Casinhas em Campos dos Goytacazes (programa): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Autores:&nbsp;'''Diogo da Cruz Ferreira, Ana Carla de Oliveira Pinheiro e&nbsp;Wania Amelia Belchior Mesquita.'''
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A expressão “casinhas” foi a forma como ficaram conhecidas as unidades habitacionais edificadas no quadro do programa Morar Feliz (PMF), programa municipal de habitação popular de Campos dos Goytacazes, desenvolvido entre 2009 e 2016.&nbsp;Inicialmente, associávamos esta expressão à padronização das unidades habitacionais projetadas. Historicamente é um dos modos pelos quais os moradores desses lugares se referiam as casas populares por serem pequenas (quarto, sala, cozinha e banheiro) e padronizadas (LEMOS, 1989). Em pesquisas realizadas por Pinheiro (2018) e Ferreira (2019) com foco na compreensão do ponto de vista dos moradores dos conjuntos habitacionais há relatos que se aproximam da informação de uma moradora, como mencionado por Ferreira (2019) “todos dizem isso é como se nós fôssemos alienígenas, diferentes dos outros moradores do bairro”. Observamos que “casinhas” estava associado aos comportamentos, atitudes e valores produzidos pelo encontro de uma densidade e diversidade de pessoas no mesmo espaço de moradias, os quais reforçavam o estigma de “favelado” e “morador de comunidade”. Os moradores se referiam às apropriações, como a presença do narcotráfico de drogas e as transformações do espaço da moradia que aludiam a uma “favela”. Notamos também que a expressão serve como parâmetro de distinção das diferentes maneiras de morar e dos espaços de moradias que coabitam os bairros em que foram construídos os conjuntos habitacionais e que remarca, moralmente, os selecionados do PMF. É importante ressaltar a recusa por parte de alguns moradores, que justificam que “aqui mora muita gente honesta e trabalhadora [...]”, consiste em uma das formas de limpeza moral (MACHADO DA SILVA, 2008) e distanciamento da classificação de “vagabundos”, “traficantes” ou “bandidos”. A expressão também indica a variedade de públicos que se concentraram, temporalmente, nos bairros estudados, e como as “casinhas” contribuíram na reconfiguração espacial e moral das áreas urbanas em que foram executadas políticas habitacionais municipais no programa Morar Feliz. Portanto, “ser morador das casinhas” evoca muitos outros sentidos, positivos e negativos, os quais abordaremos posteriormente.&nbsp;
A expressão “casinhas” foi a forma como ficaram conhecidas as unidades habitacionais edificadas no quadro do programa Morar Feliz (PMF), programa municipal de habitação popular de Campos dos Goytacazes, desenvolvido entre 2009 e 2016.&nbsp;Inicialmente, associávamos esta expressão à padronização das unidades habitacionais projetadas. Historicamente é um dos modos pelos quais os moradores desses lugares se referiam as casas populares por serem pequenas (quarto, sala, cozinha e banheiro) e padronizadas (LEMOS, 1989). Em pesquisas realizadas por Pinheiro (2018) e Ferreira (2019) com foco na compreensão do ponto de vista dos moradores dos conjuntos habitacionais há relatos que se aproximam da informação de uma moradora, como mencionado por Ferreira (2019) “todos dizem isso é como se nós fôssemos alienígenas, diferentes dos outros moradores do bairro”. Observamos que “casinhas” estava associado aos comportamentos, atitudes e valores produzidos pelo encontro de uma densidade e diversidade de pessoas no mesmo espaço de moradias, os quais reforçavam o estigma de “favelado” e “morador de comunidade”. Os moradores se referiam às apropriações, como a presença do narcotráfico de drogas e as transformações do espaço da moradia que aludiam a uma “favela”. Notamos também que a expressão serve como parâmetro de distinção das diferentes maneiras de morar e dos espaços de moradias que coabitam os bairros em que foram construídos os conjuntos habitacionais e que remarca, moralmente, os selecionados do PMF. É importante ressaltar a recusa por parte de alguns moradores, que justificam que “aqui mora muita gente honesta e trabalhadora [...]”, consiste em uma das formas de limpeza moral (MACHADO DA SILVA, 2008) e distanciamento da classificação de “vagabundos”, “traficantes” ou “bandidos”. A expressão também indica a variedade de públicos que se concentraram, temporalmente, nos bairros estudados, e como as “casinhas” contribuíram na reconfiguração espacial e moral das áreas urbanas em que foram executadas políticas habitacionais municipais no programa Morar Feliz. Portanto, “ser morador das casinhas” evoca muitos outros sentidos, positivos e negativos, os quais abordaremos posteriormente.&nbsp;<br/> Referências &nbsp; FERREIRA, Diogo da Cruz Ferreira. “Nosso novo endereço, Morar Feliz”: os sentidos de habitar um conjunto habitacional popular em Campos dos Goytacazes. 2019. 250 fls. Tese (Doutorado em Políticas Sociais), Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense, 2019.&nbsp; &nbsp; LEMOS, Carlos. História da casa brasileira. 2ª ed. São Paulo. Contexto, 1989. &nbsp; MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio. Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Nova Fronteira/FAPERJ, 2008. &nbsp; PINHEIRO, Ana Carla de Oliveira. “Ver e não enxergar, escutar e não ouvir, ver e não falar”: um estudo sobre a sociabilidade e as formas de conviver com o medo e o sentimento de (in) segurança em uma comunidade de periferia em Campos dos Goytacazes (RJ). 2018. 300 fls.&nbsp; Tese (Doutorado em Sociologia Política), Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense, 2018.&nbsp;
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Referências
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FERREIRA, Diogo da Cruz Ferreira. “Nosso novo endereço, Morar Feliz”: os sentidos de habitar um conjunto habitacional popular em Campos dos Goytacazes. 2019. 250 fls. Tese (Doutorado em Políticas Sociais), Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense, 2019.&nbsp;
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LEMOS, Carlos. História da casa brasileira. 2ª ed. São Paulo. Contexto, 1989.
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MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio. Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Nova Fronteira/FAPERJ, 2008.
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PINHEIRO, Ana Carla de Oliveira. “Ver e não enxergar, escutar e não ouvir, ver e não falar”: um estudo sobre a sociabilidade e as formas de conviver com o medo e o sentimento de (in) segurança em uma comunidade de periferia em Campos dos Goytacazes (RJ). 2018. 300 fls.&nbsp; Tese (Doutorado em Sociologia Política), Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense, 2018.&nbsp;


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Edição das 12h54min de 1 de agosto de 2019

Autores: Diogo da Cruz Ferreira, Ana Carla de Oliveira Pinheiro e Wania Amelia Belchior Mesquita.

 

A expressão “casinhas” foi a forma como ficaram conhecidas as unidades habitacionais edificadas no quadro do programa Morar Feliz (PMF), programa municipal de habitação popular de Campos dos Goytacazes, desenvolvido entre 2009 e 2016. Inicialmente, associávamos esta expressão à padronização das unidades habitacionais projetadas. Historicamente é um dos modos pelos quais os moradores desses lugares se referiam as casas populares por serem pequenas (quarto, sala, cozinha e banheiro) e padronizadas (LEMOS, 1989). Em pesquisas realizadas por Pinheiro (2018) e Ferreira (2019) com foco na compreensão do ponto de vista dos moradores dos conjuntos habitacionais há relatos que se aproximam da informação de uma moradora, como mencionado por Ferreira (2019) “todos dizem isso é como se nós fôssemos alienígenas, diferentes dos outros moradores do bairro”. Observamos que “casinhas” estava associado aos comportamentos, atitudes e valores produzidos pelo encontro de uma densidade e diversidade de pessoas no mesmo espaço de moradias, os quais reforçavam o estigma de “favelado” e “morador de comunidade”. Os moradores se referiam às apropriações, como a presença do narcotráfico de drogas e as transformações do espaço da moradia que aludiam a uma “favela”. Notamos também que a expressão serve como parâmetro de distinção das diferentes maneiras de morar e dos espaços de moradias que coabitam os bairros em que foram construídos os conjuntos habitacionais e que remarca, moralmente, os selecionados do PMF. É importante ressaltar a recusa por parte de alguns moradores, que justificam que “aqui mora muita gente honesta e trabalhadora [...]”, consiste em uma das formas de limpeza moral (MACHADO DA SILVA, 2008) e distanciamento da classificação de “vagabundos”, “traficantes” ou “bandidos”. A expressão também indica a variedade de públicos que se concentraram, temporalmente, nos bairros estudados, e como as “casinhas” contribuíram na reconfiguração espacial e moral das áreas urbanas em que foram executadas políticas habitacionais municipais no programa Morar Feliz. Portanto, “ser morador das casinhas” evoca muitos outros sentidos, positivos e negativos, os quais abordaremos posteriormente. 
Referências   FERREIRA, Diogo da Cruz Ferreira. “Nosso novo endereço, Morar Feliz”: os sentidos de habitar um conjunto habitacional popular em Campos dos Goytacazes. 2019. 250 fls. Tese (Doutorado em Políticas Sociais), Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense, 2019.    LEMOS, Carlos. História da casa brasileira. 2ª ed. São Paulo. Contexto, 1989.   MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio. Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Nova Fronteira/FAPERJ, 2008.   PINHEIRO, Ana Carla de Oliveira. “Ver e não enxergar, escutar e não ouvir, ver e não falar”: um estudo sobre a sociabilidade e as formas de conviver com o medo e o sentimento de (in) segurança em uma comunidade de periferia em Campos dos Goytacazes (RJ). 2018. 300 fls.  Tese (Doutorado em Sociologia Política), Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense, 2018.