Benny Briolly (PSOL/RJ) - Niteroi / Fonseca - RJ

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Benny Briolly, de 29 anos, é a primeira vereadora transexual a assumir um mandato na Câmara Municipal de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Com 4.458 votos, a candidata foi a quinta mais bem votada para ocupar uma vaga na Casa Legislativa. Benny é um dos mais importantes símbolos de luta do povo trabalhador, da liberdade religiosa, das mulheres, do povo negro e de toda população oprimida e periférica.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Este verbete faz parte do relatório "Favelados no parlamento", produzido pela equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.
Benny Briolly (PSOL/RJ) - Niterói / Fonseca – RJ

Vida e carreira política[editar | editar código-fonte]

Benny Briolly, Vereadora

Vereadora mais votada em Niterói, Benny Briolly foi a primeira travesti eleita no estado e atualmente é presidente da Comissão de Direitos Humanos.

Mulher preta, travesti, de axé e militante de direitos humanos. Benny Briolly cresceu no Fonseca, bairro da Zona Norte de Niterói/RJ e morou na Caixa D’agua, na Palmeira e em outras favelas da região. Atualmente no Morro da Penha, Ponta D’areia, mora e se organiza politicamente como militante do PSOL. É também fundadora do movimento Orgulho e Luta Trans (OLT) que pensa políticas para a população trans e em zona de prostituição em Niterói e São Gonçalo. Durante a pandemia o grupo realizara ações solidárias e de suporte com travestis e transexuais.

Benny foi a primeira assessora trans na Câmara de Vereadores de Niterói, como assessora parlamentar da mandata da deputada federal Talíria Petrone. Ocupando este espaço pôde perceber o quanto é excludente para pessoas não-cis, principalmente para as mulheres trans pretas faveladas. Foi lá também que adquiriu conhecimento e habilidades que a fortalecem agora em sua candidatura. Junto é claro, com as ferramentas que aprendeu a utilizar na faculdade de jornalismo, onde chegou a mobilizar um levante dos estudantes contra o aumento das mensalidades.

“Saber o poder que tem de transformação a organização de tantas pretinhas e tantos pretinhos, de tantas pessoas LGBTQIAP+, de tantas faveladas e favelados, nessa organização coletiva parte de um processo do chamado pra guerra”.

A candidata chama atenção para as vidas que morrem nas filas de saúde do sus, nos hospitais, que também são vidas assassinas pelo Estado e por uma política de governo que interrompe vidas pretas.

“A vida da minha mãe foi interrompida por um processo de negação de uma política de saúde, que chega todos os dias na casa das mulheres pretas e das mulheres de periferia dessa cidade.”

O que foi pra ela uma grande decepção, mas ao mesmo tempo uma revolta que a empurrou pra luta.

“Vinha me inflamando dia após dia, segundo após segundo, de porque a gente vive essa situação.”

“Por que quando a gente chega na fila de atendimento do hospital, a gente já é logo questionada pelo número do CEP que a gente traz da nossa residência? Por que quando a gente chega com um CEP de um território de favela, de periferia, a gente tem que ter aval de um homem branco engravatado chamado vereador, deputado, pra arrumar uma vaga no hospital?”

A militância de esquerda, dos movimentos sociais, movimentos de favela, de mulheres transexuais e travestis, LGBTQIAP+, da cidade e território, movimento de mulheres é o ecossistema por onde Benny transita. Sua inserção na revolução veio pela consciência da auto-organização, da autogestão, o que logo virou hábito, passou a fazer parte da vida.

Voltando à educação, pauta cara na mandata de Benny, os dados municipais não são nada satisfatórios. Com mais de R$3,5 bi apenas 3% dos alunos da rede pública conseguem ser cadastrados no ensino integral. O que prejudica famílias inteiras, que tem na mãe a fonte de renda e também de toda a energia da casa.

Sobre as políticas de segurança pública, sua posição é irredutivelmente contra as ações que são coordenadas pelas forças de segurança. Subir favela e invadir periferias matando e oprimindo trabalhadores, moradores, estudantes, crianças e idosos precisa logo acabar.

“Como matou o Diogo na grota, pra espancar trabalhador na cidade, como faz com os ambulantes, por ordem sim de um governo, de uma gestão na prefeitura, que não se importa com o trabalhador. Que contrata guardas municipais sem concurso público, pra explorar, pra agredir, pra violar trabalhadores que estão nas ruas todos os dias. E a gente sabe quem são esses trabalhadores, porque esses trabalhadores são negros, porque quase 50% das pessoas negras em Niterói vivem no trabalho informal, ocupando as calçadas e os espaços da cidade tentando fazer o seu pão de cada dia”.

E finaliza:

“Niterói precisa concretamente que a gente entenda que os marcos na história da política na cidade, que foram dados até os dias de hoje, não servem mais …”

Conheça Benny Briolly (RJ)[editar | editar código-fonte]

Benny Briolly, a primeira vereadora trans eleita em Niterói – Entrevista[editar | editar código-fonte]

Nascida e criada em Niterói, Benny morou até os 20 anos no Fonseca, bairro da zona norte do município. Atualmente é estudante de Jornalismo e vive no Morro da Penha, no bairro de Ponta d´Areia. Sua trajetória na política partidária começou em 2013, ano que entrou para o Partido Socialismo e Liberdade (Psol).

Em 2016, foi convidada para compor o mandato da então vereadora de Niterói, Talíria Petrone (Psol), hoje deputada federal, e enfrentou o preconceito ao ser a primeira mulher trans a ocupar uma vaga de assessora parlamentar na Câmara Municipal.

O Brasil de Fato conversou com a recém-eleita vereadora. Na entrevista, Benny fala sobre as ameaças sofridas ao longo da campanha, a necessidade de se debater direito à cidade com recorte de raça, gênero e classe e dos desafios que encontrará na Câmara em 2021.

Brasil de Fato: Você é a primeira transexual eleita para a Câmara de Niterói. O que a população de Niterói pode esperar de diferente no seu mandato?

Benny: Acho que a minha eleição representa outros marcos com o alinhamento da conjuntura política da cidade. Niterói é um município extremamente desigual, onde nitidamente a política ainda é um distanciamento concreto dos setores populares e que, não à toa, não existe em si uma participação popular dos territórios da cidade alinhados com a institucionalidade.

Quando a gente vai votar o Plano Diretor, orçamento, um momento em que a participação popular da cidade é de extrema importância, isso não acontece dentro da Câmara Municipal. A minha eleição representa o enfrentamento a essa velha política que é conservadorista, fascista, distante do povo, da vida concreta, da vida na favela, daqueles e daquelas que não se veem dentro da política.

Acho que a minha eleição representa tanto uma resposta à onda conservadora que vem crescendo não só em Niterói, mas no Brasil inteiro.

Também ao que significa hoje a nova política de afirmação, de garantia de direitos, a política que precisa ser casada com uma política combativa. Ainda significa um corpo com representatividade, com aquilo que a gente toca, planeja dentro de um aspecto intelectual, mas que seja físico, que as pessoas possam se ver, sentir o que é a política e que ela não é distante do povo e da vida concreta.

Quais as pautas que você irá colocar na Câmara neste primeiro momento?

A gente vai tratar muito do direito à cidade com recorte de raça, gênero e classe, além de pauta de mulheres, LGBTQI+, de favela, território, antirracista, de negros e negras e a pauta da assistência na cidade. Eixos cruciais também são a Saúde e a Educação.

Queremos reestruturar um debate na Câmara Municipal na questão da Educação.

É preciso que a Educação na cidade avance, que a Lei 10.639, que fala sobre o ensino afro e as religiões de matriz africana dentro das escolas da cidade se consolide. É preciso fiscalizar para que essa lei seja cumprida e que a gente possa ter alguma decisão dentro do parlamento que garanta, que legitime o debate de gênero, de diversidade tanto de gênero, quanto de expressão de orientação sexual dentro das escolas do município.

Se faz mais do que necessário fazer esse enfrentamento, pensar os territórios, o orçamento da cidade entendendo que Niterói é uma cidade de mais de R$ 3,5 bilhões [de orçamento], onde as mulheres negras têm apenas 3% de ensino integral gratuito para deixar seus filhos, por isso que rompem seus sonhos de estudarem e fazer uma carreira profissional.

Durante a sua campanha eleitoral você foi vítima de ameaças de morte e ataques em suas redes. Você teme que essa violência política contra você aumente agora que conquistou uma cadeira na Câmara?

Não só eu, como o Psol Niterói, estadual e do Brasil inteiro. A gente acredita que agora as medidas de segurança devem ser triplicadas pelas ameaças que já foram feitas, pelo o que o meu corpo representa numa cidade extremamente fascista e conservadora, mas também uma reflexão de todas as ameaças de interceptação da PF [Polícia Federal] que a Talíira [Petrone] vem sofrendo e como que isso também pode se reverberar em mim de diversas formas.

Ao seu ver, quais serão as principais dificuldades que você vai enfrentar na Câmara, mesmo o Psol tendo obtido a segunda maior bancada?

É o enfrentamento para que a política seja concreta, seja e esteja para o povo. A gente tem um governo [prefeito] Rodrigo Neves [PDT], que tem uma série de deficiências, de elementos que são contraditórios à política que deveria ser real na cidade. Uma política que deveria pensar e assegurar a vida das pessoas como um todo, mas não é isso que acontece.

"Temos uma cidade extremamente vendida e privatizada."

Vemos o crescimento das OSs [Organizações Sociais] cada vez mais pesado no município. Isso com a desvalorização dos profissionais de saúde, com o distanciamento da saúde das pessoas pobres e periféricas, o quanto isso é grave, a gente vê cada vez mais Niterói vendida aos grandes empresários.

Além disso, o município tem uma passagem absurda. O valor de passagem por quilometragem rodada na cidade é uma das mais caras do Brasil. Vemos o quanto que o município ainda é desigual e o quanto a pandemia deixa sequelas em Niterói, como ela vai interferir na economia da cidade.

Sabemos que o município é rico, que o governo Rodrigo Neves enriqueceu bastante com o desenvolvimento humano da cidade, com o orçamento que é mais de R$ 3,5 bilhões e ele sabe que Niterói tem grana para tocar uma política de reparação, de empregabilidade e renda e de assistência.

"O maior enfrentamento será garantir que o parlamento não seja mais um 'puxadinho' do governo municipal."

Precisamos articular para que Axel [Grael, prefeito eleito] possa ter um compromisso maior com o município do que teve Rodrigo Neves.

Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2020/11/17/quem-e-benny-briolly-a-primeira-vereadora-trans-eleita-em-niteroi-rj

Projetos e lutas[editar | editar código-fonte]

Benny - Projetos e Lutas
Benny - Projetos e Lutas

- Benny é uma importante referência na luta pela moradia popular. Em Niterói temos a histórica luta dos moradores do prédio da Caixa que foi desapropriada pela prefeitura. Benny foi moradora de lá e foi uma importante voz enquanto Defensora dos direitos humanos e vereadora. Para além disso direcionou meio milhão de reais com uma emenda no orçamento para moradia popular em Niterói.

- Através de uma indicação legislativa e sua capacidade de articulação, alterou pela primeira vez em Niterói o nome de uma escola. que homenageava um escravocrata e agora homenageia uma das mais ilustres professoras da cidade, Maria Felisberta.

- Benny aprovou na CCJ e levou para votação em plenário o primeiro projeto de cotas para pessoas trans em concursos no Brasil.

- Aprovou a primeira lei de combate a transfobia no Brasil, Lei Dandara Brunn.

Conheça todos os projetos: Clique aqui

Benny Briolly: Por uma Niterói que nos Pertença!

Fontes e Redes Sociais[editar | editar código-fonte]

Fontes:

https://midianinja.org/vereadoresquequeremos/bennybriolly/

https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/quem-e-benny-briolly-a-primeira-vereadora-trans-eleita-em-niteroi

https://www.bennybriolly.com/

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