Chacina do Fallet-Fogueteiro - 08 de fevereiro de 2019

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 23h42min de 17 de fevereiro de 2020 por Caiqueazael (discussão | contribs)

Autor: Caíque Azael

Introdução

No dia 08 de fevereiro de 2019, 13 jovens foram assassinados no Morro do Fallet-Fogueteiro, na região de Santa Teresa (Centro – Rio de Janeiro). As mortes foram operadas pelo BOPE e pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro, durante uma operação no morro. Pelo menos 10 dos 15 mortos foram assassinados dentro da casa de uma moradora da região, com marcas de perfuração por faca em regiões do corpo como pulmões e coração. A perícia na região indicou a execução de pessoas que já estavam rendidos. Os policiais envolvidos na operação foram ouvidos na Delegacia de Homicídios do Rio e suas armas foram retiradas e encaminhadas à perícia. Essa foi a operação policial com maior número de mortos desde 2005.

Segundo relatos das famílias das vítimas, a operação começou logo de manhã e as tropas vieram para matar. Os policiais xingaram muito as pessoas nas ruas e agiram de forma muito truculenta, agredindo os meninos mesmo após de rendidos. Alguns dos meninos correram para dentro de uma casa, que foi arrombada pelos policiais que os mataram lá dentro. Segundo as famílias, os meninos queriam se entregar, não morrer. A comunidade se mobilizou do lado de fora da casa pedindo que os policiais os prendesse, mas não os matasse ou torturasse. Os policiais jogaram bombas e gás de pimenta nos moradores e ameaçaram quem filmava tudo.

 

“Como eles dizem que houve tiroteio se meus sobrinhos xxxx e xxxx foram mortos com facadas na barriga? Tá aqui a certidão de óbito. Houve espancamento. Quebraram o pescoço de um dos meninos! Tá aqui o laudo do IML. Há um consenso entre nós de que houve tortura. Teve facada no coração, no pulmão!”, disse o tio, ainda jovem, de dois dos mortos.

 

“Os policiais pegaram os corpos rapidamente e botaram em cima das caminhonetes. Eles sentaram em cima dos corpos. Nem mesmo depois de mortos, os corpos foram respeitados. Os corpos foram levados para o hospital com policiais sentados em cima desses corpos”, esbravejou uma jovem, já chorando.

 

“Isso não é novidade, senhor. Eles vem com essas chaves mistas, que abrem qualquer porta. Foi assim que entraram em outras várias casas da comunidade naquela manhã. Em duas delas, mataram mais dois irmãos em cada! Mataram o filho da XXXX e da XXXX”, deixou escapar uma das moradoras.

 

“Foi isso, senhor. Sete foram mortos na casa. Depois, duas duplas de irmãos em duas casas diferentes. Teve ainda o Jefferson. Foram 12 mortos no Fallet. E ainda mais três, fomos saber depois, que foram mortos lá no Morro dos Prazeres (morro vizinho, onde havia uma operação do BOPE”, explicou um homem.

 

A chacina é resultado, segundo pesquisadores, de uma política de segurança que dá maior autonomia as polícias e desarticula suas ações. O fim da Secretaria de Estado de Segurança Pública que foi implementado pelo governador Wilson Witzel (PSC) no começo do ano de 2019 produziu uma maior violência nas operações policiais no Estado.


Vídeo sobre a Chacina

 

Fontes:

The Intercept Brasil – A guerra prometida no Rio já começou: era uma casa como a sua, virou o cenário de um massacre

Jornalistas livres – Fallet-Foguereiro: “Deram facadas no coração de um, no pulmão de outro. Foi uma chacina a facadas”

Pragmatismo Político – As falhas na investigação da chacina de 15 jovens no Fallet