Coletivo Camélias

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Somos um coletivo de pessoas negras que tem como intuito colaborar para a emancipação da comunidade negra.

Autoria: Lásaro José Thiesen
Coletivo Camélias.

Sobre[editar | editar código-fonte]

Informações retiradas das redes sociais oficiais do coletivo e obtidas através de relato por áudio em resposta ao questionário empregado ao coletivo.

O Camélias é um coletivo que surgiu na cidade de Porto Alegre - RS, em agosto do ano de 2019. Ele nasceu do encontro dos corpos de pessoas negras dos cursos de Ciências Sociais e Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que viram, a partir da graduação e do curso Dandaras de construção de pensamento crítico e formação política do Instituto Akanni, a necessidade de externalizar o aprendizado e experiência adquiridos dentro da universidade de forma que esses conhecimentos e afetos fossem passados, principalmente, para jovens de escolas públicas e sociedade negra em geral.

Integrantes do Coletivo Camélias

Em um primeiro momento o coletivo era formado por cinco pessoas, sendo elas: @feh_fontoura, @nataliafiuza, @akin.atroz, @natashasdemoura e @deise.matias.7. Na época, todes fizeram o curso Dandaras. E foi muito encontro. Foi a partir daí que as ideias sobre a criação do coletivo começaram a surgir, relatou Maria Fernanda ao questionário empregado ao coletivo.

Coletivo criado com base nos afetos[editar | editar código-fonte]

O coletivo foi sendo construído a partir do compartilhamento desses afetos e angústias entre as integrantes, que partilhavam da conquista, resistência e permanência, que é o ingresso de corpos negros no ensino superior no Brasil. O firmamento do Camélias é visualizado através da criação do perfil do coletivo no instagram (@cameliascoletivo), onde são divulgados os conteúdos informativos e críticos, divulgação e comunicação de trabalhos, referências intelectuais, dicas de literatura e lives com personagens locais importantes.

Por que Camélias?[editar | editar código-fonte]

Nada no coletivo é por acaso, tudo é fruto de uma perspectiva crítica. Não seria diferente com a escolha do seu nome.

“A flor camélia, na época em que escravidão ainda era vigente, representava os abolicionistas e por eles era usada como símbolo, onde se via uma camélia se via também a esperança de apoio à aqueles escravizados que haviam escapado. O coletivo camélias tem este nome, pois enxerga nos nossos a própria libertação, entendendo que ela só se concretizará a partir da coletividade.” (trecho retirado do Instagram do Camélias, do dia 20 de maio de 2021)

Impactos da pandemia[editar | editar código-fonte]

Criado em agosto de 2019, o coletivo teve que se adaptar à pandemia que veio trazendo ainda mais dificuldades para as integrantes que estavam carregadas de planos e projetos que eram realizados de forma presencial, e assim, como toda a população, o Camélias teve que se adaptar. Deste modo, a utilização das redes sociais foi uma saída para continuar a externalizar os afetos e trabalhos como relata Fernanda:

“Então a gente teve [...] que mudar. A gente começou a passar a utilizar bastante o Instagram. A gente fez algumas lives. [...] Também fizemos um sarau de poesia que foi um [...] dos momentos mais marcantes assim para mim na pandemia, de ação com o Camélias, né. E foi isso assim.”

A importância do coletivo e das trocas de afetos, mesmo que virtuais, para manter a saúde emocional: “[...] acho que a maior dificuldade foi a nossa saúde [...]. Foi um período bem frágil pra todes nós. E como eu disse, né, antes. O coletivo é muito baseado em afeto e a gente estava meio distante, né. Porque não tinha possibilidade da gente se ver mais todo dia. Então eu acho que a maior dificuldade foi essa [...]”, relata Fernanda. Mas foi na pandemia que o grupo ganhou duas novas integrantes, Isadora e Kerolyn. E foi no sarau, realizado pelo coletivo, que os afetos puderam ser novamente aproximados.

“Um dos principais acontecimentos na pandemia também foi o sarau de poesia que a gente fez, eu não vou lembrar exatamente o dia que foi, a época que foi, mas foi no auge assim da pandemia, e… nossa, foi espaço cultural muito massa assim de fazer parte, bem diferente do que a gente estava acostumado a fazer que eram formações, enfim, debates, [...] foi uma coisa bem homogênea espontânea sabe, e foi muito importante para mim naquele período, por que me fez sentir, resgatar todo o afeto que eu sentia [...] que estava fazendo falta para mim [...] naquela época.” relata, Fernanda.

Trabalhos desenvolvidos pelo Camélias[editar | editar código-fonte]

Oficina sobre auto estima

O grupo desenvolve conversas com estudantes de diferentes escolas em diferentes localidades do Rio Grande do Sul, nas rodas de conversas são discutidos assuntos como racismo estrutural, acesso à universidades, cotas, direitos e permanência no ensino educacional. A primeira ação “oficial” do coletivo foi realizada em novembro de 2019, com alunas do 8º e 9º ano do ensino estadual, onde foi abordado o tema de pressão estética (re)produzida principalmente nas redes sociais. O tema é abordado como problemático entre os adolescentes pois trata-se de uma fase de descobrimento e aceitação, onde a autoestima e autoconhecimento são extremamente importantes.

Não se trata apenas de levar o conhecimento, mas de ocupar os espaços, de se sentir e se reconhecer neles. A construção de coletivo é uma forma de trocas de afetos que tornam as coisas mais suaves.

Conversa sobre cotas, racismo estrutural, acesso e permanência na universidade.

Em outras conversas, realizadas pelo coletivo, foram tratados assuntos sobre o acesso, direitos e permanência na universidade pública, destacando a importância de corpos negros na ocupação desses espaços ainda muito elitizados. Além de instigar o debate e levar informações importantes, o coletivo desperta a possibilidade dos jovens sonharem novas perspectivas de vida. O coletivo planta a semente do sonhar, do ocupar e fazer parte de algo maior.

Marcha independente Zumbi Dandara.

Organizado em diferentes partidos políticos, as(os) integrantes do coletivo também realizam trabalhos de panfletagem e mobilização em manifestações. É um lugar de troca e encontros. “No dia 23 de setembro iniciaram as reuniões para a construção da marcha independente Zumbi Dandara. Durante esses 2 meses participamos das reuniões, panfletamos, conhecemos aliados e tivemos muitas trocas com o pessoal do movimento negro.” (Instagram Camélias, dezembro de 2019)

Paticipação no evento "Atos Negros".

Participação no “Atos Negros”, no salão de Atos da UFRGS:

“promovemos mesas e debates sobre a saúde mental do aluno negro e o mercado de trabalho para os artistas negros, apresentações artísticas dentro e fora do salão e houve uma feira onde se vendia desde livros de autores negros até comidas, como acarajé. Tivemos grandes participações de psicólogos, artistas, alunos. A nossa pauta era: resistir dentro do espaço acadêmico que nos oprime todos os dias. E foi um espaço de resistência muito importante que construímos, em tão pouco tempo.”

(Instagram Camélias, dezembro de 2019) O Camélias também realizou a produção de conteúdo sobre racismo ambiental, e o desenvolvimento de lives com atores importantes da comunidade como Karen Santos, vereadora negra de Porto Alegre eleita com maior número de votos; Rafa Rafuagi, rapper e ativista cultural; e Celso Procópio. O grupo realiza também, a produção de conteúdo crítico, divulgação e comunicação de materiais de autoras e intelectuais negras.


Mais sobre o Camélias[editar | editar código-fonte]

O Camélias é um coletivo crítico, o qual desenvolve um conteúdo provocante e determinado, não trata-se apenas de levar informações e conhecimento para as diversas localidades da região ou para o mundo - como nas redes sociais -, é também uma proposta de garantir a emancipação de corpos e mentes marginalizadas(os) dentro de uma hegemonia social dominante, despertando nos seus semelhantes às possibilidades de outras realidades possíveis. Não são só flores, o coletivo é fruto de muita luta, e essa luta demonstra o quanto as coisas são desiguais dentro da nossa sociedade, a qual cobra que determinados corpos têm a necessidade de lutar para garantir seus espaços.

“[...] muito incrível para mim assim de poder fazer parte disso, né? De ter oportunidade e de ter a possibilidade de ter esses afetos que acabam mantendo a gente dentro da universidade, ocupando esses lugares que a gente ocupa, né? Porque, quando a gente está sozinho, é muito mais difícil. Mas quando a gente tem alguém e alguém que luta com a gente se torna bem mais fácil e acolhedor, né. [...]” (Maria Fernanda)

Redes Sociais[editar | editar código-fonte]

@cameliascoletivo

Referências[editar | editar código-fonte]

Transcrição completa do relato feito por Maria Fernanda Áudio de Maria Fernanda