Autodefinição
Autoestima e Autodefinição na Vivência Coletiva da Favela: Uma Perspectiva a partir de Patrícia Hill Collins
Os conceitos de autoestima e autodefinição são fundamentais na teoria da socióloga e feminista negra Patrícia Hill Collins, especialmente em sua análise das opressões interseccionais e das estratégias de resistência das mulheres negras. Para Collins (1990), a autodefinição representa a capacidade de assuntos historicamente marginalizados nomearem a si mesmos, produzirem suas próprias narrativas e desafiarem as representações hegemônicas que os protegem a estereótipos. Esse processo está diretamente relacionado à construção da autoestima, compreendido como um elemento essencial para o fortalecimento da agência individual e coletiva frente às dinâmicas estruturais de dominação.
No contexto das favelas e periferias brasileiras, a autoestima e a autodefinição assumem um papel crucial na consolidação de identidades coletivas e na articulação de formas de resistência ao racismo estrutural e às desigualdades socioeconômicas. A favela, muitas vezes representada no imaginário social como um espaço de carência e criminalidade (Vargas, 2013), é também um território de produção cultural, conhecimento comunitário e organização política (Ribeiro, 2019). A ressignificação dessas narrativas pelos próprios moradores – por meio da arte, da educação popular, do ativismo e da comunicação alternativa – configura-se como um exercício de autodefinição que desafia as posições de saber e poder.
A valorização das experiências, conhecimentos e trajetórias dos sujeitos favelados possibilita não apenas a construção de uma identificação e pertencimento coletivo, mas também o fortalecimento da autoestima enquanto ferramenta de resistência e mobilização social. Esse processo implica um deslocamento epistemológico, no qual os moradores passam a se considerar como agentes legítimos de produção de conhecimento e transformação social, em oposição às narrativas hegemônicas que os deslegitimam. Assim, a autodefinição, conforme teorizada por Collins, se apresenta como um elemento central para a organização comunitária e a luta por direitos, promovendo uma resistência ativa e a reconfiguração dos espaços periféricos como territórios de poder e criação. Tudo de nós com nós.
COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento Feminista Negro: Conhecimento, Consciência e Política de Empoderamento. Nova Iorque: Routledge, 1990.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. VARGAS, João Costa. A negação da antinegritude: redenção multirracial e sofrimento negro. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2013.