https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Especial:P%C3%A1ginas_novas&feed=atom&hideredirs=1&limit=50&offset=&namespace=0&username=&tagfilter=&size-mode=max&size=0Dicionário de Favelas Marielle Franco - Páginas novas [pt-br]2024-03-29T12:52:44ZPor equipe do Dicionário de Favelas Marielle FrancoMediaWiki 1.39.5https://wikifavelas.com.br/index.php/S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_de_Meriti:_Distopia_Gera_UtopiaSão João de Meriti: Distopia Gera Utopia2024-03-29T02:27:12Z<p>Raiane Alabaces: Adicinei tabelas, imagens e gráficos.</p>
<hr />
<div>Você já deve ter ouvido que o município de São João de Meriti é o Formigueiro das Américas, certo? Também suponho que você já deve ter escutado por aí, sobre a violência da cidade, sobre a incapacidade de administração dos políticos e até sobre a superlotação da única Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Jardim Íris. Como moradora, eu vivencio tudo isso; mas como educadora popular, eu também acredito que essa distopia gera utopia. Então leitoras e leitores, aceite esse convite e vem conhecer São João de Meriti. <br />
<br />
Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que a cidade de São João de Meriti é formada por 440.962 pessoas. Historicamente, a organização espacial da cidade era composta de capelas religiosas e por fazendas produtoras de mandioca, milho e feijão. O município teve sua emancipação em 1947 e atualmente possui 21 (vinte e um) bairros (Tabela 1). <br />
<br />
O significado da palavra distopia corresponde a lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de privação, opressão e desespero. Busca-se aqui relacionar a violência contra a juventude e as condições urbanas do território meritiense, como uma privação de território seguro e saudável. O Atlas da Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), apresenta que de 2017 até 2021, São João de Meriti teve 513 homicídios de jovens. O maior número de óbitos ocorreu em 2017, com 126 e a menor porcentagem ocorreu em 2019, com 70 vítimas (gráfico 1).<br />
{| class="wikitable"<br />
|+Tabela1: Bairros de São João de Meriti<br />
!'''Bairros de São João de Meriti'''<br />
|-<br />
|1. Agostinho Porto<br />
|-<br />
|2. Centro<br />
|-<br />
|3. Coelho da Rocha<br />
|-<br />
|4. Éden<br />
|-<br />
|5. Engenheiro Belford<br />
|-<br />
|6. Grande Rio<br />
|-<br />
|7. Jardim Meriti<br />
|-<br />
|8. Jardim Metrópole<br />
|-<br />
|9. Jardim Sumaré<br />
|-<br />
|10. Parque Alian<br />
|-<br />
|11. Parque Analândia<br />
|-<br />
|12. Parque Araruama<br />
|-<br />
|13. Parque Novo Rio<br />
|-<br />
|14. Parque Tietê<br />
|-<br />
|15. São Mateus<br />
|-<br />
|16. Tomazinho<br />
|-<br />
|17. Venda Velha<br />
|-<br />
|18. Vila Norma<br />
|-<br />
|19. Vila Rosali<br />
|-<br />
|20. Vilar dos Teles<br />
|-<br />
|21. Vila Tiradentes<br />
|}<br />
O significado da palavra distopia corresponde a lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de privação, opressão e desespero. Busca-se aqui relacionar a violência contra a juventude e as condições urbanas do território meritiense, como uma privação de território seguro e saudável. O Atlas da Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), apresenta que de 2017 até 2021, São João de Meriti teve 513 homicídios de jovens. O maior número de óbitos ocorreu em 2017, com 126 e a menor porcentagem ocorreu em 2019, com 70 vítimas (gráfico 1).<br />
[[Arquivo:Dado 1.jpg|alt=Fonte de Dados: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2024.|miniaturadaimagem|'''Gráfico 1:''' Homicídios de Jovens no Município de São João de Meriti]]<br />
Sob a perspectiva de gênero, 494 vítimas foram homens e 19 foram mulheres. O maior número de homicídios de homens ocorreu em 2017 com 126 vítimas, e o menor número ocorreu em 2019, com 70 óbitos. A maior porcentagem de homicídios de mulheres aconteceu em 2018, com 7 vítimas. Essa porcentagem se destaca de outros anos, que possui um quantitativo igual de 3 homicídios a cada ano (gráfico 2). <br />
[[Arquivo:Gráfico II.jpg|alt=Fonte de Dados: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2024.|miniaturadaimagem|'''Gráfico 2:''' Homicídios de Jovens Por Gênero no Município de São João de Meriti]]<br />
São João de Meriti possui 94,20% de esgotamento adequado e 46,90% de urbanização de vias públicas. Esse último dado visibiliza ruas que não possuem pavimentação, que nos períodos de alagamento, moradores tem suas casas inundada de água suja e argilosa. Essas informações revelam a ausência de administração política do local, onde obras de infraestrutura urbana não são realizadas e os reparos não são mantidos. Em paralelo, o impacto climático está presente no nosso cotidiano e apresenta uma paisagem típica do racismo ambiental.<br />
<br />
[[Arquivo:Alagamento em São João de Meriti em 2008.jpg|alt=Foto: Thiago Perasso Gouveia dos Santos, 2008.|centro|semmoldura|Crianças brincam em rua alagada de São João de Meriti]]<br />
<br />
<br />
<br />
Diante de tantas distopias no território meritiense, a utopia surge através da educação. Segundo dados do Censo Escolar de 2021, O Indice de Desenvolvimento de Educação Básica de anos iniciais e de 4,6 e de anos finais é de 4,3, isso significa que a qualidade de educação de São João de Meriti está na média do desempenho nacional. Nessa perspectiva, o censor escolar serve para comprovar que a educação pública tem qualidade, e que atualmente está passando por uma reforma (Novo Ensino Médio) injusta e que desqualifica os estudantes. <br />
<br />
Por outro lado, a educação popular é um movimento político pedagógico que permite o ingresso na educação superior, através de cursos preparatórios. Esse movimento além conduzir para a universidade, permite uma construção crítica da realidade. Cabe ressaltar ainda, que de acordo com o Mapeamento de Pré-Vestibulares Populares da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, São João de Meriti possui 12 pré-vestibulares populares. Nesse ritmo, o associativismo juvenil tem como objetivo construir não só uma cidade segura, como também saudável, através da educação popular e da conscientização social sobre a atual conjuntura de São João de Meriti.</div>Raiane Alabaceshttps://wikifavelas.com.br/index.php/A_Reforma_Pereira_Passos_e_a_forma%C3%A7%C3%A3o_da(s)_Favella(s)A Reforma Pereira Passos e a formação da(s) Favella(s)2024-03-28T20:39:43Z<p>Clarapmacedo: acrescentar informação</p>
<hr />
<div>Durante a década de 1970 e 1980, muitas pesquisas foram realizadas principalmente nos departamentos de História Social da UFF e no departamento de Planejamento Urbano da UFRJ, visando contribuir na apresentação de uma narrativa historiográfica sobre o processo de construção da cidade e de gestão da pobreza urbana no Rio de Janeiro. Essas pesquisas foram amplamente realizadas a partir da análise de documentos disponibilizados no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, e em comum possuem uma perspectiva baseada na análise de Engels (2008) para pensar a produção do espaço e a relação entre as classes nesse meio. Através da teoria engeliana (2008), os autores da década de 1980 buscaram refazer a dramaturgia da pobreza urbana carioca durante a passagem da economia escravagista e agrária para a economia capitalista e industrial. Os autores desse período buscaram as relações que explicitavam os interesses do capital estrangeiro e imobiliário na especulação e intervenção na cidade e no modo de vida da população pobre na virada do século XIX para o século XX. A década de 1980 inaugurou, também, a perspectiva histórico-social sobre a história da transformação do espaço urbano carioca, lançando luz sobre os trabalhos realizados nas áreas da Geografia e Arquitetura do período, que frisavam em suas pesquisas a constituição do espaço físico em si. Através da utilização de fontes que possibilitaram a reconstrução das tramas sociais e dos agentes envolvidos na transformação do espaço urbano, é que os autores dessa década deixaram sua marca na historiografia sobre a cidade do Rio de Janeiro. Uma das marcas desta historiografia urbana, tema a ser explorado neste verbete, é a relação entre a Reforma Pereira Passos e a formação das favelas cariocas. Essa narrativa até hoje se consolida hegemonicamente na análise histórica da formação urbana do Rio de Janeiro. Nomes como Maurício Abreu, Sidney Chalhoub, Oswaldo Porto Rocha, Larry Benchimol e Lia Carvalho são considerados indispensáveis na compreensão da história urbana carioca. Através de seus trabalhos, a imagem do bota-abaixo se cristalizou e se confundiu com a história de formação das favelas do Rio de Janeiro. A partir da discussão sobre habitação, o surgimento da favela enquanto um problema apresentado por Abreu (1987), Benchimol (1982), Carvalho (1980) e Rocha (1983) foi o resultado de um processo da própria reforma urbana, apresentada como a contradição gerada por uma reforma que criou mecanismos, técnicas e regras que tornaram difíceis a habitação das populações pobres na cidade reformada. Os autores atribuíram, utilizando diferentes fontes para suas argumentações, o sentido da Reforma ao controle de circulação das mercadorias e do espaço urbanístico almejado, visando a articulação do Brasil à economia capitalista mundial. As favelas expressam, na visão desses autores, a contradição entre o avanço das obras da Reforma que determinaram o arrasamento dos quarteirões do centro, refúgio dos cortiços e moradias das classes pobres urbanas, para as obras de circulação de mercadorias na cidade (abertura de vias largas, obras no porto); e na sua dimensão urbanística através de leis, decretos e regimentos, que regulamentavam e ordenavam toda a construção civil no distrito federal, baixados durante o período. De maneira direta, essas questões dificultavam a permanência das habitações populares na nova cidade planejada e executada pelos reformadores. Nesse sentido, favela é interpretada como uma contradição à ordem da fúria demolidora, imposta por ela, contrapondo a tentativa de controle total sobre o espaço realizado pelo Estado e pelos setores privados de interesse capitalista. Ocupa um pequeno espaço da produção intelectual sobre a reforma urbana, mas é analisada como contraponto direto na solução para o problema habitacional das camadas mais pobres que necessitavam acessar os empregos ofertados no centro da cidade. Nesse sentido, a reforma urbana de Pereira Passos é apresentada pelos autores da década de 1980 pelas lentes das políticas habitacionais (e contra às habitações) colocadas em prática no período. A partir da abordagem dessa dimensão da reforma, os autores observaram as favelas surgindo enquanto uma contradição da ordem que a reforma objetivava legitimar na construção do espaço urbano.<br />
<br />
'''<br />
<big>Referências Bibliográficas:</big>'''<br />
<br />
ABREU, M. d. A. Evolução urbana no rio de janeiro. 1987.<br />
<br />
BENCHIMOL, J. L. Pereira passos, um haussmann tropical: a renovação urbana da cidade do<br />
rio de janeiro no início do século xx. 1992<br />
<br />
CHALHOUB, S. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro<br />
da belle époque. [S.l.]: Editora da UNICAMP, 1985.<br />
<br />
ROCHA, O. P.; CARVALHO, L. de A. A era das demolições: cidade do Rio de Janeiro,<br />
1870-1920. [S.l.]: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura . . . ,<br />
1995.</div>Clarapmacedohttps://wikifavelas.com.br/index.php/Novas_formas_de_fazer_arte,_cultura_e_comunica%C3%A7%C3%A3o_nas_favelas_(livro)Novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas favelas (livro)2024-03-28T13:21:54Z<p>Gabriel: /* Publicação na íntegra */</p>
<hr />
<div>A publicação "Novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas favelas' traz as produções artístico-culturais e de comunicação que foram selecionados pela chamada pública de mesmo nome, criado pela [[Redes da Maré]]. Os artistas e comunicadores, junto com seus trabalhos, constituem um grupo que pensa e vive o sonho de uma cidade mais plural, bela e democrática. Nessa cidade, a arte, a cultura e a comunicação são reconhecidas como possibilidades para encontros entre pessoas de cores, gêneros, idades, raças, religiões e pensamentos diferentes. Pessoas que podem e devem conviver e colaborar para construir um mundo melhor. Aproveitem!<br />
Autoria: Redes da Maré.<br />
<br />
== Apresentação ==<br />
Com a crise gerada pela [[Coronavírus nas favelas|pandemia da COVID-19]], os problemas que afetaram a área da saúde logo se estenderam para a economia, trabalho e renda, se expandindo para todos os campos da vida. Certamente, uns dos setores mais afetados são o da arte e cultura e o da comunicação. Isso porque, como forma de conter o avanço da doença e evitar as aglomerações, muitos museus, centros culturais, cinemas, teatros, casas de espetáculo, galerias, ateliês, jornais e revistas foram fechados. <br />
<br />
Tanto o público como artistas se viram desamparados da noite para o dia, principalmente porque o Estado brasileiro não desenvolveu políticas de proteção para as pessoas e coletivos que produzem arte, cultura e comunicação. <br />
<br />
A situação foi ainda mais grave para artistas e comunicadores populares das periferias e favelas. Sem acesso aos patrocinadores ou ao seu público, os “artistas periféricos” se viram numa situação limite, não podendo manter sua produção e tendo seu sustento ameaçado por completa falta de renda. <br />
<br />
Diante dessa situação, a Redes da Maré criou o projeto “Chamada Pública: novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas favelas”, como uma ação dentro da campanha “Maré diz NÃO ao Coronavírus”. A intenção principal foi reconhecer e fortalecer ações na Maré nesse campo, ajudando artistas e comunicadores locais a manter suas ações.<br />
<br />
Através de um edital público, artistas e comunicadores da Maré puderam apresentar projetos para receber apoio financeiro e uma “mentoria”, ou seja, um acompanhamento com especialistas em suas áreas de atuação. Durante o processo de seleção foram recebidos 91 projetos, sendo 86 validados, e selecionados 31 para receber apoio. <br />
<br />
A escolha dos premiados foi feita por uma banca de especialistas que se desdobrou para selecionar as melhores propostas. De fato, essa escolha não foi fácil, dada a qualidade dos trabalhos apresentados e de sua enorme diversidade, já que eles contemplavam áreas como: artes plásticas, música, audiovisual, podcast, literatura, teatro, foto, texto, dança e desenho.<br />
<br />
Todo o processo mostrou de maneira contundente que na Maré há uma riquíssima e intensa produção artística e de comunicação. Foram identificados coletivos, pessoas e instituições que produzem uma gama variada e belíssima de trabalhos que precisam ser conhecidos na cidade e no país. Isso porque são trabalhos únicos que trazem novidades para a cena artístico-cultural e de comunicação que podem influenciar novas produções para renovar a arte, a cultura e a comunicação, mesmo no momento de crise pelo qual passamos. <br />
<br />
A importância de apoiar artistas e comunicadores ficou evidente após pesquisa realizada antes e depois do apoio aos projetos selecionados. Ao perguntar sobre os efeitos da pandemia, por exemplo, o principal resultado foi que apesar das premiações não serem suficientes para reverter os efeitos mais graves da crise, elas permitiram a continuidade dos projetos selecionados. É o que se deduz quando 50% dos entrevistados disseram que o edital viabilizou o desenvolvimento de atividades, 10% que diminuiu os riscos de longo prazo e 10% que auxiliou em novos modelos de negócios. <br />
<br />
Por outro lado, os resultados dessa pesquisa mostram que sozinhas, as ações de instituições da sociedade civil não são suficientes para garantir a produção artística, cultural e de comunicação, principalmente em tempos de crise. Elas são fundamentais, mas não substituem a urgência de políticas públicas orientadas no sentido de incentivar a arte, cultura e comunicação na [[Complexo da Maré|Maré]] e nas favelas. O ideal é que as ações da sociedade civil sejam somadas às do poder público para fortalecer o território, no caso a Maré, como um polo irradiador de arte, cultura e comunicação para a cidade e o país.<br />
<br />
Assim, a importância da ‘Chamada Pública: novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas favelas’ está no incentivo e ampliação das possibilidades para que os olhares, os textos, os sons, as texturas e as cores da Maré se expressem em toda a sua plenitude e força. Esse movimento permite também a integração/ interação dessa produção artística e de comunicação da Maré na cidade. Isso é feito sempre a partir de uma visão única e multidimensional sobre a vida na favela e suas muitas relações com o restante da cidade. <br />
<br />
Por fim, o que o leitor tem em suas mãos é um trabalho que apresenta uma produção artístico-cultural e de comunicação riquíssima, singular e potente. Aproveite!<br />
<br />
== Publicação na íntegra ==<br />
<pdf height="1200" width="800">File:Novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas favelas.pdf</pdf><br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Arte, Cultura e Saúde Mental - cidadania, emancipação e criatividade (Manguinhos)]]<br />
* [[Comunicação popular: quem faz? (filme)]]<br />
* [[Redes da Maré]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Artes]]<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Conjunto de Favelas da Maré]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Livros]]</div>Gabrielhttps://wikifavelas.com.br/index.php/BrotarBrotar2024-03-27T23:44:38Z<p>Gabriel Ferreira Fernandes: "BROTA AQUI!" Mobilidade Periférica</p>
<hr />
<div>Refere-se a aparecer ou surgir de repente em algum lugar. Quando alguém diz que vai "brotar" em um determinado local, significa que essa pessoa planeja aparecer lá sem aviso prévio ou de forma casual. Tal verbete toma como referência a metamorfoses das plantas. Que pode ser interpretar a expressão "brotar" como um modo de chegar nos lugares de forma espontânea, como as plantas brotam e crescem naturalmente em seu ambiente. Assim, ao usar essa gíria neste contexto, pode-se estar se referindo a uma forma de se locomover de maneira despreocupada, sem planejamento prévio, como se adaptando às circunstâncias, assim como as plantas se adaptam ao seu ambiente para crescer e se desenvolver.</div>Gabriel Ferreira Fernandeshttps://wikifavelas.com.br/index.php/Sobrevivente_do_c%C3%A1rcereSobrevivente do cárcere2024-03-27T22:03:19Z<p>Joyce Gravano: Sobreviventes do sistema prisional</p>
<hr />
<div>'''Texto em negrito'''<br />
Sobrevivente do cárcere : Muitos usam o termo , ex presidiário , ex detento , egresso do sistema mas para as pessoas que durante algum momento de sua vida estiveram privados de liberdade , a expressão que mais os define seria “ sobreviventes do cárcere” .Alguém que apesar de todas as agruras sofridas , de toda violência física e psicológica a que foi exposto, sobreviveu .</div>Joyce Gravanohttps://wikifavelas.com.br/index.php/MACquinhoMACquinho2024-03-27T20:47:41Z<p>Luisffrs: Criou página com 'O Centro Cultural de Cidadania e Economia Criativa, carinhosamente conhecido como '''MACquinho''', prédio projetado por Oscar Niemeyer, ganhou este apelido por estar localizado de frente para o Museu de Arte Contemporânea - MAC. Sendo a única obra do arquiteto construída em uma favela, no Morro do Palácio em Niterói. Inaugurado em 2009 com o objetivo de democratizar o acesso a cultura na cidade, para além de oferecer cursos de qualificação. Atualmente o espaço...'</p>
<hr />
<div>O Centro Cultural de Cidadania e Economia Criativa, carinhosamente conhecido como '''MACquinho''', prédio projetado por Oscar Niemeyer, ganhou este apelido por estar localizado de frente para o Museu de Arte Contemporânea - MAC. Sendo a única obra do arquiteto construída em uma favela, no Morro do Palácio em Niterói. Inaugurado em 2009 com o objetivo de democratizar o acesso a cultura na cidade, para além de oferecer cursos de qualificação. Atualmente o espaço recebe shows, oficinas de música, artes visuais, rodas culturais. O espaço ainda possui uma das vistas mais lindas da cidade.</div>Luisffrshttps://wikifavelas.com.br/index.php/Recursos_da_Sa%C3%BAde_B%C3%A1sica_na_Mar%C3%A9_-_An%C3%A1lise_de_dados_sobre_o_or%C3%A7amento_municipal_e_a_estrutura_das_Unidades_de_Sa%C3%BAde_da_Mar%C3%A9_(pesquisa)Recursos da Saúde Básica na Maré - Análise de dados sobre o orçamento municipal e a estrutura das Unidades de Saúde da Maré (pesquisa)2024-03-27T19:58:50Z<p>Gabriel: /* Publicação na íntegra */</p>
<hr />
<div>Publicação produzida pela [[Redes da Maré]] que reúne dados sobre as unidades de saúde básica que atuam na [[Complexo da Maré|Maré]] e analisando suas estruturas e o orçamento de cada unidade.<br />
Autoria: Redes da Maré.<br />
<br />
== Introdução ==<br />
Sabemos que a saúde básica é um direito de todas e todos brasileiros e é dever do Estado. O Sistema Único de Saúde (SUS) proporciona o acesso universal ao sistema de saúde pública, sem discriminação, e no Rio de Janeiro a prefeitura coordena e planeja o SUS em nível municipal, para atuação na atenção básica em saúde, ou seja, na promoção de saúde e prevenção de doenças. O modelo adotado pela Prefeitura do Rio de Janeiro para atuar na atenção básica tem sido alinhado à Estratégia Saúde da Família e à Política Nacional de Saúde da Família. Mas como isso ocorre na ponta? Recebemos todos nós as mesmas condições de acesso à saúde? <br />
<br />
Este Análises reúne dados sobre as unidades de saúde básica que atuam na Maré para entender como são preparadas para garantir o pleno acesso à saúde aos moradores da região. Sabemos dos desafios que profissionais e gestores da saúde enfrentam diariamente para atender a população com recursos cada vez menores e, muitas vezes, com estruturas precarizadas por falta de investimentos. Por isso, é importante compreender o que está por trás destas condições e identificar como reivindicar melhores distribuições de recursos humanos e financeiros.<br />
<br />
== Publicação na íntegra ==<br />
<pdf height="1200" width="800">File:Recursos da Saude Basica na Mare.pdf</pdf><br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Saúde no Complexo do Alemão]]<br />
* [[Saúde na Favela numa Perspectiva Antirracista (cartilha)]]<br />
* [[Redes da Maré]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Saúde]]<br />
[[Categoria:Temática - Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Conjunto de Favelas da Maré]]<br />
[[Categoria:Saúde Pública]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Gabrielhttps://wikifavelas.com.br/index.php/Meu_Respirar_-_Ka%C3%AA_Guajajara_(m%C3%BAsica)Meu Respirar - Kaê Guajajara (música)2024-03-27T18:56:48Z<p>Danilosanntos: Apresentação da música da artista indígena-favelada Kaê Guajajara. Oriunda do Complexo da Maré e que trás em suas letras inspirações e denúncias sobre a colonialidade e seus impactos ainda presentes na sociedade e com elas busca conscientizar seus ouvintes para que compreendam a dimensão dessa problemática social e cultural brasileira.</p>
<hr />
<div>"Meu Respirar" canção da artista, cantora, compositora e atriz indígena-favelada Kaê Guajajara do complexo da Maré no Rio de Janeiro. Nascida no Maranhão, Kaê vem ainda criança para o Rio de Janeiro, no complexo da Maré. Suas letras são inspirações para povos indigenas e favelados, e trás nas suas letras temas relacionados a saúde, vivência, meio ambiente mesclando sua existência indinega e favelada como uma encruzilhada de sentimentos e inspirações se somam para combater as narrativas coloniais ainda tão presentes no Brasil. Meu Respirar é o terceiro clipe do álbum visual Kwarahy Tazyr e aborda situações vivênciadas por populações de favelas, indígenas e preriféricas na pandemia da covid-19, como forma de denúncia as muitas negligências sofridas por essas populações em especial a favelada, relacionando a pandemia como consequência dos atos exploratórios da natureza. Abaixo segue a letra, clipe e ficha técnica. <br />
<br />
'''Meu Respirar'''<br />
<br />
''Kaê Guajajara''<br />
<br />
Eu encho o pulmão de ar<br />
<br />
Mas não é mais suficiente<br />
<br />
O ar que você me impôs<br />
<br />
Já não me contempla<br />
<br />
Eu quero respirar, eu já estive aqui antes<br />
<br />
Os mesmos ares<br />
<br />
Mas nenhum deles me lembram o seu cheiro<br />
<br />
No pós apocalipse onde te compram pra curar<br />
<br />
Mas pisam no cimento tentando conectar<br />
<br />
Engole mais veneno tentando conectar<br />
<br />
Na verdadeira conexão<br />
<br />
Eu ouço tua voz dentro de mim<br />
<br />
Me silêncio e deixo a tua voz falar<br />
<br />
Levar, lavar, tudo aquilo que não soma<br />
<br />
Entre garfos, roupas e o falso bem estar<br />
<br />
Tudo que existe pra me afastar<br />
<br />
Se no pulmão do mundo tá faltando ar<br />
<br />
Imagina, imagina<br />
<br />
Imagina se fosse por vingança<br />
<br />
Sofre pra soltar a reparação<br />
<br />
Imagina perder a herança<br />
<br />
Herança banhada no sangue do meu povo<br />
<br />
Imagina se fosse por vingança<br />
Sofre pra soltar a reparação<br />
<br />
Imagina perder a herança<br />
<br />
Herança banhada no sangue do meu povo<br />
<br />
Desde que nascemos estamos lutando<br />
<br />
Pagando água antes de saber meu nome<br />
<br />
Pagando ar antes de saber meu nome<br />
<br />
Pagando estar na terra antes do meu nome<br />
<br />
Me apagando antes de eu sequer ter nome<br />
<br />
Me matou e eu só tinha o teu nome<br />
<br />
Já nasci e o roubo é meu sobrenome<br />
<br />
Morrendo tentando chamar atenção<br />
<br />
De quem me roubou<br />
<br />
Entrando no game pra ver se eu sobrevivo<br />
<br />
Mais um segundo<br />
<br />
Imagina se fosse por vingança<br />
<br />
Sofre pra soltar a reparação<br />
<br />
Imagina perder a herança<br />
<br />
Herança banhada no sangue do meu povo<br />
<br />
Imagina se fosse por vingança<br />
<br />
Sofre pra solta a reparação<br />
<br />
Imagina perder a herança<br />
<br />
Herança banhada no sangue do meu povo<br />
<br />
Não é uma segunda onda<br />
<br />
É o dilúvio inteiro<br />
<br />
Se destruiu<br />
<br />
Sangue virando dinheiro<br />
<br />
As telas só gravaram as consequências<br />
<br />
Ninguém foi lá filmar a vivência<br />
<br />
Ninguém filmou as mortes no chão<br />
<br />
Ninguém filmou a escravidão<br />
<br />
Ninguém filmou tua mentira e ilusão<br />
<br />
Que traga vidas até hoje<br />
<br />
Rouba até hoje<br />
<br />
Mata, desmata até hoje<br />
<br />
Não tem justiça até hoje.<br />
<br />
<br />
[https://www.youtube.com/watch?v=sssJSpQY7fU Meu Respirar - Kaê Guajajara] (Videoclipe Oficial)<br />
<br />
'''Ficha técnica:''' <br />
<br />
Selo Azuruhu Direção: Kandú Puri Assistente de direção e fotografia: Tayná Sampaio Câmera 1: Kandu Puri Edição divulgação e making of: Abi Poty Roteiro: Kaê Guajajara e Kandú Puri Edição: Kandu Puri Colorização: Kandu Puri Direção de Arte e Styling: Sofia Gama Beleza: Luisa Kwarahy Tipografia: @dewaneios_ Assessoria: Lisi Barros Assistente de produção I - Lisi Barros Comunicação: Esther Querat Cathering: Lisi Barros Produção Executiva: Azuruhu Apoio: Aldeia Maracanã / Museu da Maré / Centro de Artes da Maré (CAM).<br />
<br />
Referencias:<br />
<br />
Guajajara, Kaê. Meu Respirar, 2022. Disponivel em: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=sssJSpQY7fU<br />
<br />
Kwarahy Tazyr: Kaê Guajajara lança primeiro álbum visual indígena da música brasileira. Disponível em: [https://disconversa.com/materias/kwarahy-tazyr-kae-guajajara-lanca-primeiro-album-visual-indigena-da-musica-brasileira/#:~:text=O%20premiado%20e%20elogiado%20%E2%80%9CKwarahy,em%20forma%20de%20%C3%A1lbum%20visual. https://disconversa.com/materias/kwarahy-tazyr-kae-guajajara-lanca-primeiro-album-visual-indigena-da-musica-brasileira/#:~:text=O%20premiado%20e%20elogiado%20%E2%80%9CKwarahy,em%20forma%20de%20%C3%A1lbum%20visual.]<br />
<br />
.</div>Danilosanntoshttps://wikifavelas.com.br/index.php/Ainda_(g%C3%ADria)Ainda (gíria)2024-03-27T17:24:07Z<p>Tarini Faria: Criou página com 'Gíria carioca, que surgiu pelo ano de 2020, usada principalmente por adolescentes e jovens das periferias, o termo "ainda" é usado como afirmativa ou confirmação. Amplamente difundida pelo cantor rapper L7nnon, que utiliza a gíria na sua comunicação, no qual o mesmo já deu entrevistas em podcast falando do significado da gíria e a forma correta de usar no dia-a-dia.'</p>
<hr />
<div>Gíria carioca, que surgiu pelo ano de 2020, usada principalmente por adolescentes e jovens das periferias, o termo "ainda" é usado como afirmativa ou confirmação.<br />
Amplamente difundida pelo cantor rapper L7nnon, que utiliza a gíria na sua comunicação, no qual o mesmo já deu entrevistas em podcast falando do significado da gíria e a forma correta de usar no dia-a-dia.</div>Tarini Fariahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Impacto_da_IA_nas_favelas._Desafios_e_oportunidadesImpacto da IA nas favelas. Desafios e oportunidades2024-03-27T17:10:27Z<p>Maurício Pavan: Criou página com 'Impacto da Tecnologia nas Favelas: Desafios e Oportunidades Vamos abordar a influência crescente da tecnologia, em particular da inteligência artificial (IA), nas comunidades das favelas. As favelas são espaços urbanos caracterizados por desafios socioeconômicos, incluindo exclusão social, desigualdade e acesso limitado a serviços básicos. A introdução da tecnologia, especialmente da IA, apresenta tanto oportunidades quanto desafios únicos para essas comunida...'</p>
<hr />
<div>Impacto da Tecnologia nas Favelas: Desafios e Oportunidades<br />
<br />
Vamos abordar a influência crescente da tecnologia, em particular da inteligência artificial (IA), nas comunidades das favelas. As favelas são espaços urbanos caracterizados por desafios socioeconômicos, incluindo exclusão social, desigualdade e acesso limitado a serviços básicos. A introdução da tecnologia, especialmente da IA, apresenta tanto oportunidades quanto desafios únicos para essas comunidades. Por um lado, a tecnologia pode oferecer soluções inovadoras para problemas como segurança, transporte e acesso a serviços básicos, melhorando a qualidade de vida dos residentes das favelas. Por outro lado, há preocupações sobre a implementação ética e equitativa da tecnologia, garantindo que ela não reproduza ou amplifique as desigualdades existentes. É essencial adotar uma abordagem inclusiva e responsável, envolvendo as comunidades locais no desenvolvimento e implementação de soluções de tecnologia, além de investir em programas de capacitação e educação em tecnologia nas favelas. Ao fazer isso, é possível promover o desenvolvimento sustentável e a justiça social, capacitando as comunidades das favelas a enfrentar os desafios do mundo digital e aproveitar as oportunidades oferecidas pela tecnologia para um futuro mais igualitário e equitativo.</div>Maurício Pavanhttps://wikifavelas.com.br/index.php/CrialismoCrialismo2024-03-27T16:54:45Z<p>Dede história: Crialismo a arte do século XXI</p>
<hr />
<div>Crialismo é o conceito que os bairros africanos, quilombos contemporâneos, periferias ou favelas produzem arte diante desse local que consome tecnologia diante da sociedade capitalista que os oprime e como se tem vida diante do biopoder do Estado brasileiro nesse território. O crialismo é arte voltada para as favelas que produz uma educação descolonizadora sendo referência para si e para outros. Crialismo nada mais é do que o favelado retratar sua vida em cores vibrantes e pertinententes a sua retina.</div>Dede históriahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Ciberativismo_negroCiberativismo negro2024-03-27T15:59:54Z<p>Estevão: Criou página com 'Ciberativismo negro - uso de ferramentas digitais, sites, redes sociais, podcasts, entre outros, para difundir espectros e práticas contra hegemônicas, em várias esferas da natureza humana. Ações afrocentradas, de matriz de África ou afrodisporico, de natureza cultural, política, ancestral e filosófica.'</p>
<hr />
<div>Ciberativismo negro - uso de ferramentas digitais, sites, redes sociais, podcasts, entre outros, para difundir espectros e práticas contra hegemônicas, em várias esferas da natureza humana. Ações afrocentradas, de matriz de África ou afrodisporico, de natureza cultural, política, ancestral e filosófica.</div>Estevãohttps://wikifavelas.com.br/index.php/BraboBrabo2024-03-27T00:43:26Z<p>Basquiat: Brabo: desenrolado</p>
<hr />
<div>Aquele é desenrolado, se destaca no meio dos meninos, dos moradores. Indivíduo que detém sabedoria e conhecimentos para resolver problemas rápidos, com presteza. Aquele que executa bem um trabalho ou função, que faz diferente e bem feito as coisas em qualquer situação que se apresente.</div>Basquiathttps://wikifavelas.com.br/index.php/Dia_da_Favela:_comemorar_a_resist%C3%AAnciaDia da Favela: comemorar a resistência2024-03-26T19:20:17Z<p>Nsmiranda: A Federação de Favelas do RJ celebra 60 anos de luta, em 2023. É fundamental dar visibilidade, divulgar, apoiar e fortalecer a história de resistência das faveladas e dos favelados. Na data de 04 de Novembro - Dia da Favela - vamos comemorar a nossa resistência e celebrar os nossos ancestrais.</p>
<hr />
<div>A Federação de Favelas do RJ celebra 60 anos de luta, em 2023. É fundamental dar visibilidade, divulgar, apoiar e fortalecer a história de resistência das faveladas e dos favelados. Na data de 04 de Novembro - Dia da Favela - vamos comemorar a nossa resistência e celebrar os nossos ancestrais.<br />
Autoria: Renata Souza <ref>Jornalista e doutora em Comunicação e Cultura, Renata Souza é cria da Favela da Maré. Feminista negra, preside a Comissão da Mulher da Alerj. Foi reeleita a deputada estadual mais votada da história.</ref> e Derê Gomes<ref>''* DERÊ GOMES é cria da Vila Cascatinha, Complexo da Penha, historiador formado pela UERJ, com mestrado em Planejamento Urbano pela UFRJ. Também é fundador da Ação Negra – Articulação Nacional do Movimento Negro Brasileiro e compõe a direção da Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro, a FAFERJ.''</ref>, por Mídia Ninja.<ref>[https://midianinja.org/renatasouza/dia-da-favela-comemorar-a-resistencia/ Mídia Ninja]</ref><br />
[[Arquivo:Foto- Raysa Castro - Jornal O Cidadão.png|miniaturadaimagem|Foto: Raysa Castro / Jornal O Cidadão]]<br />
<br />
== A Federação de Favelas do RJ celebra 60 anos de luta ==<br />
Novembro é um mês marcado por luta e resistência. Além de ser o mês da consciência negra, data reivindicada pelo [[Movimento Negro Unificado (MNU)|movimento negro brasileiro]] em memória de Zumbi dos Palmares, também é o mês da favela, em decorrência do Dia da Favela comemorado no dia 4 de novembro.<br />
<br />
Neste ano, 2023, o Dia da Favela merece um destaque especial, pois a Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro, a [[Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ)|Faferj]], entidade representativa de centenas de associações de moradores de favelas, completa 60 anos de existência e luta pela dignidade das favelas, por urbanização e saneamento, contra o massacre cotidiano e em defesa do Estado Democrático de Direito – no asfalto e nas favelas, onde ele nunca existiu.<br />
<br />
== Fafeg (Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara) ==<br />
Fundada em junho de 1963 como Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara (Fafeg), foi uma das primeiras organizações perseguidas pelo regime ditatorial instaurado em abril de 1964. Na ocasião do golpe, seu presidente teve de fugir e, durante a ditadura, várias de suas lideranças foram perseguidas e presas.<br />
<br />
A atuação da Fafeg no período foi fundamental para resistir a política urbana da ditadura que buscava aprofundar brutalmente as desigualdades nas cidades, e cuja principal expressão foi a política de [[Remoções de favelas no Rio de Janeiro|remoções]] forçadas que tinha o objetivo declarado de erradicar as favelas das áreas nobres do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Apesar dessa atuação, a Fafeg, atual Faferj, raramente entra nas memórias e narrativas dominantes sobre a ditadura, no rol de atores políticos e sociais que protagonizaram a resistência. Esse lugar é em geral ocupado por entidades de classe como a OAB e a ABI, por outras organizações de esquerda e pelo movimento estudantil, compostos majoritariamente por setores das classes médias altas urbanas, brancos e masculinos.<br />
<br />
== Apagamento de lutas ==<br />
Após o fim do governo Bolsonaro, estamos vendo mais uma vez um apagamento da luta daquelas e daqueles que estiveram na linha de frente da defesa do direito à vida nos últimos anos. No período Bolsonaro, segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP), os autos de resistência no período de Bolsonaro e Witzel/Castro (2019 a 2022) totalizam 5.742 mortos, apenas no estado do Rio de Janeiro. <br />
<br />
Foi nesse contexto que o estado vivenciou algumas das mais letais [[Linha do tempo das principais chacinas no Rio de Janeiro|chacinas]] de sua história, como as do [[Jacarezinho, Rio de Janeiro|Jacarezinho]] (maio de 2021, 28 mortos), [[Complexo de favelas da Penha|Complexo da Penha]] (maio de 2022, 24 mortos) e [[Complexo do Alemão|Alemão]] (julho de 2022, 19 mortos).<br />
<br />
Neste cenário, são o movimento de favelas e o movimento negro que têm chamado atenção para o fato de que esses dados não são compatíveis com um regime que se pretende democrático. Ações como a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (APDF) 635 e a luta pela obrigatoriedade de câmeras nos uniformes policiais, iniciativas das quais a Faferj participa e protagoniza, aparecem como ações fundamentais de resistência às graves violações aos direitos humanos do presente – e, portanto, como formas de luta pela garantia de um mínimo de Estado Democrático de Direito.<br />
<br />
== Dia 04 de Novembro: O que comemorar no dia da favela<ref>[https://www.redesdamare.org.br/br/artigo/219/o-que-comemorar-no-dia-da-favela Redes da Maré]</ref>? ==<br />
O dia 04/11 foi instituído pela lei estadual Nº 8.489 de 2019 como o “Dia da Favela”. No seu primeiro artigo a lei afirma que a data passa a integrar o calendário comemorativo do Estado do Rio de Janeiro, e nos artigos dois e três diz que o poder público fomentará (incentivará) a promoção de parcerias entre entidades públicas e privadas para a realização de eventos culturais no estado e nas escolas públicas em comemoração pelo dia da Favela.<br />
<br />
Porém antes de “comemorar”, precisamos pensar bem sobre o significado de um Dia da Favela no calendário oficial. Isso porque não se pode, em primeiro lugar, falar em favela sem entender do que estamos tratando. A favela existe há mais de cem anos no Rio de Janeiro e mesmo assim ainda é muito mal compreendida, sendo vista como um “problema” e como uma ameaça. Se olharmos para a construção do imaginário sobre a favela – melhor seria dizer as favelas, no plural, para expressar a diversidade delas – veremos que desde seu surgimento ela abrigou os mais pobres, os negros, os nordestinos e todos aqueles que não se enquadravam no que se chamava de “boa sociedade”.<br />
<br />
Precisamos ainda reconhecer que a origem das favelas remota às nossas desigualdades sociais, culturais, raciais e econômicas mais gritantes. Estudos recentes, por exemplo, apontam que morar numa favela pode significar menos 20 anos de vida quando comparado com a expectativa de vida de um morador de áreas mais ricas da cidade.<br />
<br />
Por isso, não há como “romantizar” as dificuldades enfrentadas pelos favelados. Desde o surgimento desses territórios populares no Rio de Janeiro, começando pela primeira favela, o Morro da Providência, as favelas sempre sofreram com o racismo e com o preconceito. E mesmo depois de tanto tempo, seus moradores e moradoras são, ainda hoje, tratados como cidadãos de segunda categoria. <br />
<br />
No entanto, cabe reconhecer a força da organização coletiva dos favelados e faveladas ao longo do tempo. Desde sempre elas e eles se acostumaram a lutar por seus direitos e a resistir a inúmeras tentativas de remoção e destruição de suas casas. Embora, muitas vezes, não tenham sido bem-sucedidos, pois acabaram perdendo a batalha para o Estado, que de mãos dadas com os especuladores imobiliários - interessados nos terrenos ocupados pelas favelas – retiraram milhares de moradores de mais de uma centena de favelas ao longo da história do Rio de Janeiro. <br />
<br />
Por isso, temos de ter cuidado quando ouvimos de algumas pessoas, talvez mais entusiasmados com a recente atenção que as favelas têm recebido da mídia - atenção nem sempre positiva -, quando afirmam “que a favela venceu”. Na verdade, isso ainda está para se consolidar, já que a luta dos favelados por direitos básicos, como o direito à vida, e por respeito tem de ser conquistados diariamente e com muita persistência. Lembremos que oficialmente – pela definição do IBGE - as favelas ainda são definidas como “aglomerados subnormais”.<br />
<br />
É verdade que os moradores e moradoras das favelas cariocas a cada dia avançam no sentido de construir lutas coletivas que enfrentam as desigualdades a que estão submetidos. Caso, por exemplo, da intensa mobilização realizada para dar conta, quase sozinhos, dos desafios da pandemia de Covid-19.<br />
<br />
Lutas como essa constroem ações cujo impacto melhora a vida dos favelados e, na sequência, podem ajudar a construir uma cidade mais justa e igualitária. Isso porque não há cidade sem a favela, ela é cidade. É desse território, a favela, de onde partem as maiores lições de solidariedade hoje. Essas lições ajudam na renovação das relações entre as pessoas e criam novas formas de sociabilidade e cultura, cada vez mais inclusivas e em redes de apoio que fogem dos padrões excludentes do mercado. <br />
<br />
A favela, sem deixar de reconhecer os inúmeros problemas estruturais pelos quais passa, é um lugar de riqueza, criatividade e de crença num futuro melhor. Se olharmos desse jeito para as mais de 1.300 favelas do estado do Rio de Janeiro, e poderíamos incluir também as favelas espalhadas pelo Brasil, teremos, aí sim, o que celebrar neste 4 de novembro.<br />
<br />
[[Redes da Maré]], Rio de Janeiro, 04 de novembro de 2021.<br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Rede Favela Sustentável]]<br />
<br />
[[Ocupa Alemão]]<br />
<br />
[[Empreendedorismo em favelas]]<br />
[[Categoria:Temática - Ativismo]]<br />
[[Categoria:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]<br />
[[Categoria:Dia da Favela]]<br />
[[Categoria:Resistência Negra]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Nsmirandahttps://wikifavelas.com.br/index.php/CUFA_-_Campanha_esporte_para_todosCUFA - Campanha esporte para todos2024-03-26T14:45:24Z<p>Nsmiranda: A CUFA lança o Esportes para todos no Rio de Janeiro e publica os editais de licitação para a realização de Oficinas de Esporte, em 2023.</p>
<hr />
<div>A [[Central Única das Favelas (CUFA)|CUFA]] lança o Esportes para todos no Rio de Janeiro e publica os editais de licitação para a realização de Oficinas de Esporte, em 2023.<br />
Autoria: Informações do verbete reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir do site oficial<ref>[https://cufa.org.br/a-cufa-lanca-o-esporte-para-todos/ Site Oficial, Cufa]</ref>.<br />
[[Arquivo:A CUFA lança o ESPORTE PARA TODOS.png|alt=A CUFA lança o ESPORTE PARA TODOS|miniaturadaimagem|A CUFA lança o ESPORTE PARA TODOS]]<br />
<br />
== Sobre a campanha ==<br />
<blockquote>CUFA - Postado em 16, de dezembro, de 2022.</blockquote>A CUFA lança o Esportes para todos no Rio de Janeiro e publica os editais <ref>[https://cufa.org.br/a-cufa-lanca-o-esporte-para-todos/ Editais - CUFA]</ref>de licitação para a realização de Oficinas de Esporte.<br />
<br />
Atenção empresas brasileiras e profissionais do estado do RJ: estão no ar os cinco editais de licitações para a realização do projeto ESPORTE PARA TODOS, na CUFA Madureira, Rio de Janeiro. <br />
<br />
O ESPORTE PARA TODOS consiste na realização de nove Oficinas direcionadas a crianças e adolescentes do Rio: Basquete, Capoeira, Futsal, Skate, Ginástica Rítmica, Circuito Funcional e MMA, que será realizado na CUFA Rio em 2023. A prorrogação do prazo de envio deve-se a editais ainda sem propostas para as licitações.<br />
<br />
== Objetivo do projeto ==<br />
A CUFA planeja estender o projeto "ESPORTE PARA TODOS" para o Parque Madureira, com as oficinas de Skate e Circuito Funcional, o intuito é aproximar as oficinas das comunidades e facilitar o acesso dos alunos. <br />
<br />
As atividades são gratuitas e as inscrições podem ser feitas de forma presencial na sede da entidade. O projeto ESPORTE PARA TODOS visa desenvolver atividades, promovendo o desenvolvimento físico e social através do esporte.<br />
<br />
O projeto ESPORTE PARA TODOS visa desenvolver atividades, promovendo o desenvolvimento físico e social através do esporte, pretendendo-se alcançar mais de 300 alunos em várias modalidades, como apontado via Jornal do Belém.<ref>[https://jornaldobelem.com.br/noticia/16399/central-unica-das-favelas-lanca-projeto--esporte-para-todos- Jornal do Belém]</ref><br />
<br />
== Qual a importância da Central Única de Favelas (CUFA)? ==<br />
''Por Jessica Alves em: 18 de julho, de 2023.'' <br />
<br />
'''Via Educa Mais Brasil'''<ref>[https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/qual-a-importancia-da-central-unica-de-favelas-cufa Educa Mais Brasil]</ref><br />
<br />
A importância da organização pode ser compreendida pelas ações que realiza nos âmbitos político, social, esportivo e cultural há mais de duas décadas. Durante a pandemia da [[Covid-19 em favelas cariocas: no limiar entre os direitos humanos e as desigualdades sociais (artigo)|Covid-19]], por exemplo, a CUFA dedicou uma ação social para ajudar mulheres por meio da campanha "Mães de Favela". Os recursos levantados beneficiaram mães de mais de 5 mil favelas do Brasil.<br />
<br />
A CUFA é reconhecida ainda por diferentes projetos sociais e ações humanitárias que desenvolve, entre alguns deles estão:<br />
<br />
• [[Taça das Favelas]]: competição de futebol de campo entre seleções compostas por jovens moradores de favelas do Brasil;<br />
<br />
• Taça da Favelas Free Fire: competição de Free Fire das Favelas que marcou a entrada da organização nos e-sports (esporte eletrônico);<br />
<br />
• Natal da CUFA: campanha voltada para arrecadar doações que são distribuídas para mais de 2 mil famílias;<br />
<br />
• Prêmio Pretos Empreendedores: iniciativas de pretos e pretas que geraram impactos ao país;<br />
<br />
• LIIBRA: Liga Internacional de Basquete de Rua foi criada em 2002 com o objetivo de oferecer a oportunidade de jovens de favelas e periferias mostrarem os talentos no esporte, dança e hip hop;<br />
<br />
• FLC: a instituição é referência na criação e idealização de atividades esportivas, uma delas é o Festival de Lutas da CUFA (FLC).<br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Associação de Cultura Arte e Esportes da Rocinha (ACAER Rocinha)]]<br />
<br />
[[Favela Radical]]<br />
<br />
[[Nação Basquete de Rua - NBR]]<br />
[[Categoria:Temática - Esporte]]<br />
[[Categoria:Temática - Favelas e Periferias]]<br />
[[Categoria:Esportes]]<br />
[[Categoria:Cufa]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Nsmirandahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Projeto_Tecendo_Di%C3%A1logos:_Grupo_de_Trabalho_Sa%C3%BAde_Mental_e_IntegralProjeto Tecendo Diálogos: Grupo de Trabalho Saúde Mental e Integral2024-03-20T14:12:04Z<p>Nsmiranda: </p>
<hr />
<div> Autoria: Equipe Tecendo Diálogos<br />
O grupo de trabalho atua na articulação das pautas mobilizadas pelo Fórum de Pré-vestibulares populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ) e do Fórum Favela Universidade (FFU). Compreende saúde de maneira integrada às condições de vida, segurança pública, território, moradia, empregabilidade, racismo, entre outros determinantes sociais. Busca realizar ações que fomentem a promoção da saúde através da tomada de consciência, do acesso e da garantia de direitos, da atuação coletiva e da organização popular, visando a incidência em políticas públicas, projetos e programas de saúde, educação e cultura voltados para as juventudes faveladas. Abaixo, algumas ações realizadas pelo Grupo de Trabalho:<br />
<br />
=== Cartografia ===<br />
A cartografia de narrativas surge a partir das discussões e formações realizadas nos encontros do GT de Saúde Mental articulando o Fórum Favela Universidade (FFU) e o Fórum de Prés Vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ), com apoio do projeto Tecendo diálogos e produzindo conhecimentos: Juventude, Favela, promoção da saúde, e educação superior.<br />
<br />
Trata-se de uma cartografia das narrativas, entendendo o que cada território e suas especificidades pensa e articula sobre saúde mental com o objetivo geral de estimular o acúmulo trazido das narrativas para dentro dos dispositivos já existentes no território e ampliá-los e de viabilizar o tema da saúde mental; discutindo através do conceito de promoção da saúde e saúde ampliada, assim como os determinantes sociais de saúde.<br />
<br />
O método de pesquisa utilizado foi qualitativo, realizado por meio de entrevistas semiestruturadas, com perguntas abertas e fechadas, em formato online. As entrevistas aconteceram no segundo semestre de 2021, com integrantes dos territórios da Baixada Fluminense, Zona Leopoldina, Zona Norte, Zona Oeste, Zona Sul e Centro do Rio de Janeiro, tendo o total de 18 participantes. O perfil de entrevistados contemplou profissionais terceirizados de faculdades e de dispositivos de saúde pública inseridos no território; profissionais de instituições parceiras ao GT de saúde mental (Pró- Reitoria de Extensão/PR-7 e professores universitários); profissionais de CAPS (Centros de Atenção Psicossocial dos territórios; profissionais de SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) que atuem nos territórios; moradores de favelas; moradores das periferias; famílias de estudantes e estudantes universitários.<br />
<br />
Nesta análise cartográfica, foi observado que praticamente todos os entrevistados expressaram um desejo pessoal de viver em uma cidade menos violenta, com educação de qualidade, um sistema de saúde público eficiente e segurança para explorar a cidade livremente, sem temores. Esses anseios estão alinhados com os princípios de uma sociedade democrática e igualitária. Os resultados desta pesquisa serão divulgados por meio de ações em diferentes territórios, buscando promover a saúde e a educação popular de maneira participativa e comprometida.<br />
<br />
=== Oficina na Educação Básica ===<br />
A oficina “Território e Saúde” fora realizada com duas turmas do ensino médio na Escola Bahia, no contexto da semana de educação para as relações étnico-raciais. A partir da percepção e das experiências cotidianas apontadas pelo corpo estudantil participante, falamos sobre pontos de cultura, educação, lazer, segurança pública, sonhos, expectativas e realidades do território da Maré, a questionar: como tudo isso dialoga com condições de saúde mental, física, integral? A Cartografia das Narrativas nos ajudou a refletir sobre pontos de diferença e interseções com territórios de outras partes da cidade.<br />
<br />
=== Encontro com a Comissão de Combate ao Racismo ===<br />
O trabalho em rede, junto a estudantes de universidades, escolas, pré-vestibulares populares e também com outros coletivos que se orientam pela pauta da saúde mental, é um dos interesses principais do GT. O encontro com a Comissão Especial de Combate ao Racismo da Câmara do Rio de Janeiro se deu entre essas articulações, uma roda de conversa propositiva, realizada na UERJ, para refletir práticas cotidianas e políticas públicas acerca de negritude e saúde mental.<br />
<br />
=== Seminários de Saúde Mental ===<br />
O seminário foi pelo eixo de saúde mental é a realização de seminário sobre ensino superior e saúde mental, com foco em estudantes provenientes de territórios de favelas e periferias, bem como militantes de movimentos sociais organizados nestes territórios. No dia 6 de agosto de 2022, o I Seminário de Saúde Mental do projeto Tecendo Diálogos ocorreu na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, na Fiocruz e contou com a participação de 130 pessoas, através das conferências e mesas redondas. Em 2023, o II Seminário de Saúde Mental foi realizado no Museu da Vida Fiocruz e contou com 192 pessoas, incluindo estudantes de pré-vestibulares populares, além do público que compõe a abrangência do Grupo de Trabalho.<br />
<br />
Além de defender a educação pública de qualidade, os Fóruns de Pré-Vestibulares Populares e Favela-Universidade também promovem a saúde e o bem-estar da população por meio de suas práticas educacionais. Eles entendem que a promoção da saúde é um direito humano fundamental e que a educação é um dos principais determinantes sociais desse direito. Por isso, buscam construir espaços de educação que promovam territórios saudáveis e sustentáveis, onde a saúde não seja apenas uma questão individual, mas também coletiva.<br />
<br />
==== I Seminário de Saúde Mental ====<br />
Local: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – Fiocruz. <br />
<br />
Data: 6 de agosto de 2022<br />
<br />
O I Seminário de Saúde Mental do Tecendo Diálogos marcou um momento crucial ao unir os dois Fóruns em um diálogo conjunto, destacando a importância do tema para promover saúde em favelas e periferias. Ao oferecer uma variedade de mesas e oficinas que exploraram questões como exaustão, saúde pública, assistência estudantil, maternidade na universidade e impactos da violência, o evento proporcionou uma plataforma abrangente para abordar questões complexas relacionadas à saúde mental. A presença de especialistas e militantes de movimentos sociais enriqueceu as discussões, oferecendo diferentes perspectivas sobre os desafios enfrentados por territórios socioambientalmente vulnerabilizados. Essa iniciativa não apenas promoveu a conscientização sobre a importância da saúde mental, mas também estimulou o diálogo interdisciplinar e a colaboração entre os participantes, fortalecendo assim o compromisso com a criação de soluções mais inclusivas e eficazes para os problemas enfrentados nas comunidades atendidas pelos Fóruns.<br />
<br />
===== Programação =====<br />
Mesa de abertura: Políticas de permanência: da assistência estudantil à assistência ao docente. Como acolher a quem acolhe?<br />
<br />
Mesas simultâneas:<br />
<br />
Mobilidade Urbana;<br />
<br />
Mães na Universidade; e<br />
<br />
Impactos da violência armada na saúde dos discentes e docentes que atuam nos prés.<br />
<br />
Oficinas:<br />
<br />
Clube dos Exaustos; <br />
<br />
Impactos da covid-19 na saúde mental: Como nos acolher; e<br />
<br />
CINEDEBATE: Dá Margem ao Centro.<br />
<br />
Pré-lançamento cartografia das narrativas<br />
<br />
==== II Seminário de Saúde Mental ====<br />
Local: Tenda da Ciência – Museu da Vida Fiocruz. <br />
<br />
Data: 9 de setembro de 2023<br />
<br />
O II Seminário de Saúde Mental do Tecendo Diálogos desempenhou um papel fundamental no fortalecimento da cooperação entre as universidades e as pessoas de favelas e periferias, proporcionando um espaço para discutir questões relacionadas à saúde mental e educação popular. Ao abordar temas como redução de danos, educação sexual e cultura popular, o evento não apenas ampliou o conhecimento sobre esses assuntos, mas também promoveu uma maior conscientização e engajamento entre os participantes. Essa troca de conhecimentos e experiências contribuiu significativamente para a consolidação de estratégias mais eficazes e inclusivas na promoção da saúde mental e no fortalecimento das práticas educacionais nas comunidades vulneráveis.<br />
<br />
===== Programação =====<br />
Mesa de abertura "Cultura e Educação Popular: interseção na promoção da saúde"<br />
<br />
Lançamento da Cartografia das Narrativas<br />
<br />
Visitação ao Museu da Vida e Castelo Mourisco<br />
<br />
Roda de conversa 1: "Redução de Danos, uma apologia ao cuidado: Educar para apropriação de si"<br />
<br />
Roda de conversa 2: "Educação Sexual: visões ao redor do assunto"<br />
<br />
Atividade cultural: Coletivo Pac’stao<br />
<br />
O II Seminário de Saúde Mental ocorreu na Tenda da Ciência, no Museu da Vida – Fiocruz, em setembro de 2023. Contando, também, com visitação dos participantes ao Castelo Mourisco e ao Museu da vida na sua programação.<br />
<br />
=== Ver também ===<br />
[[Tecendo Diálogos e produzindo conhecimento: juventude, favela, promoção da saúde e educação superior (projeto)]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Educação]]<br />
[[Categoria:Temática - Saúde]]<br />
[[Categoria:Saúde Mental]]<br />
[[Categoria:Tecendo Diálogos]]<br />
[[Categoria:Pesquisa e formação]]<br />
[[Categoria:Juventudes]]<br />
[[Categoria:Promoção da Saúde]]</div>Nsmirandahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Tecendo_Di%C3%A1logos_e_produzindo_conhecimento:_juventude,_favela,_promo%C3%A7%C3%A3o_da_sa%C3%BAde_e_educa%C3%A7%C3%A3o_superior_(projeto)Tecendo Diálogos e produzindo conhecimento: juventude, favela, promoção da saúde e educação superior (projeto)2024-03-20T13:27:26Z<p>Nsmiranda: </p>
<hr />
<div> Autoria: Equipe Tecendo Diálogos<ref>Nome dos participantes.</ref><br />
[[Arquivo:Logo tecendo diálogos.jpg|alt=Identidade visual com livro aberto e nome do projeto "Tecendo Diálogos".|esquerda|semmoldura|Tecendo Diálogos]]<br />
O projeto Tecendo Diálogos e produzindo conhecimento: juventude, favela, promoção da saúde e educação superior (Tecendo Diálogos) objetiva valorizar a educação superior e reforçar o campo da promoção da saúde e a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de ações coordenadas entre pré-vestibulares populares, comunitários e sociais, universidades, Fiocruz e movimentos sociais organizados em territórios urbanos socioambientalmente vulnerabilizados no Estado do Rio de Janeiro. O Tecendo Diálogos é mediado através da relação entre atores sociais e institucionais, dos quais destacamos: a Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz (CCSP) e o Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC), a Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ (PR5 UFRJ), o Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ) e o Fórum Favela-Universidade (FFU). O projeto e seus recursos são geridos, colaborativamente, pelo Comitê Gestor, composto por representantes do Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ), Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), Museu da Maré, Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente Justo, Democrático e Sustentável (RedeCCAP), Conselho Comunitário de Manguinhos, Fiocruz e UFRJ. <br />
[[Arquivo:Organograma Tecendo Diálogos.jpg|alt=Organograma Tecendo Diálogos|centro|miniaturadaimagem|500x500px|Organograma Tecendo Diálogos]] <br />
<br />
=== [[Fórum Favela - Universidade|Fórum Favela Universidade]] ===<br />
O Fórum Favela Universidade (FFU) se apresenta enquanto um espaço de mobilização, debates e proposições, apoiado pela Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz (CCSP), Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz), e pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PR-5/UFRJ), com forte protagonismo de lideranças sociais vinculadas ao Conselho Comunitário de Manguinhos (CCM), ao Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), Museu da Maré e a Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente Justo, Democrático e Sustentável (RedeCCAP). O Fórum Favela Universidade tem suas origens num importante debate sobre a Universidade Pública e a Favela, realizado por ocasião da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2018, que teve como tema Ciência para a Redução das Desigualdades, na qual a Fiocruz e a PR-5/UFRJ articularam junto a organizações sociais dos territórios de Maré e Manguinhos seis edições da roda de conversa: Quais caminhos levam a universidade para a favela e a favela para a universidade?<br />
<br />
Alguns dos principais pontos indicados nestes debates foram as dificuldades para acesso e permanência de jovens de favela e periferia na universidade, incluindo diversos pontos como questões econômicas, culturais e sociais, falta de identificação com o modelo de ensino e pesquisa, agravos de saúde mental antes e durante a graduação e pós-graduação, e o impacto no território da relação favela-universidade.<br />
<br />
A partir de 2020, o Fórum Favela Universidade passou a articular-se com o projeto Tecendo Diálogos, contribuindo para a consolidação de ações territorializadas e da estruturação de grupos de trabalho, com foco em organização de eventos, materiais de comunicação em saúde e pesquisas científicas. São grupos de trabalho do Fórum Favela Universidade: Jornada Científica Favelades e Universitaries; Saúde Mental; Levantamento Bibliográfico; e Comunicação. Outra frente muito importante que foi potencializada no FFU a partir da chegada do Tecendo Diálogos foi a secretaria, que trouxe dinamismo, organização e centralização das demandas e tarefas estratégicas e cotidianas do Fórum.<br />
<br />
=== Grupos de Trabalho ===<br />
<br />
==== [[Projeto Tecendo Diálogos: Grupo de Trabalho Saúde Mental e Integral|GT - Saúde Mental e Integral]] ====<br />
O grupo de trabalho atua na articulação das pautas mobilizadas pelo Fórum de Pré-vestibulares populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ) e do Fórum Favela Universidade (FFU). Compreende saúde de maneira integrada às condições de vida, segurança pública, território, moradia, empregabilidade, racismo, entre outros determinantes sociais. Busca realizar ações que fomentem a promoção da saúde através da tomada de consciência, do acesso e da garantia de direitos, da atuação coletiva e da organização popular, visando a incidência em políticas públicas, projetos e programas de saúde, educação e cultura voltados para as juventudes faveladas. Abaixo, algumas ações realizadas pelo Grupo de Trabalho:<br />
<br />
===== GT - Levantamento Bibliográfico =====<br />
===== Catálogos Favela Universidade =====<br />
Os Catálogos Favela Universidade são um conjunto de publicações resultante de pesquisas bibliográficas cujo foco é a catalogação dos resumos das pesquisas acadêmicas sobre favelas cariocas. Maré, Manguinhos, Vila Kennedy, Chapéu Mangueira, Babilônia e Jacarezinho são os territórios analisados nessa pesquisa bibliográfica.<br />
<br />
===== História =====<br />
A produção dos Catálogos Favela Universidade é fruto de articulações políticas entre o Fórum Favela Universidade (FFU) e o Projeto Tecendo Diálogos e Produzindo Conhecimentos: Juventude, Favela, Promoção da Saúde e Ensino Superior, realizado a partir da Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. Sendo o FFU um fórum formado por organizações das favelas da Maré e de Manguinhos (CEASM, Museu da Maré, Conselho Comunitário de Manguinhos, Rede CCAP/Espaço Casa Viva), pelo Fórum de Pré-vestibulares Populares do Rio de Janeiro, e apoiado por instituições universitárias como Fiocruz (Cooperação Social e o Museu da Vida) e UFRJ (PR-5), suas iniciativas e discussões partem da necessidade de pensarmos a vida acadêmica dos(as) estudantes universitários(as) de origem favelada.<br />
<br />
Entre os desejos do FFU, estava a ideia de produzir um “catálogo de trabalhos acadêmicos” partindo de inspirações como a obra Pensando as Favelas do Rio de Janeiro (1906-2000): uma bibliografia analítica e o trabalho de pesquisa bibliográfica desenvolvido no livro Complexo do Alemão: uma bibliografia comentada. Ambas as obras catalogam produções acadêmicas sobre favelas.<br />
<br />
Nesse sentido, o FFU, formado sobretudo por instituições da Maré e de Manguinhos, buscou pensar numa iniciativa similar de pesquisa bibliográfica que evidenciasse o que estava sendo produzido nessas duas favelas, impactadas pela proximidade política/territorial junto a grandes instituições acadêmicas como a Fiocruz e a UFRJ. Com o surgimento do Projeto Tecendo Diálogos e a parceria com o FFU, foi possível operacionalizar a ideia de produzir um catálogo sobre as favelas da Maré e de Manguinhos, e expandir a pesquisa bibliográfica, inserindo outros territórios como Chapéu Mangueira, Babilônia, Vila Kennedy e Jacarezinho.<br />
<br />
===== Algumas características da pesquisa bibliográfica dos Catálogos Favela Universidade =====<br />
As pesquisas bibliográficas apresentam a vantagem de poderem explorar uma grande amplitude de trabalhos sobre um determinado tema. No caso dos Catálogos Favela Universidade, ter um território de favela como tema de pesquisa permitiu explorar o mesmo partindo de diferentes campos do saber, criando um rico arcabouço de conhecimentos que analisam os territórios pesquisados sob diferentes perspectivas.<br />
<br />
Essa riqueza de produções, foi mediada pela ação de pesquisadores oriundos dos territórios investigados, criando laços entre a produção do conhecimento e as vivências do lugar, enriquecendo o processo de desenvolvimento do trabalho acadêmico. Ao longo da pesquisa, foram catalogados monografias de graduação, trabalhos de especialização, dissertações, teses, livros e outros tipos de trabalhos, obtidos em base de dados, bibliotecas, arquivos e acervos (físicos ou virtuais) disponíveis de forma gratuita, em consonância com a ideia de ciência aberta.<br />
<br />
==== GT - Trajetórias ====<br />
A pesquisa Trajetórias trata-se de uma iniciativa do Projeto Tecendo Diálogos em evidenciar as narrativas e experiências de pessoas egressas de pré-vestibulares populares ou comunitários em Instituições de Ensino Superior do Rio de Janeiro.<br />
Nosso objetivo principal é evidenciar as memórias da história de luta pela educação popular por meio da trajetória pessoal de pessoas egressas de pré-vestibulares populares. Evidenciando, através das entrevistas, o valor dos espaços de educação popular, que será o elo em comum entre todas as pessoas participantes da pesquisa.<br />
<br />
A pesquisa tem potencial para incidir em políticas públicas para educação e incidir de forma estratégica nas redes de militância pela educação, buscando fortalecimento e articulação entre os estudantes, educadores e militantes que lutam por uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. <br />
<br />
Evidenciando essas trajetórias e experiências que são múltiplas, poderemos compreender os desafios e percalços que as pessoas egressas de pré-vestibulares populares encaram em sua vida acadêmica, e a importância desses espaços formativos em suas trajetórias. Assim, temos como foco, nesta pesquisa, chamar a atenção para a potência de transformação social da educação popular na trajetória de pessoas periféricas.<br />
<br />
===== Metodologias e produtos =====<br />
<br />
* Exercício da História Oral e da biografia coletiva a partir de entrevistas com egressos dos pré-vestibulares.<br />
* Entrevistas com pessoas egressas de pré-vestibulares populares visando construir um mosaico de narrativas sobre suas trajetórias universitárias.<br />
* Desenvolvimento de uma série documental com as entrevistas selecionadas.<br />
<br />
===== Potencialidades e projeções =====<br />
<br />
* Promoção do debate sobre a permanência saudável de pessoas egressas de pré-vestibulares populares nas universidades.<br />
* Incidência em políticas públicas para educação e saúde mental de estudantes.<br />
* Impacto estratégico no fortalecimento da rede do Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ) e do Fórum Favela Universidade (FFU).<br />
<br />
=== Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ) ===<br />
O Fórum de Pré-vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ) é uma frente de educação popular que começou a ser germinada no ano de 2017, através do Primeiro Seminário de Educação Popular de Pré-vestibulares Comunitários ocorrido no Museu da Maré, e se oficializou em 2018 no II Seminário de Educação Popular realizado junto ao Núcleo de Educação de Jovens e Adultos da PUC Rio (NEAd).<br />
<br />
Trata-se de uma frente de educação composta por pré-vestibulares sociais, comunitários e populares bastante diversos e diferentes entre si, mas que visam o acesso ao Ensino Superior da juventude periférica e favelada, além da transformação da sociedade com foco na justiça social. A partir do segundo semestre de 2020 o FPVP-RJ passou a contar com o apoio direto do projeto Tecendo Diálogos e produzindo conhecimento: juventude, favela, promoção da saúde e educação superior, da Cooperação Social da Fiocruz, que aposta na organização e na iniciativa dos trabalhos realizados por pré-vestibulares localizados em território socioambientalmente vulnerabilizados na região metropolitana do Rio de Janeiro. A chegada do Tecendo Diálogos ao Fórum de Prés marca um salto qualitativo de organização e articulação política com os prés que compõem essa frente de educação popular.<br />
<br />
==== Mapeamento dos Pré-vestibulares Populares na Região Metropolitana do Rio de Janeiro ====<br />
Os pré-vestibulares populares na Região Metropolitana do Rio de Janeiro são iniciativas educacionais independentes, sem fins lucrativos, que buscam oferecer acesso à preparação para vestibulares e ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) a pessoas socialmente vulnerabilizadas. Eles tem como objetivo diminuir as desigualdades sociais no acesso à educação superior, oferecendo aulas preparatórias de qualidade, muitas vezes gratuitas ou a preços acessíveis.<br />
<br />
===== História e Surgimento =====<br />
Esses pré-vestibulares populares emergiram como resposta à necessidade de democratização do acesso ao ensino superior. Surgiram ao longo das últimas décadas, impulsionados por organizações da sociedade civil, movimentos estudantis e professores engajados na causa da educação inclusiva.<br />
<br />
===== Objetivos =====<br />
<br />
* Democratizar o acesso à educação de qualidade.<br />
* Apoiar na preparação para ingressar no ensino superior.<br />
* Proporcionar suporte acadêmico e emocional as pessoas vertibulandas durante o período pré-vestibular.<br />
* Promover a equidade educacional e social.<br />
<br />
===== [https://www.viconsaga.com.br/tecendodialogos Mapeamento] =====<br />
O mapeamento vem com o objetivo de contribuir no geoprocessamento desses pré-vestibulares populares dentro da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A fim de deixar mais evidente suas localidades dentro dessa região, pois acreditamos que eles desempenham um papel fundamental na promoção da inclusão educacional e no fortalecimento da cidadania, representando uma importante ferramenta na luta por uma sociedade mais justa e igualitária<br />
<br />
Foi utilizada a dissertação de mestrado da educadora Angela Cristina da Silva Santos (dissertação possui verbete na wiki), que realizou um levantamento de prés vestibulares populares, comunitários e sociais do Rio de Janeiro; por outro lado foram realizadas também buscas nas redes sociais, site de pesquisa e nas redes de contatos do próprios prés vestibulares.<br />
<br />
A partir dessas referências, no âmbito do projeto Tecendo Diálogos (Vai ter verbete sobre na wiki? se tiver, vale colocar na referência) realizou em conjunto com o Fórum de Prés vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ), um mapeamento georreferenciado, socioeconômico, pedagógico e psicossocial, por meio de entrevistas com representantes de PVP’s, da capital do Rio de Janeiro e da região metropolitana. Foram mapeados ao todo 301 pvp’s, entre os que participaram da entrevista, os que se recusaram e também os que encerram suas atividades. O mapeamento durou entre 2021-2023, coletando dados qualitativos e quantitativos e disponibilizando-os na Plataforma vicon Saga. A partir de 2023, o Mapeamento renova-se, ampliando o campo para todo o estado do Rio de Janeiro.<br />
<br />
==== GT - Trajetórias ====<br />
A pesquisa Trajetórias trata-se de uma iniciativa do Projeto Tecendo Diálogos em evidenciar as narrativas e experiências de pessoas egressas de pré-vestibulares populares ou comunitários em Instituições de Ensino Superior do Rio de Janeiro.<br />
Nosso objetivo principal é evidenciar as memórias da história de luta pela educação popular por meio da trajetória pessoal de pessoas egressas de pré-vestibulares populares. Evidenciando, através das entrevistas, o valor dos espaços de educação popular, que será o elo em comum entre todas as pessoas participantes da pesquisa.<br />
<br />
A pesquisa tem potencial para incidir em políticas públicas para educação e incidir de forma estratégica nas redes de militância pela educação, buscando fortalecimento e articulação entre os estudantes, educadores e militantes que lutam por uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. <br />
<br />
Evidenciando essas trajetórias e experiências que são múltiplas, poderemos compreender os desafios e percalços que as pessoas egressas de pré-vestibulares populares encaram em sua vida acadêmica, e a importância desses espaços formativos em suas trajetórias. Assim, temos como foco, nesta pesquisa, chamar a atenção para a potência de transformação social da educação popular na trajetória de pessoas periféricas.<br />
<br />
===== Metodologias e produtos =====<br />
<br />
* Exercício da História Oral e da biografia coletiva a partir de entrevistas com egressos dos pré-vestibulares.<br />
* Entrevistas com pessoas egressas de pré-vestibulares populares visando construir um mosaico de narrativas sobre suas trajetórias universitárias.<br />
* Desenvolvimento de uma série documental com as entrevistas selecionadas.<br />
<br />
===== Potencialidades e projeções =====<br />
<br />
* Promoção do debate sobre a permanência saudável de pessoas egressas de pré-vestibulares populares nas universidades.<br />
* Incidência em políticas públicas para educação e saúde mental de estudantes.<br />
* Impacto estratégico no fortalecimento da rede do Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ) e do Fórum Favela Universidade (FFU).<br />
<references /><br />
[[Categoria:Temática - Educação]]<br />
[[Categoria:Temática - Favelas e Periferias]]<br />
[[Categoria:Temática - Juventude]]<br />
[[Categoria:Tecendo Diálogos]]<br />
[[Categoria:Saúde]]<br />
[[Categoria:Promoção da Saúde]]<br />
[[Categoria:Educação Popular]]<br />
[[Categoria:Pré-vestibulares Comunitários]]<br />
[[Categoria:Saúde Mental]]<br />
[[Categoria:Territórios Saudáveis e Sustentáveis]]</div>Nsmirandahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Educa%C3%A7%C3%A3o_p%C3%BAblica_no_Conjunto_de_Favelas_da_Mar%C3%A9_-_desafios_e_potencialidades_(livro)Educação pública no Conjunto de Favelas da Maré - desafios e potencialidades (livro)2024-03-19T18:14:35Z<p>Gabriel: </p>
<hr />
<div>O livro Educação pública no Conjunto de Favelas da Maré - desafios e potencialidades traz uma coletânea de artigos que discute o processo educacional no território da [[Complexo da Maré|Maré]], sendo dividido em duas partes: uma série de reflexões sobre temas estruturantes que atravessam a educação na Maré, como segurança pública, escritas por profissionais que atuam ou atuaram na região, seguido de relatos de experiências de diretores, professores e educadores em ação no território.<br />
Autoria: Andréia Martins de Oliveira Santo e Eblin Farage.<br />
[[Arquivo:Capa do livro..png|alt=Capa do livro.|centro|miniaturadaimagem|Capa do livro.]]<br />
<br />
== Sobre a obra ==<br />
O sonho de uma educação de qualidade na Maré tornou-se luta. O luto pelas perdas — de moradores vítimas da violência do Estado, da violência dos grupos criminosos armados da venda do varejo das drogas e também pelo assassinato da vereadora [[Marielle Franco]] — se transforma em luta. A luta pela educação pública como elemento central de construção de outras possibilidades para crianças, adolescentes e jovens do [[Complexo da Maré|conjunto de favelas da Maré]].<br />
<br />
A estruturação da educação pública na Maré, por parte do poder público, ainda se dá sem efetivo diálogo com os sujeitos locais, instituições, comunidades e famílias. O que acaba por resultar em uma rede de educação ampla, porém ineficiente ante a realidade de comunidades em que se tem deflagrado o conflito entre grupos criminosos armados e que também, por sua realidade social, exige maior empenho e investimento do poder público.<br />
<br />
Este livro vem no sentido de apresentar, em meio aos limites estruturais, a resistência e a potência dos sujeitos que constroem a educação na Maré, se multiplicam em ações que reafirmam a educação como direito e o compromisso social da escola pública. Assim como as ações que contribuem para a permanência de estudantes na Maré, seja pelas unidades de ensino públicas ou por instituições não governamentais, como a [[Redes da Maré]] e a Universidade Pública.<br />
<br />
É também uma homenagem a Paulo Freire e um ato de repúdio a todas as difamações realizadas contra o patrono da educação brasileira. É uma homenagem às professoras e professores que constroem a educação na Maré e contribuem para que meninas e meninos da favela tenham o direito de sonhar. Como disse Paulo Freire, falando de seus sonhos de infância, de que, desde menino, tinha “um certo gosto docente, que jamais se desfez em mim. Um gosto de ensinar e de aprender que me empurrava à prática de ensinar que, por vez, veio dando forma e sentido àquele gosto. Umas dúvidas, umas inquietações, uma certeza de que as coisas estão sempre se fazendo e se refazendo e, em lugar de inseguro, me sentia firme na compreensão que, em mim, crescia de que a gente não é, de que a gente está sendo”. Sigamos na esperança de dias melhores, construídos pelos sujeitos que ousam sonhar e ousam lutar.<br />
<br />
== Livro completo ==<br />
<pdf height="1200" width="800">File:Educacao Publica Na Mare WEB 02JU.pdf</pdf><br />
<br />
== Na mídia ==<br />
<br />
* [https://www.redesdamare.org.br/br/noticia/93/carta-para-a-educacao-da-mare-reune-42-recomendacoes-ao-poder-publico CARTA PARA A EDUCAÇÃO DA MARÉ REÚNE 42 RECOMENDAÇÕES AO PODER PÚBLICO]<br />
* [https://mareonline.com.br/seminario-de-educacao-traz-o-desafio-da-ampliacao-do-direito-na-mare/ Seminário de educação traz o desafio da ampliação do direito na Maré]<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Educação, Favelas e Quebradas: Racionais MC's - Escutas Comentadas]]<br />
* [[Educação de jovens e adultos (CEJA-MARÉ)]]<br />
* [[Educação na Cidade de Deus]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Educação]]<br />
[[Categoria:Livros]]<br />
[[Categoria:Conjunto de Favelas da Maré]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Gabrielhttps://wikifavelas.com.br/index.php/Favelas_e_periferias_pelo_direito_%C3%A0_vida_e_em_defesa_do_SUSFavelas e periferias pelo direito à vida e em defesa do SUS2024-03-15T14:23:29Z<p>Nsmiranda: Conferência Livre das Favelas e Periferias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, realizada em junho de 2023, na UERJ.</p>
<hr />
<div>Conferência Livre das Favelas e Periferias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, realizada em junho de 2023, na UERJ.<br />
Autoria: Informações do verbete reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir do Portal Favelas<ref>[https://portalfavelas.com.br/favelas-e-periferias-pelo-direito-a-vida-e-em-defesa-do-sus/ Portal Favelas]</ref>.<br />
[[Arquivo:Foto- Daniel Freitas dos Santos.png|alt=Foto: Daniel Freitas dos Santos – Cooperação Social (Fiocruz)|miniaturadaimagem]]<br />
<br />
== Sobre a conferência ==<br />
Lideranças sociais das [[Lista de Favelas do Rio de Janeiro|favelas e periferias do Estado do Rio de Janeiro]], se reuniram neste sábado (03, de junho, de 2023), na UERJ, para debater e potencializar articulações em torno do direito humano à vida e à saúde, a partir das vivências em seus territórios. <br />
<br />
== Participantes ==<br />
A conferência teve como tema “''Favelas e Periferias pelo Direito à Vida e em Defesa do SUS”'', e contou com participações como da ex deputada estadual [[Mônica Francisco (PSOL/RJ) - Borel - RJ|Mônica Francisco]]; Carlos Tukano (Presidente do Conselho Estadual de Direitos Indígenas), Mauro Ferreira (Agente de saúde) e Lúcia Souto (CEBES/ Ministério da Saúde/Comissão Organizadora da 17ª CNS).<br />
<br />
A conferência que teve mais de 250 inscritos, reafirmou a importância da participação popular no processo de (re)construção do país, colocando o direito à vida em primeiro lugar na consecução de todas as políticas e um Sistema Único de Saúde, democrático, descentralizado, gerido com base técnica e soberania popular, que reconheça outros saberes e práticas curativas para além da biomedicina, de modo que seja constituída uma ação que contemple em qualidade e acesso os grupos populacionais vulnerabilizados. <br />
<br />
“Ter uma conferência de saúde com o debate voltado para o direito ao acesso do SUS em periferias e comunidades têm uma extrema importância, ainda mais na atualidade, onde a gente viveu anos em pandemia e mais o desmonte do SUS por causa de questões políticas, então é preciso que a voz da comunidade chegue. <br />
<br />
== A importância do SUS ==<br />
O SUS é do povo para o povo, então é o espaço onde a gente vai colocar nossas demandas que vai para a conferência nacional, que é onde é discutido o debate de política pública de saúde”, disse Lúcia Cabral, assistente social e coordenadora da ONG Educap – [[Complexo do Alemão]].<br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Atenção primária, empoderamento e direito à saúde]]<br />
<br />
[[Análises e propostas sobre a realidade do coronavírus nas favelas]]<br />
<br />
[[Potência invisível dos Conselhos Tutelares]]<br />
[[Categoria:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]<br />
[[Categoria:Direitos humanos]]<br />
[[Categoria:SUS]]<br />
[[Categoria:Direito à vida]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Nsmirandahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Cria_da_Mar%C3%A9_-_Rapper_ind%C3%ADgena_critica_o_apagamento_dos_povos_origin%C3%A1rios_na_cultura_brasileiraCria da Maré - Rapper indígena critica o apagamento dos povos originários na cultura brasileira2024-03-15T14:04:56Z<p>Nsmiranda: A cantora, compositora e ativista Kaê Guajajara, faz da música uma ferramenta crucial para defender narrativas de povos indígenas.</p>
<hr />
<div>A cantora, compositora e ativista Kaê Guajajara, faz da música uma ferramenta crucial para defender narrativas de povos indígenas.<br />
[[Arquivo:Cantora do povo Guajajara .png|alt= Cantora do povo Guajajara cria contra narrativas com a música. (Foto: Scarlett Rocha / Divulgação)|miniaturadaimagem|Cantora do povo Guajajara cria contra narrativas com a música. (Foto: Scarlett Rocha / Divulgação)]]<br />
Autoria: Informações do verbete reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir do Portal Favelas<ref>[https://portalfavelas.com.br/cria-da-mare-rapper-indigena-critica-o-apagamento-dos-povos-originarios-na-cultura-brasileira/ Portal Favelas]</ref>.<br />
<br />
== Sobre as favelas e aldeias ==<br />
Favelas e aldeias são territórios indígenas. Nesses espaços, é comum ver nomes oriundos dos povos originários e comportamentos culturais semelhantes, como a união nas celebrações e comemorações. <br />
<br />
Na semana do Dia dos Povos Originários, a cantora, compositora e ativista Kaê Guajajara conversou com o [[Voz das Comunidades|Voz das Comunidade]] sobre a importância da favela se unir assim como as aldeias.<br />
<br />
== Biografia da Rapper: Kaê ==<br />
Nascida em Maranhão, Kaê veio para o [[Lista de Favelas do Rio de Janeiro|Rio de Janeiro]] ainda criança, tendo morado até recentemente na Vila dos Pinheiros no Conjunto de favelas da Maré. Prestes a lançar seu novo álbum Zahitata, ela conta que a inspiração veio do incômodo de ver a sociedade querendo ver apenas narrativas sofridas. <blockquote>“A gente fala muito das nossas dores, nossa sobrevivência, e pouco se fala da nossa vivência, beleza, celebração da vida que se supera a cada instante desde 1500. Queremos amar, viver e rir pra além da dor que a colonização nos trouxe.” conta.</blockquote><br />
<br />
== Lançamento do álbum no emblemático dia do "descobrimento do Brasil" ==<br />
A data de escolha para lançamento do álbum não foi por acaso. No abril indígena, em abril de 2023, ela quis chocar as pessoas que dizem que o Brasil foi descoberto no ano de 1500 e valorizar a cultura da sua comunidade.<br />
A cantora diz que é importante ter união e inclusão e acrescenta que é importante olhar para a cultura que inclua produções sobre a temática indígena.<br />
<blockquote>“A música é flecha no nosso arco”, explica Kaê, e acrescenta que a usam para tocar pessoas, mostrar pontos de vista, defender a narrativa dos povos originários que vivem tanto nas comunidades indígenas quanto nas favelas e lutam por direitos, respeito e dignidade em todos os lugares.</blockquote><blockquote>A cantora também é fundadora do Coletivo Azuruhu, um selo artístico formado por artistas de etnias indígenas que criam histórias opostas às criadas pela sociedade, a partir das suas experiências, vivências e denunciando o apagamento dos povos originários. Kaê também é autora do livro “Descomplicando com Kaê Guajajara – O que você precisa saber sobre os povos originários e como ajudar na [[Pequeno manual antirracista (livro)|luta antirracista]]”.<br />
<br />
A melhor forma de entender o dia dos povos indígenas segundo Kaê, é com uma mudança radical do que o dia significa. “Parar de fantasiar as crianças, parar de contar histórias de que indígenas são ‘índios’ e viviam no passado ou que se estão vivos hoje é bem distante apenas na floresta e não fazem parte da sociedade”, e convida pessoas indígenas para pensar em novas formas de educar as crianças e a população baseado no respeito.</blockquote><blockquote>“Não tem cabimento um país com uma das maiores diversidades culturais e étnicas do mundo não valorizar, respeitar e ter um modelo de educação que conscientize as pessoas quanto a isso.”</blockquote><br />
<br />
== Reparação histórica ==<br />
O Dia dos Povos Indígenas foi estabelecido no ano passado, a partir da Lei 14.402 de 8 de julho de 2022, de autoria da, atual presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana. Na época, Deputada Federal (Rede).<br />
<br />
Antes, era comemorado o “dia do índio”. Mas com a nova lei, ocorreu a substituição na nomenclatura, carregada de estereótipos, com uma visão racista que relaciona os povos originários ao atraso e selvageria. A lei chegou a ser vetada um mês antes de ser outorgada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), mas em junho do ano passado foi assinada e passou a substituir a nº 5.540, de 2 de junho de 1943, criada no governo de Getúlio Vargas.<br />
<br />
A mudança do nome traz também uma reivindicação para ter mais atenção. Povos indígenas significam, literalmente, aqueles que estão ali antes dos outros, destacando que são os povos originários do Brasil. Na mídia, era comum representações dos povos originários de formas pejorativas, expressando a pessoa indígena como alguém sem acesso a tecnologia e educação, condições que refletiam o descaso na promoção de acesso aos direitos básicos. E mudar esse retrato é uma das lutas que marcam o dia 19 de abril, o Dia dos Povos Indígenas.<br />
<br />
== Conheça o trabalho da artista Kaê Guajajara, clique aqui! ==<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=gcZvckHKfPk}}<br />
<br />
<br />
'''Reprodução: Voz das Comunidades'''<br />
<br />
'''Leia matéria na íntegra: [https://www.vozdascomunidades.com.br/destaques/rapper-indigena-cria-da-mare-kae-guajajara-critica-o-apagamento-dos-povos-originarios-na-cultura-brasileira/ Voz das comunidades]'''<br />
<br />
'''Matéria publicada no dia 25 de abril de 2023'''<br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Djonga - Rapper]]<br />
<br />
[[Racismo, motor da violência (relatório)]]<br />
<br />
[[Parem de nos matar! Violência estatal e racismo nas favelas e periferias (live)]]<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]<br />
[[Categoria:Rapper]]<br />
[[Categoria:Maré]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Nsmirandahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Curso_de_Acervos_Marielle_FrancoCurso de Acervos Marielle Franco2024-03-11T02:27:11Z<p>Caiqueazael: </p>
<hr />
<div>''O '''Curso de Acervos Marielle Franco: formação para espaços de Informação e Documentação''''' foi uma ação organizada em conjunto pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco e o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde entre os meses de agosto e novembro de 2023. A ação de qualificação técnica foi pensada a partir da demanda de grupos com atuação no campo da preservação de acervos em territórios de favelas e periferias, para contribuir no desenvolvimento técnico dos grupos a partir dos contextos locais. <br />
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco<br />
[[Arquivo:Curso de Acervos Marielle Franco.png|esquerda|miniaturadaimagem|Card de divulgação da primeira edição do Curso de Acervos Marielle Franco]]<br />
<br />
=== Sobre o Curso de Acervos ===<br />
<br />
Desde 2019, o Dicionário de Favelas abriu um diálogo com coletivos e instituições de favelas que possuem acervos para construção de um curso de qualificação técnica para preservação dos acervos dessas favelas. A ideia era unir rigor técnico da Fundação Oswaldo Cruz, que possui uma série de bibliotecas e espaços de preservação de documentos e acervos, com as demandas e possibilidades de cada território. Apesar de ter sido realizada no ano de 2023, a ação teve seu processo de organização iniciado no ano de 2019. Contudo, a pandemia de coronavírus impôs uma reorganização do calendário de execução da atividade, que, finalmente, pode ser realizada no segundo semestre de 2023. <br />
<br />
A primeira edição do Curso de Acervos foi voltada para grupos de favelas e periferias na Região Metropolitana do Rio de Janeiro que atuam com processos de conservação e preservação de documentos e acervos, com o objetivo de contribuir não apenas nas habilidades necessárias para tratar e organizar seus acervos locais, mas também em dar acesso aos documentos e em promover eventos culturais nesses espaços. <br />
<br />
Com mais de 50 inscrições para a ação, foram selecionadas 20 coletivos/instituições com maior relação com o tema e conformidade com a proposta do curso. Durante algumas semanas, os participantes se encontram na Fiocruz, com aulas ministradas pelo Dicionário, por membros da equipe e do Conselho, pelos trabalhadores do ICICT e também pelos próprios moradores dos territórios que já possuem acervos organizados. <br />
<br />
Todo o Curso foi realizado de forma 100% gratuita e com aulas ministradas de forma presencial, no Campus Maré da Fiocruz (Avenida Brasil, 4.036), com emissão de certificados para os participantes. <br />
<br />
=== Cronograma do Curso ===<br />
{| class="wikitable"<br />
|Bloco<br />
|Data<br />
|Conteúdo Trabalhado<br />
|-<br />
| rowspan="4" |INTRODUÇÃO <br />
| rowspan="4" |18/08 <br />
|Abertura Institucional e Apresentação do Curso<br />
|-<br />
|A produção do conhecimento local <br />
|-<br />
|A importância do diálogo entre conhecimentos<br />
|-<br />
|Memórias, Pesquisas e dados<br />
|-<br />
| rowspan="3" |ORGANIZAÇÃO DA BIBLIOTECA<br />
| rowspan="3" |25/08 <br />
|Sistematizar e organizar informações para o desenvolvimento local<br />
|-<br />
|Organização técnica e física do acervo<br />
|-<br />
|Organização funcional da biblioteca<br />
|-<br />
| rowspan="4" |PROCESSAMENTO TÉCNICO<br />
| rowspan="4" |01/09 <br />
|Classificação<br />
|-<br />
|Catalogação<br />
|-<br />
|Indexação<br />
|-<br />
|Seleção/aquisição<br />
|-<br />
| rowspan="6" |ACERVO<br />
| rowspan="6" |15/09 <br />
|Estrutura física da biblioteca<br />
|-<br />
|Registro do acervo – tombamento<br />
|-<br />
|Bibliotecas: tipos e conceitos<br />
|-<br />
|Hábito de leitura<br />
|-<br />
|Catálogos: tipos e referências<br />
|-<br />
|Fontes de informação: primárias, secundárias e terciárias<br />
|-<br />
| rowspan="2" |AUTOMAÇÃO EM BIBLIOTECAS<br />
<br />
CONSERVAÇÃO DE ACERVOS<br />
| rowspan="2" |22/09<br />
|Comunicação e Diversidade: práticas inclusivas<br />
|-<br />
|Conservação Preventiva de Acervos em Suporte Papel <br />
|-<br />
| rowspan="6" |SEÇÃO DE ATENDIMENTO E INFORMAÇÃO AO USUÁRIO<br />
| rowspan="6" |29/09 <br />
|Referência<br />
|-<br />
|Serviços aos usuários<br />
|-<br />
|Treinamento, orientação e consulta<br />
|-<br />
|Estudo de usuários<br />
|-<br />
|Empréstimo e Circulação<br />
|-<br />
|O profissional técnico e suas atribuições<br />
|-<br />
| rowspan="3" |PRESERVAÇÃO DE ACERVOS<br />
| rowspan="3" |06/10 <br />
|Preservação, conservação e restauração <br />
|-<br />
|Armazenagem da documentação <br />
|-<br />
|Visita Técnica ao laboratório de Conservação e Biblioteca de Manguinhos<br />
|-<br />
|DIVULGAÇÃO<br />
| rowspan="3" |20/10<br />
|Marketing e Ação Cultural em Bibliotecas<br />
|-<br />
|COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO<br />
|Softwares de bibliotecas, Bases e bancos de dados<br />
|-<br />
|AUTOMAÇÃO EM BIBLIOTECAS<br />
|DSI (disseminação seletiva da informação)<br />
|-<br />
|OFICINA DE PRODUÇÃO DE VERBETES<br />
| rowspan="2" |27/10 <br />
|Oficina de produção de verbetes<br />
|-<br />
|ENCERRAMENTO<br />
|Atividades de Encerramento<br />
|-<br />
|PRESERVAÇÃO DE ACERVOS<br />
| rowspan="3" |10/11<br />
|Preservação, conservação e restauração<br />
|-<br />
|INOVAÇÃO EM BIBLIOTECAS<br />
|Design Thinking<br />
|-<br />
|ENCERRAMENTO<br />
|Avaliação do Curso e Encerramento <br />
|}<br />
<br />
=== O curso na mídia ===<br />
A originalidade do curso ganhou destaque na mídia, conforme reportagens a seguir: <br />
<br />
# Wikifavelas divulga abertura de inscrições para o Curso de Acervos Marielle Franco: [https://portal.fiocruz.br/noticia/wikifavelas-divulga-abertura-de-inscricoes-para-o-curso-de-acervos-marielle-franco clique aqui para acessar]<br />
# Curso de Acervos Marielle Franco: Wikifavelas promoverá qualificação em parceria com o Icict: [https://www.icict.fiocruz.br/content/curso-de-acervos-marielle-franco-wikifavelas-promovera-qualificacao-em-parceria-com-o-icict clique aqui para acessar]<br />
# Últimos dias para se inscrever no Curso de Acervos Marielle Franco: [https://nucleopiratininga.org.br/ultimos-dias-para-se-inscrever-no-curso-de-acervos-marielle-franco/ clique aqui para acessar]<br />
# Curso de Acervos Marielle Franco - Governo Federal: [https://www.gov.br/conarq/pt-br/assuntos/eventos-1/curso-de-acervos-marielle-franco clique aqui para acessar]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Instituições]]<br />
[[Categoria:Curso]]<br />
[[Categoria:Formação]]</div>Caiqueazaelhttps://wikifavelas.com.br/index.php/Economia_Informal_no_Rio:_Hist%C3%B3rias_da_Pedra_do_Sal_e_Al%C3%A9mEconomia Informal no Rio: Histórias da Pedra do Sal e Além2024-03-05T17:33:06Z<p>Clara: </p>
<hr />
<div> Autoria: Eli Nemzer<ref>Publicado originalmente no Rio on Watch em 04 de fevereiro de 2017. Disponível em: https://rioonwatch.org.br/?p=24492.</ref><br />
<blockquote>“Uma promoção pra você: dez Reais, três Antárticas!” “Queijo Minas! Queijo Minas! Cinco Reais!”[[Arquivo:Pedra do Sal vista de cima.png|alt=Pedra do Sal vista de cima. As barracas no cruzamento central são as mais desejáveis, e os vendedores devem pagar R$50,00 por noite de aluguel, para um homem que oferece a segurança do espaço. Imagem de Luke Kon.|miniaturadaimagem|Pedra do Sal vista de cima. As barracas no cruzamento central são as mais desejáveis, e os vendedores devem pagar R$50,00 por noite de aluguel, para um homem que oferece a segurança do espaço. Imagem de Luke Kon.]]</blockquote>Os gritos dos vendedores ecoam na noite abafada, sobressaindo-se ao burburinho das risadas dos foliões e ao som das batidas das rodas de samba. À luz baixa, o tráfego de pedestres para por um momento quando uma mulher com roupas coloridas em pernas de pau abre caminho pela multidão.<br />
<br />
Para o visitante de primeira viagem, essa pode parecer uma ocasião especial, mas é só mais uma noite de segunda-feira na Pedra do Sal no bairro Gamboa na Região do Porto do Rio, uma comunidade quilombola histórica conhecida por ser o berço do samba e considerada hoje o local das festas semanais mais populares da cidade.<br />
<br />
A mundialmente reconhecida vida noturna no Rio, como tantos outros aspectos da cidade, é marcada pela informalidade e improvisação, inclusive na Zona Sul. Depois que escurece, da Lapa até a Gávea, de Botafogo à Praça São Salvador, espaços oficiais ficam em segundo plano enquanto um aglomerado de foliões conforme a festa que toma a rua, junto à cachaça, música e danças improvisadas.<br />
<br />
Espalhados pela cidade, porém, há milhares de vendedores ambulantes, que passam despercebidos, mas abastecem a festa com caipirinhas, churrasco e água, mantendo-a viva e crescente até de manhã. Muitos desses trabalhadores moram em favelas da Zona Norte e Oeste, e na Baixada Fluminense, e se deslocam por longas distâncias trabalhando fora do mercado formal, como empreendedores independentes, alguns por escolha própria, outros por necessidade.<br />
<br />
Eles são apenas uma pequena parte da grande “economia informal” do Rio, que, de acordo com algumas estimativas, compreende cerca de 60% da força de trabalho nesta cidade de 6,5 milhões de habitantes.<br />
<br />
== A “Economia Informal”: Uma breve introdução ==<br />
Enquanto o nome e escopo são assuntos de debate entre economistas e sociólogos, a “economia informal”–também conhecida como “economia subterrânea”, “Sistema D” ou “mercado cinza”–é, certamente, uma força na economia global. É geralmente caracterizada por trabalhos sem registro e não regulamentados, desprotegidos pelos governos, frequentemente sem contribuição de impostos e com transações, em sua maioria, em dinheiro. É considerado um sistema espontâneo e improvisado por natureza, aparentemente caótico, mas muitas vezes mantido por redes complexas, baseadas em confiança e auto-organização.<br />
<br />
Quando analisados como um todo, os valores da economia informal equivalem a 10 trilhões de dólares por ano, sendo a segunda maior economia do mundo, ficando atrás dos Estados Unidos.<br />
<br />
E está crescendo rapidamente.<br />
<br />
Em 2009, o número de habitantes em cidades ultrapassou o número de habitantes em áreas rurais pela primeira vez na história do mundo. Com quase toda a população em crescimento do planeta concentrada em países em desenvolvimento, demógrafos e economistas estimam que nos próximos 15 anos, cidades em economias emergentes corresponderão a 50% do crescimento econômico do mundo.<br />
<br />
Em 2016, estimou-se que 2 bilhões de pessoas trabalham sem registro em todo o mundo. Essa fusão de mudanças demográficas, globalização e urbanização criou uma economia global e moderna em que, até 2020, dois em cada três trabalhadores terão empregos informais, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).<br />
<br />
No Rio, a semanal festa de rua na Pedra do Sal oferece um vislumbre da estrutura de um grande ecossistema econômico informal e uma brecha para as vidas e motivações de diversos trabalhadores individuais.<br />
<br />
== ‘Caipirinha! Caipirinha!’: Histórias da Pedra do Sal ==<br />
Apoiado em seu carrinho de supermercado abrigado de modo improvisado por seu guarda-chuva vermelho, um jovem fala sobre seu modelo de negócio.<br />
<br />
“Eu compro as cervejas, por R$4,00 cada garrafa. Aqui, posso vender por R$6,00, até R$7,00 se estiver lotado”, comenta Gabriel. “Se tiver muita gente, ganho R$800,00 em vendas, o que dá R$300,00 de lucro”.<br />
<br />
Gabriel cresceu e ainda mora em Duque de Caxias, município vizinho do Rio de quase 1 milhão de habitantes e que fica a uma hora ao norte do Centro do Rio. Devido à atual crise econômica no país, oportunidades de empregos formais para jovens sem educação avançada são raras.<br />
<br />
Assim, ele improvisa.<br />
<br />
São duas viagens por semana a um depósito, onde ele pode comprar caixas de Heineken, Brahma e Antárctica a preço de custo. Toda segunda-feira de manhã, ele vai até a casa de seu amigo Francis, no Morro da Providência, nas proximidades da Pedra do Sal, onde guarda seus produtos em seu carrinho.<blockquote>“O objetivo é simples. Tento vender tudo que tem no meu carrinho”, ele conta. “Às vezes leva algumas horas, às vezes a noite toda, mas quando eu vendo tudo, vou pra casa, porque significa que foi uma noite boa”.</blockquote><blockquote>Francis, seu companheiro mais experiente, ri. “Você é preguiçoso, cara! Quando eu vendo tudo rápido e ainda tem muito movimento, eu pego um táxi para casa e pego mais cerveja para vender”.</blockquote>Para Gabriel e tantos outros jovens vendedores excluídos da formalidade, a venda de cerveja se tornou um meio de vida em tempo integral. Eles buscam festas e eventos no Facebook e outras redes sociais e algumas vezes chegam horas antes para instalar seus carrinhos nos melhores lugares, com base na ordem de chegada.<br />
<br />
Mas para outros, o negócio informal na madrugada é apenas uma forma de fazer as contas fecharem em uma economia cada vez mais opressiva para a classe trabalhadora. O salário mínimo no Brasil de R$5,85 por hora, junto a um crescente custo de vida, contribuíram para o aumento do setor informal.<br />
<br />
Rafael, vendedor de meia idade na Pedra do Sal, tem um emprego formal como recepcionista e ajudante de cozinha em um restaurante italiano há 22 anos. Ele ganha mais do que o salário mínimo, mas mal chegando a R$1400,00 por mês. O salário cobre as necessidades básicas da família que mora em uma favela próxima, mas não deixa margem para investimentos, como a escola particular que ele gostaria que as duas filhas frequentassem, devido à baixa qualidade da rede pública no Rio.<blockquote>“Às vezes eu ganho mais dinheiro em poucas horas vendendo caipirinhas do que em uma semana no restaurante”, ele comenta. “Claro que prefiro não trabalhar até tarde da noite, mas vale a pena para poder ajudar minhas filhas”.</blockquote>Rafael não está sozinho. As margens de lucro no setor informal podem ser incrivelmente altas, algumas vezes tirando trabalhadores do setor formal completamente.<br />
<br />
Um vendedor de caipirinha chamado Manuel explica como ele compra garrafas inteiras de Cachaça 51 por R$8,00 e vende caipirinhas por R$8,00 cada, sendo uma garrafa suficiente para fazer de oito a nove bebidas. Mesmo considerando o custo dos limões, do açúcar e do transporte para comprar os ingredientes, ele ainda calcula sua margem de lucro acima de 600%.<blockquote>“Eu vendia cerveja, mas vale mais a pena fazer caipirinhas, porque a margem de lucro é bem melhor.”</blockquote>Essas margens não se restringem às bebidas. Robert Neuwirth, jornalista americano cujo trabalho abrange mercados informais, descobriu que a média de comerciantes de rua que vendem sapatos em Lagos, Nigéria tem margem de lucro, sobre um par de tênis, maior do que grandes lojas varejistas internacionais.<br />
<br />
== Informalidade estruturada ==<br />
Na Pedra do Sal, vendedores de fora da comunidade, como Gabriel e Rafael, operam nas margens de um ecossistema informal em camadas capaz de mover dezenas de milhares de dólares em uma noite movimentada.<br />
<br />
No nível mais formal, operam dois bares na rua principal, sendo que um deles também funciona como uma discoteca em noites de festa. Há também diversas casas que abrem suas garagens para vender bebidas e salgados, muitas vezes cobrando até para o uso de banheiros. No nível das ruas, pontos de venda no cruzamento da rua central ficam reservados para vinte barracas vermelhas e brancas. Para ter uma barraca é preciso morar na comunidade, em uma espécie de sistema de licenciamento, pagar R$50,00 para um homem que guarda as barracas e oferece serviços de “segurança”.<br />
<br />
Caso um vendedor de fora da comunidade, como Gabriel, tente colocar seu carrinho em um ponto reservado para as barracas, este homem o expulsa. Ter uma barraca na rua principal tem seus benefícios: vendedores dizem que conseguem R$2000,00 em vendas, R$1200,00 em lucro por noite, geralmente divididos entre as duas ou três pessoas que trabalham na barraca. Mais afastado do coração dos eventos, ficam os carrinhos e bicicletas de vendedores que não são moradores da comunidade. Eles operam perto das entradas e saídas da rua.<br />
<br />
A economia de “serviço de vendedor” cresceu em torno das vendas informais. Manuel conta que paga R$50,00 por semana a um homem dono de um depósito próximo para tomar conta de seu carrinho e produtos em estoque, que são muito pesados para levar morro acima até sua casa na favela toda noite. A taxa cobre tanto o armazenamento quanto o seguro, já que este tipo de depósito tem sido alvo de batidas policiais organizadas pela prefeitura nos últimos anos. Mas o acordo feito com Manuel garante que o dono do depósito irá compensá-lo caso suas mercadorias sejam confiscadas.<br />
<br />
== Debate Político: A formalização é o melhor caminho para todos? ==<br />
Os camelôs são os exemplos mais visíveis da economia informal, portanto não é surpreendente ver que eles foram alvos da Prefeitura para a “formalização” e “limpeza” de sua imagem (veja: “É Para Inglês Ver”) antes da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. O Prefeito Eduardo Paes tratou isto como uma prioridade desde o início de seu mandato, aprovando uma variedade de decretos que regulam o comércio de rua e registram os vendedores ambulantes.<br />
<br />
Enquanto isso, o governo federal instituiu o programa Microempreendedor Individual (MEI), que pretende encorajar trabalhadores informais a se formalizarem, em um sistema livre de impostos–para começar a receber os benefícios do governo é preciso pagar uma taxa mensal. Mundialmente elogiado por seu processo online de registro simples e não burocrático, a licença também oferece acesso ao sistema financeiro por sua facilidade em gerar uma conta em banco, criação de negócio online sem impostos e subsídio para máquinas de cartão de crédito para os vendedores de rua.<br />
<br />
Irenaldo da Silva, presidente da Associação de Moradores de Pica-Pau, uma favela na Zona Norte, onde a maioria dos moradores trabalha informalmente, acredita que o programa de licenciamento é um passo na direção certa: “Esta é uma política do governo que eu sou a favor. Encorajo todo mundo na comunidade que tem um negócio a se inscrever, porque traz muitos benefícios”.<br />
<br />
Um lojista chamado Roberto concorda. “Eu vendia roupas caras, mas por causa da crise as pessoas da comunidade não têm dinheiro para comprar roupas caras, então eu mudei de negócio, agora vendo material escolar e de escritório”, ele explica, mostrando sua nova loja cheia de cadernos e outros materiais escolares. “Me inscrevi no MEI e por ter a licença, consegui descontos em produtos para começar esta loja”.<br />
<br />
Mas alguns proprietários nessa comunidade ainda não se convenceram. Um morador chamado Marcelo, que vende frango assado em frente à sua casa reclama que paga R$45,00 mensais pela licença, mas não recebe benefícios. Irenaldo da Silva sugere que alguns proprietários na comunidade talvez não entendam completamente os benefícios que o programa oferece e, portanto, se ressentem.<br />
<br />
Falta de conhecimento sobre os benefícios do programa pode ser uma explicação para o percentual relativamente baixo de adesão. Outra possibilidade, sugerida pelo professor de estudos sociais e políticos Adalberto Cardoso, é que para pessoas que tiveram toda a sua sociabilização formada em meio à informalidade–desde da casa, acesso à eletricidade e seu relacionamento com o estado–tornar-se formalizado e, portanto, ‘visível’ a um governo no qual não vale a pena confiar, é visto como arriscado e caro.<br />
<br />
Outras críticas ao MEI afirmam que ele contribui para a criminalização da pobreza. No revitalizado bairro da Lapa, a prefeitura se uniu à Antárctica para criar um “Mercado Noturno” de 82 boxes de vendas com o patrocínio da marca, reservando a exclusividade na comercialização de cerveja. Vendedores atuando fora dos 82 boxes formalizados são submetidos a frequentes batidas policiais nas quais seus carrinhos e produtos são confiscados.<br />
<br />
Vários vendedores por toda a cidade afirmam ter receio de trabalhar na região, apesar das grandes multidões e potencial de negócios.<br />
<br />
O relacionamento entre governos, empresas e economia informal terá um papel crucial na formação da economia em cidades e países em desenvolvimento no século 21. Em vez de submeter empreendedores informais à condenação geral e formalização forçada, uma tentativa para melhor entender o valor da informalidade no trabalho é um importante passo inicial para a criação de políticas que guiarão e sustentarão a economia global moderna.<br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Economia Cotidiana]]<br />
<br />
[[Informalidade]]<br />
[[Categoria:Temática - Economia e Mercado]]<br />
[[Categoria:Informalidade]]<br />
[[Categoria:Trabalho]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Clarahttps://wikifavelas.com.br/index.php/O_levante_da_Rocinha_nas_Jornadas_de_JunhoO levante da Rocinha nas Jornadas de Junho2024-03-03T18:16:21Z<p>Cleber Araujo: correção texto do primeiro capítulo</p>
<hr />
<div>O levante da Rocinha nas Jornadas de Junho é a segunda temporada do podcast Barraco Adentro, que relembra a participação da favela da Rocinha na insurreição popular que abalou as estruturas políticas do Brasil em 2013. <br />
<br />
==O levante da Rocinha nas Jornadas de Junho==<br />
[[Arquivo:Logotipo barraco adentro.png|direita|360x360px]]<br />
Dez anos passados das [[Jornadas de Junho de 2013 no Rio de Janeiro|'''Jornadas de Junho''']], o [https://open.spotify.com/show/42XHpBp5Sc9LuUjP5iM1JH '''Barraco Adentro'''] produziu uma minissérie que reflete o contexto em que as reivindicações da Rocinha e de comunidades adjacentes ganharam as ruas junto as manifestações que eclodiram no Brasil em 2013, em decorrência do protesto pelo aumento de 20 centavos sobre a tarifa do transporte público. <br />
<br />
A minissérie é composta por quatro episódios que reafirmam o protagonismo da Rocinha nas Jornadas de Junho através de entrevistas que pontuam sobre as questões comunitárias que foram colocadas em pauta naquele momento histórico para o país: [[Saneamento em favelas - Jose Stelberto (entrevista)|saneamento básico]] SIM, elefante Branco (teleférico) NÃO; permanência dos moradores no alto do Laboriaux; e [[Caso Amarildo|Cadê o Amarildo]]. <br />
<br />
Os episódios da segunda temporada do Barraco Adentro foram disponibilizados entre os meses de janeiro e fevereiro de 2024. <br />
<br />
====Barraco Adentro ====<br />
'''[[Barraco_Adentro_(podcast)|Barraco Adentro]]''' é um programa de podcast radicado na Rocinha, favela da Zona Sul do Rio de Janeiro, que tem como proposta colocar em pauta temas relacionados ao cotidiano das favelas cariocas.<br />
==Episódios==<br />
[https://open.spotify.com/episode/12YtoMw3iXMmUgrLOAODMP?si=1e391222bcb84f86 '''#08 _ Denis Neves: a convocação para o morro descer''']<br />
<br />
Denis Neves é o entrevistado que abre a minissérie "O levante da Rocinha nas Jornadas de Junho" recordando a convocação que colocou nas ruas as reinvindicações comunitárias durante a onda de protestos que tomou o Brasil em 2013.<br />
<br />
Em seus relatos ele conta como que a criação de um evento no Facebook, organizado por bolsistas da PUC-RIO, resultou numa passeata pacífica com destino a residência do então governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho.<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/64cAg35PFR0ZWmIlsH6V2W?si=6a26019dd6614686 '''#09 _ Michelle Lacerda: a voz destemida que repercutiu o caso Amarildo pelas ruas''']<br />
<br />
A segunda entrevista da minissérie "O levante da Rocinha nas Jornadas de Junho" é com Michelle Lacerda que fala sobre a luta da sua família que repercutiu nas manifestações de 2013. <br />
<br />
Michelle é a sobrinha do pedreiro Amarildo de Souza que mobilizou a comunidade para denunciar o desaparecimento do seu tio após uma abordagem policial para o conduzir à UPP da Rocinha. <br />
<br />
Numa conversa emocionante, Michelle relembra fatos relacionados a campanha "Cadê o Amarildo?", além de falar da relação do seu tio com a família e com a comunidade.<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/2HHIUZJGE6OC7xn90lnkwZ?si=13977c3849f14d6d '''#10 _ Simone Rodrigues: a luta da favela pelo direito à cidade''']<br />
<br />
O terceiro episódio da minissérie é com a advogada Simone Rodrigues, que relembra a luta dos moradores do Laboriaux, parte alta da Rocinha, para resistir a política de remoção imposta no primeiro mandato de Eduardo Paes como Prefeito do município do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Na entrevista, Simone fala das ações legais adotadas para enfrentar a ordem de despejo do governo Paes, e também ressalta a importância da participação da comunidade nas Jornadas de Junho para permanência das famílias no Laboriaux na favela da Rocinha.<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/4GlZPhlZ9LTFMkaY2fQgGZ?si=144bcc0f168b4cc0 '''#11 _ Roberto Lucena: uma perspectiva comunista sobre as Jornadas de Junho''']<br />
<br />
O episódio de encerramento da minissérie "O levante da Rocinha nas Jornadas de Junho" é com Roberto Lucena, que faz uma análise sobre o quanto custou para o Brasil as manifestações pelos 20 centavos.<br />
<br />
A entrevista com Roberto é um convite para refletir sobre os desdobramentos da insurreição popular que tomou o país em 2013, considerando os acontecimentos políticos que sucederam esse momento histórico.<br />
<br />
Sobretudo, esse bate-papo enfatiza a importância do movimento Rocinha Sem Fronteira como espaço de debate e de demanda de pautas políticas essenciais para assegurar direitos básicos à comunidade.<br />
<br />
====Temporada II no Youtube====<br />
A minissérie o Levante da Rocinha nas Jornadas de Junho também está disponível pelo Youtube. [https://www.youtube.com/playlist?list=PLeiu4QQ_SkDx4ABmcK4SyEEck1hiSrd5W '''CLIQUE AQUI'''] para acessar a playlist.<br />
<br />
==Ficha técnica==<br />
Temporada II: O levante da Rocinha nas Jornadas de Junho <br />
<br />
Direção: Cleber Araujo <br />
<br />
Produção: Robson Melo <br />
<br />
Argumento e pesquisa: Karla Martins <br />
<br />
Músicas: "Em cima da linha" e "Solitário" do grupo Chorando à toa da Escola de Música da Rocinha <br />
<br />
Realização: Barraco Adentro<br />
<br />
==Prêmios e editais==<br />
Chancelado pelo [https://doweb.rio.rj.gov.br/portal/visualizacoes/pdf/3063#/p:110/e:3063?find=A%C3%A7%C3%B5es%20locais%202105 Prêmio Ações Locais 2015], promovido pela Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Contemplado no [https://doweb.rio.rj.gov.br/portal/visualizacoes/pdf/5559#/p:53/e:5559?find=fomento%20a%20cultura%20carioca II Edital de Fomento à Cultura Carioca - Foca 2022], promovido pela Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro<br />
<br />
==Barraco Adentro na mídia==<br />
[https://brasilnordeste.com/2023/11/01/biblioteca-parque-da-rocinha-c4-recebe-roda-de-conversa-sobre-comunicacao&#x20;-comunitaria/ Brasil Nordeste] 01/11/2023<br />
<br />
[https://falaroca.com/podcast-temporada-conquistas-historicas-rocinha/ Fala Roça 07/07/2023]<br />
<br />
[https://brasilnordeste.com/2023/06/30/podcast-com-temporada-sobre-a-rocinha-sera-lancado-em-julho-com-acessibilidade-para-pessoas-surdas-e-com-deficiencia-auditiva/ Brasil Nordeste 30/06/2023]<br />
<br />
==Links externos==<br />
Barraco Adentro no [https://www.youtube.com/@BarracoAdentro Youtube]<br />
<br />
Barraco Adentro no [https://open.spotify.com/show/42XHpBp5Sc9LuUjP5iM1JH?si=a6af21606d914d16 Spotfy]<br />
<br />
Barraco Adentro no [https://www.amazon.fr/Barraco-Adentro/dp/B0CCQB5JL7 Amazon Music]<br />
<br />
==Referências Bibliográficas==<br />
[https://observatoriodefavelas.org.br/wp-content/uploads/2013/06/Midia-e-favela_publicacao.pdf Mídia e favela: comunicação e democracia nas favelas e espaços populares] / [coordenadores Jailson de Souza e Silva e Thiago Araujo Ansel]. - 1.ed. - Rio de Janeiro: Observatório de favelas, 2012. (citação na página 29)<br />
<br />
[https://books.google.com.br/books?id=U4diDwAAQBAJ&pg=PA111&lpg=PA111&dq=barraco+adentro+rocinha&source=bl&ots=E5UOznJoUd&sig=ACfU3U0UsR53uWzv5Fi7cbbzn1BaYZwcfg&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwiC162Yz7eEAxWMpZUCHWgQAu04MhDoAXoECAIQAw#v=onepage&q=barraco%20adentro%20rocinha&f=false Comunidade Audiovisuais: a comunicação produzida por jovens moradores de favela] / Lilian Saback. - 1. ed. Rio de Janeiro: Mauad X: PUC - Rio, 2018. (citação na página 111)<br />
<br />
== Ver também==<br />
<br />
*[[Favela e Ciência (podcast)]]<br />
*[[Fala Roça]]<br />
*[[TV Tagarela da Rocinha]]<br />
*[[Comunicação popular: quem faz? (filme)]]<br />
*[[Conferência de Jornalismo Comunitário]]<br />
[[Categoria:Temática - Mídia e Comunicação]]<br />
[[Categoria:Comunicação comunitária]]<br />
[[Categoria:Comunicação popular]]<br />
[[Categoria:Comunicação favelada]]<br />
[[Categoria:Podcasts]]<br />
[[Categoria:Memórias]]<br />
[[Categoria:Rocinha]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Cleber Araujohttps://wikifavelas.com.br/index.php/Rocinha,_uma_hist%C3%B3ria_de_lutasRocinha, uma história de lutas2024-02-28T18:33:39Z<p>Kita Pedroza: Formatação</p>
<hr />
<div>Rocinha, uma história de lutas é a primeira temporada do podcast [[Barraco Adentro (podcast)|Barraco Adentro]], realizada por meio da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro, via Fomento à Cultura Carioca - Foca 2022.<br />
== Rocinha, uma história de lutas==<br />
[[Arquivo:Barraco adentro - miniatura podcast.jpg|direita|Temporada 1: Rocinha, uma história de lutas|416x416px]]<br />
[[Rocinha]], uma história de lutas é a primeira temporada do podcast '''[[Barraco Adentro (podcast)|Barraco Adentro]]''', realizada com a proposta resgatar o legado dos [[Movimentos sociais no Rio de Janeiro (2007-2022)|movimentos comunitários]] que contribuíram para viabilizar importantes conquistas sociais junto à comunidade. Nesse sentido, foram entrevistados moradores de distintos campos de atuação que, através de mobilizações comunitárias, ajudaram a consolidar a favela da Rocinha como um território de relevância cultural e econômica para o município carioca. <br />
<br />
No total, foram produzidos 8 episódios (1 teaser e 7 entrevistas) por meio da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, via do Fomento à Cultura Carioca - FOCA 2022, disponibilizados ao público entre julho e outubro de 2023.<br />
<br />
====Barraco Adentro====<br />
'''[[Barraco_Adentro_(podcast)|Barraco Adentro]]''' é um programa de podcast radicado na Rocinha, favela da Zona Sul do Rio de Janeiro, que tem como proposta colocar em pauta temas relacionados ao cotidiano das favelas cariocas. <br />
<br />
==Episódios==<br />
[https://open.spotify.com/episode/38a1fcIbYzl3SO3bsnlO9L?si=osj7qUiuR96XEle6X383JQ '''#00 _ Rocinha, uma história de lutas''']<br />
<br />
O episódio zero apresenta a proposta do podcast e a temática da primeira temporada do Barraco Adentro, dando ênfase ao apoio da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro, via Fomento à Cultura Carioca (FOCA 2022), que possibilitou a realização do projeto. <br />
<br />
Gravado em audiovisual, o teaser também circulou pelas redes sociais do Barraco Adentro para ampliar a divulgação do trabalho que estava em processo de desenvolvimento.<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/2dT45CcevlYWecMX3YT85O?si=kQXNkg8FQgWYuTU6XGZO-g '''#01 _ José Martins, o homem da água na luta pelo saneamento''']<br />
[[Arquivo:Jose de Oliveira Martins - líder comunitario Rocinha 25-11-2017 foto Kita Pedroza .jpg|miniaturadaimagem|Jose de Oliveira Martins. Líder comunitário histórico da Rocinha e um dos fundadores do movimento Rocinha Sem Fronteiras. Data: 25-11-2017. Foto: Kita Pedroza ]]<br />
<br />
<br />
O primeiro episódio do Barraco Adentro coloca em destaque um tema sensível e relevante para a Rocinha: o [[Água e saneamento básico na Rocinha|saneamento básico]].<br />
<br />
A temporada Rocinha, uma história de lutas tem início com uma entrevista com [https://editora.fgv.br/produto/a-favela-fala-3051 José Martins de Oliveira], liderança que desde a década de 1970 batalha para implementar serviços básicos de saneamento em prol da melhoria da qualidade de vida no território. <br />
<br />
Em seus relatos, Martins relembra a sua atuação na instalação da rede de água potável no Bairro Barcelos (parte baixa da Rocinha) e a importância dos padres jesuítas na organização comunitária nas frentes populares que resultaram em conquistas significativas para a comunidade. <br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/6jEOtdjWTKpmPYHaeSuGt2?si=cad16497a53a4993 '''#02 _ Rita Smith, uma vida em combate à tuberculose''']<br />
<br />
O segundo episódio da temporada "Rocinha, uma história de lutas" é com uma referência nacional no combate à [[Tuberculose na Rocinha (vídeo)|tuberculose]]: Rita Smith. <br />
<br />
Em sua visita ao Barraco, Ritinha compartilha sua experiência como “cria” da comunidade e revela os motivos pessoais e coletivos pelos quais fundou o Grupo de Apoio aos Pacientes e Ex-pacientes de Tuberculose da Rocinha (GAEXPA). <br />
<br />
Na entrevista, ressoa as vivências dessa mulher que em sua [[Pesquisa e militância/ativismo (debate)|militância]] foi intitulada pela Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro como a "Face humana da tuberculose".<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/1AW7mANQf0LNYFa83us3R5?si=7aed30339b5e4197 '''#03 _ Maurício Trajano, a rebeldia do Jornal Tagarela da Rocinha''']<br />
<br />
“Mauricio Trajano, a rebeldia do Jornal Tagarela” é o terceiro episódio da temporada Rocinha, uma história de lutas. <br />
<br />
Ao falar do papel desempenhado por esse meio de comunicação, Trajano revela como que um grupo de [[Ser jovem hoje - episódio 1 (programa)|jovens]] de periferia superou as limitações tecnológicas para veicular informações das mobilizações comunitárias que aconteciam no começo dos anos 80 com um jornal confeccionado a mão e reproduzido num mimeógrafo. <br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/0LRKRQejKundH9DMT6cHBk?si=473065ea32b345f8 '''#04 _ Maria Jandira: alento, afeto e esperança pela educação'''] <br />
<br />
"Rocinha, uma história de lutas" chega ao episódio 4 resgatando a história da escolinha comunitária da ASPA (Ação Social Padre Anchieta). <br />
<br />
Maria Jandira fala de uma época em que o direito à escola regular não era acessível a todas as famílias. É nesse contexto que surgem as escolinhas comunitárias, mobilizadas por mulheres que ofereciam o pouco que tinham para trazer alento e esperança para as crianças que estavam à margem do sistema educacional.<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/5M2DtEmf8tmz1xDrjotzPa?si=eb3314ca066d4907 '''#05 _ Bruno Pereira: a educação como instrumento de transformação''']<br />
<br />
O quinto episódio segue na temática da [[Direito à educação em favelas e periferias (live)|educação]] para reafirmar a importância do Pré-vestibular Comunitário da Rocinha (PVCR) como instrumento de transformação na Comunidade. <br />
<br />
Em entrevista concedida ao Barraco Adentro, Bruno Pereira apresenta uma organização voluntária que há 3 décadas ajuda moradores da Rocinha a ingressarem no universo acadêmico. <br />
<br />
A experiência relatada por Bruno, que vai de aluno até coordenador do curso, nos coloca diante de todas as possibilidades de transformação que um pré-vestibular comunitário proporciona para jovens favelados.<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/5fzThYDipy1P4GM0HleX6F?si=fa6722ead4ed4713 '''#06 _ Ricardo Bocão: a vanguarda do surfista de Favela''']<br />
<br />
O sexto episódio da temporada Rocinha uma história de lutas é com Ricardo Bocão, que está na vanguarda do ensino da prática de surf para crianças da periferia. <br />
<br />
Em 89 ele ousou trazer esse [[:Categoria:Temática - Esporte|esporte]] elitizado para garotada da sua comunidade, iniciando um trabalho pioneiro que originou a Rocinha Surfe Escola. <br />
<br />
Essa entrevista é um convite para mergulhar na história desse personagem a fim de conhecer as motivações e os desafios superados na realização desse projeto que, por quase 40 anos, resiste na Rocinha.<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/5gGZzTXc0F5cdfK5tmEGfq?si=5468773cba424f88 '''#07 _ Aurélio Mesquita: a face humana do Cristo Favelado''']<br />
<br />
Para o encerramento da primeira temporada do Barraco Adentro foi elaborado um episódio especial sobre um dos maiores espetáculos teatrais de rua da américa latina: a Via Sacra da Rocinha. <br />
<br />
Numa entrevista empolgante, Aurélio Mesquita relembra os acontecimentos que o inspiraram a idealizar a encenação da paixão de Cristo no cenário de favela que, realizada na Rocinha desde 1992, alcançou o reconhecimento de Patrimônio Cultural Imaterial da cidade do Rio de Janeiro. <br />
<br />
Atendendo a proposta do projeto, o sétimo episódio da temporada “Rocinha, uma história de lutas” resulta num registro importante sobre o legado desse artista e articulador cultural para a comunidade, como também para o município carioca.<br />
<br />
==Ação de acessibilidade==<br />
[[Arquivo:Barraco Adentro - acessibilidade.png|miniaturadaimagem|esquerda|390x390px|Episódios traduzidos em LIBRAS]]<br />
<br />
A primeira temporada do Barraco Adentro promoveu ação de acessibilidade, conforme previsto no edital, traduzindo em linguagem de sinais todos os episódios para disponibilização no Youtube. <br />
<br />
<br />
<br />
[https://www.youtube.com/playlist?list=PLeiu4QQ_SkDwmYfnFr99caREyVCA9P7Nw '''CLIQUE AQUI'''] para acessar a playlist da temporada Rocinha, uma história de lutas com tradução em LIBRAS.<br />
<br />
<br />
<br />
==Encontro de encerramento==<br />
[[Arquivo:Barraco adentro foto2.jpg|miniaturadaimagem|direita|Roda de conversa sobre comunicação comunitária e memória coletiva no C4. Foto: Karla Martins|385x385px]]<br />
Para o encontro de encerramento desta temporada foi organizada uma roda de conversa sobre “[[Comunicação Comunitária e Midiativismo - conceitos métodos e experiências de pesquisa em dialogia (livro)|Comunicação Comunitária]] e Memória Coletiva: a favela pela sua própria narrativa”. O encontro aconteceu no último sábado de outubro (28)de 2023 na Biblioteca Parque da Rocinha - C4 com a presença de comunicadores comunitários, colaboradores do projeto, entrevistados e de moradores interessados na temática e/ou que acompanharam o programa. Uma média de 20 pessoas participou da roda de conversa, que teve como proposta refletir sobre a importância das mídias locais no enfrentamento ao silenciamento das pautas periféricas no processo de construção da história oficial. <br />
<br />
[https://www.youtube.com/watch?v=lRo7ED6AXmA&t=5s '''CLIQUE AQUI'''] para assistir um recorte do encontro que aconteceu no C4. <br />
<br />
==Ficha técnica==<br />
Temporada I: Rocinha, uma história de lutas<br />
<br />
Direção: Cleber Araujo<br />
<br />
Intérprete de Libras: Thamires Alves Ferreira<br />
<br />
Produção: Robson Melo<br />
<br />
Arte Gráfica: Ludmila Freitas<br />
<br />
Roteiro e edição: Karla Martins<br />
<br />
Marketing Digital: Maria Olívia e Sandra Manuelli<br />
<br />
Músicas: "Em cima da linha" e "Solitário" do grupo Chorando à toa da Escola de Música da Rocinha<br />
<br />
Realização: Barraco Adentro<br />
<br />
Apoio: Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro; Fomento à Cultura Carioca - Linha 2 do edital de seleção SMC nº 05, de 23 de maio de 2022<br />
<br />
==Prêmios e editais==<br />
Chancelado pelo [https://doweb.rio.rj.gov.br/portal/visualizacoes/pdf/3063#/p:110/e:3063?find=A%C3%A7%C3%B5es%20locais%202105 Prêmio Ações Locais 2015], promovido pela Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Contemplado no [https://doweb.rio.rj.gov.br/portal/visualizacoes/pdf/5559#/p:53/e:5559?find=fomento%20a%20cultura%20carioca II Edital de Fomento à Cultura Carioca - Foca 2022], promovido pela Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro<br />
<br />
==Links externos==<br />
[https://www.youtube.com/@BarracoAdentro Youtube]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/show/42XHpBp5Sc9LuUjP5iM1JH?si=a6af21606d914d16 Spotify] <br />
<br />
[https://www.amazon.fr/Barraco-Adentro/dp/B0CCQB5JL7 Amazon Music] <br />
==Barraco Adentro na mídia==<br />
Portal Brasil Nordeste <br />
<br />
[https://brasilnordeste.com/2023/11/01/biblioteca-parque-da-rocinha-c4-recebe-roda-de-conversa-sobre-comunicacao-comunitaria/ Biblioteca Parque da Rocinha – C4 recebe roda de conversa sobre comunicação comunitária]<br />
<br />
Jornal Fala Roça <br />
<br />
[https://falaroca.com/podcast-temporada-conquistas-historicas-rocinha/ Podcast ‘Barraco Adentro’ lança temporada sobre conquistas históricas da Rocinha]<br />
<br />
Portal Brasil Nordeste<br />
<br />
[https://brasilnordeste.com/2023/06/30/podcast-com-temporada-sobre-a-rocinha-sera-lancado-em-julho-com-acessibilidade-para-pessoas-surdas-e-com-deficiencia-auditiva/ PodCast com temporada sobre a Rocinha será lançado em julho com acessibilidade para pessoas surdas e com deficiência auditiva]<br />
<br />
==Referências bibliográficas==<br />
[https://observatoriodefavelas.org.br/wp-content/uploads/2013/06/Midia-e-favela_publicacao.pdf Mídia e favela: comunicação e democracia nas favelas e espaços populares] / [coordenadores Jailson de Souza e Silva e Thiago Araujo Ansel]. - 1.ed. - Rio de Janeiro: Observatório de favelas, 2012. ( citação na página 29)<br />
<br />
[https://books.google.com.br/books?id=U4diDwAAQBAJ&pg=PA111&lpg=PA111&dq=barraco+adentro+rocinha&source=bl&ots=E5UOznJoUd&sig=ACfU3U0UsR53uWzv5Fi7cbbzn1BaYZwcfg&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwiC162Yz7eEAxWMpZUCHWgQAu04MhDoAXoECAIQAw#v=onepage&q=barraco%20adentro%20rocinha&f=false Comunidade Audiovisuais: a comunicação produzida por jovens moradores de favela] / Lilian Saback. - 1. ed. Rio de Janeiro: Mauad X: PUC - Rio, 2018. (citação na página 111)<br />
<br />
==Ver também== <br />
<br />
*[[Barraco Adentro (podcast)]]<br />
*[[Favela e Ciência (podcast)]]<br />
*[[Fala Roça]]<br />
* [[TV Tagarela da Rocinha]]<br />
*[[Comunicação popular: quem faz? (filme)]]<br />
*[[Conferência de Jornalismo Comunitário]]<br />
[[Categoria:Temática - Mídia e Comunicação]]<br />
[[Categoria:Comunicação comunitária]]<br />
[[Categoria:Comunicação popular]]<br />
[[Categoria:Comunicação favelada]]<br />
[[Categoria:Podcasts]]<br />
[[Categoria:Memórias]]<br />
[[Categoria:Rocinha]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Cleber Araujohttps://wikifavelas.com.br/index.php/A_urg%C3%AAncia_em_tornar_as_favelas_resilientes_%C3%A0s_mudan%C3%A7as_clim%C3%A1ticasA urgência em tornar as favelas resilientes às mudanças climáticas2024-02-27T01:30:28Z<p>Kita Pedroza: fotografia</p>
<hr />
<div>Matéria publicada no site de notícias RioOnWatch, em 2022. Faz parte de uma série criada por meio de uma parceria do RioOnWatch com o Digital Brazil Project do Centro Behner Stiefel de Estudos Brasileiros da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia, para produzir matérias sobre impactos climáticos e ação afirmativa nas favelas cariocas.<br />
Autoria: Cleyton Santanna<ref>''Cleyton Santanna é jornalista e roteirista, formado pela UFRRJ e pela CriaAtivo Film School. Em seu canal no YouTube, discorre sobre curiosidades, ancestralidade e cultura afro-brasileira. Em 2017, produziu dois documentários, “Entre Negros” e “Tudo Vai Ficar Bem”, e em 2018, foi premiado como roteirista, com o curta-metragem “Vandinho”, pela Creative Economy Network. Atualmente, atua como comunicador no Museu do Amanhã e é o apresentador do podcast Influência Negra.''</ref> <ref>Matéria originalmente publicada no site de notícias Rio On Watch, em 24 de outubro de 2022. Disponível em: https://rioonwatch.org.br/?p=63141. </ref><br />
<blockquote>“Nem todo mundo é culpado. São poucas pessoas e, para salvar o planeta, devemos lutar contra eles, as empresas deles, o dinheiro deles e fazer com que eles assumam a culpa.” — Greta Thunberg</blockquote>A frase do livro ''Nossa Casa Está em Chamas'', de Greta Thunberg, reverbera nas mais diversas realidades. A jovem ativista sueca, responsável aos 16 anos por atentar milhares de crianças pelo mundo a reivindicarem ações imediatas de combate às mudanças climáticas, coloca em nós a urgente necessidade de pensarmos maneiras pragmáticas de conter o aquecimento global e retroceder as mudanças climáticas, enquanto ainda resta tempo.<br />
<br />
[[Arquivo:Arte-original-por-Natalia-S-Flores-1479x629.jpg|centro|Arte original por Natalia S. Flores|alt=Arte original por Natalia S. Flores|miniaturadaimagem|569x569px]]<br />
<br />
<br />
<br />
De toda forma, um ponto que ainda não é considerado quando o assunto são os paradigmas de sustentabilidade é: como essas discussões afetam as [[:Categoria:Temática - Favelas e Periferias|favelas]]? Como esse assunto chega nesses espaços? Em ano de decisões eleitorais, como os candidatos colocam a favela nessa pauta? As perguntas são muitas e ainda há poucas soluções para esse cenário, mas esses espaços já são afetados pelos mais variados extremos climáticos—tragédias que afetam diretamente o funcionamento normal de uma comunidade, causando perdas materiais, danos ao ambiente e à saúde da população. No Rio de Janeiro, por exemplo, vemos isso acontecer nas chuvas torrenciais que assolam o estado. Por ainda não ser uma cidade resiliente e suas favelas muito menos, as pessoas sofrem com essa realidade.<br />
<br />
Ao pensar favelas resilientes, primeiro precisamos projetar futuros para esses territórios. Imagina se o jogo vira? Isso mesmo, pensa que você está no ano de 2070 e as mudanças climáticas aumentaram o nível do mar numa proporção que deixou a vida impraticável na Zona Sul. Neste contexto, só as partes mais altas, que, em vários territórios da cidade, concentram as favelas, serão habitáveis. O que você supõe que aconteceria? Para onde iriam as pessoas que moram nestes espaços?<br />
<br />
Esse cenário hipotético pode se tornar uma realidade. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o nível médio do mar pode aumentar entre 24 e 32 cm até 2050 devido ao aquecimento das águas do oceano e ao derretimento das geleiras ao redor do mundo. E, aqui no Rio, as águas podem esquentar mais ou menos do que a média global, devido a fatores locais e às medidas adotadas pelos governos carioca, fluminense e federal.<br />
<br />
Pode até parecer um pequeno aumento mas, quando combinado a eventos extremos como tempestades, pode ter efeitos devastadores. Um mar alguns centímetros mais alto já pode favorecer que ondas, em dias de maré alta, inundem e destruam boa parte da zona costeira.<br />
<br />
Num futuro próximo, em 2025, 410 milhões de pessoas em comunidades na Ásia sofrerão com o risco de inundações por conta do aumento do nível do mar. Existem diversas projeções desse futuro climático, uma delas é o ''Guia de Adaptação às Mudanças Climáticas'' desenvolvido pela WWF Brasil, que traça um cenário para o ano de 2100. Neste relatório é possível visualizarmos os impactos que as regiões brasileiras sofrerão nas próximas décadas. No Sudeste, temos um cenário pessimista de aumento da temperatura de entre 1 a 8°C, redução acentuada das chuvas no período chuvoso, e intensificação dos ventos. Essa combinação de fatores aumentará os riscos de frequência de [[Mudanças Climáticas e Favelas (artigo)|enchentes urbanas]] e deslizamentos de terras em áreas de encostas, escassez e elevação dos preços dos alimentos, aumentos nas ondas de calor e impactos no fornecimento e na qualidade da água para população, além do acentuamento das ilhas de calor urbana e dos apagões em áreas que sofrem cronicamente com a injustiça energética.<br />
<br />
Todos esses fatores colocam a [[Maiores favelas do Brasil|população das favelas]] na linha de frente desse declínio ambiental no Brasil. Historicamente, a responsabilidade pelas emissões de carbono que levam às mudanças climáticas são de responsabilidade dos países da Europa, dos EUA, e mais recentemente da China, que se desenvolveram ao longo de séculos a partir da extração ambiental. Se nada for feito, o resultado do desenvolvimento predatório das elites globais recairá sobre os cidadãos mais vulneráveis de países em desenvolvimento. É possível que observemos situação similar a que aconteceu com a corrida pelas vacinas no contexto da pandemia do coronavírus. Os países ricos compraram todas as doses para si em primeira instância, enquanto os países pobres sofreram (e ainda sofrem) com o atraso crônico das entregas dos lotes dos imunizantes. A partir desse cenário desigual entre os países, quais são as chances de enxergar sucesso na mitigação das mudanças climáticas?<br />
<br />
== O Que Precisa Ser Feito? ==<br />
Para termos favelas resilientes a desastres, é preciso oferecer, adaptar e organizar serviços e infraestrutura. É necessário oferecer opções aos moradores de áreas propensas a deslizamentos e enchentes, através de políticas públicas que visem a segurança dos moradores e o direito à permanência em seus territórios, para os moradores que assim desejarem.<br />
<br />
Além disso, o governo precisa de uma atuação competente, inclusiva e transparente nas favelas, com participação ativa da população local. Deve-se preocupar com uma urbanização sustentável e com o investimento de recursos públicos para a gestão de desastres, organizando melhor a resposta do poder público antes, durante e depois de eventos climáticos extremos.<br />
<br />
Uma favela resiliente se faz também com educação ambiental para a população. Quando os moradores compreendem os riscos que enfrentam, são mais capazes de desenvolver processos auto-organizados de conscientização e de mitigação dos efeitos da crise climática. E, com base nos desastres ambientais que já enfrentaram no passado—e em parceria com autoridades que respeitam suas potências—os moradores conseguirão realizar soluções locais efetivas para problemas sistêmicos. Em contraposição à histórica negligência do Estado e à verticalidade de suas ações com relação às favelas, este reconhecimento, respeito e o investimento em processos locais são fundamentais para lidar com a crise climática. A participação verdadeira e plena nas decisões e no planejamento urbano junto com o poder público é pré-condição para a construção de favelas resilientes às mudanças climáticas.<br />
<br />
Quando falamos desses futuros climáticos nas favelas, temos que antecipar para mitigar. Isso pode ser feito incorporando tecnologias de monitoramento, alerta e alarme para a proteção de pessoas e infraestrutura. A criação de locais físicos para o melhor acolhimento de pessoas que serão vítimas precisa ser pensada desde já. É necessário implantar um conjunto de estratégias imediatas de construção para que se estabeleçam plenamente os serviços básicos, inclusive as atividades sociais, institucionais e econômicas nas favelas. E conjuntamente, estratégias de reestabelecimento destes serviços em casos de pessoas atingidas por eventos climáticos extremos. As favelas têm que ser prioritárias quando o assunto é responder à crise climática.<br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[In-Justiça Ambiental]]<br />
<br />
[[Racismo ambiental deveria ser crime (artigo)]]<br />
<br />
[[O que é Justiça Climática na visão de lideranças comunitárias da Rede Favela Sustentável]]<br />
[[Categoria:Temática - Meio Ambiente]]<br />
[[Categoria:Temática - Saúde]]<br />
[[Categoria:Políticas Públicas]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Racismo ambiental]]<br />
[[Categoria:Mudanças climáticas]]<br />
<references /></div>Clarahttps://wikifavelas.com.br/index.php/O_que_%C3%A9_Justi%C3%A7a_Clim%C3%A1tica_na_vis%C3%A3o_de_lideran%C3%A7as_comunit%C3%A1rias_da_Rede_Favela_Sustent%C3%A1velO que é Justiça Climática na visão de lideranças comunitárias da Rede Favela Sustentável2024-02-27T01:22:17Z<p>Kita Pedroza: fotografia</p>
<hr />
<div>Matéria originalmente publicada no site de Notícias RioOnWatch, em 2022. Faz parte da Série ''Justiça Climática,'' criada por meio de uma parceria do RioOnWatch com o Núcleo de Estudos Críticos em Linguagem, Educação e Sociedade (NECLES), da Universidade Federal Fluminense, para produzir matérias que serão utilizadas como recursos pedagógicos em escolas públicas de Niterói.<br />
Autoria: Beatriz Carvalho<ref>''Beatriz Carvalho, cria de Vilar dos Teles em São João de Meriti, é jornalista, mídia-ativista, feminista, toca o Mulheres de Frente.''</ref> <ref>Artigo originalmente publicado no blog Rio on Watch, em 14 de maio de 2022, parte da Série: Justiça Climática. Disponível em: https://rioonwatch.org.br/?p=61270. </ref><br />
O mundo começa a experimentar, de forma cada vez mais frequente, [[Quem precisa de Justiça Climática no Brasil|eventos climáticos]] extremos. O aumento da temperatura tem modificado o clima, ocasionando chuvas cada vez mais intensas, ao mesmo tempo em que alguns países registram ondas recordes de calor. Essas alterações climáticas são consequências de um modelo de desenvolvimento predatório de consumo e produção. Isso é, as ações humanas são responsáveis por essas mudanças. A constatação é do último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) divulgado em fevereiro de 2022. <br />
<br />
Por muito tempo, imaginou-se que as [[Mudanças Climáticas e Favelas (artigo)|mudanças climáticas]] seriam uma consequência para o futuro, mas o documento do IPCC aponta que elas são um desafio do presente. Metade da população mundial já vive sob risco climático, segundo o relatório. Esse cenário é ainda mais grave para as populações marginalizadas, como os moradores de [[:Categoria:Temática - Favelas e Periferias|favelas e periferias]], indígenas e [[Ser negro no Brasil|quilombolas]]. São essas as pessoas que vivem em áreas mais vulneráveis e desinvestidas pelo poder público, com menos recursos para se adaptar às mudanças e aos eventos extremos. <br />
<br />
Nas regiões mais vulneráveis, o número de mortes por secas, enchentes e tempestades foi 15 vezes maior na última década do que nas regiões menos vulneráveis. Refletir sobre isso nos conduz à ideia de [[Quem precisa de Justiça Climática no Brasil|justiça climática]], que surge para reivindicar e visibilizar a importância da defesa, da seguridade e da equidade aos direitos ambientais, ao direito à terra, à água, a um solo produtivo, ao ar limpo e a um ecossistema equilibrado. <br />
<br />
Os impactos da crise climática não atingem a todos da mesma maneira. Pessoas e comunidades estruturalmente apartadas do acesso aos serviços e às políticas públicas sofrem mais profundamente com as questões ambiental e climática.<br />
<br />
“O que acompanha as mudanças climáticas dentro das previsões são os agravamentos dos eventos extremos. Longos períodos de secas, aumento da temperatura, chuva e estiagem, por exemplo. Sabemos que se a estiagem gerar uma falta de água nas grandes cidades os lugares que vão ficar desabastecidos são as favelas. A Providência já sofre com a falta d’água estruturalmente e historicamente”, explica Lorena Portela, co-coordenadora do projeto Providência Agroecológica. A iniciativa, que faz parte da [[Rede Favela Sustentável]] (RFS)*, tem como objetivo a segurança alimentar e a promoção da saúde através da educação, da agroecologia e do saneamento ambiental junto às crianças, jovens e mulheres do Morro da Providência, no Centro do Rio.<br />
<br />
Justiça climática, para Lorena, está relacionada a entender quem são as pessoas mais atingidas pelas mudanças no clima e, a partir disso, agir politicamente para mudar essa realidade. Ela argumenta:<blockquote>“As mudanças climáticas são problemas globais, mas elas afetam de forma desigual as pessoas. Então, a justiça climática é entender que as medidas para enfrentar as mudanças no clima precisam ser pensadas e se tornarem políticas de ações localizadas. No caso das favelas tem toda a questão dos terrenos que podem desabar, tudo isso precisa ser pensado porque já são áreas vulneráveis onde o poder público não chega.”</blockquote>A forma desigual como a crise no clima afeta as populações é uma perspectiva central para entender a ideia de justiça climática. Também é importante discutir quem são os principais responsáveis por esse problema. As nações mais ricas, por exemplo, são responsáveis pelas maiores quantidades de emissão de gases de efeito estufa, mas sofrem menos as consequências desse agravamento no clima, se comparado com os países menos desenvolvidos. O relatório ''Desigualdade Mata'', publicado pela Oxfam, traz outro dado significativo: 1% das pessoas mais ricas do mundo emitem mais do que o dobro de gás carbônico do que os 50% mais pobres do mundo.<br />
<br />
O cenário de injustiça climática é moldado, ainda, pela ausência daqueles que mais sofrem com as consequências dessa crise no debate e nas instâncias de decisão. Nesse sentido, os esforços por se fazerem presentes nos espaços de visibilidade e discussão sobre o clima e o meio ambiente têm obtido bons resultados. Em novembro do ano passado, aconteceu a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), encontro anual da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). <br />
<br />
Ativistas de todo o mundo participaram e realizaram uma agenda paralela ao encontro, trazendo para o centro do debate os interesses e as urgências das populações periféricas. Lideranças de favelas, representantes de comunidades quilombolas e indígenas e ativistas do movimento negro do Brasil estiveram na COP26, cobrando um compromisso real com a justiça climática e denunciando o racismo ambiental e o acesso desigual aos recursos naturais.<br />
[[Arquivo:Comitiva-do-Movimento-Negro-participou-da-COP26.-Foto-Coalizao-Negra-Por-Direitos.jpg|centro|Ativistas da Coalizão Negra por Direitos no encontro da Cop26, em 2021. Foto: Coalizão Negra por Direitos.|alt=Ativistas da Coalizão Negra por Direitos no encontro da Cop26, em 2021. Foto: Coalizão Negra por Direitos.|miniaturadaimagem|507x507px]]<br />
<br />
Apresentar a discussão sobre o clima e o meio ambiente às comunidades e indivíduos que estão na periferia e engajá-los a se apropriar das discussões têm sido um trabalho conduzido por diversas iniciativas nas favelas da região metropolitana do Rio. Uma delas é o Projeto Inclusão, localizado em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O projeto está trabalhando o conceito de justiça climática especialmente com crianças e adolescentes, orientando-os a usar os recursos de forma mais cuidadosa, como explica Élida Nascimento. A coordenadora do Projeto Inclusão conta:<blockquote>“Estamos realizando ações de conscientização sobre a sustentabilidade no planeta para crianças, jovens e adultos através de um laboratório vivo, com hortas, educação ambiental e alimentação saudável. Também procuramos realizar o plantio de árvores pela comunidade.”</blockquote>A cultura do consumo, no entanto, é vista por Élida como um grande desafio ao trabalho de educação ambiental. “Tem sido muito difícil, porque a mídia comercial a todo momento influencia o consumo exacerbado, o que gera muitas consequências à natureza”, observa a mobilizadora. <br />
<br />
== '''Justiça Climática na Voz das Lideranças Integrantes da Rede Favela Sustentável''' ==<br />
Historicamente, áreas desinvestidas, como favelas, para se desenvolver na ausência do Estado, atuam a partir de soluções com base em seus ativos, ou seja, por meio dos talentos da comunidade e do potencial das pessoas e projetos do próprio território. Apesar do contexto desigual, que atravessa também a esfera ambiental, as favelas e periferias produzem bons exemplos para toda a cidade. <br />
<br />
Os integrantes da Rede Favela Sustentável, moradores de favelas e periferias do Rio, são preocupadas com o futuro sustentável de suas comunidades e com a redução dos impactos causados pelas mudanças climáticas sobre seus territórios. A maioria dos projetos da Rede são voltados para o cuidado, gestão e desenvolvimento sustentável, que visam a proteção, a conservação e a regeneração da natureza. São iniciativas que trabalham a educação ambiental, o manejo de áreas verdes, o uso de energias renováveis e o saneamento básico, por exemplo.<br />
<br />
Núbia Corrêa, coordenadora da Comissão de Meio Ambiente de Jacarepaguá, integra a Rede Favela Sustentável há cerca de três anos. Ela é fundadora do projeto Plantas do Quintal, que trabalha com produção de plantas ornamentais, plantas alimentícias não-convencionais (PANCs) e plantas medicinais a partir da gestão de resíduos domésticos para o cultivo, que resulta em geração de renda.<br />
<br />
Na visão de Núbia, há uma estreita relação entre as mudanças no clima e a política. “Nesse momento é mais fácil falar da injustiça climática. Não tem como separar a [in] justiça ambiental da política. As mudanças climáticas ocorrem justamente pela brutal ação do homem contra a natureza com conivência da omissão do poder público. Queimadas, desmatamentos, plantios de soja onde deveria haver florestas nativas… Tudo isso afeta mais a quem? Com certeza não os engravatados em seus carros de luxo”, opina.<br />
<br />
O trabalho coletivo e a multiplicação de boas práticas são o caminho vislumbrado por Núbia para mitigar e enfrentar as consequências da crise climática: “O que é preciso para tentar, de alguma forma, reverter esse quadro? União, se colocar no lugar do outro, saber que suas atitudes geram consequências inevitáveis, como essa tragédia [a crise climática] há anos anunciada pela ciência e negligenciada pelo poder público. Tem muita gente já fazendo coisas muito boas, mas infelizmente nem tudo chega a todos. Quero ser mais um grãozinho nesse marzão”, conta Núbia.<br />
<br />
A preocupação e ação em torno do meio ambiente e do clima são comuns a muitas iniciativas e lideranças que fazem parte da Rede Favela Sustentável. Bruno Almeida, de Santa Cruz, Zona Oeste, é mais um “grãozinho nesse marzão”. Ele é historiador e atua no Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH), iniciativa que integra o Eixo Cultura e Memória Local da RFS. Na compreensão de Bruno, “a justiça climática remete a uma ideia de que vivemos uma injustiça com o clima, uma injustiça produzida por nosso modo de vida e que prejudica nós mesmos, especialmente aos pretos, periféricos. Prejudica todos os seres vivos do planeta que, assim como nós, também dependem de um planeta saudável para continuar existindo como uma espécie”. Ele continua: “sem um olhar apurado do poder público os mais pobres ainda vão continuar à margem e afetados pelo racismo ambiental”.<br />
<br />
Racismo ambiental e justiça climática são ideias próximas, mas com significados diferentes. De forma simplificada, podemos entender que o racismo ambiental está relacionado ao perfil das pessoas que sofrem com a falta de acesso aos recursos naturais, com as consequências das políticas e com ações negligentes com relação ao meio ambiente. <br />
<br />
Alguns exemplos cotidianos podem facilitar o entendimento dessa ideia. Quais são os locais da cidade com os menores índices de saneamento básico? Onde ficam os lixões e aterros sanitários que concentram os resíduos recolhidos na cidade? Quem são as pessoas mais afetadas pela falta de água? Qual a cor, a classe social e o endereço dessas pessoas? Se esses problemas se concentram em locais periféricos, como por exemplo as favelas e a Baixada Fluminense, elas configuram episódios de racismo ambiental, porque prejudicam populações específicas, sobretudo pessoas negras, maioria nesses territórios.<br />
<br />
Na medida em que os recursos naturais são negligenciados e ultrapassamos a capacidade do planeta em absorver os impactos gerados, ampliamos o cenário de crise ambiental e entramos, também, em uma emergência climática. Para Hanna Cavalcanti, ambientalista do coletivo Planta na Rua, localizado na favela do Cantagalo na Zona Sul, e ativo por toda a cidade, essa relação se tornou bastante explícita com a chegada da pandemia do coronavírus. Ela argumenta que “a pandemia tenha contribuído para acelerar esse processo de mudança [de consciência] em alguma medida…, pelo menos para uma parte das pessoas que entendeu o recado de tudo que está acontecendo”. A iniciativa faz parte do Eixo de Soberania Alimentar da RFS.<br />
<br />
== '''Justiça Climática no Contexto Fluminense''' ==<br />
Cidades costeiras, como o Rio de Janeiro, estão particularmente ameaçadas pelas mudanças climáticas. Com o planeta mais quente, as geleiras derretem e eleva-se o nível do mar, que avança sobre as cidades. No Estado do Rio, a cidade de Atafona, no litoral norte, é um grande exemplo dessas consequências. É a cidade brasileira mais afetada pela erosão e pelo avanço do mar, fenômeno que já destruiu centenas de casas. A elevação do mar, no entanto, é apenas uma das diversas consequências da crise do clima.<br />
<br />
Ondas de calor, secas extremas, enchentes, perda de produtividade humana e agrícola, extinção de espécies e deslocamentos humanos forçados fazem parte dos apontamentos do 6º Relatório do IPCC. Segundo o relatório, algumas consequências já são irreversíveis. Portanto, reduzir as emissões para frear os impactos mais severos e se adaptar a essa nova realidade são ações urgentes. Políticas públicas e projetos sociais podem ser fundamentais para isso. <br />
<br />
Um exemplo que emerge do contexto fluminense é a política estadual de apoio à agricultura urbana (Lei 8366/2019), que busca apoiar, incentivar e proteger áreas de agricultura urbana, garantindo a segurança alimentar e nutricional da população carioca em bases sustentáveis. Além do impacto na segurança alimentar, também é objetivo da lei estimular a economia solidária, produzindo renda para associações e cooperativas, e, também, incentivar a criação de áreas verdes, no intuito de controlar a poluição e a erosão, protegendo a fauna e a flora. <br />
<br />
“Chegamos [também] a apoiar vereadores que colocaram propostas, com difícil aprovação, de até reduzir o valor do IPTU de quem, comprovadamente, reflorestar as áreas verdes em volta de sua casa, na rua, em praças e coisas do gênero… Ou seja, há vários caminhos relacionados à pequena agricultura urbana, periférica, comunitária ou em matas. Existem conhecimentos tecnológicos que podem ao mesmo tempo remunerar a população, atrair pássaros, diminuir o calor e frear as mortes por desabamentos. Então temos aí um campo vasto e promissor”, conta o Deputado Estadual Carlos Minc. <br />
<br />
Sabemos, portanto, que no Rio muita política boa não é de fato realizada. Com isso, nossa realidade até hoje foi de depender de soluções que emergem da sociedade civil. Exemplo disso é o projeto Providência Agroecológica, liderado por três mulheres: Elisângela Almeida, Lorena Portela e Alessandra Roque. O coletivo surgiu em 2015, após Elisângela participar de um curso de formação de lideranças por meio da Agência Redes para Juventude. Assim, nasceu primeiro a Horta Inteligente, projeto de educação ambiental voltado para crianças, aliando o cultivo de alimentos com a restauração de áreas degradadas no Morro da Providência. Algum tempo depois, Elisângela encontrou Lorena e Alessandra, que hoje se reúnem na iniciativa Providência Agrocológica.<br />
<br />
As mobilizadoras trabalham voluntariamente e, com muito esforço, conseguiram construir uma sede para o projeto. No espaço existem mais de 500 espécies de hortaliças e plantas medicinais. A iniciativa oferece atividades diárias de plantio, oficinas para crianças e alimentação. “O que a gente faz dentro do [[Morro da Providência]] passa pela justiça climática”, explica Lorena. “Nosso trabalho de reflorestamento, de plantio de alimentos e de educação ecológica estão ligados ao fortalecimento de práticas em saúde baseados nos conhecimentos tradicionais com o uso de plantas medicinais. Entendemos que a gente contribui para a resiliência, autonomia e fortalecimento do território e, também, para a resistência aos efeitos adversos das mudanças no clima. Conseguimos conforto térmico quando temos um ambiente reflorestado e ecologicamente equilibrado. Conseguimos acessar alguns alimentos sem ficar dependendo de safras muito longas ou externas ou dependendo da variabilidade dos preços dos alimentos que acontecem em qualquer momento de crise”, conclui ela. <br />
<br />
A produção de energia limpa e renovável é outro caminho proposto por iniciativas localizadas em favelas do Rio. A Revolusolar, primeira cooperativa solar do Brasil, atua na Babilônia e no Chapéu Mangueira, comunidades da Zona Sul, desde 2016. O projeto de energia solar trabalha com o treinamento de mão de obra local, geração de renda e educação ambiental. O sistema de geração compartilhada beneficia 34 famílias, tendo elas as contas de luz com redução de 30% no valor mensal e ainda com a vantagem de todas estarem consumindo uma energia limpa. <br />
<br />
Para Eduardo Ávila, Diretor Executivo da [[Revolusolar]] aliado ao Eixo Justiça Energética da RFS, as ideias de justiça climática e justiça energética dialogam com a noção de democracia. “A justiça climática e justiça energética têm a ver com democratizar não só as respostas para mitigação da crise climática, mas também as oportunidades de desenvolvimento sustentável que surgem dela, como as energias renováveis, por exemplo”, argumenta. <br />
<br />
Aproximar a produção da energia do ponto onde a mesma é consumida gera uma economia não apenas financeira, mas sobretudo de recursos. Para Eduardo, a presença das placas solares e desse processo no cotidiano das comunidades cumpre, ainda, um papel de conscientização ambiental. “Nós enxergamos as placas solares como mecanismo de educação ambiental, engajamento comunitário na temática de sustentabilidade, na medida que traz, o que antes era algo tão distante dos consumidores finais, para perto”, explica ele, que continua: “A placa solar permite que a gente veja a energia sendo gerada e participe do sistema. Isso contribui para que possamos entender o que está por trás e consequentemente dar a direção para resolver o problema das pessoas e das comunidades, democratizando realmente [o acesso à energia]”. <br />
<br />
O Rio de Janeiro é uma das maiores capitais do país e, assim como quase todos os grandes centros urbanos, também teve sua formação e estruturação fundamentadas no capitalismo e no colonialismo. Uma das consequências mais concretas desse processo é a hierarquia nas relações entre espécies, gênero, classe e raça, acarretando uma situação de vulnerabilidade à natureza e a certos indivíduos e comunidades. Isso se apresenta de diversas formas, inclusive por meio da negligência de agentes sociais e do poder público no uso dos recursos naturais, na ocupação dos territórios e na estruturação das cidades. <br />
<br />
É a periferia e as pessoas que nela vivem que mais pagam essa conta. A nível global, os países do sul, como o Brasil, estão na periferia do sistema político e financeiro internacional. Em comparação com as nações mais ricas, são os países em desenvolvimento da América Latina, África e Ásia os que mais sofrerão com as consequências das mudanças no clima. Sobre isso, Jane Matos, conhecida como Janinha, argumenta: “A mudança climática é injusta porque os que mais causam o aquecimento global são os que sofrem menos com as consequências e as transformações”. <br />
<br />
Para Janinha, os países mais ricos, com suas grandes indústrias, são os que mais colaboram para as emissões de gases do efeito estufa, mas não se pode eximir as demais nações dessa conta. “No Brasil também é assim pois não respeitam a natureza e causam, dessa forma, várias tragédias para o povo e para o mundo”, finaliza ela. Janinha mora em Queimados, na Baixada Fluminense, e atua no pré-vestibular popular da Educafro. <br />
<br />
A justiça climática está no centro da agenda e do debate proposto pela Rede Favela Sustentável, que, este ano, está promovendo uma série de atividades e eventos sobre o tema. Ainda que, à primeira vista, o termo possa parecer distante da realidade das comunidades, as consequências concretas da falta de justiça climática e ambiental são vivenciadas cotidianamente. O primeiro passo para buscar justiça no clima é por meio da participação e das vozes de pessoas e comunidades mais atingidas pelas mudanças climáticas. <br />
<br />
''*A Rede Favela Sustentável (RFS) e o RioOnWatch são projetos da organização sem fins lucrativos, Comunidades Catalisadoras.''<br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[In-Justiça Ambiental]]<br />
<br />
[[Amor é política e tecnologia na luta contra as mudanças climáticas]]<br />
<br />
[[Racismo ambiental deveria ser crime (artigo)]]<br />
<br />
[[Rede Favela Sustentável]]<br />
[[Categoria:Temática - Meio Ambiente]]<br />
[[Categoria:Temática - Saúde]]<br />
[[Categoria:Racismo ambiental]]<br />
[[Categoria:Mudanças climáticas]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Clarahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Amor_%C3%A9_pol%C3%ADtica_e_tecnologia_na_luta_contra_as_mudan%C3%A7as_clim%C3%A1ticasAmor é política e tecnologia na luta contra as mudanças climáticas2024-02-27T01:13:14Z<p>Kita Pedroza: Interlinks, resumo, fotografia</p>
<hr />
<div>Matéria originalmente publicada no site de Notícias RioOnWatch, em 2023. Faz parte da Série ''Justiça Climática,'' criada por meio de uma parceria do RioOnWatch com o Núcleo de Estudos Críticos em Linguagem, Educação e Sociedade (NECLES), da Universidade Federal Fluminense, para produzir matérias que serão utilizadas como recursos pedagógicos em escolas públicas de Niterói.<br />
Autoria: Gisele Moura<ref>''Gisele Moura é uma mulher preta, filha do subúrbio paulista que contrariou as estatísticas e se tornou Cientista Ambiental pela Universidade Federal Fluminense (UFF), sendo também co-fundadora do Núcleo Preto do mesmo curso. Hoje, atua como coordenadora na Rede Favela Sustentável*, e ainda encontra tempo para sensibilizar na trama do crochê.''</ref> <ref>Artigo originalmente publicado no blog Rio On Watch, em 03 de março de 2023, parte da Série: Justiça Climática. Disponível em: https://rioonwatch.org.br/?p=66301.</ref><br />
[[Arquivo:Mulheres Rede Favela Sustentável.png|centro|Mulheres pretas de favela na vanguarda do antirracismo ambiental. Foto do Intercâmbio da Rede Favela Sustentável no CEM (Centro de Integração da Serra da Misericórdia), em 6 de agosto de 2022.|alt=Mulheres pretas de favela na vanguarda do antirracismo ambiental. Foto do Intercâmbio da Rede Favela Sustentável no CEM (Centro de Integração da Serra da Misericórdia), em 6 de agosto de 2022.|miniaturadaimagem|529x529px]]<br />
<br />
<br />
<br />
Ano após ano, ao longo de mais de uma década dedicada aos estudos do meio ambiente, vi que o que era, há pouco tempo, um assunto do futuro, tem se tornado cada vez mais uma urgência do presente. As [[Mudanças Climáticas e Favelas (artigo)|mudanças climáticas]] são uma questão atual e estão na boca do povo. Não tem mais como adiar para amanhã o que já mata e causa prejuízos materiais hoje. Temos que falar sobre isso hoje! Nas mídias, pipocam conteúdos que conceituam, explicam, exemplificam e debatem as questões climáticas. É preciso falar de mudanças climáticas! É preciso falar de eventos climáticos extremos! É preciso falar sobre o [[Racismo ambiental deveria ser crime (artigo)|racismo ambiental]], sobre quem são os povos mais atingidos pela negligência do Estado, pela ausência de políticas e de soluções concretas, para além das discussões técnicas, caras, futuristas e, em geral, fora da realidade.<br />
<br />
Eu trago aqui a urgência de quem debate, estuda e alerta, há anos, sobre os riscos e as consequências do modo de vida ocidental. É urgente criarmos soluções! Exigimos políticas, medidas preventivas de socorro, propostas que compreendam as diversas realidades sociais e geográficas do Brasil. É necessário investir em pesquisas para melhor sabermos como lidar com as transformações que o antropoceno ocidental impõe.<br />
<br />
O começo do ano chega e, com ele, observamos as fortes chuvas de verão, cuja força e grande volume são típicos desta estação. Territórios vulneráveis ficam climaticamente expostos a alagamentos, enxurradas e deslizamentos de terra, causados por décadas de negligência e recordes de volumes de chuva. As tempestades de raios também são cada vez mais intensas.<br />
<br />
Já vi quem culpabiliza as fortes chuvas e a forma como a meteorologia foi modelada, que não consegue prever as mudanças que o modo de vida do ocidente provocou na Terra, na atmosfera e no clima do planeta. Já vi e li sobre eventos climáticos extremos cada vez mais recorrentes. No entanto, paralelo a isso, emerge o debate essencial sobre como as mudanças climáticas escancaram o racismo ambiental e como uma parcela muito racialmente definida da população vem sendo mais vulnerabilizada, mais exposta aos impactos da [[O urbanismo social na crise climática das favelas (artigo)|crise ambiental]] e climática. <br />
<br />
Apesar de importantes, os intermináveis debates acerca da transversalidade das questões socioambientais não atendem ao grito desesperado dos atingidos com a devida urgência que o problema climático impõe. As favelas, comunidades ribeirinhas e demais territórios periféricos, zonas de sacrifício dos eventos extremos causados pelas mudanças no clima, há anos se esgoelam e exigem ações práticas do poder público. Apesar da política da fatiga, as moradoras e moradores não desistem e cobram realizações além das vãs promessas eleitorais. A pauta ambiental exige ação, realismo, responsabilidade e urgência. É para ontem fazer o que tem que ser feito e o povo sabe disso.<br />
<br />
Compreender a agência da natureza que nos circunda, do tempo e das estações do ano, para além da agência do Homem, é fundamental para construir comunidades resilientes. Replanejar o sistema de drenagem de uma cidade que enfrente enchentes, drenar e despoluir rios e lagoas e reutilizar a abundante água da chuva são exemplos de como entender as cidades a partir da nova realidade climática do planeta. É mais importante garantir a segurança das pessoas do que atender a padrões de urbanização consagrados historicamente, que priorizam a reprodução do capital imobiliário. É preciso ter coragem para lutar contra o padrão de séculos de urbanização predatória e desigual das nossas cidades.<br />
<br />
Em meio a tal estado de coisas, o nós por nós assume o papel que seria das autoridades do Estado, que é ausente para proteger e servir, mas bastante presente para matar. É nesses momentos que eu digo que, o que parece generosidade, solidariedade entre vizinhos e empatia, nada mais é do que política pública. São verdadeiras políticas públicas emergentes, que dão o devido valor à vida. Como diz bell hooks:<blockquote>“O amor é um ato político!”</blockquote>Ambientalmente, é muito evidente que o amor é política pública. Em meu escrito ''Tudo que Nois Tem É Nois: Uma Narrativa sobre o Racismo Ambiental e sobre como o Amor, a Ação e as Relações São Capazes de Adiar Finais de Mundo'', abordei a importância das ações socioambientais comunitárias e voluntárias na reparação, na mitigação e nas políticas de resgate em diversos acontecimentos de altos impactos ambientais. É o tal do amor ao próximo, que confronta a vulnerabilidade e promove resiliência comunitária. É o amor fazendo frente a um modelo predatório de sociedade baseado na falta de cuidado com o próximo, no desprezo à coletividade e na sobrevalorização do indivíduo.<br />
<br />
Em 2019, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou um dos seus mais importantes relatórios: ''Mudanças Climáticas e Terras: Um Relatório Especial do IPCC sobre Mudanças Climáticas, Desertificação, Degradação da Terra, Gestão Sustentável da Terra, Segurança Alimentar e Fluxos de Gases do Efeito Estufa em Ecossistemas Terrestres''. Ali, naquele relatório, a ciência assumia pela primeira vez a necessidade de olhar e aprender com os povos tradicionais e seus modos de viver, de produção e de alimentação, pois estes seriam a solução na luta contra os avanços do aquecimento global. Ao ver esse movimento científico de valorização dos povos da terra e de suas tecnologias, reafirmo minha convicção política de que o futuro é ancestral.<br />
<br />
Partindo da minha experiência, de uma mulher preta das quebradas: a solidariedade, a coletividade e a força de ação das mulheres pretas salvam milhões de brasileiras e brasileiros. Em diversas situações extremas, sejam elas climáticas, de insegurança alimentar, de violência policial ou de negação de outros direitos básicos, são os saberes tradicionais de mulheres pretas e suas tecnologias ancestrais que viabilizam a vida e os futuros nos territórios.<br />
<br />
No entanto, enquanto as mulheres pretas estão gerindo as crises estruturais do Brasil e aliviando o impacto delas na população, a partir da ação prática, onde estão as autoridades e suas promessas de campanha? Onde está o orçamento? Onde há tomadas de decisão sobre políticas sobre as favelas e a população preta?<br />
<br />
O Brasil tem hoje um Ministério da Igualdade Racial, com uma ministra favelada e negra, cria do [[Complexo da Maré]], Anielle Franco, irmã da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada há quase cinco anos. E temos um Ministério dos Povos Indígenas, sob o comando de uma liderança indígena do povo Guajajara do Maranhão, deputada federal eleita por São Paulo, Sônia Guajajara. Passos largos estão sendo dados na direção necessária: dar poder às mulheres pretas e indígenas, a fim de minimizar os danos causados por séculos de primazia do patriarcado colonial europeu, do racismo estrutural e da branquitude. Essa é a única via que pode ser tomada para, no longo prazo, reequilibrar as alterações climáticas.<br />
<br />
Nas quebradas, becos e ruínas de aldeias e quilombos, são as mães afroindígenas que assumem o “Ministério do Front”. São elas que sabem as políticas públicas mais eficientes na gestão do caos. Elas que se mobilizam para salvar famílias inteiras através de cestas básicas ou que arrecadam móveis de alguém que não quer mais, mas que ajudam a reconstruir um lar destruído pela chuva. É de oportunidade em oportunidade de trabalho que criam os jovens que, ao crescer, constroem o mundo. É através daquela erva que ela tem no quintal e que, como ensinavam as mais velhas, diversas vezes guardou seu filho e os filhos dos vizinhos de doenças, do quebranto e do mal olhado. Seja com poejo, arruda ou qualquer outra tecnologia de gestão do caos, as mulheres pretas estão nos territórios, criando estruturas políticas que viabilizam a vida, a reconstrução da dignidade e do senso de comunidade na diáspora. <br />
<br />
Este texto é um convite para refletir sobre o papel de vanguarda da mulher preta na luta pelo antirracismo ambiental e climático. É um exercício de entender o amor como um ato político transformador e de reconhecer a potência dos povos tradicionais e das lideranças comunitárias das favelas. É momento de se mobilizar e se aquilombar para adiar fins de mundo. Por isso, aproveito para chamar o bonde todo para participar da Greve Global pelo Clima, que acontece hoje, no dia 3 de março de 2023, às 9 horas, na forma de uma caminhada entre a Avenida Dom Hélder Câmara, 2233, no Jacarezinho, e a favela vizinha de Manguinhos, dois dos territórios mais afetados pelos eventos climáticos extremos do verão de 2023. O ato na Zona Norte do Rio tem como lema “Chega de Enchentes!” e, como objetivo, alertar para o sofrimento das populações das duas favela. O evento é organizado por: Coalizão pelo Clima Rio de Janeiro, Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, Fase, Cebes, Asfoc, Rede Favela Sustentável, Rede de Vigilância Popular em Saneamento e Saúde, Conselho Gestor Intersetorial de Manguinhos, Conselho Comunitário de Manguinhos, Organização Mulheres de Atitude, Associação de Moradores Samora Machel, Associação de Moradores Nelson Mandela, Associação de Moradores Parque Carlos Chagas e Associação dos Moradores da Nova Embratel.<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[In-Justiça Ambiental]]<br />
<br />
* [[O que é Justiça Climática na visão de lideranças comunitárias da Rede Favela Sustentável]]<br />
* [[A urgência em tornar as favelas resilientes às mudanças climáticas]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Meio Ambiente]]<br />
[[Categoria:Temática - Saúde]]<br />
[[Categoria:Racismo ambiental]]<br />
[[Categoria:Injustiça climática]]<br />
[[Categoria:Mudanças climáticas]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Clarahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Garagem_das_LetrasGaragem das Letras2024-02-22T19:00:46Z<p>Kita Pedroza: Revisões necessárias</p>
<hr />
<div>A biblioteca viva [[Garagem das Letras]] fica na Rua Dionéia número 11, na [[Rocinha]], e foi fundada em 2015 com a missão de ampliar o direito à literatura dos moradores da Rocinha. Somos um dos pontos de leitura premiados pelo Ministério da Cultura em 2023.<br />
Autoria: Garagem das Letras<br />
[[Arquivo:Logo .jpg|miniaturadaimagem]]<br />
<br />
== Sobre ==<br />
Segundo a UNICEF, os [[Direitos Humanos Grupos Vulneráveis e Violências|direitos humanos]] são normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos. Esses direitos regem o modo como deveríamos conviver em sociedade, também falam de como é nossa relação com o [[Estado e Mercado (eixo de análise)|Estado]] e as obrigações que o Estado tem em relação às pessoas. Falar sobre direitos humanos é saber que: aquilo que é indispensável para nós é indispensável para o outro. <br />
<br />
As pessoas não negarão que todos têm direito a certos bens básicos para a vida como água, alimento, casa e educação. Mas será que pensam que o seu semelhante pode ter também direito à literatura? A literatura é uma manifestação universal de todos os humanos. Não há povo que possa viver sem algum tipo de ficção.<br />
[[Arquivo:Atividade.jpg|miniaturadaimagem|[[Arquivo:A (7).jpg|miniaturadaimagem]]]]<br />
<br />
A ficção está em cada um de nós, seja na anedota de botequim, no [[Nas Redes do Batidão - técnica, produção e circulação musical no funk carioca|funk]], nos quadrinhos, no jornal, na música popular, no [[Samba, Funk e Rap - um panorama sobre a criminalização da cultura negra no Brasil|rap]], nos pensamentos soltos dentro do busão ou no samba carnavalesco. Se ninguém pode passar na vida sem ficção, a literatura aparece como uma necessidade universal e que precisa ser satisfeita. A satisfação da literatura torna-se portanto um direito.<br />
<br />
A luta pelos direitos humanos passa pela luta pelo direito à [[Periferia Brasileira de Letras (PBL) - Uma rede nacional de coletivos literários periféricos (artigo)|literatura]]. Numa sociedade justa há o respeito aos direitos humanos e o acesso à literatura passa a ser um direito inalienável. Nós da Garagem das Letras atuamos para permitir que os moradores da Rocinha tenham<br />
acesso a literatura como um direito básico.<br />
[[Arquivo:Direito à literatura.jpg|miniaturadaimagem]]<br />
<br />
== Uma biblioteca viva ==<br />
Para nós uma biblioteca deve ser viva. Um lugar de circulação não apenas de livros, mas de ideias, saberes, práticas, informações e conhecimentos.<br />
<br />
Por isso, a Biblioteca Comunitária Garagem das Letras busca por meio de atividades semanais criar pontes de mediação na Rocinha entre o livro e o leitor. Com isso buscamos ampliar o acesso ao livro e a leitura na Rocinha, incentivar e promover a leitura, a formação de público e a difusão de conhecimento.<br />
<br />
As atividades são voltadas para diferentes públicos e idades de acordo com as especificações de cada participante.<br />
[[Arquivo:Clube de leitura.jpg|miniaturadaimagem]]<br />
<br />
Nossa atividades abordam diferentes temas como: educação antirracista, ações contra a misoginia e homofobia, valorização da memória local, direitos das crianças e dos jovens, e formas narrativas diversas. Nossas atividades são feitas de forma circular em torno do livro e da leitura. <br />
<br />
== Nossas atividades ==<br />
● Caixa de doação de livros (Ação permanente)<br />
<br />
● Livro vivo (contação de histórias)<br />
<br />
● Clube de Leitura (Quinzenalmente um grupo mediado por um escritor se reúne para ler um livro)<br />
<br />
● Cine Livro (semanal: às quartas-feiras é exibido um filme inspirado em livros)<br />
<br />
● Ação esquecer os livros pela Rocinha (semestral: duas vezes ao ano livros são deixados em pontos de grande circulação na favela para que os moradores possam pegá-los) <br />
<br />
● Brinquedoteca (semanal: sempre às terças-feiras as crianças entram em contato com brinquedos e brincadeiras de outras épocas )<br />
<br />
● Sexta-Lúdica (Semanalmente sempre às sextas-feiras os participantes são convidados a explorar o mundo lúdico)<br />
<br />
● Papo das meninas (ação mensal onde mulheres da Rocinha se reúnem aos sábados na biblioteca para debater temas e trocar aprendizados)<br />
<br />
● Empréstimos de livros (Ação permanente feita pelo software BibLivre)<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares (Recife)]]<br />
* [[Barracoteca Hans Christian Andersen (Complexo do Alemão)]]<br />
* [[Centro Revolucionário de Inovação e Arte - CRIA]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Bibliotecas]]<br />
[[Categoria:Rocinha]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Literatura]]</div>Garagem das Letrashttps://wikifavelas.com.br/index.php/Barraco_Adentro_(podcast)Barraco Adentro (podcast)2024-02-20T23:33:28Z<p>Kita Pedroza: </p>
<hr />
<div>[[Barraco Adentro (podcast)|Barraco Adentro]] é um programa de podcast radicado na [[Rocinha]], favela localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, que tem como proposta colocar em pauta temas relacionados ao cotidiano das [[Lista de Favelas do Rio de Janeiro|favelas cariocas]]. <br />
Autoria: Cleber Araujo<br />
[[Arquivo:Barraco adentro smc rio.jpeg|centro|miniaturadaimagem|Barraco Adentro: podcast, sediado na Rocinha, que coloca em pauta temas relacionados ao cotidiano das favelas cariocas.]]<br />
<br />
==O início==<br />
Criado em 2011, o Barraco Adentro surgiu como site jornalístico que visava informar e debater sobre assuntos que tocam a realidade da [[Periferias Urbanas|periferia]]. As pautas abordadas não estavam restritas aos acontecimentos do âmbito periférico, mas buscavam refletir sobre uma diversidade de temas que poderiam influenciar, principalmente, na vida dos moradores de favelas. Atendendo a essa proposta, o site funcionou até o ano de 2018.<br />
[[Arquivo:Barraco adentro - logomarca site.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|O Barraco Adentro surgiu como site jornalístico, ativo entre 2011 e 2018.]]<br />
Somente em julho de 2023 o Barraco Adentro retornaria às atividades, inovando em seu formato, para levar ao público conteúdos como um programa de podcast. Esse retorno aconteceu através do Fomento à Cultura Carioca - FOCA 2022 - quando a proposta do Barraco Adentro foi aprovada no referido edital da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro para realização da temporada “Rocinha, uma história de lutas”.<br />
<br />
A Temporada 2, "O levante da [[Rocinha]] nas [[Jornadas de Junho de 2013 no Rio de Janeiro|Jornadas de Junho]]" teve início em janeiro de 2024 e também já está no ar. As iniciativas do site e do podcast são do jornalista e morador da Rocinha Cleber Araujo, que, a cada episódio sonoro, convida: "Fique à vontade, porque o barraco é todo seu".<br />
<br />
==Temporada 1 - ROCINHA, UMA HISTÓRIA DE LUTAS==<br />
A temporada resgata o legado dos movimentos comunitários que contribuíram para viabilizar importantes conquistas sociais junto à Rocinha. Nesse sentido, foram entrevistados moradores de distintos campos de atuação que, através de mobilizações comunitárias, ajudaram a consolidar a favela da Rocinha como um território de relevância cultural e econômica para a cidade do Rio de Janeiro. <br />
<br />
No total, foram realizados 8 episódios (1 teaser e 7 entrevistas) para recontar acontecimentos importantes que ficaram de fora da história oficial do município carioca. <br />
[[Arquivo:Barraco adentro - miniatura podcast.jpg|miniaturadaimagem]] <br />
<br />
===Episódios ===<br />
[https://open.spotify.com/episode/38a1fcIbYzl3SO3bsnlO9L?si=osj7qUiuR96XEle6X383JQ&nd=1&dlsi=8254b3cf74484f00 #00 _ Rocinha, uma história de lutas (15/ 06/ 2023)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/2dT45CcevlYWecMX3YT85O?si=kQXNkg8FQgWYuTU6XGZO-g #01 _ José Martins, o homem da água na luta pelo saneamento (01/07/2023)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/6jEOtdjWTKpmPYHaeSuGt2?si=cad16497a53a4993 #02 _ Rita Smith, uma vida em combate à tuberculose (15/07/2023)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/1AW7mANQf0LNYFa83us3R5?si=7aed30339b5e4197 #03 _ Maurício Trajano, a rebeldia do Jornal Tagarela da Rocinha (01/08/2023)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/0LRKRQejKundH9DMT6cHBk?si=473065ea32b345f8 #04 _ Maria Jandira: alento, afeto e esperança pela educação (15/08/2023)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/5M2DtEmf8tmz1xDrjotzPa?si=eb3314ca066d4907 #05 _ Bruno Pereira: a educação como instrumento de transformação (01/09/2023)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/5fzThYDipy1P4GM0HleX6F?si=fa6722ead4ed4713 #06 _ Ricardo Bocão: a vanguarda do surfista de Favela (15/09/2023)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/5gGZzTXc0F5cdfK5tmEGfq?si=5468773cba424f88 #07 _ Aurélio Mesquita: a face humana do Cristo Favelado (02/10/2023)]<br />
<br />
===Playlist da Temporada 1, com tradução em Libras===<br />
[[Arquivo:Barraco Adentro - acessibilidade.png|esquerda|miniaturadaimagem|Episódios da Temporada 1 acessíveis em linguagem de sinais, no Youtube.]]<br />
<br />
====Ação de acessibilidade====<br />
A primeira temporada do Barraco Adentro promoveu ação de acessibilidade, conforme previsto no edital, traduzindo em linguagem de sinais todos os episódios para disponibilização no Youtube, que virou a principal plataforma de interatividade do projeto. <br />
<br />
<br />
====[https://www.youtube.com/playlist?list=PLeiu4QQ_SkDwmYfnFr99caREyVCA9P7Nw Clique aqui e veja a playlist no Youtube]====<br />
<br />
==Encontro de encerramento da TEMPORADA 1==<br />
Para o encontro de encerramento da primeira temporada foi organizada uma roda de conversa que promoveu um debate sobre “[[Comunicação popular e comunitária salvam vidas durante a pandemia (artigo)|Comunicação Comunitária]] e Memória Coletiva: a favela pela sua própria narrativa”. O encontro aconteceu no último sábado de outubro (28) de 2023 na Biblioteca Parque da Rocinha - C4 com a presença de comunicadores comunitários, colaboradores do projeto, entrevistados e de moradores interessados na temática e/ou que acompanharam o programa. Uma média de 20 pessoas participou da roda de conversa, que teve como proposta refletir sobre a importância das mídias locais no enfrentamento ao silenciamento das pautas periféricas no processo de construção da história oficial.<br />
[[Arquivo:Barraco adentro encerramento foto1.jpg|miniaturadaimagem|Encontro de encerramento da Temporada 1 do podcast Barraco Adentro, em outubro de 2023. Foto: Carlos Eduardo Villanova]]<br />
<br />
====“Comunicação Comunitária e Memória Coletiva: a favela pela sua própria narrativa”====<br />
No evento de encerramento da primeira temporada do podcast, foi realizada a roda de conversa “Comunicação Comunitária e Memória Coletiva: a favela pela sua própria narrativa”, reunindo [[Comunicação popular: quem faz? (filme)|comunicadores comunitários]], colaboradores do projeto, entrevistados e moradores da Rocinha. O evento teve tradução simultânea na linguagem de libras.<br />
<br />
[[Arquivo:Barraco adentro foto2.jpg|miniaturadaimagem|Roda de conversa no evento de encerramento da primeira temporada do podcast Barraco Adentro, na Rocinha. Foto: Karla Martins ]]<br />
<br />
====Roda de conversa: [https://www.youtube.com/watch?v=lRo7ED6AXmA&t=5s assista a um trecho aqui]====<br />
A pauta do encontro foi norteada pelo legado da TV Tagarela da Rocinha e do Jornal [[Fala Roça]] através dos relatos de Fabiana Melo Sousa e Michel Silva, que representaram os respectivos veículos midiáticos. O tema escolhido para roda de conversa está relacionado à proposta aprovada para o FOCA 2022 de chamar a atenção para a disputa da memória coletiva e, consequentemente, da construção da história oficial.<br />
<br />
==Ficha técnica==<br />
Temporada I: Rocinha, uma história de lutas <br />
<br />
Direção: Cleber Araujo <br />
<br />
Intérprete de Libras: Thamires Alves Ferreira <br />
<br />
Produção: Robson Melo <br />
<br />
Arte Gráfica: Ludmila Freitas <br />
<br />
Roteiro e edição: Karla Martins <br />
<br />
Marketing Digital: Maria Olívia e Sandra Manuelli <br />
<br />
Músicas: "Em cima da linha" e "Solitário" do grupo Chorando à toa da Escola de Música da Rocinha<br />
<br />
Realização: Barraco Adentro<br />
<br />
Apoio: Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro; Fomento à Cultura Carioca - Linha 2 do edital de seleção SMC nº 05, de 23 de maio de 2022<br />
<br />
==Temporada 2 - O LEVANTE DA ROCINHA NAS JORNADAS DE JUNHO==<br />
Após dez anos das [[Jornadas de Junho de 2013 no Rio de Janeiro|Jornadas de Junho]], o Barraco Adentro produziu uma minissérie para relembrar a participação da Rocinha na insurreição popular que abalou as estruturas políticas do Brasil em 2013. São quatros episódios que pontuam as principais reivindicações comunitárias que ganharam as ruas naquele momento histórico: [[Saneamento em favelas - Jose Stelberto (entrevista)|saneamento básico]] SIM, elefante branco (teleférico) NÃO; permanência dos moradores no alto do Laboriaux; e [[Caso Amarildo|Cadê o Amarildo]]. <br />
<br />
===Episódios===<br />
[[Arquivo:Roberto Lucena, liderança comunitária da Rocinha e um dos fundadores do movimento Rocinha Sem Fronteiras. Data- 07-05-2022. Foto- Kita Pedroza.jpg|miniaturadaimagem|Roberto Lucena. Manifestação Bolo do saneamento, realizada, na Rocinha, em 07-05-2022. Foto de Kita Pedroza]]<br />
[[Arquivo:Simone Rodrigues, uma das fundadoras do movimento Rocinha Sem Fronteiras. Data 25-11-2017. Foto- Kita Pedroza.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Simone Rodrigues. Atividade do projeto de extensão 'A construção dos planos populares como estratégias de resistência aos projetos urbanos hegemônicos' (UFRJ-IPPUR e moradores da Rocinha). Data 25-11-2017. Foto de Kita Pedroza]]<br />
[https://open.spotify.com/episode/12YtoMw3iXMmUgrLOAODMP?si=1e391222bcb84f86 #08 _ Denis Neves: a convocação para o morro descer (06/01/2024)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/64cAg35PFR0ZWmIlsH6V2W?si=6a26019dd6614686 #09 _ Michelle Lacerda _ a voz destemida que repercutiu o caso Amarildo pelas ruas (20/01/2024)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/2HHIUZJGE6OC7xn90lnkwZ?si=13977c3849f14d6d #10 _ Simone Rodrigues: a luta da favela pelo direito à cidade (03/02/2024)]<br />
<br />
[https://open.spotify.com/episode/4GlZPhlZ9LTFMkaY2fQgGZ?si=144bcc0f168b4cc0 #11 _ Roberto Lucena: uma perspectiva comunista sobre as Jornadas de Junho (18/02/2024)]<br />
[[Arquivo:Michele Lacerda. Uma das fundadoras do movimento A Rocinha Resiste. Data 03-02-2019. Foto de Kita Pedroza.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Michele Lacerda. Comemoração de 1 ano do movimento A Rocinha Resiste, na laje de Michelle, na Rocinha. Data 03-02-2019. Foto de Kita Pedroza]]<br />
===Playlist da Temporada 2, no Youtube===<br />
<br />
====[https://www.youtube.com/playlist?list=PLeiu4QQ_SkDx4ABmcK4SyEEck1hiSrd5W Clique aqui e veja a playlist no Youtube]====<br />
===Ficha técnica===<br />
Temporada: O levante da Rocinha nas Jornadas de Junho <br />
<br />
Direção: Cleber Araujo <br />
<br />
Produção: Robson Melo <br />
<br />
Argumento e pesquisa: Karla Martins <br />
<br />
Músicas: "Em cima da linha" e "Solitário" do grupo Chorando à toa da Escola de Música da Rocinha <br />
<br />
Realização: Barraco Adentro<br />
<br />
==Prêmios e editais==<br />
Chancelado pelo [https://doweb.rio.rj.gov.br/portal/visualizacoes/pdf/3063#/p:110/e:3063?find=A%C3%A7%C3%B5es%20locais%202105 Prêmio Ações Locais 2015], promovido pela Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Contemplado no [https://doweb.rio.rj.gov.br/portal/visualizacoes/pdf/5559#/p:53/e:5559?find=fomento%20a%20cultura%20carioca II Edital de Fomento à Cultura Carioca - Foca 2022], promovido pela Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro<br />
<br />
==Barraco Adentro na mídia ==<br />
[https://brasilnordeste.com/2023/11/01/biblioteca-parque-da-rocinha-c4-recebe-roda-de-conversa-sobre-comunicacao&#x20;-comunitaria/ Brasil Nordeste] 01/11/2023<br />
<br />
[https://falaroca.com/podcast-temporada-conquistas-historicas-rocinha/ Fala Roça 07/07/2023]<br />
<br />
[https://brasilnordeste.com/2023/06/30/podcast-com-temporada-sobre-a-rocinha-sera-lancado-em-julho-com-acessibilidade-para-pessoas-surdas-e-com-deficiencia-auditiva/ Brasil Nordeste 30/06/2023]<br />
<br />
== Links externos==<br />
Barraco Adentro no [https://www.youtube.com/@BarracoAdentro Youtube]<br />
<br />
Barraco Adentro no [https://open.spotify.com/show/42XHpBp5Sc9LuUjP5iM1JH?si=a6af21606d914d16 Spotfy]<br />
<br />
Barraco Adentro no [https://www.amazon.fr/Barraco-Adentro/dp/B0CCQB5JL7 Amazon Music]<br />
<br />
==Referências Bibliográficas==<br />
[https://observatoriodefavelas.org.br/wp-content/uploads/2013/06/Midia-e-favela_publicacao.pdf Mídia e favela: comunicação e democracia nas favelas e espaços populares] / [coordenadores Jailson de Souza e Silva e Thiago Araujo Ansel]. - 1.ed. - Rio de Janeiro : Observatório de favelas, 2012. (citação na página 29)<br />
<br />
[https://books.google.com.br/books?id=U4diDwAAQBAJ&pg=PA111&lpg=PA111&dq=barraco+adentro+rocinha&source=bl&ots=E5UOznJoUd&sig=ACfU3U0UsR53uWzv5Fi7cbbzn1BaYZwcfg&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwiC162Yz7eEAxWMpZUCHWgQAu04MhDoAXoECAIQAw#v=onepage&q=barraco%20adentro%20rocinha&f=false Comunidade Audiovisuais: a comunicação produzida por jovens moradores de favela] / Lilian Saback. - 1. ed. Rio de Janeiro: Mauad X: PUC - Rio, 2018. (citação na página 111)<br />
<br />
==Ver também==<br />
<br />
*[[Barraco Adentro (podcast)]]<br />
*[[Favela e Ciência (podcast)]]<br />
*[[Fala Roça]]<br />
*[[TV Tagarela da Rocinha]]<br />
*[[Comunicação popular: quem faz? (filme)]]<br />
*[[Conferência de Jornalismo Comunitário]]<br />
[[Categoria:Temática - Mídia e Comunicação]]<br />
[[Categoria:Comunicação comunitária]]<br />
[[Categoria:Comunicação popular]]<br />
[[Categoria:Comunicação favelada]]<br />
[[Categoria:Podcasts]]<br />
[[Categoria:Memórias]]<br />
[[Categoria:Rocinha]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Kita Pedrozahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Coletivo_EcosColetivo Ecos2024-02-12T07:05:14Z<p>Kita Pedroza: </p>
<hr />
<div><small>Coletivo Ecos é um projeto social fundado em abril de 2023, com objetivo de contribuir para democratização do acesso e do fazer artístico entre a [[Juventudes em acesso à cidade - desafios e resistências|juventude]] periférica, atuando principalmente na região metropolitana do Rio de Janeiro. Suas ações são direcionadas para as escolas públicas, onde são desenvolvidas iniciativas socioculturais e de cunho pedagógico na inserção da arte no cotidiano escolar.</small><br />
Autoria: Lucas Marte<br />
<br />
== <small>'''Educação'''</small> ==<br />
<br />
<br />
<small>O trabalho promovido pelo coletivo visa introduzir a arte como uma ferramenta de inserção e redução de [[Mapa da Desigualdade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro|desigualdades]], contribuindo diretamente para a [[Educação Integral|educação]]. Suas iniciativas são desenvolvidas como atividades extracurriculares e buscam atingir positivamente diversos aspectos da vivência escolar</small><br />
<br />
<small>As ações, como oficinas, palestras, exposições entre outras atividades, desempenham o papel de aproximar e criar um vínculo do aluno com a escola, assim como na formação de um ambiente coletivo entre a comunidade discente. Dessa forma corroborando para um embate direto contra a violência e a evasão escolar.</small><br />
<br />
== <small> '''Arte'''</small> ==<br />
<br />
<br />
<small>O Coletivo Ecos opera de forma voluntária, onde seus integrantes são artistas ou educadores em início de carreira na faixa etária de 15 a 25 anos, que atuam como membros fixos ou em atividades pontuais como colaboradores.</small><br />
<br />
<small>O intuito de trabalhar com artistas emergentes é proporcionar oportunidades de desenvolverem seu trabalho com atividades que poderão entrar no seu currículo e viabilizar espaços que possam ser vistos e conhecidos, participando direta ou indiretamente na formação de novos artistas.</small><br />
<br />
<small>A ideia de fazer um trabalho de jovem para jovem é na tentativa de estreitar e facilitar a comunicação. A efetivação de ações por mediação de outros jovens tem uma perspectiva de simplificação de sua execução, uma vez que a distância geracional é menor, o que aproxima a linguagem e propicia a criação de um ambiente mais familiar para se expressar.</small><br />
<br />
== Ligações externas ==<br />
<br />
[https://www.instagram.com/ecos_coletivo/ @ecos_coletivo]<br />
<br />
== Ver também ==<br />
* [[Educação Integral]]<br />
* [[Rede Emancipa de Educação Popular]]<br />
* [[Movimento de Educação Popular +Nós]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Educação]]<br />
[[Categoria:Artes]]<br />
[[Categoria:Escolas]]<br />
[[Categoria:Coletivos]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Lucas Martehttps://wikifavelas.com.br/index.php/Semin%C3%A1rios_do_Dicion%C3%A1rio_de_Favelas_Marielle_FrancoSeminários do Dicionário de Favelas Marielle Franco2024-02-08T19:19:07Z<p>Kita Pedroza: interlinks, ortografia, resumo</p>
<hr />
<div>Os [[Seminários do Dicionário de Favelas Marielle Franco]] são eventos organizados pela equipe do projeto, que vai além de sua plataforma na internet, sobre diversos temas relativos ao universo amplo das favelas. Este verbete reúne os seminários realizados ao longo da história do Dicionário, iniciada em 2016. <br />
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.<br />
<br />
== Sobre ==<br />
Ao longo de sua existência, o [[Dicionário de Favelas Marielle Franco e a Descolonização do Conhecimento|Dicionário de Favelas Marielle Franco]] tem organizado seminários com a participação de pesquisadores, parlamentares, lideranças comunitárias, artistas e diversos sujeitos envolvidos nas lutas sociais relacionadas às favelas. Nesses eventos, foram realizadas reflexões e análises de conjuntura política, homenagens a personalidades, como [[Marielle Franco]], e atividades artísticas relacionadas às culturas negra e favelada.<br />
<br />
Um evento importante que serviu de inspiração para os seminários do Dicionário foi o [[Favela é Cidade (vídeo do seminário)|Favela é Cidade]] realizado em 2012 na [[favela Santa Marta]], no Rio de Janeiro, que discutiu sobre as [[UPP – a redução da favela a três letras|Unidades de Polícia Pacificadora (UPP)]], seus limites e implicações, privilegiando pontos de vista de moradores de favelas.<br />
<br />
== Lista de seminários ==<br />
<br />
=== Seminário I: Lançamento do Dicionário de Favelas ===<br />
[[Arquivo:Cleo e monica.png|centro|miniaturadaimagem|Imagem do evento de lançamento.]]<br />
O lançamento do Dicionário de Favelas Marielle Franco, 16 abril de 2019, na Biblioteca de Manguinhos, na Fiocruz, no Rio de Janeiro foi marcado por homenagens à [[Marielle Franco|vereadora carioca]], assassinada brutalmente em 2018, cujo nome batiza o dicionário. <br />
<br />
Presentes à cerimônia, os pais da vereadora receberam uma placa homenageando a filha. “Marielle não acreditava que poderia acabar com a violência no Rio, mas sim que, com uma atuação segura e honesta na Câmara Municipal, poderia ajudar a amenizá-la. Infelizmente, não conseguiu. Por outro lado, seu assassinato acabou transmitindo para a sociedade do Rio que é possível, sim, com honestidade e com trabalho, diminuir um pouco essa violência”, narrou seu pai, Antônio Francisco da Silva Neto.<br />
<br />
O lançamento do ''Dicionário de Favelas Marielle Franco'' também marcou o 33º aniversário do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). “O dicionário para nós é um presente. Pois canaliza uma série de ideias e de atividades que já exercíamos, na busca pela defesa efetiva e cotidiana dos direitos humanos. Atua em linhas fundamentais também para o Icict, como a construção da ideia de ciência cidadã, a busca por diálogo permanente com a comunidade. Atua na preservação de direitos que são muito caros, como o direito à informação e à comunicação. E também na busca pela diversidade e pluralidade”, explicou Rodrigo Murtinho, diretor do Icict.<br />
<br />
[[Lançamento do Dicionário de Favelas Marielle Franco|Clique aqui para acessar o verbete do evento!]]<br />
<br />
=== Seminário II: Marielle Vive! ===<br />
[[Arquivo:The event ‘Marielle Lives On! Favelas Rebuilding Brazil.’ Opening panel (Sonia Fleury presents). Photo Priscila Silva.png|centro|miniaturadaimagem|Evento Marielle Vive! Favelas na reconstrução do país. Mesa de abertura (fala de Sonia Fleury). Foto: Priscila Silva.]]<br />
"Marielle Vive! Favelas na reconstrução do país" foi um evento organizado pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco e realizado na Biblioteca de Manguinhos, na [[FIOCRUZ e seu apoio às Favelas|Fiocruz]], no dia 13 de março de 2023. O objetivo do evento foi repercutir e rememorar os 5 anos do assassinato de [[Estátua Marielle Franco|Marielle Franco]] e Anderson Gomes, não elucidados até hoje e pensar a reconstrução do país sob a ótica das lutas das favelas e das populações e grupos discriminados.<br />
<br />
[[Marielle Vive! Favelas na Reconstrução do País - Discussão sobre o Legado de Marielle Franco|O evento]] contou com uma mesa redonda com [[Favelados e faveladas no parlamento|parlamentares]] intitulada "Da favela ao parlamento" trazendo representantes e lideranças discutindo o [[Marielle Franco (PSOL/RJ) - Maré - RJ|legado político de Marielle Franco]] e as estratégias para a construção de novos caminhos na luta por direitos de cidadania.<br />
<br />
Além disso, no pátio de entrada, foi apresentada a exposição fotográfica "Outras Marés", com a participação de integrantes do [[Coletivo Fotografia Periferia e Memória]]. A curadoria é de Dante Gastaldoni que diz que, através do olhar das favelas e periferias "surge a esperança de estarmos ao sabor de uma nova maré, que há de varrer desigualdades e semear utopias".<br />
<br />
Ao final houve poesia, canto e dança através da performance cultural “Eu sou porque nós somos”, que contou com Rachel Barros, Carolina Rocha, Deley e convidados (as).<br />
<br />
[[Marielle Vive - Favelas na reconstrução do país|Clique aqui para acessar o verbete do evento!]]<br />
<br />
=== Seminário III: 5 anos de memórias e lutas: Dicionário de Favelas Marielle Franco ===<br />
O evento que marca os 5 anos do Dicionário de Favelas Marielle Franxo ocorrerá no dia 11 de setembro de 2024, no âmbito do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS), oferecido pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict-Fiocruz), instituto em que se sedia o Dicionário.<br />
<br />
O seminário pretende garantir a presença de convidados(as) e participantes de diferentes partes do Brasil e propiciará um espaço de troca entre intelectuais e lideranças que vêm, há anos, debatendo a produção de conhecimentos e memória em favelas e periferias do Brasil, tanto nas áreas relacionadas à saúde coletiva, quanto no debate sobre segurança, política, educação e cultura. <br />
<br />
O próprio Dicionário de Favelas Marielle Franco já vem ampliando suas atividades acadêmicas ao desenvolver linhas de curso, de formação, de pesquisa e de estratégias de comunicação - como, por exemplo, o "Tamo junto!" e o curso de acervos, que reuniu profissionais de diferentes áreas, como sociologia, história, geografia e biblioteconomia, ativistas de favelas que interrogam seus conhecimentos técnicos aos desafios de cada contexto, considerando os diferentes processos de vulnerabilização que envolvem as favelas no Brasil. <br />
<br />
Para tanto, os profissionais envolvidos no evento poderão se engajar nessas linhas, ajudando a definir os próximos passos de atuação do Dicionário de Favelas e de sua rede de parceiros nos próximos anos.<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[I Seminário de geração cidadã de dados (evento)]]<br />
* [[Adeus Aglomerados Subnormais - Seminário IBGE]]<br />
* [[1º Congresso Internacional - Falando sobre segurança pública na Maré]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Seminários]]<br />
[[Categoria:Eventos]]<br />
[[Categoria:Temática - Favelas e Periferias]]</div>Gabrielhttps://wikifavelas.com.br/index.php/ViramundoViramundo2024-02-07T11:19:51Z<p>FLAVIO WITTLIN: Criou página com 'O mundo a gente muda a partir de onde a gente está'</p>
<hr />
<div>O mundo a gente muda a partir de onde a gente está</div>FLAVIO WITTLINhttps://wikifavelas.com.br/index.php/Censo_popular,_automapeamento_e_cartografia_social_da_Provid%C3%AAnciaCenso popular, automapeamento e cartografia social da Providência2024-01-31T14:12:18Z<p>Kita Pedroza: Revisão necessária</p>
<hr />
<div>Relatório que apresenta atividades e resultados da iniciativa intitulada “Censo Popular, Automapeamento e Cartografia Social do Morro da Providência – SOS Providência & projeto Morador Monitor”, realizada pelo Comitê SOS Providência, através do projeto Morador Monitor, com assessoria técnica do NEGRAM/IPPUR/UFRJ (Núcleo de Estudos em Geografia, Relações Raciais e Movimentos Sociais, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e aportes financeiros da Fundação Oswaldo Cruz e da Ação da Cidadania.<br />
Autoria: SOS Providência e moradores-monitores / Assessoria técnica: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Relações Raciais e Movimentos Sociais (NEGRAM/IPPUR/UFRJ)<br />
<br />
[[Arquivo:Mapa Censo Popular da Providência.jpg|centro|Mapa Censo Popular da Providência]]<br />
<br />
== Resumo dos resultados ==<br />
[[Arquivo:SOS Providência 2024.jpg|alt=SOS Providência|esquerda|miniaturadaimagem|SOS Providência]]<br />
Este relatório apresenta as atividades e resultados do “Censo Popular, Automapeamento e Cartografia Social do [[Morro da Providência]] – SOS Providência & projeto Morador Monitor”. Tal iniciativa é protagonizada pela instituição [[SOS Providência]] através de seu projeto Morador Monitor, e conta com assessoria técnica do [https://www.conecta.parque.ufrj.br/laboratorio/2851 NEGRAM/IPPUR/UFRJ] e aportes financeiros da [https://portal.fiocruz.br/ Fundação Oswaldo Cruz] e da [https://www.googleadservices.com/pagead/aclk?sa=L&ai=DChcSEwj-sP2IhJiEAxVcFq0GHYtBCDMYABAAGgJwdg&ase=2&gclid=Cj0KCQiAzoeuBhDqARIsAMdH14ErXkcvLR-PSOzs-1iTJs4qfKlFUFh879WYCrKjXUug8EK7scjNZgAaAl41EALw_wcB&ohost=www.google.com.br&cid=CAESVuD2bt6SbnHfxX_Ey9X0QxyYYebWJhOGWFNf9CV-nYhLW6wcr3bSK3AxhQuviv9RSrrfLBPW6eCfYHrGDyAj7hI0xbZJuTf4PoCOf3LdHWUNWkO-BLIm&sig=AOD64_3JuTFFE_W7tWIZNoPaXeUBcKTyaA&q&nis=4&adurl&ved=2ahUKEwiHiOyIhJiEAxUNrJUCHacaB0AQ0Qx6BAgPEAE Ação da Cidadania]. O levantamento foi concebido com protagonismo dos sujeitos do território (SOS Providência e grupo de Moradores Monitores), que definiram o que seria levantado (escopo), como seria levantado (metodologia), e foram os responsáveis pela execução da pesquisa no campo. Este trabalho é desdobramento das iniciativas protagonizadas pelo grupo em 2020, no contexto da [[Coronavírus (eixo de análise)|pandemia de COVID-19]], em que a combinação de crises sanitária e social agravadas por opções governamentais negacionistas deixou a população da comunidade num grave quadro de vulnerabilidade. Ali, o grupo iniciou um trabalho de arrecadação de donativos (de alimentos, itens de higiene, entre outras necessidades) e acompanhamento do quadro da COVID, construindo uma base de dados própria sobre a pandemia em seu território.<br />
<br />
O trabalho contemplou três frentes articuladas: (a) um processo de reconhecimento territorial e mapeamento, com a produção de referentes toponímicos pelos sujeitos locais e posterior georreferenciamento e geração de mapas, que envolveram a delimitação do território, regionalização interna e identificação georreferenciada de imóveis; (b) um levantamento de dados, inicialmente pensado com caráter censitário e, portanto, visando cobertura total, mas que posteriormente foi redesenhado e redimensionado; e (c) a realização de oficinas de [[Cartografia Social Urbana (livro)|Cartografia Social]] com o grupo dos Moradores Monitores, visando um processo de construção de uma leitura coletiva do território.<br />
<br />
A [[Morro da Providência|Providência]] é uma comunidade localizada na área central do Rio de Janeiro e com forte importância na história da cidade. Acima de tudo, abrange um perímetro altamente heterogêneo, tanto internamente quanto nas suas interfaces com o restante da cidade: faz limites com áreas como a Central do Brasil, os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo (a Providência está no meio da área objeto da Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha, uma das principais intervenções urbanas do projeto de Rio de Janeiro Olímpico nos últimos 15 anos); além da proximidade de importantes terminais de transporte como a Rodoviária Novo Rio e o entroncamento de nodais da Central do Brasil, com terminais de trem, metrô, VLT e os ônibus e vans no Terminal Américo Fontenelle.<br />
<br />
Em segundo, a própria delimitação da Providência envolve recortes distintos: Primeiramente, se fala do “Complexo da Providência”, que contempla o Morro da Providência e o Morro do Pinto (ambos com partes internas que também tem identificações próprias, como é o caso da área conhecida como King Kong no Morro do Pinto, quase já próxima à Leopoldina); e, há o próprio Morro da Providência, que inclui partes também toponimizadas, como a Pedra Lisa. Deste território heterogêneo, o SOS Providência e os Moradores Monitores decidiram abranger no presente trabalho o Morro da Providência (e, junto a ele, a Vila Portuária, um conjunto habitacional de dez prédios contíguo ao Morro mas com acesso pelo bairro do Santo Cristo, além da Pedra Lisa), e a parte do King Kong no Morro do Pinto, que pelo critério de vulnerabilidade social também merecia uma atenção especial, segundo os sujeitos. Assim, este levantamento abrange uma área descontínua, constituída por duas “manchas”, a do Morro da Providência + Pedra Lisa + Vila Portuária, e a do King Kong. Para fins de organização do campo, a área abrangida foi dividida em 10 sub-áreas, sendo King Kong, Pedra Lisa e Vila Portuária considerados como recortes, e o restante do Morro da Providência subdividido numa regionalização interna que buscou compatibilizar as divisões de setores censitários do IBGE e as indicações dos próprios MMs, conhecedores do território. <br />
<br />
Ao longo de dez semanas de levantamento, os MMs visitaram um total de 2.897 domicílios, mas como em 1.025 os moradores estavam ausentes, e em 416 houve a recusa em responder ou os imóveis estavam desocupados, foram inquiridos e respondidos um total de 1.456 questionários. O total estimado de domicílios da área abrangida, a partir dos dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010, era de algo em torno de 3.900 domicílios (sabemos que desde 2010 muita coisa mudou na Providência, com remoções que foram iniciadas e interrompidas do Projeto Porto Maravilha e suas obras, mas com novas ocupações também em áreas que antes eram mata). Assim, o total de questionários respondidos perfaz algo próximo de 37,3% do universo estimado – o que, apesar de não ter sido inicialmente pensado com caráter de amostragem, por outro lado é uma proporção respeitável, e sobre a qual destaca-se a boa dispersão territorial por todas as dez áreas em que o território foi dividido.<br />
<br />
O território abrangido é, portanto, bastante heterogêneo, o que se refletiu nas condições de realização do trabalho e organização da equipe, e também nos resultados apurados no levantamento. Se a Vila Portuária é um conjunto de dez prédios de apartamentos, hoje o que se considera Morro da Providência envolve áreas com vias pavimentadas e abertas à circulação de carros como a Ladeira do Faria ou a Ladeira do Barroso, e outras adensadas com vias estreitas e irregulares onde apenas pedestres conseguem circular, e muitas com dificuldades. Dos 1.456 imóveis com questionários respondidos, segundo a observação dos Moradores Monitores 671 (46%) se localizavam em ruas (percentual certamente impactado pela inclusão da Vila Portuária), enquanto 632 (43,4%) em becos, 66 (4,5% em escadarias), 29 (1,9%) em vielas e 58 (3,9%) em outros tipos de logradouros. Esta diversidade urbanística impacta e reflete diferenciais de infraestrutura, renda e condições sociais.<br />
<br />
O perfil populacional que aparece na pesquisa é predominantemente feminino (quase 52,7% de mulheres frente a 47,3% de homens, com uma pequena presença de pessoas trans e não-binárias). Quando observamos a distribuição por faixas etárias, entretanto, o predomínio do contingente feminino a partir da faixa dos 25 a 29 anos tem proporções bem mais acentuadas na Providência do que no restante do município: o segmento masculino parece envelhecer menos pela pirâmide etária. Ainda assim, o tipo de pirâmide acompanha a tendência geral de envelhecimento da população, o que na Providência é acompanhado do enraizamento: dos 1456 questionários respondidos, 833 (63,2%) afirmaram que sempre moraram na Providência, sendo que destes, 547 (37,5% do total de 1456 respondentes) tem suas famílias ali residindo desde a geração anterior (mãe e/ou pai), 213 (14,6% do total) desde a geração dos avós e 59 (4,0% do total) desde os bisavós, dados que evidenciam o enraizamento no território de moradores de uma favela histórica da cidade. Histórico também é o quadro de indicadores sociais desfavoráveis: 43,8% das residências convive com instabilidade laboral (37,8 com desemprego e 6,0 apenas realizam trabalhos ocasionais); baixa escolaridade de grande parte da população - de 3.965 respostas, 1.890 (47,7%) tinha apenas o Ensino Fundamental Incompleto; e, dentro de um contexto de crise social e sanitária aguda, 65,1% dos domicílios dos respondentes não receberam nenhum dos auxílios pecuniários governamentais.<br />
<br />
Esse conjunto de indicadores sociais desfavoráveis causa impactos: 69,7% dos domicílios entrevistados estavam sujeitos a algum nível de Insegurança Alimentar (IA Grave, IA Moderada e IA Leve), sendo que destes, 19,1% conviviam com um quadro de IA grave, ou seja, estavam vivendo experiência da fome no território. Uma leitura espacializada, possível através do mapeamento dos domicílios, revela preocupantes concentrações de vulnerabilidade na parte alta do Morro da Providência e no King Kong, além de outras manchas menores de concentração de vulnerabilidades. A análise espacial dos dados mostra concentração na área do King Kong e dispersão da categoria Insegurança Alimentar Leve em praticamente todas as áreas cobertas pelo levantamento.<br />
<br />
A crise sanitária da COVID foi um agravante neste quadro: um percentual de 70,6% dos domicílios com ao menos um morador acometido pela COVID-19, apresentaram algum grau de insegurança alimentar, de modo que 19,6% convivia com a IA grave. As informações apontam que, aproximadamente um quinto dos lares que conviveram com a COVID-19, conviviam com a Insegurança Alimentar extrema, ou seja, de fato a fome.<br />
<br />
Ao analisarmos alguns dados da composição familiar, vimos que em domicílios com a presença de ao menos um jovem menor de 18 anos (total de 447), 75,2% (equivalente a 336) relataram algum grau de vulnerabilidade em relação à Insegurança Alimentar, sendo 17,7% (79 lares) conviviam com a experiência da fome - IA Grave. Tais números são bastante expressivos (maiores que a média geral do território) demonstrando que os domicílios com jovens apresentam condições ainda mais precarizadas de acesso a uma alimentação adequada. Dentro destes, ainda adicionalmente observamos o recorte de domicílios com crianças até 10 anos, faixa em que é mais remota a possibilidade de contribuírem com a renda familiar, e identificamos 231 domicílios com alguma condição de insegurança alimentar (52 graves), o que representa 15,9% do total da Providência.<br />
<br />
Estes dados apontam urgência de políticas de geração de emprego e renda, o que é reforçado quando vemos que 9,3% (quase um décimo) dos domicílios pesquisados são lares chefiados por pessoas desempregadas em condição de Insegurança Alimentar Grave. Por outro lado, mesmo dentro do segmento do universo de chefes de domicílio classificados como “trabalhadores em tempo integral”, 14,80% apresentaram algum dos três níveis de Insegurança Alimentar. Já no âmbito dos aposentados, cerca de 8,20% conviviam com algum nível de Insegurança Alimentar.<br />
<br />
Auxílios pecuniários governamentais (como o Bolsa Família, Auxílio Brasil, Auxílio Emergencial da Pandemia) poderiam ser um importante atenuante desta situação e, para quem os recebe, são. Mas, conforme apontado, esta política ainda não chega a muitos lares, e os dados mostram o impacto dessa ineficácia. Das 961 famílias (66%) que não receberam nenhum benefício social, 591 encontravam-se em algum nível de Insegurança Alimentar, o equivalente a 40,6% do total de domicílios entrevistados e 61,5% dos lares em insegurança alimentar, o que mostra que tais políticas são importantes mas não suficientes.<br />
<br />
Raça e gênero também aparecem como importantes marcadores sociais explicativos da situação. O tratamento dos dados da composição racial expressou que a situação de Segurança Alimentar, alcançada por 34,1% dos brancos, é realidade para apenas 28,4% dos negros. Assim, 71,6% do total dos negros, frente a 65,9% do total dos brancos, experimentava algum grau de vulnerabilidade (que pode ser Insegurança Alimentar Leve, Moderada ou Grave). Destaca-se que 22,7% dos negros lidavam com situação de fome, com Insegurança Alimentar Grave, indicador que entre os brancos era 15,7%. Ou seja, os indicadores apontam que a desigualdade racial entre negros e brancos que é de 6% no cômputo geral das situações de insegurança alimentar, mas é maior (7%) exatamente na condição de maior vulnerabilidade nutricional. Os negros perfazem 65,5% do total da população da Providência, mas são 66,8% do contingente populacional submetido a alguma forma de insegurança alimentar, ao passo em que os brancos (34,7%) da população compõem 32,2% das pessoas em situação de vulnerabilidade.<br />
<br />
Quando analisamos o cruzamento de gênero e raça de chefias de família, a partir da Segurança Alimentar a pesquisa demonstra em microescala a reprodução da pirâmide da hierarquia social brasileira. Dentre o universo de 1456 domicílios que identificados com algum grau de insegurança alimentar: (i) 23,7% eram chefiados por mulheres negras; 12,7% por homens negros; 10, 8% por mulheres brancas e; 5,4% por homens brancos.<br />
<br />
== Proposta ==<br />
O Censo Popular da Providência, um levantamento territorial dessa histórica comunidade da área central do Rio de Janeiro fundamentou-se a partir de um processo de autoprodução, sendo a direção e os critérios sócio-políticos do trabalho (o que considera tanto a formulação das perguntas do questionário censitário como a organização da sua aplicação no campo) protagonizados pelos próprios sujeitos atuantes do território. Assim, este é o primeiro estudo diagnóstico da Providência feito pelos próprios moradores que, então, passaram de objeto a sujeitos da produção de conhecimento.<br />
<br />
Em virtude de o Comitê ser uma instituição do Morro e os recenseadores selecionados entre os próprios moradores – identificados no programa como Morador Monitor (MM) –, o Censo promove, junto à coleta de dados, uma troca de experiências que ultrapassa o seu interrogatório impessoal característico, se configurando numa relação de reconhecimento mútuo entre as partes. Além do levantamento, o SOS Providência realiza diversas outras ações de suporte social aos mais desfavorecidos do território, como a distribuição de alimentos, gás de cozinha, itens de higiene e outros – ações fundamentais no quadro de crise social e sanitária da COVID-19, e que permanecem importantes no cenário atual. Estas ações, com certeza, serão qualificadas pelo diagnóstico que ora se apresenta. Coerente com a máxima praticada no Morro, do “nós por nós”, o recenseamento configura-se em um importante instrumento de aferição, expressando em números os problemas socioespaciais identificados, mas também contribuindo para a formulação de estratégias futuras, apontando para a construção de uma epistemologia que considere o olhar do morador do território e uma definição de agenda onde estejam contempladas as suas disputas pela dignidade e fortalecimento de seu papel como agente definidor das suas reais demandas, e, para considerações na construção e definição de políticas públicas.<br />
<br />
== Histórico ==<br />
O SOS Providência e Região Portuária é um comitê de emergências formado por projetos e moradores que atuam no Morro da Providência e Região Portuária do Rio. O projeto nasce como um coletivo formado por quatro lideranças preocupadas com a preservação da vida dos moradores mediante a chegada do Covid-19 e se estrutura a partir das demandas do território com o protagonismo local, que com suas expertises mitigam os impactos do vírus, provocando novas soluções na busca de amparar as necessidades mais latentes e promover a unidade dos projetos locais. Ao longo de quase dois anos, a partir do “nós por nós”, pensamos e construímos coletivamente ações que ajudaram a minimizar os impactos trazidos e potencializados pela pandemia nas desigualdades sociais e manter a resistência de luta na Providência, a primeira favela do Brasil.<br />
<br />
Em 12 de março de 2020, quando a pandemia foi decretada pela OMS, constatou-se mais uma vez o abandono do poder público, condenando a população a esperar a morte dentro de suas casas, conforme ocorrido no início, quando os moradores do território da Providência começaram a encontrar os seus mortos dentro de suas residências. A SAMU e IML ainda se adaptavam à nova realidade e, somando com a questão da criminalização do território como “área de risco”, não retiravam os corpos ou deixavam por muitas horas os mesmos em contato com os moradores, aumentando o risco de contágio. Logo, evidencia-se durante o contexto pandêmico um agravo do descaso do Estado, uma potencialização das expressões da “questão social”: fome, miséria, desemprego, falta de todo tipo de serviço básico, inclusive o de fornecimento de água que antes da pandemia já era extremamente precarizado.<br />
<br />
Ou seja, foi possível observar o agravo do descaso e as diversas violações de direitos por parte do Estado durante a pandemia. Além de ser omisso em garantir direitos básicos e fundamentais, o mesmo se apresentou através da necropolítica do Estado de exceção. Através de seu braço armado o mesmo se fez presente de forma violenta e ao invés de garantir o direito à vida, potencializando o risco de morte. Isso ficou evidente na Providência com a morte do jovem estudante chamado Rodrigo, que foi alvejado pela polícia durante uma distribuição de cestas básicas. <br />
<br />
A inquietação provocada pela constante incerteza da sobrevivência levou 4 lideranças de projetos atuantes no território da Providência a pensar numa forma de minimizar os impactos da pandemia. Foram feitas duas campanhas de arrecadação de recursos onde foi possível traçar a estratégia de chamar moradores, lideranças de várias partes do Morro para formar uma equipe que pudesse atuar em diferentes áreas, mapear e fazer busca ativa dos casos de COVID e saber quais outras demandas os moradores tinham naquele momento crítico.<br />
<br />
Assim surgiram os Moradores Monitores, conhecidos como MM’s na Providência, uma tecnologia de comunicação social, que mapearam o território e monitoraram infectados e suspeitos de estarem infectados pelo COVID 19. Mapearam e monitoraram também grupos de risco e pessoas que necessitavam de doações de alimentos, itens de higiene e pessoas com necessidade de acolhimento psicológico. Diante de incertezas de sobrevivência, ou da possibilidade de contaminação de pessoas próximas, os próprios moradores foram para a linha de frente e através do autocuidado e do cuidado com seu próximo, finalizaram a experiência com vida, possivelmente salvando outras vidas, chegando a um resultado de mais de 1600 domicílios mapeados.<br />
<br />
Deste trabalho nasceu o SOS Providência e Região Portuária, uma instituição com foco no território, promovendo a valorização da vida dos moradores na busca de garantir seus direitos e o exercício dos deveres com foco no resgate da cidadania. Tem o objetivo de elevar a auto estima através da educação básica, profissionalizante, da oferta de oportunidades de empregabilidade, saúde, cultura, lazer e singular participação nas intercorrências sociais visando a transformação e gestão da favela.<br />
<br />
Durante este processo, foi possível nos aproximarmos mais dos nossos e entender um pouco melhor as nossas demandas. Identificamos muita falta de informação de como se proteger do vírus, muitas pessoas que já estavam em situação de desemprego e outras que estavam perdendo seus empregos, muitas pessoas com necessidade de acompanhamento psicológico, e sobretudo pessoas que não tinham alimento. Esse cenário de crise proporcionou aos moradores um distanciamento muito maior do que já havia antes de experimentar o acesso a seus direitos. Sem informação, nem recursos para buscar orientações, os moradores começaram a buscar o SOS para tentar solucionar suas demandas. Diante de tais mazelas, foi organizada a distribuição de cestas básicas e outros itens fundamentais para a sobrevivência no contexto pandêmico, arrecadados a partir de doações empresariais, de organizações não-governamentais e campanhas de crowdfunding. No entanto, constatou-se a necessidade de maior organização das doações e a elaboração um mecanismo que transpareça ética no critério de seleção dos moradores.<br />
<br />
Assim, o projeto que se formou por conta da pandemia do Covid-19 se consolidou devido às constantes demandas que historicamente atravessam o território. Diante desse novo cenário, emergia a necessidade do fortalecimento da compreensão do quadro diagnóstico do território para melhor organizar as ações. A partir do lançamento em 2021 pela Fundação Oswaldo Cruz da “Chamada Pública para Apoio a Ações Emergenciais de Enfrentamento à COVID19 nas Favelas do Rio de Janeiro”, no qual a proposta do SOS Providência foi selecionada, começou-se a pensar na atualização e ampliação do diagnóstico levantado pelos MMs em 2020. Neste contexto, iniciou-se o censo Providência 2022, instrumento construído em parceria com NEGRAM/ETTERN/IPPUR/UFRJ (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Relações Raciais e Movimentos Sociais, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ), com apoio da Fiocruz e Ação Cidadania.<br />
<br />
A ideia inicial era que, através de uma consulta pública em forma de questionário e se utilizando de ferramentas tecnológicas de cartografia e os Moradores Monitores, fosse possível realizar mapeamento e consulta ao território e seus moradores. Assim, o SOS Providência continuava suas ações de suporte aos mais necessitados, ao mesmo tempo que se enredava com outras parcerias para a coleta e sistematização de conhecimento sobre o território.<br />
<br />
== O Censo Popular, Automapeamento e Cartografia Social: desenhando uma agenda de ação e cooperação ==<br />
O estabelecimento de uma parceria entre o SOS Providência e o NEGRAM criou um ambiente de discussão sobre possibilidades de cooperação, que consistiriam em contribuições de um núcleo acadêmico de pesquisa para um sujeito social e político do território – sujeito este, pressionado pelas urgências constituídas pelo quadro de crise sanitária e social pandêmico, mas também consciente de que suas intervenções não se encerrariam com o fim da pandemia.<br />
<br />
O SOS Providência tem sua potência derivada de uma compreensão de seu papel numa comunidade que simboliza e sintetiza a história da cidade do Rio de Janeiro e do país: uma comunidade socialmente desfavorecida cuja denominação inicial se tornou referência para todas, a favela, derivada do “Morro da Favela”; uma comunidade que, antes dessa denominação, já era assentamento de negros ex-escravizados que alcançaram sua liberdade; berço de ativismos sociais de importância histórica para lutas sindicais e antiracistas (ali viviam grande parte daqueles que, no início do século XX, construíram a Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em Trapiche e Café, um marco no sindicalismo brasileiro e com uma composição racial marcadamente negra); uma comunidade que, localizada na região central da cidade, sofreu as consequências da primeira grande reforma urbana moderna do país, pela ação do prefeito Pereira Passos, intervenção urbana que instaurou as remoções como instrumento de “melhoria” (para quem?) da cidade; e que, por isso mesmo, resistiu a diversas intervenções desta natureza, no passado e no presente, que tentaram através de remoções a eliminação desta presença na paisagem. Assim, a intenção de construção de um diagnóstico atualizado e ampliado também envolvia a ideia de que este poderia ser um instrumento para outras ações e disputas urbanas deste e de outros sujeitos do território da Providência, espaço de pertencimento e identidade de pessoas e grupos ali enraizados há gerações de suas famílias.<br />
<br />
Neste sentido, o Censo deveria cumprir diversas funções – para além de ser um canal de aplicação dos recursos advindos do edital da FIOCRUZ. Ele deveria ser um instrumento de fortalecimento da organização de ações comunitárias (doação de alimentos e outros auxílios, monitoramento da COVID no território, etc.); um subsídio à reflexão para a definição de prioridades de reivindicação (equipamentos e serviços públicos); uma ferramenta para municiar o grupo em suas disputas urbanas (políticas de remoção, avanço do Porto Maravilha, melhoria da inserção da Providência e seus moradores no Centro e na Cidade, como a qualificação profissional e possibilidades econômicas, etc.).<br />
<br />
Evidentemente, outros objetivos também poderiam ser agregados no processo, de acordo com o contexto vivido. Assim, o Censo começou a ser pensado como um processo de leitura do território que subsidiasse ações, reivindicações, articulações e disputas urbanas do grupo – p ex, a relação de uma comunidade que, mesmo com localização privilegiada ao lado do Centro da cidade, tinha alguns dos piores indicadores econômicos, sociais, infraestruturais e de serviços públicos entre as nove favelas com UPPS em pesquisa realizada em 2010 (ver a “Pesquisa nas favelas com Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade do Rio de Janeiro, do IETS e FIRJAN, 2010). Para isso, então, foram propostos mais dois instrumentos de coleta e sistematização de informações, que, articulados ao censo, comporiam uma tríade diagnóstica do território: o mapeamento e a cartografia social.<br />
<br />
Desde o início, o centro da relação de parceria estabelecida entre o SOS Providência e o NEGRAM tinha, como tônica, a valorização do protagonismo do grupo do território na produção do conhecimento – afinal, são eles os detentores destes “saberes localizados”, o que aqui não são vistos como algo pontual e menor, e sim como uma vantagem epistêmica pela possibilidade de compreensão da realidade a partir da vivência efetiva.<br />
<br />
Mesmo nos momentos em que o saber técnico do núcleo de pesquisa acadêmico era fundamental para a execução das ações, a postura do grupo se baseava no princípio da “horizontalidade epistêmica”, a partir do qual não deveria haver hierarquia entre os sujeitos na produção do conhecimento, e que politicamente as decisões deveriam sempre caber ao protagonista do território. Assim, o mapeamento se tornou “automapeamento”, pela valorização dos saberes de quem vive e constrói o território, e o Censo se tornou “Censo Popular”, um censo feito pelos próprios moradores – e não, “sobre” eles.<br />
<br />
Adicionalmente, foi proposta a Cartografia Social, como um processo de valorização dos saberes acumulados pelos Moradores Monitores em sua circulação e diálogos com os residentes para a coleta do Censo. Ao circular pelo território realizando a coleta (que seria a segunda, pois em 2020 uma já havia sido feita), os MMs ativam potências do tecido sociopolítico: sendo moradores e, portanto, conhecidos de boa parte da comunidade, são portadores de (e fortalecem) relações de confiança, conhecimento, amizade e parentesco, que influenciam (i) na disponibilidade dos depoentes para responder ao censo e também (ii) no próprio MM como fonte privilegiada de saberes sobre o território.<br />
<br />
Assim, projetou-se um processo de produção de um diagnóstico do território imaginado para ocorrer em cinco etapas:<br />
<br />
'''1. Construção do Projeto (estratégia)'''<br />
<br />
'''2. Organização (para a coleta de dados e informações)'''<br />
<br />
'''3. Levantamento das informações'''<br />
<br />
'''4. Processamento das informações'''<br />
<br />
'''5. Divulgação e Uso'''<br />
<br />
=== As coletas ===<br />
<br />
==== O Censo Popular ====<br />
A construção de um Censo Popular, feito pelos próprios moradores, se constituiu num desafio para os grupos inicialmente envolvidos – o SOS Providência e o NEGRAM/IPPUR/UFRJ. Afinal, partindo da horizontalidade epistêmica como princípio fundamental e postura na relação entre protagonistas do território e especialistas acadêmicos, buscou-se um processo em que todas as etapas metodológicas na produção de conhecimento seriam encaradas como decisões de caráter político, e que neste sentido buscar-se-ia a valorização dos sujeitos locais. O que se pretendia era que, diferente dos processos tradicionais de produção de conhecimento sobre territórios e grupos socialmente desfavorecidos, em que estes são normalmente “objeto” de pesquisa e/ou, no máximo, depoentes e/ou auxiliares (p ex, mobilizados como aplicadores de questionários), no Censo Popular eles tivessem o comando de todos os momentos e etapas da pesquisa. Isto implicava que etapas como a definição de “o quê” seria pesquisado, o “como” seria pesquisado, além do próprio ato de coleta, deveriam ser lideradas pelo SOS Providência e pelos Moradores Monitores. Vale lembrar que o SOS Providência e boa parte dos Moradores Monitores já vinha de uma experiência de realização autônoma de um diagnóstico sobre o território e a incidência da COVID-19, feito no ano de 2020 – portanto, eram sujeitos com acúmulo sobre a feitura de um levantamento diagnóstico em seu território.<br />
<br />
A concepção de um Censo envolvia, primeiramente, a definição das questões (temas) e perguntas que constariam no questionário a ser aplicado. A base desta definição deveria ser, conforme já colocado, a compreensão (por parte do grupo do SOS Providência) dos desafios, reivindicações, lutas e enfrentamentos considerados importantes pelo e para o território. Em segundo lugar, um conjunto de questões de caráter metodológico envolviam a construção do Censo:<br />
<br />
● Formas de levantamento de dados: via censo ou grupo focal, que se encaminhou para a cartografia social;<br />
<br />
● Obtenção de dados: tempo de duração da entrevista x forma do questionário (incluindo questões sobre a linguagem a ser utilizada com os moradores);<br />
<br />
● Obtenção de dados (ii): tempo disponível para a coleta de dados por cada MM (quantas semanas ou meses);<br />
<br />
● Instrumento de coleta possível: papel, tablet, celular, etc.;<br />
<br />
● Localização da informação: marcação dos domicílios por pontos de GPS;<br />
<br />
Agrupamento de dados para divulgação: se seria por setores censitários, áreas de coleta, ruas, etc.;<br />
<br />
● Recortes espaciais: definição da área de abrangência e regionalização interna do território (área de cada MM, visto que no levantamento de 2020 cada MM coletava na própria área da comunidade em que residia, e que sendo uma comunidade grande, a Providência também é internamente heterogênea, em termos sociais, urbanísticos e até das territorializações de “poderes paralelos” violentos);<br />
<br />
● Produtos finais: mapas, ''webmaps'', tabelas, gráficos, relatórios, etc.;<br />
<br />
● Publicização: plataformas e meios de divulgação;<br />
<br />
● Planejamento comunitário: dependendo das decisões anteriores, como utilizar o censo e seus produtos para as lutas e demandas locais?;<br />
<br />
Percebia-se, então, que as questões metodológicas envolvidas na construção do Censo envolviam desafios sociais/territoriais e estratégicos. Assim, de 2021 a 2022, foram meses de discussão entre o SOS Providência, o NEGRAM/IPPUR/UFRJ, em reuniões semanais remotas e algumas presenciais com participação da equipe de Moradores Monitores, num processo em que cada tomada de decisões representava também um aprendizado e amadurecimento do grupo, além de um nivelamento de expectativas. Se, acostumados aos processos tradicionais de produção de conhecimento comandados pelos acadêmicos, alguns dos sujeitos do território esperavam que os integrantes do NEGRAM/IPPUR/UFRJ viessem com respostas e soluções prontas para os impasses colocados, o compartilhamento de decisões e valorização do protagonismo dos locais demandava tempo e energias, mas engendrava aprendizagens para todas as pessoas envolvidas.<br />
<br />
Uma decisão importante tomada nestas reuniões diz respeito à abrangência territorial do Censo. A delimitação da Providência é, em si, um desafio, pois ela é ao mesmo tempo o topônimo significante do Morro da Providência (do qual, uma parte é chamada também de “Morro da Pedra Lisa”) e também do “Complexo da Providência”, que abrange também o Morro do Pinto (do qual, uma parte é chamada de “King Kong”) e a chamada Vila Portuária, conjunto habitacional com dez prédios contíguo ao Morro da Providência em acesso no bairro do Santo Cristo. O grupo do SOS Providência junto aos Moradores Monitores, ao se colocar esta questão (por sugestão dos MMs), decidiu contemplar o Morro da Providência (incluindo a “Pedra Lisa” e a Vila Portuária) e, no Morro do Pinto, apenas a parte conhecida como “King Kong”, por ser considerada a área mais carente e que requeria atenção especial, segundo a leitura social do território pelos próprios. Assim, a área abrangida pelo Censo envolveria uma mancha contígua e mais uma parte descontígua a essa mancha, compondo um mosaico de dois recortes.<br />
<br />
==== A construção das questões ====<br />
A elaboração do questionário censitário teve, como desafios iniciais, as perguntas “o que levantar?” e “como perguntar?”, objeto de discussões dos grupos. Diante de uma infinidade de possibilidades, definiu-se por primeiramente levantar um leque amplo de questões, para então fazer uma reflexão e discussão que permitisse classificar, selecionar e hierarquizar perguntas. Como exercício reflexivo, pensou-se em classificar as perguntas em “urgentes” (aquelas mais importantes diante do quadro agudo de crise sanitária e social pandêmico), “necessárias” (importantes para o aprofundamento do diagnóstico sobre o território) e “sensíveis” (aquelas que, pela possibilidade de macular relações, seja entre entrevistador e entrevistado, seja com poderes do território, poderiam ser evitadas).<br />
<br />
O ponto de partida foi o levantamento de pesquisas populares, um exercício de identificação de outras pesquisas de caráter semelhante: censos de favelas, de preferência, feitos pelos próprios sujeitos do território. Assim, teríamos bases de comparação, além do levantamento já feito pelos Moradores Monitores em 2020, bastante detalhado mas centrado em aspectos da pandemia. Esses questionários nos forneceriam exemplos de campos temáticos a serem abrangidos (p ex, educação, trabalho e renda, infraestrutura, etc.) e também as perguntas utilizadas, o que nos serviria de inspiração para o censo a ser construído. Foram trazidos, então, outros três exemplos de pesquisas feitas sobre e por grupos de favelas:<br />
<br />
(i) o Questionário da “Pesquisa nas favelas com Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade do Rio de Janeiro, do IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), pesquisa realizada em 2010 e que teve participação de um dos integrantes do SOS Providência como agente de campo. Esta pesquisa, na verdade, era composta por dois questionários<br />
<br />
- uma versão mais curta, para ser aplicada a um número maior de domicílios, e uma versão mais longa, com mais informações, para ser aplicada a um número menor, numa metodologia semelhante à do Censo do IBGE, que tem um questionário universal e um questionário-amostra.<br />
<br />
(ii) o Censo Populacional da Maré, liderado por atores do próprio território, realizado pela ONG Redes da Maré com o Observatório de Favelas e Associações de Moradores de 16 comunidades.<br />
<br />
(iii) o Censo da Rocinha.<br />
<br />
A partir da discussão destes casos, enfatizando as temáticas levantadas e seus usos possíveis frente às intenções do SOS Providência (ações, reivindicações, mobilizações, disputas urbanas), chegou-se a um questionário censitário com sete blocos temáticos:<br />
<br />
● Bloco 1 – Identificação do domicílio e respondente – com informações sobre localização (área, logradouro, etc.), para integração com a geolocalização das respostas e análise espacial, e do respondente, para evitar dupla resposta;<br />
<br />
● Bloco 2 – Informações sobre moradores – dados demográficos sobre cada integrante da composição familiar, como sexo, cor/raça, escolaridade, idade, bem como tempo de residência na Providência e gerações anteriores, se fosse o caso, ente outros;<br />
<br />
● Bloco 3 – Saúde – atualização sobre as informações sobre a COVID-19 e outras enfermidades consideradas importantes pelo grupo (p ex, vitiligo e tuberculose);<br />
<br />
● Bloco 4 – Sobre o domicílio – padrão urbanístico e de construção, bem como a condição de posse, propriedade ou aluguel. Este bloco era complementado por algumas questões também sobre as características físicas internas e externas do imóvel e do logradouro, a serem preenchidas pelos próprios MMs, sem necessidade de perguntar ao entrevistado;<br />
<br />
● Bloco 5 – Serviços de Utilidade Pública – serviços como abastecimento de água e coleta de esgoto, coleta de lixo, tipo de combustível utilizado para cozinhar, transporte e telefonia;<br />
<br />
● Bloco 6 – Trabalho – ocupação, tipo de vínculo, se tem atividade própria, renda, se recebe algum tipo de auxílio do governo, etc;<br />
<br />
● Bloco 7 – Associativismo – religião, participação política, etc.<br />
<br />
Num momento seguinte, decidimos constituir um questionário específico para atividades econômicas realizadas no território, na forma de estabelecimentos identificáveis por transeuntes. Isso deixava de fora o trabalho realizado no espaço domiciliar, mas o objetivo era também com a partir deste levantamento de estabelecimentos de comércio e serviços, realizar uma primeira circulação dos MMs pelo território já divulgando sua identificação, portanto, uma ação de comunicação social, e também um treinamento e familiarização deles com os instrumentos da coleta. Esse levantamento então seria uma etapa inicial do Censo – que foi iniciada, mas não concluída, pois decidiu-se avançar para a aplicação do questionário principal.<br />
<br />
O questionário ainda ganhou mais um bloco, a partir do diálogo com a ONG Ação da Cidadania:<br />
<br />
● Bloco 8 – Segurança Alimentar: questões seguindo o modelo da EBIA (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar). Ressalve-se que, na versão final do questionário aplicado, a Segurança Alimentar ficou como Bloco 7, e o Associativismo como Bloco 8; <br />
<br />
O questionário seria, então, complementado por um bloco inicial contendo um cabeçalho (texto com roteiro de introdução e apresentação do MM à pessoa respondente, explicando o que era a pesquisa e sua importância para a coletividade) e um bloco ao final ("Bloco 9 - Para o próprio MM observar e preencher”) com os dados de identificação e caracterização do imóvel acima relatados. Os quadros a seguir mostram a estrutura e as perguntas do questionário utilizado.<br />
<br />
==== O instrumento de coleta – Kobo ====<br />
Um passo fundamental para a realização do Censo Popular da Providência foi a escolha da ferramenta de captação de dados. Em pesquisas envolvendo a captação de dados sensíveis, como esta, uma das principais preocupações é com a segurança desses dados tanto durante a coleta quanto no seu armazenamento. Desde o início da construção do Censo Popular da Providência a temática da segurança de dados foi debatida pelos pesquisadores do NEGRAM e os membros do SOS providência envolvidos nesse processo. Para além da preocupação com o extravio de informações e o cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), o grupo também tinha críticas ao uso de ferramentas produzidas pelas grandes empresas de tecnologia, em especial Google, Amazon, Facebook (Meta) e Apple, conhecidas também pela sigla GAFAM. O desejo de minimizar o uso de ferramentas produzidas por essas empresas deve-se ao fato de que ao longo das últimas décadas estas têm captado, utilizado e comercializado os dados de seus usuários - muitas vezes de forma indevida - tanto para o desenvolvimento de suas tecnologias quanto para o seu crescimento através do monopólio de informações.<br />
<br />
Diante desse fato, o desejo inicial era o desenvolvimento de uma ferramenta ou aplicativo próprio para a captação dos dados em campo, minimizando a exposição destes ao GAFAM. Após semanas de discussão e conversas com pessoas da área e entre o próprio grupo essa opção, no entanto, foi descartada pois demandava tempo e recurso para o seu desenvolvimento que não dispúnhamos naquele momento. Outro obstáculo era a demanda por um servidor seguro para o funcionamento do aplicativo e armazenamento dos dados, outro fator que demandava recursos.<br />
<br />
Embora a alternativa de um questionário impresso pudesse solucionar o uso de tecnologias do GAFAM, por se tratar de um extenso número de questões, essa opção dificultaria tanto o trabalho em campo quanto o processo de tabulação desses dados. Além disso, era importante que a ferramenta possuísse uma interface amigável e fosse de fácil operação pelos MM’s, fazendo com que desconsiderássemos a organização do questionário em um aplicativo de planilhas.<br />
<br />
Na busca por uma ferramenta que atendesse a esses critérios - segurança, interface amigável e minimização da exposição ao GAFAM -, encontramos a plataforma KoboToolbox desenvolvida pela Kobo, uma organização internacional sem fins lucrativos que nasce dentro da Universidade de Harvard nos Estados Unidos. Segundo informações do próprio site da organização, o KoboToolbox é usado por mais de 14.000 organizações ao redor do mundo, com trabalhos majoritariamente voltados para a defesa dos direitos humanos, proteção ambiental e desenvolvimento global. Por ser uma ferramenta gratuita, destinada à captação de dados sensíveis e com várias funcionalidades interessantes para o nosso projeto, o KoboToolbox foi uma opção viável.<br />
<br />
O primeiro ponto positivo da ferramenta é a possibilidade de trabalho off-line através do aplicativo KoboCollect para Android, o que dispensaria a necessidade de compra de pacotes de dados para os MMs. Após o trabalho de campo os MMs enviariam os questionários respondidos para o banco de dados e automaticamente esses seriam excluídos dos seus dispositivos móveis, garantindo maior segurança das informações levantadas em campo. O segundo ponto positivo é o fato de a interface e o manuseio do KoboCollect serem simples e não exigirem conhecimentos técnicos do usuário, o que facilitaria o trabalho em campo. Uma outra vantagem de se trabalhar com o KoboToolbox são as diversas funcionalidades para estruturação e organização do questionário e codificação das variáveis, facilitando tanto o trabalho de montagem quanto o processo de análise de dados após o campo. Por fim, vale destacar também que a ferramenta oferece várias funções que ajudam a otimizar o trabalho, como a possibilidade de captação de um ponto de GPS, o registro de quem aplicou o questionário com a data e a hora, além de uma análise prévia dos dados captados. <br />
<br />
No entanto, vale ressaltar que embora a ferramenta possua diversas funcionalidades para captação de dados em campo e garanta a segurança das informações para as organizações, é importante ressaltar que a Kobo contrata serviços Amazon para o armazenamento dos dados, o que ressalta o monopólio dessas empresas no desenvolvimento de tecnologia digitais e serviços de internet. Outro ponto importante de destacar é o lugar onde essa ferramenta é produzida, em uma universidade estadunidense com financiamento de organizações como a ONU e a UNESCO. O que questionamos é a centralidade do norte global na produção intelectual, e como o uso de informações de projetos realizados nos países do Sul alimenta esse monopólio. Embora esse seja um ponto de divergência com o debate epistemológico realizado pelo NEGRAM, o fato de se tratar de uma plataforma criada para a realização de pesquisa em situações de conflito ou desastres aumenta a necessidade de garantir a segurança desses dados. A Kobo assegura em sua política de privacidade a proteção e a privacidade dos projetos elaborados na plataforma, utilizando metadados sobre projetos apenas com a permissão do titular da conta. Além disso, uma outra opção de reforçar a segurança dos dados é a criptografia, processo que não tivemos tempo de nos aprofundar ou desenvolver.<br />
<br />
Embora o uso de uma ferramenta como o KOBO ajude a minimizar as falhas, é essencial que haja uma coordenação e supervisão em campo para auxiliar e tirar dúvidas ao longo do trabalho. A escolha de dividir as equipes no território, trabalhando simultaneamente em áreas diferentes impossibilitava esse acompanhamento diário, visto que havia apenas uma pessoa responsável por coordenar os trabalhos dos MM’s. Tanto a velocidade do trabalho quanto a precisão no preenchimento do questionário melhoraram quando as equipes começaram a trabalhar juntas em uma mesma área com o acompanhamento da supervisora. Um dos pontos importantes da presença dessa coordenação em campo foi a diminuição das falhas no preenchimento de campos como área e selagem, essenciais para a nossa posterior análise espacializada dos dados. Outro aspecto fundamental dessa mudança metodológica foi a presença de várias equipes trabalhando juntas no território, o que ajudava a visibilizar o trabalho do censo popular para toda a população, aumentando a resposta positiva dos moradores. Nesse processo de convencimento a presença da coordenação em campo foi importante para ajudar a explicar o trabalho e a convencer os moradores a participarem.<br />
<br />
==== A formação (técnica e política) da equipe ====<br />
[[Arquivo:Formação técnica e política dos moradores.jpg|centro|Formação técnica e política dos moradores]]<br />
<br />
Entre os dias 13 e 24 de junho de 2022 foi realizado um ciclo de formação para a equipe dos Moradores Monitores, na sede do SOS Providência. Boa parte da equipe já havia sido MM no levantamento de 2020, mas uma parte era nova. O Censo agora também seria bastante diferente do anterior, tanto em termos de tamanho e escopo (questões abordadas, bem mais abrangentes e, portanto, de aplicação mais longa), quanto de instrumentos a serem manuseados (aplicativos de celular para o questionário e para a geolocalização, além de mapas impressos de cada área e de toda a Providência). Mais além destas diferenças técnicas, o SOS Providência também tinha como objetivo fazer dessa nova ação no território um processo de formação técnica e, sobretudo, política para estes sujeitos que, ao circularem realizando o levantamento, adensavam suas compreensões sobre o território e também ganhavam cada vez mais status de referência para o conjunto de moradores da comunidade – afinal, por dois anos já vinham sendo realizadas ações de conscientização e prevenção sobre COVID, e assistência social (distribuição de alimentos, materiais de higiene, gás de cozinha, entre outros). Com isso, se fortalecia o reconhecimento da importância do SOS Providência e dos MMs. Este era visto como um momento importante de adensamento também da compreensão dos MMs do seu papel como sujeitos protagonistas do tecido sociopolítico do território, e esta formação então ganhou outras dimensões.<br />
<br />
A formação contou, então, com aulas teóricas e práticas sobre os instrumentos a serem utilizados no Censo (questionário, aplicativos de coleta do questionário e de geolocalização) e também com palestras de acadêmicos e lideranças sociais da Providência e de outras comunidades (vídeos com as gravações dos encontros podem ser assistidos no canal “Mapeamento SOS Providência”, e podem ser acessados pelos hiperlinks disponibilizados relatório ao final deste verbete).<br />
<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=bdtw5JMkvTk&feature=emb_title}}<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=xt26dZvVfd8&feature=emb_title}}<br />
<br />
Outras atividades também foram agregadas a este ciclo, como a participação de MMs (antigos e novos) em atividades de distribuição de donativos, e no sábado dia 02/07, alguns MMs e estudantes do Pré-vestibular Marielle Franco foram com a coordenação do SOS Providência e a supervisora da equipe do Censo, a assistente social (que é danProvidência e foi MM no trabalho durante a COVID em 2020) Alessandra uma formação na Usina de Valores, no Complexo do Alemão. Naquele local os MMs tiveram a percepção da localização relativamente privilegiada da Providência, e como podem aprender com os movimentos das outras favelas que têm desafios em dimensões maiores do que a sua.<br />
====Organização do campo ====<br />
Após a formação, na semana iniciada no dia 27/06/2022 a equipe começou a coleta no campo, voltada para o cadastramento de estabelecimentos de comércio e serviços. Neste momento, o conjunto dos MMS então foi dividido em 6 grupos, sendo duplas e trios.<br />
<br />
Como a área abrangida pelo Censo (Morro da Providência/Pedra Lisa/Vila Portuária + King Kong) foi dividida em 10 áreas (trataremos disso na seção seguinte, sobre o automapeamento), os MMs foram distribuídos em duplas e trios que pegavam as seguintes divisões: Dupla A – áreas 1 e 9; Trio B – áreas 2 e 8; Dupla C – área 3; Dupla D – área 4; Trio E – áreas 5, 7 e 10; dupla F – área 6, correspondente ao King Kong. Esta divisão, formulada a partir de uma avaliação que ponderava quantidade estimada de domicílios e famílias (portanto, de questionários a serem aplicados), acessibilidade de cada área, entre outros fatores, tentava equilibrar a divisão do trabalho entre os grupos.<br />
<br />
Se o trabalho foi iniciado com a divisão de duplas e trios de MMs por áreas, após reavaliações sobre a dinâmica de trabalho o grupo passou a circular todo junto, o que potencializava a divisão do trabalho: alguns MMs, mais familiarizados com o uso de tecnologias de informação, mostravam maior domínio na localização dos imóveis no mapa, e se responsabilizavam pelas identificações de geolocalização de cada entrevista; em cada local, alguns MMs eram mais conhecidos do que outros, e assim todo o grupo ganhava na interlocução com os moradores; o fato de andar em grupo, dez ou mais pessoas todas identificadas por um colete de uniforme, causava maior impacto na sociabilidade local, ampliando o reconhecimento de sua presença e atuação junto à comunidade. Essa estratégia também potencializava a segurança de cada integrante do grupo, ao circular por exemplo em espaços com baixa acessibilidade (pela própria infraestrutura de circulação, bastante precária em algumas partes da área). Ajudou também na adaptação de MMs novos que foram agregados ao grupo com o trabalho já em andamento, pela necessidade de saída de alguns MMs – o estar junto com os colegas e com a supervisão de campo potencializava apendizados.<br />
<br />
Foi combinado que os MMs teriam jornadas diárias de trabalho flexíveis, estabelecido o compromisso com a meta de abranger toda a comunidade. Assim, este primeiro momento, dedicado ao levantamento dos estabelecimentos, funcionaria como um momento de familiarização técnica (com os instrumentos utilizados) e social - para que eles conhecessem e se tornassem mais conhecidos pelos seus recortes territoriais de abrangência nessa nova posição, como Moradores Monitores. Este levantamento foi executado por duas semanas, não alcançou a totalidade do comércio, e quando os MMS se sentiram confortáveis com as ferramentas técnicas e capacidade de diálogo com entrevistados, iniciaram a aplicação do questionário censitário. Posteriormente, avaliamos que deveríamos ter finalizado o levantamento dos estabelecimentos, que poderia render um diagnóstico à parte.<br />
<br />
O levantamento a partir do questionário censitário começou no mês de julho de 2022, e se estendeu até o início do mês de outubro, portanto, dez semanas, quase três meses de atividade no campo, com uma sensível queda no ritmo no último mês, como pode ser visto no Gráfico abaixo.<br />
<br />
'''Gráfico Número de Questionários Aplicados e Respondidos por Semana'''<br />
[[Arquivo:Gráfico de questionários aplicados e respondidos.png|centro|Gráfico de questionários aplicados e respondidos]]<br />
<br />
Vale ressaltar que as condições sociopolíticas do território também tiveram consequências para o andamento da realização do levantamento de campo. O agravamento do quadro de violência urbana, tanto dentro da comunidade quanto no entorno dela em diversos momentos implicou em limitações de horários e rotas de circulação. E, além disso, pelo fato de ser a Providência uma comunidade de grande visibilidade política, social e midiática, atraindo a todo tempo uma série de atores sociais interessados em capitalizar tais exposições, o Censo Popular teve que lidar com uma situação pouco comum: uma “inflação de censos”. Ocorre que, anteriormente ao início do Censo Popular, outros dois levantamentos, sem caráter censitário (ou seja, sem a pretensão de universalização de cobertura) e conduzidos por atores externos ao território, mas com recursos para mobilizar pessoas de dentro, já estavam sendo realizados. Com isso, parte dos moradores já não tinham mais disposição e disponibilidade para responder ao Censo Popular. Soma-se a isso, uma diferença em relação ao levantamento realizado pelos MMs sobre a COVID em 2020: naquele contexto, com grande parte da sociedade em quarentena, uma quantidade grande de moradores estava em casa, o que levava a uma alta taxa de cobertura de respostas nas áreas abrangidas pelos entrevistadores. Agora, num contexto pós-pandêmico, grande parte já sem auxílios governamentais e com grande necessidade de trabalhar para auferir renda, uma quantidade grande de domicílios não tinha ninguém presente, ou não tinha algum depoente apto a responder ao Censo – adotou-se o critério de colher respostas apenas de respondentes maiores de 18 anos.<br />
[[Arquivo:Questionários respondidos.png|centro|Questionários respondidos]]<br />
<br />
Como resultado de todos esses fatores, ao longo das dez semanas de levantamento de campo os MMs tiveram o seguinte resultado: de um total de 2.897 visitas, 1.456 questionários foram respondidos, em 1.025 lares os moradores estavam ausentes, e em 416 houve recusa a responder ou estavam desocupados.<br />
<br />
Este total de questionários respondidos corresponde a aproximadamente 37,3% da estimativa de um universo total de 3.901 domicílios, valor de referência estimado a partir dos números do Censo de 2010 do IBGE – evidentemente, os números atuais são distintos, por fatores como as remoções na Providência que foram iniciadas no âmbito do projeto Porto Maravilha, mas que pararam graças às resistências populares; à dinâmica urbana, que por outro lado levou a novas ocupações em algumas áreas, bem como novas construções sobre ou junto a outras já existentes, entre outros fatores. Importante apontar que, além de ser uma proporção respeitável em relação ao universo estimado, e que teve uma excelente dispersão por todas as áreas do território, tomamos a ponderação de que este conjunto de respostas não foi conduzido, desde o início para ter caráter amostral. Assim, assumindo que não foi possível ter questionários respondidos num valor de cobertura que fizesse jus ao caráter censitário pretendido, tomamos os resultados alcançados como um diagnóstico, pelo volume respeitável (mais de um terço do universo) e pela distribuição razoável das respostas por todas as áreas da comunidade, como se pode ver no mapa do Andamento do Censo Popular da Providência.<br />
<br />
===O Automapeamento===<br />
[[Arquivo:Mapa com divisão de áreas.jpg|centro|Mapa com divisão de áreas (selagem)]]<br />
<br />
A premissa fundamental do automapeamento e do Censo Popular do Morro da Providência é o que chamamos de horizontalidade epistêmica, ou seja, a busca pela ausência ou pela mitigação de hierarquias entre os saberes técnico-acadêmicos e os saberes sobre o território. Portanto, a construção de uma base cartográfica popular demanda, necessariamente, uma construção coletiva e participativa entre a academia e a comunidade. E assim foi feito. <br />
<br />
Obviamente, todo este trabalho envolveu também uma gama de atribuições que exigiam um acúmulo de saber técnico-acadêmico do campo da produção cartográfica, atividades que exigem saberes peritos que normalmente não são acessados pelos sujeitos dos grupos e territórios socialmente desfavorecidos: ajustes vetoriais em bases cartográficas; incorporação de dados às malhas espaciais; classificação e configuração visual das bases cartográficas; importação, compatibilização e exportação de dados espaciais em formatos diversos; configuração e diagramação de mapas para impressão, exportação e publicação online; domínio e capacidade de treinamento de indivíduos não-familiarizados com aplicativos de mapeamento – além de conhecer, por exemplo, ferramentas cartográficas como o QGIS, Gooble Earth, MyMaps ou o OpenStreetMap, saber transmitir conhecimentos necessários aos usuários coletores das informações em campo. Mas, o princípio político-epistêmico balizador do processo preconizava a valorização dos conhecimentos sobre o território, portados pelos sujeitos que o produzem e o disputam e, como parte disso, protagonizaram o engendramento de todo este processo. Assim, buscamos a horizontalidade epistêmica, como algo a ser praticado no processo.<br />
<br />
Partimos de uma base cartográfica oficial, do Instituto Pereira Passos, para construir a representação inicial dos principais logradouros do Morro da Providência, sobre a qual iniciamos um processo de revisão e complementação a partir de reuniões e coleta de informações com os agentes locais. Com o auxílio de mapas impressos em tamanho A0, diversos moradores monitores indicaram e sinalizaram, nas próprias peças cartográficas, as toponímias de logradouros como utilizadas no cotidiano dos moradores, além de marcarem pontos de referências importantes e sinalização de trechos de logradouros que não existiam, bem como indicando aqueles que faltando na base cartográfica inicial.<br />
<br />
Moradores mais antigos e de regiões específicas do Morro, assim como o carteiro comunitário e uma agente de saúde da família, foram chamados para confirmar informações a respeito dos logradouros, sanar dúvidas e resolver impasses a respeito das toponímias previamente indicadas. Como resultado desse processo, foi gerada uma outra versão digital da base cartográfica, que incorpora todas as informações espaciais indicadas pelos atores do território: georreferenciamento de logradouros (avenidas, ruas, ladeiras, travessas, escadarias, vilas, becos, entradas, largos, praças) com os topônimos dos moradores. <br />
<br />
A partir desta segunda base, começamos a construir delimitação da área compreendida, pelos moradores, como Morro da Providência, e a regionalização da comunidade em áreas censitárias, para operacionalização do Censo Popular. A delimitação passou por definições sobre “onde começa e até onde é favela”, uma identificação territorial que envolve a ponderação de uma miríade de critérios – desde os urbanísticos, ligados a padrões de construção (de imóveis e dos arruamentos) e infraestrutura, até os sociais, como o perfil de renda e carências econômicas das famílias, e passando também pela instauração ou não de poderes paralelos armados que configuram outros padrões violentos de sociabilidade. A partir dessa combinação, os limites foram estabelecidos pelo grupo, assumindo-se a inescapável arbitrariedade nas definições - e, por isso, sempre lembramos que produzir conhecimento, como encadeamento de decisões metodológicas, é ato de poder, que aqui era sempre delegado aos sujeitos do território), por isso as decisões cabiam a eles. Assim, em algumas situações as ruas eram definidas como limites (com um lado sendo considerado parte do território, e ou outro lado não), e em outras o limite era no meio de quadra - apenas os imóveis com testada ou acesso pela última rua eram incluídos, e aqueles com testada ou acesso pela rua considerada fora do território eram excluídos.<br />
<br />
A regionalização utilizada entrecruzou diversas referências espaciais. Partirmos de isolar os setores censitários do IBGE que estão, parcial ou integralmente, inseridos na área reconhecida como Morro da Providência. Em cima dessa malha específica de setores, os moradores monitores indicaram a localização das 06 áreas utilizadas por eles no levantamento que fizeram durante a pandemia da Covid-19. Essas áreas eram divididas a partir de um conjunto de critérios: (i) a própria identidade territorial interna de algumas delas, afinal, uma comunidade com tal tamanho de área inevitavelmente será heterogênea internamente, com as áreas gradativamente constituindo identificações próprias; (ii) as identificações dos MMs com essas áreas como moradores, fundamental para uma divisão do trabalho acordada segundo a qual cada MM circulava pela sua própria área, o que potencializava o conhecimento dele e dos moradores sobre ele, fortalecendo a receptividade do trabalho; (iii) o tamanho, balizado pela extensão mas também pelo adensamento e pelo padrão construtivo dos imóveis; (iv) a acessibilidade de cada área (circular por ruas largas em que passam carros é diferente de circular por vielas, becos e escadas, onde muitas vezes há riscos de acidentes); e os domínios dos poderes paralelos, que também dividiam o território sob comando de duas facções criminosas distintas e rivais, influindo também na circulação dos MMs. Na nova divisão, feita a partir daquela operada no levantamento de 2020, algumas dessas áreas foram subdivididas por serem ainda muito extensas ou muito densas e, assim, chegamos inicialmente em uma regionalização de 08 áreas. Porém, os MMs mostraram interesse em aplicar o Censo Popular em mais 02 áreas: a Vila Portuária e o chamado King Kong. Com isso, a regionalização final consiste na subdivisão do Morro da Providência em 08 áreas, acrescidas das 02 áreas citadas anteriormente, totalizando, assim, 10 áreas censitárias.<br />
<br />
Com essa versão da base cartográfica pronta, começamos a definir a operacionalização espacial do Censo Popular. Isso perpassa pela necessidade de integrar a base espacial com a plataforma de aplicação dos questionários que estava sendo, paralelamente, desenvolvida. Com esse objetivo, fizemos o primeiro exercício de campo do projeto, com a finalidade de testar a precisão da plataforma Kobo, utilizada na aplicação dos questionários, na captação de pontos via GPS. Os resultados, porém, se mostraram insatisfatórios, demandando a busca de outras soluções para garantir a precisão espacial das informações que seriam coletadas.<br />
<br />
É importante ressaltar que estamos trabalhando numa comunidade e, tradicionalmente, não há cartografia de precisão em/sobre áreas de favela. Nosso ponto de partida, portanto, é a carência dessas formas de representação espacial e de meios oficiais de endereçamento. Nesse contexto, o método de registro espacial da informação assume ainda mais importância devido a impossibilidade de validar tais dados posteriormente a partir de bases oficiais. Diante desse conjunto de questões, optamos por trabalhar com a planta cadastral do município do Rio de Janeiro como base fundamental de georreferenciamento do Censo Popular da Providência. Com isso, incorporamos a referida planta à base cartográfica do projeto, atribuindo um código para cada polígono representativo de edificações ou terrenos, ao qual chamamos de selagem, e que é informado a cada questionário aplicado.<br />
<br />
Assim, a base cartográfica final está configurada para relacionar estruturas espaciais em quatro níveis: os pontos de GPS, a selagem da planta cadastral, os trechos de logradouros e as áreas censitárias. Todas essas estruturas estão codificadas e dessa forma foram inseridas na plataforma Kobo, possibilitando que estes códigos façam a conexão entre cada questionário preenchido e a base cartográfica.<br />
<br />
Para possibilitar a navegação e a orientação espacial do Moradores Monitores em campo, dividimos a base cartográfica em 60 quadrantes para a geração de um caderno de mapas, onde cada quadrante corresponde a uma folha de tamanho A4, resultando numa escala de impressão que permite a visualização de todas as informações espaciais relevantes para a orientação no território e a localização do domicílio visitado: área censitária, logradouros, pontos de referência, selagem e número do quadrante. Além da versão impressa, os mapas foram disponibilizados no aplicativo Qfield, com o recurso de localização do entrevistador em tempo real e offline sobre o mapa em formato PDF.<br />
<br />
É possível afirmar, portanto, que nosso trabalho tem um certo pioneirismo, pela metodologia de georreferenciamento utilizada para coletar informações a nível de domicílio/família/construção. Por essa carência, nosso trabalho usa diversas formas, que se complementam, de aferição, checagem e organização desses dados: a cada entrevista, é feita coleta dos pontos de GPS (via aplicativo Kobo), a selagem desses dados a partir de códigos aplicados sobre a imagem da planta cadastral, que é conferida em foto-imagem impressa e via aplicativo Qfield. Como recurso complementar, também utilizamos uma codificação específica para os logradouros existentes na base cartográfica construída coletivamente com a comunidade.<br />
<br />
Para mensuração do universo populacional que teríamos para trabalhar, utilizamos o Censo 2010 do IBGE como referência aproximada. Assim, chegamos a um número referencial de 3.901 domicílios recenseados naquele ano como base para a estimativa mínima do universo total em 2022. Assim, colocamos como meta de cobertura universal do Censo Popular da Providência uma quantidade superior a esta já citada. A quantidade é aproximada porque, além do lapso temporal de 12 anos, em relação ao último censo, a delimitação dos setores do IBGE nem sempre coincide com as áreas da nossa regionalização, portanto, extrapolam a nossa área geral de trabalho e/ou os limites internos que estamos utilizando. E não é possível cortar ou remodelar os setores para aferir informações censitárias, pois implica em imprecisão espacial dos dados.<br />
<br />
O automapeamento compreendeu, então, cinco operações fundamentais: primeiro, o reconhecimento do território e de seus logradouros, etapa que mobilizou fortemente os saberes dos sujeitos do território; a segunda, a delimitação do território a ser mapeado, o que equivaleu à definição de limites e fronteiras da favela; em terceiro, a regionalização interna, com a divisão em áreas avançando em relação àquela utilizada pelos MMs no levantamento da COVID-19 em 2020, e dialogando com a divisão em setores censitários do IBGE; em quarto, a identificação georreferenciada dos imóveis, através da utilização da planta cadastral da Prefeitura do Rio de Janeiro; em quinto, a integração deste conjunto de referências geolocalizadas (com o uso das ferramentas QGIS e QField) com o instrumento de coleta do questionário censitário (o Kobo Collect). Passamos, assim, a dispor de diversas referências espaciais para a localização e organização dos dados: o imóvel, o logradouro e a área interna – além, obviamente, do conjunto da comunidade.<br />
<br />
===A Cartografia Social===<br />
O termo Cartografia Social, de difusão recente, envolve uma miríade de práticas de produção de representações cartográficas, bastante heterogêneas e com profundas distinções entre si. Em comum, mas que produz respostas bastante distintas, está a busca do envolvimento dos grupos dos territórios mapeados no processo de produção dos mapas. Daí, aparecem propostas chamadas de cartografias participativas, colaborativas, cartografias da ação, cartografias decoloniais, entre um sem número de denominações (adjetivos) e formas de inserção dos grupos (prática substantiva). Estas formas variam em termos de quais as atribuições do processo de produção cartográfica que são delegadas ou assumidas pelos grupos dos territórios (e não, pelos cartógrafos, portadores dos saberes técnico-acadêmicos da cartografia). Buscando romper com a dicotomia sujeito-objeto, vista como uma hierarquia de poder, práticas transferem decisões: o que é representado? Como e por quem a informação a ser cartografada é coletada, selecionada e processada? Como o texto cartográfico é representado, em termos de escala, distorção, iconografia, etc.? Quem faz e quem é dono do mapa?<br />
<br />
Com forte influência de propostas que vão da pesquisa-ação participativa à pedagogia de Paulo Freire, passando pelas críticas à geopolítica do conhecimento da perspectiva decolonial ou, antes desta, a crítica situacionista, o campo em emergência chamado de Cartografia Social nos permite uma produção de conhecimento voltada para a valorização política e epistêmica dos grupos desfavorecidos em suas disputas sociais e territoriais. Esta valorização contempla seus saberes e visões de mundo e de sua realidade, derivados de suas experiências, trajetórias e práticas espaciais cotidianas. Com a ressalva de que muitas propostas de Cartografia Social acabam inserindo os sujeitos em percursos construtivos nos quais eles são muito mais conduzidos (e, assim, transformados em depoentes!) do que investidos de capacidade de conduzir o processo, aqui buscamos formas de compartilhamento e delegação das decisões.<br />
<br />
A proposição de uma oficina de Cartografia Social no contexto do Censo Popular da Providência já partiu da valorização dos saberes dos sujeitos do território. Foi a compreensão de que os MMS, ao circular pelo território dialogando com todas as pessoas, teriam condições de ir além do levantamento do Censo. Primeiro, eles tem condições de extrapolar e ampliar o escopo dos temas das perguntas inseridas nos questionários, visto que o encontro entre entrevistador e entrevistado, balizado pela identificação mútua como moradores (que, muitas vezes, já se conheciam antes, ou moradores conheciam indiretamente MMs, por exemplo, conhecendo familiares deles), o que fazia com que muitas vezes os diálogos se estendessem por aspectos subjetivos de leitura da realidade (além de assuntos pessoais ou relativos a aspectos não interessantes para o diagnóstico do território) – enfim, o diálogo MM-morador/entrevistador-entrevistado ia muito além do questionário do Censo Popular. Em segundo, eles também ampliam o conhecimento que eles próprios já tinham do território, na medida que suas experiências anteriores de circulação eram parcelares, compreendendo algumas ruas, vias e caminhos que em seu cotidiano eles circulavam, enquanto o levantamento os faria passar por vias que eles não costumavam passar ou mesmo não conheciam, e agora com um olhar influenciado pelos instrumentos de coleta e pelas discussões realizadas na formação técnica e política que tiveram (além já do levantamento de 2020, do qual alguns participaram). Considerávamos, então, que os MMs se tornariam sujeitos com um olhar e conhecimento do território comparável a poucos moradores, e isto deveria ser valorizado e também transformado em conhecimento a ser difundido.<br />
<br />
Assim nasceu a proposta de uma Cartografia Social com os MMs, na forma de oficinas de grupo focal para socializar as leituras do território que eles construíram, e a busca da conversão dessas leituras em um discurso textualizado em mapas. O SOS Providência, desde o início do processo de construção conjunta do Censo Popular, já ressaltava a disputa simbólica em torno da significação da Providência, como uma favela localizada em área central, sempre apontada nas políticas públicas como um entrave aos projetos de desenvolvimento urbano e transformação do Centro, e nos discursos dos atores sociais hegemônicos (da mídia principalmente) enfocada como lugar de criminalidade, que aparecia nos jornais principalmente nas seções policiais. A disputa simbólica passava pela valorização dos enraizamentos, afinal, trata-se de uma comunidade que testemunhou e foi parte importante de diferentes momentos históricos de produção da cidade, e esta história, para além das abstrações das grandes narrativas, é parte da história de gerações de famílias que ali estão. Daí surge, por exemplo, o desejo de busca de valorização das “relíquias” da Providência, de identificação de pessoas que são referência de sociabilidade na comunidade, fundamentais nos enredamentos que engendram não somente estratégias coletivas de sobrevivência quando há agudização de crises, mas também a produção de marcos na cultura e na vida carioca. A Cartografia Social poderia trazer esses elementos qualitativos das vivências da comunidade, indicando locais e atividades relevantes para as redes de sociabilidade, além das carências, necessidades e urgências não captadas pelo questionário.<br />
<br />
Com este espírito, realizamos dois encontros, nos dias 24 de setembro e 08 de outubro de 2022, nas dependências do SOS Providência, para fazer as oficinas de Cartografia Social com os MMs. A primeira oficina começou com uma exposição do NEGRAM sobre o que é Cartografia Social, mobilizada a partir das seguintes perguntas, expostas em apresentação Powerpoint projetada em tela: “CARTOGRAFIA SOCIAL: O que é? Nós também podemos fazer mapas, podemos ser cartógrafos? O que nós podemos fazer?” O objetivo destas provocações, trabalhado nos slides que se seguiram, era fazer uma crítica à forma canônica como se apresenta a cartografia, uma linguagem e forma de representação marcada por regras e hermetismos, que funcionam como um dispositivo de poder pelo fato de poucos dominam estas regras e os instrumentos, assim estabelecendo hierarquias. A crítica buscava trazer para o grupo a ideia de que eles podiam, sim, produzir cartografias, valorizando suas experiências e percepções de espaços vividos, bem como seus repertórios de linguagem e representação. Era o debate sobre a validação dos mapas, do “certo ou errado” em Cartografia, e para isso foram trazidos exemplos de cartografias de precisão mas também de cartografias de esboço (e esforços de compatibilização delas), produções cultural e socialmente situadas e referenciadas através de diversas experiências de produção coletiva: de crianças, de grupos indígenas, afro-religiosos, e também de grupos de favelas, caso da Cartografia Social da Maré. Com estes exemplos, trabalhamos também a ideia de que o produto cartográfico é um texto, traduzido para uma linguagem específica com alto potencial de representação.<br />
<br />
Esta primeira parte serviu então também para estimular as “imaginações espaciais” do grupo – afinal, tratava-se de um grupo de moradores que, durante três meses, tiveram grande circulação pela comunidade, e ainda o fizeram se familiarizando com ferramentas de geolocalização (cartografia de precisão!) e de representação cartográfica. Tudo isso tinha implicações para a construção da Cartografia Social. Partimos, então, de um conjunto de perguntas provocadoras sobre o território, que os influenciassem a deixar emergir suas leituras subjetivas: (i) O que você conheceu de novo no território através do recenseamento? (ii) Se você fosse trazer uma pessoa querida para apresentar a Providência, o que você mostraria? (iii) Por onde você circula no território? (iv) O que você sente falta no território? (v) O que existe no território que pode ajudar a resolver esses problemas? (vi) O que você colocaria num “mapa do futuro” da Providência? <br />
<br />
A partir deste conjunto de perguntas provocadoras – que buscavam captar suas experiências de espaço, diagnóstico territorial e avaliação do tecido sociopolítico (ativismos) -, iniciamos o debate entre eles. Um riquíssimo conjunto de depoimentos emergiu, alguns de forte caráter subjetivo e mesmo vinculado a espiritualidades na relação que eles estabeleceram com diversos lugares pelos quais transitaram. Aspectos como: (i) as desigualdades dentro do próprio território - a área da Pedra Lisa sendo bastante destacada pela carência de residências, famílias e infraestrutura (acessos e risco de deslizamento), mas também por algumas residências com aspectos naturais invejáveis, além da fartura de uma ruralidade ainda possível (plantio de banana, criação de galinhas), ressaltados em depoimentos como “A Pedra Lisa tem dificuldades e pobreza na subida, riscos na caminhada e beleza no alto, quando chega é quase um prêmio”; (ii) nichos de prosperidade e riqueza, como em uma área onde há uma concentração de migrantes da Lapa, onde alguém aproveitou-se da valorização imobiliária para construir e alugar um conjunto de quitinetes; (iii) espaços de ativismo e construção, de luta (p ex, em ocupações de movimentos sociais nas bordas da Providência) e de criação (p ex, da agroecologia). A partir dessas avaliações, optamos por pedir que eles enumerassem referências espaciais de destaque, e os oito MMs que permaneceram até o final da atividade (alguns tiveram que sair antes), a partir da pergunta “Se você fosse trazer uma pessoa querida para apresentar a Providência, o que você mostraria?”, calibrada para eles indicarem pessoas de diferentes idades, uma criança, uma na idade adulta e outra idosa.<br />
<br />
Este quadro serviu de referência, no segundo encontro da oficina de Cartografia Social, para a elaboração do que eles intitularam o Mapa “Morro da Providência: Visão dos Crias”. Para esta construção, eles primeiramente rediscutiram suas visões sobre o território, elencaram o conjunto de pontos (que a equipe do NEGRAM havia anotado do primeiro encontro), debateram que pontos entrariam ou não no mapa (pela sua relevância coletiva na percepção do espaço do grupo), e após chegarem a acordos, começaram a debater também quais seriam os ícones de representação de cada ponto. Este exercício, provocado pela oficina, tinha relação com a possibilidade de construção de uma representação cartográfica que, emanada das percepções de espaço deles, também dialogasse com o universo semântico, cultural e icônico deles. Assim, teve lugar também uma criativa e rica imaginação e negociação em torno dos ícones de representação, que deveriam então dialogar com referências coletivas do território e assim poder ser identificado por qualquer morador.<br />
<br />
O mapa traz um conjunto de pontos de interesse considerados importantes para a construção do ''ethos'' de moradores da Providência pelos MMs, e foi resultado desse processo de discussão e negociação coletiva: em diversos momentos, o dissenso também esteve presente, as diferenças sendo colocadas e debatidas pelo conjunto. Era, portanto, um processo de elaboração coletiva de uma leitura do território pelo grupo – e que, registre-se, se realizado em outro momento (anterior ou posterior, daqui a 2 anos, por exemplo), provavelmente seria ou será diferente. Este registro é, assim, momentâneo, uma captura de percepções negociadas de acordo com as condições construídas no processo, que envolveu vários dos MMs desde 2020 numa circulação pelo território, a nova reunião em 2022 com um ciclo de atividades de formação, a ida ao campo em dupla ou trio e depois a ida ao campo como conjunto. Estas condições, que implicaram na construção de laços de sociabilidade (afetos e diferenças!) entre os integrantes do grupo, resultaram nas formações individuais e negociadas com o coletivo de leitura da realidade vivida, experimentada e conhecida agora.<br />
[[Arquivo:Desenho mapa da Providência.jpg|centro|Desenho mapa da Providência]]<br />
<br />
O resultado foi um mapa bastante rico, com referência a pontos como a Choperia, mirantes, Academia do Cachorrão, sorveteria, Casa Amarela, Quintal da Kauana (agroecologia), casa de Machado de Assis, as igrejas de Nossa Senhora da Penha e Nossa Senhora do Livramento, terreiros de candomblé, o Bar do Geremias, a Garagem da São Silvestre, a árvore dos morcegos, a sede do SOS Providência, uma área de lazer infantil numa rua sem saída, além de alguns bares e restaurantes com boa comida, identificados por um ícone específico como pontos de “gastronomia”. Riqueza do resultado e riqueza do processo de discussão e negociação da percepção do território.<br />
<br />
===Diagnóstico da Providência===<br />
Conforme relatado anteriormente, o levantamento de campo realizado pelos MMs, ao longo de dez semanas, alcançou um total de 1.456 questionários respondidos, dentro de um universo estimado de 3.901 domicílios – foram 2.897 visitados, mas em 1.025 lares os moradores estavam ausentes (ou, não havia alguém apto a responder, visto que o critério adotado era só aceitar como respondentes moradores com idade mínima de 18 anos), e em 416 houve recusa a responder ou os imóveis estavam desocupados. Como esta amostra de aproximadamente 37,3% do total tem um bom grau de dispersão, a tomamos como uma consistente base para um diagnóstico do quadro social atual da Providência.<br />
<br />
Subdividido em 10 áreas, o Censo Popular da Providência foi iniciado visando a universalização da aplicação do questionário, ou uma cobertura que chegasse o mais próximo disso. Como ao iniciar os trabalhos foi percebido que os recursos disponíveis não dariam conta do tempo de duração que se apresentava como necessário, diante das novas dificuldades apresentadas (p ex, muitos domicílios com moradores ausentes, o que demandaria uma nova visita e retorno a áreas já visitadas pelos MMs, e isso poderia exigir que os MMs visitassem inúmeras vezes uma mesma rua, beco ou escadaria), buscou-se abranger ao máximo possível o conjunto de áreas, visando cobertura proporcional entre elas. A Tabela Distribuição dos Questionários respondidos por Área compara os percentuais de questionários respondidos em cada área com o número aproximado de domicílios das mesmas Áreas segundo os dados do Censo do IBGE de 2010 – repetindos e a ressalva de que a regionalização por Áreas que aqui apresentamos dialoga mas não corresponde aos Setores Censitários do IBGE, portanto, estes números de domicílios por Área com os dados do IBGE são aproximados, a partir de estimativas que fizemos, pois os Setores Censitários não são divisíveis em unidades menores de desagregação dos dados.<br />
<br />
'''Tabela – Níveis de abordagem do Censo Popular da Providência, ponderando total de questionários aplicados por área e a estimativa de número de domicílios do IBGE'''<br />
{| class="wikitable"<br />
|<br />
| colspan="2" | Censo do IBGE 2010 (estimativa do número de domicílios na área)<br />
| colspan="2" |Censo Popular da Providência 2022 (total de questionários respondidos em cada área)<br />
| rowspan="2" |Avaliação da abordagem<br />
<br />
|-<br />
|Identificação da Área <br />
|Número de domicílios<br />
|Percentual<br />
|Número de domicílios<br />
|Percentual<br />
|-<br />
|Área 01<br />
|212<br />
|5,43%<br />
|93<br />
|6,39%<br />
|Super abordagem leve<br />
|-<br />
|Área 02<br />
|527<br />
|13,51%<br />
|193<br />
|13,26%<br />
|Abordagem equilibrada<br />
|-<br />
|Área 03<br />
|822<br />
|21,07%<br />
|201<br />
|13,80%<br />
|Sub abordagem alta<br />
|-<br />
|Área 04<br />
|627<br />
|16,08%<br />
|209<br />
|14,35%<br />
|Sub abordagem leve<br />
|-<br />
|Área 05<br />
|60<br />
|1,53%<br />
|84<br />
|5,77%<br />
|Super abordagem leve<br />
|-<br />
|Área 06<br />
|104<br />
|2,66%<br />
|138<br />
|9,48% <br />
|Super abordagem alta<br />
|-<br />
|Área 07<br />
|204<br />
|5,23%<br />
|73<br />
|5,01%<br />
|Abordagem equilibrada <br />
|-<br />
|Área 08<br />
|506<br />
|12,97%<br />
|212<br />
| 14,56%<br />
|Super abordagem leve<br />
|-<br />
|Área 09<br />
|302<br />
|7,74%<br />
|94<br />
|6,46%<br />
|Sub abordagem leve<br />
|-<br />
| Área 10<br />
|537<br />
| 13,77%<br />
|159<br />
|10,92%<br />
|Sub abordagem leve<br />
|-<br />
| Total<br />
|3.901<br />
|99,99%<br />
|1.456<br />
|100,00%<br />
|<br />
|}<br />
Observa-se no geral uma boa distribuição dos questionários respondidos, equivalente ao peso relativo de cada área em relação às estimativas de quantidades de domicílios por área (mais equilibrados nas áreas 02 e 07). Há, evidentemente, algumas áreas que foram mais abordadas do que seu peso relativo no conjunto (casos das Áreas 01, 05, 08 e, principalmente, a 06) e áreas que foram menos abordadas do que seu peso relativo (casos das áreas 04, 09, 10 e, mais acentuadamente, a 03).<br />
[[Arquivo:Mapa abordagem.jpg|centro|Mapa Providência: abordagem]]<br />
<br />
A leitura dessa diferenciação no espaço, através do Mapa de Nível de Abordagem do Censo Popular da Providência, nos mostra que as áreas menos abordadas são aquelas nas quais as condições sociais e urbanísticas são melhores: Vila Portuária (que corresponde à Área 10) e as ruas maiores, como as Ladeiras do Barroso, Ladeira do Faria, Livramento e Rua do Monte (essas ladeiras e ruas compreendem as áreas 03, 04 e 09). Nas áreas com maior precariedade social e urbanística (onde a construção de um diagnóstico social é mais necessária) a cobertura de questionários respondidos foi maior, como o King Kong (Área 06), Pedra Lisa (Área 05) e partes altas do Morro da Providência (Áreas 02, 07 e 08). Assim, ainda que não intencionalmente, a atenção da pesquisa foi mais densa nas áreas com maior vulnerabilidade. O Mapa dos Tipos de Logradouros de Acesso aos Domicílios mostra essa diferença espacial interna da área abrangida da Providência:<br />
[[Arquivo:Mapa logradouro.jpg|centro|Mapa Providência: logradouro]]<br />
<br />
O olhar sobre este mapa de logradouros nos indica a pertinência da regionalização interna da Providência, rompendo com a ideia e os discursos de homogeneidade do território. Emerge, aí, uma diferenciação de tipologias de logradouros que expressa as áreas com maior adensamento e precariedade social. Em diversos dos indicadores sociais que veremos a seguir, este padrão é refletido em concentrações de vulnerabilidade.<br />
<br />
==== Perfis etário, de gênero e racial====<br />
Em termos do perfil populacional, a Providência acompanha algumas tendências gerais, mas com alguns traços condicionados pelas especificidades do território. Alguns aspectos chamam a atenção e merecem algumas notas, como o envelhecimento da população, a diferença entre mulheres e homens e sua acentuação à medida que aumentam as faixas etárias.<br />
[[Arquivo:Distribuição por sexo.png|centro|Distribuição por sexo]]<br />
<br />
A comparação da pirâmide etária da Providência, a partir do nosso Censo Popular cujo levantamento é do ano de 2022, com a pirâmide da “Comunidades UPP Providência” abaixo, cuja fonte de dados é o Censo IBGE 2010, mostra a tendência de envelhecimento geral no território. Mesmo com a ressalva de metodologias das duas pirâmides (na do Censo Popular, nós trabalhamos com a soma das faixas etárias de homens e mulheres totalizando 100%, enquanto que na pirâmide “Comunidades UPP Providência”, os números de cada sexo totalizam em si 100%, o que resulta em números que são praticamente o dobro da nossa), observa-se que as faixas etárias maiores tem menos diferença em relação à base da pirâmide. Um fator que certamente contribui para esse perfil envelhecido (maior do que em diversas outras áreas de favelas) é o enraizamento de famílias na Providência: quando perguntados sobre “onde você morou antes de vir para esta comunidade?”, dos 1456 questionários respondidos, 833 (ou seja, 63,2%) afirmaram que sempre moraram na Providência. Desses, 547 (37,5% do total de 1456 respondentes) tem suas famílias ali residindo desde a geração anterior (mãe e/ou pai), 213 (14,6% do total) desde a geração dos avós e 59 (4,0% do total) desde os bisavós – completam os dados 14 respondentes (0,9%) com “outras respostas”. Essa alta “taxa de permanência de moradia” na comunidade traz um enraizamento no território, e ajuda a compreender o envelhecimento da população na Providência.<br />
<br />
No quesito perfil de composição populacional por sexo, alguns aspectos também chamam atenção. Se, de acordo com os dados da PNAD Contínua IBGE (Brasil, 2022), no município do Rio de Janeiro as mulheres são 52,8% e os homens 47,8%, na Providência segundo o nosso levantamento essa proporção é 52,7% a 47,3%. A composição por gênero assume uma importância no quadro social do território quando consideramos algumas dinâmicas sociais como a constituição de “redes de cuidados”, que interferem, por exemplo, na segurança alimentar. Entretanto, quando observamos a distribuição por faixas etárias, o predomínio do contingente feminino a partir da faixa dos 25 a 29 anos tem proporções bem mais acentuadas na Providência do que no município. Não temos subsídios suficientes para afirmar as causas do fenômeno, mas aparece nesse território uma redução mais acentuada da população masculina a partir da fase adulta, do que a porção feminina. Para fins de comparação, trazemos pirâmides de outras grandes favelas da cidade (Cidade de Deus, Complexo da Maré e Rocinha), a partir de dados do Censo IBGE de 2010, que não exibem a mesma diferença nos estratos de maior faixa etária entre a porção masculina e a feminina.<br />
<br />
Mesmo aparecendo no geral um perfil etário razoavelmente bem distribuído (ver, abaixo, a título de ilustração comparativa, as pirâmides etárias da Rocinha, Maré, com proeminência do estrato 20-25, mas acompanha a tendência geral (Rio de Janeiro e Brasil) de envelhecimento da população. Talvez, contribua para esse perfil a proporção de moradores que ali residem há bastante tempo e mesmo diversas gerações da mesma família. <br />
<br />
No quesito raça, o Censo Popular apurou que, dentro do conjunto de respostas recebidas, os negros (a somatória dos moradores que se identificam como pretos ou pardos) correspondem a 65,25% da população do Morro da Providência, tendo os brancos uma presença correspondente a 34,71% e os indígenas uma presença de apenas 0,04%. O mapa abaixo nos traz a distribuição espacial dos grupos.<br />
[[Arquivo:Mapa de cor e raça.jpg|centro|Mapa de cor e raça]]<br />
<br />
Tomando por base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2021 (Brasil, 2022) que aponta que 43,1% dos brasileiros se declararam como brancos, 47,0% como pardos e 9,1% como pretos – ou seja, 56,1% de negros –, e que para o município do Rio de Janeiro indicam 44,8% de população branca e 54,4% de população negra, podemos avaliar uma sobre representação racial da população negra no Morro da Providência. Isto<br />
<br />
se coaduna com a história, identidade e memórias de sujeitos do território, que o reivindicam como uma centralidade na chamada Pequena África, identidade territorial alcunhada por Heitor dos Prazeres no início do século XX e que tem sendo resinificada pelo Movimento Negro do Rio de Janeiro no século XXI.<br />
<br />
==== Chefia de domicílio====<br />
Neste tema, o levantamento dos dados demonstrou que 66,6% dos domicílios são chefiados por mulheres e apenas 33,4% chefiados por homens. Esse número revela uma exacerbação da característica observada nos índices nacionais, segundo os quais a proporção de lares chefiados por mulheres se encontra em torno de 48,08% (IBGE, 2021). Ainda não avançamos na análise sobre os tipos de composição familiar (casal com filhos, casal sem filhos, famílias monoparentais, arranjos unipessoais masculinos ou femininos, entre outros), mas esta alta proporção de chefia por mulheres sobressai-se numa primeira análise, inclusive por conta do fato de que são, em grande medida, mulheres negras, sobre as quais incidem discriminações e subalternizações articulando raça, gênero e classe.<br />
<br />
A leitura do Mapa dos Domicílios Chefiados por Mulheres nos traz uma preocupação adicional sobre essa feminização da chefia dos lares, que é um certo adensamento desses lares chefiados por mulheres exatamente em algumas áreas de pior quadro social, o Morro da Pedra Lisa e as áreas mais altas do Morro da Providência (Áreas 02 e 06).<br />
<br />
====Trabalho, Escolaridade, Renda e auxílios governamentais====<br />
O cenário de pressão inflacionária expõe a sua face mais difícil nesse período pós-pandêmico, no quadro de uma lenta recuperação dos postos de trabalho e na dificuldade de inserção na rede de assistência social montada pelos governos nas três esferas. É dentro deste cenário de crise que observamos que, dentro das respostas recebidas, 37,84% dos respondentes no momento do levantamento encontravam-se desempregados; 6,04% realizavam trabalhos ocasionais; 11,19% atuavam de forma autônoma; 0,41% eram estudantes; 16,48% aposentados; 4,94% apontaram outras formas de atividade e apenas 23,07% realizavam um trabalho em tempo integral.<br />
[[Arquivo:Gráfico situação emprego.png|centro|Gráfico situação atual de emprego]]<br />
<br />
Esses dados demonstram haver um sub-aproveitamento da força de trabalho na população pesquisada, quando aparecem 43,8% das residências convivendo com situações de instabilidade com o emprego – pessoas desempregadas ou trabalhando ocasionalmente por meio de “bicos”. O quadro de desemprego também tem um agravante para sua manutenção que é a baixa escolaridade de grande parte da população: de um total de 3.965 respostas, 1.890 (47,7%) tinha apenas o Ensino Fundamental incompleto. Este dado, que ainda precisa ser aprofundado, se coaduna com o quadro apontado na “Pesquisa nas Favelas com Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade do Rio de Janeiro” em 2010, cuja comparação colocava a Providência como a pior situação educacional entre as nove favelas abrangidas, com uma média de 5,8 anos de estudo da população adulta e 32,8% de analfabetismo funcional.<br />
<br />
Essa situação é agravada quando observamos os números dos que receberam algum auxílio ou ajuda por parte dos programas sociais dos órgãos governamentais. Na pesquisa apurou-se que em 65,10% dos domicílios não foi observado nenhum recurso de assistência, ou seja, mesmo no contexto de crise sanitária e social da COVID-19 esta política pública fundamental não foi acessada por (ou, não chegou a) dois terços da Providência. Entre os domicílios que tiveram alguma ajuda por parte do Estado observamos que: 9,95% receberam apenas o Bolsa-Família; 1,57% receberam o Bolsa-Família e o Auxílio Brasil; 0,13% receberam concomitantemente os recursos dos programas Bolsa-Família, Auxílio Brasil e o Auxílio Emergencial da Pandemia; outros 0,13% o Programa Bolsa-Família e o Auxílio Emergencial da Pandemia; 0,06% o Programa Bolsa-Família e outros; 17,65% apenas o Auxílio Brasil; 0,48% receberam Auxílio Brasil e Programa Bolsa-Família; outros 0,48% o Auxílio Brasil e Auxílio Emergencial da Pandemia; 0,06% o Auxílio Brasil e outros; 2,33% apenas o Auxílio Emergencial da Pandemia; 0,27% o Auxílio Emergencial da Pandemia e Auxílio Brasil e 1,71% descreveram outros vínculos de apoio.<br />
<br />
O importante a ser ressaltado é o cruzamento do alto índice de domicílios não cobertos por algum mecanismo de auxílio com o alto número de residências que convivem com situação de desestabilidade com o emprego (43,8%), como vimos anteriormente. Das residências que tiveram acesso a algum tipo de auxílio do Governo, os programas mais utilizados foram o bolsa Família com cerca de 12% e Auxílio Brasil com cerca de 20%. Mas mesmo se levarmos em conta os cruzamentos entre os diversos meios de auxílio, o número de domicílios realmente cobertos é muito baixo, o que, como afirmamos anteriormente, somados à baixa e má qualidade de empregabilidade, aumenta os quadros de vulnerabilidade social.<br />
<br />
Um elemento que poderia possivelmente mitigar os baixos índices de emprego e cobertura assistencial das famílias seria a realização de alguma atividade econômica domiciliar, mas o que obtivemos foram 91% de respostas negativas, sendo então apenas 8,17% dos respondentes afirmando a utilização do domicílio como local de realização de atividade econômica.<br />
[[Arquivo:Mapa de renda.jpg|centro|Mapa de renda]]<br />
<br />
Os dados de rendimentos levantados voltaram-se para os depoentes (por decisão dos próprios sujeitos do território em sua definição do escopo do levantamento, por considerarem a renda pessoal e familiar um dado sensível que poderia criar um mal estar durante a entrevista), e nos trazem uma indicação de desigualdade espacial da renda dos moradores entre as áreas da comunidade, com maior concentração dos perfis de renda maiores nas áreas de melhor situação urbanística, e dos perfis de renda menores no King Kong e nas áreas altas do Morro da Providência (Áreas 08 e 02).<br />
<br />
==== Saúde====<br />
O bloco saúde se encontra no centro motivador da construção desse diagnóstico, pois foi justamente por conta de uma questão de saúde, dos impactos da pandemia causado pela Covid-19, que diversas lideranças e movimentos sociais da Providência criaram os Moradores Monitores e o SOS Providência.<br />
<br />
====Covid-19====<br />
Ao analisar os dados do período pandêmico e suas consequências resultantes, observamos que o flagelo ocasionado pelo SARS-CoV-2 atingiu 28,74% das residências pesquisadas (o Mapa de Casos de Covid mostra a distribuição espacial), com casos de óbito sendo registrados em 2,39% dos domicílios com questionários respondidos no levantamento.<br />
<br />
Quanto à cobertura vacinal, o índice de 15,31% de moradores que não tomou nenhuma dose de vacina se apresenta relativamente alto, entretanto, não destoa do momento nacional de pane no quadro geral das campanhas de vacinação. A Providência, assim como os demais morros e favelas do Brasil, sofreu fortemente os impactos socioeconômicos, assim como os efeitos políticos das informações controversas sobre a qualidade das vacinas disseminadas nas campanhas insidiosas (por vezes do governo federal) que politizaram e retrocederam nos avanços quanto à prevenção de doenças fortemente combatidas e debeladas no decorrer das últimas décadas. <br />
<br />
Estudos desenvolvidos pela Fiocruz Minas e publicado na revista Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene (Miranda, et. al., 2022) apontam que mais da metade das pessoas diagnosticadas com COVID-19 apresentam sequelas que podem perdurar por mais de 1 ano. Nesse estudo foram contabilizados mais de 23 sintomas que se manifestaram após a infecção aguda e que podem se estender por mais de 14 meses. No caso da Providência, foi levantado que em 20,04% dos domicílios com que tiveram pessoas com COVID-19, alguma ainda sofre sequelas da doença, em consonância com as apurações feitas por diversos estudos. As sequelas mais comuns relatadas em nosso levantamento são dores, cansaço, dor nas costas, dor no pulmão e até mesmo falta de paladar. Ao se afrontar esse índice com alguns estudos, em particular o citado, podemos levantar a hipótese de uma sub-notificação, que pode encontrar amparo em desconhecimento da relação causal dos sintomas existentes com a doença (erroneamente dada como debelada).<br />
<br />
====Tuberculose e Vitiligo====<br />
Conforme exposto acima, a situação de pandemia e a consequente rede de amparo criada oportunizou a desnudação de diversas outras moléstias, muitas delas severas e com imenso potencial contagioso, por mais que muitas dessas enfermidades, encontre uma profilaxia na atualidade, ou seja, uma utilização de procedimentos e recursos para prevenir e evitar doenças, além de uma cobertura real de tratamento clínico. Contando com a distribuição de medicamentos, algumas doenças ainda são tabus, e outras, por carregar uma alta carga de estigmas, ainda são cercadas de preconceitos e desinformações. A percepção cotidiana da ocorrência de duas enfermidades, em específico, chamou a atenção do SOS Providência, que decidiu inserir questões sobre elas no questionário do levantamento: a Tuberculose e o Vitiligo.<br />
<br />
No tocante a casos de Tuberculose, doença altamente contagiosa, mas de tratamento ofertado na rede pública, que requer um longo e continuo cuidado, foi levantado que em 66 dos 1.456 domicílios respondentes um morador (ou mais) já contraiu tuberculose e completaram adequadamente o tratamento; em 08 domicílios um ou mais tiveram a doença e ainda estão em tratamento; 04 já tiveram, mas não completaram o ciclo de tratamento.<br />
<br />
O estudo realizou também o levantamento de incidência de Vitiligo, doença que além de carregar uma estigmatização muito grande por apresentar sinais aparentes, carrega uma grande de desconhecimento. O diagnóstico, inclusive da tipificação dos dois tipos da doença, e o tratamento, deve ser avaliado por um dermatologista, pois embora não exista uma forma de prevenção da doença (30% dos casos há um histórico familiar), o importante é que a doença pode ter um excelente controle com a terapêutica. Na Providência 18 respondentes afirmaram que em seu domicílio há algum residente com marcas de vitiligo. Quando indagado sobre o tempo de existência das manchas, as respostas foram diversas, com registros de 2 anos de incidência a 40 anos de convivência com a manifestação da doença.<br />
<br />
====Serviços de Utilidade Pública====<br />
Ao analisarmos as disparidades nas ofertas de políticas e serviços públicos (abastecimento de água, limpeza urbana, esgotamento etc.), percebemos que o Poder público reserva às favelas a menor de suas preocupações e, sobretudo, dos seus investimentos. O Saneamento Básico, por exemplo, possui grande importância e reflexos em outros campos sociais por possuir a capacidade de influenciar nas condições de saúde, de educação, capacidade laboral e mobilidade urbana. Entretanto, contrariamente, a presença do Estado resumida às ações (pontuais) policiais nesses territórios de maioria negra, subalternizados e precarizados revelam objetivos para além da oferta de segurança que este serviço primeiramente atenderia, mas que reforçam práticas exclusivas de controle. <br />
<br />
==== Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário ====<br />
No que tange ao abastecimento hídrico, observou-se que dos domicílios da Providência 70,95% possuem o abastecimento por rede geral e canalização em pelo menos 1 cômodo; 5,98% possui abastecimento por rede geral, mas apenas na propriedade ou terreno; 21,36% por rede não oficial; 1,17% se utilizam de bica comunitária ou similar; 0,34% outras formas de abastecimento e 0,21% não responderam. Segundo dados de 2018 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 83,6% dos brasileiros possuíam acesso ao serviço de abastecimento de água. Podemos concluir, portanto, que na Providência, mesmo que somemos os que possuem abastecimento regular em 1 cômodo ou em seu terreno, ou propriedade, ainda assim encontraríamos um número aproximadamente 10 pontos percentuais abaixo do índice nacional.<br />
[[Arquivo:Gráfico abastecimento de água e esgoto.png|centro|Gráfico abastecimento de água e esgoto]]<br />
<br />
Quanto ao abastecimento de água no domicílio, foi verificado que 48,84% dos domicílios possuem abastecimento regular de água diariamente, por outro lado 23,82% dos entrevistados apontaram dispor de abastecimento entre 4 a 6 vezes na semana, 24,66% são abastecidos entre 2 a 3 vezes na semana, enquanto outros 2,37% recebem o abastecimento apenas 1 vez na semana e 0,27% não souberam responder.<br />
<br />
Quanto ao esgotamento, segundo o Atlas Esgotos: Despoluição de Bacias Hidrográficas (Brasil, 2017), 42,6% dos esgotos no Brasil são coletados e tratados antes de retornarem aos mananciais, ou seja, são processados de forma correta, outros 18,8% são coletados, mas não recebem o manejo correto, restando 38,6% que não são coletados, nem tratados. É a situação que pode ser percebida em casos de esgoto ao ar livre e que infelizmente ainda fazem parte da maioria das favelas e aglomerados subnormais. Na Providência a pesquisa apurou que 83,99% tem o escoamento dos banheiros para Rede Geral coletora de Esgotos, 11,40% possui escoamento na Rede Pluvial, 2,47% tem o destino de seu esgota exposto em vala de céu aberto; 0,75% despejam em fossa séptica; 0,68% não possuem banheiro e outros 0,68% possuem outras formas de tratamento de esgoto. Apesar de não podermos afirmar que os 83,99% dos esgotos que são recolhidos possuem uma destinação apropriada, podemos considerar o índice como acima do razoável – ainda que isso possa decorrer de respostas equivocadas, por falta de conhecimento por parte da pessoa respondente, algo comum em enquetes sobre este tema. Contudo, quanto aos demais dados torna-se preocupante o alto índice de despejo na rede pluvial (11,40%), que aliado aos 2,47% expostos ao céu aberto, criam um ambiente de risco sanitário evidente. Todavia, mais alarmante é a situação dos que não possuem banheiro ou se valem de outros formas de despejo, mesmo que numericamente não representem um universo expressivo, há que se destacar que na terceira década do século XXI, contemos com mais de duas dezenas de domicílios em uma região central da segunda maior capital do país que apesar de possuir residência, não disponham de um cômodo específico para higiene pessoal e despejo de resíduos orgânicos.<br />
<br />
==== Coleta de Lixo====<br />
Na amostra da Providência, observou-se que em relação à regularidade deste serviço, 52,40% é coletado diretamente por serviço de limpeza pública; outros 43,81% são coletados de forma indireta (colocado ou despejado pelo morador em pontos específicos do Morro como em caçambas ou containers) e posteriormente recolhido por serviço público de limpeza; 1,57% é jogado em terreno baldio ou no próprio logradouro; 0,13% é jogado em rio, lago ou mar e 2,06% dão outra destinação para seus resíduos domiciliares. Comparativamente, ainda segundo dados de 2018 (Brasil, 2018) do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), os números do Morro estão distantes, quando a referida pesquisa constata que 98,8% da população urbana do país possui a cobertura de serviços de coleta de resíduos domiciliares e públicos.<br />
[[Arquivo:Gráfico coleta de lixo.png|centro|Gráfico coleta de lixo]]<br />
<br />
Ademais, foram observadas as seguintes frequências de coleta (considerando as “diárias” e “indiretas”): 56,61% com coletas 4 vezes na semana; com coletas 3 vezes na semana, foram registradas 21,75 respostas, por sua vez os que observam 2 coletas por semana somaram 12,84% dos registros, com apenas 1 coleta na semana entre os respondentes temos 7,20 e os que não sabem ou não responderam totalizaram apenas 1,57% dos registros. Podemos registrar, portanto, que mais de 78,37% da população tem coleta mais de 3 vezes por semana em suas residências.<br />
<br />
====Tipo de combustível utilizado para cozinhar====<br />
Desde o golpe de 2016, com a consequente mudança na política de preços praticados pela Petrobrás, observou-se um aumento exponencial no preço dos derivados de petróleo. Essa escalada de preços atingiu diretamente as classes menos abastadas, primeiro por forçar uma pressão inflacionária, criando uma espiral no preço dos alimentos e, segundo e, concomitantemente, no aumento do até então principal meio de preparo desses alimentos e usado principalmente pela população de baixa renda, o uso de fogão a gás de cozinha. O que se observa é uma migração perigosa para alternativas menos seguras como lenha, carvão ou querosene, por exemplo. Essas alternativas, além de serem ecologicamente mais danosas, oferecem risco real e imediato aos usuários em acidentes domésticos, que diante da falta de alternativa, recorrem a esses expedientes.<br />
<br />
Registra-se que até a década de 1970, cerca de 80% dos lares usavam pedaços de madeira para cozinhar e se aquecer (Nunes, 2021). Mas, com a massificação da eletricidade e do gás liquefeito de petróleo (GLP), como gás de cozinha, esse quadro se alterou.<br />
<br />
Na Providência foram registrados nos domicílios pesquisados os seguintes tipos de combustível utilizado na cozinha: 15,36% utilizam energia elétrica como forma de preparo dos alimentos; 3,61% utilizam gás canalizado; 93,86% se valem do botijão de gás; outros 0,13% utilizam o querosene; 0,20% carvão ou lenha e 0,81% outras formas de cozinhar os seus alimentos. Precisamos fazer uma ponderação no método de aferimento dessa questão, uma vez que os respondentes, puderam marcar mais de uma alternativa.<br />
<br />
Sinalizado esse pressuposto, podemos observar que o processo de preparo dos alimentos nos domicílios pesquisados ainda mantém o gás liquefeito de petróleo (GLP) como principal meio de produção de alimentos. Esse dado é importante, uma vez que segundo a ANP (Agência Nacional de Petróleo) houve um aumento no preço desse insumo na ordem de 23,2% entre os meses de março de 2021 e março de 2022, mesmo se considerando uma melhora no quadro inflacionário, precisamos levar em consideração as projeções inflacionárias para o ano de 2023. A alta do gás foi um dos principais fatores para que os mais pobres sintam mais o peso da inflação, diz o IPEA.<br />
<br />
==== Associativismo ====<br />
A temática relacionada ao associativismo neste trabalho está pontuada fundamentalmente sobre os vínculos sociais que os moradores estabelecem com organizações políticas como, movimentos sociais, conselhos institucionais, associação de moradores, etc. e/ou com organizações religiosas. Neste âmbito, 87,61% dos participantes responderam não participar de nenhum tipo. Como vínculo declarado, destaca-se que 2,84% dos entrevistados afirmaram estarem envolvidos com “projetos sociais”.<br />
<br />
Já as respostas sobre a relação dos moradores com o segundo grupo se caracterizaram pela maior implicação e uma certa diversidade, sendo a religião católica com quase metade dos religiosos, 49,86%, seguida de protestantes com 19,02%, e dos que não tem religião com 13,53%. Os vínculos dos moradores com as religiões de matriz africana, embora registrem um número menos expressivo, 3,37%, tiveram uma atenção no questionário no sentido de uma maior especificação da sua categoria, demonstrando assim uma maior perfilhação ao candomblé com 59,18%, em relação à Umbanda, 40,82%.<br />
<br />
==== Segurança Alimentar====<br />
O bloco 7 do questionário para o Diagnóstico Popular da Providência possui 23 perguntas, sugeridas pela Ação da Cidadania, se utilizando da metodologia da EBIA (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – Análise Psicométrica de uma dimensão da segurança alimentar e nutricional) sobre Segurança Alimentar e Insegurança Alimentar (SA/IA). A EBIA trabalha com o conceito de SAN (Segurança Alimentar e Nutricional) nos estudos populacionais, com vistas a identificar situações de privação alimentar no cotidiano das famílias. A metodologia opera com a identificação de quatro níveis – (i) Segurança Alimentar; (ii) Insegurança Alimentar Leve; (iii) Insegurança Alimentar Moderada e (iv) Insegurança Alimentar Grave. O nível mais severo (IA grave) permite o monitoramento da fome no território. Escalas equivalentes de aferição da Segurança Alimentar/Insegurança Alimentar têm sido usadas em diversos continentes e em países de renda alta, média e baixa, bem como pela ONU, para o monitoramento do combate à fome, no cumprimento do objetivo 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).<br />
<br />
A sequência de perguntas do bloco visa a estratificação dos níveis de Segurança Alimentar (SA) e Insegurança Alimentar (IA). Nos domicílios com menores de 18 anos é estabelecida uma escala de 0-14 (no caso referente às perguntas que vão da P36 à P49), onde os índices de Segurança Alimentar e Nutricional são aferidos pelo número de respostas afirmativas, divididas em quatro categorias (i) Segurança Alimentar [0 respostas afirmativas]; (ii) Insegurança Alimentar Leve [1 a 5 respostas afirmativas]; (iii) Insegurança Alimentar Moderada [6 a 9 respostas afirmativas]; (iv) Insegurança Alimentar Grave [10 a 14 respostas afirmativas]. Nos domicílios sem a presença de menores de 18 anos, afere-se as oito primeiras perguntas do questionário (no caso, referentes às perguntas da P36 à P43) e os critérios são: (i) Segurança Alimentar [0 respostas afirmativas]; (ii) Insegurança Alimentar Leve [1 a 3 respostas afirmativas]; (iii) Insegurança Alimentar Moderada [4 a 5 respostas afirmativas]; (iv) Insegurança Alimentar Grave [6 a 8 respostas afirmativas].<br />
<br />
A coleta de dados, abrangendo 1.456 domicílios (com um total de residentes neles de 3.971 pessoas) divididos em 10 áreas, identificou 961 domicílios convivendo com algum grau de Insegurança Alimentar, e trouxe os resultados que passamos a apresentar a seguir. O objetivo do bloco é captar os diferentes níveis de Insegurança Alimentar no território, nos diferentes contextos domiciliares, em meio ao acirramento da precarização política, social e sanitária decorrentes das medidas último Governo Federal (2018-2022) numa conjuntura de cortes nas políticas públicas de combate à desigualdade e à fome no país, acrescido de um quadro de agravamento sanitário em decorrência dos impactos da pandemia da Covid-19. Esse quadro é preocupante, visto que dos 419 domicílios que declararam ter tido casos de COVID, 296 (70,6%) tiveram algum grau de insegurança alimentar, sendo 138 (32,9%) leve, 76 (18,1%) moderada e 82 (19,6%) grave. Ou seja, praticamente um quinto dos lares que conviveram com casos de COVID também estão convivendo com a forma mais aguda de insegurança alimentar, a fome. <br />
<br />
Este quadro requer especial atenção. Optou-se aqui por cruzar e espacializar os dados para um melhor diagnóstico da situação no território da Providência em 2022, o que auxilia a traçar o quadro social do território e a situação da fome na escala local, mas também torna possíveis estabelecer comparações com outros dados regionais, do estado do Rio de Janeiro e do país. Para tanto, quantificamos as respostas dos moradores seguindo o padrão EBIA, visando qualificar aspectos da situação da população consultada no território do Morro da Providência.<br />
<br />
'''TABELA Providência: Percentual de Segurança/Insegurança Alimentar por número de domicílios e número de moradores'''<br />
{| class="wikitable"<br />
|'''Tipo de Insegurança'''<br />
|'''Número de domicílios'''<br />
|'''%'''<br />
|'''Número de Moradores'''<br />
|'''Percentual de Moradores'''<br />
|-<br />
|Segurança Alimentar<br />
|495<br />
|34,0%<br />
|1205<br />
|30,3%<br />
|-<br />
|IA Leve<br />
|457<br />
|31,4%<br />
|1290<br />
|32,5%<br />
|-<br />
|IA Moderada<br />
|226<br />
| 15,5%<br />
|664<br />
| 16,7%<br />
|-<br />
|IA Grave<br />
|278<br />
|19,1%<br />
|812<br />
| 20,4%<br />
|-<br />
|'''Total'''<br />
|1.456<br />
|100%<br />
|3.971<br />
|100,1%<br />
|}<br />
Percebemos, a partir desta tabela, que no Morro da Providência, com apenas 30,3% do total populacional pesquisado em situação de Segurança Alimentar, mais que dois terços da população (69,7%) convivem com algum nível de insegurança alimentar, sendo que um quinto do contingente populacional (20,4% dos residentes, 19,1% dos domicílios) convive com Insegurança Alimentar Grave, ou seja, situação de fome. Na comparação com a proporção de domicílios, também perfaz praticamente um quinto o total em situação grave de insegurança alimentar. Mas, quando observamos a situação oposta, a de Segurança Alimentar, vemos que 34% dos domicílios correspondem a 30,3% do contingente populacional, o que direciona a atenção a domicílios com maior quantidade de moradores. Entre estes extremos, em (31,39%) dos domicílios (1290 pessoas, 32,49% do total de residentes) havia referência à instabilidade na alimentação dos moradores, expressa pela Insegurança Alimentar Leve, o que revela preocupação quanto à possível incapacidade de obter alimentos no futuro próximo e comprometimento da qualidade da alimentação. O quadro é bastante preocupante, e revela a injustiça e descaso a que são submetidos parcela significativa dos moradores da Providência. A leitura espacializada, possível através do mapeamento destes domicílios, nos revela preocupantes concentrações na parte alta do Morro da Providência e no King Kong, além de outras manchas menores de concentração de vulnerabilidades.<br />
[[Arquivo:Mapa insegurança alimentar.jpg|centro|Mapa Providência: insegurança alimentar]]<br />
<br />
Para uma análise mais aprofundada, achamos necessário observar a relação da composição familiar com a Segurança Alimentar e os três (3) níveis de Insegurança Alimentar. Analisaremos primeiro em separado os domicílios sem e com jovens até 18 anos, e em seguida aqueles com crianças até 10 anos, faixa em que é menos provável que eles contribuam na composição da renda familiar.<br />
<br />
Ao traçarmos uma análise da composição dos domicílios, buscando um comparativo entre domicílios habitados exclusivamente por maiores de 18 anos (1.009 dom.) e domicílios que possuíam menores de idade (447 dom.) no arranjo familiar, vimos que em domicílios com menores de 18 anos, 75,2% encontravam-se em condição de vulnerabilidade, expressas pelos três níveis de Insegurança Alimentar (grave, moderada, leve) e possuíam menores índices de Segurança Alimentar (SA) do que em domicílios ocupados exclusivamente por adultos – 24,8% contra 38,06%. É alarmante sabermos que, num universo de 447 domicílios com menores de 18 anos, 336 apresentavam vulnerabilidade expressa pelos três níveis de Segurança Alimentar, sendo que destes, 79 lares conviviam com a experiência da fome, em condições precárias de acesso a uma alimentação adequada. A análise espacial destes dados nos direciona para as áreas de concentração de vulnerabilidade social, o King Kong, o alto do Morro da Providência e uma parte da entrada do Morro no acesso próximo à Central do Brasil.<br />
<br />
Os domicílios sem moradores menores de 18 anos apresentavam vulnerabilidade de (61,9%) em relação à IA (Grave, Leve e Moderada) e um índice de Segurança Alimentar de (38,6%) - apresentando um percentual de (13,23%) a mais de estabilidade alimentar e nutricional do que nos domicílios com menores de 18 anos. Assim, dos lares sem menores de 18 anos, 384 domicílios estavam em situação de Segurança Alimentar e 625 domicílios relataram instabilidade e preocupação em relação à provisão de alimentos no período, destes 199 estavam em situação de fome. A análise espacial destes dados nos mostra, além da concentração na área do King Kong, a dispersão da categoria Insegurança Alimentar Leve (em pontos amarelos) por praticamente todas as áreas cobertas pelo levantamento.<br />
<br />
Passemos, então, à análise dos domicílios com menores de dez anos, condição que inspira maiores preocupações por essa faixa de idade em poucas situações (de vulnerabilidade extrema) contribui para a renda familiar.<br />
<br />
O primeiro dado importante é que, dos 447 domicílios com residentes menores de 18 anos, 311 (ou seja, 69,6%) tem crianças menores de dez anos, uma concentração na ocorrência desse estrato que requer atenção ainda mais reforçada. E, nesse conjunto de 311 lares com menores de 10 anos, 231 domicílios conviviam com algum nível de vulnerabilidade em relação à Insegurança Alimentar (74,28%) sendo que destes, 52 (16,72%) dos domicílios conviviam com a experiência da fome (IA Grave). É preciso ressaltar o preocupante diagnóstico que a análise estratificada dos domicílios nos revela.<br />
<br />
Se o quadro geral de Insegurança Alimentar da Providência já é preocupante em si, ao analisarmos os dados referentes à juventude do território (menores de 18) podemos observar que essa parcela da população é a mais atingida pela Insegurança Alimentar em relação aos adultos, idosos e população na faixa etária economicamente ativa.<br />
<br />
'''Segurança/Insegurança Alimentar da população residente segundo a Composição de Gênero (apenas homens e mulheres cisgêneros)'''<br />
{| class="wikitable"<br />
| colspan="3" |'''Mulheres'''<br />
| colspan="3" |'''Homens'''<br />
|-<br />
|<br />
|Quantitativo<br />
|Percentual<br />
|<br />
|Quantitativo<br />
|Percentual<br />
|-<br />
|Segurança Alimentar<br />
|608<br />
|28,7%<br />
|Segurança Alimentar<br />
|592<br />
|32,2% <br />
|-<br />
|IA Leve<br />
|719<br />
|33,9%<br />
|IA Leve<br />
|570<br />
|31,0%<br />
|-<br />
|IA Moderada<br />
|373<br />
|17,6%<br />
|IA Moderada<br />
|290 <br />
|15,7%<br />
|-<br />
|IA Grave<br />
|420<br />
|19,8%<br />
|IA Grave<br />
|388<br />
| 21,1% <br />
|-<br />
|Total<br />
|2120 <br />
|100%<br />
|Total<br />
|1840<br />
| 100% <br />
|}<br />
Partindo de uma abordagem do recorte social do gênero das pessoas componentes dos domicílios com segurança ou níveis de insegurança alimentar, considerando a classificação da população em masculina e feminina (excluindo-se então outras identidades de gênero, cujos dados trazemos abaixo), vemos que num universo de 2.120 mulheres, 71,3% eram acometidas por algum nível de Insegurança Alimentar - representando um equivalente de 1.512 mulheres. Num universo de 1.840 homens, 67,8% estavam submetidos a algum nível de Insegurança Alimentar - um equivalente populacional de 1.248 homens. Em termos percentuais de Insegurança Alimentar Grave, a taxa do universo masculino (21,1) supera em 1,3% a do universo feminino (19,8%), ao passo que em termos de Segurança Alimentar as mulheres possuíam índices menores do que os homens, 28,7% e 32,2% respectivamente. Em números totais, e no total dos índices percentuais podemos perceber que, no território da Providência, a população feminina possuía os maiores índices de vulnerabilidade - expressando no território, a realidade nacional da desigualdade de gênero.<br />
<br />
Quando observamos outras categorias identitárias de gênero, o quadro aponta que parte significativa das pessoas declaradas como homens trans (1), mulheres trans (1 em 2) e não binários (1 em 5) experimentavam alguma situação de Insegurança Alimentar, além de 2 em 3 cujo gênero aparece como não declarado. São 5 pessoas, portanto, com vulnerabilidade alimentar, sendo que 4 delas em situação de fome.<br />
<br />
'''Segurança/Insegurança Alimentar segundo a Cor ou Raça de residentes'''<br />
{| class="wikitable"<br />
|<br />
| colspan="5" |Números Absolutos<br />
| colspan="5" |Valores Percentuais <br />
|-<br />
|<br />
|Brancos<br />
|Pardos<br />
|Pretos<br />
|Amarelos<br />
|Indigenas<br />
|% Brancos<br />
|% Pardos<br />
|% Pretos<br />
|% Amarelos<br />
|% Indigenas<br />
|-<br />
|Segurança alimentar<br />
|459 <br />
|428<br />
|303<br />
|10<br />
|2<br />
|34,1%<br />
|27,7%<br />
|29,5%<br />
|45,4%<br />
|11,7%<br />
|-<br />
|IA Leve<br />
|453<br />
|489<br />
|329<br />
|9<br />
|1<br />
|33,6%<br />
|31,7%<br />
|32,0%<br />
|40,9%<br />
|5,9%<br />
|-<br />
|IA Moderada<br />
|224<br />
|279<br />
| 159<br />
|1<br />
|1<br />
|16,6%<br />
|18,1%<br />
|15,5%<br />
|4,6%<br />
|5,9%<br />
|-<br />
|IA Grave<br />
|211<br />
|348<br />
|236<br />
|2<br />
|13<br />
|15,7%<br />
|22,5%<br />
|23,0%<br />
|9,1%<br />
| 76,5%<br />
|-<br />
|'''Total'''<br />
|'''1347''' <br />
|'''1544''' <br />
|'''1027'''<br />
|'''22'''<br />
|'''17'''<br />
|100%<br />
|100%<br />
|100%<br />
|100%<br />
|100%<br />
|}<br />
''Observação: Os dados nesta tabela somam 3.957 residentes, pela falta de dados de identificação racial de 14 pessoas no levantamento.''<br />
<br />
Em relação aos dados da composição racial do território, podemos notar que num universo de 3957 pessoas distribuídas em 1456 domicílios, as desigualdades raciais são evidentes. A situação de Segurança Alimentar, alcançada por 31,1% dos brancos, é realidade para apenas 28,4% dos negros (soma de pretos e pardos, seguindo a metodologia do IBGE). Assim, 71,6% do total dos negros, frente a 65,9% do total dos brancos, experimentava algum grau de vulnerabilidade, destacando-se que 22,7% dos negros lidavam com a fome, com Insegurança Alimentar Grave, indicador que entre os brancos era 15,7%. Ou seja, a desigualdade racial entre negros e brancos que é de 6% no cômputo geral das situações de insegurança alimentar, é maior (7%) exatamente na condição de maior vulnerabilidade nutricional. Numa outra forma de olhar os dados, em termos de participação no total, vemos também uma tendência de acentuação: os negros que são 65,5% do total da população da Providência são 66,8% do contingente populacional submetido a alguma forma de insegurança alimentar, enquanto os brancos, que são 34,7% da população são 32,2% dos em situação de vulnerabilidade.<br />
<br />
'''Perfil de Gênero e Raça nas condições de Segurança e Insegurança Alimentar (1) – Domicílios chefiados por Mulheres e Homens Negros e Brancos'''<br />
{| class="wikitable"<br />
|<br />
| colspan="2" |'''Mulheres Pretas'''<br />
| colspan="2" |'''Mulheres Pardas''' <br />
| colspan="2" |'''Mulheres Negras (Pretas + Pardas)'''<br />
| colspan="2" |'''Homens Pretos'''<br />
| colspan="2" |'''Homens Pardos'''<br />
| colspan="2" |'''Homens Negros (Pretos + Pardos)'''<br />
| colspan="2" |'''Mulheres Brancas'''<br />
| colspan="2" |'''Homens Brancos'''<br />
|-<br />
|'''SA'''<br />
|70<br />
|4,8%<br />
|62<br />
|4,3%<br />
|'''132'''<br />
|'''9,1%'''<br />
|41<br />
|2,8%<br />
|71<br />
|4,9%<br />
|'''112'''<br />
|'''7,7%'''<br />
|68<br />
|'''4,7%'''<br />
|60<br />
|'''4,1%'''<br />
|-<br />
|'''IAL'''<br />
|71<br />
|4,9%<br />
|81<br />
|5,6%<br />
|'''152'''<br />
|'''10,4%'''<br />
|35<br />
|2,4%<br />
|48<br />
|3,3%<br />
|'''83'''<br />
|'''5,7%'''<br />
|81<br />
|'''5,6%'''<br />
|41<br />
|'''2,8%'''<br />
|-<br />
|'''IAM'''<br />
|32<br />
|2,2%<br />
|54<br />
|3,7%<br />
|'''86'''<br />
|'''5,9%'''<br />
|19<br />
|1,3%<br />
|27<br />
|1,9%<br />
|'''46'''<br />
|'''3,2%'''<br />
|30<br />
|'''2,1%'''<br />
|22<br />
|'''1,5%'''<br />
|-<br />
|'''IAG'''<br />
|44<br />
|3,0%<br />
|63<br />
|4,3%<br />
|'''107'''<br />
|'''7,3%'''<br />
|26<br />
|1,8%<br />
|29<br />
|2,0%<br />
|'''55'''<br />
|'''3,8%'''<br />
|46<br />
|'''3,2%'''<br />
|16<br />
|'''1,1%'''<br />
|-<br />
|'''Total'''<br />
|217<br />
|14,9%<br />
| 260<br />
|17,9%<br />
|'''477'''<br />
|'''32,8%'''<br />
|121 <br />
|8,3%<br />
|175 <br />
|12,0%<br />
|'''296'''<br />
| '''20,3%'''<br />
|225<br />
|'''15,5%'''<br />
|139<br />
|'''9,5%'''<br />
|}<br />
Um olhar sobre o perfil de raça e gênero das chefias de domicílio aprofunda o quadro de desigualdades, mostrando como raça e gênero se entrecruzam como marcadores sociais que agudizam o cenário de crise. Descontando-se uma dificuldade na própria entrevista realizada, em que do total de 1.456 respondentes um significativo contingente de 298 (20,5%) declarou mais de uma pessoa como chefe de domicílio, o que praticamente anula este conjunto desta parte da análise, vemos um quadro agudo de desigualdade que reflete a pirâmide da hierarquia social brasileira: do total de domicílios respondentes na pesquisa (somando 1.456), se declararam com algum grau de insegurança alimentar 23,7% chefiados por mulheres negras, 12,6% por homens negros, 10,8% por mulheres brancas e 5,4% por homens brancos. Estas proporções superam a participação. Se tomamos como universo apenas o conjunto destes identificados com algum grau de Insegurança Alimentar, a participação relativa dos chefiados por mulheres negras é 36,5%, por homens negros 19,5%, por mulheres brancas 16,6% e por homens brancos 8,4%. Por este viés, a sobre representação mais acentuada é das mulheres negras (que chefiam 32,8% do total de domicílios da Providência), seguida pela sobre representação leve das mulheres brancas (que chefiam 15,5% dos domicílios respondentes).<br />
<br />
Completam a comunidade, totalizando 1,4% do total dos domicílios, aqueles chefiados por Mulheres Amarelas, Homens Amarelos, Mulheres Indígenas, Homens Indígenas e Pessoas Não-Binárias Pardas e Brancas. Tais categorias, entretanto, são estatisticamente pouco expressivas, apesar da relevância social de sua presença e a atenção especial que requerem, visto que são submetidas a condicionantes de socialização e discriminação específicos – sobretudo, indígenas.<br />
<br />
O quadro de crise social, refletido nos altos índices de desemprego apresentados anteriormente sobre a Providência (37,8% dos respondentes no momento do levantamento encontravam-se desempregados e 6,0% realizavam trabalhos ocasionais, totalizando 43,8% convivendo com o desemprego, conforme mostrado no capítulo 4.4 deste Relatório) se reflete nos dados sobre a Segurança/Insegurança Alimentar. A pesquisa expõe a alta porcentagem de domicílios chefiados por desempregados que, em virtude de sua situação, apresentam os maiores índices de vulnerabilidade. Os desempregados com algum nível de Insegurança Alimentar perfazem 24,2% domicílios da Providência. Em números absolutos, dos 551 domicílios chefiados por desempregados, 379 conviviam com ao menos um dos níveis de Insegurança Alimentar, sendo que 135 (9,3% da Providência) eram acometidos pela Insegurança Alimentar Grave.<br />
<br />
Os dados também apontaram que, mesmo trabalhadores com vínculos laborais também apresentam dificuldade de manter uma situação alimentícia plena. Dos 336 (23,10% do total geral) domicílios chefiados por “trabalhadores em tempo integral”, 216 (14,80% da Providência) apresentam algum dos três níveis de Insegurança Alimentar, revelando expressivos números para a categoria. Não escapam também domicílios chefiados por aqueles que auferem proventos como aposentados (240), que relataram baixo índice de IA Grave (2,10%), mas, no somatório dos três níveis de IA, compõem um percentual de 8,3% do total da comunidade com algum nível de Insegurança Alimentar.<br />
<br />
Numa análise geral sobre o quadro ocupacional dos chefes de domicílio e Insegurança Alimentar, podemos inferir que os domicílios chefiados por desempregados possuíam os mais altos índices de vulnerabilidade e os maiores índices de privação em relação ao universo abrangido pela pesquisa. No entanto, a crise social é tão aguda que mesmo os domicílios chefiados trabalhadores em tempo integral também expressaram números preocupantes.<br />
<br />
Ao examinarmos o quadro de Segurança/Insegurança Alimentar no âmbito dos domicílios contemplados ou não com benefícios sociais, inferimos que dos 961 domicílios (equivalente a 66% do universo de 1456 domicílios da pesquisa) que não receberam nenhum benefício, 591 famílias encontravam-se em algum nível de Insegurança Alimentar (40,60% da Providência). Levando em consideração que o total de domicílios com algum grau de Insegurança Alimentar no levantamento foi de 961, os domicílios que não receberam nenhum auxílio correspondem a 61,5% dos lares em situação de vulnerabilidade alimentar na Providência, o que nos sinaliza a importância desta política pública no quadro de crise social e sanitária enfrentada. Por outro lado, temos uma dimensão da limitação do alcance desta política, que não chegou (ou, não foi alcançada) por um contingente tão significativo de famílias necessitadas – destacando-se um contingente de 150 (10,3% do total da comunidade) que, não assistidos por nenhum programa social, eram acometidos por altos índices de vulnerabilidade em relação à alimentação diária, encontrando-se em situação de fome - expressa pela Insegurança Alimentar Grave.<br />
<br />
Por outro lado, diante da agudização da crise, mesmo o recebimento de auxílio não consegue ser fator suficiente para garantir Segurança Alimentar. Do total de 495 domicílios que receberam algum auxílio (13 domicílios receberam mais de um auxílio), 388 (26,6% da Providência) também encontram-se em alguma situação de Insegurança Alimentar. Apenas 120 dos que receberam auxílio(s) encontravam-se em situação de Segurança Alimentar, praticamente um quinto desse contingente e equivalente a 8,2% do total da Providência. A insegurança alimentar, em algum de seus níveis, atingiu 134 dos 169 lares contemplados com o Bolsa-Família (9,2% da Providência), 216 dos 282 que receberam o Auxílio Brasil (14,8% do total da comunidade), 24 das 34 que receberam o Auxílio Emergencial da Pandemia (1,6% do universo pesquisado) e ainda outras 14 famílias que receberam outro tipo de auxílio (1,0%). Chama atenção que, tanto nos casos do Bolsa Família quanto do Auxílio Brasil, algo entre um quarto e um terço dos contemplados (29,6% e 27,7% de cada um dos programas respectivamente) encontrava-se em situação de Insegurança Alimentar Grave, ou seja, vivendo a experiência da fome.<br />
<br />
==[https://drive.google.com/file/d/1XWfZA7NjEVifNADiSdWvZjusvjauUs_a/view Acesse o relatório completo]==<br />
<br />
== Ver também==<br />
[[Censo Populacional da Maré (2012-2014)]]<br />
<br />
[[Censo das Favelas (2009)]]<br />
<br />
[[SOS Providência]]<br />
<br />
==Referências==<br />
BRASIL, IBGE. Características gerais dos moradores 2020-2021. 2022. Disponível em: //efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/<nowiki>https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101957_informativo.pdf</nowiki>. Acesso: 01 abr. 2023.<br />
<br />
Daniel A P de Miranda, Et al. Long COVID-19 syndrome: a 14-months longitudinal study during the two first epidemic peaks in Southeast Brazil. 2022 Disponível em: <nowiki>https://academic.oup.com/trstmh/article/116/11/1007/6581500?login=false</nowiki>. Acesso: 01 abr. 2023.<br />
<br />
Brasil, Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Panorama do Saneamento no Brasil, 2018. Disponível em: <nowiki>https://www.gov.br/ana/pt-br/assuntos/saneamento-basico/a-ana-e-o-saneamento/panorama-do-saneamento-no-brasil-1#:~:text=Segundo%20dados%20de%202018%20do%20Sistema%20Nacional%20de,de%20esgoto%2C%20enquanto%2046%2C3%25%20possu%C3%ADa%20tratamento%20de%20esgoto</nowiki> . Acesso: 01 abr. 2023.<br />
<br />
BRASIL, Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA). Atlas Esgotos Despoluição de Bacias Hidrográficas. 2017.Disponível em: <nowiki>https://arquivos.ana.gov.br/imprensa/publicacoes/ATLASeESGOTOSDespoluicaodeBaciasHidrograficas-ResumoExecutivo_livro.pdf</nowiki> . Acesso: 01 abr. 2023.<br />
<br />
IETS & FIRJAN “Pesquisa nas favelas com Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade do Rio de Janeiro, 2010.<br />
<br />
NUNES, Fernanda; AMORIM, Daniela. Brasileiro já usa mais lenha do que gás na cozinha. UOL. 2021. Disponível em: <nowiki>https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2021/10/10/brasileiro-ja-usa-mais-lenha-do-que-gas-na-cozinha.htm</nowiki> . Acesso: 01 abr. 2023.<br />
<br />
PRUDENTE, Beatriz. Preço do botijão de gás de cozinha subiu 23,2% em um ano, apontam dados da ANP. CNN. 2022. Disponível em: <nowiki>https://www.cnnbrasil.com.br/economia/preco-do-botijao-de-gas-de-cozinha-subiu-232-em-um-ano-aponta-dados-da-anp/#:~:text=condom%C3%ADnios%20de%20SP-,Pre%C3%A7o%20do%20botij%C3%A3o%20de%20g%C3%A1s%20de%20cozinha%20subiu%2023%2C2,ano%2C%20apontam%20dados%20da%20ANP&text=O%20g%C3%A1s%20de%20cozinha%20teve,Natural%20e%20Biocombust%C3%ADveis%20(ANP)</nowiki>. Acesso: 01 abr. 2023.<br />
[[Categoria:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]<br />
[[Categoria:Temática - Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Políticas Públicas]]<br />
[[Categoria:Cartografia]]<br />
[[Categoria:Mapeamento]]<br />
[[Categoria:Providência]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Censo]]</div>Clarahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Favela_n%C3%A3o_se_calaFavela não se cala2024-01-30T18:57:10Z<p>Kita Pedroza: </p>
<hr />
<div>[[Favela não se cala]] é um coletivo, situado no Rio de Janeiro, que possui como objetivo mobilizar lutas sociais pelos direitos dos pobres, pretos, indígenas e favelados.<br />
Autoria: Informações reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de outras fontes<ref name=":0">[https://www.scielo.br/j/tla/a/BT4dKRM5B6H6fNTjBhvXCqj/# NASCIMENTO E SILVA, Daniel do. “FAVELA NÃO SE CALA”: MERCANTILIZAÇÃO, MATERIALIDADE E IDEOLOGIA DA LINGUAGEM NA COOPERAÇÃO TRANSPERIFÉRICA. '''Trabalhos em Lingüística Aplicada''', v. 60, n. 2, 2021.]</ref>. <br />
[[Arquivo:Coletivo Favela não se cala.png|miniaturadaimagem|Coletivo Favela não se cala]]<br />
<br />
== O ativista André e as influências que dão nome ao coletivo. ==<br />
[[Arquivo:Figura 5 Escrava Anastácia.png|alt=Figura 5 Escrava Anastácia, retrato pintado por Jacques Ettiene Arago, séc. XIX|esquerda|miniaturadaimagem|Figura 5 Escrava Anastácia, retrato pintado por Jacques Ettiene Arago, séc. XIX]]<br />
Daniel do Nascimento e Silva<ref name=":0" /><br />
"André é residente da [[Morro da Babilônia|favela da Babilônia]], na Zona Sul do Rio de Janeiro, e um ativista do movimento “Favela não se cala”. <br />
<br />
Vestia uma camiseta branca na qual o nome do movimento estava disposto abaixo do retrato que Jacques Arago pintou em 1817 da Escrava Anastácia sendo submetida ao uso da Máscara de Flandres (ver Figura 5). <br />
<br />
<blockquote>Essa “''máscara do silenciamento'' [...] foi uma peça muito concreta, um instrumento real que se tornou parte do projeto colonial europeu por mais de trezentos anos (ênfase da autora).”</blockquote><blockquote>Kilomba (2019, p. 33)</blockquote><br />
<br />
<br />
Kilomba explica ainda que, “oficialmente, a máscara era usada pelos senhores ''brancos'' para evitar que africanas/os escravizadas/os comessem cana-de-açúcar ou cacau enquanto trabalhavam nas plantações, mas sua principal função era implementar um senso de mudez e de medo, visto que a boca era um lugar de silenciamento e de tortura” (KILOMBA, 2019, p. 33, ênfase da autora). <br />
<br />
Ou seja, esse “instrumento real” - “peça muito concreta” - tinha tripla função: dominar, impedir a alimentação e suprimir a fala. '''Significativamente, a camiseta de André combinava o nome do movimento, ''Favela não se cala'',''' com essa imagem de dominação e silenciamento, talvez ecoando o antigo ensinamento freudiano de que o trauma, para ser superado, precisa ser narrado, em condições de enunciação adequadas (BUTLER, 1997, p. 102).<br />
<br />
Enquanto falava, André batia com força, de punhos fechados, em seu próprio peito. A força e a frequência das pancadas, de algum modo, citavam o misto de autossacrifício e coragem que já havia emergido nas falas de Bandile e Lúcia. Essa performance corpórea era acompanhada do delineamento de uma perspectiva crítica aos interesses capitalistas na cidade do Rio de Janeiro, que à época haviam tornado algumas áreas urbanas em canteiro de obras para os megaeventos de 2014 e 2016. <br />
<br />
Assim, o ativista apontou que a “militarização fascista” - isto é, a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora e outras ações militares em favelas, desde 2008 - estava “atreladada ao processo de gentrificação e remoção em favelas”. André criticou, assim, a mercantilização do direito à moradia - vinculada ao fato de o Rio de Janeiro ter virado alvo de grandes negócios imobiliários - bem como a “privatização do sistema penitenciário” e a função estratégica da polícia no capitalismo.<blockquote>Na perspectiva do ativista, o quadro de mercantilização da cidade é sentido nas favelas por meio da histórica “guerra contra o pobre, o negro, o habitante de senzalas”. </blockquote>Essa guerra é instanciada na “privatização do sistema penitenciário”, o qual, movido por lucro, facilita o encarceramento e fortalece o crime organizado, uma vez que a “mãe desesperada que roubou um litro de leite é colocada numa cela junto de uma gerente do tráfico e uma dona de boca de fumo.” <br />
<br />
'''O excerto de fala a seguir, em que o ativista fala da polícia, é significativo:'''<blockquote>No capitalismo não tem outra polícia. Ela vai servir aos interesses do grande capital pra reprimir qualquer insurgência popular. É pra isso que serve a polícia. Quem a polícia mata desde a época do Império? Ela foi criada pra defender a coroa e matar os escravos e os negros. Coisa que ela faz muito bem até hoje.</blockquote>A conexão acima entre polícia, capitalismo e repressão a insurgências populares é, a meu ver, mais uma instanciação da hibridização (LATOUR, 1994) entre recursos comunicativos, corpo e mercantilização que observei na maioria das intervenções dos participantes do debate sobre o documentário “Prezado Mandela”. Assim, na fala de André, a polícia “serv[e] aos interesses do grande capital pra reprimir qualquer insurgência popular”. Tal como a Máscara de Flandres, um híbrido de dominação econômica, impedimento orgânico à saúde alimentar e bloqueio à fala, os artefatos contemporâneos do capitalismo, como a polícia e a prisão, são híbridos da mercantilização da cidade, policiamento e silenciamento dos pobres. Tais híbridos são parte de um todo material - e, como qualquer prática de hibridização, podem ser purificados ou circunscritos situacionalmente.<br />
<br />
Em um momento do debate, André realiza uma dessas operações de objetificação ou circunscrição ao tematizar a ideologia de linguagem do Favela não se cala. Nas palavras do ativista:<blockquote>Me identifiquei muito com aquele jovem [retratado no filme] porque o Favela não se cala tem essa praticidade de ir até as favelas e tentar organizar. Não chegar como uma referência que vai dar luz ou dar as diretrizes, mas tentar consolidar a organização orgânica já existente. Porque o trabalho de base tem que ser bem explicado, bem posto porque senão vira paternalismo.</blockquote>Segundo André, o Favela não se cala possui um regime de linguagem e educação que opera segundo uma imaginação específica sobre língua e aprendizagem. Iterando o método educativo dialógico de Paulo Freire, o Favela não se cala não vai até as favelas para transmitir conhecimento (“[n]ão [vai] chegar como uma referência que vai dar luz ou dar diretrizes”), mas para construir conhecimento com base em processos dialógicos já em curso, de modo a “tentar consolidar a organização orgânica já existente.” O Favela não se cala, portanto, não visa suprimir, em nome de um ideal iluminista, ideias e mobilizações já em curso nas favelas - o que seria “paternalismo” - mas sim “consolidar” processos dialógicos, coletivos, orgânicos e correntes."<br />
== Fiocruz e MNU lançam documentário 'Saúde Antirracista na Favela, é possível?' ==<br />
Cooperação Social da Presidência da Fiocruz - 24/01/2024<ref>[https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-e-mnu-lancam-documentario-saude-antirracista-na-favela-e-possivel Fiocruz]</ref><br />
"A Arena Dicró, espaço de lazer público e popular localizado na zona Norte do Rio de Janeiro, exibirá o documentário Saúde Antirracista na Favela, é possível? - uma produção conjunta da Fiocruz com o Movimento Negro Unificado (MNU) e outros nove coletivos populares do Estado do Rio de Janeiro. O lançamento ocorrerá no próximo domingo (28/1), das 10h às 13h, e tem entrada franca. Para o evento, foram convidadas autoridades da Secretaria Municipal de Saúde, os coletivos que participaram da criação do longametragem e pesquisadores da Fiocruz.<br />
<br />
O filme é um dos resultados do projeto A saúde na Favela pela Perspectiva Antirracista, uma articulação entre o MNU e a Cooperação Social da Fiocruz, com atuação na Vila Cruzeiro, [[Jacarezinho, Rio de Janeiro|Jacarezinho]], Vila Kennedy e Mangueirinha, localizadas no Estado do Rio de Janeiro. <br />
<br />
O documentário reúne entrevistas gravadas com lideranças sociais dos territórios, pesquisadores e promotores populares de saúde antirracista formados pelas oficinas do projeto. Nos 21 minutos do longa, o espectador irá ouvi-los falando sobre a importância da perspectiva da raça quando são analisados os serviços oferecidos pelo SUS e a experiência das pessoas que moram em territórios de favelas.<blockquote>“A extensão do impacto da violência armada na saúde de moradoras, moradores e profissionais em favelas do Rio de Janeiro vai desde o mais básico que é o impedimento do deslocamento para a Unidade de Saúde até transtornos que a gente não tem hoje dimensão: transtornos psicossociais, formas de depressão, síndrome do pânico, transtorno do estresse pós-traumático que é ainda pouco diagnosticado no nosso sistema e também o sofrimento que não é definido por uma doença - o sofrimento psicossocial que é gerado por uma determinação social que são os conflitos armados”, afirma Leonardo Bueno, coordenador do projeto pela Cooperação Social da Fiocruz.<br />
<br />
“Como profissional de saúde e como mulher periférica negra morando na Cidade de Deus, as queixas são muito comuns: aumento da pressão arterial, descompensação da glicose, sintomas de insônia, taquicardia, ansiedade, síndrome do pânico... e as pessoas não conseguem associar isso à violência armada que acontece no seu dia a dia. E essa procura sempre aumenta após um dia de tiroteio ou conflito armado na comunidade”, disse Cristiane Vicente, assessora técnica da Superintendência de Promoção de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS/RJ), em entrevista ao diretor do filme e militante de favela, Edilano Cavalcante.</blockquote>Para Edilano, é muito importante que o documentário possa circular em espaços de formação e de cultura. “O filme é um produto de divulgação científica, mas é também um instrumento para levantar esse debate em qualquer outro espaço, seja um festival de cinema ou a sala de aula. Queremos fazer essa ponte com outros espaços sociais”, disse ele no seminário de lançamento da [[Saúde na Favela numa Perspectiva Antirracista (cartilha)|Cartilha Saúde na Favela]] pela Perspectiva Antirracista, que ocorreu em dezembro na Fiocruz, no Rio de Janeiro.<br />
<br />
No lançamento do documentário, estiveram presentes Cristiane Vicente, assessora técnica da Superintendência de Promoção de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS/RJ); Leonardo Bueno, Heitor Silva e Valeria Montezuma, pesquisadores da Cooperação Social e representantes do [[Movimento Negro Unificado (MNU)|Movimento Negro Unificado]], e dos nove coletivos envolvidos em sua produção (Centro Comunitário Irmãos Kennedy, [[Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré]], Conselho Comunitário de Segurança do Rio de Janeiro, Complexo da Mangueirinha em Pauta, Centro de Referência para a Saúde da Mulher, Instituto de Defesa da População Negra, Espaço Gaia, Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, Associação Brasileira Terra dos Homens). <br />
<br />
O encontro é parte da agenda da campanha de divulgação da Cartilha Saúde na Favela pela Perspectiva Antirracista nos territórios de favelas que acontecerá entre janeiro e março de 2024, como parte do projeto."<br />
<br />
=== Assista o documentário completo! ===<br />
Documentário "Saúde antirracista na favela, é possível?" <br />
<br />
Produção conjunta da Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz com o Movimento Negro Unificado (MNU) e outros nove coletivos populares do Estado do Rio de Janeiro. <br />
<br />
O material é um dos resultados do projeto A saúde na Favela pela Perspectiva Antirracista, uma articulação entre o MNU e a Cooperação Social da Fiocruz, com atuação na Vila Cruzeiro, Jacarezinho, Vila Kennedy e Mangueirinha, localizadas no Estado do Rio de Janeiro. <br />
<br />
Dirigido por Edilano Cavalcante, o filme reúne entrevistas gravadas com lideranças sociais dos territórios, pesquisadores e promotores populares de saúde antirracista formados pelas oficinas do projeto. Nos 21 minutos do longa, o espectador irá ouvi-los falando sobre a importância da perspectiva da raça quando são analisados os serviços oferecidos pelo SUS e a experiência das pessoas que moram em territórios de favelas. {{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=R4X74AFoVpQ}}<br />
== Redes Sociais ==<br />
[https://www.instagram.com/favelanaosecalatv/reels/ Instagram]<br />
<br />
[https://www.facebook.com/favelanaosecala/?locale=pt_BR Facebook]<br />
<br />
[https://www.youtube.com/c/favelanaosecalatv YouTube]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]<br />
[[Categoria:Antirracismo]]<br />
[[Categoria:Política]]<br />
[[Categoria:Movimento Negro Unificado]]<br />
[[Categoria:Lutas populares]]<br />
[[Categoria:Ações sociais]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
<references /><br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Covid-19 nas favelas e o apoio do WikiFavelas às ações comunitárias]]<br />
* [[Saúde na Favela numa Perspectiva Antirracista (cartilha)]]<br />
* [[Favelados e faveladas no parlamento]]</div>Nsmirandahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Fala_UFRJ!_e_a_desinforma%C3%A7%C3%A3o_-_Epis%C3%B3dio_1_(podcast)Fala UFRJ! e a desinformação - Episódio 1 (podcast)2024-01-30T14:33:07Z<p>Kita Pedroza: Revisão necessária</p>
<hr />
<div>O [[PodCast Fala, UFRJ!]] é uma produção de uma turma da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) sobre o fenômeno da desinformação.<br />
Autoria: Gabriela Cavalcanti, Guilherme Monteiro, Luísa Terra, Lara Miranda, Mariana Cruz, Marina Pina, Nicole Sachett e Rafaella Maria da Silva.<br />
<br />
== Sobre o podcast ==<br />
Os alunos do primeiro período da [https://eco.ufrj.br/ Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ)] produziram o PodCast “Fala, UFRJ” sobre o fenômeno da desinformação. O produto foi desenvolvido como parte da avaliação para a disciplina Comunicação e Realidade Brasileira. A turma de 2023.2 planejou, produziu, gravou e editou o conteúdo em sete episódios e em um vídeo com resumo da atividade.<br />
<br />
A [[Desinformação na Política Brasileira: Estratégias, Impactos e a Ascensão da Inteligência Artificial - episódio 6 (podcast)|desinformação]] foi refletida a partir de diferentes eixos, incluindo os meios nos quais ela circula, as estratégias de prevenção e educação midiática, e os públicos que ela pode afetar, com especial atenção aos jovens e à terceira idade. Os episódios também abordam o impacto da desinformação nos ambientes digitais para a nossa democracia à luz do avanço das plataformas e da inteligência artificial.<br />
<br />
== O episódio ==<br />
O episódio do nosso podcast introduz o tema da desinformação e seus efeitos.<br />
<br />
Ouça abaixo:<br />
[[Arquivo:Fala UFRJ! e a desinformação.mp4|centro|miniaturadaimagem|Fala UFRJ! e a desinformação]]<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[PodCast Fala, UFRJ!]]<br />
* [[Favela e Ciência (podcast)]]<br />
* [[Que papo é esse (podcast)]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Podcasts]]<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Desinformação]]<br />
[[Categoria:Temática - Mídia e Comunicação]]<br />
[[Categoria:Universidades]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Gabrielhttps://wikifavelas.com.br/index.php/JedaiJedai2024-01-29T18:38:33Z<p>Clara: Clara moveu Jedai para Usuário:Jedai sem deixar um redirecionamento: mudança de namespace</p>
<hr />
<div>Anderson Gonçalves Vieira, mais conhecido como Jedai da Kelson's. Ele é uma figura importante da Favela da Kelson's, que fica dentro do conjunto Marcílio Dias, na Zona Norte do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Jedai é multitalentoso: jornalista, poeta, compositor, roteirista e ativista social. Ele se orgulha de ser cria da Kelson's e usa sua voz para dar visibilidade à comunidade, falar sobre as dificuldades e também destacar as iniciativas positivas que acontecem lá.<br />
<br />
Aqui estão alguns aspectos que se destacam na história de Jedai:<br />
<br />
Fundador do Impactando Kelson's: Um projeto de capacitação para jovens barbeiros, que visa oferecer alternativas ao crime organizado e gerar oportunidades de trabalho e renda.<br />
<br />
Promotor da cultura local: Jedai também escreve poesias, roteiros e participou da websérie "É o Complexo".<br />
<br />
Representatividade e engajamento social: Jedai usa suas redes sociais para denunciar injustiças, dar voz aos moradores, e também mobilizar recursos e apoio para a comunidade.<br />
<br />
É licenciado da Nk8 educação, um EJA que possibilita as pessoas terminarem seus estudos.<br />
<br />
Reconhecimento pelo seu trabalho: Já foi entrevistado por vários veículos de comunicação, recebeu moção de aplausos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e participou de eventos como a Semana da Arte Favelada.<br />
<br />
Em resumo, Jedai da Kelson's é um exemplo de liderança comunitária, que se dedica a transformar a realidade da sua favela através de iniciativas culturais, sociais e de geração de oportunidades. Ele é um artista, um ativista e uma voz importante para a comunidade da Kelson's.<br />
<br />
Se quiser saber mais sobre Jedai, você pode segui-lo nas redes sociais (@oijedai) ou buscar notícias e entrevistas com ele.</div>Jedaihttps://wikifavelas.com.br/index.php/De_Aglomerados_Subnormais_para_Favelas_e_Comunidades_UrbanasDe Aglomerados Subnormais para Favelas e Comunidades Urbanas2024-01-26T00:17:38Z<p>Kita Pedroza: Revisão necessária</p>
<hr />
<div>O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde 2023, está promovendo uma alteração significativa na denominação dos "Aglomerados Subnormais", termo utilizado pelo instituto em seus censos e pesquisas desde 1991. Após extensas discussões com movimentos sociais, a comunidade acadêmica e diversos órgãos governamentais, foi decidido adotar a nova denominação de "Favelas e Comunidades Urbanas".<br />
Autoria: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)<ref>Nota metodológica divulgada oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em janeiro de 2024.</ref><br />
== O que mudou? ==<br />
O [https://www.ibge.gov.br/ IBGE], atendendo a preceitos constitucionais e mantendo o rigor técnico e a observância dos Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais, após ampla consulta a diferentes segmentos da sociedade, promoveu a mudança da nomenclatura e da redação dos critérios que orientam a produção, análise e disseminação de informações sobre as [[:Categoria:Temática - Favelas e Periferias|favelas]] e comunidades urbanas brasileiras.<br />
<br />
== Por que mudou? ==<br />
[[Arquivo:IBGE contexto internacional 1.png|alt=IBGE contexto internacional 1|centro|IBGE contexto internacional 1]]<br />
[[Arquivo:IBGE contexto internacional 2.png|alt=IBGE contexto internacional 2|centro|IBGE contexto internacional 2]]<br />
[[Arquivo:IBGE contexto internacional 3.png|alt=IBGE contexto internacional 3|centro|IBGE contexto internacional 3]]<br />
<br />
== Histórico ==<br />
<br />
=== Censo 1950 (Distrito Federal) Favelas: ===<br />
1. Proporções mínimas: agrupamentos prediais ou residenciais formados por unidades de número geralmente superior a 50; <br />
<br />
2. Tipo de habitação: predominância, no agrupamento, de barracos ou casebres de aspecto rústico típico, construídos principalmente de folhas de Flandres, chapas zincadas, tábuas ou materiais semelhantes; <br />
<br />
3. Condição jurídica da ocupação: construções sem licenciamento e sem fiscalização, em terrenos de terceiros ou de propriedade desconhecida;<br />
<br />
4. Melhoramentos públicos: ausência, no todo ou em parte, de [[Saneamento em favelas - Jose Stelberto (entrevista)|rede sanitária]], luz, telefone e água encanada; <br />
<br />
5. Urbanização: área não urbanizada, com falta de arruamento, numeração e emplacamento. (IBGE, 1953, p.18)<br />
[[Arquivo:IBGE nomenclaturas.png|alt=IBGE nomenclaturas|centro|IBGE nomenclaturas]]<br />
<br />
=== Censo 2010: Aglomerados subnormais ===<br />
Um conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais (barracos, casas etc.) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e/ou densa. A identificação dos aglomerados subnormais é feita com base nos seguintes critérios: <br />
<br />
1. Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) no momento atual ou em período recente (obtenção do título de propriedade do terreno há dez anos ou menos); <br />
<br />
2. Precariedade de serviços públicos essenciais, tais quais energia elétrica, coleta de lixo e redes de água e esgoto; <br />
<br />
3. [[Urbanização de favelas no Rio de Janeiro (livro)|Urbanização]] fora dos padrões vigentes, refletido por vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais e construções não regularizadas por órgãos públicos.<br />
[[Arquivo:IBGE marcos legais.png|alt=IBGE marcos legais|centro|IBGE marcos legais]]<br />
<br />
== Como mudou? ==<br />
[[Arquivo:IBGE antecedentes.png|alt=IBGE antecedentes|centro|IBGE antecedentes]]<br />
[[Arquivo:IBGE 2023.png|alt=IBGE 2023|centro|IBGE 2023]]<br />
<br />
=== Encaminhamentos ===<br />
• A urgência da alteração da nomenclatura aglomerado subnormal, constituindo-se como uma demanda represada da sociedade nos últimos anos; <br />
<br />
• A aceitação unânime do termo favela, estando vinculado à reivindicação histórica por reconhecimento e identidade de movimentos populares;<br />
<br />
• O consenso em torno da necessidade de que o termo estivesse acompanhado de um complemento;<br />
<br />
• A necessidade de que o conceito fosse pensado a partir da positivação e não da negação, invertendo a equação e tornando as favelas um elemento de afirmação e não de estigmas;<br />
<br />
• A necessidade de incorporação de elementos associados à sociabilidade, identidade e formas próprias de organização da vida e do espaço às pesquisas estatísticas sobre esses territórios;<br />
<br />
• A importância de que o conceito se refira a territórios com direitos não atendidos ao invés de territórios em desacordo com a legislação;<br />
<br />
• Embora seja central evidenciar a potência desses territórios, foi reforçado o desafio de que a desassistência de direitos seja também evidenciada pelas estatísticas públicas.<br />
<br />
=== Consultas ===<br />
• 55 formulários respondidos; <br />
<br />
• Boa aceitação geral da proposta inicial disponibilizada para consulta;<br />
<br />
• Comentários com referência a outros territórios que não estariam sendo abarcados pelo conceito proposto, principalmente os conjuntos habitacionais produzidos pelo Estado que se degradaram com o decorrer do tempo;<br />
<br />
• A [[Regularização Urbanística e Fundiária|questão fundiária]] aparece como outra questão central no debate sobre o conceito, indicando a necessidade de que, futuramente, o IBGE se dedique a estudos que possam subsidiar mudanças em relação a esse quesito;<br />
<br />
• Inclusão de quesitos que atualmente não são considerados nas pesquisas realizadas pelo IBGE para esses territórios, como segurança pública, mobilidade, lazer, saúde, entre outros.<br />
<br />
== De Aglomerados Subnormais para Favelas e Comunidades Urbanas ==<br />
<br />
=== Aglomerados subnormais ===<br />
Formas de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia (públicos ou privados) para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas que apresentam restrições à ocupação.<br />
<br />
A identificação de aglomerados subnormais deve ser feita com base nos seguintes critérios: <br />
<br />
'''1.''' Caso haja ocupação irregular da terra, ou seja, quando os domicílios estão em terrenos de propriedade alheia (pública ou particular),agora ou em período recente (obtenção do título de propriedade do terreno há dez anos ou menos) e quando se soma à ocupação irregular da terra uma ou mais das características a seguir:<br />
<br />
'''2.''' Precariedade de serviços públicos essenciais, como iluminação elétrica domiciliar, abastecimento de água, esgoto sanitário e coleta de lixo regular e/ou<br />
<br />
'''3.''' Urbanização fora dos padrões vigentes, refletida pela presença de vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais, ausência de calçadas ou de largura irregular e construções não regularizadas por órgãos públicos e/ou<br />
<br />
'''4.''' Restrição de ocupação, quando os domicílios se encontram em área ocupada em desacordo com legislação que visa à proteção ou restrição à ocupação com fins de moradia como, por exemplo, faixas de domínio de rodovias, ferrovias, áreas ambientais protegidas e áreas contaminadas.<br />
<br />
=== Favelas e comunidades urbanas ===<br />
Territórios populares originados das diversas estratégias utilizadas pela população para atender, geralmente de forma autônoma e coletiva, às suas necessidades de [[moradia]] e usos associados (comércio, serviços, lazer, cultura, entre outros), diante da insuficiência e inadequação das políticas públicas e investimentos privados dirigidos à garantia do direito à cidade. Em muitos casos, devido à sua origem compartilhada, relações de vizinhança, engajamento comunitário e intenso uso de espaços comuns, constituem identidade e representação comunitária. No Brasil, esses espaços se manifestam em diferentes formas e nomenclaturas, como favelas, ocupações, comunidades, quebradas, grotas, baixadas, alagados, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, loteamentos informais, vilas de malocas, entre outros, expressando diferenças geográficas, históricas e culturais na sua formação. Favelas e comunidades urbanas expressam a desigualdade socioespacial da urbanização brasileira. Retratam a incompletude - no limite, a precariedade das políticas governamentais e investimentos privados de dotação de infraestrutura urbana, serviços públicos, equipamentos coletivos e proteção ambiental aos sítios onde se localizam, reproduzindo condições de vulnerabilidade. Estas se tornam agravadas com a insegurança jurídica da posse, que também compromete a garantia do direito à moradia e a proteção legal contra despejos forçados e remoções.<br />
<br />
Para identificação das favelas e comunidades urbanas o IBGE utiliza os seguintes critérios:<br />
<br />
'''1. Predominância de domicílios com graus diferenciados de insegurança jurídica da posse; e, pelo menos, um dos demais critérios abaixo:'''<br />
<br />
'''Comentário:''' A nova redação parte do princípio do direito à moradia adequada, respaldado pelo Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, e pela legislação brasileira pós-Constituição Federal de 1988, especialmente o Estatuto da Cidade. Destaca a função social da propriedade urbana. A segurança da posse é crucial, sendo responsabilidade do Estado proteger contra despejos arbitrários. Ressalta-se que há diferentes níveis de insegurança jurídica em uma mesma favela ou comunidade urbana.<br />
<br />
'''2. Ausência ou oferta incompleta e/ou precária de serviços públicos (iluminação elétrica pública e domiciliar, abastecimento de água, esgotamento sanitário, sistemas de drenagem e coleta de lixo regular) por parte das instituições competentes; e/ou'''<br />
<br />
'''Comentário:''' A mudança proposta destaca o direito à moradia adequada como fundamental, enfatizando a responsabilidade dos Estados e instituições em promovê-lo. Evita rotular favelas como intrinsecamente carentes, alertando para a necessidade de focar na oferta precária de serviços públicos essenciais, em vez de qualificar as comunidades como deficientes por si mesmas. Trata-se de uma mudança de perspectiva, portanto.<br />
<br />
'''3. Predomínio de edificações, arruamento e infraestrutura que usualmente são autoproduzidos e/ou se orientam por parâmetros urbanísticos e construtivos distintos dos definidos pelos órgãos públicos; e/ou'''<br />
<br />
'''Comentário:''' Buscou-se evitar a estigmatização das favelas e comunidades urbanas com essa mudança. Diante da falta de iniciativas eficazes por parte dos órgãos competentes para garantir o direito à moradia, essas populações desenvolveram lógicas próprias de organização espacial, que exigem reconhecimento de suas especificidades. Além de demandarem investimentos específicos, muitas vezes apresentam soluções autônomas e comunitárias. O reconhecimento deve ir além de qualificar essa urbanização como "irregular".<br />
<br />
'''4. Localização em áreas com restrição à ocupação definidas pela legislação ambiental ou urbanística, tais como faixas de domínio de rodovias e ferrovias, linhas de transmissão de energia e áreas protegidas, entre outras; ou em sítios urbanos caracterizados como áreas de risco ambiental (geológico, geomorfológico, climático, hidrológico e de contaminação).'''<br />
<br />
'''Comentário:''' A principal mudança na redação deste critério se refere à incorporação da dimensão do risco ambiental, que está intimamente relacionado a processos de vulnerabilização de determinadas populações. Este critério para a identificação e mapeamento das favelas e comunidades torna-se fundamental frente ao aguçamento de eventos ambientais que resultam em desastres, impactando profundamente esses territórios, como as cheias, inundações e deslizamentos.<blockquote>'''<u>IMPORTANTE!</u>''' A mudança de nomenclatura e de redação dos critérios não afeta o mapeamento produzido para a pesquisa censitária de 2022. As mudanças dizem respeito à forma como o IBGE se refere a esses territórios e seus habitantes em seus materiais e em suas bases de divulgação, evitando estigmatizações e homogeneizações que possam afetá-los negativamente. O conteúdo essencial dos critérios utilizados para identificação e classificação dos então chamados aglomerados subnormais foi mantido.</blockquote>'''[https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/4823879b95c3b36b71b8b11f6a143d45.pdf ACESSE A NOTA METODOLÓGICA COMPLETA AQUI!]'''<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Favelas e Periferias]]<br />
[[Categoria:Temática - Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Dados]]<br />
[[Categoria:Favelas]]<br />
[[Categoria:Comunidades urbanas]]<br />
[[Categoria:Direito à favela]]<br />
[[Categoria:Direito à cidade]]<br />
<references /><br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Adeus Aglomerados Subnormais - Seminário IBGE]]<br />
* [[Favelas como resistência à cidade do Capital]]<br />
* [[Maiores favelas do Brasil]]</div>Clarahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Desinforma%C3%A7%C3%A3o_e_Jovens_na_Era_digital_-_Epis%C3%B3dio_5_(podcast)Desinformação e Jovens na Era digital - Episódio 5 (podcast)2024-01-25T18:53:01Z<p>Kita Pedroza: Revisão necessária</p>
<hr />
<div>O [[PodCast Fala, UFRJ!]] é uma produção de uma turma da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) sobre o fenômeno da desinformação.<br />
Autoria: Ana Clara Andreoli, Julie Drumond, Ludmilla Maia e Thaís Rodrigues.<br />
<br />
== Sobre o podcast ==<br />
Os alunos do primeiro período da [https://eco.ufrj.br/ Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ)] produziram o PodCast “Fala, UFRJ” sobre o fenômeno da desinformação. O produto foi desenvolvido como parte da avaliação para a disciplina Comunicação e Realidade Brasileira. A turma de 2023.2 planejou, produziu, gravou e editou o conteúdo em sete episódios e em um vídeo com resumo da atividade.<br />
<br />
A [[Desinformação na Política Brasileira: Estratégias, Impactos e a Ascensão da Inteligência Artificial - episódio 6 (podcast)|desinformação]] foi refletida a partir de diferentes eixos, incluindo os meios nos quais ela circula, as estratégias de prevenção e educação midiática, e os públicos que ela pode afetar, com especial atenção aos jovens e à terceira idade. Os episódios também abordam o impacto da desinformação nos ambientes digitais para a nossa democracia à luz do avanço das plataformas e da inteligência artificial.<br />
<br />
== O episódio ==<br />
Em um mundo de informações que são produzidas a cada segundo é difícil perceber o que é confiável e o que não é. No 5ºepisódio do podcast sobre Desinformação do "Fala, UFRJ" (elaborado pelos alunos de Comunicação Social, das turmas de Radialismo e Produção Editoral em 2023.2), nós vamos debater um pouco sobre como a desinformação ocorre entre os [[Jovens pobres e o uso das NTICs na criação de novas esferas públicas democráticas|jovens]] de hoje em dia.<br />
<br />
'''Assista abaixo:'''<br />
[[Arquivo:Desinformação dos Jovens na era digital.mp4|centro|miniaturadaimagem|Desinformação dos Jovens na era digital.]]<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[PodCast Fala, UFRJ!]]<br />
* [[Favela e Ciência (podcast)]]<br />
* [[Que papo é esse (podcast)]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Desinformação]]<br />
[[Categoria:Podcasts]]<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Temática - Mídia e Comunicação]]<br />
[[Categoria:Universidades]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Gabrielhttps://wikifavelas.com.br/index.php/Democracia_na_Era_Digital_-_epis%C3%B3dio_7_(podcast)Democracia na Era Digital - episódio 7 (podcast)2024-01-25T18:24:14Z<p>Kita Pedroza: Revisão necessária</p>
<hr />
<div>O [[PodCast Fala, UFRJ!]] é uma produção de uma turma da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) sobre o fenômeno da desinformação.<br />
Autoria: Maria Manuela, Vivian Serra, Thalita Gomes e Stefany Ribeiro.<br />
<br />
== Sobre o podcast ==<br />
Os alunos do primeiro período da [https://eco.ufrj.br/ Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro] (ECO/UFRJ) produziram o PodCast “Fala, UFRJ” sobre o fenômeno da desinformação. O produto foi desenvolvido como parte da avaliação para a disciplina Comunicação e Realidade Brasileira. A turma de 2023.2 planejou, produziu, gravou e editou o conteúdo em sete episódios e em um vídeo com resumo da atividade.<br />
<br />
A [[Desinformação na Política Brasileira: Estratégias, Impactos e a Ascensão da Inteligência Artificial - episódio 6 (podcast)|desinformação]] foi refletida a partir de diferentes eixos, incluindo os meios nos quais ela circula, as estratégias de prevenção e educação midiática, e os públicos que ela pode afetar, com especial atenção aos jovens e à terceira idade. Os episódios também abordam o impacto da desinformação nos ambientes digitais para a nossa democracia à luz do avanço das plataformas e da inteligência artificial.<br />
<br />
== O episódio ==<br />
Bem vindos ao episódio de número 7! Nele você entenderá um pouco mais sobre a democracia na era digital, a importância da educação midiática para a participação justa e ativa na democracia. Quando a gente aprende sobre mídia, fica mais esperto pra sacar e questionar as coisas que aparecem por aí. A parada é que a educação midiática ajuda a desmontar essas histórias erradas. E não é só isso, ela também dá um empurrãozinho pra galera que não costuma ser ouvida, tipo as [[:Categoria:Temática - Favelas e Periferias|comunidades]]. A ideia é dar espaço justo pra todo mundo e mostrar a realidade de jeitos diferentes, sacou? É tipo abrir a porta pra mais vozes e contar as histórias de um monte de gente.<br />
<br />
'''Assista abaixo:'''<br />
[[Arquivo:Democracia na era digital (G7).mp4|centro|miniaturadaimagem]]<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[PodCast Fala, UFRJ!]]<br />
* [[Favela e Ciência (podcast)]]<br />
* [[Que papo é esse (podcast)]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Desinformação]]<br />
[[Categoria:Podcasts]]<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Temática - Mídia e Comunicação]]<br />
[[Categoria:Universidades]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Gabrielhttps://wikifavelas.com.br/index.php/Como_se_proteger_e_agir_contra_as_Fake_News_-_epis%C3%B3dio_3_(podcast)Como se proteger e agir contra as Fake News - episódio 3 (podcast)2024-01-25T16:52:04Z<p>Kita Pedroza: Revisão necessária</p>
<hr />
<div>O [[PodCast Fala, UFRJ!]] é uma produção de uma turma da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) sobre o fenômeno da desinformação.<br />
Autoria: Caroline Gazeta, Gabrielle Jung, Isabela Peclat, Isabella Macedo e Luana Bueno.<br />
<br />
== Sobre o podcast ==<br />
Os alunos do primeiro período da Escola de [https://eco.ufrj.br/ Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ)] produziram o PodCast “Fala, UFRJ” sobre o fenômeno da desinformação. O produto foi desenvolvido como parte da avaliação para a disciplina Comunicação e Realidade Brasileira. A turma de 2023.2 planejou, produziu, gravou e editou o conteúdo em sete episódios e em um vídeo com resumo da atividade.<br />
<br />
A [[Desinformação na Política Brasileira: Estratégias, Impactos e a Ascensão da Inteligência Artificial - episódio 6 (podcast)|desinformação]] foi refletida a partir de diferentes eixos, incluindo os meios nos quais ela circula, as estratégias de prevenção e educação midiática, e os públicos que ela pode afetar, com especial atenção aos jovens e à terceira idade. Os episódios também abordam o impacto da desinformação nos ambientes digitais para a nossa democracia à luz do avanço das plataformas e da inteligência artificial.<br />
<br />
== O episódio ==<br />
No podcast de hoje, iremos falar sobre um tema muito importante e urgente da atualidade, a desinformação. Diante das inovações tecnológicas do mundo, todos estamos conectados diariamente e recebemos informações de diversos meios. Por isso, é muito importante saber como identificar as Fake News e como podemos validar uma notícia recebida. Hoje, nós vamos abordar sobre esse assunto de modo simples e esclarecido. <br />
<br />
Assista abaixo:<br />
[[Arquivo:Podcast Trabalho Final 2.0.mp4|miniaturadaimagem|Fica aqui o nosso Podcast sobre a desinformação. |centro]]<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[PodCast Fala, UFRJ!]]<br />
* [[Favela e Ciência (podcast)]]<br />
* [[Que papo é esse (podcast)]]<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Desinformação]]<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Podcasts]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Universidades]]<br />
[[Categoria:Temática - Mídia e Comunicação]]</div>Gabrielhttps://wikifavelas.com.br/index.php/PodCast_Fala,_UFRJ!PodCast Fala, UFRJ!2024-01-24T18:04:32Z<p>Kita Pedroza: Categoria, palavras-chave</p>
<hr />
<div>{{DISPLAYTITLE:PodCast Fala, UFRJ!}}<br />
<br />
O PodCast Fala, UFRJ! é uma produção de uma turma da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) sobre o fenômeno da desinformação.<br />
[[Arquivo:Logo do PodCast Fala, UFRJ!.png|centro|miniaturadaimagem|Logo do PodCast Fala, UFRJ!]]<br />
Autoria: Pâmela Pinto e alunos/as da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ)<ref>Ver Ficha Técnica</ref>.<br /><br />
<br />
== Sobre ==<br />
Os alunos do primeiro período da [https://eco.ufrj.br/ Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro] (ECO/UFRJ) produziram o PodCast “Fala, UFRJ” sobre o fenômeno da [[Desinformação na Política Brasileira: Estratégias, Impactos e a Ascensão da Inteligência Artificial - episódio 6 (podcast)|desinformação]]. O produto foi desenvolvido como parte da avaliação para a disciplina Comunicação e Realidade Brasileira. A turma de 2023.2 planejou, produziu, gravou e editou o conteúdo em sete episódios e em um vídeo com resumo da atividade. <br />
[[Arquivo:Teaser do podcast Fala, UFRJ!.mp4|centro|miniaturadaimagem|Teaser do podcast Fala, UFRJ!]] <br />
<br />
A desinformação foi refletida a partir de diferentes eixos, incluindo os meios nos quais ela circula, as estratégias de prevenção e educação midiática, e os públicos que ela pode afetar, com especial atenção aos jovens e à terceira idade. Os episódios também abordam o impacto da desinformação nos ambientes digitais para a nossa [[Democracia na Era Digital - episódio 7 (podcast)|democracia]] à luz do avanço das plataformas e da inteligência artificial.<br />
<br />
== Episódios ==<br />
<br />
* Episódio 1: [[Fala UFRJ! e a desinformação - Episódio 1 (podcast)|Fala UFRJ! e a desinformação]]<br />
<br />
* Episódio 2: [[O meio e a desinformação - Episódio 2 (podcast)|O(s) meio(s) e a desinformação]] <br />
<br />
* Episódio 3: [[Como se proteger e agir contra as Fake News - episódio 3 (podcast)|Como se proteger e agir contra as Fake News]]<br />
* Episódio 4: [[Desinformação na Terceira Idade - Episódio 4 (podcast)|Desinformação na Terceira Idade]] <br />
* Episódio 5 [[Desinformação e Jovens na Era digital - Episódio 5 (podcast)|Desinformação e Jovens na Era digital]]<br />
* Episódio 6: [[Desinformação na Política Brasileira: Estratégias, Impactos e a Ascensão da Inteligência Artificial - episódio 6 (podcast)|Desinformação na Política Brasileira: Estratégias, Impactos e a Ascensão da Inteligência Artificial]]<br />
* Episódio 7: [[Democracia na Era Digital - episódio 7 (podcast)|Democracia na Era Digital]]<br />
* Episódio 8: [[Desinformação na Era da Pós Verdade - Episódio 8 (podcast)|Desinformação na Era da Pós Verdade]]<br />
<br />
== Ficha técnica ==<br />
[[Arquivo:Equipe do PODCAST Fala, UFRJ!.png|centro|miniaturadaimagem|381x381px|Equipe do PODCAST Fala, UFRJ!]]<br />
'''Supervisão técnica''': Pâmela Pinto.<br />
<br />
'''Produção, edição e locução:'''<br />
<br />
* Amanda de Sena<br />
* Ana Clara Andreoli <br />
* Ana Luiza Rios <br />
* Caroline Gadelha Gazeta<br />
* Cecilia Martins<br />
* Gabriel Alexandre Francisconi<br />
* Gabriel Oliveira Cavalcanti<br />
* Gabrielle Jung<br />
* Guilherme Antonio de Sena<br />
* Heitor Dantas<br />
* Isabela Cyrillo<br />
* Isabella Macedo<br />
* Jean Henrique Regis<br />
* Joao Vitor Santana<br />
* Julie Fontes Drumond<br />
* Lara Miranda<br />
* Leonardo Tavares<br />
* Livia Moura<br />
* Luana Bueno<br />
* Ludmilla Maia <br />
* Luisa Gabriel<br />
* Luisa Santanna<br />
* Marcos Moreira<br />
* Maria manuela Alves<br />
* Mariana Borges<br />
* Marina Pina<br />
* Nicole Sachett<br />
* Rafaella Maria da Silva<br />
* Ramon Figueiredo<br />
* Renan Campos<br />
* Samella Esteves Molin<br />
* Stefany Ribeiro Santana<br />
* Thais Rodrigues<br />
* Thalita Gomes<br />
* Theo Barbosa<br />
* Vinicius Guedes<br />
* Vivian Serra<br />
* Wellington Soares<br />
* Yasmim Diniz<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Favela e Ciência (podcast)]]<br />
* [[Que papo é esse (podcast)]]<br />
* [[Podcasts de favelas]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Desinformação]]<br />
<references /><br />
[[Categoria:Podcasts]]<br />
[[Categoria:Comunicação]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Temática - Mídia e Comunicação]]<br />
[[Categoria:Universidades]]</div>Gabrielhttps://wikifavelas.com.br/index.php/Mapa_da_Desigualdade_da_Regi%C3%A3o_Metropolitana_do_Rio_de_JaneiroMapa da Desigualdade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro2024-01-18T15:14:55Z<p>Kita Pedroza: Revisão necessária</p>
<hr />
<div>O [[Mapa da Desigualdade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro|Mapa da Desigualdade]] é uma publicação da [[Casa Fluminense]] que reúne um conjunto de indicadores socioeconômicos sobre os municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a partir da análise de bases governamentais e empresariais e da [[Geração Cidadã de Dados]] (GCD), organizados pelos eixos das justiças econômica, racial, de gênero e climática. Em 2023, foi lançada a 4a edição do Mapa da Desigualdade. <br />
Autoria: Casa Fluminense<ref>Fonte: [https://casafluminense.org.br/mapa-da-desigualdade/ Casa Fluminense].</ref>. Informações reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco. Fonte: Casa Fluminense<ref>[https://casafluminense.org.br/mapa-da-desigualdade/ Mapa da Desigualdade]</ref><br />
<br />
=== Apresentação - Mapa da Desigualdade 2023 ===<br />
Equipe da Casa Fluminense<br />
No marco de seus 10 anos, a [[Casa Fluminense]] lança a 4a edição do Mapa da Desigualdade. A publicação busca retratar em dados a realidade dos 22 municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ). Os mapas são o resultado de consultas a diferentes bases de dados públicas, pesquisas e do esforço da Casa Fluminense junto com organizações parceiras que colaboraram na Geração Cidadã de Dados. Nesta nova edição, além da tradicional publicação, a Casa traz como inovação a possibilidade de navegação pelos dados por meio da plataforma ArcGis Online, em que os usuários terão acesso aos dados absolutos, mapas interativos e tabelas disponíveis para [https://drive.google.com/file/d/1ETwSXhGZjknGIPew1O3dhS9mgghhVRvS/view download].<br />
<br />
O Mapa da Desigualdade é uma ferramenta de monitoramento de indicadores e de incidência política que já inspirou a construção de [https://casafluminense.org.br/agenda-rio-2030/ Agendas Locais], formulação de políticas públicas e pautas nas mídias. A publicação vem se estabelecendo como um material de referência tanto para a sociedade civil quanto para os tomadores de decisão que estão preocupados com as [[Desigualdade nas metrópoles (boletim)|desigualdades]] da [https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Metropolitana_do_Rio_de_Janeiro Região Metropolitana do Rio de Janeiro]. <br />
<br />
Apesar das inovações presentes, esta edição exigiu criatividade e esforço maiores para superar desafios de escassez e desatualização de dados que, embora antigos e presentes nas edições anteriores, se agravaram nos últimos anos. A dificuldade de obtenção de dados pelo Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC), garantida pela Lei de Acesso à Informação (LAI), e, até mesmo, a inconfiabilidade de alguns dados oficiais. O cenário da transparência de dados públicos se tornou muito pior a partir de 2019, com a entrada de um governo federal com discursos anticiência, ações antidemocráticas e de ocultamento de informações públicas<ref>Para lidar com o apagão de dados, a Casa constrói com ciência cidadã, a metodologia participativa de Geração Cidadã de Dados, produzindo dados a partir das visões e vivências de moradores, coletivos e organizações territoriais. Um dos grandes marcos desse trabalho foi a criação da metodologia e plataforma do Cocôzap, produzido em parceria com o Data_Labe.</ref>.<br />
<br />
O [https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/22827-censo-demografico-2022.html Censo Demográfico], pesquisa mais importante do país que é realizada a cada 10 anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi atrasado duas vezes pelo antigo governo. O censo é uma das mais importantes ferramentas orientadoras de políticas públicas que apresenta uma radiografia detalhada de todo o povo e território brasileiro. Sua realização só foi possível devido a uma determinação judicial do Supremo Tribunal Federal, obrigando a União a realizá-lo.<br />
<br />
Com o início da pesquisa em 2022, após referida determinação, um novo desafio surgiu. Mesmo com o Decreto no 73.177, de 20 de novembro de 1973, que garante a obrigatoriedade de prestação de informações estatísticas ao IBGE e o sigilo às informações prestadas, uma significativa parcela da população se negou a receber os recenseadores e responder ao questionário devido a uma onda de fake news sobre o censo e de discursos que descredibilizam a ciência. O que acabou comprometendo a qualidade dos dados. Assim, com dois anos de atraso, um questionário mais enxuto e inúmeros desafios, somente agora, em 2023, que os primeiros resultados estão sendo publicados. Ainda há um longo caminho até que todos os dados sejam divulgados, o próprio IBGE comunicou que o prazo para a divulgação completa dos dados será até 2025. <br />
<br />
Esse cenário trouxe sérios impactos para o país. Sem informações atualizadas, a elaboração de políticas públicas voltadas para a melhoria de vida da população fica defasada e o desenvolvimento científico do país também não avança.<br />
<br />
Na escala estadual, outro importante órgão de pesquisa e estatística, o Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores do Estado do Rio de Janeiro (Ceperj), também sofreu com o desmonte de suas funções. O órgão — que tem como uma de suas funções “produzir conhecimento e informações estatísticas”3 e é responsável pela Infraestrutura de Dados Espaciais do Estado do Rio de Janeiro (Iderj), uma plataforma que abriga a maior infraestrutura de dados georreferenciado do estado — foi transformado em um grande cabide de emprego com indícios de fraudes, lavagem de dinheiro e funcionários fantasmas.<br />
<br />
O desmonte de importantes órgãos de pesquisa como o IBGE e o Ceperj ocorreu em meio à pandemia da Covid-19 que assolou o mundo. No momento em que se ter informações precisas sobre a população era crucial para implementar medidas efetivas de controle e redução de danos causados pela doença. É nesse cenário marcado<br />
<br />
pela desinformação e incertezas que vimos agravar uma lacuna que persiste desde as edições anteriores: a falta de informações específicas de populações historicamente vulnerabilizadas, tais como os povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e a população LGBTQIAPN+.<br />
<br />
Não há dados sobre identidade de gênero e orientação sexual da população para a construção de indicadores que possam orientar políticas públicas mais efetivas, isso contribui para a invisibilização e fortalece a LGBTIfobia. Olhando para esse cenário, o Mapa da Desigualdade alinha sua análise, suas justiças e eixos aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Cabe destacar que, a Casa Fluminense contribui anualmente, como ponto focal do ODS 11,5 para a construção do Relatório Luz, documento elaborado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030/GTSC A2030), que monitora a implementação dos ODS no Brasil.<br />
<br />
É com esse olhar para o contexto das desigualdades estruturais e conjunturais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro que o Mapa da Desigualdade busca se apresentar como um relevante instrumento de monitoramento, capaz de ampliar o entendimento do público não especializado sobre indicadores oficiais e da Geração Cidadã de Dados, através de uma visualização simples e intuitiva em diferentes escalas, ampliando o debate sobre as políticas públicas e o enfrentamento à desigualdade.<br />
<br />
=== Lista de indicadores ===<br />
[[Arquivo:Indicadores.png|alt=Indicadores da pesquisa - Casa Fluminense|centro|Indicadores da pesquisa - Casa Fluminense]]<br />
<br />
==== Justiça Econômica ====<br />
[[Arquivo:Justiça econômica - Habitação.png|alt=Justiça econômica - Habitação|centro|Justiça econômica - Habitação]]<br />
[[Arquivo:Justiça econômica - Saneamento.png|alt=Justiça econômica - Saneamento|centro|Justiça econômica - Saneamento]]<br />
[[Arquivo:Justiça econômica - Gestão.png|alt=Justiça econômica - Gestão|centro|Justiça econômica - Gestão]]<br />
<br />
==== Justiça Racial ====<br />
[[Arquivo:Justiça racial - Habitação.png|alt=Justiça racial - Habitação|centro|Justiça racial - Habitação]]<br />
[[Arquivo:Justiça racial - Saneamento.png|alt=Justiça racial - Saneamento|centro|Justiça racial - Saneamento]]<br />
[[Arquivo:Justiça racial - Gestão.png|alt=Justiça racial - Gestão|centro|Justiça racial - Gestão]]<br />
<br />
==== Justiça de Gênero ====<br />
[[Arquivo:Justiça de gênero - Habitação.png|alt=Justiça de gênero - Habitação|centro|Justiça de gênero - Habitação]]<br />
[[Arquivo:Justiça de gênero - Segurança.png|alt=Justiça de gênero - Segurança|centro|Justiça de gênero - Segurança]]<br />
[[Arquivo:Justiça de gênero - Saneamento.png|alt=Justiça de gênero - Saneamento|centro|Justiça de gênero - Saneamento]]<br />
<br />
==== Justiça Climática ====<br />
[[Arquivo:Justiça climática - Habitação.png|alt=Justiça climática - Habitação|centro|Justiça climática - Habitação]]<br />
[[Arquivo:Justiça climática - Segurança.png|alt=Justiça climática - Segurança|centro|Justiça climática - Segurança]]<br />
[[Arquivo:Justiça climática - Saneamento.png|alt=Justiça climática - Saneamento|centro|Justiça climática - Saneamento]]<br />
<br />
=== Encaminhamentos ===<br />
A construção de um instrumento de monitoramento como o Mapa da Desigualdade exige um exercício contínuo de levantamento e análise de dados para a produção de informações que fomentem a produção de diagnósticos territoriais. A partir desse esforço de pesquisa se evidencia, muitas vezes, a falta de dados atualizados nas escalas municipais e com recorte de diferentes marcadores sociais para a produção de políticas públicas no nosso país.<br />
<br />
A falta de bases de dados que divulgam informações sobre identidade de gênero, os atrasos na realização do Censo Demográfico, as diversas respostas negativas em pedidos de informação via Lei de Acesso à Informação e a necessidade de bases atualizadas para acessar informações municipais de diferentes temas representaram apenas alguns dos desafios da construção desta publicação.<br />
<br />
Com o foco em produzir análises interseccionais, sempre que possível foram apresentados mapas que cruzam informações de sexo e cor, o que evidenciou que, em geral, as mulheres negras constituem grande parte da população mais vulnerabilizada na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, pois são maioria nos domicílios improvisados, recebem cerca de R$ 2 mil a menos que homens brancos nos empregos formais, entre outros indicadores que expressam a grande desigualdade entre diferentes grupos populacionais numa mesma metrópole.<br />
<br />
Trazendo um olhar mais detalhado para os quatro capítulos apresentados, é possível identificar alguns destaques importantes. Em Justiça Econômica, em comparação com o último Mapa da Desigualdade, identificou-se que mais da metade dos moradores do estado e região metropolitana está inadimplente, houve piora nos índices de coleta e tratamento de esgoto, um aumento no número de municípios com sobrecarga no atendimento de seus CRAS, além de uma paralisação de obras públicas na ordem de R$ 278 milhões no estado do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Em Justiça Racial se identificou que houve aumento percentual no número de pessoas negras assassinadas pelo estado em 10 municípios nos anos de 2019 e 2022. Foi visto também que a disparidade salarial nos empregos formais entre brancos e negros aumentou em 15 municípios, entre 2018 e 2021. A população negra da metrópole também constitui a maioria do público que vive em domicílios particulares improvisados.<br />
<br />
No capítulo da Justiça de Gênero foram vistas mais desigualdades, principalmente após os cruzamentos de raça e sexo. Isso porque as mulheres negras são maioria tanto dos que vivem em pobreza e extrema pobreza e dos que vivem em domicílios improvisados. Contudo, ainda é um desafio pensar em diagnósticos territoriais na perspectiva da identidade de gênero, pois as bases de dados públicas não possuem essas informações. Nesse sentido surgem iniciativas de Geração Cidadã de Dados, como o dossiê da Antra, para mapeamento da violência de gênero no estado.<br />
<br />
Os danos causados por eventos relacionados às chuvas são um dos destaques no capítulo de Justiça Climática. Mesmo com uma subnotificação, se identificou que mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas diretamente no estado nos últimos dois anos. Foi visto que o racismo ambiental se faz presente na educação, pois existem pelo menos 76 escolas públicas na região metropolitana sem água, esgoto, energia elétrica e/ou alimentação para os alunos. Por fim, a falta de áreas verdes em alguns municípios da metrópole também chamou a atenção, principalmente na Baixada Fluminense.<br />
<br />
As análises apresentadas no Mapa da Desigualdade dão visibilidade para a realidade desigual da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. É a partir do monitoramento sistemático dos indicadores socioeconômicos, que é possível a criação e/ou a reformulação de políticas públicas capazes de reduzir as desigualdades aqui expostas.<br />
<br />
A partir das quatro Justiças e dos 10 eixos temáticos que orientam a nova edição do Mapa e da Agenda Rio 2030, este documento oferece importantes indicadores para a elaboração de análises aprofundadas sobre o contexto das desigualdades e para construção de caminhos para sua superação, inspirando debates, pesquisas, projetos, ações e políticas públicas que busquem Justiça Econômica, Justiça Racial, Justiça de Gênero e Justiça Climática para a população da metrópole.<br />
<br />
=== Mapeamento completo ===<br />
[https://casafluminense.org.br/mapa-da-desigualdade/ Acesse] o Mapa da Desigualdade 2023.<br />
<br />
[https://www.youtube.com/watch?v=5nrjwxDLKIQ&t=41s Assista ao vídeo] explicativo sobre o Mapa da Desigualdade 2023.<br />
<br />
=== Ver também ===<br />
[[In-Justiça Ambiental]]<br />
<br />
[[Áreas de risco]]<br />
<br />
[[Racismo ambiental deveria ser crime (artigo)]]<br />
<br />
[[Racismo Ambiental]]<br />
[[Categoria:Temática - Economia e Mercado]]<br />
[[Categoria:Políticas Públicas]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Justiça climática]]<br />
[[Categoria:Justiça racial]]<br />
[[Categoria:Justiça ambiental]]<br />
[[Categoria:Temática - Pesquisas]]<br />
<references /><br />
[[Categoria:Mapeamento]]</div>Clarahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Tain%C3%A1_de_Paula_(PT-RJ)_-_Comunidade_do_Loteamento_-_RJTainá de Paula (PT-RJ) - Comunidade do Loteamento - RJ2024-01-17T02:36:00Z<p>Kita Pedroza: Revisões necessárias</p>
<hr />
<div>[[Arquivo:Secretária municipal de ambiente e clima.png|miniaturadaimagem]]<br />
[[Tainá de Paula]] é arquiteta, urbanista, ativista das lutas urbanas, vereadora licenciada pelo Partido dos Trabalhadores (PT-RJ) e Secretária de Meio Ambiente e Clima do município do Rio de Janeiro (em 2024). <br />
Autoria: Jedai<br />
<br />
== Introdução ==<br />
Especialista em Patrimônio Cultural e Mestre em Urbanismo. Atua em projetos para fortalecer e ampliar a voz das maiorias minorizadas na cidade<ref>[https://www.linkedin.com/in/tainadepaularj/?originalSubdomain=br Linkedin]</ref>.<br />
<br />
== Biografia ==<br />
Tainá de Paula foi eleita vereadora em 2020, com 24.881 votos. É autora da lei [https://pt.org.br/racismo-em-supermercado-vereadora-do-pt-aprova-lei-que-responsabiliza-estabelecimentos-comerciais/ Pedro Gonzaga], que responsabiliza estabelecimentos comerciais em caso de negligência com a vida das pessoas negras. <br />
<br />
====== Este verbete precisa ter seu seu conteúdo ampliado, de acordo com as [https://wikifavelas.com.br/index.php/Wikifavelas:Escrever_um_verbete orientações para escrever um verbete da Wikifavelas]. Sinta-se livre para editá-lo(a), para que possa agregar maior conhecimento e ganhar mais visibilidade. ======<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Anielle Franco]]<br />
* [[Mônica Francisco (PSOL/RJ) - Borel - RJ]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Personalidades]]<br />
[[Categoria:Biografias]]<br />
[[Categoria:Parlamentares]]<br />
[[Categoria:Mulheres]]<br />
[[Categoria:Mulheres Pretas]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]</div>Jedaihttps://wikifavelas.com.br/index.php/Douglas_Abreu_PestanaDouglas Abreu Pestana2024-01-16T16:59:15Z<p>Clara: Clara moveu Douglas Abreu Pestana para Usuário:Douglas Abreu Pestana sem deixar um redirecionamento: mudança de namespace</p>
<hr />
<div>[[Arquivo:Douglas Abreu Pestana.jpg|miniaturadaimagem]]<br />
Douglas é dedicado e multifacetado, cuja carreira é marcada por uma profunda paixão por causas sociais e um compromisso com a educação e a inclusão. Como militante ativo nas questões relacionadas às pessoas com deficiência, Douglas emprega seu vasto conhecimento e experiência para advogar por direitos e oportunidades iguais para todos. Sua formação é notavelmente diversificada, abrangendo áreas como psicanálise, pedagogia, administração e artes visuais.<br />
<br />
Como psicanalista, Douglas explora as profundezas da mente humana, oferecendo insights valiosos sobre comportamento e processos inconscientes. Sua experiência como pedagogo reflete seu compromisso com a educação, enfatizando a importância da aprendizagem e do desenvolvimento humano. Seu bacharelado em Administração demonstra sua habilidade em estratégias de gestão e organização, enquanto sua licenciatura em Artes Visuais ressalta seu lado criativo e sua apreciação pela estética e pela expressão artística.<br />
<br />
Atualmente, Douglas contribui significativamente para o campo acadêmico como membro da prestigiada Cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade na USP/IEA. Além disso, como sócio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ele se envolve ativamente na promoção e no avanço da ciência no Brasil. Seu envolvimento na Rede Nacional da Ciência para a Educação- CPe também sublinha seu compromisso contínuo com a melhoria e inovação no setor educacional.</div>Douglas Abreu Pestanahttps://wikifavelas.com.br/index.php/Gera%C3%A7%C3%A3o_Cidad%C3%A3_de_DadosGeração Cidadã de Dados2024-01-12T22:59:55Z<p>Kita Pedroza: Referências</p>
<hr />
<div>A [[Geração Cidadã de Dados]] (GCD) representa um fenômeno global relacionado à crescente discussão e participação de cidadãos na coleta e interpretação de dados para influenciar no debate público e provocar mudanças concretas que possam melhorar a qualidade de vida. Essa abordagem transcende fronteiras e, para além dos estudos desenvolvidos no Brasil, há um incentivo direto voltado para indivíduos, em diferentes partes do mundo, envolverem-se ativamente na produção de informações relevantes para desafios sociais, de saúde, ambientais e políticos em escala transnacional. De acordo com quem atua nessas frentes de trabalho e pesquisa, no contexto brasileiro, a GCD é descrita como um conjunto de metodologias e ações práticas, realizadas por diferentes organizações, coletivos e instituições de modo colaborativo, muitos deles oriundos de favelas e periferias, visando contribuir para a transformação social.<br />
Autoria: Cristina Pedroza de Faria (Kita Pedroza), Thiago Ferreira, Rafael Ramires Baptista (Tecnorgânico), Renata Gracie, Paulo Mota (Polinho Mota). Fotografias gentilmente cedidas para o verbete e de uso autorizado.<br />
Esse verbete está sendo elaborado de forma conjunta por pessoas que atuam com GCD e/ou colaboram com a sua realização. As experiências em relação ao tema são plurais e abrangem muitas iniciativas de estudos, levantamentos e metodologias, muitos deles não abarcados aqui. Encorajamos todas as contribuições que possam enriquecê-lo.<br />
<br />
[[Arquivo:Criança solta pipa no Jacarezinho. Foto de Léo lima..jpg|miniaturadaimagem|448x448px|Gabriel, "caçador de pipas", na localidade conhecida como Azul, no Jacarezinho, Zona Norte/RJ), 2009. Foto: Léo Lima, fundador da iniciativa Cafuné na Laje.|alt=|centro]]<br />
==Sobre o conceito==<br />
A Geração Cidadã de Dados vem se ampliando, no Brasil, a partir de frentes expandidas de atuação, impulsionada por práticas que abrangem a participação engajada de pessoas baseadas em regiões consideradas [[:Categoria:Temática - Favelas e Periferias|periféricas]] que se mobilizam em prol de suas comunidades e da realização de estudos que possam melhorar condições de vida em locais diversos. Em processo de construção, a definição dessa prática vem ganhando contornos próprios no contexto brasileiro e se consolidando por meio de experiências diversas espalhadas por diferentes regiões do país. Em um espaço de tempo relativamente curto e com recursos ainda escassos, muitas experiências já se acumulam. <br />
<br />
Existente em outros lugares do mundo, esse tipo de atividade inspira pesquisadores, movimentos e outros atores sociais em favor de melhorias relativas à qualidade de vida, mas ocorre de forma diferenciada em cada lugar, uma vez que cada contexto social possui suas particularidades. A ideia principal trata de organizar e inventariar informações - reconhecer, coletar, armazenar, sistematizar, analisar -, além de divulgar relatórios que permitam apoiar ações de [[Dossiê De Olho na Alerj - Uma incidência política na Segurança Pública|incidência política]] para cobrar dos gestores medidas mais adequadas às realidades dos diferentes territórios ou fazer uso aplicado à mudança de contextos sociais. Os objetivos perpassam a garantia de direitos para populações submetidas a situações degradantes de vida. Cresce impulsionada pela intenção (e necessidade) de esses grupos se apropriarem (ou re-apropriarem) de dados sobre as próprias realidades vivenciadas para poder transformá-las, efetivamente. <br />
<br />
No contexto brasileiro, a concepção de Geração Cidadã de Dados (com essa nomenclatura específica) vem se fortalecendo em tempos recentes, associada à experiência prática. Por aqui, o conceito abarca alguns consensos, fruto de debates existentes ao menos desde 2016<ref>[https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2023/10/14/geracao-cidada-de-dados-quando-a-propria-populacao-busca-solucoes.htm?cmpid=copiaecola Geração cidadã de dados: quando a própria população busca soluções]</ref>, ainda que comporte interpretações saudavelmente diferenciadas. De acordo com quem atua nessas frentes de trabalho e pesquisa, a GCD é descrita como um conjunto de metodologias e ações práticas, realizadas por diferentes organizações, coletivos e instituições de modo colaborativo, visando contribuir para a transformação social. Mas isso não é tudo. <br />
<br />
Algumas organizações, movimentos e coletivos situados em contextos periféricos e favelados vêm trabalhando de maneira sistemática, nos últimos anos, com essa forma de fazer pesquisa, além de estabelecer parcerias com fundações, institutos, organizações sem fins lucrativos e outras instituições de ensino e pesquisa. São os casos do [[Data Labe|Data_labe]], [[Labjaca|LabJaca]], [[Casa Fluminense]], [[Fogo Cruzado|Instituto Fogo Cruzado]], [[Fala Roça]], [[Redes da Maré]], [[Instituto Raízes em Movimento]], Rede [[Conexões Periféricas]], [[Rede Favela Sustentável]], Observatório do Marajó, entre outros, no Rio de Janeiro, além de diversas iniciativas pelo Brasil afora. Nesse contexto, jovens moradores de favelas e outras quebradas se especializam, cada vez mais, em diferentes áreas de conhecimento - de filosofia, relações internacionais e ciências sociais, aos cursos de tecnologia da informação, estatística e ciências de dados, passando por comunicação e biblioteconomia. Formação acadêmica, experiência profissional, conhecimentos científicos e empíricos se unem a saberes tradicionais nas lutas por direitos. <br />
<br />
Conforme documento-guia<ref>[https://datalabe.org/geracao-cidada-de-dados/ GERAÇÃO CIDADÃ DE DADOS]</ref> disponibilizado pelo Data_labe (organização que se define como “laboratório que promove a democratização do conhecimento por meio da geração, análise e divulgação de dados, com foco em raça, gênero e território a partir do Complexo da Maré – RJ”), geração cidadã de dados é “um conjunto de ações que possibilitam aos cidadãos, gerar, recolher e utilizar dados para benefícios de suas comunidades ou coletivos”. De autoria de Paulo Mota (Polinho Mota) e Gilberto Vieira, o texto indica alguns passos para desenvolver um trabalho com GCD.<br />
<br />
Em 2017, o texto "Mas o que é geração cidadã de dados?<ref>[https://medium.com/data-labe/mas-o-que-%C3%A9-gera%C3%A7%C3%A3o-cidad%C3%A3-de-dados-fdac93c8fd70 Mas o que é geração cidadã de dados?]</ref>" já sugeria princípios essenciais para singularizar e diferenciar a GCD de outras formas de coleta e tratamento de dados. Escrito por Fábio Silva, afirma que geração cidadã de dados é “toda coleta de dados feita de maneira coletiva, que tenha uma função ativista e objetiva, em formato aberto e público, em que os usuários estejam conscientes do propósito dos dados”. Em resumo, sua base se assenta em quatro pilares: é uma prática “coletiva; aberta; a partir da perspectiva de participação política; e consciente”. Esse artigo publicado pelo Data_labe, sediado no [[Complexo da Maré|conjunto de favelas da Maré]], já citava como “alternativas à escassez de informação” algumas iniciativas como Defezap, [[Fogo Cruzado]] e [[Cocôzap]], projetos pioneiros voltados para mapear, respectivamente, agressões e abusos do Estado, tiroteios nos centros urbanos e seus impactos, além do [[Programa de Saneamento para Populações em Áreas de Baixa Renda (Prosanear) - Dione Maria Nichols (entrevista)|saneamento básico]] em favelas e periferias.<br />
<br />
O fazer político associado a esses levantamentos de dados foi enfatizado também por Gilberto Vieira, co-fundador do Data_labe. Em "Geração Cidadã de Dados: um fazer político" (2018)<ref>[https://medium.com/data-labe/gera%C3%A7%C3%A3o-cidad%C3%A3-de-dados-um-fazer-pol%C3%ADtico-c6b0450babfa Geração Cidadã de Dados: um fazer político]</ref>, ele complementou: “No bojo dos debates internacionais, viemos trabalhando com o conceito de Geração Cidadã de Dados no qual a produção independente de bases estruturadas de informações representa uma frente ativa de acesso ao debate público e à formulação de políticas. É ação direta e cidadã em um campo negligente, racista, elitista e machista”.<br />
<br />
Em outro artigo publicado recentemente, "Geração cidadã de dados: quando a própria população busca soluções<ref>[https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2023/10/14/geracao-cidada-de-dados-quando-a-propria-populacao-busca-solucoes.htm?cmpid=copiaecola Geração cidadã de dados: quando a própria população busca soluções]</ref>" (2023), integrantes das equipes do Data_labe e da Casa Fluminense, acrescentaram ao seu entendimento sobre a GCD a ideia de ser “uma nova camada na militância de nossas vidas e organizações”, fazendo referência não só à prática diferenciada da pesquisa associada ao engajamento político como ao marco temporal de uma nova geração de pessoas que reconhece o valor simbólico, histórico e estratégico de seus modos de vida e se apropria de métodos para estruturá-los em forma de dados (qualitativos e/ou quantitativos). Assim, estão surgindo novas bases de dados - abertas -, que fortalecem perspectivas descentralizadas de narrar o mundo, estão sendo criados acervos e repositórios para armazená-los, ou seja, está ganhando corpo uma ferramenta poderosa na luta por direitos.<br />
<br />
E se já estava evidente a forma ineficaz como, não raro, o poder público lida com dados relativos a regiões faveladas, periferias e assentamentos informais, a eclosão da [[Coronavírus (eixo de análise)|Covid-19]], em 2019, escancarou ainda mais essa realidade espalhada por todo o país. Conforme a ementa do [https://www.icict.fiocruz.br/content/centro-de-estudos-do-icict-geracao-de-dados-nas-favelas-e-tema-do-proximo-encontro-dia-159 Seminário que teve como tema 'Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’'] (realizado pelo [https://www.icict.fiocruz.br/centro-de-estudos-0 Centro de Estudos] do [https://www.icict.fiocruz.br/ Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz]), “a pandemia de Covid-19 deixou transparecer um grave problema nas favelas do Rio de Janeiro: a falta de dados sobre quem vive nelas. As subnotificações encobriram a gravidade da situação e dificultaram o enfrentamento da doença durante o período mais crítico”. Essa situação impulsionou ainda mais o engajamento de movimentos e moradores na coleta de dados e na produção de diagnósticos mais condizentes com as realidades que vivenciavam. Diferentes coletivos, associações, veículos jornalísticos de favelas e comunicadores comunitários se mobilizaram para mapear casos no seu entorno, mesmo com recursos escassos. <br />
<br />
Vale lembrar que o levantamento de dados brasileiros relativos à [[Coronavírus (eixo de análise)|Covid-19]], tornando-os acessíveis, ocorreu também nas áreas ditas formais, já que, no período inicial da pandemia estendido por longo tempo, o Ministério da Saúde não estava sistematizando os casos e os óbitos. Diante dessa situação, a organização não governamental [https://brasil.io/home/ Brasil.IO] (Repositório de dados públicos disponibilizados em formato acessível) começou a levantar estes dados de interesse público a partir de consultas junto às secretarias estaduais de saúde no Brasil. A John Hopkins University, que fez o levantamento mais utilizado em todo o mundo, continuou utilizando estes dados posteriormente e o Monitora Covid-19, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz, também os utilizou quando o Ministério da Saúde passou pelo apagão de dados, ao ter seus os sistemas computacionais invadidos por hackers. Veja mais sobre o assunto [https://books.scielo.org/id/zx6p9/pdf/freitas-9786557081211-15.pdf AQUI].<br />
<br />
==Escutando quem faz==<br />
<blockquote>(...) E esse povo é capaz de reconstruir toda a fauna e flora desse lugar onde quase não existem mais bichos e plantas… conseguem ver a a floresta e invocar o nome de todos os insetos, os répteis, os pássaros, os animais peçonhentos, as plantas..." e " Qualquer estudioso ficaria admirado com esse inventário e com a maneira que eles são capazes de restituir a essa terra a presença de seres que já foram extintos: os Maxakali estão ali representando todo esse gradiente de vida. Ailton Krenak (Krenak, p. 35, 2022)<ref>Krenak, Ailton. Futuro Ancestral, editora: Companhia Das Letras, São Paulo, 2022.</ref> </blockquote><blockquote>Meu bisavô dominava toda a cadeia produtiva da cana, do plantar até fazer açúcar. Minha tia-avó, Mãe Joana, detinha todo o saber da lavoura do algodão: plantava, colhia, fiava, tecia, tingia e fazia a roupa. Tio Norberto plantava cana e entregava a rapadura pronta, e fazia o engenho e o carro de boi. Então nós, pretos, tínhamos um poder enorme, um saber extraordinário. Nego Bispo, em entrevista ao Outras Palavras.<ref>[https://outraspalavras.net/outrasmidias/nego-bispo-um-guerreiro-dos-saberes-ancestrais/ Nêgo Bispo: Um guerreiro dos saberes ancestrais]</ref></blockquote><br />
<br />
<br />
À sua maneira, muitas pessoas pesquisadoras, professoras, fundadoras de coletivos, articuladoras de movimentos locais, representantes de povos originários, populações tradicionais etc também corroboram a importância da incidência política na GCD, ou seja, a aplicação dos dados para a efetivação da garantia de direitos. <br />
<br />
Seguem vozes participantes desse movimento, trazendo as suas contribuições sobre o tema, de acordo com suas experiências.<br />
<br />
“Dados cidadãos são aqueles que possibilitam aos cidadãos gerarem, recolherem e utilizarem dados para benefício de suas comunidades e coletivos”, explica Polinho Mota, coordenador de dados no Data_labe e doutorando em Epidemiologia e Ciência de Dados Populacionais (UFRJ). <br />
<br />
“A geração cidadã de dados, pra gente, são dados que de, algum modo, servem para fortalecer a garantia de direitos para moradores do meu território; não só do meu, mas de todos os territórios esquecidos pela gestão pública, lugares com subnotificação, ou sem informação sobre as violações dos direitos básicos, como saneamento básico, energia elétrica, acesso a emprego, educação e tantas outras coisas que desconhecemos em dados ou reportagens, mas que conseguimos - a olho nu - ver e, ao mesmo tempo, vivenciar na pele esses descasos da gestão pública. Mas quando levamos esses problemas como denúncia, a nossa palavra não é suficiente. Apresentar os dados funciona como ferramenta de validação pras nossas vivências”. Tecnorgânico (R. Ramires), co-fundador do coletivo [[InfoCria]]. Graduado em Tecnologias Educacionais (Estácio de Sá) e pós-graduando em Computação Aplicada à Educação (USP). <br />
<br />
“O que é geração cidadã de dados pra gente? É como que a gente constrói, desenvolve e apropria metodologias para gerar dados de forma cidadã, coletiva, com objetivo de transformação das nossas próprias comunidades”. Clara Sacco, co-fundadora e coordenadora do Data_labe. Graduada em Estudos de Mídia (UFF).<br />
<br />
“A ideia de geração cidadã de dados é que a gente tenha grupos de periferias comunidades e favelas que são marginalizados, historicamente olhados pela academia como objetos de pesquisa, que esses grupos passem a ser protagonistas no processo de geração de dados, de conhecimento e se empoderem a partir desses dados. A intenção é poder reivindicar mudanças, pautar políticas públicas, pautar intervenções nos seus territórios a partir das suas prioridades, a partir dos seus entendimentos que vieram através desses dados coletados comunitariamente, coletivamente.” Fala de Kayo Moura, no seminário do ICICT/Fiocruz, com o tema "Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’” (15/09/23). Kayo é analista de dados e coordenador de pesquisas no LabJaca, Laboratório de pesquisas e narrativas sobre favelas e periferias. Graduado em Relações Internacionais (PUC-Rio), graduando em Estatística (Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE) e mestrando em Ciência Política (IESP/UERJ). <br />
<br />
“Acredito que (a GCD)seja uma prática antiga, mas que não havia sido conceituada, apesar de espontaneamente muitos povos já possivelmente a realizarem. O levantamento de dados nem sempre precisa de legitimação de instituições para corresponder à realidade; uma anotação num papel de pão, feita por quem vive aquela realidade, pode e deveria servir como base de dados para acolher as experiências daquele indivíduo. Sendo assim, não duvido que esse movimento possa ter acontecido em comunidades tradicionais, aconteça em comunidades quilombolas e outras comunidades autogeridas<ref>Conforme representantes de povos tradicionais e originários vêm alertando, já existem levantamentos feitos por essas populações. Ver Krenak, Ailton. Futuro Ancestral, editora: Companhia Das Letras, São Paulo, 2022.</ref>. Na minha comunidade, essa ação sempre foi realizada pelas associações de moradores - levantar quantos moradores não têm acesso a água, quantos não têm ou possuem redes elétricas estáveis, isso tudo era feito manualmente, em planilhas de papel, que serviam para os interesses das próprias associações”. Tecnorgânico (R. Ramires) <br />
<br />
“Não se tem uma data marcada oficialmente para essa prática, estudos norte americanos apontam para o início do século XXI como um marco dessa prática, mas ainda dentro do escopo de ciência cidadã”. Polinho Mota (Paulo Mota)<ref>Ver mais em: <nowiki>https://www.nature.com/articles/s41599-022-01135-2</nowiki></ref><br />
<br />
==Eventos e estudos no cenário da GCD==<br />
Ações conjuntas e estudos envolvendo metodologias relacionadas à geração de dados vêm ganhando maior escala no Brasil. Para se ter uma ideia, apenas em 2023 foram realizados ao menos quatro eventos dedicados ao tema da GCD e assuntos correlatos, organizados por grupos do Rio de Janeiro e São Paulo. O [[I Seminário de geração cidadã de dados (evento)|I Seminário de Geração Cidadã De Dados]], promovido pelo Data_labe e Casa Fluminense, reuniu pesquisadores e participantes de cerca de 20 organizações e movimentos (Data_labe, Casa Fluminense, Visão Coop, Lab Jaca, [http://gemaa.iesp.uerj.br/ Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA)/IESP-UERJ], OCA/IPP, Fórum Estadual de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro (TTRJ), [[SOS Providência|Censo da Providência]], Iniciativa [https://www.iniciativapipa.org/ Pipa], [https://www.movimentos.org.br/ Movimentos], [[Agenda Realengo]], Observatório do Marajó, [[Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC)|CESeC]], [https://lavits.org/ Lavits], [https://plantaformas.org/ Plantaformas], [https://www.redesdamare.org.br/br/info/22/de-olho-na-mare De olho na Maré], [https://www.generonumero.media/ Gênero e Número], Fogo Cruzado, InfoCria). <br />
<br />
No mesmo ano, o tema foi debatido, em dos seminários do Centro de Estudos do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da [https://portal.fiocruz.br/ Fundação Oswaldo Cruz] (ICICT/Fiocruz), denominado "Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’”, com as presenças de Renata Gracie (Tecnologista em Geoprocessamento e Coordenadora do Laboratório de Informações em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (LIS/ICICT/Fiocruz) e Kayo Moura (analista de dados e coordenador de pesquisas no LabJaca).<br />
<br />
Já o [[Dicionário de Favelas Marielle Franco e a Descolonização do Conhecimento|Dicionário de Favelas Marielle Franco]] organizou o [[Ciclo de debates sobre produção de conhecimentos e memórias em favelas e periferias|Ciclo de debates Produção de Conhecimentos e Memórias em Favelas e Periferias]], em parceria com o [https://www.instagram.com/bonde.uerj/ BONDE (IESP-UERJ)], o [[Cidades - Núcleo de Pesquisa Urbana|CIDADES]]-Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS-UERJ), o [http://grupocasa.iesp.uerj.br/ Grupo Casa (IESP-UERJ)], a [[Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial - IDMJR|Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR)]], o [[Instituto Raízes em Movimento]] e o [https://radarsaudefavela.com.br/ Radar Saúde Favela] (Fiocruz). <br />
<br />
O [[Museu das favelas|Museu das Favelas]], baseado em São Paulo, realizou o I Seminário de Pesquisa Favela é o Centro, organizado pelo CRIA – Centro de Referência, Pesquisa e Biblioteca. Teve como objetivo “reunir pesquisadores e institutos de pesquisa para debaterem os mais recentes estudos e publicações que tratem das favelas e periferias brasileiras”.<br />
<br />
Antes de apresentar exemplos de estudos realizados com uso das metodologias da geração cidadã de dados, acreditamos ser importante situar brevemente o que são dados, afinal. Lembrando que não é nossa intenção aprofundar essa questão extensa por aqui, seguem alguns entendimentos sobre o assunto. Para Fábio Silva, dados são “um conjunto de informações sistematizadas e estruturadas que respondem a um determinado interesse ou objetivo. Mesmo de maneira inconsciente, estamos gerando dados o tempo todo pelos nossos celulares” . Já Renata Gracie pondera: “Penso que dados são casos, óbitos, população, domicílios com solução de esgotamento por fossa... Quando transformamos estes dados levantados, de diferentes maneiras, transformamos em indicadores, que são informações passíveis de ser interpretadas, pois não estamos deixando de ponderar população ou número de domicílios; estamos utilizando, por exemplo, taxa de incidência de alguma doença, taxa de mortalidade de uma dada doença, proporção de domicílios com solução de esgoto por fossa. <br />
<br />
Seguem exemplos de alguns, dentre diversos estudos e iniciativas realizados com base na GCD no Brasil. <br />
<br />
===Painel Unificador de Covid-19 nas Favelas (PUF)===<br />
O [[Painel Unificador Covid-19 nas favelas|Painel Unificador Covid-19 nas Favelas]] é uma plataforma - [https://experience.arcgis.com/experience/8b055bf091b742bca021221e8ca73cd7/ www.favela.info] - que reúne dados sobre o alcance da Covid-19 em favelas do Rio de Janeiro e Região Metropolitana. Foi desenvolvido, em 2020, diante da indisponibilidade de dados públicos adequados sobre esses territórios da cidade, a partir da reunião de coletivos e organizações sem fins lucrativos, com o apoio tecnológico da prefeitura do Rio de Janeiro, de técnicos da [https://www.img.com.br/pt-br/arcgis/sobre-arcgis/visao-geral?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=clinks-esri&utm_content=search&keyword=esri&ad=319509534672%22)&gad_source=1&gclid=CjwKCAiA44OtBhAOEiwAj4gpOcOGddH0Avm6HETsXi-k-yE1VXCEosvXcVaCSjAaqcvCd6SL5trShBoCqiwQAvD_BwE Imagem], empresa distribuidora de software de ambiente de Sistemas de Informações Geográficas do ArcMap da Esri no Brasil, da [[FIOCRUZ e seu apoio às Favelas|Fundação Oswaldo Cruz]], através do [https://www.icict.fiocruz.br/ Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT)], por meio de seu [https://www.icict.fiocruz.br/content/laboratorio-de-informacao-em-saude-lis-0 Laboratório de Informação em Saúde (LIS)]. Nesse caso, ao todo, 24 coletivos de favelas do Rio de Janeiro e parceiros trabalharam em conjunto para desenvolver o PUF, contando com a organização da [[Comunidades Catalisadoras (ComCat)]], responsável pela criação da plataforma. <br />
<br />
De acordo com Informações publicadas no painel, “Se trata de uma pesquisa cidadã, cujas fontes são uma rede confiável de mobilizadores, organizações e comunicadores de favela, além de dados públicos. Mais recentemente, optamos por uma metodologia de Zona de Influência de Códigos de Endereços Postais (CEPs), identificando os que melhor representam áreas de favela, começando pelas mais populosas ". Seu objetivo é contribuir com o “processo de prevenção e mitigação da Covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro, para que moradores possam ter maiores dados sobre a presença e o alcance da doença em suas comunidades, para se organizarem e terem mais uma ferramenta para solicitar apoios aos órgãos competentes”. Sobre a metodologia do PUF, mais informações [https://comcat.org/wp-content/uploads/2020/12/2020-12-10-Nota-Te%CC%81cnica-No.-1-do-Painel-Unificador-Covid-19-nas-Favelas.pdf AQUI]. <br />
<br />
"A proposta é que, posteriormente, este banco de dados com a identificação dos CEPs de mais de 80% das favelas do município do Rio de Janeiro, construído durante o período mais grave da pandemia da Covid-19, possa ser utilizado em situações de futuras emergências, de modo que os gestores possam tomar medidas mais adequadas e a sociedade possa cobrar ações mais oportunas. O interessante é que este método empregado possa ser replicado em outros municípios brasileiros", explica Renata Gracie, que integrou a equipe de elaboração do PUF e do desenvolvimento da metodologia do mapeamento por áreas de influência dos CEPs.<br />
<br />
Quando a situação sanitária foi se aliviando, o grupo que se encontrava virtualmente toda semana diminuiu a frequência de encontros e todos perceberam a potência que era essa reunião de coletivos distribuídos pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro. E com a atenção no aumento da frequência e intensidade das ocorrências dos eventos extremos, sem falar na diminuição do intervalo entre um evento e outro incrementadas devido às mudanças climáticas, entendeu-se que era importante a manutenção deste grupo para o desenvolvimento de uma formação das lideranças juntamente com os jovens dos territórios favelados que participaram do PUF. Entende-se também a importância da discussão deste tema por estas populações, já que em geral os mais afetados nos eventos extremos são as populações periféricas de uma maneira geral<ref>GRACIE, Renata; XAVIER, Diego Ricardo; MEDRONHO, Roberto. Inundações e leptospirose nos municípios brasileiros no período de 2003 a 2013: utilização de técnicas de mineração de dados. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, p. e00100119, 2021.</ref><ref>Gurgel HC, Carvalho MS, Artaxo P, et al. Mudanças climáticas e ambientais e as doenças infecciosas: cenários e incertezas para o Brasil.</ref>. <br />
<br />
===Curso de Pesquisa em Justiça Hídrica e Energética===<br />
[[Arquivo:Curso de pesquisa em justiça hídrica e energética..jpg|miniaturadaimagem|400x400px|Curso “Pesquisando e Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas”, iniciativa da Rede Favela Sustentável e do Painel Unificador das Favelas com colaboração de oito instituições, realizada em 2022. Foto: Rede Favela Sustentável ]]<br />
As experiências e redes formadas, entre coletivos e parceiros, durante o período da pandemia fortaleceram novas ações de compartilhamento de saberes inclusive sobre a prática de pesquisa e sistematização de conhecimentos aplicados a contextos de vulnerabilidade. Especialmente os acúmulos de vivências com a construção do Painel Unificador das Favelas estimularam a continuidade das trocas sobre metodologias de coleta de dados e a consciência da possibilidade da realização coletiva de pesquisas. A partir daí, diversos debates resultaram na escolha dos temas da água e da energia elétrica como foco central de interesse. Essa foi a origem da iniciativa do Curso de Pesquisa em Justiça Hídrica e Energética, voltado para o compartilhamento de saberes relativos à pesquisa de forma participativa. <br />
<br />
“Os inúmeros problemas de acesso, qualidade e eficiência da água e da luz nestes locais, apesar de amplamente noticiados e conhecidos por seus impactos negativos na prevenção da Covid-19, jamais foram tratados como prioridade pelo poder público. Foi no âmbito das discussões desses temas e suas consequências na vida dos moradores, que os integrantes do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas tiveram a ideia de realizar um curso de pesquisa voltado às questões de água e luz nas favelas, que ano a ano vem tornando seus territórios cada vez mais desamparados”. Fonte: Painel Unificador das Favelas | ComCat (www.favela.info).<br />
<br />
Ao longo de seis meses de curso, foram construídas as habilidades para a realização desses estudos, assim como foi feito um extenso levantamento de dados sobre os acessos à água e luz por 45 jovens e lideranças de 15 comunidades. <br />
====Assista ao documentário do curso====<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=Biw92VpN3Ug}}<br />
=== Estudo Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação ===<br />
<br />
====Acesse os resultados da pesquisa====<br />
[[Arquivo:Rede Favela Sustentável, no curso sobre justiça hídrica e energética..jpg|miniaturadaimagem|400x400px|Curso “Pesquisando e Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas”, uma iniciativa da Rede Favela Sustentável e do Painel Unificador das Favelas com colaboração de oito instituições. Foto: Rede Favela Sustentável, 2022 ]]<br />
[[Arquivo:Pesquisa Justiça Hídrica e Energética nas Favelas.jpg|miniaturadaimagem|Pesquisador em campo, no estudo “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação”. Foto: Rede Favela Sustentável, 2022.|alt=]]Os resultados do estudo podem ser conferidos no relatório [[Justiça hídrica e energética nas favelas (relatório)|Justiça hídrica e energética nas favelas.]]<br />
<br />
A iniciativa foi da Rede Favela Sustentável e do Painel Unificador das Favelas, com colaboração de oito instituições, que ofereceram o curso sobre o mesmo tema. Foram realizadas entrevistas com 4.164 pessoas, entre maio e junho de 2022, produzindo resultados sobre acesso, qualidade e eficiência relativas à água e luz em áreas de favelas de cinco municípios do Grande Rio. Maiores detalhes [https://rioonwatch.org.br/?p=67238 AQUI.]<br />
===Cocôzap ===<br />
Iniciativa desenvolvida pelo Data_labe, desde 2018, com objetivo de contribuir para melhorar as condições de esgotamento sanitário na região de favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Trata-se de um aplicativo que permite aos moradores enviarem indicadores de problemas relativos ao saneamento básico e ao lixo nos lugares onde vivem.<br />
<br />
Projeto pioneiro no Rio de Janeiro, de levantamento coletivo sobre saneamento básico, atua em parceria com a Casa Fluminense e a Redes de Desenvolvimento da Maré, elaborando diversas ações de mapeamento, incidência política e promoção de participação cidadã voltadas para garantir o direito à infraestrutura de esgotamento sanitário nas favelas.<br />
<br />
===Fogo Cruzado ===<br />
Aplicativo que recebe e divulga informações sobre tiroteios e disparos de arma de fogo nas regiões metropolitanas do estado do Rio de Janeiro e da cidade do Recife.<br />
<br />
Amplamente acessados, os dados disponíveis na [https://fogocruzado.org.br/API plataforma online] desenvolvidos pelo Instituto Fogo Cruzado se tornaram referência dentro e fora do Brasil, para as mídias corporativa, independente e comunitária, pesquisadores, órgãos da gestão pública, entre outros.<br />
<br />
Com metodologia própria, monitora tiroteios nos centros urbanos e seus impactos. Produz mais de 20 indicadores sobre violência armada e pretende expandir o alcance para outras cidades brasileiras. <br />
<br />
“Estas informações estão disponíveis no primeiro banco de dados abertos sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente na nossa API”. Fonte: Instituto Fogo Cruzado<br />
<br />
===Mapa da Desigualdade===<br />
Elaborado pela [[Casa Fluminense]], o [https://casafluminense.org.br/mapa-da-desigualdade/ Mapa da Desigualdade] reúne um conjunto de indicadores socioeconômicos sobre os municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que resultam da análise de três fontes: bases governamentais, empresariais e a Geração Cidadã de Dados (GCD), organizados a partir dos eixos das justiças econômica, racial, de gênero e climática. <br />
<br />
Em sua quarta edição, o Mapa da Desigualdade 2023 trouxe a inovação do uso de uma ferramenta voltada para permitir consulta e download dos dados apresentados na publicação. Entre os seus diversos resultados, mostra que cerca de 50% da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro vive com menos de um salário mínimo.<br />
<br />
===InfoLambe===<br />
O projeto InfoLambe, que será lançado em breve, desenvolveu uma pesquisa sobre o impacto das enchentes no bairro Chacrinha. em Nova Iguaçu. A ação foi realizada pelo coletivo [[InfoCria]] em parceria com o grupo BXDLambe.<br />
<br />
“Estamos levantando, por exemplo, um dado inédito sobre a quantidade de pessoas que sentem medo da chuva nesse território e quantas pessoas compreendem sobre a responsabilidade do governo com relação aos danos gerados pelas enchentes”, adianta R. Ramires, co-fundador do InfoCria. <br />
<br />
“Na InfoCria levantamos indicadores de autonomia digital, para entender como nossas turmas se encontram em relação a suas habilidades no uso de tecnologias digitais. Procuramos entender como elas lidam com o acesso à internet, se sabem ou não usar determinadas plataformas e aplicativos e, quando sabem, o quanto sabem, se consideram suas habilidades de nível iniciante, intermediário e assim por diante. Esses dados, reunidos, nos permitem visualizar para qual ferramentas podemos dar foco em nossas formações em Letramento Digital e entender também um panorama geral sobre as habilidades digitais da nossa comunidade e nosso público foco no projeto”. <br />
<br />
Sobre as metodologias usadas pelo InfoCria, ele explica: “Usamos metodologias de pesquisa quantitativa e qualitativa, coletamos dados através de formulários simples, dando preferência ao uso de softwares livres para essa coleta, sempre que possível, e quando o público foco também pode acessar essas ferramentas. Isso varia conforme o projeto, o tempo que temos e a profundidade/quantidade de dados a serem coletados. Armazenamos tudo em planilhas e geramos as visualizações a partir delas. Temos sempre a prerrogativa de popularizar o que geramos de dados, através de peças artísticas, dentro das oficinas que aplicamos e conforme as ideias que surgem durante esse processo, voltadas a essa disseminação dos dados.<br />
<br />
===Pesquisa Periferias e Filantropia - As barreiras de acesso aos recursos no Brasil===<br />
Pesquisa sobre o cenário da filantropia e o investimento social privado, realizada pela [https://www.iniciativapipa.org/ Iniciativa PIPA], em parceria com o Nubank, com objetivo de “analisar a descentralização dos recursos privados para viabilizar as ações e os projetos daqueles que estão na ponta”, de acordo com o site da [https://www.iniciativapipa.org/ Iniciativa PIPA.] <br />
<br />
Realizada em 2022, a pesquisa se propôs a analisar e entender quais as principais barreiras e dificuldades para acessar o Recurso Social Privado. Buscou-se compreender quais as principais dificuldades e barreiras que as iniciativas localizadas em favelas encontram para captar recursos. Se, no período mais intenso da pandemia da Covid-19 as doações filantrópicas aumentaram, em seguida, coletivos, associações, Ongs, entre outros, relataram realidades locais de diminuição desses recursos e permanência ou agravamento de problemas socioeconômicos vivenciados. A pesquisa mapeou cerca de 1000 iniciativas que atuam "na ponta", em áreas de periferia, em todas as regiões geográficas do país e buscou saber seu perfil, como atuam e sobre a sua sustentabilidade. Sobre os recursos movimentados, buscou compreender questões como "Quais recursos estão chegando ou não? Por que chega e/ou por que não chega para quem mais precisa e/ou ocupa os espaços mais periféricos, em diferentes partes do território brasileiro, seja urbano ou rural?". Também feito por pesquisadores de favelas, abrangeu as 05 regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste e de 10 Estados diferentes: São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Pará, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Goiás, Pernambuco, Bahia e Ceará. <br />
<br />
No cenário futuro, o estudo pretende auxiliar o Investimento Social Privado e a Filantropia a criar soluções que ampliem o impacto da alocação de recursos no país. <br />
<br />
Acesse o relatório da pesquisa [https://www.periferiasefilantropia.org/_files/ugd/45a11b_2a0233dcca3045d1a6c546f72f49379f.pdf?utm_source=google,+&utm_medium=site&utm_campaign=cliques+relat%C3%B3rio&utm_term=pesquisa AQUI]. <br />
<br />
===Observatório do Marajó===<br />
<br />
====Cadernos do Marajó, Edição Especial - 40 dias de Marajó com Coronavírus====<br />
Levantamento produzido pelo Observatório do Marajó, contendo dados sobre o contexto social da região e seus municípios - características da população, suas condições de moradia, acesso à água e saneamento, oferta de atendimento de saúde - assim como o histórico de casos de coronavírus e as ferramentas de transparência e comunicação adotadas pelas Prefeituras do Marajó. Acesse o estudo AQUI.<br />
<br />
====Projeto Filhas da Mãe do Fogo====<br />
O projeto Filhas da Mãe do Fogo tem objetivo de criar soluções sustentáveis de combate e manejo do fogo, diante do aumento de queimadas em municípios da Ilha do Marajó.<br />
<br />
“Os municípios do Marajó como Bagre, Curralinho e Soure, mais que dobraram os focos de queimadas. Melgaço, Salvaterra e Ponta de Pedras tiveram um aumento de 80%, de acordo com a matéria “As filhas da Mãe do Fogo são netas da terra!” do Observatório do Marajó, publicada no Medium.<br />
<br />
Para tanto, trabalha com a reconexão de mulheres marajoaras às técnicas e práticas sustentáveis de monitoramento e controle do fogo em seus territórios. Isso se dá por meio de elementos como a recuperação de lendas locais, como forma de repensar a relação das comunidades com o fogo, e do mapeamento das comunidades afetadas pelo fogo.<br />
<br />
=== [[Mapa Cultural da Rocinha]] ===<br />
Em janeiro de 2023, o Jornal [[Fala Roça]], fundado e editado por jovens jornalistas e comunicadores (as) crias da favela da Rocinha, lançou a nova versão do Mapa Cultural da Rocinha. Resultado de extensa pesquisa feita na favela, o Mapa não só identificou cerca de 150 iniciativas culturais, de acordo com pontos de vista de pessoas moradoras, como é também um importante instrumento político para o reconhecimento da Rocinha – e dos seus habitantes – como pertencentes à cidade. <br />
<br />
Além do histórico de políticas públicas insuficientes nesses locais, os episódios de exclusão de favelas de mapas oficiais da cidade do Rio de Janeiro, que vêm acontecendo com certa frequência ao menos desde 2013, apontam para um apagamento também cartográfico das favelas e periferias cariocas. Outro ponto relevante é a possibilidade de reforçar a reivindicação de melhorias nos equipamentos culturais públicos locais.<br />
<br />
Acesso o mapa e seus resultados [https://www.falaroca.com/mapa/ AQUI.]<br />
<br />
==A GCD pelo mundo==<br />
A Geração Cidadã de Dados (GCD) representa um fenômeno global relacionado à crescente discussão e participação de cidadãos na coleta e interpretação de dados para influenciar questões globais. Essa abordagem transcende fronteiras e, para além dos estudos desenvolvidos no Brasil, há um incentivo direto voltado para indivíduos, em diferentes partes do mundo, envolverem-se ativamente na produção de informações relevantes para desafios sociais, de saúde, ambientais e políticos em escala global. A geração cidadã de dados no mundo reflete a noção de que a colaboração e a participação da sociedade civil são fundamentais para a resolução de problemas em nível internacional, nacional e local. <br />
<br />
Com base nisso, diversos autores apresentam em suas produções alguns dos conceitos, termos e aplicações da GCD em suas realidades. Em nível nacional e local, a pesquisadora Thaís Gonçalves Cruz (IESP-UFRJ) desenvolveu uma dissertação de mestrado intitulada: “Quando os crias (se) contam: a produção de dados alternativos nas favelas cariocas” (2022)<ref>CRUZ, Thaís Gonçalves et al. Quando os crias (se) contam: a produção de dados alternativos nas favelas cariocas. 2023.</ref>, abordando como o caso da aplicação da GCD tendo como foco um movimento favelado, o LabJaca - laboratório de produção de dados situado na região de favelas do Jacarezinho, na Zona Norte do município do Rio de Janeiro. A pesquisa teve objetivo de “refletir a respeito das dinâmicas e os aspectos existentes quando os crias (se) contam”. A autora explica que “a frase em destaque e que dá título ao seu trabalho não foi uma escolha aleatória ou uma simples síntese, na verdade, busca trazer a multiplicidade da temática com duas dimensões principais. Trata-se de olhar para aqueles que contam nas favelas, abarcando as auto contagens e as demais, mas também refletir que eles contam uns com os outros para produzir os dados nestes territórios”. Acesse a dissertação [https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/20367/2/Dissertação%20-%20Thaís%20Gonçalves%20Cruz%20-%202022%20-%20Completa.pdf AQUI]. <br />
<br />
O termo Geração Cidadã de Dados é derivado do inglês “citizen-generated data” e Frederico Piovesan (pesquisador da Politecnico Di Torino), em sua obra ''Statistical perspectives on citizen generated data''<ref>PIOVESAN, Federico. STATISTICAL PERSPECTIVES ON CITIZEN GENERATED DATA. '''DataShift''', 2015.</ref> (Perspectivas estatísticas sobre dados gerados por cidadãos), explica que “dados gerados por cidadãos (GCD) são dados que pessoas ou suas organizações produzem para monitorar diretamente, exigir ou impulsionar mudanças em questões que as afetam. São ativamente fornecidos pelos cidadãos, oferecendo representações diretas de suas perspectivas e uma alternativa aos conjuntos de dados coletados por governos ou instituições internacionais. Um número crescente de iniciativas de GCD em todo o mundo utiliza diversos métodos e tecnologias para coleta de dados para pesquisa, conscientização e defesa. O autor ressalta alguns exemplos de como os dados são coletados, cada qual com as suas particularidades: “Variam desde questionários tradicionais em papel, SMS e transmissões de rádio, até a coleta de dados georreferenciados (incluindo texto e mídia), por meio de smartphones” (PIOVESAN, 2015). Acesse o documento na íntegra [https://thedatashift.civicus.org/wp-content/uploads/2015/07/statistical-perspectives-on-cgd_web_single-page.pdf AQUI]. <br />
<br />
Na coletânea recente ''The Science of Citizen Science'' (A Ciência da Ciência Cidadã ), diversos autores escreveram sobre a GCD, reunindo suas contribuições em três partes (VOHLAND, Katrin et al.)<ref>VOHLAND, Katrin et al. '''The science of citizen science'''. Springer Nature, 2021.</ref>. A primeira, intitulada “Ciência Cidadã como Ciência”, explora a integração da ciência cidadã à chamada ciência moderna. Ganham destaque a crescente visibilidade dos cientistas cidadãos e o aumento de publicações sobre o tema. A discussão inclui a filosofia da ciência cidadã, ressaltando o conhecimento como um bem comum. São abordados aspectos das ciências naturais, humanidades e ciências sociais, enfocando desafios específicos. A tecnologia é reconhecida como crucial para o avanço da ciência cidadã, apresentando técnicas relevantes. Nesse sentido, questões como qualidade de dados, modelos conceituais e machine learning são discutidas. A colaboração científica na ciência cidadã é explorada, lançando mão do conceito de co-criação. Por fim, esse bloco do livro examina a interseção entre ciência cidadã, saúde e justiça ambiental, considerando desafios e a reconciliação de objetivos distintos. <br />
<br />
A parte dois, “Ciência Cidadã na Sociedade”, aborda o fato de a ciência cidadã contribuir para o conhecimento científico, mas também enfrentar desafios sociais. Destaca a flexibilidade necessária em temas como participação, inclusividade, aprendizado, inovação social, envolvimento de organizações da sociedade civil, relações com políticas, impacto ambiental e ética. Portanto, a ênfase recai sobre a importância de abordagens adaptáveis para uma integração eficaz da ciência cidadã. <br />
<br />
Já na terceira e última parte do livro, “Ciência Cidadã na Prática”, explora-se a implementação prática de projetos de ciência cidadã, destacando ferramentas e instrumentos essenciais para um bom desenvolvimento de metodologias e aplicações. A diversidade enriquecedora da ciência cidadã se revela nas atividades práticas, exigindo inclusividade em práticas, conteúdo e procedimentos metodológicos. Desafios específicos incluem a comunicação eficaz, essencial para o engajamento público, e a avaliação de projetos de pesquisa que adotam uma abordagem participativa. O interesse crescente de instituições reflete a busca por impacto positivo, embora muitos projetos enfrentem limitações devido à falta de aceitação pública, interesse das partes interessadas ou qualidade de dados. Os capítulos dessa última parte abordam diretrizes, plataformas, aplicativos móveis e web, comunicação e relações públicas, bem como estratégias de avaliação participativa. Essa seção destaca a importância de abordagens adaptáveis e inclusivas para efetivamente conectar ciência cidadã à sociedade. Acesse o livro [https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-030-58278-4 AQUI]. <br />
<br />
A disseminação global da Geração Cidadã de Dados (GCD) representa, não apenas uma revolução na coleta de informações, mas um movimento poderoso que transcende fronteiras geográficas e enredos apenas acadêmicos, o protagonismo de movimentos sociais e organizações locais. Como evidenciado pelos estudos apresentados, como a pesquisa de Cruz (2022) nas favelas cariocas, e obras como ''The Science of Citizen Science e Statistical perspectives on citizen generated data'', a GCD está se consolidando como uma abordagem essencial para envolver toda uma população global na produção e interpretação de dados relevantes para os seus contextos. Este fenômeno desempenha um papel fundamental, pois não apenas enriquece o conhecimento científico, mas também desempenha extrema importância na defesa de direitos, movimentos sociais e na construção de narrativas por quem vivencia os contextos nos territórios. <br />
<br />
A GCD emerge como uma ferramenta valiosa para capacitar as comunidades a monitorar, exigir mudanças e impulsionar iniciativas em questões sociais, de saúde, ambientais e políticas. À medida em que as instituições e pesquisadores exploram a implementação prática da ciência cidadã, é crucial reconhecer a importância de abordagens adaptáveis e inclusivas para conectar efetivamente a Geração Cidadã de Dados à sociedade, promovendo assim um impacto positivo, duradouro e sustentável para os movimentos produtores de dados no mundo. <br />
<br />
== Materiais visuais e audiovisuais ==<br />
Abaixo seguem uma série de materiais audiovisuais sobre a temática de produção de informação, conhecimento e Geração Cidadã de Dados (GCD):<br />
<br />
* I Seminário de Geração Cidadã de Dados - organizado pelo DATA_LABE e Casa Fluminense:<br />
** Primeiro dia: conhecendo e navegando pela Geração Cidadã de Dados<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=XH79-Jz0wNk&t=19951s}} <br />
** Segundo dia: comunicação e tecnologia como ferramentas para GCD <br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=YKuAiRSScMs&t=10522s}} <br />
* Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’ - organizado pelo Centro de Estudos do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=OZKyMoJB-aw&t=2364s}} <br />
* Painel Unificador Covid-19 nas favelas - Dados salvam vidas - organizado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde com a participação dos grupos: Comunidades Catalisadoras (ComCat), Coletivo Conexões Periféricas - RP, DataLabe, Fala Roça, Favela Vertical, Fiocruz, Fórum Grita Baixada, Frente de Mobilização da Maré, Mulheres de Frente, Observatório de Favelas, PerifaConnection, Redes da Maré - Somos Todos Maré, TETO e Voz das Comunidades.<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=WfJzh1-uVsQ}} <br />
* Censo de favelas - Produção autônoma de dados - organizado pelo BONDE (IESP-UERJ), CIDADES-Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS-UERJ), Dicionário de Favelas Marielle Franco (ICICT - FIOCRUZ), Grupo Casa (IESP-UERJ), Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), Instituto Raízes em Movimento e Radar Saúde Favela (FIOCRUZ).<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=DASVqKEdb3w}} <br />
* Seminário de Pesquisa - favela é o centro - organizado pelo Museu das Favelas<br />
** Levantando dados: metodologias de pesquisa de campo na quebrada<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=0zgg8N_Zbe8}} <br />
** Cartografias periféricas: até onde vai meu mapa<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=ZZLvYpNmSNM}} <br />
<br />
==Lista de movimentos, coletivos, organizações e iniciativas==<br />
Abaixo segue uma lista dinâmica (sempre em construção) de movimentos, coletivos, organizações e iniciativas de estudos atuantes com Geração Cidadã de Dados (GCD) e produção de informação e conhecimento, de forma pública e aberta, no contexto brasileiro. Colabore!<br />
Fonte inicial: Polinho Motta (Coordenador de dados no Data_Labe)<br />
[https://www.agenciatatu.com.br/ Agência Tatu]<br />
<br />
[[Agenda Realengo]] <br />
<br />
[https://antrabrasil.org/ Antra - Associação Nacional de Travestis e Transexuais]<br />
<br />
[https://basedosdados.org/ Base de Dados]<br />
<br />
[https://www.instagram.com/bxdlambe/ BXDLambe]<br />
<br />
[[Casa Fluminense]]<br />
<br />
[https://www.instagram.com/coletivomartha/ Coletivo Martha Trindade]<br />
<br />
[https://grupoconexaog.com/ Conexão G - Grupo LGBT nas favelas]<br />
<br />
[https://dataprivacy.com.br/ Data Privacy Brasil]<br />
<br />
[[União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região - UNAS|De Olho na Quebrada SP - UNAS Heliópolis e Região]]<br />
<br />
[https://fiquemsabendo.com.br/ Fiquem Sabendo]<br />
<br />
[[Fogo Cruzado]]<br />
<br />
[https://www.instagram.com/quilombo_do_feital/ FOMA / Quilombo do Feital]<br />
<br />
[https://gemaa.iesp.uerj.br/ GEMAA - Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa - UERJ]<br />
<br />
[http://grupocasa.iesp.uerj.br/ Grupo Casa - IESP]<br />
<br />
[https://icp.org.br/ ICP - Instituto de Ciências Penais]<br />
<br />
[[Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial - IDMJR|Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial]] <br />
<br />
[https://www.inesc.org.br/?gclid=CjwKCAjwyY6pBhA9EiwAMzmfwVSDR6JoW5gogw9aVT-argRF95PAlD-lyGFFJFovFuqHNZ3NmCZuIRoC4oIQAvD_BwE INESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos]<br />
<br />
[https://infocria.github.io/ InfoCria]<br />
<br />
[https://intervozes.org.br/ Intervozes - Coletivo Brasil de comunicação social]<br />
<br />
[https://www.alziras.org.br/ Instituto Alziras]<br />
<br />
[[Instituto Raízes em Movimento]]<br />
<br />
[https://jararacalab.org/ JARARACA - Laboratório de Tecnopolíticas urbanas - PUCPR]<br />
<br />
[[Labjaca|LabJaca]]<br />
<br />
[http://www.prourb.fau.ufrj.br/nucleos-e-laboratorios/leau-laboratorio-de-estudos-das-aguas-urbanas/ LEAU - Laboratório de estudos das águas urbanas - UFRJ]<br />
<br />
[https://lgbtmaismovimento.com.br/ LGBT+Movimento]<br />
<br />
[https://mandi.org.br/ Mandí]<br />
<br />
[https://mulheresnegrasdecidem.org/ Mulheres Negras Decidem]<br />
<br />
[https://nossabh.org.br/ Nossa BH]<br />
<br />
[https://www.opanoptico.com.br/ O Panóptico]<br />
<br />
[https://observatoriobranquitude.com.br/ Observatório da Branquitude] <br />
<br />
[[Observatório de Favelas|Observatório de favelas]]<br />
<br />
[https://www.observatoriodomarajo.org/ Observatório do Marajó]<br />
<br />
[https://www.instagram.com/observatoriodostrens Observatório dos Trens] <br />
<br />
[https://www.caurj.gov.br/tag/observatorio-cooperativo-da-agenda-urbana-fluminense/ OCA - IAB - Observatório Colaborativo da agenda urbana Fluminense] <br />
<br />
[https://ok.org.br/eixos-de-atuacao/escola-de-dados/ Open Knowledge Brasil - Escola de Dados]<br />
<br />
[https://www.oxfam.org.br/ Oxfam Brasil]<br />
<br />
[https://opipa.org/ O PiPA]<br />
<br />
[https://www.iniciativapipa.org/ Iniciativa PIPA]<br />
<br />
[https://drive.google.com/file/d/1y6Y1UqGybf0di8nB4gk_LYQu0OB-swja/view Plano Santa Cruz 2030 - ISCS]<br />
<br />
[https://www.pretalab.com/ PretaLab_ - olabi]<br />
<br />
[https://projetoseta.org.br/projeto-seta/ SETA - Sistema de Educação por uma transformação Antirracista]<br />
<br />
[https://cesecseguranca.com.br/projeto/rede-de-observatorios-da-seguranca-publica/ Rede de Observatório de Segurança / CESEC - Centro de Estudos de Segurança e Cidadania]<br />
<br />
[[Comunidades Catalisadoras (ComCat)|Rede Favela Sustentável - COMCAT - Comunidades Catalisadoras]]<br />
<br />
[https://www.nossasaopaulo.org.br/ Rede Nossa São Paulo]<br />
<br />
[https://www.redesdamare.org.br/ Redes da Maré]<br />
<br />
[http://www.iri.puc-rio.br/ IRI - Instituto de Relações Internacionais -PUCRJ]<br />
<br />
[https://imja.org.br/uniperiferias Uniperiferias - Instituto Maria e João Aleixo]<br />
<br />
[[Laboratório Visão Coop|Visão COOP]]<br />
<br />
==Ver também==<br />
[[Ciclo de debates sobre produção de conhecimentos e memórias em favelas e periferias]]<br />
<br />
[[I Seminário de geração cidadã de dados (evento)]]<br />
<br />
[[A favela quer pesquisar NEPS-CEASM oferta oficinas para acesso ao mestrado (artigo)]]<br />
<br />
[[Categoria:Temática - Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Direitos]]<br />
[[Categoria:Dados]]<br />
[[Categoria:Ativismos]]<br />
[[Categoria:Pesquisas]]<br />
[[Categoria:Participação cidadã]]</div>Kita Pedrozahttps://wikifavelas.com.br/index.php/InfoCriaInfoCria2024-01-11T22:37:45Z<p>Kita Pedroza: interlinks, ver também</p>
<hr />
<div>A [[InfoCria]] é um coletivo de Educação Tecnológica Popular, que surge da necessidade de pessoas de comunidades periféricas participarem das discussões em torno das Tecnologias da Informação e Comunicação. Buscamos envolver, a partir de conceitos e métodos da Educação Popular, a construção de uma Educação Tecnológica que viabilize uma relação responsável com os poderes transformadores da computação e todo universo dos softwares, livres ou não. <br />
Autoria: Rafael Ramires Baptista (Tecnorgânico)<br />
<br />
== História ==<br />
Em 2019 - no bairro de Jardim Imbariê, Duque de Caxias, município da região da Baixada Fluminense, situado no estado do Rio de Janeiro -, um grupo de jovens em vulnerabilidade social se reúne, para a formação de um grupo chamado Akangatu, de apoio e incentivo ao estudo. O grupo se reunia semanalmente para compartilhar o que haviam estudado e estimular que as pessoas participantes continuassem estudando, fosse música, [[Fotografia Popular|fotografia]], programação no universo da computação, literatura, sociologia, eram diversos os temas de interesse dos integrantes. Para além dos encontros para estudo, o grupo se organizava em atividades sugeridas pelas próprias integrantes, envolvendo crochê, cineclube, caminhadas pelo bairro e outras dinâmicas. Com o tempo, o grupo se expandiu, convidando pessoas de outros territórios e mobilizando outras atividades, pensando no bem-estar físico, mental e até financeiro de quem participava.<br />
<br />
Como forma de arrecadar recursos para custear o deslocamento de alguns integrantes, e a alimentação no espaço físico onde realizavam os encontros, foram pensados alguns pequenos empreendimentos, elaborados e executados pelas pessoas do grupo Akangatu. A InfoCria foi um desses projetos, inicialmente costurado para ser um modo de levantar fundos para manter o projeto principal Akangatu. InfoCria nasceu para realizar serviços de informática por encomenda. Os integrantes mais próximos das [[Jovens pobres e o uso das NTICs na criação de novas esferas públicas democráticas|Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)]] puxavam as tarefas iniciais, elaborando o que seriam os serviços e como eles aconteceriam, e também ensinariam os demais integrantes da Akangatu, interessados em aprender sobre os serviços oferecidos. Entre os serviços, muitos envolviam a manutenção do uso comum de computadores e notebooks, sendo a parte técnica e de configuração o carro chefe do grupo. No entanto, desde sua gênese, o grupo dedicou mais tempo em ensinar os integrantes do coletivo a aprender mais sobre como executar os serviços, do que o oferecimento ao público geral. <br />
<br />
Esse movimento semeador, despertou outro interesse no grupo, o de compartilhar saberes digitais, de pensar metodologias e flexibilizar a linguagem no ensino de tecnologia. O grupo Akangatu era composto por pessoas distintas entre si, com trajetórias e objetivos plurais. Esse cenário foi fértil e essencial pra que a InfoCria olhasse para suas habilidades de ensino com lucidez e destreza em se adaptar. Não durando mais de um ano esse projeto de arrecadação, os integrantes da InfoCria já se reconheciam como uma força coletiva pelo que chamávamos na época de Autonomia Digital e Tecnológica. InfoCria passou a se dedicar a estudar sobre Exclusão Digital, ao perceber que os serviços que pretendiam ofertar, eram serviços porque boa parte da população de seu território não dominava habilidades digitais básicas, a exemplo do ato de escrever e enviar mensagens por aplicativos como WhatsApp, que parece simples, mas que muitas pessoas do bairro tinham dificuldade. Ao mesmo tempo que não sabiam utilizar dos aparelhos, as pessoas eram constantemente conduzidas ao uso de celulares e da participação em ambientes virtuais, mesmo que não sabendo ao certo como isso aconteceria. Esse uso compulsório das tecnologias, incutido socialmente, levou o grupo a perceber que não somente ensinar sobre tecnologia seria necessário, mas incidir politicamente, pensando uma metodologia educacional que não só alfabetizasse no uso das TICs, mas que também pudesse estimular a autonomia na busca por apropriação dessas ferramentas. <br />
<br />
Passaram-se os anos e enquanto os integrantes do grupo também se alfabetizavam de outros assuntos, a prática da InfoCria também se modificou, levando sua atuação para outras dimensões. O que iniciou sendo exclusivamente para o bairro Jardim Imbariê, passou a ser levado para outras [[:Categoria:Temática - Favelas e Periferias|periferias e favelas]] do Rio de Janeiro. Realizamos oficinas em comunidades na [[Complexo da Maré|Maré]], no Muquiço em Guadalupe, na [[Rocinha]], e continuamos a expandir as trocas entre as comunidades que criam seus modos de resistência.<br />
<br />
== Educação Tecnológica Popular ==<br />
Parte do trabalho de incidência se dá através de oficinas, envolvendo a metodologia mista, com aspectos da Educação Popular e da Educação Tecnológica atuando juntas. Em todas as oficinas do coletivo, o conteúdo a ser aplicado é construído enquanto a oficina se desenrola, em um diálogo constante, entre InfoCria e o território. Existem os materiais preparados antecipadamente, fruto de um trabalho de pesquisa contínuo dos integrantes, para pensar como comunicar e ensinar sobre assuntos técnicos da computação, programação, mídias sociais, segurança digital e outras temáticas dessa órbita.<br />
[[Arquivo:Oficina de Letramento Digital. Instituto Bola Pra Frente. 2021.jpg|alt=|miniaturadaimagem|2021. Instituto Bola Pra Frente. Oficina de Letramento Digital. Na foto: Tecnorgânico e Brendon Palmares.]]<br />
A Educação Tecnológica Popular é uma prática fundante do trabalho da InfoCria, e está em construção junto a outras metodologias já estabelecidas, que inspiram nossa atuação e são ferramentas presentes em todo o trabalho, algumas delas são: Cuidados Digitais da Rede Transfeminista; ''Sevirologia'' do Bonde da Gambiarra e a Educação Midiática do Instituto Palavra Aberta.<br />
<br />
Alfabetização e Letramento Digital entram como referências para a construção do entendimento da Exclusão Digital, tendo em vista que o movimento de Inclusão Digital, promovido pelo Governo Federal em ações como a Casa Brasil e os Telecentros espalhados por todo território nacional, foram realizadas a partir da constatação da demanda de alfabetizar digitalmente a população brasileira.<br />
<br />
== Redes Sociais ==<br />
[https://instagram.com/infocria Instagram]<br />
<br />
== Ver também ==<br />
[[Democracia na Era Digital - episódio 7 (podcast)]]<br />
[[Lurdinha de Caxias]]<br />
<br />
Mães da Favela On (projeto)<br />
[[Categoria:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]]<br />
[[Categoria:Coletivos]]<br />
[[Categoria:Tecnologias]]<br />
[[Categoria:Letramento digital]]<br />
[[Categoria:Baixada Fluminense]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Dados cidadãos]]</div>Ramireshttps://wikifavelas.com.br/index.php/Mem%C3%B3ria_Clim%C3%A1tica_das_FavelasMemória Climática das Favelas2023-12-31T13:51:17Z<p>Kita Pedroza: Revisões necessárias</p>
<hr />
<div>A exposição Memória Climática das Favelas foi elaborada coletivamente por museus e núcleos de memória integrantes da [[Rede Favela Sustentável]] (RFS), a partir do conhecimento produzido em cinco rodas de conversa, realizadas em cinco favelas da capital fluminense, entre janeiro e março de 2023. <br />
Autoria: Bárbara Dias<ref>''Sobre a autora e fotógrafa: Bárbara Dias, cria de Bangu, possui licenciatura em Ciências Biológicas, mestrado em Educação Ambiental e atua como professora da rede pública desde 2006. É fotojornalista e trabalha também com fotografia documental. É comunicadora popular formada pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e co-fundadora do Coletivo Fotoguerrilha.''</ref><ref>Fonte: [https://rioonwatch.org.br/?p=69015 RioOnWatch].</ref>.<br />
[[Arquivo:Participantes do Memória Climática das Favelas..jpg|alt=Participantes do Memória Climática das Favelas.|centro|miniaturadaimagem|Participantes do Memória Climática das Favelas.]]<br />
<br />
== Construção ==<br />
Os encontros de discussão e construção do Memória Climática das Favelas foram organizados pelas seguintes instituições: [[Museu da Maré]], [[Museu Sankofa Memória e História da Rocinha|Museu Sankofa]] (Rocinha), Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (Antares), [[Museu de Favela do Cantagalo-Pavão-Pavãozinho|Museu de Favela]] ([[Pavão-Pavãozinho-Cantagalo, o PPG|Pavão-Pavãozinho e Cantagalo]]), e Núcleo de Memórias do [[Vidigal (bairro)|Vidigal]]. A inauguração da exposição foi realizada no Museu das Remoções ([[Vila Autódromo: remoção e resistência|Vila Autódromo]]), também integrante do GT. Seis museus foram envolvidos, no total.<br />
<br />
O formato de roda de conversa, ou 'grupo focal' no linguajar de pesquisa, foi escolhido por integrantes do GT de Memória Climática da Rede Favela Sustentável (RFS) por seu caráter enquanto espaço que propicia a construção coletiva de conhecimento e entendimento mútuo. Quatro temas orientaram as reflexões nesses encontros: O que são as mudanças climáticas?; Como se deu a ocupação e qual é a relação do território com o clima/natureza?; Como questões climáticas e ambientais dialogam com o direito e acesso à moradia?; Quais saberes a comunidade já desenvolveu para responder aos desafios impostos pela natureza e pelo clima?.<br />
<br />
== Museu a Céu Aberto ==<br />
A favela que antes ocupava uma área muito maior às margens da Lagoa de Jacarepaguá e do antigo autódromo teve sua história marcada por muitas lutas e resistência. [[Vila Autódromo: remoção e resistência|Vila Autódromo]] é onde se localiza hoje o Museu das Remoções, um museu de território fundado em 2016, após a remoção de centenas de famílias no período que antecedeu os megaeventos da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Após as remoções, o que se manteve da Vila Autódromo foram algumas casas e a Igreja de São José Operário. Nesse espaço, foi fundado em 2016 o Museu das Remoções, cuja missão é manter viva a memória de comunidades ameaçadas de remoção.<br />
<br />
Não por acaso, o Museu das Remoções foi escolhido como local para realizar o lançamento da exposição Memória Climática das Favelas. A programação do evento contou com uma variedade de atividades que promoveram a reflexão, o diálogo e a celebração das vivências e experiências de resistência favelada. Os participantes, logo assim que chegavam, observavam cinco ''banners'' com um breve resumo das apresentações das rodas de memórias climáticas realizadas nos cinco museus comunitários organizadores do evento.<br />
<br />
Ainda na área aberta da exposição, outro espaço que chamava bastante a atenção dos visitantes era uma extensa linha do tempo, em formato circular, que apresentava acontecimentos marcantes das histórias das favelas contempladas, com base em eventos marcantes mencionadas durante as rodas de conversa nos museus. <br />
<br />
Nesse espaço, Evânio de Paula, morador do Vidigal, presidente da Associação Esportiva e Cultural Horizonte, se conectou. Ele estava observando um painel da linha do tempo, com uma foto de uma remoção no Vidigal, supostamente por problemas relativos à contenção de encostas, quando disse que tinha sete anos quando esse fato aconteceu, em 1977. Em sua fala, ele relembrou estratégias de resistência para evitar a remoção que viveu na infância.<blockquote>“Nessa época aqui, eu tinha sete anos… e para evitar a remoção, a Dona Heneida Brasil, liderança comunitária… pegou e tirou todo mundo da Rua Almirante Tamandaré e levou pra Avenida Niemeyer. As crianças ficaram em frente ao batalhão de choque [da PM] para evitar que a polícia viesse para tirar as famílias. Ficou um grupo de estudantes na entrada do Vidigal. Depois vieram as mulheres e os homens com a bandeira do Brasil, cantando o hino nacional.’’ — Evânio de Paula</blockquote><br />
[[Arquivo:Evânio de Paula, morador do Vidigal, conta que lembra das remoções de 1977 e de como os moradores se organizaram. Foto Alexandre Cerqueira.jpg|centro|miniaturadaimagem|Evânio de Paula, morador do Vidigal, conta que lembra das remoções de 1977 e de como os moradores se organizaram. Foto Alexandre Cerqueira.]]<br />
A organização dos moradores e da Pastoral das Favelas fez com que o Papa João Paulo II visitasse o Vidigal, em 1980. Isso fez com que as investidas com a intenção de remover moradores nas favelas da Zona Sul, sobretudo, do Vidigal e da Rocinha, diminuíssem.<br />
<br />
No meio do anfiteatro, legado da luta dos moradores da Vila Autódromo, rondada pela linha do tempo, havia uma instalação artística intitulada “Poço das Memórias”, desenvolvida pela artística plástica vidigalense Evânia de Paula, proporcionando um espaço para compartilhar lembranças e histórias dos territórios, onde as pessoas conseguiam ver fotos antigas com legendas que descreviam essas memórias.<br />
No início do evento, em um momento de convivência e ambientação para a abertura da exposição, reunidos na Igreja de São José Operário, os presentes ouviram Gisele Moura, coordenadora da equipe gestora da Rede Favela Sustentável, que ressaltou a importância de iniciativas de valorização de memórias faveladas, sobretudo quando se fala do clima, já que as favelas são os locais mais atingidos pelas mudanças climáticas no Rio de Janeiro. <blockquote>“Esse projeto, que culmina hoje com essa exposição, começou a ser pensado de forma coletiva em 2020, pelo Eixo Cultura e Memória Local da RFS, que teve a ideia de pensar a memória climática a partir das vivências, das memórias e das conversas entre as pessoas que estão naqueles territórios… [e assim] foi concebida a ideia de fazer rodas de conversa de memória climática nos territórios.” — Gisele Moura</blockquote><br />
<br />
== Vozes da Maré, Rocinha, Antares, PPG e Vidigal ==<br />
Ainda no lançamento, os representantes dos museus das favelas que participaram das cinco rodas de memória climática foram convidados a comentar o processo de concepção e realização das rodas, além do resultado final, apresentado através deste vídeo e desta exposição.<br />
<br />
Antônio Firmino, do Museu Sankofa, da Rocinha, em sua fala enfatizou o problema do racismo ambiental e que seria oportuno que toda essa construção pudesse se transformar em políticas públicas em prol das favelas. <blockquote>“Fica [a partir das rodas de conversa] um grande desafio, que é trazer as questões pelas quais todos nós sofremos em função do racismo ambiental… E já que estamos num período pré-eleitoral, [é importante] que nós possamos trazer todo esse trabalho coletivo a nosso favor, pois dependemos de políticas públicas para melhorar algumas questões nas favelas.” — Antônio Firmino, Museu Sankofa</blockquote>Leonardo Ribeiro, cria de Antares, Santa Cruz, enfatiza que participar das rodas de conversa foi muito interessante e fez uma costura histórica, muito presente em toda a exposição, de como a sua comunidade se relaciona com outras favelas onde aconteceram remoções.<blockquote>“Antares tem muita ligação com todas as comunidades onde foram feitas as rodas. A gente, lá em Antares, tem famílias removidas da Maré, principalmente, e também do Vidigal, da Rocinha e do Pavão-Pavãozinho… Tem muitas famílias que não conseguiram se manter na Cidade de Deus e foram para Antares, pois a vida era mais barata lá. Esse movimento de ir nas rodas e conhecer, mesmo em uma comunidade que está a 80km do Centro do Rio de Janeiro, esse vir até a nossa origem é muito difícil. Ir nas outras comunidades, entender como eles prosseguiram depois das remoções e de como Antares se desenvolveu foi sensacional.” — Leonardo Ribeiro, Antares, Santa Cruz</blockquote><br />
[[Arquivo:Participantes assistem ao vídeo documentário produzido durante as rodas de Memória Climática das Favelas. Foto Bárbara Dias.jpg|centro|miniaturadaimagem|Participantes assistem ao vídeo documentário produzido durante as rodas de Memória Climática das Favelas. Foto Bárbara Dias.]]<br />
Bruno Almeida, coordenador do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH), comenta que é proposital o silenciamento e o apagamento histórico das narrativas da ocupação desses territórios.<blockquote>“Quando geralmente se fala de passado em um bairro de periferia, a gente não inclui as favelas como parte da história do bairro… Quando a gente fala da história de Santa Cruz, não está falando apenas daquela parte da história oficial, como bairro imperial… mas estamos nesse processo, junto à Rede Favela Sustentável, de incluir dentro dessa narrativa, as histórias das comunidades, porque, a ocupação do espaço geográfico que a gente vive, faz parte também da história do bairro.” — Bruno Almeida, NOPH</blockquote>Márcia Souza, do Museu de Favela (MUF), moradora do Cantagalo, apontou que a participação nas rodas de conversa foi muito importante.<blockquote>“Sair de seus lugares para conhecer outras favelas e outras pessoas que fazem a mesma coisa que a gente faz, muda o nome, muda o lugar, mas é tudo igual… Eu descobri que todos nós somos ligados por uma mesma história, por uma mesma dificuldade, com olhares diferentes, mas que se você para pra respirar é tudo igual.” — Márcia Souza, MUF</blockquote>Bárbara Nascimento, do Núcleo de Memórias do Vidigal, diz que é muito interessante o movimento de discutir a favela feito por quem está nos territórios.<blockquote>“É muito importante a iniciativa de juntar as favelas para discutir um tema que é muito comum. E, embora cada território tenha sua história, a gente tem muita coisa em comum, pois várias favelas foram removidas ou tiveram tentativas de remoção, e a justificativa era a questão do clima, eram as chuvas e deslizamentos. As nossas histórias são semelhantes, então, nada mais justo que a gente se unir para discutir estratégias. É muito bacana saber que são favelados discutindo a favela, nós falando sobre os nossos territórios.” ''—'' Bárbara Nascimento</blockquote>Após várias falas potentes e necessárias sobre o lançamento da exposição, Maria da Penha, liderança da Vila Autódromo, integrante do Museu das Remoções, também deu sua contribuição. Ela falou sobre o direito à moradia, de sua história de resistência e de como lutou para não ser removida de seu território.<blockquote>“Eu compreendi o que era direito à moradia, esse direito tão falado, tão bonito escrito, mas que não funciona para nós pobres se nós não cobrarmos… Nós somos favelados e temos que ter essa consciência… a sociedade o tempo todo nos diz que nós não podemos morar ali, que a gente tem que ter vergonha. E é exatamente o contrário: a cada dia que passa, estou mais feliz de poder estar aqui na garagem da minha casa, no meu território… Não é fácil passar pela remoção, é doloroso, é cruel. Ninguém constrói uma casa pensando em ver ela derrubada.” — Maria da Penha</blockquote><br />
<br />
== Lançamento ==<br />
{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=fhvMaH8Qjs4}}<br />
<br />
== Ver também ==<br />
<br />
* [[Justiça climática]]<br />
* [[Greve Global pelo Clima em Jacarezinho e Manguinhos]]<br />
* [[Mudanças Climáticas e Favelas (artigo)]]<br />
<references /><br />
[[Categoria:Temática - Meio Ambiente]]<br />
[[Categoria:Temática - Cultura]]<br />
[[Categoria:Memória]]<br />
[[Categoria:Justiça climática]]<br />
[[Categoria:Clima]]<br />
[[Categoria:Rio de Janeiro]]<br />
[[Categoria:Exposição]]<br />
[[Categoria:Vila Autódromo]]</div>Gabriel