30 anos da chacina da Candelária - Rio de Janeiro
Na madrugada entre os dias 22 e 23 de julho de 1993, seis jovens foram assassinados na porta da conhecida Igreja da Candelária, localizada no Centro do Rio de Janeiro. Naquela noite, mais de 40 pessoas dormiam em torno da Igreja. Eles foram alvo de tiros de quatro homens que foram condenados como autores do crime anos depois.
Autoria: Gizele Martins
Movimento Candelária Nunca Mais![editar | editar código-fonte]
Familiares dos sobreviventes ainda hoje se encontram uma vez por ano em frente à Candelária para que esta memória não se apague. Inúmeros outros movimentos sociais, principalmente, de familiares e de favelas e periferias fazem manifestações, realizam missa e convida escolas para realizarem atividades culturais no local em que houve o massacre.
Há 30 anos, familiares das vítimas e dos sobreviventes, movimentos sociais, religiosos e autoridades públicas ocupam a Candelária com gritos por memória, reparação, verdade e justiça. A chacina, que completou 30 anos esse ano, começou na madrugada de 23 de julho de 1993, por volta de 1 da madrugada, quando oito meninos, entre 10 e 17 anos, que dormiam em frente à Igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro, foram assassinados por um grupo de policiais militares que estavam à paisana.
Naquela noite, os policiais simularam levar comida para os 72 crianças, adolescentes e jovens em situação de rua que dormiam sob as marquises dos prédios da região. A chacina da Candelária marcou a história do país e este é um dos casos que está em tramitação na Organização dos Estados Americanos (OEA), a organização internacional de direitos humanos, CEJIL, representa um dos sobreviventes e sua família nesse processo.
Patrícia Oliveira, integrante da Rede de Comunidades e Familiares de vítimas contra a violência, é irmã de um dos sobreviventes da Chacina. Desde aquela época, ela virou defensora de direitos humanos e junto a outros familiares fundou a Rede de Comunidades Contra a Violência. Patrícia começou a atuar contra a violência policial em 1993, a partir desta triste casualidade. “O meu irmão sobreviveu à Chacina da Candelária. Eu o acompanhava, mas não sabia que ele era meu irmão. Quando ele fez uma entrevista para o Fantástico contando a sua história de vida, descobri que ele era meu irmão. Nos reencontramos e começamos a falar pelo telefone durante um ano até ele voltar para nos falar pessoalmente. Esta chacina transformou a minha vida em muita luta em busca por direitos”, lembrou.
De acordo com Patricia, há uma grande naturalização sobre as chacinas, seja nos telejornais, no cotidiano ou até mesmo dentro da institucionalidade pública que, na verdade, tem como política a militarização e o controle dos territórios de favelas como parte elementar do genocídio negro: “Estamos vivendo um momento de volta das chacina no estado do Rio de Janeiro. A falta de controle do Ministério Público da atividade policial contribui muito para isso", concluiu Patrícia.
Ainda de acordo com ela, a militarização nas favelas na década de 1990 foi bem diferente do que está acontecendo atualmente. Naquela época, os policiais que mais matavam ganhavam mais. Eles ganhavam um bônus que ficou conhecido como a “gratificação faroeste”, o que fez aumentar muito o número de pessoas assassinadas naquele período. Surgiram vários casos de crianças e adolescentes assassinadas na época. Eram constantes as operações em favelas. Surgiram vários grupos de extermínios. Os ‘Cavalos Corredores’, por exemplo, era um deles. É daí que surgem as várias chacinas no Rio de Janeiro. A polícia mostrou a sua cara naquele momento.
Desaparecimentos forçados[editar | editar código-fonte]
Os desaparecimentos forçados também começaram a aumentar junto às chacinas. Naquele período, ocorreu a Chacina de Acari e 19 pessoas ficaram desaparecidas. Em 1993, aconteceu a Chacina da Candelária do Centro do Rio de Janeiro: oito meninos em situação de rua foram assassinados, outros sobreviveram. No mesmo ano, em agosto, acontece a Chacina de Vigário Geral. São 21 pessoas assassinadas por policiais do grupo de extermínio ‘Cavalos Corredores’. Ou seja, foram inúmeros assassinatos que ocorreram no Rio naquele período, e esse número de mortos e desaparecidos só vêm aumentando.
Nessas décadas de tantas chacinas, a Anistia Internacional Brasil começou a acompanhar casos das chacinas. Alguns destes casos acabaram tendo uma repercussão grande. Assim como o desaparecimento do Jorge Careli, de 30 anos, servidor público da Fiocruz, que desapareceu ao ser pego por policiais na favela Varginha, em Manguinhos. Além dos outros casos já citados, também aconteceu outra chacina em 1994, a de Nova Brasília, no Complexo do Alemão, também cometida por policiais. É quando as chacinas viraram notícias internacionais.
30 anos depois (2023)[editar | editar código-fonte]
Em 2023, passados 30 anos de uma das chacinas que marcou a história do país, quase nada mudou na cidade que se coloca como um grande ponto turístico do país. O Ministério Público continua omitindo tais casos, os policiais militares e civis continuam realizando grandes operações policiais dentro das favelas e periferias do Rio de Janeiro. Além das últimas décadas, termos passados por chacinas conhecidas como as mais letais da história.
Familiares de vítimas da violência policial continuam, infelizmente, aumentando. Mães, esposas, irmãs, assim como Patrícia, continuam em luta buscando justiça e reparação para que nem uma outra mãe negra e favelada chore a morte dos seus.