Assassinato de Marielle Franco - 14 de Março

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

"No coração de quem faz a guerra
Nascerá uma flor amarela"

Girassol - Cidade Negra

Há uma intenção de gesto que logrou êxito no coração de uma cidade. Qual semente que caindo de seu fruto encontrou boa terra para germinar, de igual maneira o discurso e as ações da vereadora Marielle Franco, de querida e forte memória, enraizaram-se nos mais diversos corações após o terrível acontecimento que a objetivava em um não-lugar. A dor se fez sentir de imediato, sem que houvesse extremos de um grito ou do calar próprio de um choque. E mesmo nessa dor as pessoas que a apoiavam, ou que identificavam-se de alguma maneira com sua lida política, sentiram-se convocadas e responderam ao chamado. Seus corpos, na firme recusa de aceitar a tragédia social, decidiram o comum de um estandarte e nele costuraram palavras, pela necessidade de que precisavam delas escritas1, servindo de inspiração e fomentando a boa luta: Marielle presente! Marielle vive!

O ato de lembrar varia em grau e intensidade de acordo com a aproximação que se tem pelo ausente, pela ausência. Dado o caráter abrupto e o contexto político, os familiares e amigos próximos na figura direta de sua mãe e pai, irmã e filha, esposa e amigos, foram - e seguem sendo - os que mais sentem no peito essa falta. Nesse sentido, não há palavra que baste, palavra que supra e encerre a ferida exposta pela perda de uma filha, irmã, mãe e companheira. O contexto político e violento com que ocorreu só amplia o sofrimento, não permitindo outra situação que não aquela de estar atento e forte2. E essa força veio e continuará vindo.

Se palavras não remediam o suficiente, outros gestos de afeto e memória passam para o fato do acontecimento: são imagens, intervenções, performances e demais objetos que insistem na manutenção das ações pelas quais a vereadora acreditava. Os sensibilizados externam seu NÃO pela criação artística, imputando a elas a necessária carga da certeza, do 'não esqueceremos', pela afirmativa de sempre lembrar. Há aí como que um apelo por algo mais, apelo por Justiça.

Cada qual sabe de si a dor que carrega e como a compreende. Além dos atos populares e seus elementos que tanto agregam e espalham as sementes de boa flor, o impacto foi tão grande que movimentou as correias das instâncias políticas, principalmente na figura do poder executivo, que deliberou por bem sancionar a lei nº 8054/20, unindo a importância da luta com a homenagem a 

consolida a legislação das datas comemorativas do Calendário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, o Dia Marielle Franco – Dia de Luta contra o genocídio da Mulher Negra, a ser comemorado no dia 14 de março, anualmente.

O dia 14 pode enredar um caráter cíclico que, para além das homenagens e boas memórias a serem recuperadas, com elas vem também a dor da não presença

"As passagens, as coragens / São sementes espalhadas nesse chão"2, de Marielles e de tantas outras mulheres que vieram antes, pavimentando a estrada para que seu trânsito seja mais justo, democrático e inclusivo, na participação em prol do bem comum. Para sua memória, instituiu-se o Dia Marielle Franco - dia de luta contra o genocídio da mulher negra no estado, sob a égide da Lei 8.054/183, sancionada à época pelo governador Luiz Fernando de Souza, de autoria da enfermeira Rejane.

{texto ainda em rascunho}

REFERÊNCIAS:

[1] Conforme o estandarte de Arthur Bispo do Rosário
[2] Música "pequena memória para um tempo sem memória", de Gonzaguinha
[3]: Lei 8054/18 - RJ. Disponível em: https://gov-rj.jusbrasil.com.br/legislacao/607160905/lei-8054-18-rio-de-janeiro-rj