Chacina da Candelária - 23 de julho de 1993

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 17h16min de 3 de setembro de 2019 por Carolina Rocha Silva (discussão | contribs)

Autores: Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência

Na madrugada do dia 23 de julho de 1993, mais de 70 crianças e adolescentes dormiam nas proximidades da Igreja da Candelária, centro do Rio de Janeiro, quando foram surpreendidas por uma ação de extermínio. A “Chacina da Candelária” teve repercussão internacional e entrou para o calendário como um dos piores crimes cometidos contra os Direitos Humanos e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Crianças, adolescentes e jovens foram fuziladas sem a menor chance de defesa. As oito vítimas fatais foram Paulo Roberto de Oliveira (11 anos); Anderson de Oliveira Pereira (13); Marcelo Cândido de Jesus (14); Valdevino Miguel de Almeida (14); "Gambazinho" (17); Leandro Santos da Conceição (17) Paulo José da Silva (18); Marcos Antônio Alves da Silva (19). Outras dezenas saíram feridas. Não se sabe ao certo qual a motivação do massacre, mas indícios apontam acerto de contas e vingança, eliminação pura e simples, ou represália após assalto que teria sofrido a mãe de um policial. Wagner dos Santos, sobrevivente, tornou-se testemunha chave. Em 12 de setembro de 1994, pouco mais de um ano depois, Wagner foi vítima de um novo atentado por parte da polícia: seu corpo que tinha recebido quatro tiros, foi alvo de mais quatro disparos. Wagner foi inserido no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita). Em 2000, das 72 crianças e adolescentes apontadas no inquérito como sobreviventes, 44 haviam morrido de forma violenta. Inicialmente, foram indiciados os policiais militares Marcus Vinícios Emmanuel, Cláudio dos Santos e Marcelo Cortes e o serralheiro Jurandir Gomes França. Em 1996, o policial militar Nelson Oliveira dos Santos provocou uma reviravolta no caso ao confessar sua participação no crime e apontar outros responsáveis: além de Marcos Emmanuel (já preso), os policiais militares Marco Aurélio Dias de Alcântara e Arlindo Afonso Lisboa Júnior e o ex-policial Maurício da Conceição. Este último, expulso da polícia militar em 1990 por tortura, era conhecido como Sexta-Feira 13, e seria o líder do grupo; foi morto em 1994 em tiroteio com policiais civis da Divisão Anti-Sequestros (DAS). O depoimento de Nelson foi confirmado pelos demais e desencadeou a absolvição de Cláudio dos Santos, Marcelo Cortes e Jurandir Gomes França. Nelson Oliveira dos Santos, Marco Aurélio Dias de Alcântara, Marcos Vinícios Emmanuel foram condenados a 45, 204 e 300 anos de prisão, respectivamente. Arlindo Afonso Lisboa Júnior não foi a júri popular pela chacina; pegou dois anos de pena por ter em seu poder uma das armas usadas no crime. Atualmente os quatro estão em liberdade. Existiria ainda um quinto acusado, o policial militar Carlos Jorge Liaffa, não indiciado, mesmo tendo sido reconhecido por um dos sobreviventes e apesar da perícia comprovar que uma das cápsulas do crime foi disparada pela arma de seu padrasto.