José Jorge (entrevista): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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=== Sobre o projeto ===
=== Sobre o projeto ===



Edição das 14h14min de 18 de junho de 2021

Material de pesquisa do Projeto do Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social, gentilmente cedido ao Dicionário de Favelas Marielle Franco.

José Jorge.

Sobre o projeto

A entrevista faz parte do projeto "Histórias, Memórias e Oralidades da luta social por terra e moradia na região de Jacarepaguá de 1960 a 2016", desenvolvido pelo Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social. Nesse episódio, o entrevistado é Renato Dória, membro do Instituto Histórico de Jacarepaguá. Neste episódio, a conversa é com José Jorge dos Santos de Oliveira, membro do MUP (Movimento de União Popular). Foi realizada na Comunidade Vila Recreio.

Entrevista na íntegra

 

Transcrição da entrevista

Eu sou José Jorge Santos, sou jardineiro- sou contador- mas como eu vim do campo, não aguentei ficar 2 anos atrás de uma mesa e fui para o campo.

Eu vim do Espirito Santo. No dia 26 de março de 1990 numa quarta feira com minha mulher e minha filhinha de 2 anos e um pouquinho.

Fui morar de caseiro, na Av. das Américas, nº 15.000. Morei lá 2 anos e meio. Voltei para o interior, fiquei 1 ano. Voltei pro Rio e depois fui morar de aluguel.

Estou desde 96- e fui morar na Vila Recreio. Eu fui descobrir que a minha luta começou no Espirito Santo, eu já era chato, eu já brigava.

Quando vim pro Rio- pensava que a capital as pessoas tinham direito. Eu achei que as leis eram rigorosamente obedecidas. E não me preocupei com direitos. Eu não sabia onde era prefeitura- a defensoria publica e nem a Fiocruz- mesmo sendo tão grande.

Viva uma rotina comum.

E um dia cheguei na Vila Recreio- e o prefeito mandou derrubar 2 barracos de comercio e falou que ia derrubar a comunidade toda.

Aí a minha vida mudou. Porque aquele dia deu um estalo na minha vida- eu percebi que não tinha casa. E dona Maria, minha vizinha de porta, que já me falava alguma sobre isto- que era evangélica- que hoje eu também sou. Dona Maria chamou o Mup, o Mauricio que estava sugerindo e o Vladimir- fez 3 dias depois. Fez uma reunião na casa dela. Eu ouvia muita coisa, e vi aquela cambada de vagabundos e eu pensei- vou botar essa gente pra correr mesmo na casa da dona Maria.

Aí fui ouvindo, ouvindo e descobrir que eu já fazia lá na roça. Foi o dia que eu descobrir que existe sim, como lutar por direitos.

Aí descobri que não havia direitos consolidado.

Foi aí que descobri a defensoria publica, onde era a prefeitura, onde era as demandas da cidade.

Fui convidado para outra reunião e durou 8 anos e 10 meses.

Aí eu entrei nesta luta e estou até hoje.

Não é porque eu gosto. Eu costumo dizer que existem movimentos sociais, por causa da ineficiência, da irresponsabilidade e da falta de caráter de quem tinha que cuidar daquilo que ele foi eleito para fazer, mas não fazem e ganham muito bem pra isto, com dinheiro dos outros.

Então existem os movimentos sociais – onde não se tem tempo pra nada, tem que trabalhar desesperadamente pra comer e pra beber, mas tem que arrumar tempo para conversas sobre seus direitos- porque a gente está perdido na mão desta gente.

O Mup- antes de ser Mup,  ele foi COMCAIS- 3 anos- era junto com condomínios- mas as pessoas tinham outras idéias, se vendiam para partidos políticos. Mas a gente só descobre esta coisa depois.

 Você esta junto, mas descobre. E as pessoas sociais não aguentaram, e parou. Porque na verdade essas pessoas aproveitavam o espaço para aparecer e se divulgar para todos. Então acabou.

Passados 6 meses começou-se a discutir o Plano Diretor. Aí Mauricio, Silvia e Vladimir começaram a perceber que no plano não existia Vargem Grande nem as comunidades  dessa baixada toda não constava nas discussões do Plano Diretor. Então decidiram conversar com as associações de moradores com quem quiser das comunidades, e vamos pra lá  brigar por estes direitos, nós temos que estar incluídos neste documento. É o documento que dá  a direção do Município- o que pode e deve fazer e não se fala das comunidades. São 30 comunidades. Aí juntos de novo e se discutiu muito e deu o nome MUP.- Movimento de União Popular, não se agregou a associação de moradores, mas era diferente- quem quiser- mas quem quiser discutir coisas sobre sociais- as  pessoas podem ser candidatos, mas dentro do MUP- nem pensar, dentro do MUP não se fala de partido e nem de religião- pode ser de Macumba- apesar de estarmos dentro da Igreja do Pe. Sergio, mas tinha gente da Umbanda, da Macumba.

Até porque o Pe. Sérgio era uma das pessoas mais extraordinária que eu conheci até hoje. Ele cansou de pagar pra nós- o Pe. Sérgio pagou de uma vez só 2 ônibus todo dia por 10 dias seguidos para que as comunidades constassem no Plano Diretor como Áreas de Especial Interesse Social.

Aí é que surgiu o MUP.

E me pergunto o MUP hoje existe?

Existe. É uma coisa como religião dentro da gente.

Através de vocês e outros também que são nossos antigos, a gente pode falar- muita gente pensa que o MUP está agindo- não sabem que o MUP está adormecido, de férias, licença prêmio- 10 anos depois.

Não está reunindo todo dia, mas está agindo. O MUP foi uma das coisas mais importantes que surgiu nos últimos tempos, porque se baseou no MST- o Movimento mais livre que eu conheço- porque o MUP não tem sede, não tem presidente, não tem nada disso, não  criou   raiz em lugar nenhum nem se fixou em ninguém. Nem no Mauricio, no Jorge, na Jane. Botem o rotulo que quiser, mas não conseguem colar ele em nenhum de nós. Porque isto também. Até para a gente ficar vivo. Vivo fisicamente mesmo.

Porque senão- ou mata todo mundo, ou vamos morrer abraçadinho todo mundo, ou todo mundo vamos cair- porque cada um pode falar um pouquinho demais.

A luta na Vila Recreio. O seu papel na luta não tem um momento, uma ação, é no dia a dia. É igual tudo na vida. Cada dia um capitulo novo. Se na comunidade você me perguntar o que vai ser amanhã, não sei. O passo de amanhã é de acordo com o adversário.

Agora temos outras pessoas que estão a 40 anos fazendo isto: Mauricio, temos a Silvia aqui de Vargem Grande que está a tantos anos lutando com isto, temos a Maria na Beira Rio, presidente a mais de 20 anos. A gente aprendeu com os movimentos sociais, não só com o MUP, mas com o Conselho Popular do Rio, com a Pastoral das Favelas, com a própria Fiocruz- onde a gente foi encontrar lá no MPP por exemplo.( do Léo) e em outro Movimento do qual você faz parte, lá com a Cleonice, e tudo, nós vamos encontrar tanta gente, de tanto canto, de tanto lugar, deste país todo, é a gente vê que o que a gente passa é muito pequeno. Todo dia é uma coisa nova.

Não quero dizer que consolidou na Vila Recreio- porque dentro de casa a gente  faz muito pouco, ou quase nada. A Vila Recreio foi muito mais ajudada pelas pessoas de fora- do que as pessoas de dentro mesmo fizeram. É assim na Vila Autódromo. Apesar de ter lá a Jane, Inalva, Altair e outros que eu estou descobrindo agora- eu vejo tanta gente fazendo mais por ela- do que eles, que eu fico impressionado.

A luta além da casa- quando a coisa já está com caminho andado, dentro dos Movimentos sociais e da Pastoral e já estava vendo coisas absurdas acontecendo e assistindo- por exemplo, 2 anos antes, a gente ficou dentro de varias casas junto com o Baldezinho, 80 e tantos anos, que mora em Ipanema a vida toda, bem nascido, com Dra Maria Lucia e não sei mais quem .

Dentro das casas e a prefeitura derrubando em cima e a gente estava embaixo. Estava também o Edson Santos- que na ocasião era deputado federal dentro desta casa-  Se ia derrubar em cima de nós. Eu tinha medo. Mas se tinha gente que não precisava está ali e estava ali, eu também tinha que estar com coragem. Aquilo era muito pior do que o que estava acontecendo na Vila Recreio.

Vou te dizer sinceramente, na Vila Recreio- não é a casa do Jorge. Quando derrubaram a minha casa, a minha casa foi a última casa derrubada ali. Talvez seja por isso, nunca tive um pingo de medo, aliás tinha certeza absoluta que iam derrubar, mas tinha que derrubar na brutalidade mesmo; nunca assinei um papel, nem nada para ninguém derrubar, nunca tirei um nada de dentro de casa- derrubaram.

Por sinal estava numa reunião na Fiocruz quando derrubaram e várias pessoas de lá correram aqui para me ajudar, quando chegamos estava tudo no chão. Então, mas não era a casa do Jorge, as pessoas da Fiocruz vieram, ficaram olhando pra mim. Talvez pensando o Jorge vai chorar. Não, já tinham derrubado a casa do Jorge a muito tempo.

Sabe quando? Quando tinham derrubado as primeiras casas, quando tinham arrebentado com harmonia, quando tinham arrebentado com a Restinga, a casa do Jorge já tinha ido faz tempo. Aquilo ali era igual esta escada que está pendurada aqui agora. Aquilo pra mim era nada.

Eu já não estava preocupado com a minha casa a muito tempo.

 Era outra coisa. Era um absurdo que eu assistia já lá de trás tão grande que eu questionava varias coisas- pra que se faz tantas leis, pra que as pessoas  conversa tanto, pra se consolidar coisas para defender o ser humano e outro ser humano vem fazer o que fez com a gente, com o Rio de Janeiro, em troca de dinheiro. Dinheiro a gente faz. Não precisa derrubar a casa de ninguém.

Hoje na Vila Recreio, está o entulho e o prefeito descaradamente, uma pessoa super inteligente, nunca votei nele, nunca votarei.

Ele trata a gente muito bem. Diz que não vai fazer e faz. Eu passei sem votar um tempo.

Eu votei no Fernando Collor, no primeiro e segundo turno. Foi aquela decepção e nunca mais votei para presidente. Deixei o meu titulo na minha cidade, por duas razões, porque eu ia lá votar pra prefeito, porque geralmente é gente da minha família na politica e também eu tinha a satisfação de não poder votar pra presidente porque eu estava com nojo de todo mundo na direção federal. Não votei nem no lula, nem o lula me fez trazer o titulo para aqui pra votar. Mas aí veio a Dilma. Pra ser sincero eu sempre briguei, o MUP sempre brigou por tudo que tem nas comunidades está no nome das mulheres, tudo,  inclusive na minha casa está no nome da minha mulher.

Aí vem uma mulher saída do nada, e às vezes é bom saída do nada, as pessoas não tem vício. E falei vou votar nesta mulher. Mas depois do Pré  sal, eu me arrependo de ter votado nela. Eu votei nela por achar que por ela ser mulher, ela ia ser diferente, mas sinceramente, de coração, vou te dizer, acho que de novo não vou votar para presidente por causa do Pré  sal.

Eu acho que a cidade foi sempre pensada assim, e não foge dos modelos da Europa ou Americanos. O Rio quer copiar uma coisa que não tem condição.

Esquece de tudo que foi feito, esse povo fez para ter esta cidade, por exemplo, o Nordestino, o Nortista ou de mesmo o povo do Sudeste, de Minas ou do Espirito Santo, a gente veio para aqui por que contaram uma historia para gente dizendo que se a gente viesse para aqui a gente ia melhorar de vida, a gente vivia montado no geguinho e fazia 10 quilômetros em duas horas.

Falaram que o Rio era moderno. O Rio, São Paulo- as grandes cidades, mas eles queriam ganhar dinheiro em nossas costas. Este tipo, este modelo de cidade estava em construção, mas não tinha força bruta, tinha dinheiro, tinha ideias.

Se não nos queriam deviam ter deixado a gente lá, quebrou nossa raiz lá, e agora quebrou aqui- 23 anos depois  você não tem mais raiz no interior- eu não tenho- meu pai morreu lá, meus irmãos também- então eu não tenho como começar minha vida lá de novo. Acabou toda expectativa lá. E aqui- quebra ali, quebra aqui, quebra lá- pelo amor de deus. Onde é que querem nos enfiar. Vão mandar a gente pra onde, pra lua agora?

É uma cidade planejada e pensada para a elite, mas a elite não vive sozinha gente. A elite precisa de todo mundo, é um conjunto. A sociedade precisa de todos os elementos. Eles precisam das favelas. Mas do povo que mora nelas.

Se alguém falar que gosta de morar na favela é mentira. Todo mundo quer morar num lugar que tenha presença publica, saúde, que tenha esgoto, que tenha segurança, que tenha transporte, que tenha educação, que tenha tudo isto. A gente precisa transformar isto tudo em bairro. Temos este direito consolidado.

Pagamos caríssimo por isso, mas estas cidades que estão construindo e planejado, não consta as comunidades. Apesar de que ele é feito de cima para baixo e terás garantias de baixo para cima- não consta.

Eu me sinto ameaçado. Todas as vezes, mesmo que indiretamente- mas a gente é ameaçado. Todas as vezes que você é considerado pessoas que falam contra o governo, pessoas que questiona a rústica policia militar nojenta, que a própria Igreja que não tem coragem de colocar o dedo na ferida- essas pessoas são renegadas. Todas as vezes que te negam seu direito- de alguma forma estão te ameaçando.

Fisicamente também já recebemos recadinhos- como diz- não sou filho de pai assustado. Quando eu nasci minha mãe não saiu correndo pra ir ali. Nasci. Recadinho já foi parar na minha porta. Já me contaram história, mas ela veio e voltou. Porque nós não podemos, nós não temos tempo de ter medo, nem direito pra ter medo.

A gente só convive com tudo que é ruim. É pior- vindo de cima para baixo. Porque quando vem de cima para baixo costuma ser só para assustar. E costume dizer mais, todas as vezes que falam uma besteira comigo perto- eu falo isto- a vida toda- gente adorei jogar contra time forte- porque se pelo menos impactar, eu já tive algum resultado. Não gosto de lutar contra time pequeno. Time pequeno se eu ganhar- ainda vão falar que timeco. Minha briga é contra grande porque qualquer resultado que você tem ele é o resultado otimista.

Eu acho um absurdo o que estão fazendo com a Vila Autódromo, mas eu adoro ver a resistência da Vila Autódromo a vida toda. Apesar daquela divisão toda. Vou te falar. Aquilo ali é que é luta pra gente contar lá na frente para os nossos netos.

Aquilo que acontece na descida da Taboinha. Que nós enfrentamos mais de 200 policiais, helicóptero voando, uma juíza de plantão, mandando derrubar aquilo tudo. Aquilo ali a gente tem um orgulho danado. Falam assim- uma vitorinha de nada um dia só. Não é uma grande vitória. Ah mais não vai acontecer mais nada. Pode acontecer, mas naquele dia não aconteceu.

Enfiamos um osso goela abaixo para aquela cambada de safado que apareceu lá. Pode gravar aí. Se ela entra aqui dentro ela ia tomar um pau aqui dentro. É porque ela ficou escondida na casa dos outros. Ia tomar uma coça de pau pra ela aprender a respeitar os direitos dos outros.

Então é muito bom brigar contra gente grande. Porque do jeito que vem volta.

Relação entre moradia e saúde:

Bom moradia e saúde- que falar de uma coisa que me aconteceu; quando eu fui de perto saber o que era a Fiocruz.

Um dia estava em Vargem Grande. E pessoas da Fiocruz veio apresentar pra nós um projeto que hoje eu posso chamar de projeto cidadão. Mas naquele dia- como se diz nos movimentos sociais- a gente tem que confiar desconfiando. Eu me lembro até hoje a pergunta que eu fiz lá para vocês apresentar a bula que até então a Fiocruz era uma fábrica de remédios, uma inspecionadora, mas agora saber de moradia- aquilo me assustou.

Essa gente está colando na gente para alguma coisa. Então eu fui ver que a relação da saúde era muito maior. A Fiocruz tinha sim, e tem até hoje coisas para contribuir: espaço, conhecimento, credibilidade pra formação de cidadania. Mas eu quis saber. Então a relação saúde- a saúde primeiro lugar a educação, depois a saúde.

Em primeiro lugar a educação porque ela produz saúde, e as duas juntas produz moradia. Porque se eu não coloco aqui um sistema de limpeza, uma caixa de gordura para recolher- não tem saúde. Não adianta até eu fazer uma casinha  até bonitinha, se eu não aprendi lá fora- que uma casinha lá fora, mas sem produção de saúde- eu não vou morar dentro dela muito tempo eu vou me matar pelas mais variadas coisas.

E a relação cidade e saúde- principalmente nesta que eu vivo- pelo amor de Deus: o maior esculacho nesta cidade chama-se saúde. Ainda ontem eu saí com minha filha que tem 24 anos. Ela foi para o trabalho, daqui a pouco o namorado me liga- diz que ela está com o braço dormente. Então saí desesperado peguei ela levei para o Miguel Couto na parte nova, aquela coisa linda, tinha gente filmando; ficamos lá 3 horas- para medir a pressão, dar 2 pedaços de papel deste tamanho para o tal dos CIsREG marcar um médico para ela daqui uns 6 meses.

O maior esculacho desta cidade chama-se saúde. Quando não valoriza o profissional daqui e vai chamar de fora. Acho que a gente só deve chamar de fora quando eu não tenho mais aqui, mas quando eu vou valorizar o de fora e esculachar o daqui, por favor. Então isto é esculachar a saúde.

A nossa saúde pública no Rio de Janeiro, ela está no mínimo está com AIDS e câncer juntos. Em fase terminal, agonizando. É horrível. A saúde, a saúde pública do Rio de Janeiro está agonizando. É a coisa mais nojenta que eu já vi; gastando o dinheiro com o MEGA EVENTOS e deixar as pessoas morrendo de gripe. As pessoas estão morrendo de dengue- coisas que até com um chá de laranja lá na roça, aqui morre. Porque você fica 5 horas numa fila dessas de hospital ou UPA e sei lá mais o quê que criaram. E é assim.

Eu crio várias coisas, mas só tenho o Sérgio para trabalhar. O Sérgio tem que trabalhar em vários lugares e na segunda feira. Então o Sérgio vai ter que escolher. E aí tem que mudar outras pessoas, mas que não estão preparadas. E dá no que dá.

O que nos move- principalmente é eu ver todo dia pessoas que poderiam estar passeando por aí a fora, pessoas aposentadas, que ganham um bom salário e poderiam está no ar condicionado.

Em 810 defensores públicos só 3 saem 3 horas da manhã e vai enfrentar a prefeitura.

Um juiz que 3 horas da manhã vai dar uma liminar a favor de uma comunidade para não derrubar a casa. Alguém da Fiocruz até deputados federais, senadores, que descem de Brasília no dia da folga dele e vem aqui por causa de 11 casinhas que estão derrubando aqui. Então, essa gente que não precisa estar envolvido nisto, que vai ganhar do mesmo jeito. Esta gente que se arrisca muito mais coloca seus empregos em risco.

Seria uma vagabundagem minha, uma falta de caráter- que estou nesta situação não faço nada e essa gente que não precisa fazer, que nunca botou o pé na lama. Até vocês da Fiocruz Mata Atlântica podiam ficar lá.

É isto que me dá o maior gás, o segundo maior gás é acreditar que isto vai mudar.

É acreditar que nós podemos mudar.

A gente reclama muito do prefeito, mas nós somos chorões. Transformamos a nossa vida num muro das lamentações. Mas nós não temos coragem e disposição. Se eu conheço ele e outros.

Eu acredito piamente no Mauricio, Wladimir, na Silvia, mas não temos coragem de dizer Silvia- nós temos 58 cadeiras de vereadores e nós não temos coragem de dizer que Mauricio, Wladimir ou Silvia- tem que ocupar pelo menos uma.

Eles vão dizer não vai fazer diferença porque é contra 50 e tantos. Não faz diferença, mas é menos uma para ocupar no estado- porque a gente não se reuni e aponta alguém para ocupar este espaço.

Eu conheço muita gente que presta. São espaços de decisões.

 Eu acredito que pessoas vão mudar.

Hoje, candidatos ou pré-candidatos á presidência.

Quem?

Não voto mais em partido, em nome. Tá complicado. Voto no projeto.

Eu acho que a sociedade tem que vi pra justiça, ministério publico, dizer registra isto aí. Vai ter que fazer isto aí que você está falando.

Porque isto é o minimamente descente.

Então são estas coisas. Ainda com 52 anos, ainda sonho com coisas diferentes- eu sonho com um advogado honesto. Eu sonho que aqueles 6 defensores numa cadeira de 805 defensores do Estado do Rio- os 6 defensores é muito bom- porque poderá não ter nenhum.

Eu sonho que aquele juiz que ia até o fim, que atravessou a rua e veio falar com a gente na defensoria- o único- ele não caiu do céu, ele não foi inventado.

Eu acredito que o Baldez-  nos seus 82 ano, que foi Procurador Geral do Estado-ele criou a Defensoria Pública no governo Brizola. Ele que sentou e criou a primeira Defensoria Pública, que não existia- a primeira do Brasil.

Baldez precisava disso- sendo Procurador Geral do Estado, morando em Ipanema- ele precisava disto?

Mas nós temos que criar novas pessoas destas.

Lá na Fiocruz- a gente tem espaço. A gente tem que ter coragem que um dia chegar perto do Chefe Geral-que todo lugar tem um Chefe Geral e falar, por favor, tá muito bom. Mas eu não quero que você troque a atendente de telefone da mesa do Sérgio, porque nós já criamos uma relação com ela. Tó falando isto por causa do curso do     - nós gravamos isto, e falamos pode botar pro chefe- a mania é muito boa, mas some. A outra é ótima, desapareceu- uê não vamos criar uma relação nunca?

A gente também, que estão nos dando a oportunidade- a gente não tem pernas para ocupar os espaços.

Agora eu já tenho esse combate em casa.

Eu vou nisto até o fim- mas filhos e mulher são contra.

Eu acho isto ótimo. Agora o combate é em casa.

Eu acho isto maravilhoso.