Museu Sankofa Memória e História da Rocinha

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

O Museu da Rocinha – Sankofa – Memória e História é um modelo de museu comunitário fundamentado na relação entre o espaço, o tempo e a memória, atuando diretamente entre os grupos sociais que vivem na favela da Rocinha.

Autoria: informações do verbete reproduzidas, pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de redes de comunicação oficiais do Museu Sankofa e do Radar Covid-19 nas Favelas; Antônio Carlos Firmino.

Este grupo foi contemplado pela Chamada Pública, promovida pela Fiocruz[1].

Logo do Museu.
Logo do Museu.

Sobre[editar | editar código-fonte]

O Museu da Rocinha é um museu itinerante que percorre os becos e ruas da favela, expondo um acervo composto por fotos, documentos, objetos e filmes sobre a história e o cotidiano da favela.

Essa metodologia, uma relação direta entre a prática museológica e a prática social, faz com que os moradores compartilhem suas memórias através de depoimentos ou doação de objetos ao museu, cujo acervo está em contínua construção.

A partir disto, o Sankofa visa o conhecimento do passado e cultura da Rocinha, sempre através do olhar de quem conhece a comunidade.

O trabalho está diretamente ligado a autoestima dos moradores, possibilitando a mudança de postura e fortalecimento de suas raízes culturais e afetivas.

Sankofa é uma palavra Akan, das nações africanas de Ghana e da Costa do Marfim que significa “devemos olhar para trás e recuperar nosso passado, assim podemos nos mover para frente; assim compreendemos por que e como viemos a ser quem somos nós hoje”.

História e projetos[editar | editar código-fonte]

Atualmente, o Museu Sankofa realiza o projeto Rocinha pela Vida, que se propõe a resgatar a memória dos mutirões e campanhas históricas da Rocinha por direitos humanos e bem-estar social, particularmente da saúde com foco na vacinação. A ideia é convidar as jovens lideranças e moradores a se reunirem em torno das histórias do movimento popular no território e àqueles que lutaram no passado para conquistar os equipamentos públicos de saúde, educação, saneamento, urbanização e cultura que hoje existem na comunidade.

O museu utilizará a apresentação de documentos de seu acervo, incluindo fotos, notícias, músicas das reivindicações e vitórias. Materiais do Jornal Tagarela e do livro “Varal de Lembranças: histórias da Rocinha” da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha, publicado em 1983, organizado por Lygia Segala, Antônio de Oliveira Lima e Tânia Regina da Silva, servirão como o fio condutor das narrativas.

Ao longo de 6 meses, serão realizadas cinco lives (uma por mês) com integrantes dos movimentos sociais, agentes comunitários de saúde e pesquisadores que integraram ou ainda atuam nas lutas por saúde, desde os anos de 1970, para esquentar as lembranças do sucesso das campanhas de enfrentamento de doenças no passado (sarampo, varíola, rubéola e outras) e alimentar a necessária mobilização para vencer também a Covid-19. Além disso, serão realizadas ações de mobilização junto ao comércio formal e informal, principalmente nos pontos de maior circulação, com fixação de cartazes em locais de maior circulação e de banners informativos nas vielas e becos da comunidade. Os facilitadores do museu serão responsáveis por contribuírem em colagem de cartazes e banners em lugares estratégicos da favela.

Em julho de 2007, alguns moradores atuantes das muitas lutas por melhores condições sociais na Favela da Rocinha, além de artistas, militantes e autoridades, como o secretário Estadual de Cultura da época, participaram da construção do Fórum Cultural da Rocinha com mais de 200 participantes. Este Fórum formulou o plano cultural da Rocinha e passou a apoiar projetos culturais de preservação, salvaguarda de seu patrimônio e a criação de um museu para a Rocinha para difundir, de forma educativa, memórias e histórias da Favela, suas lutas e conquistas.

Em 2008, surgiu o Coletivo Museu Sankofa Memória e História da Rocinha que iniciou ações para sair da ideia para algo mais concreto. As primeiras atividades foram realizadas em 2009, marcando as memórias e histórias da Rocinha com os “Chá de Museus” e com rodas de conversas temáticas sobre mutirões por saneamento básico, luta por vacinas e a importância dos pais e responsáveis vacinarem as crianças nos anos 70 e 80, entre outras.

As campanhas utilizavam cartazes artesanais, faixas e jornal comunitário como meios para sensibilizar os moradores. O projeto Rocinha Pela Vida tem por objetivo contribuir para uma campanha de esclarecimento sobre a Covid-19, através da promoção de debates virtuais mensais. Com a presença de especialistas em saúde, agentes comunitários de saúde locais (ACS) e moradores que lutaram pela campanha por vacinas na Rocinha nas décadas 70 e 80, visa dirimir as dúvidas, alertar sobre fake news e sensibilizar a população sobre a importância da prevenção contra Covid-19 e da solidariedade entre os moradores. Serão convidados a participar dos debates professores das escolas públicas, profissionais das unidades de saúde e de assistência social, creches, lideranças dos movimentos sociais (organizações e coletivos), artistas e entidades do movimento cultural local, profissionais dos veículos de comunicação da Rocinha, entre outros.

Serão criadas mensagens para circulação nas mídias sociais e veículos de comunicação da Rocinha com informações sobre prevenção contra a Covid-19 e as fake news. A campanha contará com a distribuição de 300 kits para prevenção da contaminação do vírus SARS-CoV-2, com máscaras de três dobras confeccionadas pelas costureiras da Rocinha, e álcool gel 70%; realização de colagem de materiais informativos nos becos, vielas e em locais estratégicos (cartazes, banners) como equipamentos públicos de educação e saúde; comunicação através de carro de som e mídias locais sobre as fakes news e prevenção contra Covid-19.

O projeto Rocinha pela Vida só foi possível com nosso parceiro de muito tempo, o Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), que apresentou a proposta do Coletivo do Museu Sankofa. O Cecip também é parceiro do Museu desde 2017 na criação do site “Memória Rocinha” , desenvolvido pelo Museu, pelo Instituto Moreira Salles e pelo Projeto Oi Kabum.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde é reconhecido internacionalmente por sua eficiência e capacidade de cobertura. Em 1975, o Brasil recebeu da OMS o certificado de erradicação da varíola. Em 1980, o MS iniciou as campanhas de vacinação contra a poliomielite que atingia anualmente cerca de três mil pessoas. O último registro da pólio no Brasil ocorreu em 1989, e em 1994, a OMS concedeu ao Brasil o certificado de erradicação da doença. Isso, graças ao SUS, que oferece toda a infraestrutura e a competência de seus profissionais. No caso da Rocinha, 100% de cobertura garantida pelo atendimento de duas Clínicas da Família, um CAPS, uma UPA e um CMS, resultado de muita mobilização dos movimentos sociais e motivo de orgulho para a comunidade.

A memória afetiva dos moradores em relação aos mutirões e às campanhas de vacinação vêm dando lugar às preocupações alimentadas por fake news. Essa memória do controle de doenças graves através das vacinas, aliada à comunicação confiável, é necessária e urgente. Ao compartilhar depoimentos de moradores sobre a luta por vacinas nas décadas 70 e 80 contra a mortalidade infantil e fazer o paralelo com o atual contexto na prevenção contra a Covid-19 e as fakes news, o projeto procura estimular a empatia e a solidariedade dos moradores para a prevenção da doença.

O significado de "Sankofa"[editar | editar código-fonte]

Autoria: Antônio Carlos Firmino.

O Museu Sankofa Memória e História da Rocinha parte deste princípio assim com é o seu símbolo "SANKOFA" que tem como representação um pássaro mítico onde ele tem os pés para frente e cabeça para trás significando para construir o presente e futuro temos olhar o passado, assim o Museu Sankofa vem sendo construído hoje nossas ações são um percurso onde contamos as memórias e histórias locais contextualizando com a cidade do Rio de Janeiro.

Principais ações[editar | editar código-fonte]

  • Recolhimento de documentos e fotografias antigas da Rocinha;
  • Digitalização do material recebido pelos moradores;
  • Realização periódica de eventos como “Chás de Museu” e intervenções urbanas e artísticas sobre Educação e Saúde;
  • Estudos de organização do acervo.

Acervo[editar | editar código-fonte]

O acervo, em construção, possui objetos, fotos e filmes que retratam o cotidiano dos moradores da Rocinha e a história da ocupação da favela.

Latas d’água que remetem ao tempo em que era preciso percorrer quilômetros a pé para matar a sede, modelos de brinquedos que passaram de geração para geração, como pipas e carrinhos de rolimã, maquete do modelo de barraco de pau a pique, predominante nos anos 40.

Atualmente parte de seu acervo e equipamento fica em uma sala no prédio da Região Administrativa da Rocinha.  Outra parte do acervo, que reúne coleções de entrevistas/histórias de vida, fotografias, recortes de jornais, folhetos, desenhos, cartas e manuscritos, jornais comunitários, mapas, projetos de instituições públicas, relatórios técnicos, notas sobre as reuniões do movimento para a reorganização da FAFERJ - Federação das Associações de Favela do Rio de Janeiro e da Pastoral pertence LABOEP-UFF.

Ainda sobre o estudo da memória, o historiador Paulo Knauss nos traz que a memória diz respeito a algo que está vivo, que é um trabalho de reconstrução, de presentificar o passado na busca da construção de um futuro e que pode mudar práticas e realidades.

“Preservar a memória dos vitimados se define como reparação simbólica. Portanto, a importância de um memorial, enquanto símbolo da vida humana e como ferramenta de justiça social.” Valorizar o humano e contar suas histórias de vida é necessário diante das constantes tentativas de apagamento e do silenciamento de culturas perpetrados pela lógica dos governos de dominação e de opressão.

Vídeos sobre o Sankofa[editar | editar código-fonte]

Redes sociais[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências gerais[editar | editar código-fonte]

https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/radar-14_final-2022.pdf