Boreart

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 18h40min de 24 de abril de 2020 por Diegsf (discussão | contribs)

Uma ideia na cabeça, pessoas que a defendem e a chance de ter dez mil reais para coloca-lo em prática. Foi pensando em fazer algo diferente na favela em que vivia que em 2012 Fred Castilho entrou na Agência de Redes para a Juventude. Na bagagem, uma grande trajetória como dançarino de street dance e, mais tarde, como B-boy, no Hip-Hop.

Participante de muitos projetos no Borel, Fred decidiu investir seu tempo em mais uma empreitada: passar pela formação de seis meses da Agência e submeter um projeto, que ao se inscrever ainda não sabia como seria, a uma banca e disputar a mentoria e os dez mil reais que seriam o pontapé incial.

Durante as oficinas, que na metodologia da Agência de Redes são chamadas de estúdios de criação, foi se aproximando do grupo que colocaria de pé o Boreart, a galeria de arte a céu aberto do Borel. À época, Marcio Correia e Leandro Araújo, com 17 anos, Kauã Gonçalves e Leonardo Ferreira, com 15 se uniram para criar o projeto.

Primeira equipe do Boreart

Durante o processo, muitas ideias foram unidas para que ao final a ideia de uma galeria a céu aberto fosse a escolhida para ir à banca de seleção. Como inspiração, a famosa Escadaria Selarón, na Lapa, região central do Rio de Janeiro. A proposta, proporcionar acesso à arte para os mais de vinte mil moradores do Borel. “Muitas pessoas que eu conhecia nunca tinham ido a um museu ou visitado uma exposição e eu imaginava que seria incrível que as pessoas pudessem abrir a porta de casa e estar diante de uma ou que suas casas fossem parte dela”, contou Fred.

Para apresentar melhor a proposta, realizaram uma busca no território para definir o local mais apropriado. A meta seria escolher uma escadaria que fosse acessível e que pudesse ser estilizada, que fosse tranquilo convencer os moradores e que permitisse que pessoas de fora da favela também visitassem. “Não foi de primeira que escolhemos o local. Teve um trabalho bem grande pra reunir todos os itens que queríamos”, disse. Ao final da saga pela busca, chegaram à Rua Nossa Senhora de Fátima, conhecida também como a “Rua do Barranco” para se transformar na galeria.

Depois de passar pela banca, o projeto foi um dos selecionados daquele ano e a correria só estava começando. Entre as atividades para o lançamento duas marcaram muito os integrantes. Os jovens do Boreart fizeram um percurso de visitas em galerias ao visitarem o MAM (Museu de Arte Moderna) , onde conversaram com o curador Luiz Vergara, ex-diretor do MAC (Museu de Arte Contemporânea). Os jovens também visitaram a casa do curadorMarcus Lontra Costa, para discutir conceitos de Galeria e Curadoria.

Fred conta como foi esse período: “as primeiras impressões foram impactantes eu vi que somos capazes quando recebemos a direção certa a parti desse momento eu me reconheci criei uma identidade crítica é artística que influenciaria outros jovens e amigos e conhecidos fazedores ou produtores de arte de uma forma geral no Borel”, disse.

A galeria inaugurou no dia 25 de maio de 2013 em um evento com apresentação de artistas locais e convidados de outros locais e, graças a uma parceria como Museu de Arte Modernado Rio de Janeiro. A curadoria convidada de Marcus Lontra e a parceria luxuosa do Museu de Arte Moderna (MAM), através de Luiz Camillo Osório, que cedeu seis fotos da série Descompressão... 1973...descompressão, do artista plástico luso-brasileiro Artur Barrio, para a mostra inaugural. A obra Chuva, do coletivo multimídia Chelpa Ferro, completou o circuito artístico, espalhado por quatro casas de moradores que nunca nem chegaram a pisar em um museu. Quem visitava a galeria, conhecia também as casas e os/as moradores/as.

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Luiz Augusto, que hospedou em sua casa dois painéis e dois quadros com pinturas em homenagem à cultura nordestina, se sentiu privilegiado em receber as peças. "Me apeguei às obras e torci para elas não irem embora", brinca um dos moradores do Borel. Naquele dia, o artista do grafite, Marcelo Eco também participou e um dos muros da rua ganhou um grafite especial. Também participou o artista Mario Bands, do Complexo do Alemão. Também participaram a bateria do Bloco Chora 10 e o DJ LC, ambos do Borel.

Na segunda etapa, o Boreart recebeu a exposição “Andareiro”, do pernambucano André Soares Monteiro, que transforma banners e portas de armários usados em obras de arte e, inspirados pela famosa Escadaria Selarónna Lapa, foram coletados azulejos doados para enfeitar a escadaria da comunidade no estilo Selarón. “A gente pensou, poxa, a Escadaria Selarón chama atenção para caramba, modifica um espaço grande. Aqui era super largado. Nós pensamos que também podíamos fazer isso lá”, disse Fred. “Chamar a atenção de pessoas de fora e moradores para aquele local. Dar visibilidade não só a nosso projeto, mas aos moradores, ao local em si e transformar um grande ponto de encontro no Borel”, contou.

Novos rumos e novos desafios

Na nova etapa do projeto, desde 2014, o grupo também começou a oferecer oficinas de arte urbana, que incluem grafite e fotografia, para os/as moradores/as jovens de 15 a 29 anos. O time que toca o projeto mudou e o bastão foi passado para Isabella Santos. Fred diz que “ela tem todo o perfil do Boreart: empoderada jovem negra de favela mãe jovem cursa faculdade e eu confiei o projeto a ela que não era meu, mas sim nosso, quero dizer da nossa querida favela do Borel”, disse.

Isabella teve o desafio de expandir o projeto que assumiu a missão de formar novos/as artistas com as oficinas de grafite e foto arte.

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