Centro de Cultura Popular da Baixada Fluminense (CCPBF)
O Centro de Cultura Popular da Baixada Fluminense (CCPBF) é uma Organização da Sociedade Civil ligada às culturas populares, que visa o desenvolvimento de políticas públicas para valorização de expressões culturais que nos identificam como povo brasileiro, enquanto fomenta iniciativas que elevem a auto estima dos que vivem na região da Baixada Fluminense.
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de informações contidas nas redes oficiais do coletivo.[1]
Dia da Consciência Negra e Periférica no CCPBF[editar | editar código-fonte]
O CCPBF tem como missão estatutária e ideológica atuar na Baixada Fluminense, compreendendo que há uma histórica necessidade de ampliar a visibilidade de nossas lutas e práticas culturais, numa região cuja população é majoritariamente negra e invisibilizada, em detrimento inclusive de seus quase quatro milhões de habitantes. Assim, entendemos que é fundamental ampliar nosso olhar para nós mesmos, a partir de nosso potencial intelectual, humano e, porque não dizer, político. Nesse sentido nós comprometemos em abrir um diálogo sobre a necessidade de uma consciência negra e periférica para esse 20 de novembro de 2023, a partir das potências culturais de nossa região.
A consciência negra e periférica é uma forma de reconhecer e valorizar a história, a cultura e a identidade dos povos de origem africana que foram trazidos à força para o Brasil e que resistiram à escravidão e ao racismo. Essa consciência também busca promover a igualdade racial e social, denunciando as desigualdades e violências que afetam as populações negras nas periferias urbanas e rurais.
O dia 20 de novembro foi escolhido como o Dia da Consciência Negra porque marca a morte de Zumbi dos Palmares, um dos principais líderes quilombolas que lutou pela liberdade de seu povo contra os colonizadores portugueses. Zumbi foi assassinado em 1695, após resistir por anos no Quilombo dos Palmares, uma comunidade formada por escravizados fugidos das fazendas no nordeste do Brasil. Zumbi se tornou um símbolo da luta e da resistência dos negros no Brasil, e sua memória é celebrada como uma forma de reivindicar direitos e justiça para os afrodescendentes.
A consciência negra e periférica também envolve o reconhecimento das lideranças negras que surgem das periferias rurais e urbanas, que atuam em diferentes áreas e movimentos sociais, culturais, políticos, econômicos e educacionais. Essas lideranças são importantes para dar voz e visibilidade aos intelectuais, artistas, ativistas, empreendedores, trabalhadores e trabalhadoras negras que contribuem para o desenvolvimento do país, mas que muitas vezes são invisibilizados ou discriminados pela sociedade. Essas lideranças também são responsáveis por criar redes de apoio, formação, mobilização e transformação nas periferias, buscando melhorar as condições de vida e garantir os direitos das populações negras.
Portanto, a consciência negra e periférica é uma forma de afirmar a identidade, a dignidade e a cidadania dos negros e negras no Brasil, bem como de valorizar sua história, sua cultura e sua luta. É também uma forma de combater o racismo estrutural que persiste na sociedade brasileira, gerando desigualdades e violações de direitos humanos. A consciência negra e periférica é um convite para a reflexão crítica, o diálogo intercultural e a ação coletiva em prol da democracia, da diversidade e da justiça social.
A produção cultural da Baixada Fluminense é uma expressão da diversidade e da resistência do povo negro que habita essa região. A história da nossa região é marcada pela presença de quilombos, comunidades formadas por escravos fugidos que buscavam a liberdade e a autonomia. Um dos maiores exemplos de quilombo no Brasil foi o Quilombo dos Palmares, liderado por Zumbi, um dos símbolos da luta contra a escravidão colonial. Ainda assim, há tantos outros exemplos de luta e resistência que ainda não são de nosso conhecimento, também por sua condição de invisibilidade periférica.
A luta de Zumbi dos Palmares é uma inspiração para os negros periféricos que enfrentam o racismo e a violência no Brasil contemporâneo. A cultura negra produzida nas periferias é uma forma de afirmar a identidade e a dignidade desse povo, que tem uma história de opressão, mas também de resistência e criação. A música, a literatura, o teatro, a dança, as artes visuais e outras manifestações culturais são instrumentos de denúncia, de protesto, de educação e de transformação social.
Não precisamos de mais mártires como Zumbi dos Palmares e tantos outros invisibilizados, que morreu pela liberdade do seu povo. Precisamos de novas mentes pensantes que valorizem a cultura negra e que lutem por um país mais justo e igualitário. A Baixada Fluminense é um celeiro de talentos e de potencialidades que merecem ser reconhecidos e apoiados. A produção cultural da baixada fluminense é um patrimônio do Brasil e uma contribuição para a humanidade.
Referências sobre consciência negra[editar | editar código-fonte]
Segue abaixo uma série de referência para iniciar o debate sobre o tema:
(1) Consciência negra: o que é, origem, história, dia - Brasil Escola.
(2) Consciência negra: história e criação da data comemorativa.
(3) Dia da Consciência Negra: O que significa esta data? - UOL.
(4) Consciência Negra: O que é? Qual a Origem? O que tem a ver com Zumbi?.
(5) Consciência Negra – o que é? - Geledés.
(6) 20 de novembro – Dia da Consciência Negra - Brasil Escola.
(7) SP sanciona lei que torna dia 20 de novembro feriado estadual da ... - G1.
(8) Consciência negra: o que é, comemoração, importância - Mundo Educação.
(9) Dia da Consciência Negra agora é feriado em todo o estado de São Paulo.
(10) Projeto Asas desenvolve lideranças nas periferias.
(11) Ministério da Igualdade Racial é prioridade para lideranças negras.
(12) 81 lideranças de movimentos negros de todo país gravam ... - Geledés.
(13) Negras lideranças: mulheres ativistas da periferia de São Paulo.
Projeto CHM Sem Bacilo e a Saúde do homem[editar | editar código-fonte]
Através do Projeto CHM Sem Bacilo o CCPBF tem se deparado na prática com a realidade que já conhecemos, que é o desapego dos homens a qualquer tratamento preventivo de saúde, o que nos leva a refletir sobre quais mecanismos adotar para o enfrentamento de doenças como Tuberculose, câncer da próstata ou as corriqueiras mas não menos alarmantes, hipertensão e diabetes.
Bastariam os dados do INCA, apontando que aproximadamente 1% dos casos de câncer de mama são atribuídos aos homens. Porém, o Outubro Rosa tem caráter fundamental de adesão do público masculino ao Programa de Saúde do Homem, sobretudo por sua visibilidade nacional. Nesse caso não é apenas o apoio e a solidariedade dos homens em relação as mulheres ao seu redor, que deve ser colocado como prioridade, mas também que não sejam só as mulheres que devam ter o serviço público e gratuito de saúde como algo relevante à sociedade, considerando que existem estratégias de saúde inclusive para o público masculino.
Durante a gestão do então Ministro da Saúde José Gomes Temporão, o SUS já apresentou experiência de buscar uma maior aproximação do público masculino ao trabalho de prevenção da saúde o que, por fim, não deu muito certo. Segundo o Ministério da Saúde, " A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) foi implementada em 2009 com o objetivo de promover a melhoria das condições de saúde da população masculina brasileira, contribuindo para a redução da morbidade e da mortalidade dessa população, abordando de maneira abrangente os fatores de risco e vulnerabilidades associados" 1
Ocorre que os homens acessam bem menos as Unidades de Saúde, que são a forma de acessar o SUS. Os homens, no geral, não dão a devida atenção às ações de prevenção, o que contribuiu com o declínio do programa, que prevê atenção a cinco fatores fundamentais:
- Acesso e Acolhimento: objetiva reorganizar as ações de saúde, por meio de uma proposta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços reconheçam os homens como sujeitos que necessitam de cuidados e acesso à saúde;
- Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva: promove a abordagem às questões sobre a sexualidade masculina, nos campos psicológico, biológico e social. Busca respeitar o direito e a vontade do indivíduo de planejar, ou não, ter filhos;
- Paternidade e Cuidado: busca sensibilizar gestores (as), profissionais de saúde e a sociedade em geral sobre os benefícios da participação ativa dos homens no exercício da paternidade em todas as fases da gestação e nas ações de cuidado com seus (suas) filhos (as), destacando como esta participação pode contribuir a saúde, bem-estar e fortalecimento de vínculos saudáveis entre crianças, homens e suas (seus) parceiras (os);
- Doenças prevalentes na população masculina: reforça a importância da atenção primária no cuidado à saúde dos homens, facilitando e garantindo o acesso e a qualidade dos cuidados necessários para lidar com fatores de risco de doenças e agravos à saúde mais prevalentes na população masculina;
- Prevenção de Violências e Acidentes: visa a conscientização sobre a relação significativa entre a população masculina e violências e acidentes. Propõe estratégias preventivas na saúde, envolvendo profissionais e gestores de saúde e toda a comunidade.
Segundo o DVIASHV, que monitora dados de Tuberculose e HIV/AINDS, os homens sofrem o dobro da incidência de Tuberculose em relação as mulheres, numa proporção de 4,3 casos por 100 mil, enquanto os números são de 21,2 no caso das mulheres. Números que demonstram o tamanho do distanciamento dos homens em relação ao serviço público de saúde. Além disso, vale lembrar que esses números refletem dados oficiais. Ou seja, é possível que essa disparidade entre mulheres e homens seja ainda maior, se considerarmos que muitos casos não chegam a ser notificados, devido a não visita dos homens ao posto de saúde. Então, a maior relevância do Outubro Rosa é sua visibilidade, que pode contribuir significativamente para o acesso dos homens ao Novembro Azul. Longe de lançar sobre a mulher mais uma responsabilidade em relação aos homens, entendemos ser fundamental que a cultura da atenção básica a saúde seja reafirmada nos nos lares. Entendemos que o machismo, por mais estranho que pareça, impõe uma forte carga de medo sobre os homens que, por sua vez, se sentem responsáveis por uma imagem de ser invencível, sobretudo diante de suas famílias.
Precisamos urgentemente levar os homens ao convencimento de que, pedir ajuda, não é um fator depreciativo, muito pelo contrário.
O homem, sua saúde e os fatores socioculturais que o cercam[editar | editar código-fonte]
Com a proposta de aliar a estética da cultura a promoção e educação em saúde, no contexto do "Programa 90x" Favela da FioCruz, percebemos, através do Projeto CHM Sem Bacilo que, de fato, o homem ainda tem muito que avançar, no que diz respeito a sua proximidade com o que lhe é oferecido pelo SUS. O foco do projeto é o enfrentamento a Tuberculose no território que chamamos de "Chatuba em Mesquita" em Mesquita, município da Baixada Fluminense.
Um estudo de revisão sistemática identificou os fatores que contribuem para a baixa adesão dos homens aos programas de assistência à saúde, como o nível educacional, a condição econômica, as crenças culturais, além do conhecimento inadequado sobre a doença, a baixa percepção dos benefícios do tratamento, o medo de efeitos colaterais, a fadiga em relação ao uso crônico de remédios, o baixo apoio familiar e social ao cuidado com a saúde e as questões psicológicas associadas.
Outro estudo de revisão de literatura apontou os fatores relacionados à baixa adesão do homem aos serviços de saúde, como o fato do homem considerar-se saudável e manter o pensamento cultural de ser forte e invulnerável. Outro fator importante é a ausência de especialistas em saúde do homem nos serviços de saúde, estrutura dos serviços de saúde e campanhas que privilegiam grupos frágeis. O horário de funcionamento dos serviços de saúde, demora no atendimento e a necessidade de retorno a consultas são motivos alegados. A ausência de ações voltadas para saúde do homem é de fato um elemento importante na análise. Porém, o medo de descobrir doenças e a unidade de saúde ser considerado um ambiente feminilizado são fatores compartilhados entre os homens.
Um artigo sobre a baixa adesão ao tratamento das doenças cardiovasculares destacou que a doença é vista como uma demonstração de fragilidade pelos homens, que tendem a negar os sintomas e evitar procurar ajuda médica. Além disso, o artigo mencionou que a tuberculose é uma das doenças infecciosas que mais afeta os homens no Brasil, sendo responsável por cerca de 4.500 mortes por ano. O artigo sugeriu que os homens devem ser estimulados a cuidar da sua saúde e buscar orientação profissional sempre que necessário.
Um artigo sobre a baixa adesão dos homens aos serviços da Estratégia Saúde da Família relatou que muitos homens trabalhadores apresentam dificuldade na procura dos serviços primários de saúde devido à falta flexibilidade de horários de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde. Há também deficiência dos serviços de saúde em absorver a demanda trazida pelos homens e escassez de campanhas voltadas diretamente para esse segmento. O artigo também afirmou que a tuberculose é uma das principais causas de morbimortalidade entre os homens no Brasil, sendo necessária uma maior sensibilização e conscientização desse público sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.
Confrontar fatores culturais tão arraigados e propor mudanças de comportamento aos homens é um desafio que precisamos enfrentar. Acreditamos que o desenvolvimento de estratégias eficazes na adesão desse público ao SUS, pode contribuir inclusive com a mudança de mentalidade, possibilitando a diminuição gradativa de expressões e práticas machistas e misóginas, nos vínculos sociais. Ou seja, nosso entendimento é que o exercício do direito cidadão de acesso a mecanismos que garantam a vida podem, concomitantemente, propiciar melhores vínculos sociais e afetivos, considerando seu apelo educativo aos homens enquanto gênero.
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