A Voz Calada
Mesmo com todos os obstáculos e barreiras impostas pelo capitalismo, os jovens favelados que conseguem ascender socialmente ou academicamente encontrarão a barreira do aniquilamento e apagamento da produção negra pelo processo de embranquecimento cultural e a evasão escolar, provocada pelas múltiplas facetas do capitalismo.
Autoria: Suzane30
Mesmo com todos os obstáculos e barreiras impostas pelo capitalismo os jovens favelados que conseguem ascender socialmente ou academicamente encontrarão a barreira do aniquilamento e apagamento da produção negra pelo processo de embranquecimento cultural e a evasão escolar, provocada pelas múltiplas facetas do capitalismo.
São raros os cursos que indiquem produções ou autores negros, contribuindo significativamente para pobreza do debate público, se são os negros a maioria é necessária e urgente a representatividade que contemple políticas de acesso à cultura, transformação social e combate ao racismo, essa discussão não é essencialista e sua abordagem não se trata de ler autores negros somente pela negritude mas da tentativa de mudança de uma sociedade irrealista e discriminatória, lemos, ouvimos, formulamos nossa base crítica e analista majoritariamente pelo ponto de vista e os saberes advindo das vivências de autores brancos diferentes e, de acordo com Djamila Ribeiro, fora do lugar da fala negra: "O lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas’’.
Quem melhor contaria uma história, anseios e desafetos se não aquele que a viveu? Não se pode creditar na ideia falsa da meritocracia que não existem autores negros sendo referendados por falta de opção ou que como aponta Djamila Ribeiro, em Lugar de fala[1], não é importante somente o teor da fala, mas quem a propaga, pois, o ponto de vista falante influencia seu discurso. Cada qual possui uma interpretação pessoal do mundo que são baseadas nas suas experiências pessoais influenciando sua ótica sobre determinado assunto, é além da interpretação pessoal, é construção social permeada pela pelas diferentes opressões vividas.
Como um homem branco, privilegiado, símbolo do poder e virilidade na sociedade ocidental poderia descrever a luta da mulher negra, mãe solo, latino-americana e marginalizada? Não é só o lugar de fala é o palco que precisa ser montado para ouvir essa voz calada, esmagada e subnutrida pelo glutão capitalista moedor e usurpador de sonhos. Dar voz as minorias no sentido literal da palavra é ouvir sua voz, buscar entender o que e como se pode transformar essa realidade, é lê-la, consumí-la absorvendo e interseccionalizando os fatores.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Periferia Brasileira de Letras (PBL)
Máquina de moer gente preta - a responsabilidade da branquitude (relatório)
Pequeno manual antirracista (livro)
- ↑ RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.