O efeito gangue sobre a dinâmica dos homicídios: um estudo sobre o caso de Cambé/PR (artigo): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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<p>Dossiê publicado originalmente na&nbsp;'''Revista USP''', n. 129 de 2021. Para acessar o Dossiê na íntegra,&nbsp;</p>[https://www.revistas.usp.br/revusp/issue/view/12074 clique aqui]<p>.</p>
<p>Artigo publicado originalmente na '''Revista USP''', n. 129 de 2021, Dossiê de Segurança Pública. Para acessar o Dossiê na íntegra, [https://www.revistas.usp.br/revusp/issue/view/12074 clique aqui].</p>
<h5 class="mwt-heading" >Autores:</h5>
'''CLEBER DA SILVA LOPES''' é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Governança da Segurança (LEGS).
 
'''ANDERSON ALEXANDRE FERREIRA''' é doutorando em Sociologia da UEL e pesquisador do LEGS.
=== Resumo ===
Este &nbsp; trabalho &nbsp; analisa &nbsp; os &nbsp; processos &nbsp; que &nbsp;produzem &nbsp;dinâmicas &nbsp;homicidas &nbsp;ascendentes &nbsp;em &nbsp;territórios &nbsp;marcados &nbsp;por conflitos entre gangues. O objetivo é entender como a emergência de gangues em &nbsp;determinados &nbsp;territórios &nbsp;impacta &nbsp;os &nbsp;padrões &nbsp;de &nbsp;violência &nbsp;letal &nbsp;entre &nbsp;jovens. &nbsp;Para &nbsp;demonstrar &nbsp;como &nbsp;o &nbsp;efeito &nbsp;gangue &nbsp;ocorre, &nbsp; analisamos &nbsp; os &nbsp; padrões &nbsp; de &nbsp; homicídios em um território periférico do município &nbsp;de &nbsp;Cambé, &nbsp;Paraná, &nbsp;ao &nbsp;longo &nbsp;de &nbsp;15 &nbsp;anos &nbsp;(1991 &nbsp;a &nbsp;2006). &nbsp;Os &nbsp;resultados &nbsp;mostram &nbsp;que &nbsp;as &nbsp;dinâmicas &nbsp;homicidas &nbsp;são fortemente impactadas por conflitos intragangues, &nbsp;disputas &nbsp;por &nbsp;poder &nbsp;e &nbsp;status &nbsp;entre &nbsp;membros &nbsp;de &nbsp;gangues &nbsp;e, &nbsp;principalmente, “guerras” de gangues.
=== O artigo  ===
Este &nbsp;trabalho &nbsp;analisa &nbsp;os &nbsp;processos &nbsp;que &nbsp;produzem &nbsp;dinâmicas &nbsp;homicidas &nbsp;ascendentes &nbsp;em &nbsp;territórios &nbsp;marcados &nbsp;por &nbsp;conflitos &nbsp;entre &nbsp;gangues – agrupamentos juvenis cuja identidade se vincula a atividades &nbsp;ilícitas &nbsp;e &nbsp;ao &nbsp;controle &nbsp;do &nbsp;território, &nbsp;não &nbsp;raramente &nbsp;com o uso de armas de fogo (Zilli, &nbsp;2011; &nbsp;Klein &nbsp;& &nbsp;Maxson, &nbsp;2006). O objetivo é entender como a emergência de gangues &nbsp;em &nbsp;determinados &nbsp;territórios &nbsp;impacta os padrões de violência letal entre jovens.
 
Para &nbsp;demonstrar &nbsp;como &nbsp;o &nbsp;efeito &nbsp;gangue ocorre, &nbsp;analisamos &nbsp;os &nbsp;padrões &nbsp;de &nbsp;homicídios &nbsp;em um território periférico do município de Cambé, Paraná, ao longo de 15 anos (1991 a 2006). A análise se baseia (i) no conhecimento pessoal do segundo autor deste artigo, morador do território analisado e integrante de uma das gangues ativas no começo da década de 2000; (ii) nos depoimentos de 11 ex-membros de gangues e de nove moradores locais, obtidos por meio de entrevistas diretivas e conversas informais; (iii) em matérias jornalísticas sobre os crimes ocorridos no território analisado; e (iv) em notas tomadas dos escassos registros disponíveis na Delegacia do município de Cambé <ref>O material empírico foi produzido pela dissertação de Ferreira (2018). Este artigo é um subproduto da dissertação.</ref> .
 
Os &nbsp;dados &nbsp;mostram &nbsp;que &nbsp;conflitos &nbsp;intragangues, disputas por poder e status &nbsp;entre &nbsp;membros de gangues e “guerras” de gangues produzem &nbsp;taxas &nbsp;de &nbsp;homicídios &nbsp;ascendentes &nbsp;nos territórios dominados por gangues. As guerras de gangues são as que mais impactam &nbsp;os &nbsp;padrões &nbsp;locais &nbsp;de &nbsp;homicídios, &nbsp;pois &nbsp;geram processos de contágio que difundem o homicídio no tempo e no espaço. Assim, uma vez iniciadas, as guerras geram dinâmicas homicidas de médio prazo (gerando mortes &nbsp;até &nbsp;sete &nbsp;anos &nbsp;depois &nbsp;do &nbsp;início &nbsp;da contenda) &nbsp;e &nbsp;capazes &nbsp;de &nbsp;transbordar &nbsp;o &nbsp;território de origem dos conflitos.
 
Além desta seção introdutória, o trabalho está organizado em mais quatro. A seção dois apresenta o caso que será analisado. A seção três &nbsp;expõe &nbsp;a &nbsp;maneira &nbsp;como &nbsp;a &nbsp;teoria &nbsp;social relaciona &nbsp;gangues &nbsp;e &nbsp;homicídios. &nbsp;A &nbsp;seção seguinte mostra como as gangues impactaram os padrões de violência letal em Cambé. As &nbsp;considerações &nbsp;sumarizam &nbsp;os &nbsp;resultados e chamam a atenção para o fato de Cambé também ser um caso crucial para entendermos &nbsp;melhor &nbsp;por &nbsp;que &nbsp;as &nbsp;taxas &nbsp;de &nbsp;homicídios &nbsp;sobem &nbsp;e &nbsp;caem &nbsp;em &nbsp;determinados &nbsp;territórios.

Edição das 13h02min de 14 de setembro de 2021

Artigo publicado originalmente na Revista USP, n. 129 de 2021, Dossiê de Segurança Pública. Para acessar o Dossiê na íntegra, clique aqui.

Autores:

CLEBER DA SILVA LOPES é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Governança da Segurança (LEGS).

ANDERSON ALEXANDRE FERREIRA é doutorando em Sociologia da UEL e pesquisador do LEGS.

Resumo

Este   trabalho   analisa   os   processos   que  produzem  dinâmicas  homicidas  ascendentes  em  territórios  marcados  por conflitos entre gangues. O objetivo é entender como a emergência de gangues em  determinados  territórios  impacta  os  padrões  de  violência  letal  entre  jovens.  Para  demonstrar  como  o  efeito  gangue  ocorre,   analisamos   os   padrões   de   homicídios em um território periférico do município  de  Cambé,  Paraná,  ao  longo  de  15  anos  (1991  a  2006).  Os  resultados  mostram  que  as  dinâmicas  homicidas  são fortemente impactadas por conflitos intragangues,  disputas  por  poder  e  status  entre  membros  de  gangues  e,  principalmente, “guerras” de gangues.

O artigo 

Este  trabalho  analisa  os  processos  que  produzem  dinâmicas  homicidas  ascendentes  em  territórios  marcados  por  conflitos  entre  gangues – agrupamentos juvenis cuja identidade se vincula a atividades  ilícitas  e  ao  controle  do  território,  não  raramente  com o uso de armas de fogo (Zilli,  2011;  Klein  &  Maxson,  2006). O objetivo é entender como a emergência de gangues  em  determinados  territórios  impacta os padrões de violência letal entre jovens.

Para  demonstrar  como  o  efeito  gangue ocorre,  analisamos  os  padrões  de  homicídios  em um território periférico do município de Cambé, Paraná, ao longo de 15 anos (1991 a 2006). A análise se baseia (i) no conhecimento pessoal do segundo autor deste artigo, morador do território analisado e integrante de uma das gangues ativas no começo da década de 2000; (ii) nos depoimentos de 11 ex-membros de gangues e de nove moradores locais, obtidos por meio de entrevistas diretivas e conversas informais; (iii) em matérias jornalísticas sobre os crimes ocorridos no território analisado; e (iv) em notas tomadas dos escassos registros disponíveis na Delegacia do município de Cambé [1] .

Os  dados  mostram  que  conflitos  intragangues, disputas por poder e status  entre  membros de gangues e “guerras” de gangues produzem  taxas  de  homicídios  ascendentes  nos territórios dominados por gangues. As guerras de gangues são as que mais impactam  os  padrões  locais  de  homicídios,  pois  geram processos de contágio que difundem o homicídio no tempo e no espaço. Assim, uma vez iniciadas, as guerras geram dinâmicas homicidas de médio prazo (gerando mortes  até  sete  anos  depois  do  início  da contenda)  e  capazes  de  transbordar  o  território de origem dos conflitos.

Além desta seção introdutória, o trabalho está organizado em mais quatro. A seção dois apresenta o caso que será analisado. A seção três  expõe  a  maneira  como  a  teoria  social relaciona  gangues  e  homicídios.  A  seção seguinte mostra como as gangues impactaram os padrões de violência letal em Cambé. As  considerações  sumarizam  os  resultados e chamam a atenção para o fato de Cambé também ser um caso crucial para entendermos  melhor  por  que  as  taxas  de  homicídios  sobem  e  caem  em  determinados  territórios.

  1. O material empírico foi produzido pela dissertação de Ferreira (2018). Este artigo é um subproduto da dissertação.