouco. Outros 15% não confiam e 2% não souberam responder. ([https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/06/1895770-forcas-armadas-lideram-confianca-da-populacao-congresso-tem-descredito.shtml https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/06/1895770-forcas-armadas-lideram-confianca-da-populacao-congresso-tem-descredito.shtml]).<br />
<br />
==Militarização no Rio de Janeiro - da pacificação à intervenção==<br />
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Há décadas o Rio de Janeiro sofre os efeitos do que chamamos aqui de militarização. Como demonstra Marcia Leite em artigo basilar para entender este processo, no Rio de Janeiro a ideia de que vivemos “em guerra” foi disseminada a partir dos anos 1980 como forma de justificar os arbítrios e crimes das polícias contra a população trabalhadora, pobre, negra e moradora de favela ([http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n44/4148.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n44/4148.pdf]). A “Metáfora da Guerra” permite legitimar o extermínio dessas pessoas e a desconsideração por seus direitos porque apresenta a questão do crime e da segurança no Rio de Janeiro não como um problema de desigualdade social, e sim como uma “guerra" onde é preciso derrotar um inimigo - que se localiza nas favelas - mesmo que à custa de "vítimas inocentes”.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Ainda que o programa das Unidades de Polícia Pacificadora, iniciado em 2009 durante o governo de Sérgio Cabral (2007-2014), do PMDB, tenha sido apresentado como uma mudança da “guerra" para a “paz”, após dez anos de sua criação é possível afirmar que tal promessa não se realizou. Pelo contrário, a UPP significou a manutenção da “guerra” como forma estatal de gerenciamento da vida e dos conflitos nas favelas<ref>LEITE, Márcia Pereira. Entre o individualismo e a solidariedade: dilemas da política e da cidadania. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS (IMPRESSO), São Paulo, v. 15, n.44, p. 73-90, 2000. </ref> . Neste sentido, vale destacar que a militarização das favelas cariocas não é novidade, mas o programa representa uma ampliação da presença e atuação de forças militares (Polícia Militar de diferentes unidades, Exército, Força Nacional) nessas localidades.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Foi com a UPP que se tornou mais corriqueira a ocupação militar do espaço público, o acionamento das Forças Armadas para agir como força policial, nas operações de Garantia da Lei e da Ordem ([https://oglobo.globo.com/rio/ao-custo-de-25-milhoes-sete-operacoes-das-forcas-armadas-prenderam-147-pessoas-22002078 https://oglobo.globo.com/rio/ao-custo-de-25-milhoes-sete-operacoes-das-forcas-armadas-prenderam-147-pessoas-22002078]), a vigilância e controle dos moradores de favelas passaram a fazer parte da rotina (e não ser mais algo pontual), etc. Foi também a partir das UPPs que se fortaleceu a compreensão que os direitos sociais dos moradores de favelas estão subordinados à questão da segurança pública, em acordo com a doutrina securitária que legitima a militarização ([http://www.upprj.com/index.php/acontece/acontece-selecionado/upp-adeus-baiana-realiza-acaeo-social-para-moradores/Adeus%20|%20Baiana http://www.upprj.com/index.php/acontece/acontece-selecionado/upp-adeus-baiana-realiza-acaeo-social-para-moradores/Adeus%20%7C%20Baiana]).</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Dessa forma, o fim das UPPs não significa uma mudança na lógica da “guerra”: como sabemos, a intervenção federal na área da segurança do Rio de Janeiro, executada entre 16 de fevereiro e 31 de dezembro de 2018, representou um aprofundamento da doutrina de confronto, e em seguida a eleição do governador Wilson Witzel confirmou esse aprofundamento, com uma plataforma ainda mais bélica ([https://veja.abril.com.br/politica/wilson-witzel-a-policia-vai-mirar-na-cabecinha-e-fogo/ https://veja.abril.com.br/politica/wilson-witzel-a-policia-vai-mirar-na-cabecinha-e-fogo/]). Ainda sobre a Intervenção, os dados do Observatório da Intervenção ([http://observatoriodaintervencao.com.br http://observatoriodaintervencao.com.br]) mostram "que houve um aumento significativo dos disparos e tiroteios (57%), das chacinas (64%) e das mortes por policiais (34%), em comparação com o mesmo período do ano anterior (fevereiro a dezembro). As mortes violentas no geral tiveram uma leve queda de 2%. Já o número de policiais mortos em 2018 (92) foi o menor da série histórica, segundo a PM” ([https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/02/intervencao-no-rio-nao-gerou-mudancas-efetivas-conclui-estudo.shtml https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/02/intervencao-no-rio-nao-gerou-mudancas-efetivas-conclui-estudo.shtml]). A mesma matéria destaca os custos da intervenção, o que foi considerado muito alto para pouco retorno: "A equipe da intervenção recebeu R$ 1,2 bilhão para investir na segurança pública do estado e conseguiu empenhar 97% desse valor, mas até agora só 10% foram efetivamente gastos.”</span></p><br />
<br />
== Por que então a intervenção foi realizada? ==<br />
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Quando anunciou a intervenção, em pronunciamento nacional no dia 16 de fevereiro, o Presidente Michel Temer declarou que seu objetivo era “(...) pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública” no estado. Disse ainda que “o crime organizado quase tomou conta do Rio de Janeiro, uma metástase que se espalha pelo país e ameaça a segurança do nosso povo”. Afirmando se tratar de uma “medida extrema”, justificou que era inaceitável a situação de mortes de “pais e mães de família, trabalhadores, policiais, jovens e crianças, bairros inteiros sitiados, escolas sob a mira de fuzis e avenidas sendo utilizadas como trincheiras”. “A desordem, sabemos todos, é a pior das guerras”. Terminou garantindo que, após retirar o país da pior recessão de sua história, iria restaurar a ordem pública. “Muitas vezes o Brasil está a demandar medidas extremas para colocar ordem nas coisas” (([https://www.youtube.com/watch?v=7HOlqToJhcM https://www.youtube.com/watch?v=7HOlqToJhcM]). Em termos concretos, considerando os números resultantes da intervenção, diversos militantes de movimentos sociais, ativistas e pesquisadores têm argumentado que um dos objetivos da intervenção era reduzir o roubo de cargas ([https://diplomatique.org.br/a-intervencao-de-interesses-privados-na-seguranca-publica-no-rio-de-janeiro/ https://diplomatique.org.br/a-intervencao-de-interesses-privados-na-seguranca-publica-no-rio-de-janeiro/]), tipo de crime que afeta os negócios de milicianos que vendem proteção na cidade para empresários e são, como sabido, fortemente ligados aos grupos no poder ([https://theintercept.com/2019/01/22/bolsonaros-milicias/ https://theintercept.com/2019/01/22/bolsonaros-milicias/]). Outro motivo seria arranjar uma saída menos vexatória para o Temer para o fracasso político de não conseguir aprovar a Reforma da Previdência, pois durante a vigência de uma intervenção federal nos estados a Constituição Federal não pode ser modificada ([https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/16/politica/1518802306_130926.html https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/16/politica/1518802306_130926.html]). E, por fim, a intervenção foi uma tentativa (fracassada) de melhorar os níveis baixíssimos de aprovação popular de Temer ([https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/03/06/apos-intervencao-aprovacao-do-governo-temer-ficam-em-43-diz-cntmda.htm https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/03/06/apos-intervencao-aprovacao-do-governo-temer-ficam-em-43-diz-cntmda.htm]), ao colocar "no centro do debate público – nas manchetes de jornal, no posicionamento dos partidos políticos e movimentos sociais e nas rodas de conversas das pessoas comuns – o tema da segurança pública, esse conhecido Cavalo de Tróia da política fluminense e nacional“<ref>ROCHA, Lia de Mattos. </ref>.&nbsp;</span></p><br />
<br />
== Referências bibliográficas ==<br />
<p style="text-align: justify;">FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos IV. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.</p> <p style="text-align: justify;">GRAHAM, Stephen. Cidades sitiadas: o novo urbanismo militar. São Paulo: Boitempo Editorial, Coleção Estado de Sítio, 2016.</p> <p style="text-align: justify;">LEITE, Márcia Pereira. Entre o individualismo e a solidariedade: dilemas da política e da cidadania. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS (IMPRESSO), São Paulo, v. 15, n.44, p. 73-90, 2000.</p> <p style="text-align: justify;">LEITE, Marcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique. (Org.). Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção. 1ed.Rio de Janeiro: Mórula, 2018, v. 1.</p> <p style="text-align: justify;">Sandra e Masé In: LEITE, Marcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique (org.). Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção. 1ed.Rio de Janeiro: Mórula, 2018, v. 1, p. 142-160.</p> <p style="text-align: justify;">LUTZ, Catherine.“Militarization”. In: 2018 International Encyclopedia of Anthropology. London: Wiley-Blackwell, p. 7008 (2018).</p> <p style="text-align: justify;">MACHADO, Carly; ESPERANCA, V.&nbsp;; GONCALVES, V. . Militarização e Religião: alianças e controvérsias entre projetos morais de governo de territórios urbanos pacificados. In: LEITE, Marcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique (org.). Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção. 1ed.Rio de Janeiro: Mórula, 2018, v. 1, p. 142-160.</p> <p style="text-align: justify;">ROCHA, Lia de Mattos. "Democracia e militarização no Rio de Janeiro:“pacificação”, intervenção e seus efeitos no espaço público." In: LEITE, Marcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique (org.). Militarização no Rio de Janeiro: da “pacificação” à intervenção. Rio de Janeiro: Mórula (2018): 223-239.</p><br />
<br />
==Notas==<br />
<references /><br />
<br />
== Ver também ==<br />
*[[Guerra ao crime organizado? Favelas e intervenção militar]]<br />
*[[O que significa desmilitarizar? (artigo)]]<br />
*[[Origens da Militarização da Polícia (artigo)]]<br />
*[[Ethos militarizado]]<br />
*[[Policiamento]]<br />
*[[Polícia de proximidade]]<br />
*[[Por que o militarismo é inadequado para a função policial? (artigo)]]<br />
[[Category:Intervenção Militar]] [[Category:Pacificação]] [[Category:Polícia]] [[Category:Militarização]] [[Category:UPP]] [[Category:Violência]] [[Category:Temática - Segurança]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Militariza%C3%A7%C3%A3o&diff=18614Militarização2023-05-23T18:47:49Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><section begin="resumo" />[[Arquivo:Exército na Rocinha em 2018 Foto Kita Pedroza.jpg|borda|centro|semmoldura|400x400px]]<br />
'''[[Militarização]]''', verbete no qual são sistematizadas as principais teorias e ideias que definem este conceito, ainda em debate, nos contextos acadêmico e político. Além de autores que discutem o tema em escala mundial, são apresentados argumentos e formas de compreender a militarização a partir de estudos específicos sobre a realidade local do Rio de Janeiro. Seja como processo histórico-social onde instituições militares moldam o curso da vida, como justificativa ideológica que permite a transformação dos espaços cotidianos em "campos de batalha" ou "forma de governo" que põe em prática historicamente o exercício do poder violento contra as populações pobres, as ideias apresentadas oferecem chance de refletir sobre esse fenômeno que, embora não seja recente, toma conta da vida cotidiana de formas cada vez mais frequentes.<br />
<br />
Autora:[[Usuário:Lia_Rocha|Lia Rocha]].<br />
<section end="resumo" /><br />
<br />
==Conceito==<br />
Trata-se de conceito ainda em definição, parte de um importante debate travado politicamente e academicamente. [https://en.wikipedia.org/wiki/Catherine_Lutz Catherine Lutz],&nbsp;por exemplo, define militarização como um processo histórico-social através do qual instituições militares (as Forças Armadas nacionais) contribuíram para moldar a vida humana no planeta, seja através de sua ação seja através da disseminação de visões positivas sobre os militares e o mundo militar. A autora chama ainda atenção para os enormes investimentos públicos feitos nessas instituições que permitiram às Forças Armadas alcançarem essa influência<ref>Cf. em <https://www.academia.edu/2839719/Militarization>.</ref>.<br />
<br />
Em sentido similar, mas com algumas divergências, Stephen Graham define militarização como a justificativa moral e ideológica que permite transformar todos os espaços em “campos de batalha”, inclusive as ruas e espaços públicos das cidades dos países centrais que sempre viram a guerra de longe, sendo travada nos países da África, Ásia e América Latina. Para o autor, vivemos em uma época que tem a “guerra como metáfora dominante para descrever a condição constante e irrestrita das sociedades urbanas – em guerra contra as drogas, contra o crime, contra o terror, contra a própria insegurança” e apresenta os espaços urbanos como “locais prosaicos e cotidianos, áreas de circulação e espaços da cidade [que] estão se tornando” palco dessas “guerras” todas.<ref>Cf. em <https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2016/08/06/Como-o-%E2%80%98novo-urbanismo-militar%E2%80%99-est%C3%A1-redesenhando-as-grandes-cidades></ref><br />
<br />
Já Leite, Rocha, Farias e Carvalho argumentam, na Introdução do livro "Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção”, que a militarização é uma forma de governo, conforme pensou Foucault em seu debate sobre governamentalidade - uma forma de exercício de poder “que tem como alvo principal a população, como forma mais importante de saber, a economia política, como instrumento técnico essencial, os dispositivos de segurança”<ref>FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos IV. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 303. </ref> , e que envolve a preeminência da soberania e da disciplina para modelar condutas (e, portanto, não apenas o governo dos outros, mas também o governo de si). Isso significa que o poder não emana apenas das instituições estatais – ainda que seus operadores sejam atores centrais de vários dos processos e situações aqui analisados –, mas pode ser observado circulando em diversos contextos a partir de seus diferentes agentes e funcionários (aqui, o Exército, a Polícia Militar, a Polícia Civil; ali, seus agentes e a burocracia de suas diversas instituições), das igrejas, das ONGs, dos trabalhadores dos programas sociais, do mercado, e muitas vezes do crime.<br />
<br />
Muitos outros autores abordam o tema, mas não é possível recuperar todos os debates aqui. Cabe ressaltar por último que, ainda que a militarização não seja um fenômeno recente, suas configurações se modificaram em termos de um aprofundamento desta lógica, especialmente a partir dos ataques às Torres Gêmeas na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, em 09 de Setembro de 2011. Desde então, o país tem disseminado uma doutrina securitária que tem sido chamada de guerra de nova geração, ou Guerra 4.0, onde o "campo de batalha” deixa de ser um espaço rural pouco habitado (como na 2a Guerra Mundial ou nos Conflitos Pós-Coloniais, como a Guerra da Coréia e do Vietnã ou as guerras civis africanas) para ser travada nos espaços das cidades - sejam elas no Sul Global, como Bagdá ou Rio de Janeiro, ou no Norte, como Londres, Nova Iorque, etc. A guerra deixa de ser travada no “campo de batalha” (battlefield) para ser travada potencialmente em qualquer lugar ("espaço de batalha” ou battlespace). Como afirma Graham, a “militarização da sociedade civil é a extensão das ideias militares de rastreamento, identificação e seleção nos espaços e meios de circulação da vida cotidiana.”<ref>GRAHAM, Stephen. Cidades sitiadas: o novo urbanismo militar. São Paulo: Boitempo Editorial, Coleção Estado de Sítio, 2016, p. 24. </ref>.<br />
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==Do que estamos falando quando falamos em militarização?==<br />
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*Uso de armas e equipamentos considerados “de guerra” na repressão ao crime e/ou protestos e nos confrontos armados:<br />
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::Tanques sendo usados para reprimir protestos na Praça da Paz Celestial, na China em 1989 ([https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-foi-o-protesto-da-paz-celestial/ https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-foi-o-protesto-da-paz-celestial/]) <br />
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::Blindado conhecido como Caveirão, usado frequentemente nas favelas cariocas para levar policiais militares e civis para operações ([https://piaui.folha.uol.com.br/materia/dentro-do-caveirao/ https://piaui.folha.uol.com.br/materia/dentro-do-caveirao/] e [http://www.global.org.br/blog/lancamento-da-campanha-caveirao-nao-favelas-pela-vida-e-contra-as-operacoes/ http://www.global.org.br/blog/lancamento-da-campanha-caveirao-nao-favelas-pela-vida-e-contra-as-operacoes/])<br />
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::Armas “de guerra” sendo usadas também pelos membros das quadrilhas de comércio de drogas ilícitas com o treinamento de ex-militares ([https://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,no-rio-ex-militares-ensinam-taticas-do-exercito-a-faccoes-criminosas,70002212653 https://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,no-rio-ex-militares-ensinam-taticas-do-exercito-a-faccoes-criminosas,70002212653]) e só sendo possível porque os policiais, que têm acesso à essas armas, vendem para os traficantes ([https://istoe.com.br/113928_OS+SENHORES+DAS+ARMAS/ https://istoe.com.br/113928_OS+SENHORES+DAS+ARMAS/]).<br />
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*Tecnologias de vigilância e controle sendo utilizadas para "patrulhar" cidades e seus moradores:<br />
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::Londres, por exemplo, é a cidade mais vigiada do mundo, com uma câmera para cada 14 habitantes ([https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1007200712.htm https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1007200712.htm])<br />
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::Algumas favelas ocupadas por forças de “pacificação" durante o programa das UPPs também passaram a ser vigiadas com câmeras ([http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/01/quatro-meses-apos-upp-rocinha-recebe-80-cameras-de-vigilancia.html http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/01/quatro-meses-apos-upp-rocinha-recebe-80-cameras-de-vigilancia.html]).<br />
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::Durante a Intervenção Federal no Rio de Janeiro (18 de fevereiro à 31 de dezembro de 2018) moradores de favelas foram “fichados” por agentes do Exército, sem qualquer justificativa ([http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/01/quatro-meses-apos-upp-rocinha-recebe-80-cameras-de-vigilancia.html http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/01/quatro-meses-apos-upp-rocinha-recebe-80-cameras-de-vigilancia.html]).<br />
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*Forças Armadas sendo apresentadas como modelo moral e referências para outras instituições:<br />
<br />
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::Escolas públicas em Goiás e no Distrito Federal cuja gestão foi entregue à policiais militares, o que implicou em uma série de novas regras para o ambiente escolar ([https://epoca.globo.com/numero-de-escolas-publicas-militarizadas-no-pais-cresce-sob-pretexto-de-enquadrar-os-alunos-22904768 https://epoca.globo.com/numero-de-escolas-publicas-militarizadas-no-pais-cresce-sob-pretexto-de-enquadrar-os-alunos-22904768] e [https://istoe.com.br/colegios-publicos-com-gestao-militar-chegam-a-brasilia-na-era-bolsonaro/ https://istoe.com.br/colegios-publicos-com-gestao-militar-chegam-a-brasilia-na-era-bolsonaro/])<br />
:<br />
::Também grupos religiosos têm utilizado símbolos e lemas militares em suas práticas religiosas ([https://odia.ig.com.br/_conteudo/noticia/rio-de-janeiro/2015-03-05/polemico-exercito-da-igreja-universal-gladiadores-do-altar-chega-ao-rio.html https://odia.ig.com.br/_conteudo/noticia/rio-de-janeiro/2015-03-05/polemico-exercito-da-igreja-universal-gladiadores-do-altar-chega-ao-rio.html]) ou ainda membros das forças armadas se tornam líderes religiosos ([https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/07/1901929-bope-abre-templo-evangelico-e-utiliza-versiculos-para-justificar-letalidade.shtml https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/07/1901929-bope-abre-templo-evangelico-e-utiliza-versiculos-para-justificar-letalidade.shtml]).<br />
<br />
:<br />
::Tal propagação da imagem das Forças Armadas como uma instituição positiva, que deve servir de modelo para outras e que deve se tornar quase um “estilo de vida” é chamada de militarismo e teve por efeito, pelo menos no caso brasileiro, de tornar as Forças Armadas a instituição em que os brasileiros mais confiam, segundo pesquisa Datafolha de 2017. Segundo a pesquisa, 40% da população diz confiar muito nas Forças Armadas e 43% confiam um pouco. Outros 15% não confiam e 2% não souberam responder. ([https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/06/1895770-forcas-armadas-lideram-confianca-da-populacao-congresso-tem-descredito.shtml https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/06/1895770-forcas-armadas-lideram-confianca-da-populacao-congresso-tem-descredito.shtml]).<br />
<br />
==Militarização no Rio de Janeiro - da pacificação à intervenção==<br />
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Há décadas o Rio de Janeiro sofre os efeitos do que chamamos aqui de militarização. Como demonstra Marcia Leite em artigo basilar para entender este processo, no Rio de Janeiro a ideia de que vivemos “em guerra” foi disseminada a partir dos anos 1980 como forma de justificar os arbítrios e crimes das polícias contra a população trabalhadora, pobre, negra e moradora de favela ([http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n44/4148.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n44/4148.pdf]). A “Metáfora da Guerra” permite legitimar o extermínio dessas pessoas e a desconsideração por seus direitos porque apresenta a questão do crime e da segurança no Rio de Janeiro não como um problema de desigualdade social, e sim como uma “guerra" onde é preciso derrotar um inimigo - que se localiza nas favelas - mesmo que à custa de "vítimas inocentes”.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Ainda que o programa das Unidades de Polícia Pacificadora, iniciado em 2009 durante o governo de Sérgio Cabral (2007-2014), do PMDB, tenha sido apresentado como uma mudança da “guerra" para a “paz”, após dez anos de sua criação é possível afirmar que tal promessa não se realizou. Pelo contrário, a UPP significou a manutenção da “guerra” como forma estatal de gerenciamento da vida e dos conflitos nas favelas<ref>LEITE, Márcia Pereira. Entre o individualismo e a solidariedade: dilemas da política e da cidadania. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS (IMPRESSO), São Paulo, v. 15, n.44, p. 73-90, 2000. </ref> . Neste sentido, vale destacar que a militarização das favelas cariocas não é novidade, mas o programa representa uma ampliação da presença e atuação de forças militares (Polícia Militar de diferentes unidades, Exército, Força Nacional) nessas localidades.</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Foi com a UPP que se tornou mais corriqueira a ocupação militar do espaço público, o acionamento das Forças Armadas para agir como força policial, nas operações de Garantia da Lei e da Ordem ([https://oglobo.globo.com/rio/ao-custo-de-25-milhoes-sete-operacoes-das-forcas-armadas-prenderam-147-pessoas-22002078 https://oglobo.globo.com/rio/ao-custo-de-25-milhoes-sete-operacoes-das-forcas-armadas-prenderam-147-pessoas-22002078]), a vigilância e controle dos moradores de favelas passaram a fazer parte da rotina (e não ser mais algo pontual), etc. Foi também a partir das UPPs que se fortaleceu a compreensão que os direitos sociais dos moradores de favelas estão subordinados à questão da segurança pública, em acordo com a doutrina securitária que legitima a militarização ([http://www.upprj.com/index.php/acontece/acontece-selecionado/upp-adeus-baiana-realiza-acaeo-social-para-moradores/Adeus%20|%20Baiana http://www.upprj.com/index.php/acontece/acontece-selecionado/upp-adeus-baiana-realiza-acaeo-social-para-moradores/Adeus%20%7C%20Baiana]).</span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Dessa forma, o fim das UPPs não significa uma mudança na lógica da “guerra”: como sabemos, a intervenção federal na área da segurança do Rio de Janeiro, executada entre 16 de fevereiro e 31 de dezembro de 2018, representou um aprofundamento da doutrina de confronto, e em seguida a eleição do governador Wilson Witzel confirmou esse aprofundamento, com uma plataforma ainda mais bélica ([https://veja.abril.com.br/politica/wilson-witzel-a-policia-vai-mirar-na-cabecinha-e-fogo/ https://veja.abril.com.br/politica/wilson-witzel-a-policia-vai-mirar-na-cabecinha-e-fogo/]). Ainda sobre a Intervenção, os dados do Observatório da Intervenção ([http://observatoriodaintervencao.com.br http://observatoriodaintervencao.com.br]) mostram "que houve um aumento significativo dos disparos e tiroteios (57%), das chacinas (64%) e das mortes por policiais (34%), em comparação com o mesmo período do ano anterior (fevereiro a dezembro). As mortes violentas no geral tiveram uma leve queda de 2%. Já o número de policiais mortos em 2018 (92) foi o menor da série histórica, segundo a PM” ([https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/02/intervencao-no-rio-nao-gerou-mudancas-efetivas-conclui-estudo.shtml https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/02/intervencao-no-rio-nao-gerou-mudancas-efetivas-conclui-estudo.shtml]). A mesma matéria destaca os custos da intervenção, o que foi considerado muito alto para pouco retorno: "A equipe da intervenção recebeu R$ 1,2 bilhão para investir na segurança pública do estado e conseguiu empenhar 97% desse valor, mas até agora só 10% foram efetivamente gastos.”</span></p><br />
<br />
== Por que então a intervenção foi realizada? ==<br />
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Quando anunciou a intervenção, em pronunciamento nacional no dia 16 de fevereiro, o Presidente Michel Temer declarou que seu objetivo era “(...) pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública” no estado. Disse ainda que “o crime organizado quase tomou conta do Rio de Janeiro, uma metástase que se espalha pelo país e ameaça a segurança do nosso povo”. Afirmando se tratar de uma “medida extrema”, justificou que era inaceitável a situação de mortes de “pais e mães de família, trabalhadores, policiais, jovens e crianças, bairros inteiros sitiados, escolas sob a mira de fuzis e avenidas sendo utilizadas como trincheiras”. “A desordem, sabemos todos, é a pior das guerras”. Terminou garantindo que, após retirar o país da pior recessão de sua história, iria restaurar a ordem pública. “Muitas vezes o Brasil está a demandar medidas extremas para colocar ordem nas coisas” (([https://www.youtube.com/watch?v=7HOlqToJhcM https://www.youtube.com/watch?v=7HOlqToJhcM]). Em termos concretos, considerando os números resultantes da intervenção, diversos militantes de movimentos sociais, ativistas e pesquisadores têm argumentado que um dos objetivos da intervenção era reduzir o roubo de cargas ([https://diplomatique.org.br/a-intervencao-de-interesses-privados-na-seguranca-publica-no-rio-de-janeiro/ https://diplomatique.org.br/a-intervencao-de-interesses-privados-na-seguranca-publica-no-rio-de-janeiro/]), tipo de crime que afeta os negócios de milicianos que vendem proteção na cidade para empresários e são, como sabido, fortemente ligados aos grupos no poder ([https://theintercept.com/2019/01/22/bolsonaros-milicias/ https://theintercept.com/2019/01/22/bolsonaros-milicias/]). Outro motivo seria arranjar uma saída menos vexatória para o Temer para o fracasso político de não conseguir aprovar a Reforma da Previdência, pois durante a vigência de uma intervenção federal nos estados a Constituição Federal não pode ser modificada ([https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/16/politica/1518802306_130926.html https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/16/politica/1518802306_130926.html]). E, por fim, a intervenção foi uma tentativa (fracassada) de melhorar os níveis baixíssimos de aprovação popular de Temer ([https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/03/06/apos-intervencao-aprovacao-do-governo-temer-ficam-em-43-diz-cntmda.htm https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/03/06/apos-intervencao-aprovacao-do-governo-temer-ficam-em-43-diz-cntmda.htm]), ao colocar "no centro do debate público – nas manchetes de jornal, no posicionamento dos partidos políticos e movimentos sociais e nas rodas de conversas das pessoas comuns – o tema da segurança pública, esse conhecido Cavalo de Tróia da política fluminense e nacional“<ref>ROCHA, Lia de Mattos. </ref>.&nbsp;</span></p><br />
<br />
== Referências bibliográficas ==<br />
<p style="text-align: justify;">FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos IV. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.</p> <p style="text-align: justify;">GRAHAM, Stephen. Cidades sitiadas: o novo urbanismo militar. São Paulo: Boitempo Editorial, Coleção Estado de Sítio, 2016.</p> <p style="text-align: justify;">LEITE, Márcia Pereira. Entre o individualismo e a solidariedade: dilemas da política e da cidadania. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS (IMPRESSO), São Paulo, v. 15, n.44, p. 73-90, 2000.</p> <p style="text-align: justify;">LEITE, Marcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique. (Org.). Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção. 1ed.Rio de Janeiro: Mórula, 2018, v. 1.</p> <p style="text-align: justify;">Sandra e Masé In: LEITE, Marcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique (org.). Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção. 1ed.Rio de Janeiro: Mórula, 2018, v. 1, p. 142-160.</p> <p style="text-align: justify;">LUTZ, Catherine.“Militarization”. In: 2018 International Encyclopedia of Anthropology. London: Wiley-Blackwell, p. 7008 (2018).</p> <p style="text-align: justify;">MACHADO, Carly; ESPERANCA, V.&nbsp;; GONCALVES, V. . Militarização e Religião: alianças e controvérsias entre projetos morais de governo de territórios urbanos pacificados. In: LEITE, Marcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique (org.). Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção. 1ed.Rio de Janeiro: Mórula, 2018, v. 1, p. 142-160.</p> <p style="text-align: justify;">ROCHA, Lia de Mattos. "Democracia e militarização no Rio de Janeiro:“pacificação”, intervenção e seus efeitos no espaço público." In: LEITE, Marcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique (org.). Militarização no Rio de Janeiro: da “pacificação” à intervenção. Rio de Janeiro: Mórula (2018): 223-239.</p><br />
<br />
==Notas==<br />
<references /><br />
<br />
== Ver também ==<br />
*[[Guerra ao crime organizado? Favelas e intervenção militar]]<br />
*[[O que significa desmilitarizar? (artigo)]]<br />
*[[Origens da Militarização da Polícia (artigo)]]<br />
*[[Ethos militarizado]]<br />
*[[Policiamento]]<br />
*[[Polícia de proximidade]]<br />
*[[Por que o militarismo é inadequado para a função policial? (artigo)]]<br />
[[Category:Intervenção Militar]] [[Category:Pacificação]] [[Category:Polícia]] [[Category:Militarização]] [[Category:UPP]] [[Category:Violência]] [[Category:Temática - Segurança]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Um_carnaval_entre_a_alegria_e_a_desilus%C3%A3o_%E2%80%93_30_dias_(filme)&diff=18270Um carnaval entre a alegria e a desilusão – 30 dias (filme)2023-04-27T20:37:21Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><br />
'''Autor:&nbsp;Valmir Moratelli.'''<br />
<br />
= Sobre o Filme =<br />
<br />
Após mais um corte de gastos e outros problemas com a Prefeitura do Rio, a escola de [[Samba,Funk e Rap: um panorama sobre a criminalização da cultura negra no Brasil.|samba]] Alegria da Zona Sul teve apenas 30 dias para a realização de seu desfile no carnaval de 2019. O filme discute temas como o desmonte da cultura popular no Rio de Janeiro, o [[Racismo, motor da violência (relatório)|racismo]], a [[intolerância religiosa]] e outros dramas atuais relacionados à maior festa popular do planeta.<br />
<br />
= Ficha Técnica =<br />
<br />
Lançamento: 2019<br />
<br />
Direção: Valmir Moratelli<br />
<br />
País: Brasil&nbsp;<br />
<br />
= Trailer =<br />
<br />
{{#evu:https://vimeo.com/333183683}}<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
[[Category:Filmes]] [[Category:Cultura]] [[Category:Temática - Cultura]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Habita%C3%A7%C3%A3o_e_infraestruturas_locais_-_urbaniza%C3%A7%C3%A3o_versus_remo%C3%A7%C3%A3o_(live)&diff=18267Habitação e infraestruturas locais - urbanização versus remoção (live)2023-04-25T15:27:50Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div> Autoria: Dicionário de Favelas Marielle Franco.<br />
<br />
== Sobre ==<br />
<br />
"[[Favelas em Movimento (lives)|Favelas em Movimento]]" é a nova série de lives do Dicionário de Favelas Marielle Franco. Toda última terça-feira do mês, às 18h, no&nbsp;[https://www.youtube.com/channel/UC5z5hsnZOZJH8vFacP-9poQ canal da VídeoSaúde]&nbsp;(Distribuidora da Fiocruz), moradores(as) e representantes de favelas e periferias se encontram para um bate-papo sobre questões sociais, políticas, [[:Categoria:Cultura|culturais]] e [[:Categoria:Economia|econômicas]] fundamentais para pensarmos a vida destas pessoas em um [[Coronavírus nas favelas|cenário pandêmico]], mas também o futuro.<br />
== Resumo ==<br />
Nesse episódio, os convidados debatem as lutas por acesso à [[moradia]], uma pauta que, apesar de secundarizada pelo poder público, é fundamental para o acesso&nbsp; a outras políticas públicas, como [[:Categoria:Saúde|saúde]] e [[:Categoria:Educação|educação]]. Eles denunciam as [[Violência de Estado na Baixada Fluminense|violências produzidas pelo estado]], a partir das [[Remoções de favelas no Rio de Janeiro|políticas de remoção]] e da deslegitimação das experiências de urbanização feitas pelos próprios moradores e apontam para soluções, como o investimento em infraestrutura, produção de novas [[Moradia|moradias]] e trabalhos de contenção e drenagem em áreas de encostas. Os convidados analisam ainda os desafios na articulação das lutas por moradia, com a necessidade de organização coletiva e a superação da lógica da terra como mercadoria.<br />
== [[Habitação::Habitação]] e infraestruturas locais: [[Urbanização::urbanização]] versus remoção ==<br />
<br />
Sexto episódio da série de lives: "Favelas em Movimento": Favela em Movimento - Habitação e infraestruturas locais: urbanização versus remoção<br />
<br />
O tema debatido é habitação e infraestruturas locais, com os(as) convidados(as): Camila Moradia, líder da luta por moradia no Complexo do Alemão, fundadora e coordenadora do MEAA - Mulheres em Ação no Alemão; Guilherme Pimentel, Advogado com atuação na área de direitos humanos, atual Ouvidor-Geral da Defensoria Pública do RJ e Coordenador de Política Criminal do Conselho Nacional de Ouvidorias das Defensorias do Brasil; Simone Rodrigues, Advogada, membro dos coletivos Conselho Popular, Rocinha Sem Fronteiras e União por Moradia Popular.<br />
<br />
Mediador é o Orlando Santos Junior, sociólogo, doutor em planejamento urbano e regional, diretor do IPPUR/UFRJ, pesquisador do Observatório das Metrópoles e membro do Conselho Editorial do Dicionário de Favelas Marielle Franco.<br />
<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=EWoe4lsNC-k}}<br />
<br />
<br />
<br />
== Veja também ==<br />
*[[Remoções - O resultado da gentrificação na favela (documentário)]] <br />
*[[Remoções de favelas no Rio de Janeiro]] <br />
*[[O Fantasma das Remoções Volta a Assombrar Moradores da Comunidade Estradinha (artigo)]] <br />
*[[Transformações Urbanas e Remoções de Favelas]] <br />
*[[O ‘progresso’ e o direito à moradia: um Rio de remoções (Artigo)]]<br />
<br />
[[Category:Temática - Habitação]][[Category:Remoção]][[Category:Lives]][[Category:Urbanização]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Portal_Viva_Favela&diff=18266Portal Viva Favela2023-04-25T14:33:47Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div> Autoria: Kita Pedroza (Cristina Pedroza de Faria)<br />
[[Arquivo:Complexo do Alemão. Foto de Rodrigues Moura.jpg|ligação=link=Special:FilePath/Complexo_do_Alemão_Foto_de_Rodrigues_Moura.jpg|alt=Fotografia publicada no Portal Viva Favela, na matéria "Carateca premiada", realizada em 2002. Foto: Rodrigues Moura|Fotografia publicada no Portal Viva Favela. Matéria "Carateca premiada". Data: 2002. Foto: Rodrigues Moura|centro|commoldura]]<br />
<br />
== Sobre ==<br />
Criado em julho de 2001, o '''Portal Viva Favela''' foi um dos primeiros veículos jornalísticos dedicados exclusivamente ao universo das favelas a surgir no ambiente da internet. Na época, a própria rede mundial de computadores ainda era incipiente no Brasil e as páginas jornalísticas engatinhavam, aspecto que contribuiu para o seu ineditismo. Diversos componentes fizeram parte da trajetória desta mídia, que permaneceu ativa até por volta de 2016. Sua proposta, desde o início, foi a de se constituir como um veículo de informação capaz de influenciar a imprensa e modificar a cobertura estigmatizante dos espaços de favelas e periferias, limitada à violência armada e à criminalidade, historicamente predominante nos jornais do Rio de Janeiro. Resultado de reivindicações feitas por lideranças de favelas, em circunstâncias específicas ocorridas na década de 1990, o portal contou com a sua produção de notícias elaborada, sobretudo, por pessoas que viviam nestas regiões da cidade e conheciam seus lugares de moradia como ninguém. Chamados de “correspondentes comunitários”<ref name=":0">RAMALHO, Cristiane. Notícias da favela. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.</ref>, fizeram parte de uma equipe de trabalho, estruturada nos moldes de uma redação robusta de jornal, junto com jornalistas com experiência de atuação em grandes meios de informação.<br />
[[Arquivo:Cidade de Deus. Foto de Tony Barros (2).jpg|alt=|miniaturadaimagem|Fotografia publicada no Portal Viva Favela. Matéria "A vida por um fio". Data: 11/03/2002. Autoria: Tony Barros|esquerda|500x500px]]<br />
Concretizado como um projeto de comunicação da organização sem fins lucrativos [http://Viva%20Rio Viva Rio] (que surge em 1993), em interlocução com líderes comunitários, jornalistas e proprietários dos principais veículos de imprensa da cidade do Rio de Janeiro, o portal atravessou distintas fases, relacionadas a fatores como a (in)disponibilidade de recursos, mudanças no processo de (auto)representação das favelas, nos perfis dos comunicadores/jornalistas locais e nas coordenações do projeto, além das rápidas transformações nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). De acordo com Mayra Coelho Jucá dos Santos, editora e coordenadora do projeto entre 2010 e 2013,a estrutura inicial da redação de jornal, com cerca de 30 pessoas em seu auge, parou de funcionar, por falta de patrocínio, em 2006 e, entre 2010 e 2013, deu lugar ao “Viva Favela 2.0”, um modelo interativo, já característico do tempo das redes sociais, contando com uma rede ampla de “colaboradores” e “produtores de conteúdo” de diferentes estados do país (SANTOS, 2012, pg 107)<ref>SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Vozes ativas das favelas 2.0: autorrepresentações midiáticas numa rede de comunicadores periféricos. Dissertação (mestrado) Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História Política e Bens Culturais, 2014.</ref>. A partir de meados de 2013, o vivafavela.org.br voltou a seguir um formato com uma linha editorial pré-definida, ao que parece, até 2016. <br />
[[Arquivo:Cidade de Deus (2). Foto de Tony Barros.jpg|miniaturadaimagem|Fotografia produzida como parte de ensaio fotográfico sobre bailes funk na Cidade de Deus. Data: 2004. Autoria: Tony Barros|alt=|500x500px]]<br />
Hoje, o acervo desta última fase ainda pode ser acessado neste endereço: http://vivafavela.vivario.org.br/. Porém, lamentavelmente, o conteúdo da primeira fase parece ter sido perdido. Uma seleção de matérias pode ser encontrada no livro Notícias da favela, escrito por Cristiane Ramalho, que foi redatora, editora chefe e coordenadora do portal entre 2001 e 2005. Publicado pela editora Aeroplano em 2007, o livro se tornou raridade, por estar esgotado, mas talvez possa ser encontrados em sebos e bibliotecas. <br />
<br />
Embora os formatos da mídia tenham mudado ao longo de mais de uma década, o traço principal de os textos e imagens serem elaborados por moradores de favelas e periferias, foi mantido durante o funcionamento do Viva Favela. Ao longo de todo esse tempo, alguns deles passaram a coordenar este projeto. <br />
<br />
<br />
{{Clear}}<br />
<br />
== Origens ==<br />
Diferentes atores sociais que participaram da fundação do portal, bem como autores que escreveram sobre o tema, narram, à sua maneira, as origens do Viva Favela. Mas, entre todos, há o consenso de que a criação dessa mídia teve como motivação principal reinvindicações feitas por lideranças e moradores de favelas em prol da existência de um veículo de informação, de amplo alcance, que não reproduzisse a representação estigmatizada das favelas (historicamente) dominante nos veículos de imprensa, associada à criminalidade, violências e aspectos negativos da cidade. As pesquisas e apurações das jornalistas Cristiane Ramalho e Mayra Jucá - ambas editoras do portal em diferentes fases - jogam luz sobre a trajetória do portal, que também nos fala sobre a própria cidade. <br />
Conforme Cristiane, o portal nasceu pois “Eles [um grupo de líderes comunitários] queriam uma abordagem mais precisa e menos preconceituosa dessas áreas e pediram ao Viva Rio (leia-se Rubem César Fernandes, diretor executivo dessa ONG) que articulasse uma mudança nesse sentido” (pg 15) <ref name=":0" />. Ambas editoras reiteram que as circunstâncias dessas reivindicações envolveram a negociação do apoio de lideranças das favelas à manifestação Reage Rio, organizada pelo Viva Rio em 1995, cujo estopim foram os sequestros de três jovens de classe média no mesmo dia. A “contrapartida” da ONG, em troca do apoio, foi no sentido de que “o Viva Rio teria de ajudar a mudar a imagem da favela na mídia” (pg 47)<ref name=":0" />. Os donos dos maiores jornais impressos da época - Kiko Brito (Jornal do Brasil), João Roberto Marinho (O Globo), e Walter Matos Jr. (O Dia) - eram membros do conselho do Viva Rio e faziam parte da organização da mesma manifestação. Em entrevista a Cristiane, o diretor do Viva Rio, Rubem César, contou que o acordo foi feito com “o alto escalão dos jornais mais influentes da cidade” e os líderes comunitários engrossaram a passeata com moradores de suas comunidades. Somente alguns anos depois, o portal pôde entrar no ar, devido a uma convergência de fatores que propiciaram a sua estruturação em 2001, dentre eles, recursos advindos das organizações Globo e outro projeto do Viva Rio que criava as “Estações Futuro”, centros de acesso gratuito à internet em favelas da cidade. <br />
[[Arquivo:Estação Futuro- projeto paralelo ao Viva Favela que oferecia acesso livre à internet em favelas do RJ. Local- Rocinha. Autoria-foto- Kita Pedroza.jpg|alt=|miniaturadaimagem|500x500px|Estação Futuro: projeto paralelo ao Viva Favela que oferecia acesso livre à internet em favelas do RJ. Local: Rocinha. Autoria/foto: Kita Pedroza]]<br />
<br />
Como editora de fotografia do portal de 2001 a 2004, aproximadamente, participei de reuniões de elaboração da linha editorial e da arquitetura da mídia (incluindo seus sites internos), anteriores ao seu lançamento. Minha voz se soma a muitas outras presentes naqueles momentos, cada qual com a sua percepção e suas diferentes lembranças. Lembro que, nas reuniões de concepção das sessões do portal, havia sempre a presença de gente que morava em alguma favela; o ponto de partida das conversas, em geral, era buscar uma cobertura “diferente da grande mídia” relativa ao universo das favelas. Guardei comigo alguns arquivos da época; compartilho um trecho, que não tem autoria, mas foi uma orientação, talvez de um conselheiro ou conselheira:<blockquote>Jornalismo comunitário e linha editorial -<br />
<br />
Não existe jornalismo imparcial no Brasil nem em lugar nenhum. Não precisamos, nem devemos reproduzir essa falsa neutralidade ideológica na revista. Penso que a linha editorial deve ser discutida entre os futuros redatores, fotógrafos e um conselho editorial formado também por pessoas das comunidades. A linha editorial surgirá das histórias de vida dessas pessoas, que receberão orientação no sentido prático da linguagem jornalística, por exemplo, quanto à necessidade de as matérias atenderem aos interesses de um conjunto de cidadãos (de favelas, comunidades, conjuntos habitacionais etc) e não apenas individuais. <br />
<br />
Características - <br />
<br />
Sem fins lucrativos - o jornalismo não está voltado para a conquista de mercado, no sentido financeiro. Procurar aproveitar o potencial comunicativo já existente, sem impor camisas de força no trato das notícias, das formas de apuração etc, diferenciando-se assim do jornalismo tradicional.</blockquote>Levando-se em conta o fato de as representações dos lugares de habitação das classes pobres (e de seus moradores) como “problema” já serem comuns nos jornais do Rio de Janeiro (então capital federal) desde o início do século XX, vale lembrar que as reivindicações que deram origem ao portal tiveram relação com o contexto urbano específico da sua época, os anos 1990 – quando o mesmo tipo de representação ainda predominava (e predomina) nas principais mídias jornalísticas locais. Ao menos um aspecto foi particularmente relevante: naquela década, a cidade atravessou um período de recrudescimento da violência urbana que ganhou repercussão na imprensa regional e internacional, impactando o imaginário sobre as favelas, em larga escala, já que a a criminalidade era praticamente o único assunto noticiado sobre esses lugares. As '''[[Chacinas no Rio de Janeiro|chacinas]]''' da [[Chacina da Candelária - 23 de julho de 1993|Candelária]] e de [[Chacina de Vigário Geral - 29 de agosto de 1993|Vigário Geral]], como ficaram conhecidas, ocorridas num curto espaço de tempo entre uma e outra, em 1993, perduram como as maiores marcas, sangrentas, da violência armada da década. Ambas praticadas por policiais militares, deixaram 29 pessoas mortas. Outro aspecto foi o fato de a organização Viva Rio também ter nascido nesta década, fazendo parte de um movimento de aumento significativo da atuação da chamada sociedade civil organizada (as ONGs).<br />
[[Arquivo:Mangueira. Foto de Deise Lane.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|500x500px|Fotografia publicada no Portal Viva Favela. Matéria: "Rainha de verdade". Data: 19/02/2004. Autoria: Deise Lane]]<br />
No entendimento de alguns autores, a violência urbana é uma gramática, ou linguagem, “que produz uma compreensão prático-moral de boa parte da vida cotidiana nas grandes cidades” (Machado da Silva, 2010). Ainda de acordo com Luiz Antônio Machado da Silva:<br />
<br />
(...) Minha hipótese é que ela (violência urbana) associa o uso de meios violentos à noção leiga de crime (a qual tem relação, mas não pode ser reduzida ao crime como figura do direito penal), enfatizando o quanto essa combinação ameaça permanentemente, e não apenas eventualmente, a integridade física e patrimonial das pessoas. (...) Para fechar este ponto, reitero que, ao menos no Rio de Janeiro, os “portadores” da “sociabilidade violenta” são, tipicamente (mas não exclusivamente), os bandos de traficantes responsáveis pelo funcionamento das “bocas” tendencialmente localizadas nos “territórios da pobreza”.<br />
<br />
Márcia Leite também chama atenção para os episódios de violência armada e seu impacto sobre o imaginário social, traduzido na expressão “cidade partida”, amplamente usada na época: <blockquote><br />
Ao longo dos anos 90, entretanto, o Rio de Janeiro adquiriu o perfil de uma cidade violenta. Assassinatos, roubos, assaltos, sequestros, arrastões nas praias, brigas de jovens em bailes funk e confrontos armados entre quadrilhas rivais ou entre estas e a polícia ganharam as ruas de uma forma inusitada por sua frequência, magnitude, localização espacial, potencial de ameaça e repercussão na mídia local e nacional. (LEITE, 2000) </blockquote><br />
<br />
E segue: <blockquote>Interpretando o crescimento da violência na chave da “questão social”, vários de seus analistas passaram a nomear o Rio de Janeiro como uma “cidade partida” (Ventura, 1994; Ribeiro, 1996, entre outros). Com isso, de um lado, referiam a um dilaceramento do tecido social por contradições e conflitos resultantes de um modelo de crescimento econômico e expansão urbana que alijara de seus benefícios parte considerável da população carioca. De outro, aludiam ao que vinha sendo referido pela mídia carioca como uma oposição quase irreconciliável entre as classes médias e abastadas e a população moradora nas favelas (...). (LEITE, 2000) </blockquote><br />
<br />
No que diz respeito à história do Viva Favela, o seu surgimento também se conecta ao fortalecimento das chamadas ONGs (ou organizações sem fins lucrativos) também na década de 1990. Diante de chacinas como as da Candelária e de Vigário Geral, movimentos da chamada sociedade civil organizada passaram a disputar o sentido de cidadania com o imaginário criado pelas manchetes dos principais jornais (LEITE, 2000). Foi nesse contexto que os (10) repórteres e (5) fotógrafos passaram a trazer, para um público maior, diversas histórias do seu cotidiano que não costumavam ser notícia, já que nada tinham a ver com violência armada ou ilegalidades. Com o tempo e diante da recorrente violência sofrida por moradores praticada por ações da polícia militar, este tema se tornou de suma importância e um debate que envolvia toda a redação. A diretriz tomada, de forma conjunta, foi abordar o assunto no portal de forma que não trouxesse perigo para os correspondentes, nem contribuísse para a visão estereotipada relativa às favelas, mas abordasse esses casos a partir do ponto de vista dos moradores. <br />
<br />
== Influência sobre a imprensa ==<br />
<br />
<br />
Nas palavras de Cristiane Ramalho, editora do Portal em sua primeira fase (de 2001 a 2005): <blockquote> Esse panorama ajuda a transformar o Viva Favela numa das principais fontes de informação sobre essas favelas. E o que parecia impossível acontece. De repente, a grande mídia começa a ser influenciada por um projeto de comunicação pequeno e independente [frente às estruturas dos grandes jornais], criado e mantido por uma ONG. Com acesso a histórias e personagens que só poderiam ser descobertas na própria favela (...), o portal oferecia aos jornalistas um atalho seguro para chegar às comunidades do Rio (RAMALHO, 2007, pg 18). </blockquote> Pautas eram reproduzidas em telejornais locais, viravam assuntos de programas como o Fantástico, e foram fechadas parcerias com jornais impressos - O Dia e o Expresso - para reprodução de matérias (texto e fotos) do portal, com créditos. <br />
== Primeira fase (2001 a 2005) ==<br />
[[Arquivo:Complexo do Alemão. Fotografia de Rodrigues Moura.jpg|esquerda|500x500px|alt=|miniaturadaimagem|Fotografia publicada no Portal Viva Favela. Matéria: "Vaidade assumida". Data: 15/12/2003. Autoria: Rodrigues Moura]]<br />
Para participar do portal, "os correspondentes" passaram por um processo seletivo e, após ingressarem, tiveram um treinamento voltado para a produção de textos e fotografias. A colaboração e as trocas entre pessoas da equipe, com diferentes experiências de cidade, constituiu um processo de diálogo intenso e afetivo que contribuiu para o trabalho deslanchar. Mas os desafios também eram muitos. Um dos pontos mais difíceis foi encontrar meios para falar sobre violências sofridas por moradores das favelas, a partir da sua ótica, mas sem colocar repórteres e fotógrafos em risco. A solução acordada por todos foi designar pessoas da equipe que não moravam nesses locais para fazer estas reportagens. <br />
<br />
Alguns exemplos de matérias: Um fabricante de instrumentos musicais cria variações de modelos tradicionais como o violão e a viola caipira, inventando novas sonoridades; crianças de dez anos estão se tornando chefes de família ajudando aos pais na difícil tarefa da sobrevivência; um grupo de modelos e um fotógrafo usam a favela como cenário para ensaios fotográficos; jovens moradores da Cidade de Deus põem a mão na massa para criar os próprios filmes e fundam a produtora Boca de Filmes; um pequeno comerciante do Complexo do Alemão constrói um parque de diversão para crianças no alto do morro; encantados com a atmosfera da Rocinha, estrangeiros abandonam a vida em países como Itália e Austrália para morar na comunidade. <br />
<br />
Novamente, vale trazer a riqueza de detalhes sobre o dia a dia do portal, narrada por Cristiane Ramalho, recorrendo a falas dos repórteres e fotógrafos das favelas: <blockquote>Ninguém sabia exatamente o que seria um 'correspondente comunitário' quando o Viva Rio começou, no início de 2001, a recrutar moradores em favelas cariocas para trabalhar no portal. Mesmo assim, a notícia soava sedutora. Atraídos pela divulgação feita com a ajuda de rádios comunitárias e de projetos e parceiros da ONG, os candidatos logo começaram a aparecer. Tinham idades, experiências profissionais e expectativas variadas. (...). Em abril, o time já estava treinado e pronto para entrar em campo. Antes disso, porém, seria preciso vencer um último obstáculo: a desconfiança. (...) Os correspondentes que começavam a entrar em campo temiam, sobretudo, revelar histórias que os colocassem em 'posição de confronto' com a comunidade. (...) Levou tempo até o projeto conquistar sua confiança. Quando começaram a relaxar, ficou claro o quanto poderiam trazer de novidade para o jornalismo carioca. Primeiro, porque tinham um conhecimento profundo daquela realidade. E, ao contrário dos repórteres 'de fora', podiam gastar dias e dias em busca de uma boa pauta. (...) Todos sempre preferiram, por exemplo, mostrar 'a favela do bem'. Era uma forma de trabalhar uma imagem diferente da que costumavam encontrar na mídia tradicional – e isso coincidia com um dos objetivos do portal. Mas era também a garantia de que não correriam risco ao andar pelas ruas com uma máquina fotográfica ou um bloquinho e uma caneta. 'Vocês colocam o pé na favela e saem correndo. A gente continua lá. Nós é que vamos ser chamados para o ‘desenrolo', costumavam dizer, nas reuniões de pauta, sempre que aparecia uma história mais quente para ser apurada'. E tinham razão. Era preciso não ultrapassar os limites de segurança. Com o assassinato do jornalista Tim Lopes, em meados de 2002, isso ficou ainda mais claro. <br />
<br />
(...) O grande ponto de encontro dos correspondentes eram as reuniões de pauta, realizadas nas tardes de segunda-feira. No começo, eles vinham tímidos e desconfiados. Depois, bastante à vontade, criavam um clima de festa em meio ao silêncio habitual da redação do Viva Favela. (...) Os assuntos percorriam todas as editorias – comportamento, saúde, economia, cultura, polícia, educação, meio ambiente. Nem tudo o que se falava virava notícia. Mas cada tema se transformava em matéria-prima para costurarmos uma compreensão mais profunda das favelas. (...) <br />
<br />
Não foram poucas as reuniões de pauta que provocaram crises de choro ou boas gargalhadas na equipe. Elas tinham um quê de análise de grupo – e geravam espaço para as pessoas abrirem o coração e contarem coisas que ainda não contaram para ninguém. Isso se consolidaria com o tempo – e com a conquista de uma imensa confiança entre cada um do grupo. </blockquote> <br />
<br />
As inúmeras histórias contadas no portal passaram a alimentar diferentes sites internos nas áreas de memória, gênero, meio ambiente e apoio jurídico. Dentre eles, o '''Favela Tem Memória''' ganhou destaque e conquistou um encanto especial para a equipe. Não à toa: cada site era um projeto dentro do projeto maior do portal, mas o FTM era um espaço destinado, por exemplo, às longas entrevistas de história de vida, com prazo maior de entrega, feitas com pessoas mais velhas, que, ao contarem suas histórias, falavam da história do lugar do seu ponto de vista. A concepção foi feita de forma conjunta, tendo à frente as antropólogas Regina Novaes e Christina Vital, junto com o jornalista Flávio Pinheiro, em diálogo com repórteres, fotógrafos e redatores do portal. Havia três vertentes principais: a história oral, a partir dos depoimentos de moradores antigos; a memória musical, buscando encontrar, por exemplo, sambas e outras produções musicais perdidas com a morte de seus autores; e a memória iconográfica, a partir de fotografias guardadas por moradores e por meio de pesquisa em acervos de imagem públicos e privados. <br />
<br />
=== Fotografia ===<br />
[[Arquivo:Queimados. Foto de Walter Mesquita.jpg|500x500px|alt=|miniaturadaimagem|Fotografia publicada no Portal Viva Favela. Galeria: Projeto Circo Baixada, em Queimados, Baixada Fluminense. Data: 13/02/2003. Autoria: Walter Mesquita]]<br />
A produção fotográfica do Viva Favela, em sua fase inicial (2001 a 2005), refletiu, em grande parte, as relações de proximidade e afetividade que a reduzida equipe de fotógrafos tinha com os seus espaços de vivência. E foi justamente esta a razão tanto da sua beleza, quanto da eficácia. Se o principal objetivo do portal era fugir do enquadramento que os grandes jornais davam às regiões de favelas e periferias, o referencial de fotojornalismo conhecido pela maioria dos habitantes desses espaços da cidade não era um bom parâmetro a ser seguido pela editoria de fotografia. Se o desafio de todos que embarcaram naquela experiência era buscar fazer diferente do modelo (ou anti-modelo) vigente de produção de informação jornalística, o primeiro passo era respeitar e valorizar os olhares que vinham de dentro, ou seja, dos fotógrafos - Deise Lane, Nando Dias, Rodrigues Moura, Tony Barros e Walter Mesquita -, carregados com as suas subjetividades e sensibilidades. Era apenas preciso conhecer um pouco mais sobre a linguagem fotográfica, de modo a poderem se expressar melhor com aquele alfabeto e, principalmente, a contarem histórias com imagens - ou criar narrativas com fotografias. <br />
<br />
Quando perceberam que fotografar pessoas era uma maneira de estabelecer relações sociais, a equipe foi dando formas visuais a relações de respeito, cumplicidade e afetividade – nos próprios territórios ou em outros que passavam a conhecer por força do trabalho no portal. Esse foi o caminho pavimentado para criar uma forma de comunicar baseada no respeito aos direitos humanos. <br />
<br />
Enquanto a equipe de reportagem tinha dez correspondentes de texto, havia somente cinco fotógrafos que, portanto, precisavam cobrir o dobro de pautas em relação aos seus parceiros repórteres – a própria área de moradia e mais uma. No imenso universo de favelas espalhado pelo Rio de Janeiro, a opção do portal, frente a suas limitações, havia sido fazer uma cobertura concentrada em dez áreas de favelas e periferias, nas zonas norte, sul e oeste da cidade, além da Baixada Fluminense. Não foi fácil, mas cada um (a) foi encontrando o seu caminho autoral e o trabalho de fotografia do portal passou a ganhar destaque. Passamos a participar do maior festival de fotografia da cidade, o [https://www.fotorio.fot.br/ FotoRio], e de seus encontros de "inclusão visual", além de muitas exposições. Textos e fotos eram também republicados na imprensa (com os devidos créditos).<br />
<br />
Apesar dos recursos escassos, em termos de equipamento, foram produzidas cerca de 40 mil imagens fotográficas, nos cinco anos iniciais do portal.<br />
[[Arquivo:Rocinha. Foto de Kita Pedroza.jpg|esquerda|semmoldura|500x500px|alt=|Fotografia da exposição "Por dentro da favela", na Rocinha. Mostra itinerante, com fotos do coletivo de fotógrafos do Viva Favela. Autoria: Kita Pedroza]]<br />
Dentre os maiores reconhecimentos, em 2005, a equipe ganhou o prêmio ''Documentary Photography Project Distribution Grant'', concedido pelo ''Open Society Institute'', pelo conjunto do seu trabalho. Os recursos recebidos foram usados para produzir coletivamente a exposição [http://www.overmundo.com.br/agenda/moro-na-favela-exposicao-de-fotos-nas-ruas-da-rocinha Moro na favela], que expressou o maior desejo dos fotógrafos e das então editoras (Kita Pedroza e Sandra Delgado): retornar as imagens para os retratados. O formato criado foi uma exposição itinerante que percorreu os lugares de moradia dos fotógrafos e se auto montava nas ruas. Ou seja, cada quadro foi entregue a pessoas cujas casas ficavam de frente para as ruas, para comerciantes etc. Eles ficaram como guardiões de cada imagem; todo dia de manhã a colocavam na porta de casa, ou do comércio, e a recolhiam no fim do dia. A exposição percorreu cinco favelas da cidade.<br />
<br />
Contribuições são bem vindas para alimentar este verbete e enriquecer as memórias dos tempos do Viva Favela!<br />
{{Clear}}<br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
COMUNICAÇÕES DO ISER n. 59: A memória das favelas.<br />
<br />
DA SILVA, Luiz Antonio Machado. “Violência urbana”, segurança pública e favelas - o caso do Rio de Janeiro atual. '''Caderno Crh''', v. 23, n. 59, p. 283-300, 2010.<br />
<br />
LEITE, Márcia Pereira. Entre o individualismo e a solidariedade: dilemas da política e da cidadania no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 15, p. 43-90, 2000.<br />
<br />
RAMALHO, Cristiane. Notícias da favela. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.<br />
<br />
SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Vozes ativas das favelas 2.0: autorrepresentações midiáticas numa rede de comunicadores periféricos. Dissertação (mestrado) Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História Política e Bens Culturais, 2014. <br />
<br />
Vários autores. Viva Favela. São Paulo: Editora Olhares, 2008.<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Portal Favelas]]<br />
* [[Portal Notícia Preta]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Temática - Favelas e Periferias]]<br />
[[Categoria:Chacinas]]<br />
[[Categoria:Favela tem memória]]<br />
[[Categoria:Líderes comunitários]]<br />
[[Categoria:Jornalismo comunitário]]<br />
[[Categoria:Sociedade civil organizada]]<br />
[[Categoria:Violência urbana]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Wikifavelas:Painel_de_gest%C3%A3o&diff=17638Wikifavelas:Painel de gestão2023-02-06T13:38:04Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><br />
__NOTOC__<br />
<br />
Nesta página, estão listadas as principais funções de gestão dos verbetes.<br />
<br />
== Verbetes ==<br />
<br />
Total de páginas: {{NUMBEROFPAGES}}; Total de Verbetes:&nbsp;<code>{{PAGESINNS:''0''}}</code>&nbsp;<ref>O Dicionário conta com páginas e verbetes. Os verbetes são páginas de conteúdo criadas dentro do espaço nominal Principal. As páginas englobam conteúdo de todos os espaços nominais (erbetes, autores, imagens, regras etc.)</ref><br />
<br />
*[[Especial:PopularPages|Páginas mais acessadas]]<br />
*[[Especial:Páginas_novas|Verbetes editados recentemente]]<br />
*[[Especial:Mudanças_recentes|Mudanças Recentes (por data)]] <br />
*[[Especial:Todas_as_páginas|Lista de todos os Verbetes]] <br />
<br />
== Categorias ==<br />
<br />
[[Especial:Categorias|Especial:Categorias]]<br />
<br />
== Usuários ==<br />
<br />
*[[Especial:Lista_de_usuários|Lista de Usuários]] <br />
*[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Especial:Registro&type=newusers&user=&page=&year=&month=-1&tagfilter=&hide_patrol_log=1&hide_tag_log=1 Lista de Usuários Criados Recentemente] <br />
<br />
*[[Especial:Criar_conta|Criar usuário]] <br />
*[[Especial:Redefinir_autenticação|Reiniciar senha de usuário]] <br />
*[[Especial:Bloquear|Bloquear Usuário]] <br />
*[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Especial:Privilégios Permissões de Usuários] <br />
*[[Especial:Registro_de_bloqueios|Lista de Usuários Bloqueados]] <br />
*[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Especial:Userexport Exportar Usuários] <br />
<br />
== &nbsp; ==<br />
<br />
== Arquivos ==<br />
<br />
*[[Especial:Carregar_arquivo|Carregar Arquivo]] <br />
*[[Especial:Arquivos_novos|Arquivos Recentemente Carregados]] <br />
*[[Especial:Lista_de_arquivos|Lista de todos os arquivos]] <br />
<br />
== Logs ==<br />
<br />
[[Especial:Registro|Especial:Registro]]<br />
<br />
== &nbsp; ==<br />
<br />
[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Especial:Páginas_especiais Páginas Especiais]<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
== &nbsp; ==<br />
<br />
== Versão da Instalação ==<br />
<br />
[[Especial:Versão]]<br />
<br />
<references /><br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Orquestra_de_Cordas_da_Grota&diff=17241Orquestra de Cordas da Grota2022-12-16T18:16:14Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>A Orquestra de cordas da Grota é um projeto de ação social na Grota do Surucucu teve início na década de oitenta, quando Otávia Paes Selles, professora aposentada, resolveu ajudar as crianças da comunidade que apresentavam dificuldades na escola, proporcionando-lhes reforço escolar.<br />
<br />
Em 1995, Otávia pediu ao seu filho Márcio Paes Selles, músico, que desse aulas de música, que começou a ensinar flauta doce, violino, viola e violoncelo.<br />
<br />
Em 1998, após o falecimento de Otávia, Márcio e sua esposa Lenora Mendes assumiram a direção do trabalho, formando o núcleo do que mais tarde seria a Orquestra de Cordas da Grota<br />
<br />
O objetivo inicial era apenas transmitir conhecimento musical, mas junto com a música foram conquistadas apresentações no país e no exterior (Portugal, Nova Iorque, Panamá, Nicarágua, Costa Rica, Honduras e Belize), gerando renda e a perspectiva de um futuro melhor.<br />
<br />
Em 2004, com o apoio da Brazil Foundation e do Instituto Cooperforte foram feitas melhorias nas instalações e, em 2007, a pequena casa que Otávia ocupou ganhou características de prédio, o que permitiu expandir o número de crianças e jovens atendidos.<br />
<br />
A grande visibilidade na mídia sensibilizou empresas com responsabilidade social, o que motivou a constituição de uma organização não governamental, a RECICLARTE, sem objetivos econômicos e que valoriza as ações de voluntariado.<br />
<br />
Hoje, o Espaço Cultural da Grota pretende ser referência de cultura em Niterói, oferecendo diversas atividades ao público. Funciona de segunda-feira a sábado, na Rua Vereador Otto Bastos, 23, em São Francisco, Niterói – Rio de Janeiro.<br />
<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=zhUyhxz9NlE}}<br />
<br />
== Missão ==<br />
Mobilizar talentos, desenvolver habilidades e ampliar o universo de referências culturais em crianças, adolescentes e jovens das comunidades, para gerar oportunidades que permitam realizações pessoais e o exercício pleno da cidadania.<br />
<br />
== Objetivo ==<br />
Tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento pessoal de quem se encontra em situação de vulnerabilidade, através da identificação e potencialização de talentos e vocações, construção de capacidades artísticas, ampliação da diversidade cultural, formação para prática cidadã, garantia dos direitos essenciais, profissionalização e inserção no mercado de trabalho.<br />
<br />
== Referências ==<br />
Fonte: https://www.ecg.org.br/quem-somos</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Orquestra_de_Cordas_da_Grota&diff=17240Orquestra de Cordas da Grota2022-12-16T18:12:21Z<p>Fornazin: /* Fonte: https://www.ecg.org.br/quem-somos */</p>
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<div>A Orquestra de cordas da Grota é um projeto de ação social na Grota do Surucucu teve início na década de oitenta, quando Otávia Paes Selles, professora aposentada, resolveu ajudar as crianças da comunidade que apresentavam dificuldades na escola, proporcionando-lhes reforço escolar.<br />
<br />
Em 1995, Otávia pediu ao seu filho Márcio Paes Selles, músico, que desse aulas de música, que começou a ensinar flauta doce, violino, viola e violoncelo.<br />
<br />
Em 1998, após o falecimento de Otávia, Márcio e sua esposa Lenora Mendes assumiram a direção do trabalho, formando o núcleo do que mais tarde seria a Orquestra de Cordas da Grota<br />
<br />
O objetivo inicial era apenas transmitir conhecimento musical, mas junto com a música foram conquistadas apresentações no país e no exterior (Portugal, Nova Iorque, Panamá, Nicarágua, Costa Rica, Honduras e Belize), gerando renda e a perspectiva de um futuro melhor.<br />
<br />
Em 2004, com o apoio da Brazil Foundation e do Instituto Cooperforte foram feitas melhorias nas instalações e, em 2007, a pequena casa que Otávia ocupou ganhou características de prédio, o que permitiu expandir o número de crianças e jovens atendidos.<br />
<br />
A grande visibilidade na mídia sensibilizou empresas com responsabilidade social, o que motivou a constituição de uma organização não governamental, a RECICLARTE, sem objetivos econômicos e que valoriza as ações de voluntariado.<br />
<br />
Hoje, o Espaço Cultural da Grota pretende ser referência de cultura em Niterói, oferecendo diversas atividades ao público. Funciona de segunda-feira a sábado, na Rua Vereador Otto Bastos, 23, em São Francisco, Niterói – Rio de Janeiro.<br />
<br />
== Missão ==<br />
Mobilizar talentos, desenvolver habilidades e ampliar o universo de referências culturais em crianças, adolescentes e jovens das comunidades, para gerar oportunidades que permitam realizações pessoais e o exercício pleno da cidadania.<br />
<br />
== Objetivo ==<br />
Tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento pessoal de quem se encontra em situação de vulnerabilidade, através da identificação e potencialização de talentos e vocações, construção de capacidades artísticas, ampliação da diversidade cultural, formação para prática cidadã, garantia dos direitos essenciais, profissionalização e inserção no mercado de trabalho.<br />
<br />
== Referências ==<br />
Fonte: https://www.ecg.org.br/quem-somos</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Orquestra_de_Cordas_da_Grota&diff=17239Orquestra de Cordas da Grota2022-12-16T18:11:59Z<p>Fornazin: </p>
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<div>A Orquestra de cordas da Grota é um projeto de ação social na Grota do Surucucu teve início na década de oitenta, quando Otávia Paes Selles, professora aposentada, resolveu ajudar as crianças da comunidade que apresentavam dificuldades na escola, proporcionando-lhes reforço escolar.<br />
<br />
Em 1995, Otávia pediu ao seu filho Márcio Paes Selles, músico, que desse aulas de música, que começou a ensinar flauta doce, violino, viola e violoncelo.<br />
<br />
Em 1998, após o falecimento de Otávia, Márcio e sua esposa Lenora Mendes assumiram a direção do trabalho, formando o núcleo do que mais tarde seria a Orquestra de Cordas da Grota<br />
<br />
O objetivo inicial era apenas transmitir conhecimento musical, mas junto com a música foram conquistadas apresentações no país e no exterior (Portugal, Nova Iorque, Panamá, Nicarágua, Costa Rica, Honduras e Belize), gerando renda e a perspectiva de um futuro melhor.<br />
<br />
Em 2004, com o apoio da Brazil Foundation e do Instituto Cooperforte foram feitas melhorias nas instalações e, em 2007, a pequena casa que Otávia ocupou ganhou características de prédio, o que permitiu expandir o número de crianças e jovens atendidos.<br />
<br />
A grande visibilidade na mídia sensibilizou empresas com responsabilidade social, o que motivou a constituição de uma organização não governamental, a RECICLARTE, sem objetivos econômicos e que valoriza as ações de voluntariado.<br />
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Hoje, o Espaço Cultural da Grota pretende ser referência de cultura em Niterói, oferecendo diversas atividades ao público. Funciona de segunda-feira a sábado, na Rua Vereador Otto Bastos, 23, em São Francisco, Niterói – Rio de Janeiro.<br />
<br />
== Missão ==<br />
Mobilizar talentos, desenvolver habilidades e ampliar o universo de referências culturais em crianças, adolescentes e jovens das comunidades, para gerar oportunidades que permitam realizações pessoais e o exercício pleno da cidadania.<br />
<br />
== Objetivo ==<br />
Tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento pessoal de quem se encontra em situação de vulnerabilidade, através da identificação e potencialização de talentos e vocações, construção de capacidades artísticas, ampliação da diversidade cultural, formação para prática cidadã, garantia dos direitos essenciais, profissionalização e inserção no mercado de trabalho.<br />
<br />
== Referências ==<br />
<br />
== Fonte: https://www.ecg.org.br/quem-somos ==</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Orquestra_de_Cordas_da_Grota&diff=17238Orquestra de Cordas da Grota2022-12-16T18:10:34Z<p>Fornazin: </p>
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<div>A Orquestra de cordas da Grota é um projeto de ação social na Grota do Surucucu teve início na década de oitenta, quando Otávia Paes Selles, professora aposentada, resolveu ajudar as crianças da comunidade que apresentavam dificuldades na escola, proporcionando-lhes reforço escolar.<br />
<br />
Em 1995, Otávia pediu ao seu filho Márcio Paes Selles, músico, que desse aulas de música, que começou a ensinar flauta doce, violino, viola e violoncelo.<br />
<br />
Em 1998, após o falecimento de Otávia, Márcio e sua esposa Lenora Mendes assumiram a direção do trabalho, formando o núcleo do que mais tarde seria a Orquestra de Cordas da Grota<br />
<br />
O objetivo inicial era apenas transmitir conhecimento musical, mas junto com a música foram conquistadas apresentações no país e no exterior (Portugal, Nova Iorque, Panamá, Nicarágua, Costa Rica, Honduras e Belize), gerando renda e a perspectiva de um futuro melhor.<br />
<br />
Em 2004, com o apoio da Brazil Foundation e do Instituto Cooperforte foram feitas melhorias nas instalações e, em 2007, a pequena casa que Otávia ocupou ganhou características de prédio, o que permitiu expandir o número de crianças e jovens atendidos.<br />
<br />
A grande visibilidade na mídia sensibilizou empresas com responsabilidade social, o que motivou a constituição de uma organização não governamental, a RECICLARTE, sem objetivos econômicos e que valoriza as ações de voluntariado.<br />
<br />
Hoje, o Espaço Cultural da Grota pretende ser referência de cultura em Niterói, oferecendo diversas atividades ao público. Funciona de segunda-feira a sábado, na Rua Vereador Otto Bastos, 23, em São Francisco, Niterói – Rio de Janeiro.<br />
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== Missão ==<br />
Mobilizar talentos, desenvolver habilidades e ampliar o universo de referências culturais em crianças, adolescentes e jovens das comunidades, para gerar oportunidades que permitam realizações pessoais e o exercício pleno da cidadania.<br />
<br />
== Objetivo ==<br />
Tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento pessoal de quem se encontra em situação de vulnerabilidade, através da identificação e potencialização de talentos e vocações, construção de capacidades artísticas, ampliação da diversidade cultural, formação para prática cidadã, garantia dos direitos essenciais, profissionalização e inserção no mercado de trabalho.<br />
<br />
<br />
<br />
Fonte: https://www.ecg.org.br/quem-somos</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Ta%C3%A7a_das_Favelas&diff=17237Taça das Favelas2022-12-16T18:06:54Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>[[Arquivo:Taça das Favelas.jpg|miniaturadaimagem|Taça das Favelas.]]<br />
A '''Taça das Favelas''' é um torneio organizado pela [https://wikifavelas.com.br/index.php/Central_%C3%9Anica_de_Favelas_(CUFA) CUFA (Central Única das Favelas)] e produzido pela InFavela, empresa pertencente à Favela Holding. É o maior campeonato de futebol entre favelas do mundo, com apoio da TV Globo e outros patrocinadores. No Rio, mais de 240 favelas estão vinculadas ao projeto. <br />
<br />
Apesar do cunho esportivo, a Taça das Favelas não se limita apenas ao futebol, mas se configura como um importante fator de integração social para os jovens das periferias, uma vez que oferece, antes do início dos jogos, workshops sociais para jogadores e técnicos, com temáticas como cuidados com a alimentação e educação financeira. <br />
<br />
== História ==<br />
A Taça das Favelas foi disputada pela primeira vez no ano de 2012, no Rio de Janeiro, completando em 2022 o seu décimo aniversário. São Paulo teve sua primeira edição em 2019, e, ainda que recentemente, contou com o engajamento de milhares de favelas, com uma final que envolveu mais de 40 mil pessoas no Estádio do Pacaembu. As finais paulistas foram vencidas pelo Complexo da Casa Verde, no feminino, e pelo Parque Santo Antônio<ref>Casa Verde e Parque Santo Antônio vencem a primeira Taça das Favelas São Paulo - Gazeta Esportiva. Disponível em: <<nowiki>https://www.gazetaesportiva.com/futebol/casa-verde-e-parque-santo-antonio-vencem-a-primeira-taca-das-favelas-sao-paulo/</nowiki>>. Acesso em: 30 nov. 2022.</ref>, com cobertura feita pelo Sportv pela TV Globo. <br />
<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 2.png|miniaturadaimagem|Completando 10 anos em 2022, a Taça das Favelas impacta diretamente na vida de 96 mil jovens. ]]<br />
<br />
Realizadas no dia 29 de julho, as grandes finais de 2019 contaram com mais de 10 mil pessoas em Moça Bonita, no Estádio do Bangu Atlético Clube, localizado no Rio de Janeiro. O campeão da categoria feminina foi o Curral das Éguas, enquanto o título da categoria masculina se destinou ao Gogó da Ema. <br />
<br />
No ano de 2022, a Taça das Favelas realizou pela primeira vez a sua edição nacional, no mês de novembro, denominada Favelão 2022.<ref>https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/2022/07/15/cufa-lanca-favelao-2022-campeonato-entre-comunidades-do-brasil.ghtml</ref> O campeonato contou com 18 seleções formadas pelos melhores jogadores das edições estaduais da Taça, no masculino e no feminino. Os jogos foram realizados no Estado de São Paulo e a montagem das seleções foi feita pelos técnicos campeões de cada estado. As finais ocorreram no dia 19 de novembro de 2022, na Arena Barueri.<br />
<br />
Apesar da maior parte do destaque e das notícias se concentrarem nas regiões do Rio de Janeiro e São Paulo, a Taça das Favelas já realiza edições em outros estados pelo Brasil como Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais, Sergipe, Ceará, Piauí, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Pernambuco, Rondônia, Bahia e Santa Catarina.<br />
<br />
== Edições ==<br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Estado<br />
|-<br />
|2012<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2013<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2014<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2015<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2016<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2017<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2018<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2019<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|-<br />
|2020<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2021<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2022<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|}<br />
<br />
== Campeões ==<br />
A Taça das Favelas tem como maiores campeãs, no feminino, a equipe da Cidade de Deus (RJ) e Corte Oito (RJ), com um bicampeonato para cada. No masculino, Padre Miguel figura como maior campeão, com um bicampeonato nos anos de 2015 e 2016. O ano de 2022 trouxe títulos inéditos, com Sapo do Camará (RJ) e Paraisópolis conquistando a primeira taça entre as meninas e o Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP) entre os meninos. A primeira edição do Favelão, campeonato nacional da Taça das Favelas, teve como campeões a Seleção do Rio de Janeiro no feminino e a Seleção de São Paulo no masculino. <br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Campeões feminino (estaduais)<br />
!Campeões masculino (estaduais)<br />
!Favelão (nacional)<br />
|-<br />
|2012<br />
|Fallet & Fogueteiro (RJ)<ref name=":0">Rocinha e Fallet & Fogueteiro, os campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <<nowiki>https://ge.globo.com/futebol/noticia/2012/02/rocinha-e-fallet-fogueteiro-os-campeoes-da-taca-das-favelas.html</nowiki>>. Acesso em: 30 nov. 2022.</ref><br />
|Rocinha (RJ)<ref name=":0" /><br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2013<br />
|[[Cidade de Deus (favela)|Cidade de Deus (RJ)]]<br />
|[[Acari|Complexo do Acari (RJ)]]<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2014<br />
|Cidade de Deus (RJ)<br />
|Vila Kennedy (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2015<br />
|Barata de Realengo (RJ)<br />
|Padre Miguel (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2016<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Padre Miguel (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2017<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Vila Aliança (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2018<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2019<br />
|Curral das Éguas (RJ) e Complexo da Casa Verde (SP)<br />
|Gogó da Ema (RJ) e Parque Santo Antônio (SP)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2020<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2021<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2022<br />
|Sapo de Camará (RJ) e [[Paraisópolis|Paraisópolis (SP)]]<br />
|Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP)<br />
|Seleção do Rio de Janeiro (feminino) e Seleção de São Paulo (masculino)<br />
|}<br />
<br />
== Formatos de disputa ==<br />
A Taça das Favelas geralmente ocorre em duas fases. A primeira consiste no DIPE, ou Dia da Peneira, e a outra fase se refere aos torneios (masculino e feminino). A partir das quartas de final, a competição tem como forma de disputa o clássico mata-mata. Em um primeiro momento, são eliminadas as seleções que tiverem os piores desempenhos entre os perdedores. Os critérios para a pontuação dos times são:<br />
<br />
Vitória: 3 pontos; empate: 1 ponto; derrota: 0 ponto. Em caso de igualdade na pontuação para seguir na classificação para as quartas, ou para seguir como eliminado, são dados os seguintes critérios de desempate:<br />
<br />
* Participação nos workshops/ações sociais;<br />
* Maior número de vitórias;<br />
* Melhor saldo de gols;<br />
* Maior número de gols pró;<br />
* Menor número de cartões vermelhos;<br />
* Menor número de cartões amarelos; <br />
* Na persistência do empate, realização de um sorteio (cara ou coroa).<ref>https://tacadasfavelas.com.br/regulamento.php?i=MQ==</ref><br />
<br />
== Personalidades ==<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 3.jpg|miniaturadaimagem|Na esquerda, Patrick de Paula como participante da Taça das Favelas. Na direita, segurando o troféu do título do Palmeiras. |alt=|200x200px]]<br />
O jovem volante Patrick de Paula jogou a edição carioca da Taça das Favelas nos anos de 2015, 2016 e 2017. O jogador fez parte do Complexo Santa Margarida, onde foi revelado, e se profissionalizou no Palmeiras, marcando o gol do título do Paulista de 2020 numa disputa de pênaltis contra a equipe do Corinthians. <br />
<br />
No mês de março de 2022, foi comprado pelo Botafogo por mais de 30 milhões de reais, o que garantiu à equipe 50% de seus direitos econômicos. Patrick de Paula se tornou, dessa forma, a contratação mais cara do clube. <br />
<br />
Conquistando grande destaque no cenário mundial, a Taça das Favelas já teve sua importância reconhecida por grandes craques do futebol brasileiro, como Zico, Romário e Cafu. Hoje, o torneio é um sucesso e a cada ano cresce mais o número de favelas inscritas e patrocinadores.<ref>https://vozesdasperiferias.com/maior-torneio-de-futebol-das-favelas-acontece-no-brasil</ref><br />
<br />
== Referências ==<br />
<references />A Taça. Taça das Favelas. Disponível em: <https://tacadasfavelas.com.br/a-taca/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Rocinha e Fallet & Fogueteiro, os campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <https://ge.globo.com/futebol/noticia/2012/02/rocinha-e-fallet-fogueteiro-os-campeoes-da-taca-das-favelas.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das favelas: Cidade de Deus e Complexo do Acari são campeões. Disponível em: <https://ge.globo.com/futebol/noticia/2013/02/taca-das-favelas-cidade-de-deus-e-complexo-do-acari-sao-campeoes.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Com estádio lotado, Vila Kennedy e Cidade de Deus sagram-se campeãs da Taça das Favelas. Disponível em: <https://www.uol.com.br/esporte/futebol/album/2014/02/16/taca-das-favelas-e-disputada-no-rio-de-janeiro.htm?mode=list&foto=4>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das Favelas termina com festa | Blog Favela EC. Disponível em: <https://ge.globo.com/blogs/especial-blog/favela-ec/post/taca-das-favelas-termina-com-festa.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Finais da Taça das Favelas têm Acari x Corte Oito; Padre Miguel x Muquiço. Disponível em: <https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/2016/03/finais-da-taca-das-favelas-tem-acari-corte-oito-padre-miguel-e-muquico.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Vila Aliança e Corte Oito se sagram campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <https://extra.globo.com/esporte/vila-alianca-corte-oito-se-sagram-campeoes-da-taca-das-favelas-21047501.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Só deu Caixa D’Água! Comunidade de Padre Miguel domina Taça das Favelas 2018. Disponível em: <https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/so-deu-caixa-dagua-comunidade-de-padre-miguel-domina-taca-das-favelas-2018.ghtml>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das Favelas é decidida com emoção no Rio de Janeiro. Disponível em: <https://www.torcedores.com/noticias/2019/07/taca-das-favelas-emocao-rio>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Casa Verde e Parque Santo Antônio vencem a primeira Taça das Favelas São Paulo - Gazeta Esportiva. Disponível em: <https://www.gazetaesportiva.com/futebol/casa-verde-e-parque-santo-antonio-vencem-a-primeira-taca-das-favelas-sao-paulo/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
COSTA, R. Seleções Muquiço e Sapo de Camará são as campeãs da Taça das Favelas 2022. Voz das Comunidades, 10 out. 2022.<br />
<br />
Paraisópolis e Jardim Ibirapuera são as grandes campeãs da Taça das Favelas São Paulo 2022. Disponível em: <https://sp.tacadasfavelas.com.br/paraisopolis-e-jardim-ibirapuera-sao-as-grandes-campeas-da-taca-das-favelas-sao-paulo-2022/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Meninas do Rio e garotos de São Paulo vencem o primeiro Favelão. Disponível em: <https://tacadasfavelas.com.br/meninas-do-rio-e-garotos-de-sao-paulo-vencem-o-primeiro-favelao/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Perto do Botafogo, Patrick de Paula voltará ao Rio, onde brilhou na Taça das Favelas; relembre. Disponível em: <https://extra.globo.com/esporte/botafogo/perto-do-botafogo-patrick-de-paula-voltara-ao-rio-onde-brilhou-na-taca-das-favelas-relembre-25436669.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
[[Categoria:Esporte]]<br />
[[Categoria:Futebol]]<br />
[[Categoria:Desenvolvimento social]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Ta%C3%A7a_das_Favelas&diff=17236Taça das Favelas2022-12-16T17:59:55Z<p>Fornazin: interlinks</p>
<hr />
<div>== O que é? ==<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas.jpg|miniaturadaimagem|Taça das Favelas.]]<br />
A '''Taça das Favelas''' é um torneio organizado pela [https://wikifavelas.com.br/index.php/Central_%C3%9Anica_de_Favelas_(CUFA) CUFA (Central Única das Favelas)] e produzido pela InFavela, empresa pertencente à Favela Holding. É o maior campeonato de futebol entre favelas do mundo, com apoio da TV Globo e outros patrocinadores. No Rio, mais de 240 favelas estão vinculadas ao projeto. <br />
<br />
Apesar do cunho esportivo, a Taça das Favelas não se limita apenas ao futebol, mas se configura como um importante fator de integração social para os jovens das periferias, uma vez que oferece, antes do início dos jogos, workshops sociais para jogadores e técnicos, com temáticas como cuidados com a alimentação e educação financeira. <br />
<br />
== História ==<br />
A Taça das Favelas foi disputada pela primeira vez no ano de 2012, no Rio de Janeiro, completando em 2022 o seu décimo aniversário. São Paulo teve sua primeira edição em 2019, e, ainda que recentemente, contou com o engajamento de milhares de favelas, com uma final que envolveu mais de 40 mil pessoas no Estádio do Pacaembu. As finais paulistas foram vencidas pelo Complexo da Casa Verde, no feminino, e pelo Parque Santo Antônio<ref>Casa Verde e Parque Santo Antônio vencem a primeira Taça das Favelas São Paulo - Gazeta Esportiva. Disponível em: <<nowiki>https://www.gazetaesportiva.com/futebol/casa-verde-e-parque-santo-antonio-vencem-a-primeira-taca-das-favelas-sao-paulo/</nowiki>>. Acesso em: 30 nov. 2022.</ref>, com cobertura feita pelo Sportv pela TV Globo. <br />
<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 2.png|miniaturadaimagem|Completando 10 anos em 2022, a Taça das Favelas impacta diretamente na vida de 96 mil jovens. ]]<br />
<br />
Realizadas no dia 29 de julho, as grandes finais de 2019 contaram com mais de 10 mil pessoas em Moça Bonita, no Estádio do Bangu Atlético Clube, localizado no Rio de Janeiro. O campeão da categoria feminina foi o Curral das Éguas, enquanto o título da categoria masculina se destinou ao Gogó da Ema. <br />
<br />
No ano de 2022, a Taça das Favelas realizou pela primeira vez a sua edição nacional, no mês de novembro, denominada Favelão 2022.<ref>https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/2022/07/15/cufa-lanca-favelao-2022-campeonato-entre-comunidades-do-brasil.ghtml</ref> O campeonato contou com 18 seleções formadas pelos melhores jogadores das edições estaduais da Taça, no masculino e no feminino. Os jogos foram realizados no Estado de São Paulo e a montagem das seleções foi feita pelos técnicos campeões de cada estado. As finais ocorreram no dia 19 de novembro de 2022, na Arena Barueri.<br />
<br />
Apesar da maior parte do destaque e das notícias se concentrarem nas regiões do Rio de Janeiro e São Paulo, a Taça das Favelas já realiza edições em outros estados pelo Brasil como Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais, Sergipe, Ceará, Piauí, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Pernambuco, Rondônia, Bahia e Santa Catarina.<br />
<br />
== Edições ==<br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Estado<br />
|-<br />
|2012<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2013<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2014<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2015<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2016<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2017<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2018<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2019<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|-<br />
|2020<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2021<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2022<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|}<br />
<br />
== Campeões ==<br />
A Taça das Favelas tem como maiores campeãs, no feminino, a equipe da Cidade de Deus (RJ) e Corte Oito (RJ), com um bicampeonato para cada. No masculino, Padre Miguel figura como maior campeão, com um bicampeonato nos anos de 2015 e 2016. O ano de 2022 trouxe títulos inéditos, com Sapo do Camará (RJ) e Paraisópolis conquistando a primeira taça entre as meninas e o Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP) entre os meninos. A primeira edição do Favelão, campeonato nacional da Taça das Favelas, teve como campeões a Seleção do Rio de Janeiro no feminino e a Seleção de São Paulo no masculino. <br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Campeões feminino (estaduais)<br />
!Campeões masculino (estaduais)<br />
!Favelão (nacional)<br />
|-<br />
|2012<br />
|Fallet & Fogueteiro (RJ)<ref name=":0">Rocinha e Fallet & Fogueteiro, os campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <<nowiki>https://ge.globo.com/futebol/noticia/2012/02/rocinha-e-fallet-fogueteiro-os-campeoes-da-taca-das-favelas.html</nowiki>>. Acesso em: 30 nov. 2022.</ref><br />
|Rocinha (RJ)<ref name=":0" /><br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2013<br />
|[[Cidade de Deus (favela)|Cidade de Deus (RJ)]]<br />
|[[Acari|Complexo do Acari (RJ)]]<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2014<br />
|Cidade de Deus (RJ)<br />
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| Não realizado<br />
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|2015<br />
|Barata de Realengo (RJ)<br />
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| Não realizado<br />
|-<br />
|2016<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Padre Miguel (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2017<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Vila Aliança (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2018<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2019<br />
|Curral das Éguas (RJ) e Complexo da Casa Verde (SP)<br />
|Gogó da Ema (RJ) e Parque Santo Antônio (SP)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2020<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2021<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2022<br />
|Sapo de Camará (RJ) e [[Paraisópolis|Paraisópolis (SP)]]<br />
|Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP)<br />
|Seleção do Rio de Janeiro (feminino) e Seleção de São Paulo (masculino)<br />
|}<br />
<br />
== Formatos de disputa ==<br />
A Taça das Favelas geralmente ocorre em duas fases. A primeira consiste no DIPE, ou Dia da Peneira, e a outra fase se refere aos torneios (masculino e feminino). A partir das quartas de final, a competição tem como forma de disputa o clássico mata-mata. Em um primeiro momento, são eliminadas as seleções que tiverem os piores desempenhos entre os perdedores. Os critérios para a pontuação dos times são:<br />
<br />
Vitória: 3 pontos; empate: 1 ponto; derrota: 0 ponto. Em caso de igualdade na pontuação para seguir na classificação para as quartas, ou para seguir como eliminado, são dados os seguintes critérios de desempate:<br />
<br />
* Participação nos workshops/ações sociais;<br />
* Maior número de vitórias;<br />
* Melhor saldo de gols;<br />
* Maior número de gols pró;<br />
* Menor número de cartões vermelhos;<br />
* Menor número de cartões amarelos; <br />
* Na persistência do empate, realização de um sorteio (cara ou coroa).<ref>https://tacadasfavelas.com.br/regulamento.php?i=MQ==</ref><br />
<br />
== Personalidades ==<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 3.jpg|miniaturadaimagem|Na esquerda, Patrick de Paula como participante da Taça das Favelas. Na direita, segurando o troféu do título do Palmeiras. |alt=|200x200px]]<br />
O jovem volante Patrick de Paula jogou a edição carioca da Taça das Favelas nos anos de 2015, 2016 e 2017. O jogador fez parte do Complexo Santa Margarida, onde foi revelado, e se profissionalizou no Palmeiras, marcando o gol do título do Paulista de 2020 numa disputa de pênaltis contra a equipe do Corinthians. <br />
<br />
No mês de março de 2022, foi comprado pelo Botafogo por mais de 30 milhões de reais, o que garantiu à equipe 50% de seus direitos econômicos. Patrick de Paula se tornou, dessa forma, a contratação mais cara do clube. <br />
<br />
Conquistando grande destaque no cenário mundial, a Taça das Favelas já teve sua importância reconhecida por grandes craques do futebol brasileiro, como Zico, Romário e Cafu. Hoje, o torneio é um sucesso e a cada ano cresce mais o número de favelas inscritas e patrocinadores.<ref>https://vozesdasperiferias.com/maior-torneio-de-futebol-das-favelas-acontece-no-brasil</ref><br />
<br />
== Referências ==<br />
<references />A Taça. Taça das Favelas. Disponível em: <https://tacadasfavelas.com.br/a-taca/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Rocinha e Fallet & Fogueteiro, os campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <https://ge.globo.com/futebol/noticia/2012/02/rocinha-e-fallet-fogueteiro-os-campeoes-da-taca-das-favelas.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das favelas: Cidade de Deus e Complexo do Acari são campeões. Disponível em: <https://ge.globo.com/futebol/noticia/2013/02/taca-das-favelas-cidade-de-deus-e-complexo-do-acari-sao-campeoes.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Com estádio lotado, Vila Kennedy e Cidade de Deus sagram-se campeãs da Taça das Favelas. Disponível em: <https://www.uol.com.br/esporte/futebol/album/2014/02/16/taca-das-favelas-e-disputada-no-rio-de-janeiro.htm?mode=list&foto=4>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das Favelas termina com festa | Blog Favela EC. Disponível em: <https://ge.globo.com/blogs/especial-blog/favela-ec/post/taca-das-favelas-termina-com-festa.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Finais da Taça das Favelas têm Acari x Corte Oito; Padre Miguel x Muquiço. Disponível em: <https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/2016/03/finais-da-taca-das-favelas-tem-acari-corte-oito-padre-miguel-e-muquico.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Vila Aliança e Corte Oito se sagram campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <https://extra.globo.com/esporte/vila-alianca-corte-oito-se-sagram-campeoes-da-taca-das-favelas-21047501.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Só deu Caixa D’Água! Comunidade de Padre Miguel domina Taça das Favelas 2018. Disponível em: <https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/so-deu-caixa-dagua-comunidade-de-padre-miguel-domina-taca-das-favelas-2018.ghtml>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das Favelas é decidida com emoção no Rio de Janeiro. Disponível em: <https://www.torcedores.com/noticias/2019/07/taca-das-favelas-emocao-rio>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Casa Verde e Parque Santo Antônio vencem a primeira Taça das Favelas São Paulo - Gazeta Esportiva. Disponível em: <https://www.gazetaesportiva.com/futebol/casa-verde-e-parque-santo-antonio-vencem-a-primeira-taca-das-favelas-sao-paulo/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
COSTA, R. Seleções Muquiço e Sapo de Camará são as campeãs da Taça das Favelas 2022. Voz das Comunidades, 10 out. 2022.<br />
<br />
Paraisópolis e Jardim Ibirapuera são as grandes campeãs da Taça das Favelas São Paulo 2022. Disponível em: <https://sp.tacadasfavelas.com.br/paraisopolis-e-jardim-ibirapuera-sao-as-grandes-campeas-da-taca-das-favelas-sao-paulo-2022/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Meninas do Rio e garotos de São Paulo vencem o primeiro Favelão. Disponível em: <https://tacadasfavelas.com.br/meninas-do-rio-e-garotos-de-sao-paulo-vencem-o-primeiro-favelao/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Perto do Botafogo, Patrick de Paula voltará ao Rio, onde brilhou na Taça das Favelas; relembre. Disponível em: <https://extra.globo.com/esporte/botafogo/perto-do-botafogo-patrick-de-paula-voltara-ao-rio-onde-brilhou-na-taca-das-favelas-relembre-25436669.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
[[Categoria:Esporte]]<br />
[[Categoria:Futebol]]<br />
[[Categoria:Desenvolvimento social]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Central_%C3%9Anica_das_Favelas_(CUFA)&diff=17235Central Única das Favelas (CUFA)2022-12-16T17:58:19Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><p style="text-align: center;">'''Informações retiradas do [https://www.cufa.org.br/index.php Site Oficial da CUFA]''' &nbsp;</p> <p style="text-align: center;">[[File:CUFA Logo.jpg|thumb|center|500px|CUFA Logo.jpg]]__FORCETOC__</p> <br />
= Sobre a CUFA =<br />
<br />
A CUFA (Central Única das Favelas) é uma organização brasileira reconhecida nacional e internacionalmente nos âmbitos político, social, esportivo e cultural que existe há 20 anos. Foi criada a partir da união entre jovens de várias favelas, principalmente negros, que buscavam espaços para expressarem suas atitudes, questionamentos ou simplesmente sua vontade de viver. Tem o rapper [[MV Bill]] como um de seus fundadores. MV Bill já recebeu diversos prêmios devido à sua ativa participação no movimento hip hop. Por exemplo: a ONU (Organização das Nações Unidas) para a Educação, a Ciência e a Cultura o premiou como uma das dez pessoas mais militantes no mundo na última década. Além dele, a CUFA conta com Nega Gizza, uma forte referência feminina no mundo do rap, conhecida e respeitada por seu empenho e dedicação às causas sociais. Tem ainda o produtor Celso Athayde como coordenador geral.<br />
<br />
A CUFA promove atividades nas áreas da educação, lazer, esportes, cultura e cidadania, como grafite, DJ, break, rap, audiovisual, basquete de rua, literatura, além de outros projetos sociais. Além disso, promove, produz, distribui e veicula a cultura hip hop através de publicações, discos, vídeos, programas de rádio, shows, concursos, festivais de música, cinema, oficinas de arte, exposições, debates, seminários e outros meios. São as principais formas de expressão da CUFA e servem como ferramentas de integração e inclusão social.<br />
<br />
O hip hop é um movimento que, há 20 anos, sobrevive nos guetos brasileiros mesmo sem o apoio da mídia, e se fortalece a cada dia, arrebatando admiradores de todas as camadas socioeconômicas e deixando para trás o rótulo de "cultura do excluído". Ao longo de sua existência, esta manifestação cultural vem criando um movimento forte, atraente, com grande potencial, e segue abrindo portas para novos nichos comerciais ainda não explorados.<br />
<br />
Já o basquete de rua é um esporte praticado fora das quadras e ginásios convencionais, o que o torna uma atividade democrática e cada vez mais procurada por adolescentes e jovens. Contendo lances de extrema plasticidade e habilidade, esta modalidade esportiva oportuniza o antagonismo de adolescentes e jovens de periferia diante da sociedade como um todo.<br />
<br />
Assim, através de uma linguagem própria, a CUFA pretende ampliar suas formas e possibilidades de expressão e alcance. Deste modo, ela vai difundindo a conscientização das camadas desprivilegiadas da população com oficinas de capacitação profissional, entre outras atividades, que elevam a autoestima da periferia quando levam conhecimento a ela, oferecendo-lhe novas perspectivas.<br />
<br />
Agindo como um polo de produção cultural e prática desportiva desde 1999, através de parcerias, apoios e patrocínios, a CUFA forma e informa os cidadãos do Rio de Janeiro e dos outros 26 Estados brasileiros, além do Distrito Federal e de países como Bolívia, Alemanha, Chile, Hungria, Itália e Estados Unidos. Dentre as atividades desenvolvidas pela CUFA, além das supracitadas, há cursos e oficinas de DJ, gastronomia, audiovisual, teatro, produção cultural e muitas outras. São diversas ações promovidas nos campos da educação, esporte, cultura e cidadania, com mão de obra própria.<br />
<br />
A equipe CUFA é composta, em grande parte, por jovens formados nas oficinas de capacitação e profissionalização das bases da instituição e oriundos das camadas menos favorecidas da sociedade; em sua maioria, moradores de comunidades carentes.<br />
<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=MgZTfgOAAao}}<br />
<br />
= Projetos =<br />
<br />
Dentre as ações que imprimem legitimidade ao trabalho desenvolvido pela CUFA durante esse período, estão: [[Taça das Favelas|Taça Das Favelas]], Festival De Lutas Da Cufa (FLC), Semana Global Da Cufa, Dia Da Favela, Hutúz, LIIBRA, CineCufa, RPB Festival, Reis da Rua, BRADAN, Maria-Maria e Prêmio Anu, marcas de identidade singular, iniciativas sem precedentes, que fidelizaram seu próprio público. Pois, ainda que este público não seja totalmente ligado a todas as áreas de atuação de seus eventos, a própria CUFA, enquanto instituição, faz a diferença em cada um deles, em termos de qualidade, inovação e responsabilidade social.<br />
<br />
*[[Taça das Favelas|TAÇA DAS FAVELAS]] – é uma competição de futebol de campo entre 90 seleções compostas por moradores de favelas do Rio de Janeiro sendo 64 masculinas e 26 femininas; O objetivo da Taça das Favelas é promover a integração dessas comunidades através do esporte e, claro, descobrir talentos para o futebol, afinal, grandes gênios da bola vieram da periferia das grandes cidades e unir esses espaços por meio do futebol é de primordial importância para o envolvimento de toda a sociedade nos eventos que o Brasil sediará nos próximos anos, como a copa do mundo (que aconteceu em 2014) e os jogos olímpicos de 2016. Além disso, proporciona uma visibilidade ainda maior para territórios conhecidamente férteis na revelação de novos talentos esportivos. Sem falar da contribuição efetiva no aumento da autoestima dos envolvidos.<br />
*HUTÚZ – único evento de grande porte e expressão focado exclusivamente no [[Hip Hop]], contando também com intervenções de grafite, skate, basquete de rua e seminários;<br />
*LIIBRA – a Liga Internacional de Basquete Rua é reconhecida nacionalmente por reunir esporte, cultura e movimento social em um só palco. Apesar de possuir alguns elementos do basquete tradicional, o Basquete de Rua tem as suas próprias regras e difere principalmente no ambiente onde é realizado. Como o próprio nome afirma, o basquete de rua acontece em locais não convencionais, em áreas públicas, como ruas e embaixo de viadutos. <br />
*CineCufa – festival internacional de cinema que tem por objetivo difundir as produções dos cineastas de favela do mundo inteiro; <br />
*RPB Festival – intenta descobrir e promover novos talentos do [[rap]];<br />
*Reis da Rua – a seleção dos melhores atletas da LIIBRA disputa o Desafio Internacional de Basquete de Rua, iniciativa que fomenta ainda mais a prática desportiva no Brasil, bem como a interação da juventude brasileira com jovens de outras nacionalidades através de disputas entre vários países, o que pretende, ainda, elevar o basquete de rua ao patamar de esporte das massas; <br />
*BRADAN – o Break Brasil Dance é o festival nacional de break da CUFA. Sua primeira edição acontece em agosto de 2009; <br />
*Maria-Maria - as Marias são mulheres da CUFA nos estados, negras ou não, que, além de constituírem um projeto coletivo e democrático dentro da instituição, tentam organizar o discurso das mulheres das periferias, sobretudo as jovens, para que elas possam se estimular e participar dos processos políticos de decisão e ocupação de espaço. <br />
*Prêmio Anu - o "Anu" é um prêmio que tem o intuito de identificar e reconhecer publicamente iniciativas de instituições, fundações, organizações não governamentais, empresas, indivíduos, governos, universidades, associações de moradores e afins, que sejam voltadas para a busca do equilíbrio social e cultural brasileiro. <br />
*Projeto Real Valor - em 2008, a banda Porto Cinco2 idealizou um projeto social que levava o nome da música de uma importante banda de rock brasileira dos anos 1980, o Golpe de Estado. A banda regravou a música "Real Valor" e a disponibilizou para baixar na web a um valor em dinheiro, a exemplo de muitas bandas como U2 e Green Day. O projeto se estendeu por 6 meses, e teve, por objetivo, arrecadar fundos para a CUFA. <br />
*Torneio Futebol Arte - Durante a realização da Copa do Mundo FIFA de 2014, a Cufa promoveu o Torneio Futebol Arte, que ganhou o apelido de "Copa do Mundo das Favelas". O torneio reuniu 32 equipes formadas por moradores de comunidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. A Cidade de Deus conquistou tanto o torneio masculino quanto o feminino. Os homens venceram o time da Favela dos Bancários, e as mulheres derrotaram a Favela do Sapo na decisão por pênaltis. As duas finais foram disputadas no dia 6 de julho, no campo do Ceres, em Bangu. <br />
<br />
= CUFA contra o coronavírus =<br />
<br />
Junto a UNESCO, a CUFA tem organizado campanhas de conscientização e doações para as favelas. Um dos principais focos é a campanha Mães de Favela. Quer saber mais? Assista os vídeos ou [https://www.maesdafavela.com.br/ clique aqui].<br />
<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=Y3xe_Z8Rj4E}}<br />
<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=4tEB7QHGNwk}}<br />
<br />
== CUFA em Pernambuco ==<br />
<br />
[[File:Slide1.JPG|thumb|center|550px|Slide1.JPG]] [[File:Slide2.JPG|thumb|center|550px|Slide2.JPG]] [[File:Slide3.JPG|thumb|center|550px|Slide3.JPG]] [[File:Slide4.JPG|thumb|center|550px|Slide4.JPG]] [[File:Slide5.JPG|thumb|center|550px|Slide5.JPG]] [[File:Slide6.JPG|thumb|center|550px|Slide6.JPG]] [[File:Slide7.JPG|thumb|center|550px|Slide7.JPG]] [[File:Slide8.JPG|thumb|center|550px|Slide8.JPG]] [[File:Slide9.JPG|thumb|center|550px|Slide9.JPG]] [[File:Slide10.JPG|thumb|center|550px|Slide10.JPG]] [[File:Slide11.JPG|thumb|center|550px|Slide11.JPG]]<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
[[Category:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]] [[Category:CUFA]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Ta%C3%A7a_das_Favelas&diff=17234Taça das Favelas2022-12-16T17:53:28Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>== O que é? ==<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas.jpg|miniaturadaimagem|Taça das Favelas.]]<br />
A '''Taça das Favelas''' é um torneio organizado pela [https://wikifavelas.com.br/index.php/Central_%C3%9Anica_de_Favelas_(CUFA) CUFA (Central Única das Favelas)] e produzido pela InFavela, empresa pertencente à Favela Holding. É o maior campeonato de futebol entre favelas do mundo, com apoio da TV Globo e outros patrocinadores. No Rio, mais de 240 favelas estão vinculadas ao projeto. <br />
<br />
Apesar do cunho esportivo, a Taça das Favelas não se limita apenas ao futebol, mas se configura como um importante fator de integração social para os jovens das periferias, uma vez que oferece, antes do início dos jogos, workshops sociais para jogadores e técnicos, com temáticas como cuidados com a alimentação e educação financeira. <br />
<br />
== História ==<br />
A Taça das Favelas foi disputada pela primeira vez no ano de 2012, no Rio de Janeiro, completando em 2022 o seu décimo aniversário. São Paulo teve sua primeira edição em 2019, e, ainda que recentemente, contou com o engajamento de milhares de favelas, com uma final que envolveu mais de 40 mil pessoas no Estádio do Pacaembu. As finais paulistas foram vencidas pelo Complexo da Casa Verde, no feminino, e pelo Parque Santo Antônio<ref>Casa Verde e Parque Santo Antônio vencem a primeira Taça das Favelas São Paulo - Gazeta Esportiva. Disponível em: <<nowiki>https://www.gazetaesportiva.com/futebol/casa-verde-e-parque-santo-antonio-vencem-a-primeira-taca-das-favelas-sao-paulo/</nowiki>>. Acesso em: 30 nov. 2022.</ref>, com cobertura feita pelo Sportv pela TV Globo. <br />
<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 2.png|miniaturadaimagem|Completando 10 anos em 2022, a Taça das Favelas impacta diretamente na vida de 96 mil jovens. ]]<br />
<br />
Realizadas no dia 29 de julho, as grandes finais de 2019 contaram com mais de 10 mil pessoas em Moça Bonita, no Estádio do Bangu Atlético Clube, localizado no Rio de Janeiro. O campeão da categoria feminina foi o Curral das Éguas, enquanto o título da categoria masculina se destinou ao Gogó da Ema. <br />
<br />
No ano de 2022, a Taça das Favelas realizou pela primeira vez a sua edição nacional, no mês de novembro, denominada Favelão 2022.<ref>https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/2022/07/15/cufa-lanca-favelao-2022-campeonato-entre-comunidades-do-brasil.ghtml</ref> O campeonato contou com 18 seleções formadas pelos melhores jogadores das edições estaduais da Taça, no masculino e no feminino. Os jogos foram realizados no Estado de São Paulo e a montagem das seleções foi feita pelos técnicos campeões de cada estado. As finais ocorreram no dia 19 de novembro de 2022, na Arena Barueri.<br />
<br />
Apesar da maior parte do destaque e das notícias se concentrarem nas regiões do Rio de Janeiro e São Paulo, a Taça das Favelas já realiza edições em outros estados pelo Brasil como Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais, Sergipe, Ceará, Piauí, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Pernambuco, Rondônia, Bahia e Santa Catarina.<br />
<br />
== Edições ==<br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Estado<br />
|-<br />
|2012<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2013<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2014<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2015<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2016<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2017<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2018<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2019<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|-<br />
|2020<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2021<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2022<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|}<br />
<br />
== Campeões ==<br />
A Taça das Favelas tem como maiores campeãs, no feminino, a equipe da Cidade de Deus (RJ) e Corte Oito (RJ), com um bicampeonato para cada. No masculino, Padre Miguel figura como maior campeão, com um bicampeonato nos anos de 2015 e 2016. O ano de 2022 trouxe títulos inéditos, com Sapo do Camará (RJ) e Paraisópolis conquistando a primeira taça entre as meninas e o Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP) entre os meninos. A primeira edição do Favelão, campeonato nacional da Taça das Favelas, teve como campeões a Seleção do Rio de Janeiro no feminino e a Seleção de São Paulo no masculino. <br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Campeões feminino (estaduais)<br />
!Campeões masculino (estaduais)<br />
!Favelão (nacional)<br />
|-<br />
|2012<br />
|Fallet & Fogueteiro (RJ)<ref name=":0">Rocinha e Fallet & Fogueteiro, os campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <<nowiki>https://ge.globo.com/futebol/noticia/2012/02/rocinha-e-fallet-fogueteiro-os-campeoes-da-taca-das-favelas.html</nowiki>>. Acesso em: 30 nov. 2022.</ref><br />
|Rocinha (RJ)<ref name=":0" /><br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2013<br />
|Cidade de Deus (RJ)<br />
|Complexo do Acari (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2014<br />
|Cidade de Deus (RJ)<br />
|Vila Kennedy (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2015<br />
|Barata de Realengo (RJ)<br />
|Padre Miguel (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2016<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Padre Miguel (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2017<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Vila Aliança (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2018<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2019<br />
|Curral das Éguas (RJ) e Complexo da Casa Verde (SP)<br />
|Gogó da Ema (RJ) e Parque Santo Antônio (SP)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2020<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2021<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2022<br />
|Sapo de Camará (RJ) e Paraisópolis (SP)<br />
|Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP)<br />
|Seleção do Rio de Janeiro (feminino) e Seleção de São Paulo (masculino)<br />
|}<br />
<br />
== Formatos de disputa ==<br />
A Taça das Favelas geralmente ocorre em duas fases. A primeira consiste no DIPE, ou Dia da Peneira, e a outra fase se refere aos torneios (masculino e feminino). A partir das quartas de final, a competição tem como forma de disputa o clássico mata-mata. Em um primeiro momento, são eliminadas as seleções que tiverem os piores desempenhos entre os perdedores. Os critérios para a pontuação dos times são:<br />
<br />
Vitória: 3 pontos; empate: 1 ponto; derrota: 0 ponto. Em caso de igualdade na pontuação para seguir na classificação para as quartas, ou para seguir como eliminado, são dados os seguintes critérios de desempate:<br />
<br />
* Participação nos workshops/ações sociais;<br />
* Maior número de vitórias;<br />
* Melhor saldo de gols;<br />
* Maior número de gols pró;<br />
* Menor número de cartões vermelhos;<br />
* Menor número de cartões amarelos; <br />
* Na persistência do empate, realização de um sorteio (cara ou coroa).<ref>https://tacadasfavelas.com.br/regulamento.php?i=MQ==</ref><br />
<br />
== Personalidades ==<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 3.jpg|miniaturadaimagem|Na esquerda, Patrick de Paula como participante da Taça das Favelas. Na direita, segurando o troféu do título do Palmeiras. |alt=|200x200px]]<br />
O jovem volante Patrick de Paula jogou a edição carioca da Taça das Favelas nos anos de 2015, 2016 e 2017. O jogador fez parte do Complexo Santa Margarida, onde foi revelado, e se profissionalizou no Palmeiras, marcando o gol do título do Paulista de 2020 numa disputa de pênaltis contra a equipe do Corinthians. <br />
<br />
No mês de março de 2022, foi comprado pelo Botafogo por mais de 30 milhões de reais, o que garantiu à equipe 50% de seus direitos econômicos. Patrick de Paula se tornou, dessa forma, a contratação mais cara do clube. <br />
<br />
Conquistando grande destaque no cenário mundial, a Taça das Favelas já teve sua importância reconhecida por grandes craques do futebol brasileiro, como Zico, Romário e Cafu. Hoje, o torneio é um sucesso e a cada ano cresce mais o número de favelas inscritas e patrocinadores.<ref>https://vozesdasperiferias.com/maior-torneio-de-futebol-das-favelas-acontece-no-brasil</ref><br />
<br />
== Referências ==<br />
<references />A Taça. Taça das Favelas. Disponível em: <https://tacadasfavelas.com.br/a-taca/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Rocinha e Fallet & Fogueteiro, os campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <https://ge.globo.com/futebol/noticia/2012/02/rocinha-e-fallet-fogueteiro-os-campeoes-da-taca-das-favelas.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das favelas: Cidade de Deus e Complexo do Acari são campeões. Disponível em: <https://ge.globo.com/futebol/noticia/2013/02/taca-das-favelas-cidade-de-deus-e-complexo-do-acari-sao-campeoes.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Com estádio lotado, Vila Kennedy e Cidade de Deus sagram-se campeãs da Taça das Favelas. Disponível em: <https://www.uol.com.br/esporte/futebol/album/2014/02/16/taca-das-favelas-e-disputada-no-rio-de-janeiro.htm?mode=list&foto=4>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das Favelas termina com festa | Blog Favela EC. Disponível em: <https://ge.globo.com/blogs/especial-blog/favela-ec/post/taca-das-favelas-termina-com-festa.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Finais da Taça das Favelas têm Acari x Corte Oito; Padre Miguel x Muquiço. Disponível em: <https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/2016/03/finais-da-taca-das-favelas-tem-acari-corte-oito-padre-miguel-e-muquico.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Vila Aliança e Corte Oito se sagram campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <https://extra.globo.com/esporte/vila-alianca-corte-oito-se-sagram-campeoes-da-taca-das-favelas-21047501.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Só deu Caixa D’Água! Comunidade de Padre Miguel domina Taça das Favelas 2018. Disponível em: <https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/so-deu-caixa-dagua-comunidade-de-padre-miguel-domina-taca-das-favelas-2018.ghtml>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das Favelas é decidida com emoção no Rio de Janeiro. Disponível em: <https://www.torcedores.com/noticias/2019/07/taca-das-favelas-emocao-rio>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Casa Verde e Parque Santo Antônio vencem a primeira Taça das Favelas São Paulo - Gazeta Esportiva. Disponível em: <https://www.gazetaesportiva.com/futebol/casa-verde-e-parque-santo-antonio-vencem-a-primeira-taca-das-favelas-sao-paulo/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
COSTA, R. Seleções Muquiço e Sapo de Camará são as campeãs da Taça das Favelas 2022. Voz das Comunidades, 10 out. 2022.<br />
<br />
Paraisópolis e Jardim Ibirapuera são as grandes campeãs da Taça das Favelas São Paulo 2022. Disponível em: <https://sp.tacadasfavelas.com.br/paraisopolis-e-jardim-ibirapuera-sao-as-grandes-campeas-da-taca-das-favelas-sao-paulo-2022/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Meninas do Rio e garotos de São Paulo vencem o primeiro Favelão. Disponível em: <https://tacadasfavelas.com.br/meninas-do-rio-e-garotos-de-sao-paulo-vencem-o-primeiro-favelao/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Perto do Botafogo, Patrick de Paula voltará ao Rio, onde brilhou na Taça das Favelas; relembre. Disponível em: <https://extra.globo.com/esporte/botafogo/perto-do-botafogo-patrick-de-paula-voltara-ao-rio-onde-brilhou-na-taca-das-favelas-relembre-25436669.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
[[Categoria:Esporte]]<br />
[[Categoria:Futebol]]<br />
[[Categoria:Desenvolvimento social]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Ta%C3%A7a_das_Favelas&diff=17233Taça das Favelas2022-12-16T17:51:37Z<p>Fornazin: inserção de referências</p>
<hr />
<div>== O que é? ==<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas.jpg|miniaturadaimagem|Taça das Favelas.]]<br />
A '''Taça das Favelas''' é um torneio organizado pela [https://wikifavelas.com.br/index.php/Central_%C3%9Anica_de_Favelas_(CUFA) CUFA (Central Única das Favelas)] e produzido pela InFavela, empresa pertencente à Favela Holding. É o maior campeonato de futebol entre favelas do mundo, com apoio da TV Globo e outros patrocinadores. No Rio, mais de 240 favelas estão vinculadas ao projeto. <br />
<br />
Apesar do cunho esportivo, a Taça das Favelas não se limita apenas ao futebol, mas se configura como um importante fator de integração social para os jovens das periferias, uma vez que oferece, antes do início dos jogos, workshops sociais para jogadores e técnicos, com temáticas como cuidados com a alimentação e educação financeira. <br />
<br />
== História ==<br />
A Taça das Favelas foi disputada pela primeira vez no ano de 2012, no Rio de Janeiro, completando em 2022 o seu décimo aniversário. São Paulo teve sua primeira edição em 2019, e, ainda que recentemente, contou com o engajamento de milhares de favelas, com uma final que envolveu mais de 40 mil pessoas no Estádio do Pacaembu. As finais paulistas foram vencidas pelo Complexo da Casa Verde, no feminino, e pelo Parque Santo Antônio<ref>Casa Verde e Parque Santo Antônio vencem a primeira Taça das Favelas São Paulo - Gazeta Esportiva. Disponível em: <<nowiki>https://www.gazetaesportiva.com/futebol/casa-verde-e-parque-santo-antonio-vencem-a-primeira-taca-das-favelas-sao-paulo/</nowiki>>. Acesso em: 30 nov. 2022.</ref>, com cobertura feita pelo Sportv pela TV Globo. <br />
<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 2.png|miniaturadaimagem|Completando 10 anos em 2022, a Taça das Favelas impacta diretamente na vida de 96 mil jovens. ]]<br />
<br />
Realizadas no dia 29 de julho, as grandes finais de 2019 contaram com mais de 10 mil pessoas em Moça Bonita, no Estádio do Bangu Atlético Clube, localizado no Rio de Janeiro. O campeão da categoria feminina foi o Curral das Éguas, enquanto o título da categoria masculina se destinou ao Gogó da Ema. <br />
<br />
No ano de 2022, a Taça das Favelas realizou pela primeira vez a sua edição nacional, no mês de novembro, denominada Favelão 2022.<ref>https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/2022/07/15/cufa-lanca-favelao-2022-campeonato-entre-comunidades-do-brasil.ghtml</ref> O campeonato contou com 18 seleções formadas pelos melhores jogadores das edições estaduais da Taça, no masculino e no feminino. Os jogos foram realizados no Estado de São Paulo e a montagem das seleções foi feita pelos técnicos campeões de cada estado. As finais ocorreram no dia 19 de novembro de 2022, na Arena Barueri.<br />
<br />
Apesar da maior parte do destaque e das notícias se concentrarem nas regiões do Rio de Janeiro e São Paulo, a Taça das Favelas já realiza edições em outros estados pelo Brasil como Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais, Sergipe, Ceará, Piauí, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Pernambuco, Rondônia, Bahia e Santa Catarina.<br />
<br />
== Edições ==<br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Estado<br />
|-<br />
|2012<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2013<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2014<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2015<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2016<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2017<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2018<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2019<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|-<br />
|2020<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2021<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2022<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|}<br />
<br />
== Campeões ==<br />
A Taça das Favelas tem como maiores campeãs, no feminino, a equipe da Cidade de Deus (RJ) e Corte Oito (RJ), com um bicampeonato para cada. No masculino, Padre Miguel figura como maior campeão, com um bicampeonato nos anos de 2015 e 2016. O ano de 2022 trouxe títulos inéditos, com Sapo do Camará (RJ) e Paraisópolis conquistando a primeira taça entre as meninas e o Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP) entre os meninos. A primeira edição do Favelão, campeonato nacional da Taça das Favelas, teve como campeões a Seleção do Rio de Janeiro no feminino e a Seleção de São Paulo no masculino. <br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Campeões feminino (estaduais)<br />
!Campeões masculino (estaduais)<br />
!Favelão (nacional)<br />
|-<br />
|2012<br />
|Fallet & Fogueteiro (RJ)<br />
|Rocinha (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2013<br />
|Cidade de Deus (RJ)<br />
|Complexo do Acari (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2014<br />
|Cidade de Deus (RJ)<br />
|Vila Kennedy (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2015<br />
|Barata de Realengo (RJ)<br />
|Padre Miguel (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2016<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Padre Miguel (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2017<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Vila Aliança (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2018<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2019<br />
|Curral das Éguas (RJ) e Complexo da Casa Verde (SP)<br />
|Gogó da Ema (RJ) e Parque Santo Antônio (SP)<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2020<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2021<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
| Não realizado<br />
|-<br />
|2022<br />
|Sapo de Camará (RJ) e Paraisópolis (SP)<br />
|Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP)<br />
|Seleção do Rio de Janeiro (feminino) e Seleção de São Paulo (masculino)<br />
|}<br />
<br />
== Formatos de disputa ==<br />
A Taça das Favelas geralmente ocorre em duas fases. A primeira consiste no DIPE, ou Dia da Peneira, e a outra fase se refere aos torneios (masculino e feminino). A partir das quartas de final, a competição tem como forma de disputa o clássico mata-mata. Em um primeiro momento, são eliminadas as seleções que tiverem os piores desempenhos entre os perdedores. Os critérios para a pontuação dos times são:<br />
<br />
Vitória: 3 pontos; empate: 1 ponto; derrota: 0 ponto. Em caso de igualdade na pontuação para seguir na classificação para as quartas, ou para seguir como eliminado, são dados os seguintes critérios de desempate:<br />
<br />
* Participação nos workshops/ações sociais;<br />
* Maior número de vitórias;<br />
* Melhor saldo de gols;<br />
* Maior número de gols pró;<br />
* Menor número de cartões vermelhos;<br />
* Menor número de cartões amarelos; <br />
* Na persistência do empate, realização de um sorteio (cara ou coroa).<ref>https://tacadasfavelas.com.br/regulamento.php?i=MQ==</ref><br />
<br />
== Personalidades ==<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 3.jpg|miniaturadaimagem|Na esquerda, Patrick de Paula como participante da Taça das Favelas. Na direita, segurando o troféu do título do Palmeiras. |alt=|200x200px]]<br />
O jovem volante Patrick de Paula jogou a edição carioca da Taça das Favelas nos anos de 2015, 2016 e 2017. O jogador fez parte do Complexo Santa Margarida, onde foi revelado, e se profissionalizou no Palmeiras, marcando o gol do título do Paulista de 2020 numa disputa de pênaltis contra a equipe do Corinthians. <br />
<br />
No mês de março de 2022, foi comprado pelo Botafogo por mais de 30 milhões de reais, o que garantiu à equipe 50% de seus direitos econômicos. Patrick de Paula se tornou, dessa forma, a contratação mais cara do clube. <br />
<br />
Conquistando grande destaque no cenário mundial, a Taça das Favelas já teve sua importância reconhecida por grandes craques do futebol brasileiro, como Zico, Romário e Cafu. Hoje, o torneio é um sucesso e a cada ano cresce mais o número de favelas inscritas e patrocinadores.<ref>https://vozesdasperiferias.com/maior-torneio-de-futebol-das-favelas-acontece-no-brasil</ref><br />
<br />
== Referências ==<br />
<references />A Taça. Taça das Favelas. Disponível em: <https://tacadasfavelas.com.br/a-taca/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Rocinha e Fallet & Fogueteiro, os campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <https://ge.globo.com/futebol/noticia/2012/02/rocinha-e-fallet-fogueteiro-os-campeoes-da-taca-das-favelas.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das favelas: Cidade de Deus e Complexo do Acari são campeões. Disponível em: <https://ge.globo.com/futebol/noticia/2013/02/taca-das-favelas-cidade-de-deus-e-complexo-do-acari-sao-campeoes.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Com estádio lotado, Vila Kennedy e Cidade de Deus sagram-se campeãs da Taça das Favelas. Disponível em: <https://www.uol.com.br/esporte/futebol/album/2014/02/16/taca-das-favelas-e-disputada-no-rio-de-janeiro.htm?mode=list&foto=4>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das Favelas termina com festa | Blog Favela EC. Disponível em: <https://ge.globo.com/blogs/especial-blog/favela-ec/post/taca-das-favelas-termina-com-festa.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Finais da Taça das Favelas têm Acari x Corte Oito; Padre Miguel x Muquiço. Disponível em: <https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/2016/03/finais-da-taca-das-favelas-tem-acari-corte-oito-padre-miguel-e-muquico.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Vila Aliança e Corte Oito se sagram campeões da Taça das Favelas. Disponível em: <https://extra.globo.com/esporte/vila-alianca-corte-oito-se-sagram-campeoes-da-taca-das-favelas-21047501.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Só deu Caixa D’Água! Comunidade de Padre Miguel domina Taça das Favelas 2018. Disponível em: <https://ge.globo.com/eventos/taca-das-favelas/noticia/so-deu-caixa-dagua-comunidade-de-padre-miguel-domina-taca-das-favelas-2018.ghtml>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Taça das Favelas é decidida com emoção no Rio de Janeiro. Disponível em: <https://www.torcedores.com/noticias/2019/07/taca-das-favelas-emocao-rio>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Casa Verde e Parque Santo Antônio vencem a primeira Taça das Favelas São Paulo - Gazeta Esportiva. Disponível em: <https://www.gazetaesportiva.com/futebol/casa-verde-e-parque-santo-antonio-vencem-a-primeira-taca-das-favelas-sao-paulo/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
COSTA, R. Seleções Muquiço e Sapo de Camará são as campeãs da Taça das Favelas 2022. Voz das Comunidades, 10 out. 2022.<br />
<br />
Paraisópolis e Jardim Ibirapuera são as grandes campeãs da Taça das Favelas São Paulo 2022. Disponível em: <https://sp.tacadasfavelas.com.br/paraisopolis-e-jardim-ibirapuera-sao-as-grandes-campeas-da-taca-das-favelas-sao-paulo-2022/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Meninas do Rio e garotos de São Paulo vencem o primeiro Favelão. Disponível em: <https://tacadasfavelas.com.br/meninas-do-rio-e-garotos-de-sao-paulo-vencem-o-primeiro-favelao/>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
<br />
Perto do Botafogo, Patrick de Paula voltará ao Rio, onde brilhou na Taça das Favelas; relembre. Disponível em: <https://extra.globo.com/esporte/botafogo/perto-do-botafogo-patrick-de-paula-voltara-ao-rio-onde-brilhou-na-taca-das-favelas-relembre-25436669.html>. Acesso em: 30 nov. 2022.<br />
[[Categoria:Esporte]]<br />
[[Categoria:Futebol]]<br />
[[Categoria:Desenvolvimento social]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Ta%C3%A7a_das_Favelas&diff=17130Taça das Favelas2022-12-01T17:54:49Z<p>Fornazin: Lista de referências</p>
<hr />
<div>== O que é? ==<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas.jpg|miniaturadaimagem|Taça das Favelas.]]<br />
A Taça das Favelas é um torneio organizado pela [https://wikifavelas.com.br/index.php/Central_%C3%9Anica_de_Favelas_(CUFA) CUFA (Central Única das Favelas)] e produzido pela InFavela, empresa pertencente à Favela Holding. É o maior campeonato de futebol entre favelas do mundo, com apoio da TV Globo e outros patrocinadores. No Rio, mais de 240 favelas estão vinculadas ao projeto. <br />
<br />
Apesar do cunho esportivo, a Taça das Favelas não se limita apenas ao futebol, mas se configura como um importante fator de integração social para os jovens das periferias, uma vez que oferece, antes do início dos jogos, workshops sociais para jogadores e técnicos, com temáticas como cuidados com a alimentação e educação financeira. <br />
<br />
== História ==<br />
A Taça das Favelas foi disputada pela primeira vez no ano de 2012, no Rio de Janeiro, completando em 2022 o seu décimo aniversário. São Paulo teve sua primeira edição em 2019, e, ainda que recentemente, contou com o engajamento de milhares de favelas, com uma final que envolveu mais de 40 mil pessoas no Estádio do Pacaembu. As finais paulistas foram vencidas pelo Complexo da Casa Verde, no feminino, e pelo Parque Santo Antônio, com cobertura feita pelo Sportv pela TV Globo. <br />
<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 2.png|miniaturadaimagem|Completando 10 anos em 2022, a Taça das Favelas impacta diretamente na vida de 96 mil jovens. ]]<br />
<br />
Realizadas no dia 29 de julho, as grandes finais de 2019 contaram com mais de 10 mil pessoas em Moça Bonita, no Estádio do Bangu Atlético Clube, localizado no Rio de Janeiro. O campeão da categoria feminina foi o Curral das Éguas, enquanto o título da categoria masculina se destinou ao Gogó da Ema. <br />
<br />
No ano de 2022, a Taça das Favelas realizou pela primeira vez a sua edição nacional, no mês de novembro, denominada Favelão 2022. O campeonato contou com 18 seleções formadas pelos melhores jogadores das edições estaduais da Taça, no masculino e no feminino. Os jogos foram realizados no Estado de São Paulo e a montagem das seleções foi feita pelos técnicos campeões de cada estado. As finais ocorreram no dia 19 de novembro de 2022, na Arena Barueri.<br />
<br />
== Edições ==<br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Estado<br />
|-<br />
|2012<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2013<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2014<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2015<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2016<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2017<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2018<br />
|Rio de Janeiro<br />
|-<br />
|2019<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|-<br />
|2020<br />
| -<br />
|-<br />
|2021<br />
| -<br />
|-<br />
|2022<br />
|Rio de Janeiro e São Paulo<br />
|}<br />
<br />
== Campeões ==<br />
A Taça das Favelas tem como maiores campeãs, no feminino, a equipe da Cidade de Deus (RJ) e Corte Oito (RJ), com um bicampeonato para cada. No masculino, Padre Miguel figura como maior campeão, com um bicampeonato nos anos de 2015 e 2016. O ano de 2022 trouxe títulos inéditos, com Sapo do Camará (RJ) e Paraisópolis conquistando a primeira taça entre as meninas e o Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP) entre os meninos. A primeira edição do Favelão, campeonato nacional da Taça das Favelas, teve como campeões a Seleção do Rio de Janeiro no feminino e a Seleção de São Paulo no masculino. <br />
{| class="wikitable"<br />
!Ano<br />
!Campeões feminino (estaduais)<br />
!Campeões masculino (estaduais)<br />
!Favelão (nacional)<br />
|-<br />
|2012<br />
|Fallet & Fogueteiro (RJ)<br />
|Rocinha (RJ)<br />
| -<br />
|-<br />
|2013<br />
|Cidade de Deus (RJ)<br />
|Complexo do Acari (RJ)<br />
| -<br />
|-<br />
|2014<br />
|Cidade de Deus (RJ)<br />
|Vila Kennedy (RJ)<br />
| -<br />
|-<br />
|2015<br />
|Barata de Realengo (RJ)<br />
|Padre Miguel (RJ)<br />
| -<br />
|-<br />
|2016<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Padre Miguel (RJ)<br />
| -<br />
|-<br />
|2017<br />
|Corte Oito (RJ)<br />
|Vila Aliança (RJ)<br />
| -<br />
|-<br />
|2018<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
|Caixa D'Água (RJ)<br />
| -<br />
|-<br />
|2019<br />
|Curral das Éguas (RJ) e Complexo da Casa Verde (SP)<br />
|Gogó da Ema (RJ) e Parque Santo Antônio (SP)<br />
| -<br />
|-<br />
|2020<br />
| -<br />
| -<br />
| -<br />
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|2021<br />
| -<br />
| -<br />
| -<br />
|-<br />
|2022<br />
|Sapo de Camará (RJ) e Paraisópolis (SP)<br />
|Complexo do Muquiço (RJ) e Jardim Ibirapuera (SP)<br />
|Seleção do Rio de Janeiro (feminino) e Seleção de São Paulo (masculino)<br />
|}<br />
<br />
== Formatos de disputa ==<br />
<br />
== Personalidades ==<br />
[[Arquivo:Taça das Favelas 3.jpg|miniaturadaimagem|Na esquerda, Patrick de Paula como participante da Taça das Favelas. Na direita, segurando o troféu do título do Palmeiras. |alt=|200x200px]]<br />
O jovem volante Patrick de Paula jogou a edição carioca da Taça das Favelas nos anos de 2015, 2016 e 2017. O jogador fez parte do Complexo Santa Margarida, onde foi revelado, e se profissionalizou no Palmeiras, marcando o gol do título do Paulista de 2020 numa disputa de pênaltis contra a equipe do Corinthians. <br />
<br />
No mês de março de 2022, foi comprado pelo Botafogo por mais de 30 milhões de reais, o que garantiu à equipe 50% de seus direitos econômicos. Patrick de Paula se tornou, dessa forma, a contratação mais cara do clube. <br />
<br />
Conquistando grande destaque no cenário mundial, a Taça das Favelas já teve sua importância e relevância reconhecidas por grandes craques do futebol brasileiro, como Zico, Júnior, Bebeto e Romário. Hoje, o torneio é um sucesso e a cada ano cresce mais o número de favelas inscritas.<br />
<br />
== Referências ==<br />
<references /><br />
[[Categoria:Esporte]]<br />
[[Categoria:Futebol]]<br />
[[Categoria:Desenvolvimento social]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Favela_%C3%A9_cidade_-_a_emerg%C3%AAncia_imag%C3%A9tica_da_cidade_perif%C3%A9rica&diff=16761Favela é cidade - a emergência imagética da cidade periférica2022-10-14T18:24:43Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><br />
__FORCETOC__<br />
<br />
Autor:&nbsp;[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Usuário:Adair_Rocha Adair Rocha].<br />
<br />
<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A singularidade da cidade do Rio de Janeiro pode ser identificada com a imagem invertida do espelho</font></font></font></span></span><ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ROCHA, Adair. Cidade cerzida: a costura da cidadania no Morro&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Santa Marta. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio, Pallas, 2012.</font></font></font></span></span></ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, que tem como identidade a sua diversidade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, Leblon tem Vidigal, Cantagalo tem Ipanema, Copacabana tem Cabritos e tem Guararapes, com a [[Babilônia 2000 (filme)|Babilônia]] e o “Chapéu”, enquanto [[Favela do Borel|Borel]], Formiga e Salgueiro formam o anel da Tijuca</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, e'''&nbsp;'''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Gávea e São Conrado enquadram a [[Rocinha]], que também expande seu território.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Situação modificada já nos anos setenta, com o fenômeno das remoções como nos mostram Pilar e Quack</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">em Remoção, documentário de 2105</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, quando Catacumba e Praia do Pinto deixam forçadamente a Lagoa Rodrigo de Freitas para as “soluções” dos Conjuntos Habitacionais da Cidade de Deus, o Cesarão em Santa Cruz e outros.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A proximidade favela/asfalto gera, sem dúvida, a intensidade da tensão da cidade, que desafia, sobretudo, o desempenho de seus papéis institucionais, que precisam cuidar da postura diante das diferenças e das desigualdades.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Diante disso evidenciam-se algumas posturas contraditórias: de um lado, o reconhecimento e o respeito da diferença. De outro, as manifestações e práticas, cada vez mais preconceituosas de racismo, homofobia, machismo, bem como a quebra da liberdade e autonomia no campo religioso, de gênero e na desqualificação da política. Portanto, torna-se necessário, isso sim, o rompimento com a normalidade da desigualdade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Isso gera impasses que a mídia de massas chama de “guerra”. Qual o modelo de Estado e</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">de</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">regime econômico entra em cena?</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O alinhamento hegemônico hoje vai na direção da conformação do estado mínimo, que atribui ao mercado e ao poder econômico, portanto, o papel de consumo que privatiza o acesso da população às necessidades básicas de saúde, educação, moradia, transporte e cultura. Tem na privatização seu objetivo central. O que se contrapõe, naturalmente, ao modelo de estado ampliado, que prioriza o acesso da população, especialmente a empobrecida, às políticas públicas básicas citadas.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O processo democrático é intrinsecamente inconcluso, onde cada conquista chama novas. Quanto ao Estado, pode-se falar da “incompletude”</font></font></font></span></span><ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">SILVA, Jailson de Souza e; BARBOSA, Jorge Luiz; FAUSTINI,&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Marcus Vinicius. O novo carioca. Rio de Janeiro: Mórula&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Editora, 2012.</font></font></font></span></span></ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, na medida em que não dá conta de suprir a necessidade da população empobrecida. Muitas vezes, comumente se diz, prioriza a repressão como forma de controle, e as políticas sociais sempre ficam incompletas, como no caso da implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A cidade do Rio de Janeiro e o seu entorno padecem da fragilidade da gestão territorial que definem município, estado e união na mesma tendência de rompimento com as políticas públicas e conquistas, especialmente dos setores empobrecidos. Situe-se como um dos exemplos mais evidentes e gritantes o tratamento de desmonte que vem sendo dado à UERJ a ao HUPE, sem condições do seu exercício acadêmico pela falta de pagamento aos professores, funcionários e alunos bolsistas, bem como as verbas de pesquisa e de manutenção.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Entre os papéis institucionais</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">vou me deter em um deles, realizado na PUC-Rio, mais especificamente, no projeto Comunicar,</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">do</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Núcleo de Comunicação Comunitária.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Trata-se de um curso que se realiza nos últimos sete anos, e que coincide com a criação das UPPs</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''':&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Cinema, Criação e Pensamento, dirigido, especialmente</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''',&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">para moradores das favelas. Iniciado com professores do Curso de Cinema da Universidade, já há hoje a incorporação de ex-aluno como professor, como é o caso de Itamar Silva, morador do [[Santa Marta Favela|Morro Santa Marta]]</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''',&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e que participou ativamente da primeira edição do curso.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Que cidade é essa que o&nbsp;</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''c'''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">inema e os meios de comunicação vão mostrar? A contribuição a partir de cineastas, produtores, pensadores, no lugar da radicalidade chamada&nbsp;</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''favela''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">.</font></font></font></span></span><br />
<br />
===O caminho da Comunicação Comunitária===<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Tal núcleo ou projeto nasce em função das perguntas e questões que a favela e a periferia traziam para a Universidade, ou que possibilitava a universalização dos encontros com a pesquisa e com a diversidade dos saberes, que, por sua vez, passam longe das m</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">í</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">dias ditas de massa.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, o projeto Comunicar e seu núcleo de comunicação comunitária vão assessorando e</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">co-criando</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">formas de informação</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e comunicação</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">que expressam o “local” em sua múltipla significação. Isto é, o resultado intenso e tenso das contradições econômicas, políticas e culturais do universo urbano, no “campus” representado, invertendo papéis de objetos submissos de produção de conhecimento e de mercado, para sujeitos que conquistam sua autonomia e independência. Aproxima-se do que Agamben afirma da Cidade de Deus e seus anticristos. Toda cidade é de Deus, inversão simbólica de sua afirmação e significação.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">As 2 ½ décadas recentes se caracterizam pelo fenômeno do acesso de setores das favelas e das periferias às universidades. Destacam-se no Rio de Janeiro duas importantes experiências: a política de cotas da UERJ, que recebe 49,5% de seus alunos das escolas públicas; a prática da PUC-Rio com o estabelecimento de convênios com os pré-vestibulares comunitários, da Baixada inicialmente, mas que rapidamente se espalhou para todo o Brasil. Isso vai inspirar a criação de outra política pública – o Prouni, para o acesso às universidades particulares. Isso tem mudado a cara das</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">u</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">niversidades, com a tez muito mais parecida com a</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">d a</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">cidade e com o país. O que muda significativamente o modo acadêmico e intelectual de ver e de atuar. Agora se pode falar da cidade desde ela mesma a partir de diferentes protagonistas.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Dito isto, é possível explicitar o que está em curso no projeto Cinema, Criação e Pensamento, dirigido especialmente aos moradores de favela.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Qual é a imagem de cidade que as telas devem revelar. A partir do Santa Marta, do Chapéu Mangueira e da Babilônia e ainda da Rocinha, da Cidade de Deus e do Vidigal, acosteando-se também no Alemão e suas favelas, bem como as da Maré. Uma série de documentários, ficções e espaços de produção vão sendo criados e fortalecidos</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> '''<font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">potencializando a cidade nas fraldas do seu infinito.</font></font></font>'''</span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Pode-se dizer que, da mesma forma que as manifestações de 2013 no Brasil espelharam, entre outras novidades, o confronto dos noticiários das mídias de massa e seus métodos</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''-'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">grande parte das vezes, posicionados politicamente com o disfarce da neutralidade e da independência</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''-'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, com a atuação da chamada "mídia ninja", que de dentro de cada movimento do evento, evidenciava, através de celulares e de pequenas câmeras, outra versão dos acontecimentos.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, os próprios negros e empobrecidos, tendo à mão o poder ou a disposição da direção, do roteiro, da fotografia, enfim,</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">poderão</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">aproximar a imagem e sua leitura, cada vez mais, da realidade, cujo caos e contradição evidenciam a situação da cidade e da sociedade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Poder-se-ia propor como exercício acadêmico a análise do que está em curso nas favelas e periferias, em termos de suas rotinas, cultura, sistema de trocas etc. Possivelmente haveria uma ‘disputa de imagens’ a partir desses resultados que, certamente confrontariam os discursos das mídias de massa.</font></font></font></span></span><br />
<br />
===Os ecos da liberdade e da escravidão===<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Alguns sintomas podem ser verificados, a olho nu, do efeito de políticas públicas existentes em favelas e em expressões marginais da cidade, particularmente com a presença do Programa Cultura Viva ou os Pontos de Cultura, criado pelo Ministério da Cultura</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">em 2005, no governo Lula, com Gilberto Gil, e posteriormente, com algumas parcerias locais, tanto</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">em âmbito estadual como municipal, como se deu na capital do Rio, por exemplo.</font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Inicialmente, como assessor do Ministro Gil, pude participar da criação do Programa e, posteriormente, como chefe da Representação do MinC, no Rio e no Espírito Santo, cuidei da efetivação dos convênios, na consolidação da gestão territorial.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Partindo do pressuposto de que quem faz cultura é a população, em sua expressão diversa, plural, étnica, religiosa, política, de classe e em todo ar, o papel do</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">stado e dos governos, portanto, é o de proporcionar e garantir as possibilidades de acesso aos que têm direito e à potencialidade emergente</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">das sociedades urbanas, mas</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">também do campo ou da 'roça'.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Nessa condição</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">pude acompanhar a evolução e a mudança que o acesso possibilita. Apenas citando alguns exemplos, o bloco</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">carnavalesco</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">do “Loucura Suburbana”, que se organiza a partir do Hospital Nise da Silveira, que trabalha a experiência da ‘loucura fora dos muros dos manicômios’, mostrou uma diferença considerável, por exemplo, na qualidade das letras dos sambas concorrentes aos desfiles do bloco pelas ruas do Engenho de Dentro. Diferença notada pelos componentes do júri nas escolhas dos sambas do “Loucura”, do qual faço parte, desde bem antes da transformação em Ponto de Cultura</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">; assim</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">como Noca da Portela</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''';'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Luis Carlos Magalhães (atual presidente da Portela)</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''';'''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Marisa, filha de Zé Kétti e outros/as que acompanhamos a eficácia das</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">o</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ficinas que os Pontos proporcionaram.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Pode-se dizer o mesmo dos Pontos ligados ao</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''j'''ongo</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, da Serrinha aos demais, cujas exigências de qualificação levaram à criação do Pontão de Cultura, parceria do Centro de Estudos Sociais da UFF com o IPHAN.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Também as Folias de Reis adquirem novo ar de existência e criação</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">como diria Deleuze</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">. As Folias</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, de fato, são</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">p</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ontos seculares de</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">c</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ultura e que, na maioria das vezes, não sobrevive à concorrência urbana, do trabalho e do consumo de cultura descartável, vendidos pela lógica do espetáculo.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A existência dos Pontos de Cultura como política pública vocacionada para o fortalecimento da diversidade cultural, que identifica favelas e periferias, chega também à zona rural e se inclui na perspectiva da redistribuição de renda e de equipamentos. Sua realização só se torna possível, como dito anteriormente, dentro de um no modelo de estado ampliado. Pode se dizer que a criação e a produção na área de cultura interferem na perspectiva política e cidadã dos processos de natureza democrática.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Saliente-se aqui que a experiência inédita na formação acadêmica do audiovisual para moradores de favela, descrita antes, torna-se também um Ponto de Cultura, exatamente em homenagem a um dos 'padrinhos originários' e inspirador desse projeto, o já saudoso cineasta e mestre documentarista Eduardo Coutinho.</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">Coutinho</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">participou de longa conversa com os componentes de Cinema, Criação e Pensamento poucos dias antes de sua trágica morte.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O debate em torno do acesso e da autonomia e independência da palavra e da imagem reviram a significação da cidade. Assim</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">a potência e a fragilidade da cidade estão em todo seu território.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Portanto, o cuidado com essa interação palavra/imagem é estratégia política nesse tempo de destruição arquitetada pela naturalização das formas de dominação com apoio e projeto das mídias de massa.</font></font></font></span></span><br/> &nbsp;<br />
<br />
===Bibliografia===<br />
<references /><br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">experiência e origem da história. Belo Horizonte:&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Ed UFMG, 2005.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">CARVALHO, Cynthia Paes de (Org.). Favelas e Organizações&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Comunitárias. Petrópolis: Ed. Vozes, 1994.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt"><span style="letter-spacing:-0.2pt">DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Editora Escuta, 2002.</span></font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ROCHA, Adair. Cidade cerzida: a costura da cidadania no Morro&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Santa Marta. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio, Pallas, 2012.</font></font></font></span></span><br />
&nbsp;<br />
[[Category:Temática - Mídia e Comunicação]][[Category:Temática - Sociabilidade]][[Category:Identidade]][[Category:Direito à cidade]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Favela_%C3%A9_cidade_-_a_emerg%C3%AAncia_imag%C3%A9tica_da_cidade_perif%C3%A9rica&diff=16760Favela é cidade - a emergência imagética da cidade periférica2022-10-14T18:24:13Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><br />
Autor:&nbsp;[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Usuário:Adair_Rocha Adair Rocha].<br />
<br />
__FORCETOC__<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A singularidade da cidade do Rio de Janeiro pode ser identificada com a imagem invertida do espelho</font></font></font></span></span><ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ROCHA, Adair. Cidade cerzida: a costura da cidadania no Morro&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Santa Marta. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio, Pallas, 2012.</font></font></font></span></span></ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, que tem como identidade a sua diversidade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, Leblon tem Vidigal, Cantagalo tem Ipanema, Copacabana tem Cabritos e tem Guararapes, com a [[Babilônia 2000 (filme)|Babilônia]] e o “Chapéu”, enquanto [[Favela do Borel|Borel]], Formiga e Salgueiro formam o anel da Tijuca</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, e'''&nbsp;'''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Gávea e São Conrado enquadram a [[Rocinha]], que também expande seu território.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Situação modificada já nos anos setenta, com o fenômeno das remoções como nos mostram Pilar e Quack</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">em Remoção, documentário de 2105</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, quando Catacumba e Praia do Pinto deixam forçadamente a Lagoa Rodrigo de Freitas para as “soluções” dos Conjuntos Habitacionais da Cidade de Deus, o Cesarão em Santa Cruz e outros.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A proximidade favela/asfalto gera, sem dúvida, a intensidade da tensão da cidade, que desafia, sobretudo, o desempenho de seus papéis institucionais, que precisam cuidar da postura diante das diferenças e das desigualdades.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Diante disso evidenciam-se algumas posturas contraditórias: de um lado, o reconhecimento e o respeito da diferença. De outro, as manifestações e práticas, cada vez mais preconceituosas de racismo, homofobia, machismo, bem como a quebra da liberdade e autonomia no campo religioso, de gênero e na desqualificação da política. Portanto, torna-se necessário, isso sim, o rompimento com a normalidade da desigualdade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Isso gera impasses que a mídia de massas chama de “guerra”. Qual o modelo de Estado e</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">de</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">regime econômico entra em cena?</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O alinhamento hegemônico hoje vai na direção da conformação do estado mínimo, que atribui ao mercado e ao poder econômico, portanto, o papel de consumo que privatiza o acesso da população às necessidades básicas de saúde, educação, moradia, transporte e cultura. Tem na privatização seu objetivo central. O que se contrapõe, naturalmente, ao modelo de estado ampliado, que prioriza o acesso da população, especialmente a empobrecida, às políticas públicas básicas citadas.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O processo democrático é intrinsecamente inconcluso, onde cada conquista chama novas. Quanto ao Estado, pode-se falar da “incompletude”</font></font></font></span></span><ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">SILVA, Jailson de Souza e; BARBOSA, Jorge Luiz; FAUSTINI,&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Marcus Vinicius. O novo carioca. Rio de Janeiro: Mórula&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Editora, 2012.</font></font></font></span></span></ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, na medida em que não dá conta de suprir a necessidade da população empobrecida. Muitas vezes, comumente se diz, prioriza a repressão como forma de controle, e as políticas sociais sempre ficam incompletas, como no caso da implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A cidade do Rio de Janeiro e o seu entorno padecem da fragilidade da gestão territorial que definem município, estado e união na mesma tendência de rompimento com as políticas públicas e conquistas, especialmente dos setores empobrecidos. Situe-se como um dos exemplos mais evidentes e gritantes o tratamento de desmonte que vem sendo dado à UERJ a ao HUPE, sem condições do seu exercício acadêmico pela falta de pagamento aos professores, funcionários e alunos bolsistas, bem como as verbas de pesquisa e de manutenção.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Entre os papéis institucionais</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">vou me deter em um deles, realizado na PUC-Rio, mais especificamente, no projeto Comunicar,</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">do</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Núcleo de Comunicação Comunitária.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Trata-se de um curso que se realiza nos últimos sete anos, e que coincide com a criação das UPPs</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''':&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Cinema, Criação e Pensamento, dirigido, especialmente</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''',&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">para moradores das favelas. Iniciado com professores do Curso de Cinema da Universidade, já há hoje a incorporação de ex-aluno como professor, como é o caso de Itamar Silva, morador do [[Santa Marta Favela|Morro Santa Marta]]</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''',&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e que participou ativamente da primeira edição do curso.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Que cidade é essa que o&nbsp;</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''c'''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">inema e os meios de comunicação vão mostrar? A contribuição a partir de cineastas, produtores, pensadores, no lugar da radicalidade chamada&nbsp;</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''favela''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">.</font></font></font></span></span><br />
<br />
===O caminho da Comunicação Comunitária===<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Tal núcleo ou projeto nasce em função das perguntas e questões que a favela e a periferia traziam para a Universidade, ou que possibilitava a universalização dos encontros com a pesquisa e com a diversidade dos saberes, que, por sua vez, passam longe das m</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">í</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">dias ditas de massa.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, o projeto Comunicar e seu núcleo de comunicação comunitária vão assessorando e</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">co-criando</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">formas de informação</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e comunicação</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">que expressam o “local” em sua múltipla significação. Isto é, o resultado intenso e tenso das contradições econômicas, políticas e culturais do universo urbano, no “campus” representado, invertendo papéis de objetos submissos de produção de conhecimento e de mercado, para sujeitos que conquistam sua autonomia e independência. Aproxima-se do que Agamben afirma da Cidade de Deus e seus anticristos. Toda cidade é de Deus, inversão simbólica de sua afirmação e significação.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">As 2 ½ décadas recentes se caracterizam pelo fenômeno do acesso de setores das favelas e das periferias às universidades. Destacam-se no Rio de Janeiro duas importantes experiências: a política de cotas da UERJ, que recebe 49,5% de seus alunos das escolas públicas; a prática da PUC-Rio com o estabelecimento de convênios com os pré-vestibulares comunitários, da Baixada inicialmente, mas que rapidamente se espalhou para todo o Brasil. Isso vai inspirar a criação de outra política pública – o Prouni, para o acesso às universidades particulares. Isso tem mudado a cara das</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">u</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">niversidades, com a tez muito mais parecida com a</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">d a</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">cidade e com o país. O que muda significativamente o modo acadêmico e intelectual de ver e de atuar. Agora se pode falar da cidade desde ela mesma a partir de diferentes protagonistas.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Dito isto, é possível explicitar o que está em curso no projeto Cinema, Criação e Pensamento, dirigido especialmente aos moradores de favela.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Qual é a imagem de cidade que as telas devem revelar. A partir do Santa Marta, do Chapéu Mangueira e da Babilônia e ainda da Rocinha, da Cidade de Deus e do Vidigal, acosteando-se também no Alemão e suas favelas, bem como as da Maré. Uma série de documentários, ficções e espaços de produção vão sendo criados e fortalecidos</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> '''<font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">potencializando a cidade nas fraldas do seu infinito.</font></font></font>'''</span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Pode-se dizer que, da mesma forma que as manifestações de 2013 no Brasil espelharam, entre outras novidades, o confronto dos noticiários das mídias de massa e seus métodos</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''-'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">grande parte das vezes, posicionados politicamente com o disfarce da neutralidade e da independência</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''-'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, com a atuação da chamada "mídia ninja", que de dentro de cada movimento do evento, evidenciava, através de celulares e de pequenas câmeras, outra versão dos acontecimentos.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, os próprios negros e empobrecidos, tendo à mão o poder ou a disposição da direção, do roteiro, da fotografia, enfim,</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">poderão</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">aproximar a imagem e sua leitura, cada vez mais, da realidade, cujo caos e contradição evidenciam a situação da cidade e da sociedade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Poder-se-ia propor como exercício acadêmico a análise do que está em curso nas favelas e periferias, em termos de suas rotinas, cultura, sistema de trocas etc. Possivelmente haveria uma ‘disputa de imagens’ a partir desses resultados que, certamente confrontariam os discursos das mídias de massa.</font></font></font></span></span><br />
<br />
===Os ecos da liberdade e da escravidão===<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Alguns sintomas podem ser verificados, a olho nu, do efeito de políticas públicas existentes em favelas e em expressões marginais da cidade, particularmente com a presença do Programa Cultura Viva ou os Pontos de Cultura, criado pelo Ministério da Cultura</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">em 2005, no governo Lula, com Gilberto Gil, e posteriormente, com algumas parcerias locais, tanto</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">em âmbito estadual como municipal, como se deu na capital do Rio, por exemplo.</font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Inicialmente, como assessor do Ministro Gil, pude participar da criação do Programa e, posteriormente, como chefe da Representação do MinC, no Rio e no Espírito Santo, cuidei da efetivação dos convênios, na consolidação da gestão territorial.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Partindo do pressuposto de que quem faz cultura é a população, em sua expressão diversa, plural, étnica, religiosa, política, de classe e em todo ar, o papel do</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">stado e dos governos, portanto, é o de proporcionar e garantir as possibilidades de acesso aos que têm direito e à potencialidade emergente</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">das sociedades urbanas, mas</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">também do campo ou da 'roça'.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Nessa condição</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">pude acompanhar a evolução e a mudança que o acesso possibilita. Apenas citando alguns exemplos, o bloco</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">carnavalesco</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">do “Loucura Suburbana”, que se organiza a partir do Hospital Nise da Silveira, que trabalha a experiência da ‘loucura fora dos muros dos manicômios’, mostrou uma diferença considerável, por exemplo, na qualidade das letras dos sambas concorrentes aos desfiles do bloco pelas ruas do Engenho de Dentro. Diferença notada pelos componentes do júri nas escolhas dos sambas do “Loucura”, do qual faço parte, desde bem antes da transformação em Ponto de Cultura</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">; assim</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">como Noca da Portela</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''';'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Luis Carlos Magalhães (atual presidente da Portela)</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''';'''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Marisa, filha de Zé Kétti e outros/as que acompanhamos a eficácia das</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">o</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ficinas que os Pontos proporcionaram.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Pode-se dizer o mesmo dos Pontos ligados ao</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''j'''ongo</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, da Serrinha aos demais, cujas exigências de qualificação levaram à criação do Pontão de Cultura, parceria do Centro de Estudos Sociais da UFF com o IPHAN.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Também as Folias de Reis adquirem novo ar de existência e criação</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">como diria Deleuze</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">. As Folias</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, de fato, são</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">p</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ontos seculares de</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">c</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ultura e que, na maioria das vezes, não sobrevive à concorrência urbana, do trabalho e do consumo de cultura descartável, vendidos pela lógica do espetáculo.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A existência dos Pontos de Cultura como política pública vocacionada para o fortalecimento da diversidade cultural, que identifica favelas e periferias, chega também à zona rural e se inclui na perspectiva da redistribuição de renda e de equipamentos. Sua realização só se torna possível, como dito anteriormente, dentro de um no modelo de estado ampliado. Pode se dizer que a criação e a produção na área de cultura interferem na perspectiva política e cidadã dos processos de natureza democrática.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Saliente-se aqui que a experiência inédita na formação acadêmica do audiovisual para moradores de favela, descrita antes, torna-se também um Ponto de Cultura, exatamente em homenagem a um dos 'padrinhos originários' e inspirador desse projeto, o já saudoso cineasta e mestre documentarista Eduardo Coutinho.</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">Coutinho</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">participou de longa conversa com os componentes de Cinema, Criação e Pensamento poucos dias antes de sua trágica morte.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O debate em torno do acesso e da autonomia e independência da palavra e da imagem reviram a significação da cidade. Assim</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">a potência e a fragilidade da cidade estão em todo seu território.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Portanto, o cuidado com essa interação palavra/imagem é estratégia política nesse tempo de destruição arquitetada pela naturalização das formas de dominação com apoio e projeto das mídias de massa.</font></font></font></span></span><br/> &nbsp;<br />
<br />
===Bibliografia===<br />
<references /><br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">experiência e origem da história. Belo Horizonte:&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Ed UFMG, 2005.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">CARVALHO, Cynthia Paes de (Org.). Favelas e Organizações&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Comunitárias. Petrópolis: Ed. Vozes, 1994.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt"><span style="letter-spacing:-0.2pt">DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Editora Escuta, 2002.</span></font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ROCHA, Adair. Cidade cerzida: a costura da cidadania no Morro&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Santa Marta. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio, Pallas, 2012.</font></font></font></span></span><br />
&nbsp;<br />
[[Category:Temática - Mídia e Comunicação]][[Category:Temática - Sociabilidade]][[Category:Identidade]][[Category:Direito à cidade]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Favela_%C3%A9_cidade_-_a_emerg%C3%AAncia_imag%C3%A9tica_da_cidade_perif%C3%A9rica&diff=16759Favela é cidade - a emergência imagética da cidade periférica2022-10-14T18:23:20Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><br />
Autor:&nbsp;[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Usuário:Adair_Rocha Adair Rocha].<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A singularidade da cidade do Rio de Janeiro pode ser identificada com a imagem invertida do espelho</font></font></font></span></span><ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ROCHA, Adair. Cidade cerzida: a costura da cidadania no Morro&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Santa Marta. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio, Pallas, 2012.</font></font></font></span></span></ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, que tem como identidade a sua diversidade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, Leblon tem Vidigal, Cantagalo tem Ipanema, Copacabana tem Cabritos e tem Guararapes, com a [[Babilônia 2000 (filme)|Babilônia]] e o “Chapéu”, enquanto [[Favela do Borel|Borel]], Formiga e Salgueiro formam o anel da Tijuca</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, e'''&nbsp;'''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Gávea e São Conrado enquadram a [[Rocinha]], que também expande seu território.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Situação modificada já nos anos setenta, com o fenômeno das remoções como nos mostram Pilar e Quack</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">em Remoção, documentário de 2105</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, quando Catacumba e Praia do Pinto deixam forçadamente a Lagoa Rodrigo de Freitas para as “soluções” dos Conjuntos Habitacionais da Cidade de Deus, o Cesarão em Santa Cruz e outros.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A proximidade favela/asfalto gera, sem dúvida, a intensidade da tensão da cidade, que desafia, sobretudo, o desempenho de seus papéis institucionais, que precisam cuidar da postura diante das diferenças e das desigualdades.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Diante disso evidenciam-se algumas posturas contraditórias: de um lado, o reconhecimento e o respeito da diferença. De outro, as manifestações e práticas, cada vez mais preconceituosas de racismo, homofobia, machismo, bem como a quebra da liberdade e autonomia no campo religioso, de gênero e na desqualificação da política. Portanto, torna-se necessário, isso sim, o rompimento com a normalidade da desigualdade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Isso gera impasses que a mídia de massas chama de “guerra”. Qual o modelo de Estado e</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">de</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">regime econômico entra em cena?</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O alinhamento hegemônico hoje vai na direção da conformação do estado mínimo, que atribui ao mercado e ao poder econômico, portanto, o papel de consumo que privatiza o acesso da população às necessidades básicas de saúde, educação, moradia, transporte e cultura. Tem na privatização seu objetivo central. O que se contrapõe, naturalmente, ao modelo de estado ampliado, que prioriza o acesso da população, especialmente a empobrecida, às políticas públicas básicas citadas.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O processo democrático é intrinsecamente inconcluso, onde cada conquista chama novas. Quanto ao Estado, pode-se falar da “incompletude”</font></font></font></span></span><ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">SILVA, Jailson de Souza e; BARBOSA, Jorge Luiz; FAUSTINI,&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Marcus Vinicius. O novo carioca. Rio de Janeiro: Mórula&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Editora, 2012.</font></font></font></span></span></ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, na medida em que não dá conta de suprir a necessidade da população empobrecida. Muitas vezes, comumente se diz, prioriza a repressão como forma de controle, e as políticas sociais sempre ficam incompletas, como no caso da implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A cidade do Rio de Janeiro e o seu entorno padecem da fragilidade da gestão territorial que definem município, estado e união na mesma tendência de rompimento com as políticas públicas e conquistas, especialmente dos setores empobrecidos. Situe-se como um dos exemplos mais evidentes e gritantes o tratamento de desmonte que vem sendo dado à UERJ a ao HUPE, sem condições do seu exercício acadêmico pela falta de pagamento aos professores, funcionários e alunos bolsistas, bem como as verbas de pesquisa e de manutenção.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Entre os papéis institucionais</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">vou me deter em um deles, realizado na PUC-Rio, mais especificamente, no projeto Comunicar,</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">do</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Núcleo de Comunicação Comunitária.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Trata-se de um curso que se realiza nos últimos sete anos, e que coincide com a criação das UPPs</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''':&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Cinema, Criação e Pensamento, dirigido, especialmente</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''',&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">para moradores das favelas. Iniciado com professores do Curso de Cinema da Universidade, já há hoje a incorporação de ex-aluno como professor, como é o caso de Itamar Silva, morador do [[Santa Marta Favela|Morro Santa Marta]]</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''',&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e que participou ativamente da primeira edição do curso.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Que cidade é essa que o&nbsp;</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''c'''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">inema e os meios de comunicação vão mostrar? A contribuição a partir de cineastas, produtores, pensadores, no lugar da radicalidade chamada&nbsp;</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''favela''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">.</font></font></font></span></span><br />
<br />
===O caminho da Comunicação Comunitária===<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Tal núcleo ou projeto nasce em função das perguntas e questões que a favela e a periferia traziam para a Universidade, ou que possibilitava a universalização dos encontros com a pesquisa e com a diversidade dos saberes, que, por sua vez, passam longe das m</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">í</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">dias ditas de massa.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, o projeto Comunicar e seu núcleo de comunicação comunitária vão assessorando e</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">co-criando</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">formas de informação</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e comunicação</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">que expressam o “local” em sua múltipla significação. Isto é, o resultado intenso e tenso das contradições econômicas, políticas e culturais do universo urbano, no “campus” representado, invertendo papéis de objetos submissos de produção de conhecimento e de mercado, para sujeitos que conquistam sua autonomia e independência. Aproxima-se do que Agamben afirma da Cidade de Deus e seus anticristos. Toda cidade é de Deus, inversão simbólica de sua afirmação e significação.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">As 2 ½ décadas recentes se caracterizam pelo fenômeno do acesso de setores das favelas e das periferias às universidades. Destacam-se no Rio de Janeiro duas importantes experiências: a política de cotas da UERJ, que recebe 49,5% de seus alunos das escolas públicas; a prática da PUC-Rio com o estabelecimento de convênios com os pré-vestibulares comunitários, da Baixada inicialmente, mas que rapidamente se espalhou para todo o Brasil. Isso vai inspirar a criação de outra política pública – o Prouni, para o acesso às universidades particulares. Isso tem mudado a cara das</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">u</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">niversidades, com a tez muito mais parecida com a</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">d a</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">cidade e com o país. O que muda significativamente o modo acadêmico e intelectual de ver e de atuar. Agora se pode falar da cidade desde ela mesma a partir de diferentes protagonistas.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Dito isto, é possível explicitar o que está em curso no projeto Cinema, Criação e Pensamento, dirigido especialmente aos moradores de favela.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Qual é a imagem de cidade que as telas devem revelar. A partir do Santa Marta, do Chapéu Mangueira e da Babilônia e ainda da Rocinha, da Cidade de Deus e do Vidigal, acosteando-se também no Alemão e suas favelas, bem como as da Maré. Uma série de documentários, ficções e espaços de produção vão sendo criados e fortalecidos</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> '''<font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">potencializando a cidade nas fraldas do seu infinito.</font></font></font>'''</span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Pode-se dizer que, da mesma forma que as manifestações de 2013 no Brasil espelharam, entre outras novidades, o confronto dos noticiários das mídias de massa e seus métodos</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''-'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">grande parte das vezes, posicionados politicamente com o disfarce da neutralidade e da independência</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''-'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, com a atuação da chamada "mídia ninja", que de dentro de cada movimento do evento, evidenciava, através de celulares e de pequenas câmeras, outra versão dos acontecimentos.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, os próprios negros e empobrecidos, tendo à mão o poder ou a disposição da direção, do roteiro, da fotografia, enfim,</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">poderão</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">aproximar a imagem e sua leitura, cada vez mais, da realidade, cujo caos e contradição evidenciam a situação da cidade e da sociedade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Poder-se-ia propor como exercício acadêmico a análise do que está em curso nas favelas e periferias, em termos de suas rotinas, cultura, sistema de trocas etc. Possivelmente haveria uma ‘disputa de imagens’ a partir desses resultados que, certamente confrontariam os discursos das mídias de massa.</font></font></font></span></span><br />
<br />
===Os ecos da liberdade e da escravidão===<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Alguns sintomas podem ser verificados, a olho nu, do efeito de políticas públicas existentes em favelas e em expressões marginais da cidade, particularmente com a presença do Programa Cultura Viva ou os Pontos de Cultura, criado pelo Ministério da Cultura</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">em 2005, no governo Lula, com Gilberto Gil, e posteriormente, com algumas parcerias locais, tanto</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">em âmbito estadual como municipal, como se deu na capital do Rio, por exemplo.</font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Inicialmente, como assessor do Ministro Gil, pude participar da criação do Programa e, posteriormente, como chefe da Representação do MinC, no Rio e no Espírito Santo, cuidei da efetivação dos convênios, na consolidação da gestão territorial.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Partindo do pressuposto de que quem faz cultura é a população, em sua expressão diversa, plural, étnica, religiosa, política, de classe e em todo ar, o papel do</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">stado e dos governos, portanto, é o de proporcionar e garantir as possibilidades de acesso aos que têm direito e à potencialidade emergente</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">das sociedades urbanas, mas</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">também do campo ou da 'roça'.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Nessa condição</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">pude acompanhar a evolução e a mudança que o acesso possibilita. Apenas citando alguns exemplos, o bloco</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">carnavalesco</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">do “Loucura Suburbana”, que se organiza a partir do Hospital Nise da Silveira, que trabalha a experiência da ‘loucura fora dos muros dos manicômios’, mostrou uma diferença considerável, por exemplo, na qualidade das letras dos sambas concorrentes aos desfiles do bloco pelas ruas do Engenho de Dentro. Diferença notada pelos componentes do júri nas escolhas dos sambas do “Loucura”, do qual faço parte, desde bem antes da transformação em Ponto de Cultura</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">; assim</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">como Noca da Portela</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''';'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Luis Carlos Magalhães (atual presidente da Portela)</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''';'''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Marisa, filha de Zé Kétti e outros/as que acompanhamos a eficácia das</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">o</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ficinas que os Pontos proporcionaram.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Pode-se dizer o mesmo dos Pontos ligados ao</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''j'''ongo</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, da Serrinha aos demais, cujas exigências de qualificação levaram à criação do Pontão de Cultura, parceria do Centro de Estudos Sociais da UFF com o IPHAN.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Também as Folias de Reis adquirem novo ar de existência e criação</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">como diria Deleuze</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">. As Folias</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, de fato, são</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">p</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ontos seculares de</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">c</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ultura e que, na maioria das vezes, não sobrevive à concorrência urbana, do trabalho e do consumo de cultura descartável, vendidos pela lógica do espetáculo.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A existência dos Pontos de Cultura como política pública vocacionada para o fortalecimento da diversidade cultural, que identifica favelas e periferias, chega também à zona rural e se inclui na perspectiva da redistribuição de renda e de equipamentos. Sua realização só se torna possível, como dito anteriormente, dentro de um no modelo de estado ampliado. Pode se dizer que a criação e a produção na área de cultura interferem na perspectiva política e cidadã dos processos de natureza democrática.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Saliente-se aqui que a experiência inédita na formação acadêmica do audiovisual para moradores de favela, descrita antes, torna-se também um Ponto de Cultura, exatamente em homenagem a um dos 'padrinhos originários' e inspirador desse projeto, o já saudoso cineasta e mestre documentarista Eduardo Coutinho.</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">Coutinho</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">participou de longa conversa com os componentes de Cinema, Criação e Pensamento poucos dias antes de sua trágica morte.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O debate em torno do acesso e da autonomia e independência da palavra e da imagem reviram a significação da cidade. Assim</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">a potência e a fragilidade da cidade estão em todo seu território.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Portanto, o cuidado com essa interação palavra/imagem é estratégia política nesse tempo de destruição arquitetada pela naturalização das formas de dominação com apoio e projeto das mídias de massa.</font></font></font></span></span><br/> &nbsp;<br />
<br />
===Bibliografia===<br />
<references /><br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">experiência e origem da história. Belo Horizonte:&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Ed UFMG, 2005.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">CARVALHO, Cynthia Paes de (Org.). Favelas e Organizações&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Comunitárias. Petrópolis: Ed. Vozes, 1994.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt"><span style="letter-spacing:-0.2pt">DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Editora Escuta, 2002.</span></font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ROCHA, Adair. Cidade cerzida: a costura da cidadania no Morro&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Santa Marta. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio, Pallas, 2012.</font></font></font></span></span><br />
&nbsp;<br />
[[Category:Temática - Mídia e Comunicação]][[Category:Temática - Sociabilidade]][[Category:Identidade]][[Category:Direito à cidade]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Favela_%C3%A9_cidade_-_a_emerg%C3%AAncia_imag%C3%A9tica_da_cidade_perif%C3%A9rica&diff=16758Favela é cidade - a emergência imagética da cidade periférica2022-10-14T18:22:06Z<p>Fornazin: inserção de referências, correções de texo.</p>
<hr />
<div><br />
Autor:&nbsp;[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Usuário:Adair_Rocha Adair Rocha].<br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A singularidade da cidade do Rio de Janeiro pode ser identificada com a imagem invertida do espelho</font></font></font></span></span><ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ROCHA, Adair. Cidade cerzida: a costura da cidadania no Morro&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Santa Marta. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio, Pallas, 2012.</font></font></font></span></span></ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, que tem como identidade a sua diversidade.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, Leblon tem Vidigal, Cantagalo tem Ipanema, Copacabana tem Cabritos e tem Guararapes, com a [[Babilônia 2000 (filme)|Babilônia]] e o “Chapéu”, enquanto [[Favela do Borel|Borel]], Formiga e Salgueiro formam o anel da Tijuca</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, e'''&nbsp;'''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Gávea e São Conrado enquadram a [[Rocinha]], que também expande seu território.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Situação modificada já nos anos setenta, com o fenômeno das remoções como nos mostram Pilar e Quack</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">em Remoção, documentário de 2105</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, quando Catacumba e Praia do Pinto deixam forçadamente a Lagoa Rodrigo de Freitas para as “soluções” dos Conjuntos Habitacionais da Cidade de Deus, o Cesarão em Santa Cruz e outros.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A proximidade favela/asfalto gera, sem dúvida, a intensidade da tensão da cidade, que desafia, sobretudo, o desempenho de seus papéis institucionais, que precisam cuidar da postura diante das diferenças e das desigualdades.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Diante disso evidenciam-se algumas posturas contraditórias: de um lado, o reconhecimento e o respeito da diferença. De outro, as manifestações e práticas, cada vez mais preconceituosas de racismo, homofobia, machismo, bem como a quebra da liberdade e autonomia no campo religioso, de gênero e na desqualificação da política. Portanto, torna-se necessário, isso sim, o rompimento com a normalidade da desigualdade.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Isso gera impasses que a mídia de massas chama de “guerra”. Qual o modelo de Estado e</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">de</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">regime econômico entra em cena?</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O alinhamento hegemônico hoje vai na direção da conformação do estado mínimo, que atribui ao mercado e ao poder econômico, portanto, o papel de consumo que privatiza o acesso da população às necessidades básicas de saúde, educação, moradia, transporte e cultura. Tem na privatização seu objetivo central. O que se contrapõe, naturalmente, ao modelo de estado ampliado, que prioriza o acesso da população, especialmente a empobrecida, às políticas públicas básicas citadas.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O processo democrático é intrinsecamente inconcluso, onde cada conquista chama novas. Quanto ao Estado, pode-se falar da “incompletude”</font></font></font></span></span><ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">SILVA, Jailson de Souza e; BARBOSA, Jorge Luiz; FAUSTINI,&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Marcus Vinicius. O novo carioca. Rio de Janeiro: Mórula&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Editora, 2012.</font></font></font></span></span></ref><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, na medida em que não dá conta de suprir a necessidade da população empobrecida. Muitas vezes, comumente se diz, prioriza a repressão como forma de controle, e as políticas sociais sempre ficam incompletas, como no caso da implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A cidade do Rio de Janeiro e o seu entorno padecem da fragilidade da gestão territorial que definem município, estado e união na mesma tendência de rompimento com as políticas públicas e conquistas, especialmente dos setores empobrecidos. Situe-se como um dos exemplos mais evidentes e gritantes o tratamento de desmonte que vem sendo dado à UERJ a ao HUPE, sem condições do seu exercício acadêmico pela falta de pagamento aos professores, funcionários e alunos bolsistas, bem como as verbas de pesquisa e de manutenção.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Entre os papéis institucionais</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">vou me deter em um deles, realizado na PUC-Rio, mais especificamente, no projeto Comunicar,</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">do</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Núcleo de Comunicação Comunitária.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Trata-se de um curso que se realiza nos últimos sete anos, e que coincide com a criação das UPPs</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''':&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Cinema, Criação e Pensamento, dirigido, especialmente</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''',&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">para moradores das favelas. Iniciado com professores do Curso de Cinema da Universidade, já há hoje a incorporação de ex-aluno como professor, como é o caso de Itamar Silva, morador do [[Santa Marta Favela|Morro Santa Marta]]</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''',&nbsp;'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e que participou ativamente da primeira edição do curso.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Que cidade é essa que o&nbsp;</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''c'''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">inema e os meios de comunicação vão mostrar? A contribuição a partir de cineastas, produtores, pensadores, no lugar da radicalidade chamada&nbsp;</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''favela''</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">.</font></font></font></span></span><br />
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===<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O caminho da Comunicação Comunitária</font></font></font></span></span>===<br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Tal núcleo ou projeto nasce em função das perguntas e questões que a favela e a periferia traziam para a Universidade, ou que possibilitava a universalização dos encontros com a pesquisa e com a diversidade dos saberes, que, por sua vez, passam longe das m</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">í</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">dias ditas de massa.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, o projeto Comunicar e seu núcleo de comunicação comunitária vão assessorando e</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">co-criando</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">formas de informação</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e comunicação</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">que expressam o “local” em sua múltipla significação. Isto é, o resultado intenso e tenso das contradições econômicas, políticas e culturais do universo urbano, no “campus” representado, invertendo papéis de objetos submissos de produção de conhecimento e de mercado, para sujeitos que conquistam sua autonomia e independência. Aproxima-se do que Agamben afirma da Cidade de Deus e seus anticristos. Toda cidade é de Deus, inversão simbólica de sua afirmação e significação.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">As 2 ½ décadas recentes se caracterizam pelo fenômeno do acesso de setores das favelas e das periferias às universidades. Destacam-se no Rio de Janeiro duas importantes experiências: a política de cotas da UERJ, que recebe 49,5% de seus alunos das escolas públicas; a prática da PUC-Rio com o estabelecimento de convênios com os pré-vestibulares comunitários, da Baixada inicialmente, mas que rapidamente se espalhou para todo o Brasil. Isso vai inspirar a criação de outra política pública – o Prouni, para o acesso às universidades particulares. Isso tem mudado a cara das</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">u</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">niversidades, com a tez muito mais parecida com a</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">d a</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">cidade e com o país. O que muda significativamente o modo acadêmico e intelectual de ver e de atuar. Agora se pode falar da cidade desde ela mesma a partir de diferentes protagonistas.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Dito isto, é possível explicitar o que está em curso no projeto Cinema, Criação e Pensamento, dirigido especialmente aos moradores de favela.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Qual é a imagem de cidade que as telas devem revelar. A partir do Santa Marta, do Chapéu Mangueira e da Babilônia e ainda da Rocinha, da Cidade de Deus e do Vidigal, acosteando-se também no Alemão e suas favelas, bem como as da Maré. Uma série de documentários, ficções e espaços de produção vão sendo criados e fortalecidos</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> '''<font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">potencializando a cidade nas fraldas do seu infinito.</font></font></font>'''</span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Pode-se dizer que, da mesma forma que as manifestações de 2013 no Brasil espelharam, entre outras novidades, o confronto dos noticiários das mídias de massa e seus métodos</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''-'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">grande parte das vezes, posicionados politicamente com o disfarce da neutralidade e da independência</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''-'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, com a atuação da chamada "mídia ninja", que de dentro de cada movimento do evento, evidenciava, através de celulares e de pequenas câmeras, outra versão dos acontecimentos.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Assim, os próprios negros e empobrecidos, tendo à mão o poder ou a disposição da direção, do roteiro, da fotografia, enfim,</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">poderão</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">aproximar a imagem e sua leitura, cada vez mais, da realidade, cujo caos e contradição evidenciam a situação da cidade e da sociedade.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Poder-se-ia propor como exercício acadêmico a análise do que está em curso nas favelas e periferias, em termos de suas rotinas, cultura, sistema de trocas etc. Possivelmente haveria uma ‘disputa de imagens’ a partir desses resultados que, certamente confrontariam os discursos das mídias de massa.</font></font></font></span></span><br />
<br />
===<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Os ecos da liberdade e da escravidão</font></font></font></span></span>===<br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Alguns sintomas podem ser verificados, a olho nu, do efeito de políticas públicas existentes em favelas e em expressões marginais da cidade, particularmente com a presença do Programa Cultura Viva ou os Pontos de Cultura, criado pelo Ministério da Cultura</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">em 2005, no governo Lula, com Gilberto Gil, e posteriormente, com algumas parcerias locais, tanto</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">em âmbito estadual como municipal, como se deu na capital do Rio, por exemplo.</font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Inicialmente, como assessor do Ministro Gil, pude participar da criação do Programa e, posteriormente, como chefe da Representação do MinC, no Rio e no Espírito Santo, cuidei da efetivação dos convênios, na consolidação da gestão territorial.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Partindo do pressuposto de que quem faz cultura é a população, em sua expressão diversa, plural, étnica, religiosa, política, de classe e em todo ar, o papel do</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">e</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">stado e dos governos, portanto, é o de proporcionar e garantir as possibilidades de acesso aos que têm direito e à potencialidade emergente</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">das sociedades urbanas, mas</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">também do campo ou da 'roça'.</font></font></font></span></span><br />
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<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Nessa condição</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">pude acompanhar a evolução e a mudança que o acesso possibilita. Apenas citando alguns exemplos, o bloco</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">carnavalesco</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">do “Loucura Suburbana”, que se organiza a partir do Hospital Nise da Silveira, que trabalha a experiência da ‘loucura fora dos muros dos manicômios’, mostrou uma diferença considerável, por exemplo, na qualidade das letras dos sambas concorrentes aos desfiles do bloco pelas ruas do Engenho de Dentro. Diferença notada pelos componentes do júri nas escolhas dos sambas do “Loucura”, do qual faço parte, desde bem antes da transformação em Ponto de Cultura</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">; assim</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">como Noca da Portela</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''';'''</font></font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Luis Carlos Magalhães (atual presidente da Portela)</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''';'''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Marisa, filha de Zé Kétti e outros/as que acompanhamos a eficácia das</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">o</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ficinas que os Pontos proporcionaram.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Pode-se dizer o mesmo dos Pontos ligados ao</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">'''j'''ongo</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, da Serrinha aos demais, cujas exigências de qualificação levaram à criação do Pontão de Cultura, parceria do Centro de Estudos Sociais da UFF com o IPHAN.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Também as Folias de Reis adquirem novo ar de existência e criação</font></font></font><font color="#c0504d"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">''','''</font></font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">como diria Deleuze</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">. As Folias</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">, de fato, são</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">p</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ontos seculares de</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">c</font></font><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ultura e que, na maioria das vezes, não sobrevive à concorrência urbana, do trabalho e do consumo de cultura descartável, vendidos pela lógica do espetáculo.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">A existência dos Pontos de Cultura como política pública vocacionada para o fortalecimento da diversidade cultural, que identifica favelas e periferias, chega também à zona rural e se inclui na perspectiva da redistribuição de renda e de equipamentos. Sua realização só se torna possível, como dito anteriormente, dentro de um no modelo de estado ampliado. Pode se dizer que a criação e a produção na área de cultura interferem na perspectiva política e cidadã dos processos de natureza democrática.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Saliente-se aqui que a experiência inédita na formação acadêmica do audiovisual para moradores de favela, descrita antes, torna-se também um Ponto de Cultura, exatamente em homenagem a um dos 'padrinhos originários' e inspirador desse projeto, o já saudoso cineasta e mestre documentarista Eduardo Coutinho.</font></font></font> <font size="2"><font style="font-size: 11pt">Coutinho</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">participou de longa conversa com os componentes de Cinema, Criação e Pensamento poucos dias antes de sua trágica morte.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">O debate em torno do acesso e da autonomia e independência da palavra e da imagem reviram a significação da cidade. Assim</font></font></font><font size="2"><font style="font-size: 11pt">,</font></font> <font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">a potência e a fragilidade da cidade estão em todo seu território.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:150%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Portanto, o cuidado com essa interação palavra/imagem é estratégia política nesse tempo de destruição arquitetada pela naturalização das formas de dominação com apoio e projeto das mídias de massa.</font></font></font></span></span><br/> &nbsp;<br />
<br />
===<span style="font-size:smaller;">Bibliografia</span>===<br />
<references /><br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">experiência e origem da história. Belo Horizonte:&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Ed UFMG, 2005.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">CARVALHO, Cynthia Paes de (Org.). Favelas e Organizações&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Comunitárias. Petrópolis: Ed. Vozes, 1994.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt"><span style="letter-spacing:-0.2pt">DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Editora Escuta, 2002.</span></font></font></font></span></span><br />
<br />
<span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">ROCHA, Adair. Cidade cerzida: a costura da cidadania no Morro&nbsp;</font></font></font></span></span><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:100%"><font color="#1a1a1a"><font size="2"><font style="font-size: 11pt">Santa Marta. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio, Pallas, 2012.</font></font></font></span></span><br />
<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
[[Category:Temática - Mídia e Comunicação]][[Category:Temática - Sociabilidade]][[Category:Identidade]][[Category:Direito à cidade]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Comiss%C3%A3o_de_Defesa_das_Favelas_da_Mar%C3%A9_(CODEFAM)&diff=16613Comissão de Defesa das Favelas da Maré (CODEFAM)2022-09-22T17:39:41Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div> <span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">'''Autoria''': Rogério Santos (<bdi>[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Usuário:Dartherium&action=edit&redlink=1 Dartherium]).</bdi></span><br />
<span style="font-size:medium;"><span style="line-height:115%"><span style="font-family:">A Comissão de Defesa das Favelas da [[Complexo da Maré|Maré]] (CODEFAM) foi criada em 10.06.1979. Essa associação teve o mérito de ser o canal de comunicação entre os moradores e as entidades envolvidas no programa PROMORAR (Projeto Rio) nas [[Complexo da Maré|Favelas da Maré]] no final da década de 1970 (p. 47)</span></span></span><ref name=":0" /><span style="font-size:medium;"><span style="line-height:115%"><span style="font-family:">.</span></span></span><br />
__TOC__<br />
== A CODEFAM ==<br />
<p style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-size:medium;"><span style="line-height:115%"><span style="font-family:">Uma das principais finalidades da CODEFAM era em relação às [[Remoções de favelas no Rio de Janeiro|remoções de moradores]], maior incerteza da população da Maré, principalmente, daqueles que residiam nas palafitas (IBIDIM, 47-48)</span></span></span><ref name=":0">SANTOS, Rogério Pereira dos. Planejamento Urbano em Áreas residenciais Segregadas na Cidade do Rio de Janeiro: A Atuação da CODEFAM no Projeto Rio na Favela da Maré. Monografia de Pós Graduação. Faculdades Integradas Simonsen. 98 páginas. 2016. Rio de Janeiro. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/317786208/Planejamento-Urbano-em-Areas-Residenciais-Segregadas-na-Cidade-do-Rio-de-Janeiro-A-Atuacao-da-Codefam-no-Projeto-Rio-na-Favela-da-Mare Acesso em 15.04.2019.</ref>.Na tentativa de se criar uma voz de defesa em relação aos moradores da [[Complexo da Maré|Maré]] é&nbsp;criada a Comissão de Defesa das Favelas da [[Complexo da Maré|Maré]] (CODEFAM) em 10/06/1979, composta de&nbsp;inco diretores, dois assessores e um presidente, todos ligados a entidades representativas das seis favelas da [[Complexo da Maré|Maré]] (SILVA, 1984).&nbsp;Em relação a essas remoções, o governo tinha uma certa idéia de que, com essa&nbsp;nova política, não haveria espaço para essa intervenção, desta forma, como já foi abordado anteriormente, o PROJETO RIO, iria valorizar a realocação desses moradores das áreas palafitadas, para áreas que seriam formadas com a futura urbanização na Maré. A&nbsp;diretoria da CODEFAM era formada por Manoelino&nbsp;(Parque Maré/Presidente), Aluizio Prates (Parque Rubens Vaz/Secretário Geral), Joaquim Agamenon Santos (1º Secretário/Morro do Timbáu), Marciano do Rosário (Parque União/2º Secretário), Clóvis de Andrade (Relator/Baixa do Sapateiro), Zé Careca (Baixa do Sapateiro), Custódio Balardino (Parque União), Cícero Francisco de Barros (Parque União), Hortência Maria Dunshee de Abranches (Advogada/Lagoa), Atanásio Amorim (Baixa do Sapateiro/Tesoureiro), Mauro Ferreira dos Santos, José Roberto (Médico e jornalista) e Ladanese de Moura Costa (todos esses participaram de uma reunião de formatação da entidade conforme entrevista com o senhor Atanásio Amorim, em 12/12/2005 (p. 49)<ref name=":0" />.</p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:medium;"><span style="line-height:115%"><span style="font-family:">De acordo com a CODEFAM a primeira vitória para os moradores da Maré era o apoio dado pelos técnicos da Engevix, que deram suporte à população no sentido de serem os responsáveis pelos projeto de arruamento e que somente as moradias que, de alguma forma, prejudicassem o traçado das ruas viriam a baixo, e os barracos que localizavam-se na área de aterro poderiam ser substituídos por sobrados com vãos independentes. Já a segunda conquista seria a garantia de que fossem construídas casas mistas (vila de casas e apartamentos), de acordo com as suas reivindicações (p. 32)</span></span></span><ref><span>SANTOS, Rogério Pereira dos.&nbsp;A Apropriação Social do Espaço em Áreas Residenciais Segregadas na Cidade&nbsp;do Rio de Janeiro: O Projeto Rio e o Programa de Titulação Social na Favela da Maré.&nbsp;Monografia de Pós Graduação Lato Sensu. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e&nbsp;Regional. UFRJ. Rio de Janeiro. 2013.</span></ref><span style="font-size:medium;"><span style="line-height:115%"><span style="font-family:">. A pesquisa sobre a CODEFAM está disponível em</span></span></span> <ref><span><span>https://pt.scribd.com/document/317786208/Planejamento-Urbano-em-Areas-Residenciais-Segregadas-na-Cidade-do-Rio-de-Janeiro-A-Atuacao-da-Codefam-no-Projeto-Rio-na-Favela-da-Mare&nbsp;</span></span></ref></p> <br />
== Referências bibliográficas ==<br />
<references /><span style="font-size:medium;">SANTOS, Rogério Pereira dos.&nbsp;A Apropriação Social do Espaço em Áreas Residenciais Segregadas na Cidade&nbsp;do Rio de Janeiro: O Projeto Rio e o Programa de Titulação Social na Favela da Maré.&nbsp;Monografia de Pós Graduação Lato Sensu. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e&nbsp;Regional. UFRJ. Rio de Janeiro. 2013.</span><br />
<p style="text-align: justify;"><span style="font-size:medium;">_______, Rogério Pereira dos.&nbsp;<span style="line-height:115%"><span style="font-family:"><span style="color:black">Planejamento Urbano em Áreas Residenciais Segregadas&nbsp;na Cidade do Rio de Janeiro: A Atuação da Codefam no Projeto Rio na Favela da Maré.&nbsp;</span></span></span>Monografia de Pós Graduação Lato Sensu. Faculdades Integradas Simonsem. Rio de Janeiro. 2016.</span></p> <br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
== Veja também ==<br />
*[[Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré]]<br />
*[[Redes da Maré]] <br />
*[[Frente de Mobilização Maré]]<br />
*[[Complexo da Maré]]<br />
<br />
[[Category:Remoção]] [[Category:Moradia]] [[Category:Conjunto de Favelas da Maré]] [[Category:Maré]] [[Category:Temática - Habitação]] [[Category:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Chacinas_em_favelas_no_Rio_de_Janeiro&diff=16484Chacinas em favelas no Rio de Janeiro2022-09-12T14:47:18Z<p>Fornazin: Desfeita a edição 16483 de Fornazin (Discussão)</p>
<hr />
<div>O presente verbete reúne informações em diferentes formatos sobre chacinas realizadas em favelas do Rio de Janeiro, como levantamento de dados de frequência, número de mortos, artigos e pesquisas acadêmicas, materiais audiovisuais e afins. O trabalho é fruto de uma parceria entre o Dicionário de Favelas Marielle Franco com os grupos [[GENI (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos)|GENI/UFF]], [[Grupo CASA - estudo sociais sobre moradia e cidade|CASA/IESP]] e Radar Covid-19 nas Favelas.<br />
<br />
Trata-se de um trabalho coletivo em andamento e a equipe diretamente ligada ao projeto é composta por: Mariana Cavalcanti; Palloma Valle Menezes; Daniel Hirata; Diogo Lyra; Fábio Araujo; Caíque Azael; Clara Polycarpo; Giovanna Monteiro; Ana Clara Macedo; Thais Cruz; Gustavo Azevedo; João Mina; Ananda Viana; Kharine De Almeida; Marcelo Reis Filho; Norma Cosmo; Gabriel Nunes ; Vítor Martins e Patrícia Ferreira. <br />
<br />
{{Clear}}<br />
<br />
Além da discussão sobre as Chacinas em si, compreendemos que é importante ampliar os olhares sobre políticas urbanas, políticas de segurança pública e surgimento de alguns movimentos sociais, para construir um painel sobre outros temas que, de alguma forma, possuem relação com as chacinas no Estado.<br />
<br />
<br />
<div class="row"><br />
<div class="col-md-4"><br />
<h2><span class="mw-headline" id="Download"> Principais Chacinas</span> </h2><br />
<p>Sistematiza as principais chacinas ocorridas no Estado do Rio de Janeiro. Foram selecionadas as 50 maiores chacinas em número de mortos e as chacinas que tiveram maior repercussão midiática.</p><br />
{{#bootstrap_button: Chacinas_no_Rio_de_Janeiro | text=Veja o verbete }}<br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<h2><span class="mw-headline" id="Download">Chacinas dos governos Witzel e Castro</span></h2><br />
<p>Apresenta as chacinas ocorridas no Rio de Janeiro entre 2019 e 2022, durante os governos de Wilson Witzel e Cláudio Castro.</p><br />
{{#bootstrap_button: Chacinas no Rio de Janeiro entre 2019 e 2022 | text=Veja o verbete }} <br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<h2><span class="mw-headline" id="Features.3F"> Relatórios do GENI</span></h2><br />
<p>Os relatórios feitos pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (UFF) exploram melhor o cenário da política de segurança e nos ajudam a compreender as chacinas no Estado.</p><br />
{{#bootstrap_button: Chacinas policiais (relatório) | text=Veja o verbete }} <br />
<br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<h2><span class="mw-headline" id="Download"> Segurança pública</span></h2><br />
<p>Levantamento sobre políticas de segurança pública no Rio de Janeiro entre 2007 e 2022</p><br />
{{#bootstrap_button: Políticas de Segurança Pública no Rio de Janeiro (2007 - 2021) | text=Veja o verbete }}<br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<h2><span class="mw-headline" id="Installation"> Políticas urbanas</span></h2><br />
<p>Apresenta um levantamento das políticas urbanas no Rio de Janeiro entre 2007 e 2022.</p><br />
{{#bootstrap_button: Políticas urbanas no Rio de Janeiro (2007-2022) | text=Veja o verbete }}<br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<h2><span class="mw-headline" id="Download"> Movimentos sociais</span> </h2><br />
<p>Os relatórios feitos pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (UFF) exploram melhor o cenário da política de segurança e nos ajudam a compreender as chacinas no Estado.</p><br />
{{#bootstrap_button: Movimentos sociais no Rio de Janeiro (2007-2022) | text=Veja o verbete }}<br />
</div><br />
</div><br />
<br />
<br />
<br />
== Dossiê sobre a Chacina de Acari no Le Monde ==<br />
Publicado originalmente no [https://diplomatique.org.br/especial/acari/ Le Monde Diplomatique Brasil], este especial de trabalhos se propõe a relacionar matérias e estudos que dialogam com os 32 anos da chacina de Acari, ocorrida em 26 de julho de 1990.<br />
<br />
A relação de textos tem o intuito de dar voz aos episódios de sofrimento e dor causados pelo Estado Brasileiro, seja no contexto da ditadura militar ou mesmo no cenário de democracia. Traz também a narrativa das lutas que tramitam em esfera jurídica e seguem desprovidas de políticas de reparação que sejam de fato suficientes. <br />
<br />
{{#bootstrap_button: 32 anos da chacina de Acari | text=Veja o verbete }}<br />
<br />
== Audiovisual ==<br />
<br />
Alguns filmes e documentários que ajudam a discutir o tema:<br />
<br />
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<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=5QJUPanVCUo</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> [[Auto de Resistência (documentário)|Auto de Resistência - Documentário]]</p><br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=JQ8DFS_7w1Q</youtube><br />
<p><span class="fa fa-film"></span> Brasil, um país violento</p> <br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=krfcq5pF8u8</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> A 13ª Emenda</p><br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=nsVFbAtgl1M</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> [[Nossos Mortos Têm Voz (documentário)|Nossos Mortos têm voz - Documentário]]</p><br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=BeaRTMRWjPE</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> Intervenção na cidade, militarização do medo</p><br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=sghpqM4g334</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> Entre Muros e Favelas</p><br />
</div><br />
</div><br />
<br />
== Outros textos e conteúdos sobre chacinas disponíveis no Dicionário ==<br />
Confira todos os conteúdos do Dicionário de Favelas sobre o tema. <br />
===[[:Categoria:Chacinas|'''Chacinas''']]=== <br />
[[Categoria:Chacinas|Chacinas clique aqui]]<br />
{{#ask:<br />
[[Categoria:Chacinas]]<br />
|format=category<br />
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|searchlabel=… mais resultados<br />
|columns=2<br />
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}}<br />
<br />
== Referências bibliográficas sobre Chacinas ==<br />
Para aprofundar os estudos na área de Chacinas, indicamos a leitura de alguns textos. Confira:<br />
<br />
Alvarenga, José Rodrigues. A “Chacina do Pan” e a produção de vidas descartáveis* * Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). . Fractal : Revista de Psicologia [online]. 2016, v. 28, n. 1 [Acessado 12 Setembro 2022] , pp. 111-117. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1984-0292/1163>. ISSN 1984-0292. https://doi.org/10.1590/1984-0292/1163.<br />
<br />
Gumucio, G., & Schmidt, C. Descaso e deterioração do lugar de memória no caso da chacina da Candelária no Rio de Janeiro. Revista Extraprensa, 11(esp), 64-79, 2018. https://doi.org/10.11606/extraprensa2018.145213<br />
<br />
de Campos Gomes, Edlaine, Julio Bizarria, and Juliana Baptista. "A destruição de altares: sobre a homenagem aos mortos do Jacarezinho e a chacina como monumento de Estado no Rio de Janeiro." Religião e Poder. Disponível em: https://religiaoepoder.org.br/artigo/a-destruicao-de-altares-sobre-a-homenagem-aos-mortos-do-jacarezinho-e-a-chacina-como-monumento-de-estado-no-rio-de-janeiro/<br />
<br />
Farias, Juliana. "Quando a exceção vira regra: os favelados como população “matável” e sua luta por sobrevivência." Teoria & Sociedade 15.2 (2008): 138-171. https://www.academia.edu/download/28028898/quando_a_exceCAo_vira_regra.pdf<br />
<br />
Vianna, Adriana, and Juliana Farias. "A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional." cadernos pagu (2011): 79-116. https://www.scielo.br/j/cpa/a/VL8rMW8kJGpHgxBZwWt9bMt/abstract/?lang=pt<br />
<br />
Farias, Juliana, Natália Bouças do Lago, and Roberto Efrem Filho. "Mães e lutas por justiça. Encontros entre produção de conhecimento, ativismos e democracia." Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de Janeiro) (2021): 146-180. https://www.scielo.br/j/sess/a/NFsvcFnDTC8WX388M8YdysD/<br />
<br />
<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Violência]]<br />
[[Categoria:Temática - Segurança]]<br />
[[Category:Chacinas]]<br />
[[Categoria:Racismo]]<br />
[[Categoria:Violência de Estado]]<br />
[[Categoria:Violência Policial]]<br />
[[Categoria:Necropolítica]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
__NOTOC__</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Chacinas_em_favelas_no_Rio_de_Janeiro&diff=16483Chacinas em favelas no Rio de Janeiro2022-09-12T14:46:46Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div>O presente verbete reúne informações em diferentes formatos sobre chacinas realizadas em favelas do Rio de Janeiro, como levantamento de dados de frequência, número de mortos, artigos e pesquisas acadêmicas, materiais audiovisuais e afins. O trabalho é fruto de uma parceria entre o Dicionário de Favelas Marielle Franco com os grupos [[GENI (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos)|GENI/UFF]], [[Grupo CASA - estudo sociais sobre moradia e cidade|CASA/IESP]] e Radar Covid-19 nas Favelas.<br />
<br />
Trata-se de um trabalho coletivo em andamento e a equipe diretamente ligada ao projeto é composta por: Mariana Cavalcanti; Palloma Valle Menezes; Daniel Hirata; Diogo Lyra; Fábio Araujo; [[Usuário:Caiqueazael|Caíque Azael]]; Clara Polycarpo; Giovanna Monteiro; Ana Clara Macedo; Thais Cruz; Gustavo Azevedo; João Mina; Ananda Viana; Kharine De Almeida; Marcelo Reis Filho; Norma Cosmo; Gabriel Nunes ; Vítor Martins e Patrícia Ferreira. <br />
<br />
{{Clear}}<br />
<br />
Além da discussão sobre as Chacinas em si, compreendemos que é importante ampliar os olhares sobre políticas urbanas, políticas de segurança pública e surgimento de alguns movimentos sociais, para construir um painel sobre outros temas que, de alguma forma, possuem relação com as chacinas no Estado.<br />
<br />
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<h2><span class="mw-headline" id="Download"> Principais Chacinas</span> </h2><br />
<p>Sistematiza as principais chacinas ocorridas no Estado do Rio de Janeiro. Foram selecionadas as 50 maiores chacinas em número de mortos e as chacinas que tiveram maior repercussão midiática.</p><br />
{{#bootstrap_button: Chacinas_no_Rio_de_Janeiro | text=Veja o verbete }}<br />
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<h2><span class="mw-headline" id="Download">Chacinas dos governos Witzel e Castro</span></h2><br />
<p>Apresenta as chacinas ocorridas no Rio de Janeiro entre 2019 e 2022, durante os governos de Wilson Witzel e Cláudio Castro.</p><br />
{{#bootstrap_button: Chacinas no Rio de Janeiro entre 2019 e 2022 | text=Veja o verbete }} <br />
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<h2><span class="mw-headline" id="Features.3F"> Relatórios do GENI</span></h2><br />
<p>Os relatórios feitos pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (UFF) exploram melhor o cenário da política de segurança e nos ajudam a compreender as chacinas no Estado.</p><br />
{{#bootstrap_button: Chacinas policiais (relatório) | text=Veja o verbete }} <br />
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<h2><span class="mw-headline" id="Download"> Segurança pública</span></h2><br />
<p>Levantamento sobre políticas de segurança pública no Rio de Janeiro entre 2007 e 2022</p><br />
{{#bootstrap_button: Políticas de Segurança Pública no Rio de Janeiro (2007 - 2021) | text=Veja o verbete }}<br />
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<h2><span class="mw-headline" id="Installation"> Políticas urbanas</span></h2><br />
<p>Apresenta um levantamento das políticas urbanas no Rio de Janeiro entre 2007 e 2022.</p><br />
{{#bootstrap_button: Políticas urbanas no Rio de Janeiro (2007-2022) | text=Veja o verbete }}<br />
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<h2><span class="mw-headline" id="Download"> Movimentos sociais</span> </h2><br />
<p>Os relatórios feitos pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (UFF) exploram melhor o cenário da política de segurança e nos ajudam a compreender as chacinas no Estado.</p><br />
{{#bootstrap_button: Movimentos sociais no Rio de Janeiro (2007-2022) | text=Veja o verbete }}<br />
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<br />
== Dossiê sobre a Chacina de Acari no Le Monde ==<br />
Publicado originalmente no [https://diplomatique.org.br/especial/acari/ Le Monde Diplomatique Brasil], este especial de trabalhos se propõe a relacionar matérias e estudos que dialogam com os 32 anos da chacina de Acari, ocorrida em 26 de julho de 1990.<br />
<br />
A relação de textos tem o intuito de dar voz aos episódios de sofrimento e dor causados pelo Estado Brasileiro, seja no contexto da ditadura militar ou mesmo no cenário de democracia. Traz também a narrativa das lutas que tramitam em esfera jurídica e seguem desprovidas de políticas de reparação que sejam de fato suficientes. <br />
<br />
{{#bootstrap_button: 32 anos da chacina de Acari | text=Veja o verbete }}<br />
<br />
== Audiovisual ==<br />
<br />
Alguns filmes e documentários que ajudam a discutir o tema:<br />
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<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=5QJUPanVCUo</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> [[Auto de Resistência (documentário)|Auto de Resistência - Documentário]]</p><br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=JQ8DFS_7w1Q</youtube><br />
<p><span class="fa fa-film"></span> Brasil, um país violento</p> <br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=krfcq5pF8u8</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> A 13ª Emenda</p><br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=nsVFbAtgl1M</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> [[Nossos Mortos Têm Voz (documentário)|Nossos Mortos têm voz - Documentário]]</p><br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=BeaRTMRWjPE</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> Intervenção na cidade, militarização do medo</p><br />
</div><br />
<div class="col-md-4"><br />
<youtube>https://www.youtube.com/watch?v=sghpqM4g334</youtube> <br />
<p><span class="fa fa-film"></span> Entre Muros e Favelas</p><br />
</div><br />
</div><br />
<br />
== Outros textos e conteúdos sobre chacinas disponíveis no Dicionário ==<br />
Confira todos os conteúdos do Dicionário de Favelas sobre o tema. <br />
===[[:Categoria:Chacinas|'''Chacinas''']]=== <br />
[[Categoria:Chacinas|Chacinas clique aqui]]<br />
{{#ask:<br />
[[Categoria:Chacinas]]<br />
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|columns=2<br />
|link=all<br />
|limit=20<br />
}}<br />
<br />
== Referências bibliográficas sobre Chacinas ==<br />
Para aprofundar os estudos na área de Chacinas, indicamos a leitura de alguns textos. Confira:<br />
<br />
Alvarenga, José Rodrigues. A “Chacina do Pan” e a produção de vidas descartáveis* * Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). . Fractal : Revista de Psicologia [online]. 2016, v. 28, n. 1 [Acessado 12 Setembro 2022] , pp. 111-117. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1984-0292/1163>. ISSN 1984-0292. https://doi.org/10.1590/1984-0292/1163.<br />
<br />
Gumucio, G., & Schmidt, C. Descaso e deterioração do lugar de memória no caso da chacina da Candelária no Rio de Janeiro. Revista Extraprensa, 11(esp), 64-79, 2018. https://doi.org/10.11606/extraprensa2018.145213<br />
<br />
de Campos Gomes, Edlaine, Julio Bizarria, and Juliana Baptista. "A destruição de altares: sobre a homenagem aos mortos do Jacarezinho e a chacina como monumento de Estado no Rio de Janeiro." Religião e Poder. Disponível em: https://religiaoepoder.org.br/artigo/a-destruicao-de-altares-sobre-a-homenagem-aos-mortos-do-jacarezinho-e-a-chacina-como-monumento-de-estado-no-rio-de-janeiro/<br />
<br />
Farias, Juliana. "Quando a exceção vira regra: os favelados como população “matável” e sua luta por sobrevivência." Teoria & Sociedade 15.2 (2008): 138-171. https://www.academia.edu/download/28028898/quando_a_exceCAo_vira_regra.pdf<br />
<br />
Vianna, Adriana, and Juliana Farias. "A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional." cadernos pagu (2011): 79-116. https://www.scielo.br/j/cpa/a/VL8rMW8kJGpHgxBZwWt9bMt/abstract/?lang=pt<br />
<br />
Farias, Juliana, Natália Bouças do Lago, and Roberto Efrem Filho. "Mães e lutas por justiça. Encontros entre produção de conhecimento, ativismos e democracia." Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de Janeiro) (2021): 146-180. https://www.scielo.br/j/sess/a/NFsvcFnDTC8WX388M8YdysD/<br />
<br />
<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Violência]]<br />
[[Categoria:Temática - Segurança]]<br />
[[Category:Chacinas]]<br />
[[Categoria:Racismo]]<br />
[[Categoria:Violência de Estado]]<br />
[[Categoria:Violência Policial]]<br />
[[Categoria:Necropolítica]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
__NOTOC__</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Folia_de_Reis_-_Os_Penitentes_do_Santa_Marta&diff=16482Folia de Reis - Os Penitentes do Santa Marta2022-09-12T14:42:53Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div><br />
'''Autor: Itamar Silva'''<br />
<br />
= Um pouco da história da Folia de Reis - Os Penitentes do Santa Marta =<br />
<br />
A tradição de Folia de Reis no Morro de [[Santa Marta Favela|Santa Marta]] é muito antiga, e encontrou aqui as condições para sua sobrevivência: pessoas que vieram de São Fidelis, Itaperuna, Miracema, Sul de Minas&nbsp; puderam reencontrar suas raízes culturais, agora adaptadas às condições da cidade grande.<br />
<br />
Em meados dos anos 60 a Folia de Reis do mestre Zé Cândido,&nbsp; morador da Ilha do Governador, convidou pessoas&nbsp; do Santa Marta para integrarem a sua a Folia de Reis: Luiz, Dodô, Zé Diniz, Borrachinha, Clarisse, Manoelina, Machado, Joãozinho, manezinho, entre outros se incorporaram e assumiram aquela missão. Muito rapidamente a maioria dos componentes da Folia de Reis da Ilha do Governador era de foliões do Santa Marta.<br />
<br />
Com a morte de Zé Cândido, o Sr. Luiz assumiu a posição de mestre e a Folia passou a sair de sua casa, no Santa Marta. Pode-se dizer que aí começou oficialmente a Folia de Reis dessa Comunidade. Mestre Luiz manteve este posto até quando a saúde lhe permitiu. Foi substituído pelo mestre Joãozinho, que depois de anos&nbsp; dedicados ao ofício de palhaço, assumiu a tarefa de conduzir a Folia de Reis. Após sua morte, o cargo ficou sob a responsabilidade de Mestre Dodô, que desempenhou com orgulho a função de dar os versos e puxar a cantoria na Folia do Santa Marta. Quando morreu, o lugar de mestre&nbsp; foi ocupado por Zé Diniz que, desde o início, exercia o cargo de presidente da referida Folia. Até hoje Mestre Diniz acumula o posto de mestre e de presidente dos Penitentes do Santa Marta.<br />
<br />
As mulheres sempre tiveram um papel importante na Folia de Reis do Santa Marta. A responsabilidade de carregar o símbolo máximo da Folia, a bandeira dos Reis Magos, sempre esteve a cargo de dedicadas mulheres. Várias delas&nbsp; já desempenharam esta função: Clarisse, D.Neusa, Marina e, atualmente, D. Eva cumpre a missão de carregar a bandeira da Folia. No entanto, a presença das&nbsp; pastorinhas, como são chamadas as mulheres neste cortejo, foi além da bandeira,&nbsp; formando o coro de cantoria, outros nomes se incorporaram: D. Maura, *D. Rosa, Marina, Rita ,&nbsp; *Maria Bela, *Delfina, *Eunice e duas recentes participações Eliane e Roberta se agregaram, alterando definitivamente o perfil desta Folia de Reis.<br />
<br />
Os palhaços são um capítulo á parte: Na origem da Folia do Santa Marta&nbsp; está o nome de Totonho, lembrado com admiração pelos que lhe sucederam. A linha de sucessão foi preenchida por&nbsp; Joãzinho, que durante muitos anos foi mestre dos palhaços, dividindo as atenções com seus contemporâneo: Borrachinha, zezinho Capirai , Zé Carlos, Macalé.<br />
<br />
Com apenas nove anos de idade, Ronaldo, filho do mestre Diniz, começou a sair como palhaço nessa Folia. Desde muito cedo mostrou que seria um grande palhaço. Nos últimos 30 anos, Ronaldo reinou como palhaço e, de certo, estará na galeria dos melhores palhaços de Folia de Reis do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Seguindo seus passos, seu filho Júnior, iniciou-se na vida de palhaço&nbsp; aos&nbsp;sete anos de idade. Nos últimos 15 anos, pai e filho, juntamente com o companheiro Guinho,&nbsp; se transformaram no cartão de visita dos Penitentes do Santa Marta.<br />
<br />
A Folia tem hoje , como suporte básico, um núcleo familiar formado a partir do Mestre Zé Diniz, reforçando a importância dos laços familiares na transmissão das&nbsp; tradições culturais: Mulher, filhos, netos, irmãos, primo e amigos compõem&nbsp; o grupo Os Penitentes Foliões do Santa Marta: Zé Diniz, Arlindo, Riquinho, Maura, Eva, Gilson,Ronaldo, Junior, Borrachinha, Cosme (Macieira), Inácio,&nbsp; Jorge, Russo (sanfoneiro), *Mário, Daniel, Dudu, Haroldo, Fábio.<br />
<br />
= Dinâmica das apresentações =<br />
<br />
<br/> A folia sai no dia 25 de dezembro a meia noite e encerra sua jornada no dia 20 de janeiro, realizando a procissão de São Sebastião.<br />
<br />
Diferente dos hábitos da "Roça", onde os foliões saiam de casa no dia 25 de dezembro e só retornavam no dia 06 de janeiro ( dia de Reis), a Folia urbana, como é o caso desta do Santa Marta, sai em todos os finais de semana e feriados existentes no intervalo entre o dia 25 de dezembro e 20 de janeiro. Esta adaptação tem a ver com a disponibilidade de tempo dos participantes, como também daqueles que lhes vão receber.&nbsp;<br />
<br />
A Folia visita casas no Morro de Santa Marta e também em outras favelas: Rocinha, Morro 117, Tavares Bastos, Trapicheiro, ilha do Governador.<br />
<br />
Homenagem a cinco foliões históricos que deixaram saudades pelo falecimento nos últimos três anos:&nbsp; Jofiene ( Manézinho) – Sanfoneiro, Delfina ( Tia Delfina) – A viola era a sua marca, D. Eunice, D. Maria Bela e&nbsp; &nbsp; Mário&nbsp; -&nbsp; A devoção aos Reis Magos e ao mártir São Sebastião uniu-os a este grupo.<br />
<br />
= O contexto urbano =<br />
<br />
<br/> As grandes cidades, como o Rio de Janeiro, receberam uma população que veio da área rural seja do norte e nordeste ou de áreas adjacentes a esses núcleos de crescimento urbano. No caso da Cidade do Rio e, em particular o Santa Marta,&nbsp; recebeu uma população rural do norte fluminense, sul de minas e adjacências, no primeiro movimento migratório ( 1939/1960).<br />
<br />
Cada grupo trouxe a sua cultura: seu jeito de viver, de ver a vida e de celebrar. A Folia de Reis é uma das muitas expressões dessa população. No entanto, as condições físicas e materiais são diferentes da roça e, muita coisa fica perdida.&nbsp; A Folia de Reis do Santa Marta é um núcleo de resistência da arte popular. E, no mínimo há&nbsp; três décadas, mantém essa tradição no morro de Santa Marta.<br />
<br />
= Objetivos do grupo =<br />
<br />
<br/> 1 -&nbsp; Tornar o Morro de Santa Marta uma referência no que diz respeito a Folia de Reis na área urbana. Trazendo para esta favela outras Folias de Reis existentes no Estado. Definir o Santa Marta como o lugar de encontro das Folias de Reis. Dessa forma, ampliar a percepção dos moradores do Morro, pondo-os em contato com outros grupos populares, que lutam pela sobrevivência da cultura popular.<br />
<br />
2 - Formar novos conhecedores e admiradores de Folia de Reis, estabelecendo com&nbsp; as escolas pública e particulares da Cidade uma parceria onde o encontro do foliões com professores e alunos seria um canal para qualificar as informações sobre as manifestações populares de nosso Estado.<br />
<br />
= Entrevista =<br />
<br />
<br/> ''Autores: Riquinho (Mestre da Folia de Reis), Ronaldo, Junior (palhaços da Folia de Reis) e Adair Rocha (Santa Marta).''<br />
<br />
De Mestre para Mestre: "Joãozinho foi uma das pessoas mais inteligentes que conheci, dentro de sua capacidade". Do Mestre Zé Diniz, na hora derradeira do Mestre Joãozinho.<br />
<br />
Inicialmente, "jornada" e "profecia" são palavras importantes para se compreender a existência da Folia de Reis, no Santa Marta e em toda parte.<br />
<br />
A grande viagem dos Reis Magos para visitar o Menino que havia nascido em Belém e que seria o Salvador, chamada também de Messias, segundo as "profecias", durou doze dias, do Natal ao Dia de Reis, para levarem seus presentes: ouro, incenso e mirra. Gaspar, Melquior e Baltasar eram seus nomes.<br />
<br />
Os antecedentes e a trajetória dessa folia foi descrita pelos mestres Dodô, um dos primeiros moradores do Santa Marta, quando em 1941 foram construídos os primeiros barracos, e pelo Mestre Zé Diniz, Filhos da "Quinha", uma espécie de matriarca ou sacerdotisa, guia da família Silva, abre caminhos conduzindo a Bandeira dos Três Reis, abria os caminhos para seus filho Zé Diniz e sua esposa Maura, que comanda as pastorinhas. Seu neto Ronaldo e o bisneto Juninho, palhaços da Folia e o Mestre atual Riquinho, também seu neto, conviveram com "Quinha".<br />
<br />
Segundo Dodô e Zé Diniz "nós vamos começar pelos fundamentos da Folia. Essa Folia de Reis do Santa Marta é nascida lá na Ilha do Governador, do pai do finado Mestre Joãozinho. Nós saíamos lá, na folia dele. Depois ele faleceu e nós fomos sair numa outra folia. Ele se chamava João Lopes Israel. Então aprendemos a cantar na Folia de Reis com ele. Já o Joãozinho é quem armou a Folia, com o Luis Santos Silva, que passou para mim (Dodô) e depois, o finado Joãzinho. Cantamos em seguida numa Folia do Leme, do Chapéu Mangueira, com o Manoel Balbino, também falecido. Então descobrimos que tínhamos sabedoria para armar nossa Folia. Inicialmente, fomos ajudados pelo birosqueiro João Silva que nos deu o 'fardamento'. Então o fundamento dessa Folia tem: o Luis dos Santos, José Hilário dos Santos (Dodô), Zé Diniz, Paulinho e Joãozinho.Dodô cantou quatro anos e passou para o Joãozinho (grande Mestre). Depois, Dodô e Luis se revezavam de Mestre o contra-mestre. Tiveram a mesma escola".<ref> Entrevista concedida em 1985 para a dissertação de Mestrado: Na reza se conta a história e se canta a luta. Um estudo da Folia de Reis do Morra Santa Marta, defendido na Educação da PUC-Rio, por Adair Rocha.</ref><br />
<br />
O mestre seguinte foi Zé Diniz, que faleceu também mas é memória viva da Folia, que tem hoje, em seu filho Riquinho o Mestre que mantem a "jornada" sempre mais viva e atual, na parceria de Juninho e Ronaldo liderando a escolinha que agrega a criançada que dá futuro a essa tradição.<br />
<br />
A trajetória do 25 de dezembro ao 6 de janeiro, ainda celebra um devoto e padroeiro, o Mestre São Sebastião, com a Procissão de 20 de janeiro, organizada e conduzida pelos Foliões e Penitentes do Santa. Reúne-se novamente na metade do ano para o 'Descante" ( para cantar de novo no ano seguinte).<br />
<br />
Com Mestre, contra-Mestre, o cordão das vozes, pastorinhas e percussionistas, e ainda com dois ou quatro palhaços, mascarados que representam os soldados de Herodes e, portanto, distraem e divertem, especialmente a criançada, que faz a festa, essa composição da Folia de Reis representa uma atitude de fé e cultura, que atualiza a anunciação, o nascimento, a perseguição, o sofrimento, a morte e a ressurreição, na sabedoria da palavra que o Mestre domina, cantando em versos a significação do Presépio e a sequência da profecia, conforme o acolhimento doméstico ou institucional.<br />
<br />
= Imagens da Folia de Reis =<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
<span style="font-size:smaller;"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif;">[[File:85079752 853496691730582 7351050949051285504 n.jpg|thumb|center|600px|85079752 853496691730582 7351050949051285504 n.jpg]][[File:85043309 1587230384785970 7492156881176100864 n.jpg|thumb|center|600px|85043309 1587230384785970 7492156881176100864 n.jpg]][[File:85021902 2528131160763238 4425434774521249792 n.jpg|thumb|center|600px|85021902 2528131160763238 4425434774521249792 n.jpg]][[File:84879331 639039003578535 2484095129934102528 n.jpg|thumb|center|600px|84879331 639039003578535 2484095129934102528 n.jpg]][[File:80007821 813740105717723 3816033955224748032 n.jpg|thumb|center|600px|80007821 813740105717723 3816033955224748032 n.jpg]][[File:80001439 2825813950771709 175139755489492992 n.jpg|thumb|center|600px|80001439 2825813950771709 175139755489492992 n.jpg]][[File:79200609 2517803398542170 2670442362064338944 n.jpg|thumb|center|600px|79200609 2517803398542170 2670442362064338944 n.jpg]][[File:79108795 572504220200135 2278546031031353344 n.jpg|thumb|center|600px|79108795 572504220200135 2278546031031353344 n.jpg]][[File:78871405 2402476826548392 7888423474576752640 n.jpg|thumb|center|600px|78871405 2402476826548392 7888423474576752640 n.jpg]][[File:78861398 2668853783173603 9058143863293607936 n.jpg|thumb|center|600px|78861398 2668853783173603 9058143863293607936 n.jpg]][[File:78854770 2668423399891335 1213450564608720896 n.jpg|thumb|center|600px|78854770 2668423399891335 1213450564608720896 n.jpg]][[File:78231906 768784453636859 7238332285441802240 n.jpg|thumb|center|600px|78231906 768784453636859 7238332285441802240 n.jpg]]</span></span><br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
&nbsp;<br />
<br />
[[Category:Temática - Cultura]][[Category:Folia de Reis]][[Category:Santa Marta]][[Category:Religiosidade]][[Category:Temática - Religião]]</div>Fornazinhttps://wikifavelas.com.br/index.php?title=Tamo_Junto_(projeto)&diff=15209Tamo Junto (projeto)2022-07-06T14:37:01Z<p>Fornazin: </p>
<hr />
<div> Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco<br />
<br />
=== Introdução ===<br />
O Projeto Tamo Junto foi lançado pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco no ano de 2021, com objetivo de fortalecimento técnico e institucional de organizações sociais e coletivos de favelas. Da mesma forma, as organizações participantes do projeto deveriam contribuir com a produção de novos verbetes para a plataforma. Desse modo, o Dicionário reitera seu comprometimento político com forças políticas faveladas e periféricas, bem como com a visibilização e estímulo à produção de conhecimento e resgate da memória dessas áreas. <br />
<br />
A primeira edição foi realizada entre os meses de março de 2021 e janeiro de 2022. Há previsão de novas edições do projeto para o ano de 2022. Em sua primeira edição, o projeto contou com apoio financeiro do Deputado Marcelo Freixo, por meio de uma emenda parlamentar e os trabalhos forma realizados online devido à pandemia de Covid-19. <br />
<br />
=== 1ª Edição do Tamo Junto (2021-2022) ===<br />
Na primeira edição do projeto, foram mapeadas organizações e coletivos da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, cujas atuações no enfrentamento à pandemia de covid-19 nas favelas foram destaque de alguma forma, demonstrando o potencial de jovens coletivos. Dentre as dezenas de organizações e coletivos levantados pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, em conjunto com seu Conselho Editorial, 06 foram selecionadas para participar do projeto organizações de distintos territórios da região metropolitana: [[Instituto Entre o Céu e a Favela]] ([[Morro da Providência|Providência]]); [[Marginal (coletivo)|Marginal Coletivo]] ([[Cidade de Deus (favela)|Cidade de Deus]]); [[Coletivo Piracema - Santa Cruz/RJ|Coletivo Piracema]] (Santa Cruz); [[Rede Só Cria de Educação Popular|Só Cria]] ([[Rocinha]]); [[Odarah Cultura e Missão]] (Baixada Fluminense); e [[Fala Akari (coletivo)|Fala Akari]] ([[Acari]]). Por diferentes motivos, as duas últimas organizações não seguiram no projeto, tendo sido substituídas pelos coletivos [[Brota na Laje]] ([[Favela do Borel|Borel]]) e [[Cine & Rock|Cine&Rock]] (Rio das Pedras). Depois de alguns encontros, o Cine&Rock deixou de fazer parte do projeto, por não estar em condições de acompanhar o grupo. Desta forma, a composição final da 1a Edição do Tamo Junto foi composta pelos seguintes coletivos: Instituto Entre o Céu e a Favela (Providência); Marginal Coletivo (Cidade de Deus); Coletivo Piracema (Santa Cruz); Só Cria (Rocinha); e Brota na Laje (Borel). Os participantes receberam um bolsa e um laptop para facilitar sua participação no projeto. <br />
<br />
A coordenação da edição foi inicialmente feita por Thiago Matiolli, tendo sido substituído por Cleonice Dias, posteriormente, tendo o apoio fundamental de Caique Silva durante todo o período. O Conselho Editorial do Dicionário acompanhou de perto a elaboração do projeto, participando na sua execução como instrutores, bem como a Coordenadora Geral do Dicionário, Sonia Fleury, que participou de diversos encontros no decorrer do ano. <br />
<br />
==== Temas abordados na capacitação ====<br />
Na formulação do projeto, foram levantados três eixos fundamentais: institucional, técnico e de produção de conhecimento, propriamente dito. A partir de tais eixos, foram desenvolvidos diferentes módulos:<br />
{| class="wikitable sortable"<br />
!data-sort-type="date"|Data<br />
! Módulo<br />
! Conteúdo do encontro<br />
|-<br />
|18/03/2021<br />
|Apresentação<br />
|Apresentação<br />
|-<br />
|08/04/2021<br />
|Apresentação<br />
|Discussão sobre o tema dos módulos<br />
|-<br />
|23/04/2021<br />
|Módulo 1<br />
|Fortalecimento Institucional - Projetos para o edital da Fiocruz<br />
|-<br />
|11/05/2021<br />
|Módulo 1<br />
|Fortalecimento Institucional - Identidade Visual do Dicionário<br />
|-<br />
|18/05/2021<br />
|Módulo 1<br />
|Fortalecimento Institucional - Marketing<br />
|-<br />
|01/06/2021<br />
|Módulo 1<br />
|Avaliação do primeiro módulo e produção de gírias<br />
|-<br />
|15/06/2021<br />
|Módulo 1<br />
|Fortalecimento Institucional - Boletim Epidemiológico<br />
|-<br />
|29/06/2021<br />
|Módulo 1<br />
|Fortalecimento Institucional - Boletim Epidemiológico<br />
|-<br />
|13/07/2021<br />
|Módulo 2<br />
|Levantamento e análise de dados.<br />
|-<br />
|27/07/2021<br />
|Módulo 2<br />
|Levantamento e análise de dados.<br />
|-<br />
|10/08/2021<br />
|Módulo 2<br />
|Levantamento e análise de dados. (Oficina)<br />
|-<br />
|24/08/2021<br />
|Módulo 3<br />
|Cartografia Social<br />
|-<br />
|07/09/2021<br />
|Feriado<br />
|Sem encontro<br />
|-<br />
|21/09/2021<br />
|Módulo 3<br />
|Cartografia Social<br />
|-<br />
|05/10/2021<br />
|Módulo 3<br />
|Cartografia Social<br />
|-<br />
|19/10/2021<br />
|Módulo 4<br />
|Coleta de dados<br />
|-<br />
|02/11/2021<br />
|Feriado<br />
|Sem encontro<br />
|-<br />
|16/11/2021<br />
|Módulo 4<br />
|Coleta de dados<br />
|-<br />
|25/01/2022<br />
|Módulo 4<br />
|Coleta de dados<br />
|-<br />
|7/12/2021<br />
|Avaliação Final<br />
|Avaliação Final do projeto<br />
|}<br />
Em cada momento do Projeto, parceiros ajudaram na condução dos módulos, ocupando o papel de facilitadores, professores, debatedores e afins. Foram eles:<br />
<br />
# Módulo 01 (fortalecimento Institucional): Itamar Silva (Wikifavelas e Grupo ECO); Ricardo Moura (Raízes em Movimento); André Guimarães (Gueto - Marketing de Favela); Bianca Leandro (ENSP/Fiocruz); Jussara Angelo (ENSP/Fiocruz); Sonia Fleury (Wikifavelas) e Thiago Matiolli (Wikifavelas).<br />
# Módulo 02 (levantamento e análise de dados): Orlando Santos (Wikifavelas e Observatório das Metrópoles); Rute Imanishi (Observatório das Metrópoles); Juciano Rodrigues (Observatório das Metrópoles).<br />
# Módulo 03 (cartografia social): Banco Comunitário do Preventório - Elena Veríssimo, Alessandra Figueiredo, Marcos Rodrigo Maciel, Fernando Severo, Kayky Silva; Pedro Braga (Wikifavelas); João Porto (Universidade de Glaslow - Escócia); Luiz Lourenço (CEASM).<br />
# Módulo 04 (Coleta de dados): Sonia Fleury (Wikifavelas); Palloma Menezes (Wikifavelas e IESP/UERJ); Márcia Leite (Wikifavelas e UERJ). <br />
<br />
==== Produtos do projeto ====<br />
Em cada módulo, um produto foi preparado pelos coletivos. No caso do '''primeiro módulo''', de fortalecimento institucional, o produto do módulo foi a criação de uma definição para uma gíria. Você pode conferir todas as gírias no verbete de [[Gírias]].<br />
<br />
Para o '''segundo módulo''', de levantamento e análise de dados, os coletivos consultaram bancos de dados públicos para mapear questões de seus territórios. Os produtos estão nas páginas de cada organização. Confira:<br />
<br />
* Só Cria: [https://wikifavelas.com.br/index.php/Rede_S%C3%B3_Cria_de_Educa%C3%A7%C3%A3o_Popular#Dados_Gerais_da_Rocinha clique aqui para acessar o produto].<br />
* Brota na Laje: [https://wikifavelas.com.br/index.php/Indicadores_de_Cultura_e_Juventude_no_Borel clique aqui para acessar o produto].<br />
* Entre o Céu e a Favela: [https://wikifavelas.com.br/index.php/Instituto_Entre_o_C%C3%A9u_e_a_Favela#Morro_da_Provid.C3.AAncia clique aqui para acessar o produto].<br />
* Marginal Coletivo: [https://wikifavelas.com.br/images/thumb/9/98/APRESENTACAO_MARGINAL_TMJ.png/300px-APRESENTACAO_MARGINAL_TMJ.png clique aqui para acessar o produto].<br />
* Coletivo Piracema: clique aqui para acessar o produto.<br />
<br />
<br />
Já no '''terceiro módulo''', onde foi discutido sobre mapeamentos e cartografia, foi discutido durante o módulo sobre como a falta de mapeamentos pelo poder público é um problema cotidiano na vida da população das favelas e periferias e os coletivos usaram da plataforma Open Street Maps para aprender a criar intervenções nos mapas de suas favelas. Confira os resultados: <br />
<br />
* Só Cria: criou no mapa a "Comuna", espaço onde os trabalhos do coletivo são sediados na favela da Rocinha: [https://wikifavelas.com.br/index.php/Rocinha#Mapa_da_Rocinha clique aqui].<br />
* Brota na Laje: criou o Centro Cultural Roda Viva, onde os trabalhos do coletivo são desenvolvidos: [https://wikifavelas.com.br/index.php/Favela_do_Borel#Mapa_do_Borel clique aqui].<br />
* Entre o Céu e a Favela: fez intervenções demarcando o espaço do morro da Providência: [https://wikifavelas.com.br/index.php/Morro_da_Provid%C3%AAncia#Mapa_da_Provid.C3.AAncia clique aqui]. <br />
* Marginal Coletivo: intervenções demarcando o espaço do Tijolinho, onde o coletivo atua: [https://wikifavelas.com.br/index.php/Cidade_de_Deus_(favela)#Mapa_da_Cidade_de_Deus clique aqui]. <br />
* Coletivo Piracema: Fez intervenções no mapa de Santa Cruz, território onde ficam localizados seus trabalhos principais: [https://wikifavelas.com.br/index.php/Coletivo_Piracema_-_Santa_Cruz/RJ#Mapa_de_Santa_Cruz clique aqui]. <br />
<br />
<br />
O quarto e último módulo discutiu métodos de coletas de dados. Os coletivos se ocuparam de pensar em entrevistas, questionários, grupos focais e outras técnicas para realizar coletas de dados em seus respectivos locais de atuação. Para acessar o produto de cada módulo, clique nos links abaixo: <br />
<br />
* [https://wikifavelas.com.br/index.php/Rede_S%C3%B3_Cria_de_Educa%C3%A7%C3%A3o_Popular#Entrevista_com_uma_Ex-estudante_Aprovada_no_UERJ Só Cria]<br />
* [https://wikifavelas.com.br/index.php/Brota_na_Laje#VERBETE:_Efeitos_da_diminui.C3.A7.C3.A3o_de_renda_na_vida_de_jovens_moradores_do_Complexo_de_Favelas_da_Tijuca_durante_a_pandemia_de_Coronav.C3.ADrus. Brota na Laje]<br />
* [https://wikifavelas.com.br/index.php/Instituto_Entre_o_C%C3%A9u_e_a_Favela#Coleta_de_dados_.28projeto_Tamo_Junto.29 Entre o Céu e a Favela]<br />
* [https://wikifavelas.com.br/index.php/Marginal#Coleta_de_dados_no_territ.C3.B3rio Marginal Coletivo]<br />
* [https://wikifavelas.com.br/index.php/Coletivo_Piracema_-_Santa_Cruz/RJ#Produtos_do_projeto: Coletivo Piracema]<br />
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