Pentecostalismo: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
(Criou página com 'Diversas pesquisas, de caráter quantitativo e qualitativo, indicam que o pentecostalismo se consolidou, especialmente ao longo dos últimos quarenta anos, como um segmento re...')
 
Sem resumo de edição
(2 revisões intermediárias por 2 usuários não estão sendo mostradas)
Linha 1: Linha 1:
Diversas pesquisas, de caráter quantitativo e qualitativo, indicam que o pentecostalismo se consolidou, especialmente ao longo dos últimos quarenta anos, como um segmento religioso de bastante destaque nas favelas e periferias das grandes áreas metropolitanas do país. Na construção do verbete, proponho sintetizar quatro dimensões essenciais presentes nos estudos que levam em conta a relação entre pentecostalismo e favelas/periferias: 1) uma dimensão cultural, na qual se leva em consideração movimentos de trânsito religioso e os diversos modos de coexistência com outros segmentos religiosos (especialmente o catolicismo e as religiões de matriz africana); 2) a relação do pentecostalismo com o contexto de violência urbana, explorando as articulações com seus principais personagens: as múltiplas facetas das relações entre pentecostais, traficantes e milicianos, a expansão do pentecostalismo em direção ao mundo do crime e também à polícia e outros agentes e instituições de controle social; 3) uma dimensão micropolítica, na qual é importante destacar a presença e o impacto do pentecostalismo na ação de movimentos cívico-religiosos, especialmente o impacto de sua presença em movimentos contra a violência policial/prisional/estatal que se organizam a partir das periferias urbanas; e 4) uma dimensão micropolítica, na qual é importante destacar a relação entre o pentecostalismo produzido nas favelas e periferias e a política institucional-eleitoral. Evidentemente, essas quatro dimensões possuem fortíssimo vínculo empírico – o que, por sua vez, permite que o verbete seja construído como uma narrativa única, que se articulará a partir de suas principais referências bibliográficas (com a maior amplitude regional possível), bem como das pesquisas que as sustentam.


Autor: Cesar Pinheiro Teixeira.
== Pentecostalismo ==
 
'''Autor: Cesar Pinheiro Teixeira.'''
 
Diversas pesquisas, de caráter quantitativo e qualitativo, indicam que o pentecostalismo se consolidou, especialmente ao longo dos últimos quarenta anos, como um segmento religioso de bastante destaque nas favelas e periferias das grandes áreas metropolitanas do país.
 
Na construção do verbete, proponho sintetizar quatro dimensões essenciais presentes nos estudos que levam em conta a relação entre pentecostalismo e favelas/periferias:
 
1) uma dimensão cultural, na qual se leva em consideração movimentos de trânsito religioso e os diversos modos de coexistência com outros segmentos religiosos (especialmente o catolicismo e as religiões de matriz africana);
 
2) a relação do pentecostalismo com o contexto de violência urbana, explorando as articulações com seus principais personagens: as múltiplas facetas das relações entre pentecostais, traficantes e milicianos, a expansão do pentecostalismo em direção ao mundo do crime e também à polícia e outros agentes e instituições de controle social;
 
3) uma dimensão micropolítica, na qual é importante destacar a presença e o impacto do pentecostalismo na ação de movimentos cívico-religiosos, especialmente o impacto de sua presença em movimentos contra a violência policial/prisional/estatal que se organizam a partir das periferias urbanas; e
 
4) uma dimensão micropolítica, na qual é importante destacar a relação entre o pentecostalismo produzido nas favelas e periferias e a política institucional-eleitoral. Evidentemente, essas quatro dimensões possuem fortíssimo vínculo empírico – o que, por sua vez, permite que o verbete seja construído como uma narrativa única, que se articulará a partir de suas principais referências bibliográficas (com a maior amplitude regional possível), bem como das pesquisas que as sustentam.
 
== Pentecostalismo nas favelas ==
 
'''Autora: Wania Mesquita.'''
 
A presença do pentecostalismo nas favelas não é recente. Desde a década de 1960, as igrejas pentecostais chegaram nesses territórios, porém sua participação na sociabilidade local não era expressiva. O processo de expansão urbana das igrejas evangélicas, deslanchado a partir da década de 90, ampliou o crescimento das igrejas neopentecostais, que passaram a disputar o território com as igrejas pentecostais, as igrejas católicas e as religiões de matriz africana. Muitas das igrejas neopentecostais são pequenas denominações fundadas por moradores, que ocupam os lugares, onde antes funcionavam pequenos comércios ou mesmos residências.  Essas igrejas reativam a moralidade tradicional, articulando os “juízos do lugar” com a mentalidade evangélica, que atribui motivos religiosos às agruras da realidade, enfatizando a responsabilidade individual, concebida a partir da relação direta crente-Deus, cujo fundamento é a fé. Diante desta batalha espiritual, orientam a conduta dos fiéis para vida, conseguindo combinar os valores cristão com os princípios do empreendedorismo nas favelas, permitindo reacender a esperança, numa conjuntura de desemprego estrutural e ausência de políticas públicas.
 
 
 
[[Category:Temática - Religião]]

Edição das 19h40min de 15 de abril de 2020

Pentecostalismo

Autor: Cesar Pinheiro Teixeira.

Diversas pesquisas, de caráter quantitativo e qualitativo, indicam que o pentecostalismo se consolidou, especialmente ao longo dos últimos quarenta anos, como um segmento religioso de bastante destaque nas favelas e periferias das grandes áreas metropolitanas do país.

Na construção do verbete, proponho sintetizar quatro dimensões essenciais presentes nos estudos que levam em conta a relação entre pentecostalismo e favelas/periferias:

1) uma dimensão cultural, na qual se leva em consideração movimentos de trânsito religioso e os diversos modos de coexistência com outros segmentos religiosos (especialmente o catolicismo e as religiões de matriz africana);

2) a relação do pentecostalismo com o contexto de violência urbana, explorando as articulações com seus principais personagens: as múltiplas facetas das relações entre pentecostais, traficantes e milicianos, a expansão do pentecostalismo em direção ao mundo do crime e também à polícia e outros agentes e instituições de controle social;

3) uma dimensão micropolítica, na qual é importante destacar a presença e o impacto do pentecostalismo na ação de movimentos cívico-religiosos, especialmente o impacto de sua presença em movimentos contra a violência policial/prisional/estatal que se organizam a partir das periferias urbanas; e

4) uma dimensão micropolítica, na qual é importante destacar a relação entre o pentecostalismo produzido nas favelas e periferias e a política institucional-eleitoral. Evidentemente, essas quatro dimensões possuem fortíssimo vínculo empírico – o que, por sua vez, permite que o verbete seja construído como uma narrativa única, que se articulará a partir de suas principais referências bibliográficas (com a maior amplitude regional possível), bem como das pesquisas que as sustentam.

Pentecostalismo nas favelas

Autora: Wania Mesquita.

A presença do pentecostalismo nas favelas não é recente. Desde a década de 1960, as igrejas pentecostais chegaram nesses territórios, porém sua participação na sociabilidade local não era expressiva. O processo de expansão urbana das igrejas evangélicas, deslanchado a partir da década de 90, ampliou o crescimento das igrejas neopentecostais, que passaram a disputar o território com as igrejas pentecostais, as igrejas católicas e as religiões de matriz africana. Muitas das igrejas neopentecostais são pequenas denominações fundadas por moradores, que ocupam os lugares, onde antes funcionavam pequenos comércios ou mesmos residências.  Essas igrejas reativam a moralidade tradicional, articulando os “juízos do lugar” com a mentalidade evangélica, que atribui motivos religiosos às agruras da realidade, enfatizando a responsabilidade individual, concebida a partir da relação direta crente-Deus, cujo fundamento é a fé. Diante desta batalha espiritual, orientam a conduta dos fiéis para vida, conseguindo combinar os valores cristão com os princípios do empreendedorismo nas favelas, permitindo reacender a esperança, numa conjuntura de desemprego estrutural e ausência de políticas públicas.