Condutores de Memória: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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<p style="text-align:justify">O projeto Condutores de Memória, realizado entre os anos de 1999 e 2006 no Morro do Borel, e algumas favelas do entorno, no Rio de Janeiro. Baseada no resgate da memória local, a iniciativa visava construir representações positivas sobre o morador desses espaços, como contraponto às imagens correntes ligadas ao tráfico de drogas e violência urbana.</p> <p style="text-align:justify">O projeto foi fruto de uma parceria de moradores locais com Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas(Ibase), no âmbito da Agenda Social Rio. Pretendeu usar a memória local, tanto sua tomada através de depoimentos e de documentos pessoais quanto sua transmissão e preservação de seus ítens materiais, como um instrumento de problematizar e propor alternativas às representações das favelas e de seus moradores como agentes da violência.</p> <p style="text-align:justify">O projeto Condutores de Memória foi realizado entre os anos de 1999 e 2006 com o objetivo de preservar a memória de moradores de favelas da Grande Tijuca, 42 através da coleta de depoimentos de moradores antigos e da constituição de um acervo documental. Desse modo, a intenção dos realizadores da proposta era o seguinte: “Por meio da memória coletiva desses espaços urbanos, as pessoas que neles moram refazem sua própria trajetória, reelaboram sua experiência de vida e transformam a dura realidade na qual estão inseridas”.</p> <p style="text-align:justify">Entre os anos de 1999 e 2003, foram realizadas 20 oficinas de memória44 nas favelas do Borel, Chácara do Céu, Andaraí, Salgueiro e Formiga, sendo quatro em cada uma. Nos anos restantes do projeto, a equipe se dedicou à realização de palestras, participação em seminários e capacitações.</p> <p style="text-align:justify">A origem do Condutores de Memória se encontra em um curso, realizado em novembro de 1999, organizado pela ONG Gestão Comunitária, uma das componentes da Agenda Social Rio. O curso se encaixava dentro da proposta da Agenda de “formação de lideranças”, abordando os seguintes temas: “formação do espaço urbano e exclusão social, direitos coletivos e organização local, elaboração e gestão de projetos, educação e meio ambiente, segurança pública, saúde coletiva, relações de gênero e saúde comunitária”. Ao final do curso, os participantes deveriam apresentar um projeto, e Ruth Barros, Maria Aparecida Coutinho, moradoras do Borel, e Mauriléa Januário Ribeiro, moradora da Casa Branca, elaboraram a proposta que deu origem ao Condutores.</p> <p style="text-align:justify">Segundo Ruth Barros, uma das idealizadoras do projeto, em depoimento ao historiador Mauro Amoroso (&nbsp;&nbsp;&nbsp; ), o projeto foi impulsionado também pelo programa Favela-Bairro, que fez uma grande intervenção urbanística nas favelas da Grande Tijuca. Como trabalhavam como agentes, Ruth, Mauriléa e Maria Aparecida eram requisitadas sobre os pontos e locais importantes da favela: &nbsp;“ as pessoas pediam para a gente levar... ‘Eu quero ir nos locais que vocês acham interessantes’, tipo a bica do Borel, que era a bica que todo mundo falava, ‘lá no Terreirão tem a bica; na Chácara do Céu vai lá na igreja’. É difícil porque é uma trilhazinha, ‘eu quero ir lá assim mesmo, como é que a história disso aqui?’ O pessoal sempre queria saber, então a gente começou a observar aquilo (...) e eu, a Mauriléia e a Cida (...) ‘por que a gente não faz um projeto sobre guia turístico para as comunidades, não para a rua, mas para as comunidades?’ Porque a nossa intenção era fazer um projeto com adolescente, onde eles aprendessem tudo sobre a comunidade, sobre a história da comunidade, a memória da comunidade, a história, tudo, e depois eles fossem os guias dessas pessoas que viessem, seriam guias turísticos na comunidade, a gente pensou até isso, colocamos até lá, guias turísticos na comunidade, um projeto para adolescentes”.</p> <p style="text-align:justify">O projeto Condutores de Memória produziu dois filmes com depoimentos de moradores e dois livros, em parceria com o Ibase e apoio da ONG Oxfam-Novib. É possível localizar os livros online, em pdf, no site do Ibase e os vídeos apenas em acervo com as organizadoras.</p> <p style="text-align:justify">Um dos projetos de continuidade do Condutores era a construção do Centro de Memória da Grande Tijuca. Um espaço que poderia ajudar no processo de construção de um novo olhar sobre a história das favelas, levando em consideração a experiência de vida e o ponto de vista das moradoras e dos moradores dessas comunidades como atores sociais. Um local para guardar e conservar o acervo reunido pelo Condutores de Memória, além de servir como espaço para a realização de atividades culturais e educativas.</p>   
<p style="text-align:justify">O projeto Condutores de Memória, realizado entre os anos de 1999 e 2006 no Morro do Borel, e algumas favelas do entorno, no Rio de Janeiro. Baseada no resgate da memória local, a iniciativa visava construir representações positivas sobre o morador desses espaços, como contraponto às imagens correntes ligadas ao tráfico de drogas e violência urbana.</p> <p style="text-align:justify">O projeto foi fruto de uma parceria de moradores locais com Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas(Ibase), no âmbito da Agenda Social Rio. Pretendeu usar a memória local, tanto sua tomada através de depoimentos e de documentos pessoais quanto sua transmissão e preservação de seus ítens materiais, como um instrumento de problematizar e propor alternativas às representações das favelas e de seus moradores como agentes da violência.</p> <p style="text-align:justify">O projeto Condutores de Memória foi realizado entre os anos de 1999 e 2006 com o objetivo de preservar a memória de moradores de favelas da Grande Tijuca, 42 através da coleta de depoimentos de moradores antigos e da constituição de um acervo documental. Desse modo, a intenção dos realizadores da proposta era o seguinte: “Por meio da memória coletiva desses espaços urbanos, as pessoas que neles moram refazem sua própria trajetória, reelaboram sua experiência de vida e transformam a dura realidade na qual estão inseridas”.</p> <p style="text-align:justify">Entre os anos de 1999 e 2003, foram realizadas 20 oficinas de memória44 nas favelas do Borel, Chácara do Céu, Andaraí, Salgueiro e Formiga, sendo quatro em cada uma. Nos anos restantes do projeto, a equipe se dedicou à realização de palestras, participação em seminários e capacitações.</p> <p style="text-align:justify">A origem do Condutores de Memória se encontra em um curso, realizado em novembro de 1999, organizado pela ONG Gestão Comunitária, uma das componentes da Agenda Social Rio. O curso se encaixava dentro da proposta da Agenda de “formação de lideranças”, abordando os seguintes temas: “formação do espaço urbano e exclusão social, direitos coletivos e organização local, elaboração e gestão de projetos, educação e meio ambiente, segurança pública, saúde coletiva, relações de gênero e saúde comunitária”. Ao final do curso, os participantes deveriam apresentar um projeto, e Ruth Barros, Maria Aparecida Coutinho, moradoras do Borel, e Mauriléa Januário Ribeiro, moradora da Casa Branca, elaboraram a proposta que deu origem ao Condutores.</p> <p style="text-align:justify">Segundo Ruth Barros, uma das idealizadoras do projeto, em depoimento ao historiador Mauro Amoroso (2012), o projeto foi impulsionado também pelo programa Favela-Bairro, que fez uma grande intervenção urbanística nas favelas da Grande Tijuca. Como trabalhavam como agentes, Ruth, Mauriléa e Maria Aparecida eram requisitadas sobre os pontos e locais importantes da favela: &nbsp;“ as pessoas pediam para a gente levar... ‘Eu quero ir nos locais que vocês acham interessantes’, tipo a bica do Borel, que era a bica que todo mundo falava, ‘lá no Terreirão tem a bica; na Chácara do Céu vai lá na igreja’. É difícil porque é uma trilhazinha, ‘eu quero ir lá assim mesmo, como é que a história disso aqui?’ O pessoal sempre queria saber, então a gente começou a observar aquilo (...) e eu, a Mauriléia e a Cida (...) ‘por que a gente não faz um projeto sobre guia turístico para as comunidades, não para a rua, mas para as comunidades?’ Porque a nossa intenção era fazer um projeto com adolescente, onde eles aprendessem tudo sobre a comunidade, sobre a história da comunidade, a memória da comunidade, a história, tudo, e depois eles fossem os guias dessas pessoas que viessem, seriam guias turísticos na comunidade, a gente pensou até isso, colocamos até lá, guias turísticos na comunidade, um projeto para adolescentes”.</p> <p style="text-align:justify">O projeto Condutores de Memória produziu dois filmes com depoimentos de moradores e dois livros, em parceria com o Ibase e apoio da ONG Oxfam-Novib. É possível localizar os livros online, em pdf, no site do Ibase e os vídeos apenas em acervo com as organizadoras.</p> <p style="text-align:justify">Um dos projetos de continuidade do Condutores era a construção do Centro de Memória da Grande Tijuca. Um espaço que poderia ajudar no processo de construção de um novo olhar sobre a história das favelas, levando em consideração a experiência de vida e o ponto de vista das moradoras e dos moradores dessas comunidades como atores sociais. Um local para guardar e conservar o acervo reunido pelo Condutores de Memória, além de servir como espaço para a realização de atividades culturais e educativas.</p>   
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Edição das 17h20min de 12 de março de 2020

Morro do Borel  

O projeto Condutores de Memória, realizado entre os anos de 1999 e 2006 no Morro do Borel, e algumas favelas do entorno, no Rio de Janeiro. Baseada no resgate da memória local, a iniciativa visava construir representações positivas sobre o morador desses espaços, como contraponto às imagens correntes ligadas ao tráfico de drogas e violência urbana.

O projeto foi fruto de uma parceria de moradores locais com Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas(Ibase), no âmbito da Agenda Social Rio. Pretendeu usar a memória local, tanto sua tomada através de depoimentos e de documentos pessoais quanto sua transmissão e preservação de seus ítens materiais, como um instrumento de problematizar e propor alternativas às representações das favelas e de seus moradores como agentes da violência.

O projeto Condutores de Memória foi realizado entre os anos de 1999 e 2006 com o objetivo de preservar a memória de moradores de favelas da Grande Tijuca, 42 através da coleta de depoimentos de moradores antigos e da constituição de um acervo documental. Desse modo, a intenção dos realizadores da proposta era o seguinte: “Por meio da memória coletiva desses espaços urbanos, as pessoas que neles moram refazem sua própria trajetória, reelaboram sua experiência de vida e transformam a dura realidade na qual estão inseridas”.

Entre os anos de 1999 e 2003, foram realizadas 20 oficinas de memória44 nas favelas do Borel, Chácara do Céu, Andaraí, Salgueiro e Formiga, sendo quatro em cada uma. Nos anos restantes do projeto, a equipe se dedicou à realização de palestras, participação em seminários e capacitações.

A origem do Condutores de Memória se encontra em um curso, realizado em novembro de 1999, organizado pela ONG Gestão Comunitária, uma das componentes da Agenda Social Rio. O curso se encaixava dentro da proposta da Agenda de “formação de lideranças”, abordando os seguintes temas: “formação do espaço urbano e exclusão social, direitos coletivos e organização local, elaboração e gestão de projetos, educação e meio ambiente, segurança pública, saúde coletiva, relações de gênero e saúde comunitária”. Ao final do curso, os participantes deveriam apresentar um projeto, e Ruth Barros, Maria Aparecida Coutinho, moradoras do Borel, e Mauriléa Januário Ribeiro, moradora da Casa Branca, elaboraram a proposta que deu origem ao Condutores.

Segundo Ruth Barros, uma das idealizadoras do projeto, em depoimento ao historiador Mauro Amoroso (2012), o projeto foi impulsionado também pelo programa Favela-Bairro, que fez uma grande intervenção urbanística nas favelas da Grande Tijuca. Como trabalhavam como agentes, Ruth, Mauriléa e Maria Aparecida eram requisitadas sobre os pontos e locais importantes da favela:  “ as pessoas pediam para a gente levar... ‘Eu quero ir nos locais que vocês acham interessantes’, tipo a bica do Borel, que era a bica que todo mundo falava, ‘lá no Terreirão tem a bica; na Chácara do Céu vai lá na igreja’. É difícil porque é uma trilhazinha, ‘eu quero ir lá assim mesmo, como é que a história disso aqui?’ O pessoal sempre queria saber, então a gente começou a observar aquilo (...) e eu, a Mauriléia e a Cida (...) ‘por que a gente não faz um projeto sobre guia turístico para as comunidades, não para a rua, mas para as comunidades?’ Porque a nossa intenção era fazer um projeto com adolescente, onde eles aprendessem tudo sobre a comunidade, sobre a história da comunidade, a memória da comunidade, a história, tudo, e depois eles fossem os guias dessas pessoas que viessem, seriam guias turísticos na comunidade, a gente pensou até isso, colocamos até lá, guias turísticos na comunidade, um projeto para adolescentes”.

O projeto Condutores de Memória produziu dois filmes com depoimentos de moradores e dois livros, em parceria com o Ibase e apoio da ONG Oxfam-Novib. É possível localizar os livros online, em pdf, no site do Ibase e os vídeos apenas em acervo com as organizadoras.

Um dos projetos de continuidade do Condutores era a construção do Centro de Memória da Grande Tijuca. Um espaço que poderia ajudar no processo de construção de um novo olhar sobre a história das favelas, levando em consideração a experiência de vida e o ponto de vista das moradoras e dos moradores dessas comunidades como atores sociais. Um local para guardar e conservar o acervo reunido pelo Condutores de Memória, além de servir como espaço para a realização de atividades culturais e educativas.