Cocôzap

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Cocôzap é um projeto do data_labe de geração cidadã de dados, a partir de denúncias sobre os problemas de saneamento básico no Conjunto de favelas da Maré, Rio de Janeiro.

Autoria: Arthur William Cardoso Santos e R Ramires
Cocozap-datalabe-mare.png

Origem do projeto[editar | editar código-fonte]

Mapa do território da Maré, com linhas vermelhas no contorno dos subbairros da Maré.
Mapa nome das favelas – Foto: Acervo Cocôzap

A região que engloba o Conjunto de Favelas da Maré teve sua origem na década de 1940, sendo erguida sobre palafitas em uma área de mangue, sem infraestrutura de saneamento básico e direitos adequados. O surgimento da Maré está diretamente ligado aos processos de remoção, desenvolvimento e expansão da cidade do Rio de Janeiro, iniciados no século XX, por meio de reformas urbanísticas visando modernização. A construção da rodovia BR-101, hoje conhecida como Avenida Brasil, inaugurada em 1946, levou a uma migração para a região devido à demanda por mão-de-obra. Posteriormente, houve também uma migração vinda do Nordeste[1].

Na década de 1980, com a implementação do Projeto Rio, uma iniciativa governamental para fornecer infraestrutura para algumas favelas da cidade, a Maré recebeu suas primeiras melhorias em saneamento. Antes disso, a coleta de esgoto e os encanamentos eram feitos manualmente pelos próprios moradores. Até então, era comum o uso do "rola-rola", uma tecnologia criada pelos moradores em um barril de madeira adaptado para transportar água até suas casas (Relatório CocôZap, 2021).

As associações de moradores sempre tiveram um papel crucial na história da Maré, mobilizando a comunidade local. As mulheres do território foram líderes nas decisões, buscando garantir seus direitos. A Chapa Rosa, formada na década de 1980, foi a primeira chapa democrática composta exclusivamente por mulheres. É importante ressaltar que, ao longo da história, as mulheres são as mais afetadas por doenças e pela falta de acesso ao saneamento adequado. Essa mobilização resultou na conquista do acesso à luz, água e esgoto.

A falta de acesso ao saneamento adequado, junto com desigualdades raciais e sociais, resulta em racismo ambiental, afetando principalmente comunidades negras, periféricas e marginalizadas. As favelas são as mais prejudicadas por eventos climáticos, como enchentes, devido à falta de planejamento e ação governamental. A coleta de dados nas favelas é essencial para criar políticas públicas que atendam às necessidades reais da comunidade, combatendo o racismo ambiental e promovendo a justiça climática e racial.

Logotipo do Cocozap.
Foto: Logotipo Cocôzap

O "Cocôzap" é uma iniciativa promovida pelo data_labe, voltada para mapeamento, incidência e promoção da participação cidadã no âmbito do saneamento básico nas favelas. O projeto tem sua atuação centralizada no Complexo de favelas da Maré, uma localidade da Zona Norte do Rio de Janeiro que abriga aproximadamente 140 mil habitantes.

Desde 2018, o grupo executor do projeto, em colaboração com instituições como a Casa Fluminense e a Redes de Desenvolvimento da Maré, tem trabalhado para estabelecer, por meio de um número específico no aplicativo WhatsApp, uma plataforma dedicada para recepção de denúncias, além de promover debates e proposições relativas ao saneamento básico, abastecimento de água e gestão de resíduos sólidos na região.

Mapa da Maré, com pequenas marcações espalhadas pelo bairro, cada pontinho tem um significado e uma cor diferente, na legenda descreve as seguintes categorias: Lixo, Esgoto, Drenagem e Abastecimento de Água.
Captura de tela: Mapa das queixas no site oficial do Cocozap

Funcionamento do Cocôzap[editar | editar código-fonte]

O mecanismo de funcionamento da iniciativa é estruturado de maneira simplificada: os moradores enviam fotos, vídeos e descrições narrativas sobre problemas relacionados ao lixo e ao esgoto para o número de WhatsApp do Cocôzap. Esta estratégia permite uma identificação precisa e ilustrativa dos desafios enfrentados diariamente em razão das desigualdades no acesso a serviços públicos essenciais. Com isso, o projeto visa construir uma base de dados robusta, servindo como ferramenta complementar para diagnósticos que auxiliem no desenvolvimento de políticas públicas fundamentadas e eficazes.

Objetivos do Cocôzap[editar | editar código-fonte]

Homem de camisa vermelha e mascara facial segurando o caderno roxo da carta de saneamento da Maré
Morador com a carta de saneamento da Maré. Foto Patrick Marinho/Data Labe

A perspectiva do Cocôzap é fomentar debates que possam intensificar a pressão por políticas mais assertivas e legitimadas, com base em evidências fornecidas diretamente pelos residentes da área afetada. Além do enriquecimento do banco de dados, são realizadas reuniões mensais envolvendo moradores, representantes de escolas, postos de saúde e associações locais, com o objetivo de promover a divulgação do canal de denúncias e incentivar uma discussão contínua sobre as questões sanitárias pertinentes ao bairro.

Como resultados concretos do engajamento e das atividades desenvolvidas, destacam-se a elaboração de uma carta-manifesto e a criação de um plano de monitoramento[2][3]. Ademais, a equipe engajada no eixo de justiça ambiental do data_labe, composta por jovens residentes na favela da Maré, tem produzido reportagens e relatos que delineiam as questões socioambientais do território, contribuindo assim para uma maior visibilidade e compreensão dos desafios enfrentados pela comunidade.

Linha do Tempo[editar | editar código-fonte]

O Cocôzap (Poopoozap) iniciou seus trabalhos com o recebimento de um prêmio no edital da organização não-governamental CIVICUS em 2016. Sua atuação voltada para a compreensão e melhoria das condições sanitárias na região do conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. está detalhada nos principais marcos e desenvolvimentos deste projeto até o ano de 2020.


2016-01-01T00:00:00Z
Edital Civicus
2018-01-01T00:00:00Z
1º Residência Cocôzap
2018-01-01T00:00:00Z
Jogo Sujo
2019-01-01T00:00:00Z
1º Encontro de Saneamento da Maré
2019-01-01T00:00:00Z
2º Residência Cocôzap
2020-01-01T00:00:00Z
3º Residência Cocôzap
2020-01-01T00:00:00Z
Lançamento da Agenda 2030 de Saneamento da Maré
2020-01-01T00:00:00Z
Plano de Monitoramento do Saneamento Básico na Maré
2021-01-01T00:00:00Z
Relatório Cocôzap 5.0
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2016 - Edital Civicus

O Cocôzap foi lançado como resultado da colaboração inicial com a Casa Fluminense, tendo recebido um prêmio para o planejamento do projeto.

2018 - 1º Residência Cocôzap

Nesta fase, três jovens da Maré, com engajamento em causas ambientais, foram selecionados para estruturar o formato do projeto e iniciar os testes práticos nas ruas da comunidade.

2018 - Jogo Sujo

Dentro das atividades da 1º Residência Cocôzap, emergiu uma reportagem investigativa focada na gestão pública do saneamento básico na Maré e as consequências desta para a comunidade.

2019 - 1º Encontro de Saneamento da Maré

O projeto articulou um encontro pioneiro reunindo ativistas, especialistas e moradores da comunidade para uma análise coletiva dos problemas e potenciais soluções para as questões de saneamento básico na favela.

2019 - 2º Residência Cocôzap

Para ampliar o alcance do Cocôzap, duas jovens ativistas ambientais da Maré foram incorporadas para promover o projeto junto a várias instituições situadas no Complexo da Maré.

2020 - 3º Residência Cocôzap

Esta fase teve como objetivo principal a difusão intensiva do projeto pela Maré, no entanto, foi interrompida devido à pandemia de COVID-19. Mesmo assim, houve a oportunidade de conduzir uma pesquisa com 15 famílias da região para entender as relações entre as condições sanitárias e os impactos da pandemia na comunidade.

2020 - Lançamento da Agenda 2030 de Saneamento da Maré

Após a elaboração da Carta do Saneamento da Maré, o projeto em parceria com a Casa Fluminense estruturou uma agenda para endereçar reivindicações políticas relacionadas ao saneamento no território.

2020 - Plano de Monitoramento do Saneamento Básico na Maré

Em uma colaboração com a Embaixada Britânica e o Parque Tecnológico da UFRJ, o Cocôzap lançou um plano compreensivo que consolidou pesquisas, análises e dados sobre o saneamento na Maré, levando em consideração o contexto da pandemia de COVID-19.

2021 - Relatório Cocôzap 5.0

Entre maio e agosto de 2021, o Cocôzap recebeu 229 queixas de saneamento básico nas 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, sendo 122 de Esgoto, 78 de Lixo, 23 de Drenagem e 4 de Abastecimento de água.

Políticas Públicas[editar | editar código-fonte]

A partir de estudos, o Cocôzap propõe uma série de políticas para melhoria dos indicadores sobre o saneamento básico no conjunto de favelas da Maré:

- Programa voltados para reciclagem de resíduos sólidos;

- Comunicação de risco;

- Monitorar e fortalecer os programas de saúde;

- Mobilizar e democratizar o conhecimento

- Jardim de chuva.

Parceiros[editar | editar código-fonte]

O Cocôzap tem como parceiras as seguintes organizações:

- Casa Fluminense

- Durham University

- Great for Partnership

- Fundo Socioambiental Casa Investindo em Cuidar

- Fundação Heinrich Boll

- Parque Tecnológico da UFRJ

- PUC-PR

- Redes da Maré

- Soltec UFRJ

Contatos e Redes Sociais[editar | editar código-fonte]

Twitter

Instagram

Site Oficial

E-mail contatococozap@datalabe.org

  1. Vieira, Gilberto. “Geração Cidadã de Dados: Um Fazer Político.” Cocozap, 9 Nov. 2020, medium.com/cocozap/gera%C3%A7%C3%A3o-cidad%C3%A3-de-dados-um-fazer-pol%C3%ADtico-6bb6b6e1f675. Acesso em: 19 set. 2023.
  2. https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/COCOZAP-CARTA-DE-SANEAMENTO-DA.pdf
  3. https://medium.com/cocozap/carta-para-o-saneamento-b%C3%A1sico-na-mar%C3%A9-aa90832f5b35

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

MareOnline. “A Luta Histórica Pelo Direito Ao Saneamento Básico Na Maré.” Maré de Notícias Online | Portal de Notícias Da Maré, 5 July 2023, mareonline.com.br/direito-ao-saneamento-basico-na-mare/. Acesso em: 19 set. 2023.

Burgos, Rafael. “WhatsApp de Cocô? “Cocôzap” Une Moradores Da Maré Em Luta Por Saneamento.” Www.uol.com.br, 3 Sept. 2022, www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/09/03/cocozap-iniciativa-engaja-moradores-da-mare-em-luta-por-saneamento-digno.htm. Acesso em: 19 Set. 2023.

Oliveira, Victoria . “CocôZap: Uma Tecnologia Social de Geração Cidadã de Dados de Saneamento Básico No Complexo Da Maré - Radar Saúde Favela.” Radar Saúde Favela, 1 June 2023, radarsaudefavela.com.br/cocozap-uma-tecnologia-social-de-geracao-cidada-de-dados-de-saneamento-basico-no-complexo-da-mare/. Acesso em: 19 Set. 2023.

MATOS, T. Saneamento Básico E covid-19: Conheça O Projeto Cocôzap. Disponível em: <https://www.parque.ufrj.br/saneamento-basico-e-covid-19-conheca-o-projeto-cocozap/>. Acesso em: 19 set. 2023.

ASSOCIAÇÃO DATA_LABE. Cocôzap: Mapeamento, Mobilização E Incidência Em Saneamento Em Favelas | Tecnologias Sociais | Transforma! - Rede De Tecnologias Sociais. Disponível em: <https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/cocozap-mapeamento-mobilizacao-e-incidencia-em-saneamento-em-favelas>. Acesso em: 19 set. 2023.

COCOZAP. Cocôzap: Mapa das Queixas. Disponível em: <https://queixasaneamento.herokuapp.com/mapas>. Acesso em: 19 set. 2023.

https://mareonline.com.br/por-dentro-do-saneamento-basico-na-mare/

https://diariodorio.com/aproximadamente-35-dos-fluminenses-nao-tem-acesso-a-rede-de-esgoto/#:~:text=Dentre%20as%2027%20capitais%20brasileiras,que%20acumulou%208%2C76%20pontos.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Data Labe

Centro de Estudos e Ações Culturais e de Cidadania (CEACC)

Museu da Maré

Casa Fluminense