José Jorge (entrevista)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Entrevista faz parte do projeto "Histórias, Memórias e Oralidades da luta social por terra e moradia na região de Jacarepaguá de 1960 a 2016", desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz- Mata Atlântica, em parceria com a Cooperação Social da Fiocruz

Autoria: Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir de material de pesquisa gentilmente cedido Projeto do Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social.

Sobre[editar | editar código-fonte]

A entrevista faz parte do projeto "Histórias, Memórias e Oralidades da luta social por terra e moradia na região de Jacarepaguá de 1960 a 2016", desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz- Mata Atlântica, em parceria com a Cooperação Social da Fiocruz. Neste episódio, a conversa é com José Jorge dos Santos de Oliveira, membro do MUP (Movimento de União Popular). Foi realizada na Comunidade Vila Recreio.

José Jorge.

Entrevista[editar | editar código-fonte]

 

Transcrição da entrevista[editar | editar código-fonte]

Eu sou José Jorge Santos, sou jardineiro. Sou contador também mas como eu vim do campo não aguentei ficar dois anos atrás de uma mesa e fui para o campo. Eu vim do Espirito Santo, no dia 26 de março de 1990, numa quarta-feira, com minha mulher e minha filhinha de 2 anos e um pouquinho. Fui morar de caseiro, na Av. das Américas, nº 15.000. Morei lá 2 anos e meio. Voltei para o interior, fiquei 1 ano. Voltei pro Rio e depois fui morar de aluguel.

Estou desde 1996 aqui e fui morar na Vila Recreio. Eu descobri que a minha luta começou no Espirito Santo. Eu já era chato, eu já brigava. Quando vim pro Rio pensava que na capital as pessoas tinham direito. Eu achei que as leis eram rigorosamente obedecidas. E não me preocupei com direitos. Eu não sabia onde era Prefeitura, a Defensoria Pública, e nem a Fiocruz, mesmo sendo tão grande.

Vivia uma rotina comum. E um dia cheguei na Vila Recreio e o prefeito mandou derrubar dois barracos de comércio, e falou que ia derrubar a comunidade toda. Aí a minha vida mudou, porque aquele dia deu um estalo na minha vida: eu percebi que não tinha casa. E Dona Maria, minha vizinha de porta, que já me falava alguma coisa sobre isto, era evangélica, e hoje eu também sou. Dona Maria chamou o MUP (Movimento União Popular). O Mauricio que estava sugerindo, e o Vladimir. Três dias depois fez uma reunião na casa dela. Eu ouvia muita coisa, e vi aquela cambada de vagabundos e eu pensei 'vou botar essa gente pra correr mesmo na casa da Dona Maria".

A descoberta dos Direitos e o Plano Diretor[editar | editar código-fonte]

Aí fui ouvindo, ouvindo e descobri que eu já fazia lá na roça. Foi o dia que eu descobrir que existe sim, como lutar por direitos. Aí descobri que não havia direitos consolidados. Foi aí que descobri a Defensoria Pública, onde era a Prefeitura, onde eram as demandas da cidade. Fui convidado para outra reunião, e durou 8 anos e 10 meses. Aí eu entrei nesta luta e estou até hoje. Não é porque eu gosto. Eu costumo dizer que existem movimentos sociais por causa da ineficiência, da irresponsabilidade e da falta de caráter de quem tinha que cuidar daquilo que ele foi eleito para fazer mas não fazem, e ganham muito bem pra isto, com dinheiro dos outros. Então existem os movimentos sociais, onde não se tem tempo pra nada, tem que trabalhar desesperadamente pra comer e pra beber, mas tem que arrumar tempo para conversar sobre seus direitos. Porque a gente está perdido na mão desta gente.

O MUP (antes de ser MUP,  ele foi COMCAIS, 3 anos) era junto com condomínios, mas as pessoas tinham outras ideias, se vendiam para partidos políticos. Mas a gente só descobre esta coisa depois. Você está junto, mas descobre. E as pessoas sociais não aguentaram, e parou. Porque na verdade essas pessoas aproveitavam o espaço para aparecer e se divulgar para todos, então acabou.

Passados seis meses começou-se a discutir o Plano Diretor. Aí Mauricio, Silvia e Vladimir começaram a perceber que no plano não existia Vargem Grande nem as comunidades dessa baixada toda. Não constava nas discussões do Plano Diretor. Então decidiram conversar com as associações de moradores com quem quiser das comunidades, e vamos pra lá  brigar por estes direitos: nós temos que estar incluídos neste documento. É o documento que dá a direção do Município, o que pode e deve fazer, e não se fala das comunidades. São 30 comunidades. Aí juntou de novo e se discutiu muito, e deu o nome MUP.- Movimento de União Popular. Não se agregou a associação de moradores, mas era diferente, quem quiser, mas quem quiser discutir coisas sobre sociais. As  pessoas podem ser candidatos, mas dentro do MUP, nem pensar: dentro do MUP não se fala de partido e nem de religião - pode ser de macumba, apesar de estarmos dentro da Igreja do Pe. Sergio, mas tinha gente da Umbanda, da macumba. Até porque o Pe. Sérgio era uma das pessoas mais extraordinária que eu conheci até hoje. Ele cansou de pagar pra nós, o Pe. Sérgio, pagou de uma vez só dois ônibus todo dia por 10 dias seguidos para que as comunidades constassem no Plano Diretor como Áreas de Especial Interesse Social.

O Movimento União Popular[editar | editar código-fonte]

Aí é que surgiu o MUP. E me pergunto o MUP hoje existe? Existe. É uma coisa como religião dentro da gente. Através de vocês e outros também que são nossos antigos, a gente pode falar. Muita gente pensa que o MUP está agindo, não sabem que o MUP está adormecido, de férias, licença prêmio, 10 anos depois. Não está reunindo todo dia, mas está agindo. O MUP foi uma das coisas mais importantes que surgiu nos últimos tempos, porque se baseou no MST (Movimento dos Sem Terra), o movimento mais livre que eu conheço. Porque o MUP não tem sede, não tem presidente, não tem nada disso. Não criou raíz em lugar nenhum, nem se fixou em ninguém. Nem no Mauricio, no Jorge, na Jane. Botem o rótulo que quiser, mas não conseguem colar ele em nenhum de nós. Porque é isto também, até para a gente ficar vivo, vivo fisicamente mesmo, porque senão ou mata todo mundo - ou vamos morrer abraçadinho todo mundo - ou todo mundo vamos cair, porque cada um pode falar um pouquinho demais.

A luta na Vila Recreio[editar | editar código-fonte]

O seu papel na luta não tem um momento, uma ação, é no dia a dia. É igual tudo na vida, cada dia um capitulo novo. Se na comunidade você me perguntar o que vai ser amanhã, não sei. O passo de amanhã é de acordo com o adversário.

Agora temos outras pessoas que estão há 40 anos fazendo isto: Mauricio, temos a Silvia aqui de Vargem Grande que está há tantos anos lutando com isto, temos a Maria na Beira Rio, presidente há mais de 20 anos. A gente aprendeu com os movimentos sociais, não só com o MUP, mas com o Conselho Popular do Rio, com a Pastoral das Favelas, com a própria Fiocruz- onde a gente foi encontrar lá no MPP por exemplo ( do Léo) e em outro Movimento do qual você faz parte, lá com a Cleonice, e tudo. Nós vamos encontrar tanta gente, de tanto canto, de tanto lugar, deste país todo, é a gente vê que o que a gente passa, é muito pequeno. Todo dia é uma coisa nova.

Não quero dizer que consolidou na Vila Recreio porque dentro de casa a gente faz muito pouco, ou quase nada. A Vila Recreio foi muito mais ajudada pelas pessoas de fora do que as pessoas de dentro mesmo fizeram. É assim na Vila Autódromo. Apesar de ter lá a Jane, Inalva, Altair e outros que eu estou descobrindo agora, eu vejo tanta gente fazendo mais por ela do que eles, que eu fico impressionado. Quando a coisa já está com caminho andado, dentro dos movimentos sociais e da Pastoral, eu já estava vendo coisas absurdas acontecendo. Por exemplo, dois anos antes, a gente ficou dentro de varias casas junto com o Baldezinho, 80 e tantos anos, que mora em Ipanema a vida toda, bem nascido, com Dra Maria Lucia e não sei mais quem, dentro das casas. E a Prefeitura derrubando em cima e a gente estava embaixo. Estava também o Edson Santos- que na ocasião era deputado federal - dentro desta casa. Se ia derrubar em cima de nós. Eu tinha medo. Mas se tinha gente que não precisava estar ali e estava ali, eu também tinha que estar com coragem. Aquilo era muito pior do que o que estava acontecendo na Vila Recreio.

Vou te dizer sinceramente, na Vila Recreio "não é a casa do Jorge". Quando derrubaram a minha casa - a minha casa foi a última casa derrubada ali, talvez seja por isso - nunca tive um pingo de medo. Aliás tinha certeza absoluta que iam derrubar, mas tinha que derrubar na brutalidade mesmo; nunca assinei um papel, nem nada para ninguém derrubar, nunca tirei um nada de dentro de casa: derrubaram.

Por sinal estava numa reunião na Fiocruz quando derrubaram e várias pessoas de lá correram aqui para me ajudar. Quando chegamos estava tudo no chão. Então, mas não era "a casa do Jorge", as pessoas da Fiocruz vieram, ficaram olhando pra mim. Talvez pensando "o Jorge vai chorar". Não, já tinham derrubado a casa do Jorge há muito tempo. Sabe quando? Quando tinham derrubado as primeiras casas. Quando tinham arrebentado com harmonia, quando tinham arrebentado com a restinga a casa do Jorge já tinha ido faz tempo. Aquilo ali era igual esta escada que está pendurada aqui agora. Aquilo pra mim era nada.

Eu já não estava preocupado com a minha casa há muito tempo, era outra coisa. Era um absurdo que eu assistia já lá de trás, tão grande, que eu questionava varias coisas- pra que se faz tantas leis, pra que as pessoas conversam tanto, pra se consolidar coisas para defender o ser humano e outro ser humano vem fazer o que fez com a gente, com o Rio de Janeiro, em troca de dinheiro. Dinheiro a gente faz. Não precisa derrubar a casa de ninguém.

Hoje na Vila Recreio, está o entulho e o prefeito descaradamente, uma pessoa super inteligente - nunca votei nele, nunca votarei - ele trata a gente muito bem. Diz que não vai fazer e faz. Eu passei sem votar um tempo.

Eu votei no Fernando Collor, no primeiro e segundo turno. Foi aquela decepção e nunca mais votei para presidente. Deixei o meu titulo na minha cidade, por duas razões: porque eu ia lá votar pra prefeito, porque geralmente é gente da minha família na politica, e também eu tinha a satisfação de não poder votar pra presidente porque eu estava com nojo de todo mundo na direção federal. Não votei nem no Lula. Nem o Lula me fez trazer o titulo para aqui pra votar. Mas aí veio a Dilma. Pra ser sincero eu sempre briguei, o MUP sempre brigou por tudo que tem nas comunidades estar no nome das mulheres, tudo. Inclusive na minha casa está no nome da minha mulher.

Aí vem uma mulher saída do nada - e às vezes é bom saída do nada - as pessoas não tem vício. E falei: vou votar nesta mulher. Mas depois do Pré -Sal, eu me arrependo de ter votado nela. Eu votei nela por achar que, por ela ser mulher, ela ia ser diferente. Mas sinceramente, de coração, vou te dizer, acho que de novo não vou votar para presidente, por causa do Pré-sal.

Eu acho que a cidade foi sempre pensada assim, e não foge dos modelos da Europa ou Americanos. O Rio quer copiar uma coisa que não tem condição. Esquece de tudo que foi feito, que esse povo fez para ter esta cidade. Por exemplo, o nordestino, o nortista, ou mesmo o povo do Sudeste, de Minas ou do Espírito Santo, a gente veio para aqui por que contaram uma historia para gente dizendo que se a gente viesse para aqui a gente ia melhorar de vida. A gente vivia montado no jeguinho e fazia 10 quilômetros em duas horas.

Falaram que o Rio era moderno. O Rio, São Paulo, as grandes cidades. Mas eles queriam ganhar dinheiro em nossas costas. Este tipo, este modelo de cidade estava em construção, mas não tinha força bruta, tinha dinheiro, tinha ideias. Se não nos queriam deviam ter deixado a gente lá. Quebrou nossa raíz lá, e agora quebrou aqui- 23 anos depois  você não tem mais raíz no interior- eu não tenho. Meu pai morreu lá, meus irmãos também, então eu não tenho como começar minha vida lá de novo. Acabou toda expectativa lá. E aqui- quebra ali, quebra aqui, quebra lá- pelo amor de deus. Onde é que querem nos enfiar? Vão mandar a gente pra onde, pra lua agora?

É uma cidade planejada e pensada para a elite, mas a elite não vive sozinha gente. A elite precisa de todo mundo, é um conjunto. A sociedade precisa de todos os elementos. Eles precisam das favelas. Do povo que mora nelas.

Se alguém falar que gosta de morar na favela é mentira. Todo mundo quer morar num lugar que tenha presença pública, saúde, que tenha esgoto, que tenha segurança, que tenha transporte, que tenha educação, que tenha tudo isto. A gente precisa transformar isto tudo em bairro. Temos este direito consolidado. Pagamos caríssimo por isso, mas nesta cidade que estão construindo e planejando, não consta as comunidades. Apesar de que ele é feito de cima para baixo e sem garantias de baixo para cima. Não consta.

Eu me sinto ameaçado. Todas as vezes, mesmo que indiretamente, a gente é ameaçado. Todas as vezes que você é considerado pessoa que fala contra o governo, pessoa que questiona a rústica polícia militar nojenta, que a própria Igreja que não tem coragem de colocar o dedo na ferida- essas pessoas são renegadas. Todas as vezes que te negam seu direito- de alguma forma estão te ameaçando.

Fisicamente também já recebemos recadinhos. Como diz: não sou filho de pai assustado. Quando eu nasci minha mãe não saiu correndo pra ir ali. Nasci. Recadinho já foi parar na minha porta. Já me contaram história. Mas ela veio e voltou, porque nós não podemos, nós não temos tempo de ter medo, nem direito pra ter medo. A gente só convive com tudo que é ruim. E é pior vindo de cima para baixo. Porque quando vem de cima para baixo costuma ser só para assustar. Todas as vezes que falam uma besteira comigo perto- eu falo isto a vida toda: gente adorei jogar contra time forte, porque se pelo menos impactar, eu já tive algum resultado. Não gosto de lutar contra time pequeno. Time pequeno se eu ganhar ainda vão falar "que timeco". Minha briga é contra grande porque qualquer resultado que você tem, ele é o resultado otimista.

Eu acho um absurdo o que estão fazendo com a Vila Autódromo. Mas eu adoro ver a resistência da Vila Autódromo, a vida toda. Apesar daquela divisão toda. Vou te falar, aquilo ali é que é luta pra gente contar lá na frente para os nossos netos. Aquilo que acontece na descida da Taboinha, que nós enfrentamos mais de 200 policiais, helicóptero voando, uma juíza de plantão, mandando derrubar aquilo tudo. Aquilo ali a gente tem um orgulho danado. Falam assim "uma vitoriazinha de nada, um dia só". Não, é uma grande vitória. "Ah mais não vai acontecer mais nada". Pode acontecer, mas naquele dia não aconteceu.

Enfiamos um osso goela abaixo para aquela cambada de safado que apareceu lá. Pode gravar aí. Se ela entra aqui dentro ela ia tomar um pau aqui dentro. É porque ela ficou escondida na casa dos outros: ia tomar uma coça de pau pra ela aprender a respeitar os direitos dos outros. Então é muito bom brigar contra gente grande. Porque do jeito que vem volta.

Relação entre moradia e saúde[editar | editar código-fonte]

Bom, moradia e saúde. Quero falar de uma coisa que me aconteceu, quando eu fui de perto saber o que era a Fiocruz.

Um dia estava em Vargem Grande e pessoas da Fiocruz veio apresentar pra nós um projeto que hoje eu posso chamar de projeto cidadão. Mas naquele dia, como se diz nos movimentos sociais, "a gente tem que confiar desconfiando". Eu me lembro até hoje a pergunta que eu fiz lá para vocês apresentar a bula que até então a Fiocruz era uma fábrica de remédios, uma inspecionadora. Mas agora saber de moradia- aquilo me assustou. "Essa gente está colando na gente para alguma coisa". Então eu fui ver que a relação da saúde era muito maior. A Fiocruz tinha sim, e tem até hoje coisas para contribuir: espaço, conhecimento, credibilidade pra formação de cidadania. Mas eu quis saber. Então a relação saúde, primeiro lugar a educação, depois a saúde.

Em primeiro lugar a educação porque ela produz saúde, e as duas juntas produz moradia. Porque se eu não coloco aqui um sistema de limpeza, uma caixa de gordura para recolher, não tem saúde. Não adianta eu fazer uma casinha até bonitinha, sem produção de saúde eu não vou morar dentro dela muito tempo, eu vou me matar pelas mais variadas coisas. E a relação cidade e saúde- principalmente nesta que eu vivo- pelo amor de Deus: o maior esculacho nesta cidade chama-se saúde. Ainda ontem eu saí com minha filha que tem 24 anos. Ela foi para o trabalho, daqui a pouco o namorado me liga, diz que ela está com o braço dormente. Então saí desesperado peguei ela levei para o Miguel Couto na parte nova, aquela coisa linda, tinha gente filmando. Ficamos lá 3 horas- para medir a pressão, dar dois pedaços de papel deste tamanho para o tal dos SISREG (Sistema de Regulação) marcar um médico para ela daqui uns 6 meses.

O maior esculacho desta cidade chama-se saúde, quando não valoriza o profissional daqui e vai chamar de fora. Acho que a gente só deve chamar de fora quando eu não tenho mais aqui, mas quando eu vou valorizar o de fora e esculachar o daqui, por favor. Então isto é esculachar a saúde. A nossa saúde pública no Rio de Janeiro, ela no mínimo está com AIDS e câncer juntos. Em fase terminal, agonizando. É horrível. A saúde, a saúde pública do Rio de Janeiro está agonizando. É a coisa mais nojenta que eu já vi: gastar dinheiro com os megaeventos e deixar as pessoas morrendo de gripe. As pessoas estão morrendo de dengue- coisas que até com um chá de laranja lá na roça resolve - aqui morre. Porque você fica 5 horas numa fila dessas de hospital ou UPA e sei lá mais o quê que criaram. E é assim.

Eu crio várias coisas, mas só tenho o Sérgio para trabalhar. O Sérgio tem que trabalhar em vários lugares e na segunda-feira. Então o Sérgio vai ter que escolher. E aí tem que mudar outras pessoas, mas que não estão preparadas. E dá no que dá.

O que nos move[editar | editar código-fonte]

O que nos move- principalmente é eu ver todo dia pessoas que poderiam estar passeando por aí a fora, pessoas aposentadas, que ganham um bom salário e poderiam estar no ar condicionado. Em 810 defensores públicos só 3 saem 3 horas da manhã e vão enfrentar a Prefeitura. Um juiz que 3 horas da manhã vai dar uma liminar a favor de uma comunidade para não derrubar a casa. Alguém da Fiocruz, até deputados federais, senadores, que descem de Brasília no dia da folga dele e vem aqui por causa de 11 casinhas que estão derrubando aqui. Então, essa gente que não precisa estar envolvido nisto, que vai ganhar do mesmo jeito. Esta gente que se arrisca muito mais coloca seus empregos em risco.

Seria uma vagabundagem minha, uma falta de caráter, que estou nesta situação, não faço nada, e essa gente que não precisa fazer, que nunca botou o pé na lama. Até vocês da Fiocruz Mata Atlântica podiam ficar lá. É isto que me dá o maior gás, o segundo maior gás é acreditar que isto vai mudar. É acreditar que nós podemos mudar.

A gente reclama muito do prefeito, mas nós somos chorões. Transformamos a nossa vida num muro das lamentações. Mas nós não temos coragem e disposição. Se eu conheço ele e outros. Eu acredito piamente no Mauricio, Wladimir, na Silvia, mas não temos coragem de dizer "Silvia", nós temos 58 cadeiras de vereadores e nós não temos coragem de dizer que "Mauricio, Wladimir ou Silvia- tem que ocupar pelo menos uma".

Eles vão dizer que não vai fazer diferença porque é contra 50 e tantos. Não faz diferença, mas é menos uma para ocupar no Estado- porque a gente não se reúne e aponta alguém para ocupar este espaço? Eu conheço muita gente que presta. São espaços de decisões. Eu acredito que pessoas vão mudar. Hoje, candidatos ou pré-candidatos à presidência. Quem? Não voto mais em partido, em nome. Tá complicado. Voto no projeto.

Eu acho que a sociedade tem que vi pra justiça, Ministério Público, dizer "registra isto aí". Vai ter que fazer isto aí que você está falando. Porque isto é o minimamente decente. Então são estas coisas. Ainda com 52 anos, ainda sonho com coisas diferentes. Eu sonho com um advogado honesto. Eu sonho que aqueles 6 defensores numa cadeira de 805 defensores do Estado do Rio- os 6 defensores seria muito bom- porque poderá não ter nenhum.

Eu sonho que aquele juíz que ia até o fim, que atravessou a rua e veio falar com a gente na Defensoria- o único- ele não caiu do céu, ele não foi inventado. Eu acredito que o (Miguel) Baldez, nos seus 82 anos, que foi Procurador Geral do Estado, ele criou a Defensoria Pública no governo Brizola. Ele que sentou e criou a primeira Defensoria Pública, que não existia - a primeira do Brasil. Baldez precisava disso? Sendo Procurador Geral do Estado, morando em Ipanema? Ele precisava disto?

Mas nós temos que criar novas pessoas destas.

Lá na Fiocruz a gente tem espaço. A gente tem que ter coragem de um dia chegar perto do Chefe Geral - que todo lugar tem um Chefe Geral - e falar, "por favor, tá muito bom, mas eu não quero que você troque a atendente de telefone da mesa do Sérgio, porque nós já criamos uma relação com ela". Tô falando isto por causa do curso - nós gravamos isto, e falamos "pode botar pro chefe" - a mania é muito boa, mas some. A outra é ótima, desapareceu- ué, não vamos criar uma relação nunca?

A gente também, que estão nos dando a oportunidade- a gente não tem pernas para ocupar os espaços. Agora eu já tenho esse combate em casa. Eu vou nisto até o fim, mas filhos e mulher são contra. Eu acho isto ótimo. Agora o combate é em casa. Eu acho isto maravilhoso.

Outros depoimentos[editar | editar código-fonte]

Para acessar outros depoimentos, clique nos links abaixo:

  1. Histórias, Memórias e Oralidades em Jacarepaguá - Dona Jane: acesse clicando aqui
  2. Histórias, Memórias e Oralidades em Jacarepaguá - João Marco: acesse clicando aqui
  3. Histórias, Memórias e Oralidades em Jacarepaguá - Maria Zélia Carneiro Dazzi: acesse clicando aqui
  4. Histórias, Memórias e Oralidades em Jacarepaguá - Renato Dória: acesse clicando aqui
  5. Histórias, Memórias e Oralidades em Jacarepaguá - Guaraci Jorge dos Santos: acesse clicando aqui
  6. Histórias, Memórias e Oralidades em Jacarepaguá - Sandra Maria Rosa: acesse clicando aqui
  7. Histórias, Memórias e Oralidades em Jacarepaguá - : Luiz Alberto de Jesus acesse clicando aqui
  8. Histórias, Memórias e Oralidades em Jacarepaguá - : Noemia Caetano acesse clicando aqui

Veja também:[editar | editar código-fonte]