Circo sem lona

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Vazia, oca, esguia. Me sinto cheia, exausta, embuchada. É essa maluquice que supostamente a gente combinou, que me esvazia de sentido, de humanidade, que nega o corpo. Escraviza, Estupra e pune.

Que nos faz acreditar que nossos corpos não merecem, que porquê você nasceu em tal lugar é pra matar, que, se eu não conquistar? Culpa minha! "O peixe tava aí. A gente até te ensinou a caçar" Lucro e dinheiro. Nossos corpos? À venda. Corpos fadados a morte. Corpos comercializáveis. Supostos donos de si, mas marcados a código de barra.

É esse circo sem lona, com grades, armas e gás lacrimogéneo e jovens "bem intencionados" que só estão a proteger a própria prisão da qual eles mesmos fazem parte. "A gente coloca um cercadinho, chama de cargo, diz que ele é necessário, esvai ele de vida, enche ele de ódio, inventa três motivos pra eles se sentirem distantes, dá uma comida melhor na área vip, uns benefícios, e assim, eles se matam!"

Tudo para não perceber que sua dor é só uma repetição da mesma que existe em todas as portas revestidas em panos diferentes. Mas algumas de fato nem porta tem. O cercadinho depende do quanto seu corpo é justificado de ser marcado porque alguns resolveram se sentir diferentes.

Carnes revestidas a ouro, mas, ainda assim, contaminadas pelo genocídio. Talvez para poderem beber de nossos sangues sem se sentir mal. Igual fazem aos animais.

Nossos corpos justificados, menosprezados, marcados, sem culpa alguma chegam em bandejas nos banquetes que acontecem no salão Alguns mortos outros sedados outros tão esvaziados que mesmo nas bandejas pegam a faca, e matam os que já estão rendidos no prato.

O que menos esperam é que logo logo ceifados viram refeição.

- Lana Mattos