Favela de Manguinhos

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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História

A área de Manguinhos, está localizada na zona Norte do Rio de Janeiro, às margens da Baía de Guanabara, ocupada ao longo do século XX por moradias populares que se instalaram devido a ações individuais e em grupos, ou por meio de políticas públicas habitacionais com um quadro que contrapõe abandono dos governantes e luta dos moradores. A denominação aponta para uma de suas descrições como área de manguezal que, no entanto, atualmente pouco mostra desta característica em função do intenso aterramento ao longo do século por lixo proveniente da cidade ou material de grandes obras de urbanização. Trata-se de um conjunto de favelas com especificidades internas bastante singulares que conjugam origens, trajetórias e perfis diferenciados.

 

Até a década de 1970, ao lado da ocupação por moradias, ocorreu em Manguinhos a implantação de várias indústrias e empresas públicas ou privadas, como o Instituto Oswaldo Cruz – IOC (atual Fundação Oswaldo Cruz), a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), a Empresa Brasileira de Telecomunicação (Embratel), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a Refinaria de Petróleos de Manguinhos S. A. e a fábrica de cigarros Souza Cruz.

 

Esse processo, no entanto, não foi consubstanciado a um programa governamental para constituição de um bairro industrial, como previsto nos projetos propostos desde a década de 1920, mas aos fatores econômicos, à baixa valorização da área e à proximidade com o centro da cidade.

 

A disponibilidade de espaços livres, a oferta de emprego e de mão de obra de baixo custo foram fatores que se associaram, tanto para o adensamento populacional, como para a implantação das empresas.

O IOC, atual Fundação Oswaldo Cruz, mais antiga instituição pública da área, teve parte de seus terrenos ocupados por construção de moradias, sem autorização legal, reafirmando a relação entre habitação e trabalho na medida em que incorporava a mão de obra existente e atraia novos trabalhadores/moradores. Esse processo gerou negociações que envolveram os residentes e o poder público, em várias instâncias e diferentes conjunturas.17 Um acordo firmado, em 1922, entre o instituto, o Ministério de Viação e Obras Públicas e a Empresa de Melhoramentos da Baixada Fluminense, apresentava como objetivo “transformar os pântanos e áreas alagadas em terrenos secos, salubres e irrigáveis”.18 Tais intervenções como outras, no entanto, não converteram a área de Manguinhos em “terrenos secos, salubres e irrigáveis”, mas sim em úmidos e altamente vulneráveis que acolheram um enorme contingente populacional, em geral migrado, que não  encontrou lugar melhor para se instalar em outras áreas da cidade

 

Na década de 1950, como ocorreu em outras áreas do Rio de Janeiro, foram construídas habitações populares destinadas a grupos específicos como o Conjunto Manguinhos, instalado como Centro de Habitação Provisória, e o Parque São José, financiado pela Fundação das Pioneiras Sociais, destinado aos funcionários da limpeza pública. Foram também criados, porém com características de construção permanente, os conjuntos Casa da Moeda, destinados a seus funcionários, ex- combatentes, famílias dos que retornaram da Segunda Guerra Mundial, e o Conjunto Tiradentes.

 

Atualmente, apenas a localidade junto à Estação Ferroviária de Manguinhos atende pelo nome de Manguinhos, sendo as demais áreas do bairro conhecidas pelos nomes de suas respectivas favelas: "Coreia", "Mandela" e "Amorim". Desde a década de 1980, a área vem sofrendo com o esvaziamento econômico, uma vez que as poucas indústrias que existiam em seu entorno foram extintas ou se transferiram para outras localidades, como a Cooperativa Central dos Produtores de Leite, cujo terreno hoje pode ser considerado como um condomínio informal, dada a ocupaçao de moradores; a Gillette do Brasil; e um quartel do Exército Brasileiro - o Depósito de Suprimentos. A Refinaria de Manguinhos ainda é a principal instalação industrial da região.

 

Sendo praticamente tomado por favelas, a Rua Leopoldo Bulhões, uma das principais do bairro, que tangencia a linha do trem (Ramal Central - Gramacho), foi conhecida como "Faixa de Gaza", em referência à região homônima na Palestina.

 

Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz apontou que crianças e adolescentes do bairro têm quinhentas vezes mais chances de desenvolver câncer e deficiências neurológicas por exposição ao chumbo, especialmente pela proximidade com rodovias e linhas férreas, do que crianças e adolescentes de outros bairros.

 

O bairro possui diversas escolas, dentre as quais destacam-se, pela importância histórica: o Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro, a Escola Municipal Estado da Guanabara, a Escola Ema Negrão de Lima, as escolas municipais Oswaldo Cruz, Albino Souza Cruz, Dom João VI, Orozimbo Nonato, além de instituições privadas que, por estarem num raio de menos de três quilômetros, formam um polo estudantil.

 

A localidade conta, ainda, com uma escola de samba, a GRES Unidos de Manguinhos; com uma feira popular; com diversas igrejas (destacando-se uma igreja tombada pelo patrimônio histórico, no centro da favela); com comércio; com uma unidade do Departamento Estadual de Trânsito, dentre outras melhorias provenientes de obras iniciadas em 2008.

 

Referências

  1. http://www.rio.rj.gov.br/web/szn/exibeConteudo?article-id=95026
  2.  «Dados». Consultado em 25 de março de 2012. Arquivado do original em 2 de setembro de 2013
  3.  Tabela 1172 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH), por ordem de IDH, segundo os bairros ou grupo de bairros - 2000
  4.  «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 27 de setembro de 2012. Cópia arquivada (PDF) em 27 de setembro de 2012
  5.  http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/materia/index.php?matid=1107&saibamais=3116
  6.  Tabela 1172 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH), por ordem de IDH, segundo os bairros ou grupo de bairros - 2000
  7.  «Cópia arquivada». Consultado em 16 de setembro de 2011. Arquivado do original em 1 de novembro de 2011
  8.  http://www.mfrural.com.br/lista_rural_det.aspx?cod=3327&cat=7&mnom=CCPL-COOP.-CENTRAL-DOS-PRODUTORES-DE-LEITE-LTDA.
  9.  Crianças e jovens de favela do Rio estão expostos a chumbo - Folha de S.Paulo, 12 de março de 2010 (visitado em 12-3-2010)