Movimento de Defesa do Favelado (MDF)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Informações do verbete reproduzidas, pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de redes de comunicação oficiais do coletivo.

História [editar | editar código-fonte]

MDF 01.
MDF 02.
MDF 03.

Olhando para trás, sobre os rumos e rastejos da vida, é engraçado por um lado, e motivo de humildade pelo outro, constatar o abismo entre o sonho utópico original, e os pés calejados sobre os cascalhos e  lama * do caminho andado.

Sei de fato, que sou e sempre fui, sonhador. Até demais. Mas nunca sonhei em iniciar ou fundar alguma coisa. Apenas seguir uma intuição . E com outros, caminhar, com aquela cumplicidade de que, um dia, se pudesse dizer que valeu a pena arriscar. E quem sabe, no tempo que for, ver uma flor brotar do impossível chão. ** 

De qualquer modo, lá pelos idos de 1979, começou a aparecer uma serie de sonhos sobre um tema novo e ainda nascituro. Tudo provocado pelas andanças que vinha fazendo nas favelas da Zona Leste de São Paulo, junto com Ana Boran, uma Freira Irlandesa, logo da minha chegada na paroquia da Vila Alpina em Novembro 1977. 

Não digo que favela de fato, era novidade. Numa viagem a Índia em 1975, vivenciei cenas chocantes nas ruas de Bombaim e Nova Deli, cuja lembrança fica comigo ate hoje. Porem, entre aquilo e o que eu estava começando a vivenciar no Brasil, tinha um abismo.  E o abismo era entre um olhar 'observador', mesmo 'simpático e comovido', de um lado.  E o desejo de voltar, como peregrino, a própria raiz, para poder aprender o caminhar solidário com a dor e a alegria, de um mundo secularmente esquecido. 

Meditando sobre tudo isso naquele fim da década dos anos 70, me dei conta de algumas coisas estrategicamente significativas que possibilitaram o nascimento do MDF. Primeiro, o ambiente eclesial fervia da Teologia de Libertação, vivida na pratica, nas comunidades eclesiais de base. Segundo, profetas de um novo tempo, homens e mulheres de todas as índoles, se encontraram espalhados em todos os cantos do pais. E terceiro, muitos jovens ficaram 'contaminados' com essa 'febre', e queriam, como diria hoje o papa Francisco, partir para as 'periferias'. O cenário parecia pronto para algo novo nascer. 

Fuçando nos arquivos da memoria, consigo resgatar o primeiro sinal desse 'algo novo'. Foi o aparecimento de uma jovem, recém chegada de Barretos, cidade do interior do Estado de São Paulo, e na época, morando em São Caetano do Sul. Seu nome? Eunice Michelini. Na sequencia, conversas miúdas e papos bem cumpridos, com ela e com outros jovens que vinham aparecendo. Assuntos da vida, da Igreja, do engajamento solidário com a imensidão da luta pela justiça que nos cercava. E por final, numa certa noite, um estalo na cabeça!  Porque não ensaiar ali mesmo, na Paroquia Nossa Senhora do Carmo, um núcleo de referencia para continuar esses papos? E Talvez, ir  além? Assim nasceu o que logo mais, seria conhecido como o MDF. 

A primeira pessoa a ser convidada para formar uma 'equipe', era a própria Eunice. Passado um certo tempo, chegou Manuel Pinheiro, morador da favela Vila Prudente. E passado outro tempo, chegou um 'curioso'  que tinha ouvido falar da 'aventura'. Um tal de Paulo Conforto, hoje Promotor Publico no Parana . Trouxe na sua esteira, 23 pessoas do grupo de jovens da Paroquia Santo Emídio. Entre elas, Marcos Zerbini, hoje Deputado Estadual em São Paulo, que ia integrar a equipe nascente como o quarto convidado. Enquanto isso, o resto do grupo trazido por Paulo, funcionaria como 'apoio'. 

Tudo isso era apenas o inicio. Tinha ainda muita coisa pratica e burocrática por fazer. Felizmente, a paroquia Nossa Senhora do Carmo nos cedeu a pequena sala dos Jovens para as nossas reuniões de equipe. E o Salão Mariano para encontros maiores. Procuramos também, partilhar o sonho com o então bispo da Região Episcopal Belém, Dom Luciano Mendes de Almeida, quem nos deu seu apoio e sua benção. E acabamos conhecendo 'advogados do povo' como Miguel Afonso e Henrique Pacheco, homens de coragem e compaixão, solidários ao lado dos oprimidos.

Na esteira de tudo isso, começou a chegar gente de longe. Do Cerrado e dos Sertões. Dos Canudos e dos Canaviais. Das feguesias e favelas distantes na Zona Leste de São Paulo. Sapopemba, São Mateus, Iguatemi, Terceira Divisão... e outros cantos mais. No meio de toda essa legião de gente, a figura alegre cantante da Irma Iracema, juntamente com o sábio e incansável lutador na defesa dos deserdados, Antonio Caetano, encabeçando uma onda de seguidores em busca da terra sem males.  

Faltava porém, um apoio financeiro para poder remunerar a equipe e suprir outros gastos. E nisso, quem nos veio em socorro foi a Agencia Católica para Ajuda ao Terceiro Mundo em Londres (Cafod), através da mediação da Clare Dixon, cuja presença entre nós, 'en la cercania de lo lejano',** atravessa quatro décadas. Mais tarde, com  a ampliação da equipe e do trabalho do MDF, teríamos  o apoio complementar de Trocaire (palavra que significa Misericórdia) da Irlanda, com a presença inspiradora de representantes como Sally O'Neill e Kate O'Brien. E no ano 2000, o inicio do apoio da Caritas Austrália, representada por longos anos pela inesquivável Irmã Margaret Fyfe. 

Desde esses tempos de Aurora, temos andado abrindo caminhos, deixando saudades e searas, construindo historia e fazendo nascer vidas. Tempos de muita luta contra a arbitrariedade do despejo. Luta em favor do trabalho, do teto e do chão. Luta para trazer a tarifa social de água e luz. Luta alicerçada na Mistica que gerou a Teologia do Esgoto. E a Teologia da ternura responsável para com a nossa Casa Comum***. Lutas, que marcaram muitas vidas e, quem sabe, vidas que devem a sobrevivência de sua esperança, a um punhado de sonhadores que chegou mansinho, mas que acabou acendendo uma fogueira no coração valente dos 'Desvalidos' .

Projetos[editar | editar código-fonte]

Centro Cultural Vila Prudente[editar | editar código-fonte]

O Centro Cultural Vila Prudente é um fazedor de paz e em 1 de novembro de 2008 completou 18 anos de Vida. E vida sem aspas porque representa a alegria e a esperança para dezenas de crianças e adolescentes, que encontram em seu interior carinho, proteção, cultura e lazer. Como diz o fundador do Centro, padre Patrick Clarke, “façamos desta terra um lugar para todos. Um lar de acolhida, de alegria e de esperança!”.

Site: http://www.centroculturalvilaprudente.org.br/

Recifavela[editar | editar código-fonte]

A partir da experiência de jovens envolvidos no MDF que participaram do curso de verão promovido pelo CESEEP, com o tema Meio Ambiente e espiritualidade. Esses jovens em contato com os catadores da Favela de vila Prudente, com assessoria do MDF se organizaram em Cooperativa para o trabalho de coleta de materiais recicláveis e conscientização das favelas e escolas no tema educação ambiental.

Site: https://www.recifavela.com.br/ 

Salão do povo[editar | editar código-fonte]

Espaço na Favela de Vila Prudente que reúne jovens para a qualificação profissional na área de informática e esportes.

Creche Julio Cesar de Aguiar[editar | editar código-fonte]

Construída em mutirão pelos moradores nos anos 80. Momento forte foi em ocasião da celebração da pedra fundamental presidida por D. Luciano Mendes, incentivador da pastoral do Menor na Arquidiocese de São Paulo. Inaugurada em agosto de 1989 com Missa presidida por D. Décio Pereira. Hoje com convênio com a Prefeitura atende crianças de 1 a 3 anos.

Centro Pastoral D. Oscar Romero[editar | editar código-fonte]

Situado na Favela da Vila Prudente este espaço de mística ajudará os grupos pastorais e do movimento a se reunirem para formação e para momentos de espiritualidade.

Contatos[editar | editar código-fonte]