A favela como espaço da relação entre religião e violência (artigo)
A favela como espaço da relação entre religião e violência: a violência fundante no cotidiano e na teologia cristã.
O artigo discute a presença da violência na vida cotidiana das favelas do Rio de Janeiro e analisa a relação entre essa violência e a teologia cristã tradicional. Explora como a religião tem sido utilizada historicamente para administrar a violência, mesmo após o surgimento do Estado moderno. O texto apresenta um panorama histórico da formação das favelas a partir de uma perspectiva econômica, destacando a desigualdade social.
Autoria: Priscila Alves Gonçalves da Silva, PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná.[1]
Introdução[editar | editar código-fonte]
Historicamente, tanto a religião quanto o Estado têm desempenhado papéis centrais na administração da violência em diferentes sociedades. Embora sejam instituições com finalidades distintas, ambas compartilham a função de controlar, justificar e, em certos casos, reproduzir formas de violência para manter a ordem social e política.
O artigo está dividido em quatro tópicos, com o objetivo de apresentar a favela como um contexto vital e um palco das relações históricas entre religião e violência.
- No primeiro tópico, traçamos um breve panorama histórico da formação das favelas no Rio de Janeiro, com ênfase na perspectiva econômica. Esse viés revela políticas e ações sacrificialistas que, de forma intencional, negligenciam a vida dos mais pobres.
- No segundo tópico, analisamos a violência como um fenômeno multifacetado, datado e situado, que não se restringe à favela, embora este espaço seja frequentemente tratado como o "quarto de despejo" da cidade formal.
- O terceiro tópico aborda a relação entre religião e violência, destacando como, historicamente, a religião tem desempenhado o papel de administrar a violência que atravessa a sociedade de maneira geral.
- Por fim, o quarto tópico explora como a violência se naturalizou no cotidiano da sociedade e, consequentemente, no discurso teológico
A base teórica do artigo está fundamentada no pensamento de René Girard, cujos conceitos de desejo mimético, rivalidade e bode expiatório são essenciais para compreender a religião como um instrumento de administração da violência. Essa análise percorre desde as sociedades pré-modernas até a atualidade, mesmo com a consolidação do Estado moderno.
No que se refere à violência na teologia, o artigo adota como referência a sistematização teológica clássica de estrutura sacrificial, proposta por Anselmo de Cantuária no século XI e reproduzida até os dias atuais.
A metodologia utilizada inclui levantamento bibliográfico para abordar a formação das favelas, a violência em geral e a estrutura teórica da teologia da satisfação penal. Também foi empregado o método de análise documental, com destaque para a tipologia criminal discutida no segundo tópico. Para isso, foram analisados anuários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que fornecem dados sobre a ocorrência de crimes no Rio de Janeiro. Esses documentos reforçam a tese de que a violência não surge com as favelas nem é exclusiva desse contexto.
Referências bibliográficas[editar | editar código-fonte]
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Ver também[editar | editar código-fonte]
- Sociabilidade violenta: por uma interpretação da criminalidade contemporânea no Brasil urbano (artigo)
- Sob o domínio do medo (artigo)