Fundo Agbara

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Somos o primeiro fundo para mulheres negras do Brasil e nossa missão é potencializar o maior número de iniciativas de mulheres negras, viabilizando independência financeira e emocional. Promovemos emancipação socioemocional, geração de renda, inclusão produtiva e desenvolvimento comunitário.

Autoria: Informações do verbete reproduzidas, pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de redes de comunicação oficiais do coletivo
Fundo Agbara (Campinas – SP)
Fundo Agbara (Campinas – SP)

Sobre[editar | editar código-fonte]

Fundo Agbara (Campinas – SP) - Sobre

Este é um projeto que começa de forma singela, mas é cheio de vontade e firmeza.

As hashtags #vidasnegrasimportam estão aí nos trendingtopics, mas a verdade é que pessoas negras continuam sendo as que mais sofrem com um racismo estrutural que designa a nós cargos desvalorizados e sub-remunerados, algo que se aprofunda a cada crise econômica, enquanto os boletos continuam chegando em territórios onde morar, viver, comer, se tornaram itens extremamente caros. Na sociedade capitalista, empoderar, também diz respeito a conseguir gerar sua própria renda, e todes sabemos que ficar sem dinheiro mexe com nosso humor e autoestima.

A ideia, então, é impulsionar mulheres negras, empreendedoras ou não, em seus projetos pessoais ou profissionais, trazendo pequenas mudanças positivas em suas vidas, além de possibilitar às pessoas que têm vontade de fortalecer projetos, essa conexão facilitada com as pessoas que estejam precisando.

Como funciona?

Pessoas que queiram ser parceiras do projeto firmarão o compromisso de doar o valor mínimo de $20 por mês, e o valor arrecadado será entregue a uma mulher diferente a cada mês. Fique a vontade para aumentar esse valor mínimo quando quiser. O projeto terá duração inicial de 12 meses e acontecerá em Campinas/SP.

A princípio, contemplaremos mensalmente *uma* mulher negra que esteja precisando dessa força potente.

Em breve, abriremos inscrições no Instagram informando os pré-requisitos para a seleção de mulheres negras que desejem ser contempladas.

Esse projeto não tem fim lucrativo e as contas serão prestadas na página do Instagram uma vez ao mês. Queremos deixar evidente que pessoas parceiras não receberão o valor no final e não receberão nada em troca senão a incrível oportunidade de fortalecer projetos de mulheres negras.

Caso tenha interesse em se tornar pessoa parceira do projeto, entre em contato através do e-mail falecomprojetoagbara@gmail.com ou pelo

Whatsapp 19-982680583 (Aline) ou 19-987127823 (Fabiana)

Agô!


Propósitos[editar | editar código-fonte]

Missão[editar | editar código-fonte]

Resistência, Autocuidado, Afeto.

Visão[editar | editar código-fonte]

Equidade; Cultura; Liberdade.

Valores[editar | editar código-fonte]

Solidariedade; Sororidade; Saúde.

O que é o Agbara?[editar | editar código-fonte]

Fundo Agbara (Campinas – SP) O que é?

Consiste em um fundo filantrópico para Equidade Racial e de Gênero, que, a cada mês, potencializa iniciativas de mulheres negras com aportes financeiros de até R$1.000 e incubação dessas iniciativas com (mentorias, assessorias e formações técnicas. O Fundo Agbara surge como resposta à falta de políticas públicas direcionadas ao fortalecimento e autonomia de mulheres negras e suas comunidades.

É importante ressaltar que o Fundo Agbara não tem como intuito promover ações de caridade, tampouco se resume em doações em dinheiro, uma vez que sua concepção teve como premissa a elaboração de ações contínuas e cotidianas de combate efetivo do racismo institucional e estrutural. Em épocas de campanhas que dizem que #vidasnegrasimportam, fomentar iniciativas de mulheres negras é importante não apenas para combater o racismo sistêmico que as priva de acesso, mas também para revigorar a autoestima dessas mulheres, ajudá-las a ter independência financeira para que consigam, por exemplo, se libertar de relações abusivas e ciclos de violência em suas vidas íntimas, além de incentivar seus sonhos.

Como sabemos, mulheres nunca pensam apenas em si, e quando você as fortalece, especialmente as negras, fortalece também uma rede de no mínimo quatro pessoas que orbitam estas mulheres, pois elas vivem de maneira verdadeira práticas de coletividade! O Fundo Agbara, então, torna-se uma ferramenta possível para redução de desigualdades em um plano micro – no entanto muito potente – bem como um programa de fortalecimento e empoderamento de mulheres negras!


Mais Caminhos I Edlaine Garcia conhece o Projeto Agbara

Conteúdos Agbara[editar | editar código-fonte]

Conteúdos Agbara

Por Tayná V.L Mesquita

A categoria empoderamento já pode ser considerada êmica, em especial entre a juventude negra. A palavra é derivada da expressão empowerment (que significa dar poder) e que foi empregada pela primeira vez pelo psicólogo norte-americano Julian Rapport, defendendo que era necessário oferecer ferramentas aos grupos oprimidos com vistas a sua autonomia e desenvolvimento. Tal palavra, seria ressignificada por Paulo Freire, nos anos 1980, recebendo um sentido diverso: empoderamento, ao invés do exercício de receber poder de um outro, estaria relacionado a conquista interna do sujeito que, constituindo-se agente, transforma não apenas a si mesmo, mas também a sociedade em que se vê inserido. Assim, são os próprios grupos oprimidos que devem se empoderar a si próprios.

Na atualidade, o termo tem se tornado cada vez mais comum e com sua popularização surgem questionamentos sobre os reais sentidos do mesmo, bem como, apropriações adversas e esvaziadas. Uma delas diz respeito aos usos oportunistas da iniciativa privada, que por vezes reduzem a noção de empoderamento a aquisição de poder econômico dentro do sistema capitalista. Em outros casos, aquelas perspectivas que reduzem a ideia de empoderamento ao âmbito privado, seja em termos de aquisição de poder econômico, seja no campo da estética.

Diante dessa diversidade de sentidos, vale a pena relembrarmos que a ideia de empoderamento, bem antes de ser conceituada por Paulo Freire – um movimento que passa pelo individuo, mas que se formaliza coletivamente, com vistas a transformação da realidade social – tem sido tomada como práxis pelos movimentos negros, em especial, o de mulheres negras, há centenas de anos. Na realidade, é mesmo possível dizer, que tal perspectiva de empoderamento é parte dos valores civilizatórios dos povos africanos trazidos à diáspora, onde sujeito e coletivo não se desassociam. Valores que apontam para conexão de cada indivíduo com o outro e com a natureza de forma geral. Assim, a categoria de empoderamento para o povo negro faz sentido quando toma-se como base o valor civilizatório expresso na palavra de origem banto “Ubuntu”: “Eu sou, porque tu és” ou “a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade”.

Conforme afirma bell hooks (2017), citando um diálogo seu com Paulo Freire, “nós não podemos entrar na luta como objetos para nos tornarmos sujeitos mais tarde.” Esse é o sentido de empoderamento que tem sido historicamente praticado pelo movimento feminista negro. Das irmandades e confrarias negras, como a da “Boa Morte”; os terreiros de Candomblé, fundados e comandados, em seus primeiros anos, exclusivamente por mulheres negras (as três princesas de Oyó, Iyá Detá, Iyá Kalá e Iyá Nassô, nos terreiros de nação Ketu; Ludovina Pessoa, daomeana fundadora dos primeiros terreiros de nação Jeje, Maria Neném, a Mam’etu Tuenda dia Nzambi, a grande mãe do Candomblé de nação Angola, Maria Jesuína a rainha daomeana Nã Agontimé, fundadora da Casa das Minas); às lutas quilombolas de ontem e hoje, a atuação em grupos políticos, culturais, as primeiras organizações autônomas do movimento de mulheres negras fundados a partir dos anos 70, aos coletivos, frentes, ONGs, estratégias de ocupação dos espaços institucionais de poder, em candidaturas negras e feministas, mandatas coletivas e mandatas-quilombos, etc, nas movimentações diversas, das quais o Fundo Agbara faz parte (figurando enquanto o primeiro voltado à mulheres negras no Brasil), o sujeito político “mulher negra”, tem mostrado que empoderamento diz respeito a reinscrever-se no mundo, a partir dos próprios termos e em saídas coletivas e subvertivas do status quo.

Pensando no Fundo Agbara em especial, sua articulação, além de contribuir para o combate a desigualdades econômicas e o combate à realidade de pauperização de famílias negras, em maioria chefiadas por mulheres (e mais duramente atingidas no contexto de recrudescimento das desigualdades sociais, impulsionado pela pandemia de COVID-19), enfatiza o caráter coletivo do empoderamento. Para além do econômico, preza-se pelo cuidado das mulheres envolvidas de forma integral: atividades destinadas ao autocuidado e saúde mental, atividades destinadas à formação e conscientização crítica – letramento racial e formações direcionadas ao universo do empreendedorismo e educação financeira – além de estabelecer um espaço de trocas não apenas entre beneficiárias, mas também uma rede de letramento racial voltada aos doadores, com atividades abertas diversas. Assim, a atuação do grupo constitui um rico exemplo de organização feminista negra que opera a categoria empoderamento muito além do indivíduo – afinal, as saídas históricas de nosso povo sempre foram coletivas.

Nesse sentido, compreendemos que a noção de empoderamento aqui mobilizada, vivenciada e defendida, compõe o quadro conceitual e de prática social mais amplo de uma Pedagogia Feminista Negra: resultado da práxis feminista negra ao longo da história, trata-se de uma pedagogia da pratica da liberdade, onde se articulam saberes compartilhados nos diferentes espaços de aquilombamento constituitdos pelas mulheres negras. Deles, extraímos formas de sociabilidade, coletivização de recursos materiais, ressignificação de valores e imaginários, com vistas à formação de novos marcos civilizatórios. Práticas sociais de reinscrição subjetiva e objetiva no mundo. Mulheres negras resistem e são as potenciais transformadoras do mundo! Viva Agbara!

Para se antenar mais no debate:

BERTH, Joice. O que é empoderamento?. Belo Horizonte: Letramento, 2018. Collins, Patricia Hill. Pensamento Feminista Negro. São Paulo: Boitempo, 2019.

Tayná V.L. Mesquita é Socióloga e Mestre em Educação pela Unicamp. Atualmente é também Doutoranda em Ciências Sociais, na mesma instituição, na linha de estudos de gênero (PAGU/UNICAMP). Pesquisadora, consultora em diversidade e educadora no campo dos direitos humano, com enfoque para promoção do direito à educação, igualdade racial e de gênero. É embaixadora da campanha #JuntosPelaTransformação de Djamila Ribeiro (2020), e autora do livro “Exclusão Escolar Racializada” (2019) co-organizadora do e-book “Pedagogia Feminista Negra para a Promoção de Novos Marcos Civilizatórios” (2021) e autora da cartilha antirracista “Vidas Negras Importam: em Campinas, também” (2021), promovida pela Prefeitura Municipal de Campinas e o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Campinas.

E-mail: contato.taynamesquita@gmail.com / @taynamesquitta (instagram)

Redes Sociais[editar | editar código-fonte]

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Site Oficial

Contato: falecomprojetoagbara@gmail.com

Whatsapp 19-982680583 (Aline) ou 19-987127823 (Fabiana)