Impactos da Pandemia de Covid-19 na Cidade de Deus: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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<p style="text-align: left;">'''Autores: '''Cristiane Martins, Anjuli Fahlberg, Mirian Andrade, Sophia Costa, Jacob Portela.</p>
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<p style="text-align: center;"><span style="font-size: 18pt;">'''Pesquisa: O Impacto da Pandemia '''</span></p>
<p style="text-align: center;"><span style="font-size: 18pt;">'''Pesquisa: O Impacto da Pandemia '''</span></p>

Edição das 02h23min de 24 de agosto de 2021

Autores: Cristiane Martins, Anjuli Fahlberg, Mirian Andrade, Sophia Costa, Jacob Portela.

Pesquisa: O Impacto da Pandemia

de Covid-19 na Cidade de Deus.


A Cidade de Deus foi a primeira favela do Rio de Janeiro com caso de Covid-19 segundo pesquisa do IBGE. Desde então vem liderando o ranking de favelas com maior número de contaminados pelo Coronavírus segundo relatórios da Secretaria Municipal de Saúde. Diante disso o Coletivo de Pesquisa Construindo Juntos decidiu iniciar uma pesquisa que medisse os impactos causados pela Covid de forma qualitativa e quantitativa que abrangesse diversos aspectos sociais e econômicos.


O Coletivo de Pesquisa Construindo Juntos (CJ), fundado em 2019, tem como missão trazer voz e legitimidade ao "saber periférico, ou seja, o conhecimento e formas de ver o mundo de pessoas das periferias urbanas. Somos uma parceria entre pesquisadores e moradores de comunidades periféricas, com foco na Cidade de Deus. Membros da nossa equipe tem bases em várias instituições no Rio de Janeiro, Brasil e na Tufts University, perto de Boston, Massachusetts


Utilizamos como base a metodologia de Pesquisa de Ação Participativa, que dá prioridade à participação dos moradores da comunidade em cada etapa da pesquisa. Nossas pesquisas também valorizam a co-produção do conhecimento e uma busca de melhorias sociais e políticas. Nessa pesquisa contamos como Coordenadora de Campo com a Assistente Social e moradora da Cidade de Deus, Cristiane Martins.


Neste contexto de pandemia tivemos que reinventar a metodologia de trabalho, que não fosse em campo para não colocar a equipe em risco e também as pessoas que seriam entrevistadas. Optamos então em fazer a pesquisa online, utilizando as redes de mídias sociais já existentes na comunidade.


A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética (Institutional Review Board) da Tufts University, onde a Dra. Anjuli Fahlberg, co-diretora do Coletivo Construindo Juntos, é Professora Adjunta em Sociologia e contamos como Coordenadora de Campo com a Assistente Social e moradora da Cidade de Deus, Cristiane Martins.


A pesquisa foi realizada em quatro fases: 


(1.) Um fórum com lideranças locais, representantes de ONGs, coletivos e moradores da comunidade que ajudaram moradores em crise durante a pandemia.
(2.) Coleta de histórias sobre o impacto da pandemia nos moradores da Cidade de Deus. Recebemos 138 histórias. 
(3.) Coleta de dados quantitativos por um questionário abrangente, onde abordamos temas que medem o impacto  da  pandemia  na  renda  e  trabalho,  educação,  crianças  e  adolescentes, saúde física  e  mental, relações  familiares,  resiliência  social  e opiniões sobre o governo, sobre o vírus  e  a  vacina. O questionário que foi elaborado juntamente com os moradores e participantes da pesquisa em meios de comunicação local (Jornal Comunitário CDD Acontece), em listas de transmissão dentro da própria favela, nas redes sociais do CJ e com o compartilhamento entre os próprios moradores,
(4.) Disseminação de dados através de reuniões com a comunidade, elaboração de relatórios e divulgação em mídias.

   

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O primeiro relatório foi intitulado “O Grave Estado Econômico da Comunidade Cidade de Deus.” Em que grande maioria das 648 respostas coletadas, ou seja, 59% dos moradores indicaram a perda de trabalho e renda como a causa mais impactante da pandemia. O que demonstra que mesmo as pessoas sofrendo com os efeitos psicológicos do isolamento social, com as perdas de familiares por Covid-19, as situações de vulnerabilidade econômica se tornam mais emergentes do que o luto em si.

Os resultados alertam para uma situação de extrema urgência econômica e vulnerabilidade social, em que as pessoas ficaram desesperadas sem saber ao menos como se alimentariam. Muitas pessoas relataram ter perdido o emprego formal e informal. No momento em que lojas estavam fechadas e o comércio nas ruas ficou proibido devido ao isolamento social, muitos trabalhadores que sustentavam suas famílias de forma informal, como vendedores ambulantes, motoristas de aplicativos, entregadores, perderam suas fontes de renda.


A pesquisa mostrou nesse primeiro relatório que sem emprego, sem assistência econômica do governo, o que vemos paralelo aos efeitos da pandemia de COVID-19 é uma pandemia de fome, pobreza e desespero.





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O nosso segundo relatório falou sobre os "Agravamentos de problemas de Saúde Física e Mental." Encontramos que a segunda maior consequência da pandemia na Cidade de Deus, segundo 88% dos moradores que responderam a pesquisa, foi o agravamento nos transtornos psicológicos. Os sintomas mais citados foram estresse, ansiedade, dificuldades para dormir e falta de ânimo. Segundo relato de alguns moradores, preocupações, medo e o isolamento social foram os responsáveis pela piora na saúde mental.                                                                          

Nas histórias que coletamos, os respondentes citaram que alguns dos motivos pelo agravamento em problemas emocionais foi a preocupação em como iriam pagar suas contas, o medo de contrair o coronavírus e o impacto causado pela morte de amigos e familiares.

Além das mortes e sequelas causadas pela COVID-19, concluímos que a Cidade de Deus foi impactada gravemente nas condições de saúde física e mental, tendo repercussões em todas as gerações, desde as crianças até os idosos. As dificuldades referentes ao tratamento de doenças crônicas pioraram pela dificuldade de acesso. pesquisa mostrou que neste contexto mais pessoas morreram por doenças crônicas ou outras doenças que por COVID-19, um total de 41 mortes por COVID-19 e 59 mortes por outras doenças. 

Por falta de testagem dos moradores da comunidade existem incertezas quanto aos óbitos e números de infectados.

           

                                 

É necessário urgentemente políticas públicas que gerem renda e emprego, educação e capacitação, lazer, bem-estar, cuidados físicos e emocionais, programas focados na prevenção e tratamento de doenças crônicas. Desta forma pode ser amenizado impactos causados na economia e saúde mental dos moradores da Cidade de Deus.


Foto da Cidade de Deus:

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