Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara (FAFEG): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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O período de existência formal da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara se inicia com a fundação em julho de 1963 e se encerra com a transformação em Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ), em maio de 1975, a qual continuou sua trajetória com uma base territorial ampliada. Ao longo de quase doze anos de existência, a FAFEG priorizou a luta contra a política de remoções sistemáticas de favelas, implementada na Guanabara a partir de meados de 1962. A sintomia dessa linha de atuação com as preocupações da maioria dos moradores de favelas do período, é evidenciada pelo fato de que as 28 associações fundadoras em 1963, se tornaram, já em 1968, cerca de 80 entidades filiadas1.


A filiação de novas associações tinha importância crucial, pois significava a possibilidade de expansão do alcance da Federação. Afinal, seus estatutos eram organizados a partir da lógica da representação por favela. Às associações locais eram atribuídas todas as responsabilidades, direitos e deveres no âmbito da FAFEG, e não a indivíduos. Eram elas que se filiavam à federação, que contribuíam financeiramente e que votavam nas eleições e nas assembleias gerais. A lógica federativa manifestava-se, até mesmo, na organização das chapas que concorressem à diretoria, nas quais era vedada a inscrição de mais de um morador de uma mesma favela2.
<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">O período de existência formal da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara se inicia com a fundação em julho de 1963 e se encerra com a transformação em Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ), em maio de 1975, a qual continuou sua trajetória com uma base territorial ampliada. Ao longo de quase doze anos de existência, a FAFEG priorizou a luta contra a política de remoções sistemáticas de favelas, implementada na Guanabara a partir de meados de 1962. A sintomia dessa linha de atuação com as preocupações da maioria dos moradores de favelas do período, é evidenciada pelo fato de que as 28 associações fundadoras em 1963, se tornaram, já em 1968, cerca de 80 entidades filiadas</span>[[#sdfootnote1sym|<span style="color:#000000"><sup>1</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></font></span></span></span>


Em diferentes momentos, a entidade se valeu de distintas táticas e métodos de atuação, que eram combinados de formas variadas. Essa variação, em larga medida, pode ser explicada pelos limites impostos pelas oscilações da situação política na qual os favelados precisavam atuar. Entretanto, igualmente importantes foram as disputas internas à FAFEG. Tais disputas se organizaram em torno de dois polos fundamentais: enquanto um deles propunha a compreensão da luta dos favelados como parte do conjunto de questões relativas ao cotidiano da classe trabalhadora, o outro defendia que a temática das favelas deveria ser tratada em sua especificidade. Nos tópicos a seguir, apresentarei uma síntese da trajetória da FAFEG estruturada a partir dos embates entre essas duas perspectivas.
<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">A filiação de novas associações tinha importância crucial, pois significava a possibilidade de expansão do alcance da Federação. Afinal, seus estatutos eram organizados a partir da lógica da representação por favela. Às associações locais eram atribuídas todas as responsabilidades, direitos e deveres no âmbito da FAFEG, e não a indivíduos. Eram elas que se filiavam à federação, que contribuíam financeiramente e que votavam nas eleições e nas assembleias gerais. A lógica federativa manifestava-se, até mesmo, na organização das chapas que concorressem à diretoria, nas quais era vedada a inscrição de mais de um morador de uma mesma favela</span>[[#sdfootnote2sym|<span style="color:#000000"><sup>2</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></font></span></span></span>


<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Em diferentes momentos, a entidade se valeu de distintas táticas e métodos de atuação, que eram combinados de formas variadas. Essa variação, em larga medida, pode ser explicada pelos limites impostos pelas oscilações da situação política na qual os favelados precisavam atuar. Entretanto, igualmente importantes foram as disputas internas à FAFEG. Tais disputas se organizaram em torno de dois polos fundamentais: enquanto um deles propunha a compreensão da luta dos favelados como parte do conjunto de questões relativas ao cotidiano da classe trabalhadora, o outro defendia que a temática das favelas deveria ser tratada em sua especificidade. Nos tópicos a seguir, apresentarei uma síntese da trajetória da FAFEG estruturada a partir dos embates entre essas duas perspectivas.</span></font></span></span></span></span>


Da fundação à diretoria provisória
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<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">'''Da fundação à diretoria provisória'''</font></span></span></span></span>


A fundação da FAFEG inaugurou uma nova fase no movimento de favelados carioca. Entretanto, a escassez de fontes dificulta a determinação do sentido exato da ruptura produzida. Conforme destacou Juliana Oakim, existem numerosas versões para explicar a criação da entidade: para alguns, seria um esforço de superação dos currais eleitorais que políticos profissionais estabeleciam em favelas da cidade, controlando as associações locais; para outros, se tratava de buscar alternativas ao que se entendia como um indevido envolvimento das demais federações de favelados com a política partidária (como a União dos Trabalhadores Favelados e a Coligação dos Trabalhadores Favelados – UTF e CTF, respectivamente); outros ainda indicam o predomínio de uma articulação a partir de um movimento conservador intitulado Movimento Rearmamento Moral (MRM), o qual era ligado a grupos que atuavam pela deposição do presidente João Goulart3.
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O mais provável é que, em alguma medida, todos esses elementos estivessem presentes em uma complexa combinação. Indícios dessa possibilidade são encontrados já nos estatutos da entidade. No parágrafo 1o do artigo 27o, por exemplo, afirmava:
<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">A fundação da FAFEG inaugurou uma nova fase no movimento de favelados carioca. Entretanto, a escassez de fontes dificulta a determinação do sentido exato da ruptura produzida. Conforme destacou Juliana Oakim, existem numerosas versões para explicar a criação da entidade: para alguns, seria um esforço de superação dos currais eleitorais que políticos profissionais estabeleciam em favelas da cidade, controlando as associações locais; para outros, se tratava de buscar alternativas ao que se entendia como um indevido envolvimento das demais federações de favelados com a política partidária (como a União dos Trabalhadores Favelados e a Coligação dos Trabalhadores Favelados – UTF e CTF, respectivamente); outros ainda indicam o predomínio de uma articulação a partir de um movimento conservador intitulado Movimento Rearmamento Moral (MRM), o qual era ligado a grupos que atuavam pela deposição do presidente João Goulart</span>[[#sdfootnote3sym|<span style="color:#000000"><sup>3</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></font></span></span></span>


<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">O mais provável é que, em alguma medida, todos esses elementos estivessem presentes em uma complexa combinação. Indícios dessa possibilidade são encontrados já nos estatutos da entidade. No parágrafo 1</span></font><sup><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">o</span></font></sup><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">do artigo 27</span></font><sup><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">o</span></font></sup><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">, por exemplo, afirmava:</span></font></span></span></span></span>


“É condição essencial para concorrer às eleições da F.A.F.E.G. para a Diretoria, ou ser nomeado para os departamentos, que o candidato resida efetivamente em uma favela do Estado da Guanabara, sendo destituído do cargo todo o Diretor da F.A.F.E.G. que deixar de residir numa favela”4.
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<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><span style="color:#000000">“</span><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">É condição essencial para concorrer às eleições da F.A.F.E.G. para a Diretoria, ou ser nomeado para os departamentos, que o candidato resida efetivamente em uma favela do Estado da Guanabara, sendo destituído do cargo todo o Diretor da F.A.F.E.G. que deixar de residir numa favela”</span>[[#sdfootnote4sym|<span style="color:#000000"><sup>4</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></font></span></span></span>


Considerando-se o panorama do movimento de favelas naquele período, esse requisito pode ser lido como uma tentativa de evitar que se configurasse um cenário como a da União dos Trabalhadores Favelados, em que o advogado Antoine de Magarinos Torres, sem residir em nenhuma favela, ocupava cargos de grande importância na diretoria. Já o artigo 7o, apresentava como um dos deveres das filiadas o de “não discutir política partidária, religião ou ideologia na F.A.F.E.G.” (itálico meu)5, o que, por sua vez, pode ser compreendido como uma rejeição ao papel cumprido pela cúpula do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na organização da CTF, ou mesmo às interferências de políticos clientelistas sobre inúmeras associações locais de favelas.
&nbsp;


Por fim, também há indícios capazes de validar, em certa medida, a hipótese que conecta a fundação da FAFEG à atuação Rearmamento Moral. Na composição da diretoria provisória, empossada na fundação da entidade, havia, pelo menos, um militante cujos laços com o MRM naquele período são incontestes, Etevaldo de Oliveira. O quadro abaixo apresenta a toda a composição da diretoria:
<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><span style="color:#000000"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Considerando-se o panorama do movimento de favelas naquele período, esse requisito pode ser lido como uma tentativa de evitar que se configurasse um cenário como a da União dos Trabalhadores Favelados, em que o advogado Antoine de Magarinos Torres, sem residir em nenhuma favela, ocupava cargos de grande importância na diretoria. Já o artigo 7</span></font><sup><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">o</span></font></sup></span><font style="font-size:12pt"><span style="color:#000000"><span style="font-weight:normal">, apresentava como um dos deveres das filiadas o de “</span>''<span style="font-weight:normal">não discutir política partidária</span>''</span><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">, religião ou ideologia na F.A.F.E.G.” (itálico meu)</span>[[#sdfootnote5sym|<span style="color:#000000"><sup>5</sup></span>]]<span style="color:#000000">, o que, por sua vez, pode ser compreendido como uma rejeição ao papel cumprido pela cúpula do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na organização da CTF, ou mesmo às interferências de políticos clientelistas sobre inúmeras associações locais de favelas.</span></span></font></span></span></span>


Quadro 3.1 – Diretoria provisória da FAFEG de 10/08/1963 a 04/19646
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Por fim, também há indícios capazes de validar, em certa medida, a hipótese que conecta a fundação da FAFEG à atuação Rearmamento Moral. Na composição da diretoria provisória, empossada na fundação da entidade, havia, pelo menos, um militante cujos laços com o MRM naquele período são incontestes, Etevaldo de Oliveira. O quadro abaixo apresenta a toda a composição da diretoria:</span></font></span></span></span></span>
Cargo
Diretor
Favela
Presidente
Amaro Júlio Martins
Telégrafos
1o Vice-presidente
Antônio Almiro de Souza
Borel
2o Vice-presidente
Etevaldo Justino de Oliveira
Bispo 117
1o Tesoureiro
João Miguel da Silva
Manguinhos
2o Tesoureiro
José Luiz da Silva
Manguinhos
1o Secretário
Feliciano da Silva Neves
Barreira do Vasco
2o Secretário
Francisco Xavier de Farias


3o Secretário
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José Maria Ventura
/> /> />
Telégrafos
{| style="border:undefined" width="567"
|-
| colspan="3" style="background:transparent" width="563" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Quadro 3.1 – Diretoria provisória da FAFEG de 10/08/1963 a 04/1964[[#sdfootnote6sym|<sup>6</sup>]]'''</font></font></font></span>


|-
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<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Cargo'''</font></font></font></span>


Tendo conhecido o líder do MRM no Rio de Janeiro em princípios de 1963, Etevaldo desemprenhou importantes tarefas para o movimento nos anos seguintes, inclusive, representando-o em outros estados. Para além disso, frequentou cursos de formação de sindicalistas organizados pela Confederação Brasileira dos Trabalhadores Cristãos (CBTC). Naquele momento histórico, tais instituições alcançaram uma articulação política e ideológica por meio do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), que desempenhou papel-chave no golpe que derrubou João Goulart e na estruturação do regime ditatorial então instalado7.
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<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Diretor'''</font></font></font>


Os vínculos do campo que orbitava em torno do IPES com a FAFEG assumiram, também, contornos institucionais. Nesse sentido, é possível mencionar tanto o patrocínio de empresas ligadas ao IPES (McCann Erikson, CDTC e Ducal) ao programa de rádio mantido pela Federação no período 1963-1965, quanto o fato de que a primeira sede da entidade foi instalada em espaço pertencente à CBTC, a qual recebia financiamento direto do próprio IPES8.
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<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Favela'''</font></font></font>


Mesmo com todo o aparato mobilizado, não foi possível a esse bloco estabelecer um controle direto sobre as ações da FAFEG. Em novembro de 1963, a diretoria da entidade esteve representada em reunião do Departamento de Favelas do Comitê Nacional JK-65. Tal comitê era parte do esforço de construção da candidatura presidencial de Juscelino Kubitschek, que concorreria nas eleições previstas para 19659. Embora não se tratasse de um radical, ou mesmo de um candidato claramente identificado com a esquerda, JK um aliado preferencial do bloco organizado em torno do IPES, inserindo-se em outra tradição política ligada às classes dominantes.
|-
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<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Presidente</font></font></font></span>


A existência dessa pluralidade de forças políticas na FAFEG não impediu que a diretoria provisória se posicionasse unitariamente contra a remoção da favela do Pasmado, a primeira grande intervenção realizada pelo governador Carlos Lacerda (União Democrática Nacional – UDN). Apesar disso, ainda em seus primeiros momentos de existência, a Federação não teve destaque nessa mobilização, que seria derrotada com a realização da remoção a partir de dezembro de 1963.
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Amaro Júlio Martins</font></font></font>


Poucos meses depois, com o golpe de 1964, estariam dadas novas condições para o aprofundamento da política remocionista. Em paralelo, a FAFEG entraria em nova fase.
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Telégrafos</font></font></font>


|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vice-presidente</font></font></font></span>


A afirmação da Doutrina Social Cristã
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Antônio Almiro de Souza</font></font></font>


| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Borel</font></font></font>


Imediatamente após o golpe que depôs João Goulart, o presidente da FAFEG, Amaro Martins, apresentou sua carta de renúncia e abandonou a militância na Federação, provavelmente, por temor da repressão posta em movimento pela ditadura recém-instalada. A partir de então, a presidência da entidade foi assumida por Etevaldo Oliveira, que completou o mandato da diretoria provisória na companhia de uma nova equipe:
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vice-presidente</font></font></font></span>


Quadro 3.2 – Diretoria da FAFEG de 04/1964 a 01/196510
| style="background:transparent" width="187" |
Cargo
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Etevaldo Justino de Oliveira</font></font></font>
Diretor
Favela
Presidente
Etevaldo Justino de Oliveira
Bispo 117
1o Vice-presidente
Tupan Bento
Coroa
2o Vice-presidente
Hélio Luiz Martins
Catacumba
1o Tesoureiro
Sílvio Alcântara Barbosa
Catumbi
2o Tesoureiro


| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Bispo 117</font></font></font>


1o Secretário
|-
Maurílio José Rosa
| style="background:transparent" width="186" |
Catumbi
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>
2o Secretário
Aquilino Alves Pereira


3o Secretário
| style="background:transparent" width="187" |
Sebastião Alfredo dos Santos
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">João Miguel da Silva</font></font></font>


Diretor Social*
| style="background:transparent" width="186" |
José Pereira
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Manguinhos</font></font></font>


Coordenador*
|-
Germano Cordeiro
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>


Coordenador*
| style="background:transparent" width="187" |
Joel Pinto da Fonseca
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">José Luiz da Silva</font></font></font>


Coordenador*
| style="background:transparent" width="186" |
Luiz Florêncio da Silva
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Manguinhos</font></font></font>


* Cargos não previstos nos estatutos.
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>


Com a ascensão de Etevaldo e a presença de outros militantes ligados ao Rearmamento Moral, como Tupan Bento, as linhas de ação da entidade passariam a expressar mais diretamente as concepções do próprio MRM e da CBTC. Essas concepções ficaram claras em declaração dada por Etevaldo durante o I Congresso da FAFEG, realizado em outubro de 1964:
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Feliciano da Silva Neves</font></font></font>


| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Barreira do Vasco</font></font></font>


“O presidente da FAFEG, sr. Etevaldo Justino de Oliveira, declarou: ‘Visamos, por todos os meios, ao bem-estar das pessoas humildes, moradoras em favelas, e que a sociedade condena e humilha. Queremos mostrar que o favelado não pode ser julgado como um bicho, só porque outros habitantes dos morros são marginais’”11.
|-
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<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>


| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Francisco Xavier de Farias</font></font></font>


Conforme fica claro, a base desse posicionamento é a dimensão moral, secundarizando a perspectiva política. Assim, os favelados são apresentados simplesmente como “pessoas humildes”, não havendo nenhuma relação entre a sua condição de classe, como trabalhadores, e a precariedade enfrentada nos locais de moradia. A condição social dos favelados seria definida unicamente pelo fato de habitarem em favelas, o que colocava em primeiro plano a dicotomia favela/asfalto. Em decorrência dessa compreensão, a sua mobilização era encarada como sendo voltada para a obtenção do mesmo tratamento dispensado às demais pessoas. A urbanização reivindicada era, portanto, compreendida como o caminho para a restauração de sua “dignidade”, o que significaria uma afirmação plena de sua humanidade. Em lugar do embate entre classes sociais, tal como proposto pela UTF, por exemplo, surgia a imagem de uma humanidade idealmente unida.
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;


Mesmo valendo-se dessa retórica conciliadora, o I Congresso (que foi materialmente apoiado pelo MRM e pela CBTC) tomou algumas decisões importantes, com destaque para a defesa da priorização da urbanização das favelas e a rejeição das remoções. Sustentada por esse posicionamento coletivo, a diretoria da FAFEG atuou de maneira mais incisiva frente à nova onda de remoções do governo de Lacerda no final de 1964. Assim, nessa conjuntura, se a entidade teve pouca participação na mobilização dos moradores de Brás de Pina, que conseguiram impedir a remoção total, por outro lado, esteve na linha de frente da resistência da favela do Esqueleto.
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| style="background:transparent" width="186" height="19" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">3</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font>


Foi nessa favela que a Federação começou a desenvolver o repertório de práticas que seria mobilizado, com algumas variações, em outras oportunidades. Nesse roteiro, a atuação começava pelo estabelecimento de contato direto com a diretoria da entidade local, junto à qual era organizada uma assembleia. A partir da assembleia, eram detonadas duas vias principais de ação: enquanto um grupo estruturava um plano viável de urbanização local para ser apresentado às autoridades e à imprensa, outros ficavam responsáveis pela organização de um plebiscito, no qual todos os moradores da favela poderiam optar entre remoção e urbanização. Dessa forma, buscava-se conferir um embasamento técnico à reivindicação, ao mesmo tempo em que se buscava fortalecê-la politicamente pela demonstração da coesão da população local, via plebiscito.
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<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">José Maria Ventura</font></font></font>


No início de dezembro, entretanto, esses esforços foram interrompidos pela prisão de Etevaldo na saída da rádio onde gravava o programa da FAFEG. Levado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), ele permaneceu incomunicável por dias, até que foi liberado sem acusação formal. Intimidados por esse procedimento e por ameaças que receberam, os demais líderes da resistência no Esqueleto abandonaram o projeto do plebiscito e a remoção da favela se consumou em 196512.
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<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Telégrafos</font></font></font>


Com essas ações, a ditadura indicava claramente que toda mobilização popular – independentemente da orientação política de suas lideranças – era vista como potencialmente perigosa para o regime e, portanto, indesejável. Ainda assim, os laços mantidos por Etevaldo com instituições que haviam apoiado o golpe de 1964 não foram inteiramente desconsiderados, na medida em que as declarações de líderes do MRM e da CBTC, que abonavam a sua conduta pessoal, foram consideradas pela polícia política em sua decisão de liberá-lo13.
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Luta de classes e oposição à ditadura
<span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="font-size:medium"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">Tendo conhecido o líder do MRM no Rio de Janeiro em princípios de 1963, Etevaldo desemprenhou importantes tarefas para o movimento nos anos seguintes, inclusive, representando-o em outros estados. Para além disso, frequentou cursos de formação de sindicalistas organizados pela Confederação Brasileira dos Trabalhadores Cristãos (CBTC). Naquele momento histórico, tais instituições alcançaram uma articulação política e ideológica por meio do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), que desempenhou papel-chave no golpe que derrubou João Goulart e na estruturação do regime ditatorial então instalado</span>[[#sdfootnote7sym|<span style="color:#000000"><sup>7</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></font></span></span></span>


<span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="font-size:medium"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">Os vínculos do campo que orbitava em torno do IPES com a FAFEG assumiram, também, contornos institucionais. Nesse sentido, é possível mencionar tanto o patrocínio de empresas ligadas ao IPES (McCann Erikson, CDTC e Ducal) ao programa de rádio mantido pela Federação no período 1963-1965, quanto o fato de que a primeira sede da entidade foi instalada em espaço pertencente à CBTC, a qual recebia financiamento direto do próprio IPES</span>[[#sdfootnote8sym|<span style="color:#000000"><sup>8</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></font></span></span></span>


Em janeiro de 1965, pouco após a prisão de Etevaldo, a nova diretoria da FAFEG foi escolhida em uma eleição. Com a situação dividida em duas chapas, a vitória coube ao setor oposicionista. A composição da nova diretoria está expressa no quadro a seguir:
<span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="font-size:medium"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">Mesmo com todo o aparato mobilizado, não foi possível a esse bloco estabelecer um controle direto sobre as ações da FAFEG. Em novembro de 1963, a diretoria da entidade esteve representada em reunião do Departamento de Favelas do Comitê Nacional JK-65. Tal comitê era parte do esforço de construção da candidatura presidencial de Juscelino Kubitschek, que concorreria nas eleições previstas para 1965</span>[[#sdfootnote9sym|<span style="color:#000000"><sup>9</sup></span>]]<span style="color:#000000">. Embora não se tratasse de um radical, ou mesmo de um candidato claramente identificado com a esquerda, JK um aliado preferencial do bloco organizado em torno do IPES, inserindo-se em outra tradição política ligada às classes dominantes.</span></span></font></span></span></span>


Quadro 3.3 – Diretoria da FAFEG de 01/1965 a 01/196714
<span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="font-size:medium"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">A existência dessa pluralidade de forças políticas na FAFEG não impediu que a diretoria provisória se posicionasse unitariamente contra a remoção da favela do Pasmado, a primeira grande intervenção realizada pelo governador Carlos Lacerda (União Democrática Nacional – UDN). Apesar disso, ainda em seus primeiros momentos de existência, a Federação não teve destaque nessa mobilização, que seria derrotada com a realização da remoção a partir de dezembro de 1963.</span></font></span></span></span></span>
Cargo
Nome
Favela
Presidente
João José Marcolino
Catumbi
1o Vice-Presidente
João Pereira da Silva
Pavão
2o Vice-Presidente
Vicente Ferreira Mariano
São Carlos
1o Tesoureiro
Almir Ricardo
Prazeres
2o Tesoureiro
Lázaro Franco
Salgueiro
1o Secretário
Valdevino do Nascimento
Querosene
2o Secretário
Jamildo Mendonça
Formiga
3o Secretário
José Maria Galdeano
Bispo 117


Dentre os eleitos, chama a atenção a presença de inúmeros militantes (Marcolino, Vicente, Almir e Galdeano) que, em 1963, compunham a diretoria da Coligação dos Trabalhadores Favelados, outra entidade federativa do movimento de favelas. Embora inicialmente marcada por uma atuação bastante discreta – centrada no envio de documentos às autoridades estaduais –, a partir de 1966, a nova gestão começou a indicar mais claramente o sentido da ruptura que buscava imprimir na condução da FAFEG. Assim, em resposta ao fortalecimento do discurso remocionista – que se valia dos desabamentos causados pelas chuvas para voltar à carga após o término do governo de Lacerda –, a diretoria da Federação passou a defender a urbanização das favelas enfatizando a condição de seus moradores como membros da classe trabalhadora. Dessa forma, as suas mobilizações eram apresentadas como uma manifestação da luta de classes, assumindo, também, uma posição de crítica mais aberta à ditadura.
<span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="font-size:medium"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Poucos meses depois, com o golpe de 1964, estariam dadas novas condições para o aprofundamento da política remocionista. Em paralelo, a FAFEG entraria em nova fase.</span></font></span></span></span></span>


Esse posicionamento ficou ainda mais forte nas duas gestões subsequentes, eleitas em 1967 e 1969, nas quais Vicente Ferreira Mariano assumiu a presidência da FAFEG. A composição dessas diretorias é apresentada a seguir:
&nbsp;


Quadro 3.4 – Diretoria da FAFEG de 01/1967 a 01/196915
<span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="font-size:medium"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">'''A afirmação da Doutrina Social Cristã'''</font></span></span></span></span>
Cargo
Nome
Favela
Presidente
Vicente Ferreira Mariano
São Carlos
1o Vice-Presidente
Amilton Marcolino


2o Vice-Presidente
&nbsp;
Antônio Cavalcante


1o Tesoureiro
<span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="font-size:medium"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Imediatamente após o golpe que depôs João Goulart, o presidente da FAFEG, Amaro Martins, apresentou sua carta de renúncia e abandonou a militância na Federação, provavelmente, por temor da repressão posta em movimento pela ditadura recém-instalada. A partir de então, a presidência da entidade foi assumida por Etevaldo Oliveira, que completou o mandato da diretoria provisória na companhia de uma nova equipe:</span></font></span></span></span></span>
Maurílio José Rosa
Catumbi
2o Tesoureiro
Jamildo Mendonça


1o Secretário
&nbsp;
José Maria Galdeano
/> /> />
Bispo 117
{| style="border:undefined" width="567"
2o Secretário
|-
Reinaldo Ruffino
| colspan="3" style="background:transparent" width="563" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Quadro 3.2 – Diretoria da FAFEG de 04/1964 a 01/1965[[#sdfootnote10sym|<sup>10</sup>]]'''</font></font></font></span>


3o Secretário
|-
Marcolino Luís da Silva
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Cargo'''</font></font></font></span>


| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Diretor'''</font></font></font>


Quadro 3.5 – Diretoria da FAFEG em 08/197016
| style="background:transparent" width="186" |
Cargo
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Favela'''</font></font></font>
Nome
Favela
Presidente
Vicente Ferreira Mariano
São Carlos
1o Vice-Presidente
Lúcio de Paula Bispo
Chapéu Mangueira
1o Tesoureiro
José Batista Lira
Borel
2o Tesoureiro
Miguel Geraldo
Brás de Pina
1o Secretário
Maurílio José Rosa
Catumbi
2o Secretário
Neusa Mendonça
Babilônia


O momento de maior riqueza na formulação da perspectiva política que conectava o movimento de favelados à luta de classes foi o II Congresso da entidade, realizado em novembro e dezembro de 1968. Já na sua convocatória, a nova retórica era evidente, conforme indicado pelo documento abaixo:
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Presidente</font></font></font></span>


| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Etevaldo Justino de Oliveira</font></font></font>


“Com o trabalho do homem, a cidade cresce, o progresso aproxima-se das áreas onde você habita, crescendo a cobiça desses lugares, já valorizados. Embora a lei seja igual para todos, sempre vence o mais forte, e surgem as remoções para lugares longínquos, trazendo vários transtornos para o homem que vive de salário. O que será do trabalhador quando a cidade chegar em Vila Aliança e Cidade de Deus? Para onde você vai?”17
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Bispo 117</font></font></font>


|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vice-presidente</font></font></font></span>


Nesse texto, cujo tom é claramente distinto do pronunciamento da diretoria liderada por Etevaldo, a identificação dos favelados como componentes da classe trabalhadora traz consigo a afirmação da existência de um conflito de interesses. Trata-se da apropriação dos frutos do trabalho de uns, materializado no desenvolvimento urbano, por outros. Para a resolução desse conflito, não bastaria confiar na lei escrita, uma vez que os opositores dos favelados possuiriam meios de dobrá-la a seu favor, o que indica a percepção da associação do Estado ditatorial a determinados interesses sociais.
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<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tupan Bento</font></font></font>


Em paralelo a esse reenquadramento do sentido da luta pela urbanização, a FAFEG atuava, também, para aproximar o movimento de favelados de outros setores da classe trabalhadora e de outras iniciativas política oposicionistas. Nesse sentido, é importante ressaltar que o II Congresso teve sessões realizadas em espaços cedidos pelos sindicatos dos metalúrgicos e dos condutores de veículos rodoviários. Indo além, a Federação também participou da organização do ato de 1o de maio de 1968 ao lado de diversas entidades sindicais e estudantis, e de intelectuais e parlamentares, além de ter oferecido esconderijo e/ou espaços de atuação a militantes estudantis e sindicais perseguidos pelo regime18.
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<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Coroa</font></font></font>


Embora expressasse a radicalização de parte significativa da base da FAFEG – o que se traduziu em uma grande presença no II Congresso e na apresentação de inúmeras teses –, o desenvolvimento da perspectiva da luta de classes devia muito à atuação de militantes favelados que participavam de organizações políticas. Dentre as principais lideranças desse período, é possível citar Vicente Mariano, Lúcio de Paula Bispo e José Batista Lira, do Partido Comunista Brasileiro (PCB), José Maria Galdeano, do Movimento Popular de Libertação (MPL), e Abdias José dos Santos – então presidente do Conselho de Representantes da FAFEG –, da Ação Popular (AP).
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vice-presidente</font></font></font></span>


A combinação de retórica combativa e presença de opositores da ditadura não tardou a chamar a atenção do aparato repressivo do Estado. Assim, a vigorosa retomada das remoções no início de 1968, já sob a tutela do governo federal, foi acompanhada de novas prisões arbitrárias. Em fevereiro de 1969, foram presos quatro dirigentes da associação da Ilha das Dragas, uma pequena favela localizada às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. No mês seguinte, quando se iniciava a remoção da favela da Praia do Pinto (entre a Lagoa e o Leblon) os detidos foram três diretores da FAFEG, além do advogado da entidade. Com essas inequívocas demonstrações de força, a ditadura conseguiu intimidar os favelados, abrindo caminho para a remoção, em poucos anos, de todas as favelas do entorno da Lagoa, uma das áreas de maior interesse do capital imobiliário naquele período.
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<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Hélio Luiz Martins</font></font></font>


| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Catacumba</font></font></font>


Aliança com o Estado
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>


| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Sílvio Alcântara Barbosa</font></font></font>


Em consequência da brutal repressão, o grupo político liderado por Vicente Mariano não inscreveu nenhuma chapa na eleição para a diretoria no início de 1971. Assim, foi vitoriosa a chapa única, “União das Favelas”, que trazia Francisco Vicente de Souza (do Parque União) como presidente e Etevaldo como 1o vice-presidente19. Com esse resultado, alterou-se uma vez mais a orientação política predominante na FAFEG, retornando a ênfase na especificidade dos favelados e o tratamento particularista da questão habitacional.
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Catumbi</font></font></font>


Ao longo da gestão, a figura do presidente ficou relegada a um segundo plano, em função do destaque conseguido por Etevaldo em suas movimentações políticas. Na nova conjuntura, deixando de lado a declaração explícita da adesão à Doutrina Social Cristão, ele apostou na aproximação em relação ao Estado como principal via de ação, mesmo ainda se tratando de um período de ditadura. Nesse sentido, propôs a “(...) criação de um decreto governamental, obrigando o morador de favelas a filiar-se às Associações, medida essa que tornaria muito mais rápida a solução de problemas de moradores não esclarecidos”20, além de defender que os favelados lançassem candidatos à Assembleia Legislativa da Guanabara. Coerente com essa proposta, em 1970, ele mesmo se candidatou pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o partido de sustentação da ditadura, obtendo apenas 575 votos.
|-
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<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>


Politicamente, o mandato se encerrou com a realização do III Congresso da entidade, entre outubro e dezembro de 1972. Embora tenha reafirmado as deliberações em favor da urbanização e contra a remoção, foi abandonada a reivindicação do II Congresso de que os favelados tivessem garantida a propriedade das terras que ocupavam sem qualquer custo.
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&nbsp;


Em janeiro do ano seguinte, novas eleições conduziram Jonas Rodrigues à presidência da Federação. Fortemente articulado ao grupo do governador Antônio de Pádua Chagas Freitas (da ala mais colaboracionista do Movimento Democrático Brasileiro – MDB), Jonas instituiu um modelo clientelista de atuação, caracterizado pelo baixíssimo grau de mobilização coletiva. Em lugar da ação das bases, sua gestão apostou quase inteiramente em negociações diretas com secretários de governo, parlamentares e responsáveis pelos órgãos estatais. Nesse projeto, contou com o apoio de Francisco Vicente de Souza, que passara a ocupar a posição de presidente do Conselho de Representantes. Por meio dessa aliança, os dois dirigiram a Federação até 1978, sendo responsáveis pela condução da transição para a FAFERJ21.
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&nbsp;


|-
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<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>


Bibliografia
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Maurílio José Rosa</font></font></font>


| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Catumbi</font></font></font>


LIMA, Lucas Pedretti. A polícia política sobe o morro: as favelas cariocas no arquivo do DOPS (1964-1983). Monografia de Conclusão de Curso de Graduação em História. Rio de Janeiro: PUC, 2015.
|-
LIMA, Nísia Verônica Trindade. O movimento de favelados do Rio de Janeiro – políticas do Estado e lutas sociais (1954-1973). Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1989.
| style="background:transparent" width="186" |
OAKIM, Juliana. “Urbanização sim, remoção não”. A atuação da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara nas décadas de 1960 e 1970. Dissertação de Mestrado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2014.
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>
PESTANA, Marco Marques. Ampliação seletiva do Estado e remoções de favelas no Rio de Janeiro: embates entre empresariado do setor imobiliário e movimento de favelados (1957-1973). Tese de Doutorado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2018.
SANTOS, Eladir Fátima N. dos. E por falar em FAFERJ… Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (1963-1993) – memória e história oral. Dissertação de Mestrado em Memória Social. Rio de Janeiro: PPGMS/UNIRIO, 2009.
SILVA, Humberto Salustriano da. Organização e resistência popular em torno das políticas públicas de remoção: a experiência da FAFEG (Federação de Favelas do Estado da Guanabara) – 1963-1975. Monografia de Conclusão de Curso de Bacharelado em História. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.


| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Aquilino Alves Pereira</font></font></font>


Fontes
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;


|-
| style="background:transparent" width="186" height="20" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">3</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>


ARQUIVO NACIONAL (AN). Fundo: Serviço Nacional de Informações (SNI).
| style="background:transparent" width="187" |
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (APERJ). Fundo: Polícias Políticas.
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Sebastião Alfredo dos Santos</font></font></font>
Correio da Manhã. Rio de Janeiro. 1964-1971.
Diário Carioca. Rio de Janeiro. 1963.
Diário de Notícias. Rio de Janeiro. 1972.
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. 1968.
Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro.
SECRETARIA ESPECIAL DA REGIÃO SUDESTE (SERSE)/ MINISTÉRIO DO INTERIOR (MINTER); CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS (CBCISS). Movimentos sociais e desenvolvimento de comunidade. 1o Ciclo de Estudos e Reflexões. Rio de Janeiro: 1987.


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&nbsp;


Autor: Marco M. Pestana
|-
| style="background:transparent" width="186" height="20" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Diretor Social*</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">José Pereira</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;
 
|-
| style="background:transparent" width="186" height="20" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Coordenador*</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Germano Cordeiro</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;
 
|-
| style="background:transparent" width="186" height="20" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Coordenador*</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Joel Pinto da Fonseca</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;
 
|-
| style="background:transparent" width="186" height="19" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Coordenador*</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Luiz Florêncio da Silva</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;
 
|}
 
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">* Cargos não previstos nos estatutos.</span></span></font></font></font></span>
<p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify">&nbsp;</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Com a ascensão de Etevaldo e a presença de outros militantes ligados ao Rearmamento Moral, como Tupan Bento, as linhas de ação da entidade passariam a expressar mais diretamente as concepções do próprio MRM e da CBTC. Essas concepções ficaram claras em declaração dada por Etevaldo durante o I Congresso da FAFEG, realizado em outubro de 1964:</span></span></font></span></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify">&nbsp;</p> <p class="western" style="margin-left: 4cm;  margin-bottom: 0cm;  text-align: justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><span style="color:#000000">“</span><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">O presidente da FAFEG, sr. Etevaldo Justino de Oliveira, declarou: ‘Visamos, por todos os meios, ao bem-estar das pessoas humildes, moradoras em favelas, e que a sociedade condena e humilha. Queremos mostrar que o favelado não pode ser julgado como um bicho, só porque outros habitantes dos morros são marginais’”</span>[[#sdfootnote11sym|<span style="color:#000000"><sup>11</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></span></font></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify">&nbsp;</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Conforme fica claro, a base desse posicionamento é a dimensão moral, secundarizando a perspectiva política. Assim, os favelados são apresentados simplesmente como “pessoas humildes”, não havendo nenhuma relação entre a sua condição de classe, como trabalhadores, e a precariedade enfrentada nos locais de moradia. A condição social dos favelados seria definida unicamente pelo fato de habitarem em favelas, o que colocava em primeiro plano a dicotomia favela/asfalto. Em decorrência dessa compreensão, a sua mobilização era encarada como sendo voltada para a obtenção do mesmo tratamento dispensado às demais pessoas. A urbanização reivindicada era, portanto, compreendida como o caminho para a restauração de sua “dignidade”, o que significaria uma afirmação plena de sua humanidade. Em lugar do embate entre classes sociais, tal como proposto pela UTF, por exemplo, surgia a imagem de uma humanidade idealmente unida.</span></span></font></span></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Mesmo valendo-se dessa retórica conciliadora, o I Congresso (que foi materialmente apoiado pelo MRM e pela CBTC) tomou algumas decisões importantes, com destaque para a defesa da priorização da urbanização das favelas e a rejeição das remoções. Sustentada por esse posicionamento coletivo, a diretoria da FAFEG atuou de maneira mais incisiva frente à nova onda de remoções do governo de Lacerda no final de 1964. Assim, nessa conjuntura, se a entidade teve pouca participação na mobilização dos moradores de Brás de Pina, que conseguiram impedir a remoção total, por outro lado, esteve na linha de frente da resistência da favela do Esqueleto.</span></span></font></span></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Foi nessa favela que a Federação começou a desenvolver o repertório de práticas que seria mobilizado, com algumas variações, em outras oportunidades. Nesse roteiro, a atuação começava pelo estabelecimento de contato direto com a diretoria da entidade local, junto à qual era organizada uma assembleia. A partir da assembleia, eram detonadas duas vias principais de ação: enquanto um grupo estruturava um plano viável de urbanização local para ser apresentado às autoridades e à imprensa, outros ficavam responsáveis pela organização de um plebiscito, no qual todos os moradores da favela poderiam optar entre remoção e urbanização. Dessa forma, buscava-se conferir um embasamento técnico à reivindicação, ao mesmo tempo em que se buscava fortalecê-la politicamente pela demonstração da coesão da população local, via plebiscito.</span></span></font></span></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">No início de dezembro, entretanto, esses esforços foram interrompidos pela prisão de Etevaldo na saída da rádio onde gravava o programa da FAFEG. Levado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), ele permaneceu incomunicável por dias, até que foi liberado sem acusação formal. Intimidados por esse procedimento e por ameaças que receberam, os demais líderes da resistência no Esqueleto abandonaram o projeto do plebiscito e a remoção da favela se consumou em 1965</span>[[#sdfootnote12sym|<span style="color:#000000"><sup>12</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></span></font></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">Com essas ações, a ditadura indicava claramente que toda mobilização popular – independentemente da orientação política de suas lideranças – era vista como potencialmente perigosa para o regime e, portanto, indesejável. Ainda assim, os laços mantidos por Etevaldo com instituições que haviam apoiado o golpe de 1964 não foram inteiramente desconsiderados, na medida em que as declarações de líderes do MRM e da CBTC, que abonavam a sua conduta pessoal, foram consideradas pela polícia política em sua decisão de liberá-lo</span>[[#sdfootnote13sym|<span style="color:#000000"><sup>13</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></span></font></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify">&nbsp;</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">'''Luta de classes e oposição à ditadura'''</font></span></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify">&nbsp;</p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;  text-align: justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="color:#000000"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Em janeiro de 1965, pouco após a prisão de Etevaldo, a nova diretoria da FAFEG foi escolhida em uma eleição. Com a situação dividida em duas chapas, a vitória coube ao setor oposicionista. A composição da nova diretoria está expressa no quadro a seguir:</span></font></span></span></span></span></p>
&nbsp;
/> /> />
{| style="border:undefined" width="567"
|-
| colspan="3" style="background:transparent" width="563" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Quadro 3.3 – Diretoria da FAFEG de 01/1965 a 01/1967[[#sdfootnote14sym|<sup>14</sup>]]'''</font></font></font></span>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Cargo'''</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Nome'''</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Favela'''</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Presidente</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">João José Marcolino</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Catumbi</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vice-Presidente</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">João Pereira da Silva</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Pavão</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vice-Presidente</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vicente Ferreira Mariano</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">São Carlos</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Almir Ricardo</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Prazeres</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Lázaro Franco</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Salgueiro</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Valdevino do Nascimento</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Querosene</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Jamildo Mendonça</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Formiga</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">3</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">José Maria Galdeano</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Bispo 117</font></font></font>
 
|}
 
&nbsp;
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Dentre os eleitos, chama a atenção a presença de inúmeros militantes (Marcolino, Vicente, Almir e Galdeano) que, em 1963, compunham a diretoria da Coligação dos Trabalhadores Favelados, outra entidade federativa do movimento de favelas. Embora inicialmente marcada por uma atuação bastante discreta – centrada no envio de documentos às autoridades estaduais –, a partir de 1966, a nova gestão começou a indicar mais claramente o sentido da ruptura que buscava imprimir na condução da FAFEG. Assim, em resposta ao fortalecimento do discurso remocionista – que se valia dos desabamentos causados pelas chuvas para voltar à carga após o término do governo de Lacerda –, a diretoria da Federação passou a defender a urbanização das favelas enfatizando a condição de seus moradores como membros da classe trabalhadora. Dessa forma, as suas mobilizações eram apresentadas como uma manifestação da luta de classes, assumindo, também, uma posição de crítica mais aberta à ditadura.</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Esse posicionamento ficou ainda mais forte nas duas gestões subsequentes, eleitas em 1967 e 1969, nas quais Vicente Ferreira Mariano assumiu a presidência da FAFEG. A composição dessas diretorias é apresentada a seguir:</span></font></span></span></span></span>
 
&nbsp;
/> /> />
{| style="border:undefined" width="567"
|-
| colspan="3" style="background:transparent" width="563" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Quadro 3.4 – Diretoria da FAFEG de 01/1967 a 01/1969[[#sdfootnote15sym|<sup>15</sup>]]'''</font></font></font></span>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Cargo'''</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Nome'''</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Favela'''</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Presidente</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vicente Ferreira Mariano</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">São Carlos</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vice-Presidente</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Amilton Marcolino</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vice-Presidente</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Antônio Cavalcante</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Maurílio José Rosa</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Catumbi</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Jamildo Mendonça</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">José Maria Galdeano</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Bispo 117</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Reinaldo Ruffino</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">3</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Marcolino Luís da Silva</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
&nbsp;
 
|}
 
&nbsp;
/> /> />
{| style="border:undefined" width="567"
|-
| colspan="3" style="background:transparent" width="563" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Quadro 3.5 – Diretoria da FAFEG em 08/1970[[#sdfootnote16sym|<sup>16</sup>]]'''</font></font></font></span>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Cargo'''</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Nome'''</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">'''Favela'''</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Presidente</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vicente Ferreira Mariano</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">São Carlos</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Vice-Presidente</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Lúcio de Paula Bispo</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Chapéu Mangueira</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">José Batista Lira</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Borel</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Tesoureiro</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Miguel Geraldo</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Brás de Pina</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<span style="page-break-after:avoid"><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">1</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font></span>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Maurílio José Rosa</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Catumbi</font></font></font>
 
|-
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">2</font></font></font><sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">o</font></font></font></sup><font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Secretário</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="187" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Neusa Mendonça</font></font></font>
 
| style="background:transparent" width="186" |
<font face="Times New Roman, serif"><font style="font-size:12pt"><font size="3">Babilônia</font></font></font>
 
|}
 
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<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">O momento de maior riqueza na formulação da perspectiva política que conectava o movimento de favelados à luta de classes foi o II Congresso da entidade, realizado em novembro e dezembro de 1968. Já na sua convocatória, a nova retórica era evidente, conforme indicado pelo documento abaixo:</span></font></span></span></span></span>
 
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<blockquote class="western" style="line-height:150%;  text-align:justify"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="color:#000000">“</span><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">Com o trabalho do homem, a cidade cresce, o progresso aproxima-se das áreas onde você habita, crescendo a cobiça desses lugares, já valorizados. Embora a lei seja igual para todos, sempre vence o mais forte, e surgem as remoções para lugares longínquos, trazendo vários transtornos para o homem que vive de salário. O que será do trabalhador quando a cidade chegar em Vila Aliança e Cidade de Deus? Para onde você vai?”</span>[[#sdfootnote17sym|<span style="color:#000000"><sup>17</sup></span>]]</span></span></font></span></span></blockquote>
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Nesse texto, cujo tom é claramente distinto do pronunciamento da diretoria liderada por Etevaldo, a identificação dos favelados como componentes da classe trabalhadora traz consigo a afirmação da existência de um conflito de interesses. Trata-se da apropriação dos frutos do trabalho de uns, materializado no desenvolvimento urbano, por outros. Para a resolução desse conflito, não bastaria confiar na lei escrita, uma vez que os opositores dos favelados possuiriam meios de dobrá-la a seu favor, o que indica a percepção da associação do Estado ditatorial a determinados interesses sociais.</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><span style="color:#000000"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Em paralelo a esse reenquadramento do sentido da luta pela urbanização, a FAFEG atuava, também, para aproximar o movimento de favelados de outros setores da classe trabalhadora e de outras iniciativas política oposicionistas. Nesse sentido, é importante ressaltar que o II Congresso teve sessões realizadas em espaços cedidos pelos s</span><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">indicatos dos metalúrgicos e dos condutores de veículos rodoviários. Indo além, a Federação também participou da organização do ato de 1</span></span></font><sup><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">o</span></span></font></sup></span><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">de maio de 1968 ao lado de diversas entidades sindicais e estudantis, e de intelectuais e parlamentares, além de ter oferecido esconderijo e/ou espaços de atuação a militantes estudantis e sindicais perseguidos pelo regime</span>[[#sdfootnote18sym|<span style="color:#000000"><sup>18</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></span></font></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Embora expressasse a radicalização de parte significativa da base da FAFEG – o que se traduziu em uma grande presença no II Congresso e na apresentação de inúmeras teses –, o desenvolvimento da perspectiva da luta de classes devia muito à atuação de militantes favelados que participavam de organizações políticas. Dentre as principais lideranças desse período, é possível citar Vicente Mariano, Lúcio de Paula Bispo e José Batista Lira, do Partido Comunista Brasileiro (PCB), José Maria Galdeano, do Movimento Popular de Libertação (MPL), e Abdias José dos Santos – então presidente do Conselho de Representantes da FAFEG –, da Ação Popular (AP).</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">A combinação de retórica combativa e presença de opositores da ditadura não tardou a chamar a atenção do aparato repressivo do Estado. Assim, a vigorosa retomada das remoções no início de 1968, já sob a tutela do governo federal, foi acompanhada de novas prisões arbitrárias. Em fevereiro de 1969, foram presos quatro dirigentes da associação da Ilha das Dragas, uma pequena favela localizada às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. No mês seguinte, quando se iniciava a remoção da favela da Praia do Pinto (entre a Lagoa e o Leblon) os detidos foram três diretores da FAFEG, além do advogado da entidade. Com essas inequívocas demonstrações de força, a ditadura conseguiu intimidar os favelados, abrindo caminho para a remoção, em poucos anos, de todas as favelas do entorno da Lagoa, uma das áreas de maior interesse do capital imobiliário naquele período.</span></font></span></span></span></span>
 
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<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">'''Aliança com o Estado'''</font></span></span></span></span>
 
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<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><span style="color:#000000"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Em consequência da brutal repressão, o grupo político liderado por Vicente Mariano não inscreveu nenhuma chapa na eleição para a diretoria no início de 1971. Assim, foi vitoriosa a chapa única, “União das Favelas”, que trazia Francisco Vicente de Souza (do Parque União) como presidente e Etevaldo como 1</span></font><sup><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">o</span></font></sup></span><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">vice-presidente</span>[[#sdfootnote19sym|<span style="color:#000000"><sup>19</sup></span>]]<span style="color:#000000">. Com esse resultado, alterou-se uma vez mais a orientação política predominante na FAFEG, retornando a ênfase na especificidade dos favelados e o tratamento particularista da questão habitacional.</span></span></font></span></span></span>
 
<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">Ao longo da gestão, a figura do presidente ficou relegada a um segundo plano, em função do destaque conseguido por Etevaldo em suas movimentações políticas. Na nova conjuntura, deixando de lado a declaração explícita da adesão à Doutrina Social Cristão, ele apostou na aproximação em relação ao Estado como principal via de ação, mesmo ainda se tratando de um período de ditadura. Nesse sentido, propôs a “(...) criação de um decreto governamental, obrigando o morador de favelas a filiar-se às Associações, medida essa que tornaria muito mais rápida a solução de problemas de moradores não esclarecidos”</span>[[#sdfootnote20sym|<span style="color:#000000"><sup>20</sup></span>]]<span style="color:#000000">, além de defender que os favelados lançassem candidatos à Assembleia Legislativa da Guanabara. Coerente com essa proposta, em 1970, ele mesmo se candidatou pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o partido de sustentação da ditadura, obtendo apenas 575 votos.</span></span></font></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">Politicamente, o mandato se encerrou com a realização do III Congresso da entidade, entre outubro e dezembro de 1972. Embora tenha reafirmado as deliberações em favor da urbanização e contra a remoção, foi abandonada a reivindicação do II Congresso de que os favelados tivessem garantida a propriedade das terras que ocupavam sem qualquer custo.</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal"><span style="color:#000000">Em janeiro do ano seguinte, novas eleições conduziram Jonas Rodrigues à presidência da Federação. Fortemente articulado ao grupo do governador Antônio de Pádua Chagas Freitas (da ala mais colaboracionista do Movimento Democrático Brasileiro – MDB), Jonas instituiu um modelo clientelista de atuação, caracterizado pelo baixíssimo grau de mobilização coletiva. Em lugar da ação das bases, sua gestão apostou quase inteiramente em negociações diretas com secretários de governo, parlamentares e responsáveis pelos órgãos estatais. Nesse projeto, contou com o apoio de Francisco Vicente de Souza, que passara a ocupar a posição de presidente do Conselho de Representantes. Por meio dessa aliança, os dois dirigiram a Federação até 1978, sendo responsáveis pela condução da transição para a FAFERJ</span>[[#sdfootnote21sym|<span style="color:#000000"><sup>21</sup></span>]]<span style="color:#000000">.</span></span></font></span></span></span>
 
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<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">'''Bibliografia'''</font></span></span></span></span>
 
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<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">LIMA, Lucas Pedretti. </span>''<span style="font-weight:normal">A polícia política sobe o morro: as favelas cariocas no arquivo do DOPS (1964-1983).</span>''<span style="font-weight:normal">Monografia de Conclusão de Curso de Graduação em História. Rio de Janeiro: PUC, 2015.</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">LIMA, Nísia Verônica Trindade. </span>''<span style="font-weight:normal">O movimento de favelados do Rio de Janeiro – políticas do Estado e lutas sociais (1954-1973)</span>''<span style="font-weight:normal">. Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1989.</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">OAKIM, Juliana. </span>''<span style="font-weight:normal">“Urbanização sim, remoção não”. A atuação da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara nas décadas de 1960 e 1970.</span>''<span style="font-weight:normal">Dissertação de Mestrado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2014.</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">PESTANA, Marco Marques. </span>''<span style="font-weight:normal">Ampliação seletiva do Estado e remoções de favelas no Rio de Janeiro: embates entre empresariado do setor imobiliário e movimento de favelados (1957-1973).</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Tese de Doutorado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2018.</span></span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">SANTOS, Eladir Fátima N. dos. </span>''<span style="font-weight:normal">E por falar em FAFERJ… Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (1963-1993) – memória e história oral.</span>''<span style="font-weight:normal">Dissertação de Mestrado em Memória Social. Rio de Janeiro: PPGMS/UNIRIO, 2009.</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="text-decoration:none"><span style="font-weight:normal">SILVA, Humberto Salustriano da.</span></span></span><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="text-decoration:none">'''</span></span></font>''<span style="text-decoration:none"><span style="font-weight:normal">Organização e resistência popular em torno das políticas públicas de remoção: a experiência da FAFEG (Federação de Favelas do Estado da Guanabara) – 1963-1975.</span></span>''<span style="font-style:normal"><span style="text-decoration:none"><span style="font-weight:normal">Monografia de Conclusão de Curso de Bacharelado em História. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.</span></span></span></font></span></span></span></span>
 
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<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">'''Fontes'''</font></span></span></span></span>
 
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<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">ARQUIVO NACIONAL (AN). Fundo: Serviço Nacional de Informações (SNI).</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-weight:normal">ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (APERJ). Fundo: Polícias Políticas.</span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">''<span style="font-weight:normal">Correio da Manhã.</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Rio de Janeiro. 1964-1971.</span></span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">''<span style="font-weight:normal">Diário Carioca.</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Rio de Janeiro. 1963.</span></span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">''<span style="font-weight:normal">Diário de Notícias.</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Rio de Janeiro. 1972.</span></span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt">''<span style="font-weight:normal">Jornal do Brasil.</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Rio de Janeiro. 1968.</span></span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro.</span></span></font></span></span></span></span>
 
<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="line-height:150%"><font style="font-size:12pt"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">SECRETARIA ESPECIAL DA REGIÃO SUDESTE (SERSE)/ MINISTÉRIO DO INTERIOR (MINTER); CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS (CBCISS).</span></span>''<span style="font-weight:normal">Movimentos sociais e desenvolvimento de comunidade. 1</span>''</font><sup><font style="font-size:12pt">''<span style="font-weight:normal">o</span>''</font></sup><font style="font-size:12pt">''<span style="font-weight:normal">Ciclo de Estudos e Reflexões.</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Rio de Janeiro: 1987.</span></span></font></span></span></span></span>
 
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<span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif">'''Notas:'''</span></span>
 
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<div id="sdfootnote1">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote1anc|<span style="color:#000000">1</span>]]<span style="color:#000000">“Relação das associações de favelas do Estado do Rio de Janeiro”. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro. pp.1-2.; “Favelados querem definir remoção mesmo sob ameaça”. ''Correio da Manhã.'' Rio de Janeiro. 25/08/1968. p.16.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote2">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote2anc|<span style="color:#000000">2</span>]]<span style="color:#000000">“Estatuto da Federação de Associações de Favelas do Estado da Guanabara”. 1963. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote3">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote3anc|<span style="color:#000000">3</span>]]<span style="color:#000000"><font style="font-size:10pt"><span style="font-weight:normal">OAKIM, Juliana. “Urbanização sim, remoção não”. A atuação da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara nas décadas de 1960 e 1970. Dissertação de Mestrado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2014. pp.36-40.</span></font></span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote4">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote4anc|<span style="color:#000000">4</span>]]<span style="color:#000000">“Estatuto da Federação de Associações de Favelas do Estado da Guanabara”. 1963. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote5">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote5anc|<span style="color:#000000">5</span>]]<span style="color:#000000">“Estatuto da Federação de Associações de Favelas do Estado da Guanabara”. 1963. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote6">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote6anc|<span style="color:#000000">6</span>]]<span style="color:#000000">“Relação dos membros da Diretoria da F.A.F.E.G.”. 1963. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro. pp.1-2.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote7">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote7anc|<span style="color:#000000">7</span>]]<span style="color:#000000"><font style="font-size:10pt"><span style="font-weight:normal">PESTANA, Marco Marques. </span>''<span style="font-weight:normal">Ampliação seletiva do Estado e remoções de favelas no Rio de Janeiro: embates entre empresariado do setor imobiliário e movimento de favelados (1957-1973).</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Tese de Doutorado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2018.</span></span> p.195.</font></span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote8">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote8anc|<span style="color:#000000">8</span>]]<span style="color:#000000">IDEM. ''Ibidem.'' pp.185-191.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote9">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote9anc|<span style="color:#000000">9</span>]]<span style="color:#000000"><span style="font-style:normal">“JK e os favelados”.</span> ''Diário Carioca.'' Rio de Janeiro. 30/11/1963. p.12.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote10">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote10anc|<span style="color:#000000">10</span>]]<span style="color:#000000"><font style="font-size:10pt"><span style="font-weight:normal">“Salve o Congresso dos Favelados da Guanabara”. APERJ. Fundo Polícias Políticas. Notação: Diversos 32, Dossiê 3. p.2.; </span><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">SERSE/MINTER; CBCISS.</span></span>''<span style="font-weight:normal">Movimentos sociais e desenvolvimento de comunidade. 1</span>''</font><sup><font style="font-size:10pt">''<span style="font-weight:normal">o</span>''</font></sup><font style="font-size:10pt">''<span style="font-weight:normal">Ciclo de Estudos e Reflexões.</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Rio de Janeiro: 1987.;</span></span><span style="font-weight:normal">“Favelados decidem contra a remoção”. </span>''<span style="font-weight:normal">Correio da Manhã.</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">Rio de Janeiro. 29/10/1964. p.10.</span></span></font></span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote11">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote11anc|<span style="color:#000000">11</span>]]<span style="color:#000000">“Reunião de favelados finda hoje na PUC: Castelo é convidado”. ''Diário Carioca.'' Rio de Janeiro. 31/10/1964. p.9.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote12">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote12anc|<span style="color:#000000">12</span>]]<span style="color:#000000"><font style="font-size:10pt"><span style="font-weight:normal">PESTANA, Marco Marques. </span>''<span style="font-weight:normal">Ampliação seletiva do Estado… Op. Cit.</span>''</font> pp.172-174.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote13">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote13anc|<span style="color:#000000">13</span>]]<span style="color:#000000">“Declaração”; “A quem interessar”. APERJ. Fundo Polícias Políticas. Notação: Prontuário GB 3.902. fls.17-18.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote14">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote14anc|<span style="color:#000000">14</span>]]<span style="color:#000000">“Entidade favelada elege a diretoria”. ''Correio da Manhã. ''<span style="font-style:normal">Rio de Janeiro. 02/02/1965. p.3.; “Superintendência executiva”. APERJ. Fundo Polícias Políticas. Notação: Informações 75. s.n.</span></span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote15">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote15anc|<span style="color:#000000">15</span>]]<span style="color:#000000"><span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">OAKIM, Juliana.</span></span>''<span style="font-weight:normal">“</span>Urbanização sim, remoção não”… Op. Cit. ''<span style="font-style:normal">pp.91-92.</span></span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote16">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote16anc|<span style="color:#000000">16</span>]]<span style="color:#000000">“I Encontro de Desenvolvimento da FAFEG – Relatório das conclusões”. APERJ. Fundo Polícias Políticas. Notação: Sindicatos 19. fl.26.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote17">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote17anc|<span style="color:#000000">17</span>]]<span style="color:#000000">“Favelados se preparam para lutar contra a sua remoção”. ''Jornal do Brasil. ''<span style="font-style:normal">Rio de Janeiro.</span> 03/11/1968. p.19.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote18">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always"><span style="color:#000000"> </span>[[#sdfootnote18anc|<span style="color:#000000">18</span>]]<span style="color:#000000"><span style="font-style:normal">“Comício contra salário baixo”. </span>''Correio da Manhã.''<span style="font-style:normal">Rio de Janeiro. 01/05/1968. p.18. “Informes N</span><sup><span style="font-style:normal">o</span></sup><span style="font-style:normal">37”. AN. Fundo: SNI. Notação: <span style="font-weight:normal">ARJ_ACE_8509_68</span>. pp.25-30.; <span style="font-weight:normal">OAKIM, Juliana.</span></span>''<span style="font-weight:normal">“Urbanização sim, remoção não”… Op. Cit.</span>''<span style="font-style:normal"><span style="font-weight:normal">pp.94-95.</span></span></span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote19">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote19anc|<span style="color:#000000">19</span>]]<span style="color:#000000">“Federação de favelas” [nota na coluna “Indicador”]. ''Correio da Manhã.'' Rio de Janeiro. 23/01/1971. p.15 do Jornal de Serviço.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote20">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote20anc|<span style="color:#000000">20</span>]]<span style="color:#000000">“Congresso de Favelas vai debater habitação no encontro do Borel”. ''Diário de Notícias.'' Rio de Janeiro. 05/11/1972. p.3.</span></span></span></span>
</div> <div id="sdfootnote21">
<span style="font-size:small"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote21anc|<span style="color:#000000">21</span>]]<span style="color:#000000"><font style="font-size:10pt"><span style="font-weight:normal">PESTANA, Marco Marques. </span>''<span style="font-weight:normal">Ampliação seletiva do Estado… Op. Cit.</span>''</font> pp.221-222.</span></span></span></span>
 
&nbsp;
<p class="sdfootnote-western" style="text-align: right">'''<span style="color:#000000"><span style="font-size:medium"><span style="font-family:Times New Roman,Times,serif"><span style="page-break-before:always">Marco Marques Pestana</span></span></span></span>'''</p> </div>

Edição das 15h09min de 5 de abril de 2019

O período de existência formal da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara se inicia com a fundação em julho de 1963 e se encerra com a transformação em Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ), em maio de 1975, a qual continuou sua trajetória com uma base territorial ampliada. Ao longo de quase doze anos de existência, a FAFEG priorizou a luta contra a política de remoções sistemáticas de favelas, implementada na Guanabara a partir de meados de 1962. A sintomia dessa linha de atuação com as preocupações da maioria dos moradores de favelas do período, é evidenciada pelo fato de que as 28 associações fundadoras em 1963, se tornaram, já em 1968, cerca de 80 entidades filiadas1.

A filiação de novas associações tinha importância crucial, pois significava a possibilidade de expansão do alcance da Federação. Afinal, seus estatutos eram organizados a partir da lógica da representação por favela. Às associações locais eram atribuídas todas as responsabilidades, direitos e deveres no âmbito da FAFEG, e não a indivíduos. Eram elas que se filiavam à federação, que contribuíam financeiramente e que votavam nas eleições e nas assembleias gerais. A lógica federativa manifestava-se, até mesmo, na organização das chapas que concorressem à diretoria, nas quais era vedada a inscrição de mais de um morador de uma mesma favela2.

Em diferentes momentos, a entidade se valeu de distintas táticas e métodos de atuação, que eram combinados de formas variadas. Essa variação, em larga medida, pode ser explicada pelos limites impostos pelas oscilações da situação política na qual os favelados precisavam atuar. Entretanto, igualmente importantes foram as disputas internas à FAFEG. Tais disputas se organizaram em torno de dois polos fundamentais: enquanto um deles propunha a compreensão da luta dos favelados como parte do conjunto de questões relativas ao cotidiano da classe trabalhadora, o outro defendia que a temática das favelas deveria ser tratada em sua especificidade. Nos tópicos a seguir, apresentarei uma síntese da trajetória da FAFEG estruturada a partir dos embates entre essas duas perspectivas.

 

Da fundação à diretoria provisória

 

A fundação da FAFEG inaugurou uma nova fase no movimento de favelados carioca. Entretanto, a escassez de fontes dificulta a determinação do sentido exato da ruptura produzida. Conforme destacou Juliana Oakim, existem numerosas versões para explicar a criação da entidade: para alguns, seria um esforço de superação dos currais eleitorais que políticos profissionais estabeleciam em favelas da cidade, controlando as associações locais; para outros, se tratava de buscar alternativas ao que se entendia como um indevido envolvimento das demais federações de favelados com a política partidária (como a União dos Trabalhadores Favelados e a Coligação dos Trabalhadores Favelados – UTF e CTF, respectivamente); outros ainda indicam o predomínio de uma articulação a partir de um movimento conservador intitulado Movimento Rearmamento Moral (MRM), o qual era ligado a grupos que atuavam pela deposição do presidente João Goulart3.

O mais provável é que, em alguma medida, todos esses elementos estivessem presentes em uma complexa combinação. Indícios dessa possibilidade são encontrados já nos estatutos da entidade. No parágrafo 1odo artigo 27o, por exemplo, afirmava:

 

É condição essencial para concorrer às eleições da F.A.F.E.G. para a Diretoria, ou ser nomeado para os departamentos, que o candidato resida efetivamente em uma favela do Estado da Guanabara, sendo destituído do cargo todo o Diretor da F.A.F.E.G. que deixar de residir numa favela”4.

 

Considerando-se o panorama do movimento de favelas naquele período, esse requisito pode ser lido como uma tentativa de evitar que se configurasse um cenário como a da União dos Trabalhadores Favelados, em que o advogado Antoine de Magarinos Torres, sem residir em nenhuma favela, ocupava cargos de grande importância na diretoria. Já o artigo 7o, apresentava como um dos deveres das filiadas o de “não discutir política partidária, religião ou ideologia na F.A.F.E.G.” (itálico meu)5, o que, por sua vez, pode ser compreendido como uma rejeição ao papel cumprido pela cúpula do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na organização da CTF, ou mesmo às interferências de políticos clientelistas sobre inúmeras associações locais de favelas.

Por fim, também há indícios capazes de validar, em certa medida, a hipótese que conecta a fundação da FAFEG à atuação Rearmamento Moral. Na composição da diretoria provisória, empossada na fundação da entidade, havia, pelo menos, um militante cujos laços com o MRM naquele período são incontestes, Etevaldo de Oliveira. O quadro abaixo apresenta a toda a composição da diretoria:

  /> /> />

Quadro 3.1 – Diretoria provisória da FAFEG de 10/08/1963 a 04/19646

Cargo

Diretor

Favela

Presidente

Amaro Júlio Martins

Telégrafos

1oVice-presidente

Antônio Almiro de Souza

Borel

2oVice-presidente

Etevaldo Justino de Oliveira

Bispo 117

1oTesoureiro

João Miguel da Silva

Manguinhos

2oTesoureiro

José Luiz da Silva

Manguinhos

1oSecretário

Feliciano da Silva Neves

Barreira do Vasco

2oSecretário

Francisco Xavier de Farias

 

3oSecretário

José Maria Ventura

Telégrafos

 

Tendo conhecido o líder do MRM no Rio de Janeiro em princípios de 1963, Etevaldo desemprenhou importantes tarefas para o movimento nos anos seguintes, inclusive, representando-o em outros estados. Para além disso, frequentou cursos de formação de sindicalistas organizados pela Confederação Brasileira dos Trabalhadores Cristãos (CBTC). Naquele momento histórico, tais instituições alcançaram uma articulação política e ideológica por meio do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), que desempenhou papel-chave no golpe que derrubou João Goulart e na estruturação do regime ditatorial então instalado7.

Os vínculos do campo que orbitava em torno do IPES com a FAFEG assumiram, também, contornos institucionais. Nesse sentido, é possível mencionar tanto o patrocínio de empresas ligadas ao IPES (McCann Erikson, CDTC e Ducal) ao programa de rádio mantido pela Federação no período 1963-1965, quanto o fato de que a primeira sede da entidade foi instalada em espaço pertencente à CBTC, a qual recebia financiamento direto do próprio IPES8.

Mesmo com todo o aparato mobilizado, não foi possível a esse bloco estabelecer um controle direto sobre as ações da FAFEG. Em novembro de 1963, a diretoria da entidade esteve representada em reunião do Departamento de Favelas do Comitê Nacional JK-65. Tal comitê era parte do esforço de construção da candidatura presidencial de Juscelino Kubitschek, que concorreria nas eleições previstas para 19659. Embora não se tratasse de um radical, ou mesmo de um candidato claramente identificado com a esquerda, JK um aliado preferencial do bloco organizado em torno do IPES, inserindo-se em outra tradição política ligada às classes dominantes.

A existência dessa pluralidade de forças políticas na FAFEG não impediu que a diretoria provisória se posicionasse unitariamente contra a remoção da favela do Pasmado, a primeira grande intervenção realizada pelo governador Carlos Lacerda (União Democrática Nacional – UDN). Apesar disso, ainda em seus primeiros momentos de existência, a Federação não teve destaque nessa mobilização, que seria derrotada com a realização da remoção a partir de dezembro de 1963.

Poucos meses depois, com o golpe de 1964, estariam dadas novas condições para o aprofundamento da política remocionista. Em paralelo, a FAFEG entraria em nova fase.

 

A afirmação da Doutrina Social Cristã

 

Imediatamente após o golpe que depôs João Goulart, o presidente da FAFEG, Amaro Martins, apresentou sua carta de renúncia e abandonou a militância na Federação, provavelmente, por temor da repressão posta em movimento pela ditadura recém-instalada. A partir de então, a presidência da entidade foi assumida por Etevaldo Oliveira, que completou o mandato da diretoria provisória na companhia de uma nova equipe:

  /> /> />

Quadro 3.2 – Diretoria da FAFEG de 04/1964 a 01/196510

Cargo

Diretor

Favela

Presidente

Etevaldo Justino de Oliveira

Bispo 117

1oVice-presidente

Tupan Bento

Coroa

2oVice-presidente

Hélio Luiz Martins

Catacumba

1oTesoureiro

Sílvio Alcântara Barbosa

Catumbi

2oTesoureiro

 

 

1oSecretário

Maurílio José Rosa

Catumbi

2oSecretário

Aquilino Alves Pereira

 

3oSecretário

Sebastião Alfredo dos Santos

 

Diretor Social*

José Pereira

 

Coordenador*

Germano Cordeiro

 

Coordenador*

Joel Pinto da Fonseca

 

Coordenador*

Luiz Florêncio da Silva

 

* Cargos não previstos nos estatutos.

 

Com a ascensão de Etevaldo e a presença de outros militantes ligados ao Rearmamento Moral, como Tupan Bento, as linhas de ação da entidade passariam a expressar mais diretamente as concepções do próprio MRM e da CBTC. Essas concepções ficaram claras em declaração dada por Etevaldo durante o I Congresso da FAFEG, realizado em outubro de 1964:

 

O presidente da FAFEG, sr. Etevaldo Justino de Oliveira, declarou: ‘Visamos, por todos os meios, ao bem-estar das pessoas humildes, moradoras em favelas, e que a sociedade condena e humilha. Queremos mostrar que o favelado não pode ser julgado como um bicho, só porque outros habitantes dos morros são marginais’”11.

 

Conforme fica claro, a base desse posicionamento é a dimensão moral, secundarizando a perspectiva política. Assim, os favelados são apresentados simplesmente como “pessoas humildes”, não havendo nenhuma relação entre a sua condição de classe, como trabalhadores, e a precariedade enfrentada nos locais de moradia. A condição social dos favelados seria definida unicamente pelo fato de habitarem em favelas, o que colocava em primeiro plano a dicotomia favela/asfalto. Em decorrência dessa compreensão, a sua mobilização era encarada como sendo voltada para a obtenção do mesmo tratamento dispensado às demais pessoas. A urbanização reivindicada era, portanto, compreendida como o caminho para a restauração de sua “dignidade”, o que significaria uma afirmação plena de sua humanidade. Em lugar do embate entre classes sociais, tal como proposto pela UTF, por exemplo, surgia a imagem de uma humanidade idealmente unida.

Mesmo valendo-se dessa retórica conciliadora, o I Congresso (que foi materialmente apoiado pelo MRM e pela CBTC) tomou algumas decisões importantes, com destaque para a defesa da priorização da urbanização das favelas e a rejeição das remoções. Sustentada por esse posicionamento coletivo, a diretoria da FAFEG atuou de maneira mais incisiva frente à nova onda de remoções do governo de Lacerda no final de 1964. Assim, nessa conjuntura, se a entidade teve pouca participação na mobilização dos moradores de Brás de Pina, que conseguiram impedir a remoção total, por outro lado, esteve na linha de frente da resistência da favela do Esqueleto.

Foi nessa favela que a Federação começou a desenvolver o repertório de práticas que seria mobilizado, com algumas variações, em outras oportunidades. Nesse roteiro, a atuação começava pelo estabelecimento de contato direto com a diretoria da entidade local, junto à qual era organizada uma assembleia. A partir da assembleia, eram detonadas duas vias principais de ação: enquanto um grupo estruturava um plano viável de urbanização local para ser apresentado às autoridades e à imprensa, outros ficavam responsáveis pela organização de um plebiscito, no qual todos os moradores da favela poderiam optar entre remoção e urbanização. Dessa forma, buscava-se conferir um embasamento técnico à reivindicação, ao mesmo tempo em que se buscava fortalecê-la politicamente pela demonstração da coesão da população local, via plebiscito.

No início de dezembro, entretanto, esses esforços foram interrompidos pela prisão de Etevaldo na saída da rádio onde gravava o programa da FAFEG. Levado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), ele permaneceu incomunicável por dias, até que foi liberado sem acusação formal. Intimidados por esse procedimento e por ameaças que receberam, os demais líderes da resistência no Esqueleto abandonaram o projeto do plebiscito e a remoção da favela se consumou em 196512.

Com essas ações, a ditadura indicava claramente que toda mobilização popular – independentemente da orientação política de suas lideranças – era vista como potencialmente perigosa para o regime e, portanto, indesejável. Ainda assim, os laços mantidos por Etevaldo com instituições que haviam apoiado o golpe de 1964 não foram inteiramente desconsiderados, na medida em que as declarações de líderes do MRM e da CBTC, que abonavam a sua conduta pessoal, foram consideradas pela polícia política em sua decisão de liberá-lo13.

 

Luta de classes e oposição à ditadura

 

Em janeiro de 1965, pouco após a prisão de Etevaldo, a nova diretoria da FAFEG foi escolhida em uma eleição. Com a situação dividida em duas chapas, a vitória coube ao setor oposicionista. A composição da nova diretoria está expressa no quadro a seguir:

  /> /> />

Quadro 3.3 – Diretoria da FAFEG de 01/1965 a 01/196714

Cargo

Nome

Favela

Presidente

João José Marcolino

Catumbi

1oVice-Presidente

João Pereira da Silva

Pavão

2oVice-Presidente

Vicente Ferreira Mariano

São Carlos

1oTesoureiro

Almir Ricardo

Prazeres

2oTesoureiro

Lázaro Franco

Salgueiro

1oSecretário

Valdevino do Nascimento

Querosene

2oSecretário

Jamildo Mendonça

Formiga

3oSecretário

José Maria Galdeano

Bispo 117

 

Dentre os eleitos, chama a atenção a presença de inúmeros militantes (Marcolino, Vicente, Almir e Galdeano) que, em 1963, compunham a diretoria da Coligação dos Trabalhadores Favelados, outra entidade federativa do movimento de favelas. Embora inicialmente marcada por uma atuação bastante discreta – centrada no envio de documentos às autoridades estaduais –, a partir de 1966, a nova gestão começou a indicar mais claramente o sentido da ruptura que buscava imprimir na condução da FAFEG. Assim, em resposta ao fortalecimento do discurso remocionista – que se valia dos desabamentos causados pelas chuvas para voltar à carga após o término do governo de Lacerda –, a diretoria da Federação passou a defender a urbanização das favelas enfatizando a condição de seus moradores como membros da classe trabalhadora. Dessa forma, as suas mobilizações eram apresentadas como uma manifestação da luta de classes, assumindo, também, uma posição de crítica mais aberta à ditadura.

Esse posicionamento ficou ainda mais forte nas duas gestões subsequentes, eleitas em 1967 e 1969, nas quais Vicente Ferreira Mariano assumiu a presidência da FAFEG. A composição dessas diretorias é apresentada a seguir:

  /> /> />

Quadro 3.4 – Diretoria da FAFEG de 01/1967 a 01/196915

Cargo

Nome

Favela

Presidente

Vicente Ferreira Mariano

São Carlos

1oVice-Presidente

Amilton Marcolino

 

2oVice-Presidente

Antônio Cavalcante

 

1oTesoureiro

Maurílio José Rosa

Catumbi

2oTesoureiro

Jamildo Mendonça

 

1oSecretário

José Maria Galdeano

Bispo 117

2oSecretário

Reinaldo Ruffino

 

3oSecretário

Marcolino Luís da Silva

 

  /> /> />

Quadro 3.5 – Diretoria da FAFEG em 08/197016

Cargo

Nome

Favela

Presidente

Vicente Ferreira Mariano

São Carlos

1oVice-Presidente

Lúcio de Paula Bispo

Chapéu Mangueira

1oTesoureiro

José Batista Lira

Borel

2oTesoureiro

Miguel Geraldo

Brás de Pina

1oSecretário

Maurílio José Rosa

Catumbi

2oSecretário

Neusa Mendonça

Babilônia

 

O momento de maior riqueza na formulação da perspectiva política que conectava o movimento de favelados à luta de classes foi o II Congresso da entidade, realizado em novembro e dezembro de 1968. Já na sua convocatória, a nova retórica era evidente, conforme indicado pelo documento abaixo:

 

Com o trabalho do homem, a cidade cresce, o progresso aproxima-se das áreas onde você habita, crescendo a cobiça desses lugares, já valorizados. Embora a lei seja igual para todos, sempre vence o mais forte, e surgem as remoções para lugares longínquos, trazendo vários transtornos para o homem que vive de salário. O que será do trabalhador quando a cidade chegar em Vila Aliança e Cidade de Deus? Para onde você vai?”17

Nesse texto, cujo tom é claramente distinto do pronunciamento da diretoria liderada por Etevaldo, a identificação dos favelados como componentes da classe trabalhadora traz consigo a afirmação da existência de um conflito de interesses. Trata-se da apropriação dos frutos do trabalho de uns, materializado no desenvolvimento urbano, por outros. Para a resolução desse conflito, não bastaria confiar na lei escrita, uma vez que os opositores dos favelados possuiriam meios de dobrá-la a seu favor, o que indica a percepção da associação do Estado ditatorial a determinados interesses sociais.

Em paralelo a esse reenquadramento do sentido da luta pela urbanização, a FAFEG atuava, também, para aproximar o movimento de favelados de outros setores da classe trabalhadora e de outras iniciativas política oposicionistas. Nesse sentido, é importante ressaltar que o II Congresso teve sessões realizadas em espaços cedidos pelos sindicatos dos metalúrgicos e dos condutores de veículos rodoviários. Indo além, a Federação também participou da organização do ato de 1ode maio de 1968 ao lado de diversas entidades sindicais e estudantis, e de intelectuais e parlamentares, além de ter oferecido esconderijo e/ou espaços de atuação a militantes estudantis e sindicais perseguidos pelo regime18.

Embora expressasse a radicalização de parte significativa da base da FAFEG – o que se traduziu em uma grande presença no II Congresso e na apresentação de inúmeras teses –, o desenvolvimento da perspectiva da luta de classes devia muito à atuação de militantes favelados que participavam de organizações políticas. Dentre as principais lideranças desse período, é possível citar Vicente Mariano, Lúcio de Paula Bispo e José Batista Lira, do Partido Comunista Brasileiro (PCB), José Maria Galdeano, do Movimento Popular de Libertação (MPL), e Abdias José dos Santos – então presidente do Conselho de Representantes da FAFEG –, da Ação Popular (AP).

A combinação de retórica combativa e presença de opositores da ditadura não tardou a chamar a atenção do aparato repressivo do Estado. Assim, a vigorosa retomada das remoções no início de 1968, já sob a tutela do governo federal, foi acompanhada de novas prisões arbitrárias. Em fevereiro de 1969, foram presos quatro dirigentes da associação da Ilha das Dragas, uma pequena favela localizada às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. No mês seguinte, quando se iniciava a remoção da favela da Praia do Pinto (entre a Lagoa e o Leblon) os detidos foram três diretores da FAFEG, além do advogado da entidade. Com essas inequívocas demonstrações de força, a ditadura conseguiu intimidar os favelados, abrindo caminho para a remoção, em poucos anos, de todas as favelas do entorno da Lagoa, uma das áreas de maior interesse do capital imobiliário naquele período.

 

Aliança com o Estado

 

Em consequência da brutal repressão, o grupo político liderado por Vicente Mariano não inscreveu nenhuma chapa na eleição para a diretoria no início de 1971. Assim, foi vitoriosa a chapa única, “União das Favelas”, que trazia Francisco Vicente de Souza (do Parque União) como presidente e Etevaldo como 1ovice-presidente19. Com esse resultado, alterou-se uma vez mais a orientação política predominante na FAFEG, retornando a ênfase na especificidade dos favelados e o tratamento particularista da questão habitacional.

Ao longo da gestão, a figura do presidente ficou relegada a um segundo plano, em função do destaque conseguido por Etevaldo em suas movimentações políticas. Na nova conjuntura, deixando de lado a declaração explícita da adesão à Doutrina Social Cristão, ele apostou na aproximação em relação ao Estado como principal via de ação, mesmo ainda se tratando de um período de ditadura. Nesse sentido, propôs a “(...) criação de um decreto governamental, obrigando o morador de favelas a filiar-se às Associações, medida essa que tornaria muito mais rápida a solução de problemas de moradores não esclarecidos”20, além de defender que os favelados lançassem candidatos à Assembleia Legislativa da Guanabara. Coerente com essa proposta, em 1970, ele mesmo se candidatou pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o partido de sustentação da ditadura, obtendo apenas 575 votos.

Politicamente, o mandato se encerrou com a realização do III Congresso da entidade, entre outubro e dezembro de 1972. Embora tenha reafirmado as deliberações em favor da urbanização e contra a remoção, foi abandonada a reivindicação do II Congresso de que os favelados tivessem garantida a propriedade das terras que ocupavam sem qualquer custo.

Em janeiro do ano seguinte, novas eleições conduziram Jonas Rodrigues à presidência da Federação. Fortemente articulado ao grupo do governador Antônio de Pádua Chagas Freitas (da ala mais colaboracionista do Movimento Democrático Brasileiro – MDB), Jonas instituiu um modelo clientelista de atuação, caracterizado pelo baixíssimo grau de mobilização coletiva. Em lugar da ação das bases, sua gestão apostou quase inteiramente em negociações diretas com secretários de governo, parlamentares e responsáveis pelos órgãos estatais. Nesse projeto, contou com o apoio de Francisco Vicente de Souza, que passara a ocupar a posição de presidente do Conselho de Representantes. Por meio dessa aliança, os dois dirigiram a Federação até 1978, sendo responsáveis pela condução da transição para a FAFERJ21.

 

Bibliografia

 

LIMA, Lucas Pedretti. A polícia política sobe o morro: as favelas cariocas no arquivo do DOPS (1964-1983).Monografia de Conclusão de Curso de Graduação em História. Rio de Janeiro: PUC, 2015.

LIMA, Nísia Verônica Trindade. O movimento de favelados do Rio de Janeiro – políticas do Estado e lutas sociais (1954-1973). Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1989.

OAKIM, Juliana. “Urbanização sim, remoção não”. A atuação da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara nas décadas de 1960 e 1970.Dissertação de Mestrado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2014.

PESTANA, Marco Marques. Ampliação seletiva do Estado e remoções de favelas no Rio de Janeiro: embates entre empresariado do setor imobiliário e movimento de favelados (1957-1973).Tese de Doutorado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2018.

SANTOS, Eladir Fátima N. dos. E por falar em FAFERJ… Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (1963-1993) – memória e história oral.Dissertação de Mestrado em Memória Social. Rio de Janeiro: PPGMS/UNIRIO, 2009.

SILVA, Humberto Salustriano da.Organização e resistência popular em torno das políticas públicas de remoção: a experiência da FAFEG (Federação de Favelas do Estado da Guanabara) – 1963-1975.Monografia de Conclusão de Curso de Bacharelado em História. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.

 

Fontes

 

ARQUIVO NACIONAL (AN). Fundo: Serviço Nacional de Informações (SNI).

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (APERJ). Fundo: Polícias Políticas.

Correio da Manhã.Rio de Janeiro. 1964-1971.

Diário Carioca.Rio de Janeiro. 1963.

Diário de Notícias.Rio de Janeiro. 1972.

Jornal do Brasil.Rio de Janeiro. 1968.

Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro.

SECRETARIA ESPECIAL DA REGIÃO SUDESTE (SERSE)/ MINISTÉRIO DO INTERIOR (MINTER); CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS (CBCISS).Movimentos sociais e desenvolvimento de comunidade. 1oCiclo de Estudos e Reflexões.Rio de Janeiro: 1987.

 

Notas:

 

1“Relação das associações de favelas do Estado do Rio de Janeiro”. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro. pp.1-2.; “Favelados querem definir remoção mesmo sob ameaça”. Correio da Manhã. Rio de Janeiro. 25/08/1968. p.16.

2“Estatuto da Federação de Associações de Favelas do Estado da Guanabara”. 1963. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro.

3OAKIM, Juliana. “Urbanização sim, remoção não”. A atuação da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara nas décadas de 1960 e 1970. Dissertação de Mestrado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2014. pp.36-40.

4“Estatuto da Federação de Associações de Favelas do Estado da Guanabara”. 1963. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro.

5“Estatuto da Federação de Associações de Favelas do Estado da Guanabara”. 1963. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro.

6“Relação dos membros da Diretoria da F.A.F.E.G.”. 1963. Disponível no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro. pp.1-2.

7PESTANA, Marco Marques. Ampliação seletiva do Estado e remoções de favelas no Rio de Janeiro: embates entre empresariado do setor imobiliário e movimento de favelados (1957-1973).Tese de Doutorado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2018. p.195.

8IDEM. Ibidem. pp.185-191.

9“JK e os favelados”. Diário Carioca. Rio de Janeiro. 30/11/1963. p.12.

10“Salve o Congresso dos Favelados da Guanabara”. APERJ. Fundo Polícias Políticas. Notação: Diversos 32, Dossiê 3. p.2.; SERSE/MINTER; CBCISS.Movimentos sociais e desenvolvimento de comunidade. 1oCiclo de Estudos e Reflexões.Rio de Janeiro: 1987.;“Favelados decidem contra a remoção”. Correio da Manhã.Rio de Janeiro. 29/10/1964. p.10.

11“Reunião de favelados finda hoje na PUC: Castelo é convidado”. Diário Carioca. Rio de Janeiro. 31/10/1964. p.9.

12PESTANA, Marco Marques. Ampliação seletiva do Estado… Op. Cit. pp.172-174.

13“Declaração”; “A quem interessar”. APERJ. Fundo Polícias Políticas. Notação: Prontuário GB 3.902. fls.17-18.

14“Entidade favelada elege a diretoria”. Correio da Manhã. Rio de Janeiro. 02/02/1965. p.3.; “Superintendência executiva”. APERJ. Fundo Polícias Políticas. Notação: Informações 75. s.n.

15OAKIM, Juliana.Urbanização sim, remoção não”… Op. Cit. pp.91-92.

16“I Encontro de Desenvolvimento da FAFEG – Relatório das conclusões”. APERJ. Fundo Polícias Políticas. Notação: Sindicatos 19. fl.26.

17“Favelados se preparam para lutar contra a sua remoção”. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. 03/11/1968. p.19.

18“Comício contra salário baixo”. Correio da Manhã.Rio de Janeiro. 01/05/1968. p.18. “Informes No37”. AN. Fundo: SNI. Notação: ARJ_ACE_8509_68. pp.25-30.; OAKIM, Juliana.“Urbanização sim, remoção não”… Op. Cit.pp.94-95.

19“Federação de favelas” [nota na coluna “Indicador”]. Correio da Manhã. Rio de Janeiro. 23/01/1971. p.15 do Jornal de Serviço.

20“Congresso de Favelas vai debater habitação no encontro do Borel”. Diário de Notícias. Rio de Janeiro. 05/11/1972. p.3.

21PESTANA, Marco Marques. Ampliação seletiva do Estado… Op. Cit. pp.221-222.

 

Marco Marques Pestana