Lan House na favela

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Tendo sido apontada como responsável por 49% dos acessos à internet no país, em 2007, as lan houses assumiram importante papel no debate sobre inclusão digital no Brasil. Equipadas com computadores conectados à internet e cobrando por suas horas de uso, esses estabelecimentos espalharam-se rapidamente, sobretudo, nos espaços populares. O presente verbete é fruto de uma pesquisa de doutorado em História na Universidade Federal Fluminense (UFF), realizada entre os anos de 2009 e 2013 em duas favelas cariocas, a saber: Santa Marta e Acari. Elegendo três pontos analisadores: o Estado, os donos de lan house e seus frequentadores, refletimos acerca dos usos e mediações que observamos em nosso trabalho de campo. Dialogando com os referenciais da pesquisa-intervenção, recorremos à realização de oficinas que serviram como grupos focais, entrevistas semiestruturadas e observação participante. Com isso, buscamos tecer encontros entre uma pesquisa etnográfica e as concepções da cartografia na produção de uma análise histórica do tempo presente. Priorizando a dimensão qualitativa, o trabalho orientou-se pela valorização da experiência e do cotidiano, para compreender a cultura popular a partir de suas significações no seio dos embates da indústria cultural. Ao final de nossos estudos, afirmamos a lan house como um espaço multipropósito, que vai além de um ponto de acesso pago à internet. No contexto de Acari e do Santa Marta as lan houses revelaram-se como importantes locais para se pensar as práticas culturais e sociais dos jovens destas favelas, bem como o impacto da política de segurança pública nessas regiões da cidade. A imposição em abordar a segurança em um trabalho sobre cultura nos serve como analisador da realidade das favelas que vivenciam um apagamento de suas ações políticas, educacionais e culturais, em detrimento da espetacularização da violência, do confronto armado e da militarização do cotidiano. Assim, refletir acerca da abertura e manutenção de pequenos empreendimentos econômicos, em geral familiares, como as lan houses, nos direciona a pensar sobre os estímulos e/ou entraves a outras lógicas econômicas. Nas lan houses acompanhadas foi possível identificar a força de seus donos para garantir um serviço de qualidade nesta região da cidade na qual, por exemplo, serviços de banda larga por vezes são restritos. Nesse sentido, além garantir qualidade ao acesso à internet, as lan houses transformam-se em espaços de encontro, educação, cultura e sociabilidade para seus frequentadores, majoritariamente, jovens do sexo masculino.

Autora: Pâmella Passos.