Violência urbana, Segurança Pública e Favelas - O Caso do Rio de Janeiro Atual (resenha)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Autora: Maria Carolina Loss Leite.

Referência

MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio. “Violência urbana, segurança pública e favelas: o caso do Rio de Janeiro atual”. Cadernos CRH, Salvador, 23, 59:283-300, 2010.

Breve contextualização

O autor, Luiz Antonio Machado da Silva, propôs neste texto discutir sobre como se produz uma linguagem sobre a violência urbana por uma análise empírica e quais seus impactos. Através de duas abordagens, o texto, ainda, pretende conservar particularidades como forma de demonstrar a importância dos conhecimentos locais, em especial no Rio de Janeiro, onde o estudo foi feito. São elas: a) as relações entre a violência urbana, as rotinas e a organização das relações sociais na cidade e b) o impacto de uma mudança dentro do debate sobre as políticas voltadas para a ordem pública no que diz respeito às atuais maneiras de criminalização e segregação territorial da pobreza, abordando o estatuto das favelas como dispositivo exemplar.

Além de ser o criador do conceito- polêmica (conforme ele mesmo se referia) de “sociabilidade violenta”, Machado da Silva foi – e ainda é - o responsável por diversas obras no campo da Sociologia brasileira, sendo, em 2016, agraciado com o “Prêmio de Excelência Acadêmica em Sociologia Antonio Flavio Pierucci”, concedido pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais - ANPOCS - àqueles que se destacam em sua produção intelectual. Sua última atuação foi no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP - UERJ), já estando aposentado pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS - UFRJ).  Graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em Sociologia no ano de 1964, o qual é, ainda, considerado como um ano fatídico para nosso momento político e civil, cujas sequelas se refletem até hoje, em especial na violência citadina. Além disso, foi membro do INCT/Observatório das Metrópoles, do Núcleo de Estudos sobre Cidadania e Violência (NECVU - IFCS/UFRJ), e líder do Coletivo de Estudos sobre Violência e Sociabilidade (CEVIS). Foi, também, bolsista de produtividade do CNPq.

Machado nos deixou em setembro de 2020, mas sua competência profissional jamais será esquecida, muito menos seu carisma e respeito com aqueles que o procuravam para apreender um pouco de seu extenso conhecimento.

Principais argumentos

De acordo com Machado da Silva, o texto “Violência urbana”, segurança pública e favelas: o caso do Rio de Janeiro atual é oriundo de muitos anos de trabalhos em favelas cariocas e de uma pesquisa que coordenou em 2008. Segundo ele, a ideia foi fazer uma contraposição a um texto escrito por Luiz Eduardo Soares a um jornal em 2009SOARES, Luiz Eduardo. Refundar as polícias. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo: 2009. p.6-7.. Logo, seu interesse não era analisar as organizações policialescas, mas trazer à tona as implicações da expansão da criminalidade violenta sobre a sociabilidade urbana, comentando sobre as polícias, mas não sendo elas seu foco de estudo. Por isso, Machado da Silva acaba se usando do termo “refundação” da sociedade, e não apenas da polícia, justamente para provocar o outro autor. O fato de analisar o Rio de Janeiro é explicado pelo autor como um lugar “bom para pensar”, se referindo aos estudos de Clifford Geertz.

Para Machado da Silva, a violência em ascensão se transformou em um dos principais problemas da agenda pública, passando a ser construído a partir da identificação de ameaças às integridades pessoal e patrimonial, dominando as preocupações de amplas camadas da população carioca. Logo, seria natural que as atenções estivessem voltadas ao aparato policialesco, dando ênfase ao controle social por elas praticadas como forma de repreensão ao crime violento.