Rocinha

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

A Rocinha é uma extensa favela localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, legalmente reconhecida como bairro deste município em 1993. Diferentes Censos demográficos recentes realizados na região divergem sobre o número de habitantes da região, distribuída em 957.253m2 (dados do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC 1). De acordo com o Censo IBGE/2022, lá vivem 67.199 pessoas, já dados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1) contabilizavam 98.319 habitantes, em 2010. Apesar das várias versões existentes sobre o início da povoação da região, um aparente consenso é de que a intensificação da ocupação aconteceu no início do século XX, através da aquisição, venda e loteamento das terras entre fazendeiros com propriedades na chamada Freguesia da Gávea, onde hoje se localiza a favela. Com o passar do tempo, estímulos dos próprios governantes da antiga capital federal para migração de trabalhadores nordestinos visando a construção da cidade, entre outros fatores, a região se transformou em um lugar marcado por contrastes socioeconômicos e desafios de infraestrutura de moradia e serviços públicos em geral. Nos diversos momentos que atravessam a história local até hoje, moradores e seus movimentos populares lutam pelo acesso a direitos básicos de sobrevivência.

Autoria: Informações reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir de outras fontes[1][2]
Visão da favela

Sobre[editar | editar código-fonte]

A Rocinha é uma favela localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro, no Brasil. Destaca-se por ser uma das maiores favelas do país, contando com cerca de 70 mil habitantes, segundo o Censo IBGE/2022. A região passou a ser considerada um bairro e foi delimitada pela Lei Nº 1 995 de 18 de junho de 1993, com alterações nos limites dos bairros da Gávea, Vidigal e São Conrado.

A origem do nome possui diferentes versões. Uma delas é a de que "moradores, ao se instalarem na Rocinha, nas primeiras décadas do século XX, começaram a cultivar frutas e hortaliças, que eram vendidas no Largo das Três Vendas (atual Praça Santos Dumont), na Gávea. Durante as vendas, quando os compradores perguntavam de onde vinham os produtos, os vendedores apontavam para o alto do morro e diziam: 'lá na minha Rocinha'" [2].

Padrão Urbanístico da Rocinha.jpg

Localiza-se entre os bairros da Gávea, São Conrado (dois dos bairros com o imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) mais altos da cidade) e Vidigal. Seu índice de desenvolvimento humano (IDH) no ano 2000 era de 0,732, o 120º colocado entre 126 regiões analisadas no município do Rio de Janeiro.[1]A Rocinha tem características peculiares: atualmente, encontra-se, no bairro Barcelos, uma grande variedade de comércio e serviços, além de muitos imóveis residenciais de qualidade. Já em outras áreas, como a Vila Macega, encontram-se casas de madeira, onde diversas famílias vivem em extrema pobreza. Sua população foram estimadas em cerca de 120.000 moradores pelos registros da Light S.A., próximo a 70.000 pelos Censos do IBGE de 2010 e 2022 e em mais de 150.000 segundo moradores locais.

Dados do Censo 2010:

Domicílios IDH População Total Renda Média Área Total da Favela
24 543 0,732 69 356 R$ 433,00 95 hectares


História[editar | editar código-fonte]

É sempre importante lembrar que o lugar hoje habitado por nossas famílias e instituições já foi terra indígena. Com a invasão dos portugueses a partir do século XVI, a dizimação dos indígenas e as mazelas da escravidão inseriam o território no drama da exploração colonial. A chamada Freguesia da Gávea (propriedade que deu origem à Favela da Rocinha e que foi o nome dado à região até a atual Barra da Tijuca), era também rota de liberdade para os escravos que fugiam para os Quilombos do Sacopã e das Camélias.[2]

A afirmação é de Cleonice Lopes, pesquisadora e moradora da Rocinha, que complementa: "Não queremos e não temos a pretensão aqui de findar a forma como os moradores/pesquisadores da Rocinha contam a história do seu surgimento. Porém gostaríamos de contribuir com este debate, que acreditamos perpetuará nas gerações futuras".

A grande ocupação do território foi intensificada após a venda da fazenda Quebra Cangalha, de propriedade da Companhia Castro Guidon. Entre 1927 e 1930, a companhia loteou a fazenda e vendeu lotes de 270 metros quadrados a particulares (Leitão, 2009).[2]

Já segundo o Jornal Fala Roça, essa ocupação teve início antes:

“A Companhia Castro Guidon era dona de diversas fazendas no Rio de Janeiro, entre elas a fazenda Quebra Cangalha. Segundo João Castro Guidão, o dono da Quebra Cangalha, que ocupava um terreno de aproximadamente 500 mil metros quadrados, de onde hoje é a Rocinha, era um fazendeiro português chamado Manoel Fernandes Cortinhas. Antes de retornar para Portugal, no início dos anos 10, ele vendeu a fazenda para o engenheiro Luiz Catanhede por cerca de 50 contos de réis. “Luiz contratou cerca de 15 pessoas para cuidar e morar na fazenda. A área ocupada pela Rocinha possuía, originalmente, características rurais. Mas ele não tinha visão de negócios e entregou o terreno à Companhia Castro Guidão, em 1915, através de um acordo para acabar com uma dívida entre ele e o banco criado pelos Irmãos Guidão (Fala Roça, 2015)” [2]

Seguem informações da Wikipedia[1]:

A comunidade teve origem na divisão em chácaras da antiga Fazenda Quebra-cangalha, produtora de café. Adquiridas por imigrantes portugueses e espanhóis, tornaram-se, por volta da década de 1930, um centro fornecedor de hortaliças para a feira da Praça Santos Dumont, na Gávea, que abastecia a Zona Sul da cidade. Aos moradores mais curiosos sobre a origem dos produtos, os vendedores informavam que provinham de uma "rocinha" instalada no alto do bairro da Gávea".

As grandes glebas em que as terras foram divididas eram, na maior parte, pertencentes aos portugueses da Companhia Castro Guidão. As do bairro Barcelos eram pertencentes à Companhia Cristo Redentor. O Laboriaux pertencia a uma companhia francesa. Nesta época, alguns guardas sanitários foram instalados para controlar uma infestação de mosquitos que estavam causando febre amarela na Barra da Tijuca.

Em 1938, a Estrada da Gávea foi asfaltada, tornando-se o local onde ocorria o "circuito da baratinha". Na década de 1940, acelerou-se o processo de ocupação por pessoas que acreditavam serem aquelas terras públicas, isto é, sem dono. A partir da década de 1950, houve um aumento de migração de nordestinos para o Rio de Janeiro, direcionando-se em parte para a Rocinha. Nas décadas de 1960 e de 1970, registrou-se um novo surto de expansão, agora devido aos projetos de abertura dos túneis Rebouças e Dois Irmãos, que contribuíram para uma maior oferta de empregos na região.

O descaso do governo para com a comunidade, a falta de infraestrutura, a construção de barracos de papelão, a degradação de áreas verdes, o crescimento desordenado, a distribuição de água através de bicas, entre outros problemas, provocou grande indignação, reivindicações e abaixo-assinados da população, que se organizou, engajando-se em muitos protestos em prol da comunidade. O bairro é um dos principais focos de tuberculose do país, apresentando uma taxa de incidência da doença de 372 casos por 100 000 habitantes. Esta taxa é 11 vezes maior que a média do país. A alta concentração da doença no bairro apresenta várias causas, comoː as ruas estreitas, que dificultam a penetração de luz solar e a ventilação nas casas; a elevada densidade populacional; a pobreza; e a falta de saneamento básico. Todos esses elementos estimulam a proliferação da bactéria causadora da doença.

A partir da década de 1970, a comunidade obteve os primeiros progressos, resultado das reivindicações ao poder público, como a implantação de creches, escolas, jornal local, passarela, canalização de valas, agência de correios, etc. O primeiro posto de saúde foi criado em 1982, com muito esforço dos moradores, através da iniciativa do padre local, que ofertou, à comunidade, um presente de natal.Os moradores mobilizaram-se para promover a canalização do valão e, por conseguinte, criou-se o posto de saúde. Nesse processo, algumas famílias que habitavam o valão foram deslocadas para o Laboriaux, no qual havia 75 casas construídas pela prefeitura, sendo que duas destas foram unidas para a instalação da Creche Yacira Frasão.

É interessante lembrar que a primeira luz não foi elétrica. Diz o povo que um cavaleiro atravessava a Rocinha acendendo os lampiões das pequenas casas. Depois, foram implantadas cabines de energia que faziam a distribuição para as famílias mais próximas. Mais tarde, foram instaladas comissões de luz (bairro Barcelos e Rocinha). A Igreja Católica, em parceria com a pastoral de favelas, pressionou a Light S.A. para implantar energia elétrica nas comunidades e a Rocinha foi uma das primeiras beneficiadas.

Em 2010, o bairro ganhou uma passarela de pedestres, a Passarela da Rocinha, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e que liga a favela ao complexo esportivo, situado no outro lado da autoestrada Lagoa-Barra.  

No dia 13 de novembro de 2011, a Rocinha foi cenário de uma grande operação conduzida pelas Forças Armadas do Brasil e pelas polícias do estado. O objetivo foi a retomada do território das mãos dos traficantes de drogas, visando a preparar o terreno para a futura instalação da vigésima oitava Unidade de Polícia Pacificadora da cidade. Em 20 de Setembro de 2012, a comunidade passou a ser atendida pela 28° UPP com o efetivo de 700 policiais.

Em 2013, ocorreu o desaparecimento de Amarildo Dias de Souza, morador da favela, após ter sido detido por policiais militares da UPP Rocinha. O caso Amarildo ganhou repercussão mundial, impulsionada pela luta de familiares e moradores da Rocinha, por meio da pergunta "Cadê o Amarildo", que se tornou símbolo de protesto contra a violência policial nas Jornadas de Junho de 2013, que tomou as ruas de diversas regiões do país. "Em 2016, 12 dos 25 policiais militares denunciados pelo desaparecimento e morte de Amarildo foram condenados em primeiro grau. Em 2019, a 8ª Câmara Criminal da Justiça do Rio de Janeiro absolveu quatro dos 12 policiais acusados, enquanto a condenação dos oito restantes foi mantida" (ver Caso Amarildo).

Cerco[editar | editar código-fonte]

Cerco à Rocinha.jpg

Em 17 de setembro de 2017, 60 bandidos ligados ao traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, invadiram a comunidade e juntaram-se a outros. O objetivo da ação era retomar o domínio dos pontos de venda de drogas sob o comando de Rogério Avelino, o Rogério 157, o então chefe do tráfico na Rocinha. 

No dia 22 de setembro de 2017, as Forças Armadas realizaram um cerco à comunidade após dias de tiroteios. Para a realização do cerco, foram mobilizados 950 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, além de dezenas de blindados e de helicópteros. Outros três batalhões do Exército, que somavam 3 mil homens, ficaram de prontidão caso a situação se agravasse.  As Forças Armadas ficaram no entorno da Rocinha em apoio às operações feitas pelas polícias Civil e Militar.

Em 27 de setembro de 2017, o prefeito Marcelo Crivella, em reunião com secretários e com forças policiais, anunciou um conjunto de obras na Rocinha. Segundo Crivella, o financiamento das ações, orçadas em R$ 15 milhões, seria feito com o dinheiro arrecadado pelo município com a renovação do contrato de patrocínio do Itaú ao serviço de aluguel de bicicletas da cidade, o Bike Rio.  As ações tiveram início no dia 28 e envolviam, dentre outros serviços: a reforma de quadras esportivas; a substituição de lâmpadas apagadas nos postes; o fechamento de buracos nas casas provocados por tiros; a reabertura da Biblioteca Parque, da Escola de Música da Rocinha e do Centro Lúdica; e a instalação de uma Nave do Conhecimento. 

No dia 28, o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou a retirada das Forças Armadas da comunidade. No dia seguinte, as tropas que atuaram no cerco à Rocinha deixaram a favela. Ao fim do cerco, foram apreendidos 25 fuzis, 14 granadas, 7 bombas de fabricação caseira e 125 carregadores de armas, enquanto que 24 suspeitos foram presos, nenhum deles considerado chefe do tráfico. 

Transportes[editar | editar código-fonte]

A Rocinha é margeada pela Autoestrada Lagoa-Barra, via que liga os bairros da Gávea e da Barra da Tijuca. Pela via, circulam diversas linhas de ônibus e de vans, que permitem que o morador vá para outros pontos da cidade. Já dentro da comunidade, circulam kombis, moto-táxis, vans e ônibus que auxiliam no deslocamento de quem sai e de quem volta para casa. A Estrada da Gávea, que corta a Rocinha, é a principal via no interior da comunidade, tendo início em São Conrado e estendendo-se até a Gávea.

Paralelo ônibus e moto-táxis.png

A favela conta com uma estação do Metrô do Rio de Janeiro nas proximidades, a Estação São Conrado, inaugurada em 2016 e que atende a Linha 4. Desde o dia 9 de outubro de 2017, existe uma integração tarifária entre vans legalizadas e o Metrô do Rio de Janeiro, originalmente no valor de R$ 5,00, possibilitando que moradores da Rocinha e do Vidigal paguem um preço mais baixo para utilizar os dois modais de transporte. A integração é feita nas estações Jardim de Alah e São Conrado, enquanto que pelo menos 66 vans, identificadas com uma faixa amarela na lateral, estão autorizadas a fazer a integração com o metrô. O benefício é concedido ao passageiro que possui um cartão RioCard, devendo a integração ser realizada em um intervalo máximo de duas horas e meia. Atualmente, a tarifa de integração é de R$ 5,55. Além disso, a atual tarifa integral dos moto-táxis possui um valor de custo de R$ 5,00 (subida ou descida) para acessar qualquer localidade da favela, entretanto, os motoristas aceitam apenas dinheiro (nem todos aceitam Pix), mas o que se torna uma boa opção devido à difícil locomoção dos ônibus e vans que, além possuírem rotas fixas, estão sujeitos à lotação em horários de pico.

Fotos da Rocinha[editar | editar código-fonte]


Galeria de imagens do Coronavírus e as Favelas[editar | editar código-fonte]




Mapa da Rocinha[editar | editar código-fonte]


*Durante o projeto Tamo Junto, organizado pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco, fizemos oficinas de cartografias conduzidas pela equipe de mapeamento do Banco Comunitário do Preventório. No caso da Rocinha, membros do Pré Vestibular "Só Cria" produziram intervenções no mapeamento da favela.

Referências bibliográficas[editar | editar código-fonte]

  1.  «Dados». Consultado em 25 de março de 2012. Arquivado do original em 2 de setembro de 2013
  2.  Tabela 1172 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH), por ordem de IDH, segundo os bairros ou grupo de bairros - 2000
  3.  Bairros do Rio
  4.  http://lista10.org/diversos/as-10-maiores-favelas-do-brasil/
  5.  «Criação do bairro». Consultado em 25 de março de 2012. Arquivado do original em 3 de março de 2016
  6.  «Rocinha, um exemplo de evolução» (PDF)
  7.  Bairros do Rio
  8.  Tabela 1172 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH), por ordem de IDH, segundo os bairros ou grupo de bairros - 2000
  9.  MARTINS, Eduardo. O que Canudos tem a ver com favela? in: História Viva, ano II, n° 23, p. 11.
  10.  El País. Disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/01/politica/1441120198_053979.html. Acesso em 12 de maio de 2016.
  11.  G1 Rio de Janeiro. Disponível em http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/06/passarela-feita-por-niemeyer-para-rocinha-e-inaugurada.html. Acesso em 12 de maio de 2016.
  12.  Capucci, Renata (18 de setembro de 2017). «PM do RJ faz operação na Rocinha após confronto entre traficantes»Jornal Hoje. Consultado em 4 de novembro de 2017
  13.  «Após cerco na Rocinha, Forças Armadas põem três mil homens de prontidão»O Estado de S. Paulo. 22 de setembro de 2017. Consultado em 4 de novembro de 2017
  14.  Nascimento, Rafael (28 de setembro de 2017). «Prefeitura inicia melhorias na Rocinha»O Dia. Consultado em 4 de novembro de 2017
  15.  «Integração de vans com metrô na Rocinha e Vidigal começa com tarifa de R$ 5 na segunda-feira»Extra. 6 de outubro de 2017. Consultado em 4 de novembro de 2017
  16.  «Integração de vans e metrô começa neste segunda, na Rocinha»G1. 9 de outubro de 2017. Consultado em 4 de novembro de 2017
  17.  Dados
  18. Sabren | Rocinha

Ver também[editar | editar código-fonte]

  1. 1,0 1,1 1,2 Wikipédia, a enciclopédia livre
  2. 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 LOPES, Cleonice. Um pouco da história sobre o surgimento da favela/bairro da Rocinha. In GOUVEIA, Inês (coord.). A participação das mulheres na construção do território: Rocinha e Horto. Territórios Culturais. Programa Favela Criativa, da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. 2017