Usuário Discussão:Imagens e Complexos

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Filme de Favela X Favela Movie

Autoras: Fabiana Melo Sousa [9]; Ludmila Cardos de Oliveira Almeida [10]; Marize Bastos da Cunha [11]: 
 

Os filmes de favela trazem a proposta de um novo gênero narrativo cinematográfico que se refere aos processos audiovisuais realizados por indivíduos e grupos de favelas.

Entende-se por audiovisual toda e qualquer apropriação de imagens e sons capturadas em qualquer formato (película ou digital), sob as mais variadas plataformas (celular, câmeras fotográficas ou de cinema), organizadas em qualquer gênero narrativo (ação, comédia, romance, documentário, ficção) e que trazem os mais variados temas (amor, violência, religião, etc.).

Nesta perspectiva o termo filme de favela é evocado para se contrapor ao gênero narrativo dos favela movie­.

Segundo o site Wikipédia[1] favela movie é um gênero narrativo cinematográfico, utilizado por jornalistas e críticos de cinema "para designar um gênero de filme que tem a favela como cenário”, e que traz como tema “muitas das vezes a violência explícita e o tráfico de drogas". O mesmo site cita  como exemplos deste gênero alguns filmes que são sucesso de bilheteria nacional e internacional.

Um deles, “Cidade de Deus”, dirigido por Kátia Lund e Fernando Meirelles, lançado em 2002, é apontado como inaugurador do gênero e alvo de muitas críticas por parte de faveladas e favelados, como o rapper MV Bill, nascido e criado na favela Cidade de Deus, ou mesmo de pesquisadores e críticos de cinema. Bill, afirma que a produção " Cidade de Deus ganharia o Oscar", mas, a favela Cidade de Deus "ganharia o Oscar da violência"[2]. Já a pesquisadora Ivana Bentes, questiona a "pobreza consumível" nestes filmes, que possuem força comercial no mercado e, que trazem as imagens de violência em favelas como se ela estivesse afastada da cidade, como um "território autônomo”[3]. Ambas as críticas problematizam o efeito desta representação, repetida à exaustão pela indústria cultural, na criação de sentidos sobre as favelas reforçando os preconceitos e estigmas sociais da cidade sobre estes territórios, como se ali só existissem violências.

Em contraposição, existem outras imagens produzidas por indivíduos e coletivos de favelas cariocas e do Brasil (e do mundo) que complexificam estes olhares. São pessoas que trazem representações do cotidiano cultural, social, político e econômico das favelas, que não estão atravessados apenas pelas violências. São imagens que se contrapõem aos preconceitos reproduzidos pela indústria cultural, produzidas por pessoas que se apropriam da técnica e da linguagem audiovisual para construir suas narrativas sobre estes lugares. Alguns exemplos são a TV Tagarela da Rocinha[4], o Coletivo Papo Reto do Complexo do Alemão[5], o grupo Cafuné na Laje do Jacarezinho[6], que trazem inúmeras experiências de indivíduos que moram nestes territórios, como o filme experimental "Esqueça por enquanto” (2015, Priscila Gomes - Manguinhos), o videoclipe "Rimadores" (2016, Ivan Viana - Rocinha) e o documentário "Forró do Parque União" (2013, Renato Oliveira - Maré). Além de mostras e festivais organizados com o propósito de divulgar estas obras, a exemplo do Cine Favela Festival[7] e da Mostra de Filmes Imagens e Complexos[8].

 

Palavras-chave: audiovisual; favela; favela-movie; filmes de favela; imagens e complexos

 

Fontes

[1] Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Favela_movie. Acessado em 25/05/18.

[2] MV Bill. "A bomba vai explodir".http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR55184-6011,00.html. Acessado em 23/05/2018.

[3] Bentes, Ivana. Sertões e favelas no cinema brasileiro contemporâneo: estética e cosmética da fome, Revista ALCEU - v.8 - n.15 - p. 242 a 255 - jul./dez. 2007

[4] Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/TV_Tagarela_da_Rocinha. Acessado em 25/05/18.

[5] Wordpress: https://100ko.wordpress.com/. Acessado em 25/05/18

[6] Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCHMqRJn1B_D_8_JxOeXNKVw. Acessado em 25.05.18.

[7] Site http://www.cinefavelafestival.com.br/. Acessado em 25/05/18.

[8] Facebook: https://www.facebook.com/imagensecomplexos/. Acessado em 25/05/18.

[9] Fabiana Melo Sousa: Nascida e criada na Favela da Rocinha, é formada em direção cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro (2008) e em Filosofia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2015), é documentarista em projetos com ênfase em favela e é pesquisadora sobre o tema imagens e favela e saúde  pública. Integrante da TV Tagarela da Rocinha (Desde 1999) e uma das idealizadoras e coordenadoras do grupo Imagens e Complexos (Desde 2012), na Zona Norte do Rio de Janeiro onde pesquisa e exibe produções audiovisuais com temáticas sobre as favelas e periferias do Brasil, e, também colaboradora do JBBlog Leia Cinema. Atualmente é mestranda do Programa de Pós-Graduação de Filosofia e Ensino do CEFET/RJ e pesquisa o uso do audiovisual em sala aula e professora de Filosofia do Ensino Médio da Secretaria Estadual de Ensino do Rio de Janeiro.

[10] Ludmila Cardoso de Oliveira Almeida: Moradora de Manguinhos, é Cientista social formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ- 2017. Professora de Sociologia em cursos preparatórios para o Exame Nacional do Ensino Médio ENEM e na educação básica e educação prisional Compõe o coletivo Imagens & Complexos onde se pensa o audiovisual produzido por moradores de favelas do Rio de Janeiro, fazendo exibições e refletindo sobre o cinema periférico.

[11] Marize Bastos da Cunha: Possui graduação em Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988), mestrado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (1995) e doutorado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2005). Atualmente é pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de História e Educação, com ênfase na História das Favelas e periferias urbanas e em Educação popular, atuando principalmente nos seguintes temas: educação em saúde, história das favelas, metodologias qualitativas em territórios vulneráveis, memória social.