Favela da Catacumba

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Informações do verbete reproduzidas, pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de dados retirados da internet.

História[editar | editar código-fonte]

Quem passa atualmente pela Lagoa, um dos bairros de maior valorização imobiliária do Rio de Janeiro, e admira o Parque da Catacumba não imagina – ou não se lembra – que ali existia uma favela. O terreno onde existia a Catacumba foi ocupado por uma chácara durante todo século XIX. Sua antiga proprietária, a Baronesa da Lagoa Rodrigo de Freitas, transferiu a posse das terras para seus escravos.

A explicação do nome Catacumba tem origem em tempos ainda mais remotos. Segundo os antigos moradores da favela, o local foi usado pelos índios como cemitério. No entanto, nunca houve confirmação sobre possíveis esqueletos encontrados na região. Por volta de 1925, o Estado dividiu a Chácara das Catacumbas em 32 lotes. Os primeiros barracos da futura favela começaram a ser erguidos ainda nos anos 30. Mas a explosão demográfica só aconteceu mesmo na década de 40, com a chegada de uma leva de migrantes vindos, principalmente, do estado do Maranhão.

 

Favela da Catacumba - Visão aérea.png

A favela que virou parque: incêndio na Catacumba[editar | editar código-fonte]

Fonte: Acervo do Jornal O Globo.

No dia 2 de agosto de 1967, cerca de mil pessoas assistiram, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, ao incêndio que destruiu mais de cem barracos na Favela da Catacumba, provocando pânico entre os moradores e desabrigando centenas de pessoas. Bombeiros de três quartéis e até soldados do Exército foram acionados para conter o estrago que teria sido causado após uma discussão entre vizinhas. Tragédias como essa se repetem até hoje em comunidades que vivem em condições precárias, como em março de 2017, quando, num intervalo de apenas dez dias, dois incêndios destruíram moradias de Paraisópolis, em São Paulo. Cada vez que acontecem, reacende-se o debate sobre movimentos de remoção das favelas, bem como a urbanização desses locais.

Como noticiado pelo GLOBO no dia seguinte ao incêndio na Catacumba, o fogo começou a se alastrar pouco depois das 18h, quando a moradora Luísa de Amorim Oliveira, dona de uma birosca, discutia com Elsa Soares da Silva sobre quem seria responsável pelo conserto de uma parede do estabelecimento, que havia caído e arrebentado uma tubulação. O filho de Luísa, Cláudio, de 12 anos, foi conferir o encanamento com a ajuda de uma lamparina de querosene, deixada próximo a um amontoado de lixo, provocando o incêndio. O fogo só foi totalmente controlado após mais de duas horas. Inicialmente, O GLOBO noticiou que "Fogo varreu a Catacumba, deixando mil desabrigados", e a estimativa era que 200 barracos haviam sido destruídos. O balanço feito pela Secretaria de Serviços Sociais, porém, apontou 277 pessoas prejudicadas e 120 barracos destruídos. Sete pessoas ficaram feridas, sem gravidade.

Na época, o governador do Estado da Guanabara, Negrão de Lima, deu aos desabrigados três alternativas: os que tivessem melhores condições financeiras poderiam financiar um imóvel num dos conjuntos habitacionais na Cidade de Deus, na distante Zona Oeste. Como segunda alternativa, foram oferecidas casas pertencentes ao estado, localizadas em Vila Paciência, em Campo Grande, também na Zona Oeste, para alugar. Por fim, o estado disponibilizou auxílio para a construção de casas de alvenaria no mesmo local, após aprovação do Instituto de Geotécnica e com a assistência de engenheiros na obra, além de alguns utensílios domésticos. No dia 5, o jornal informou que 36 das 70 famílias que haviam perdido tudo no incêndio decidiram ficar.

— Sendo a favela situada na Zona Sul, não só devido aos seus privilégios, atrativos e facilidades, era de se esperar a opção, pois as pessoas que ali moram para sobreviver ocupam-se de funções humildes. São empregados domésticos, operários, entre outros, que encontram na Zona Sul vasto campo para desenvolver suas atividades — disse então o Secretário de Serviços Sociais, Vitor Pinheiro, ao GLOBO.

Durante pouco mais de um ano, os moradores da Catacumba viveram um período de tranquilidade. Porém, como noticiado na edição do dia 12 de dezembro de 1968, mais uma vez um incêndio deixou cerca de cem desabrigados. Desta vez, o fogo começou às 14h, nos fundos de um armazém localizado na Avenida Epitácio Pessoa. A reportagem conta a história de algumas vítimas da tragédia. O morador João Tavares dos Santos, descrito como o "rico da Catacumba", havia guardado em casa as economias de 20 anos de trabalho. No desespero, tentou cometer suicídio, correndo em direção à Lagoa Rodrigo de Freitas com a filha mais nova no colo, mas foi impedido por vizinhos.

Assim, não foi surpresa quando, em meados de 1969, a Catacumba passou a fazer parte de um "plano de desfavelização". A partir dos anos 1940, várias favelas localizadas na Zona Sul foram removidas sob o argumento de que as áreas seriam reorganizadas e valorizadas. Em 1962, o então governador da Gunababara, Carlos Lacerda, pretendia fazer a remoção de 250 mil moradores de favelas para conjuntos habitacionais. No fim dos anos 1960, Largo da Memória, no Leblon, Pasmado, em Botafogo, e outras comunidades localizadas na região da Lagoa Rodrigo de Freitas, como Ilha das Dragas e Praia do Pinto, já estavam livres de ocupações irregulares, com seus moradores transferidos para bairros distantes.

Em 25 de abril de 1969, o jornal noticiava que mais de seis mil pessoas moravam na Catacumba. Além dos incêndios, havia constantemente barracos destruídos por fortes chuvas, um só depósito para a coleta de lixo e água potável disponível apenas em bicas públicas, próximo ao asfalto. Apesar de anos antes terem escolhido permanecer na encosta junto à Lagoa Rodrigo de Freitas, os moradores pareciam divididos. Na etapa final do processo de remoção, Dorothy da Silva dizia ficar feliz por deixar o barraco onde morava, mas temia perder a fonte de renda da família: "Morar longe vai ser ruim. Eu e meu marido trabalhamos aqui".

Na mesma edição do jornal, a Sociedade dos Moradores e Amigos da Catacumba, representada pelo presidente José Valdevino, se posicionava favorável à remoção: "Nós vamos ajudar os moços; eles vieram nos ajudar. Depois, nós sabíamos que um dia sairíamos daqui. Agora, vamos esperar que a remoção seja nos mesmos moldes da Praia do Pinto".

A Praia do Pinto já estava em processo de remoção quando voltou a ser notícia durante vários dias. Na madrugada do dia 11 de maio de 1969, um incêndio destruiu mais de 800 barracos, e as investigações tentaram durante vários dias descobrir a origem da tragédia. A hipótese mais defendida pela equipe de investigação foi de que se tratou de um ato criminoso, feito por moradores que queriam acelerar a mudança para um conjunto habitacional em Cordovil. Mas apenas em agosto todas as famílias foram retiradas do local. Muitos moradores remanejados para o novo endereço acabaram trocando seus apartamentos por casas mais baratas na Cidade de Deus.

Já no início dos anos 70, as famílias da Catacumba não viviam mais no local. Foram também levadas para Cidade de Deus, Vila Aliança e Nova Holanda, que se tornaram novas favelas com o passar do tempo. Após ser reflorestada e passar por um trabalho de paisagismo, a área desocupada foi transformada no Parque da Catacumba.

Ver também[editar | editar código-fonte]