Caso Amarildo: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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<p style="text-align: justify;">Era um domingo, 14 de julho de 2013, quando o pedreiro Amarildo Dias de Souza, então com 43 anos, foi visto com vida pela última vez. Foi detido para “averiguação” por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, torturado e morto. Seu nome entrou para o rol dos crimes cometidos pelo Estado graças à comoção que ensejou e às disputas de sentido e narrativa travadas em torno de sua memória desde então.</p> <p style="text-align: justify;">Amarildo tinha seis filhos, era casado e conhecido na Rocinha pelos serviços que prestava aos moradores. Sua força física lhe valeu o apelido de “Boi”. Naquele domingo, passara toda a manhã fora, pescando. Por volta das 20h, foi ao bar do Júlio, perto da casa onde vivia, para comprar limão. Sequer fez o pedido: policiais da UPP, ainda no rescaldo de uma operação policial realizada naquele final de semana, o levaram e o torturaram atrás de informações sobre um suposto paiol de armas.</p> <p style="text-align: justify;">Coube a família de Amarildo a denúncia pública do sumiço. Em pouco mais de uma semana, o grito “Cadê o Amarildo” desceu a favela e ganhou as ruas, nas bocas e cartazes de milhares das pessoas que protestaram Brasil afora em 2013. Iniciadas em junho daquele ano em virtude do aumento do preço das passagens de ônibus em diversas capitais, as manifestações também incorporaram o esclarecimento do sumiço do pedreiro como uma de suas múltiplas pautas.</p> <p style="text-align: justify;">As palavras de ordem também apareceram nas vozes dos governantes, sobretudo por intermédio do ex-governador fluminense Sérgio Cabral, instado a dar respostas e, por seu projeto político, tentar impedir que o episódio maculasse a imagem das UPPs. À época, o programa gozava do prestígio de parte da sociedade como uma suposta “novidade” na forma de o Estado policiar e lidar com moradores de favela.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os meses sem resposta para a pergunta “Cadê o Amarildo?” demonstraram que as UPPs tiveram seus problemas negligenciados por parte da opinião pública. Desde o domingo em que o pedreiro sumiu, o programa de pacificação jamais voltou a ser o mesmo.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Em outubro de 2013, vieram à tona as informações acerca da tortura a que Amarildo foi submetido dentro da base da UPP Rocinha. Em janeiro de 2016, 12 policiais foram condenados pelo crime. Em junho do mesmo ano, a família obteve na Justiça o direito a uma indenização a ser paga pelo Estado do Rio de Janeiro - o dinheiro jamais foi pago. O corpo de Amarildo nunca foi encontrado.&nbsp;</p>
<p style="text-align: justify;">'''Autor''':&nbsp;Leandro Resende.</p> <p style="text-align: justify;">Era um domingo, 14 de julho de 2013, quando o pedreiro Amarildo Dias de Souza, então com 43 anos, foi visto com vida pela última vez. Foi detido para “averiguação” por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, torturado e morto. Seu nome entrou para o rol dos crimes cometidos pelo Estado graças à comoção que ensejou e às disputas de sentido e narrativa travadas em torno de sua memória desde então.</p> <p style="text-align: justify;">Amarildo tinha seis filhos, era casado e conhecido na Rocinha pelos serviços que prestava aos moradores. Sua força física lhe valeu o apelido de “Boi”. Naquele domingo, passara toda a manhã fora, pescando. Por volta das 20h, foi ao bar do Júlio, perto da casa onde vivia, para comprar limão. Sequer fez o pedido: policiais da UPP, ainda no rescaldo de uma operação policial realizada naquele final de semana, o levaram e o torturaram atrás de informações sobre um suposto paiol de armas.</p> <p style="text-align: justify;">Coube a família de Amarildo a denúncia pública do sumiço. Em pouco mais de uma semana, o grito “Cadê o Amarildo” desceu a favela e ganhou as ruas, nas bocas e cartazes de milhares das pessoas que protestaram Brasil afora em 2013. Iniciadas em junho daquele ano em virtude do aumento do preço das passagens de ônibus em diversas capitais, as manifestações também incorporaram o esclarecimento do sumiço do pedreiro como uma de suas múltiplas pautas.</p> <p style="text-align: justify;">As palavras de ordem também apareceram nas vozes dos governantes, sobretudo por intermédio do ex-governador fluminense Sérgio Cabral, instado a dar respostas e, por seu projeto político, tentar impedir que o episódio maculasse a imagem das UPPs. À época, o programa gozava do prestígio de parte da sociedade como uma suposta “novidade” na forma de o Estado policiar e lidar com moradores de favela.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os meses sem resposta para a pergunta “Cadê o Amarildo?” demonstraram que as UPPs tiveram seus problemas negligenciados por parte da opinião pública. Desde o domingo em que o pedreiro sumiu, o programa de pacificação jamais voltou a ser o mesmo.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Em outubro de 2013, vieram à tona as informações acerca da tortura a que Amarildo foi submetido dentro da base da UPP Rocinha. Em janeiro de 2016, 12 policiais foram condenados pelo crime. Em junho do mesmo ano, a família obteve na Justiça o direito a uma indenização a ser paga pelo Estado do Rio de Janeiro - o dinheiro jamais foi pago. O corpo de Amarildo nunca foi encontrado.&nbsp;</p>

Edição das 17h50min de 13 de agosto de 2019

Autor: Leandro Resende.

Era um domingo, 14 de julho de 2013, quando o pedreiro Amarildo Dias de Souza, então com 43 anos, foi visto com vida pela última vez. Foi detido para “averiguação” por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, torturado e morto. Seu nome entrou para o rol dos crimes cometidos pelo Estado graças à comoção que ensejou e às disputas de sentido e narrativa travadas em torno de sua memória desde então.

Amarildo tinha seis filhos, era casado e conhecido na Rocinha pelos serviços que prestava aos moradores. Sua força física lhe valeu o apelido de “Boi”. Naquele domingo, passara toda a manhã fora, pescando. Por volta das 20h, foi ao bar do Júlio, perto da casa onde vivia, para comprar limão. Sequer fez o pedido: policiais da UPP, ainda no rescaldo de uma operação policial realizada naquele final de semana, o levaram e o torturaram atrás de informações sobre um suposto paiol de armas.

Coube a família de Amarildo a denúncia pública do sumiço. Em pouco mais de uma semana, o grito “Cadê o Amarildo” desceu a favela e ganhou as ruas, nas bocas e cartazes de milhares das pessoas que protestaram Brasil afora em 2013. Iniciadas em junho daquele ano em virtude do aumento do preço das passagens de ônibus em diversas capitais, as manifestações também incorporaram o esclarecimento do sumiço do pedreiro como uma de suas múltiplas pautas.

As palavras de ordem também apareceram nas vozes dos governantes, sobretudo por intermédio do ex-governador fluminense Sérgio Cabral, instado a dar respostas e, por seu projeto político, tentar impedir que o episódio maculasse a imagem das UPPs. À época, o programa gozava do prestígio de parte da sociedade como uma suposta “novidade” na forma de o Estado policiar e lidar com moradores de favela. 

Os meses sem resposta para a pergunta “Cadê o Amarildo?” demonstraram que as UPPs tiveram seus problemas negligenciados por parte da opinião pública. Desde o domingo em que o pedreiro sumiu, o programa de pacificação jamais voltou a ser o mesmo. 

Em outubro de 2013, vieram à tona as informações acerca da tortura a que Amarildo foi submetido dentro da base da UPP Rocinha. Em janeiro de 2016, 12 policiais foram condenados pelo crime. Em junho do mesmo ano, a família obteve na Justiça o direito a uma indenização a ser paga pelo Estado do Rio de Janeiro - o dinheiro jamais foi pago. O corpo de Amarildo nunca foi encontrado.