Dom Filó

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Dom Filó[editar | editar código-fonte]

Asfilófio de Oliveira Filho, Dom Filó, um dos fundadores do acervo Cultne, o maior acervo de cultura negra das américas, é também MC, DJ, engenheiro civil, jornalista, produtor cultural, cine-documentarista e ativista do movimento negro. Possui pós-graduação em marketing pela ESPM e MBA em gestão esportiva pela FGV.

Dos Bailes Blacks ao Cultne[editar | editar código-fonte]

Anos antes de ir para o Harlem em 1978 para "beber da fonte" dos ritmos negros que começacam a surgir nos EUA[1], Dom Filó foi um dos responsáveis pela criação da Noite do Shaft, um baile que ocorria todos os domingos no Renascença Clube na primeira metade dos anos 1970. A Noite do Shaft marca a massiva chegada de ritmos negros norte americanos, como o funk, R&B, Soul ao Brasil e aos ouvidos da população negra suburbana carioca. Os Bailes se tornaram ponto de celebração, resistência e tomada de consciência acerca de sua identidade racial, negra, e os problemas sociais enfrentados, por pessoas negras no Brasil. Nessa época, Dom Filó também se dedicou a produção de shows de artistas nacionais e internacionais, como Archie Bell and The Drells, The Tramps, James Brown e Banda Black Rio.[2]

Nas palavras de Dom Filó, "a Noite do Shaft foi uma espécie de ensaio para a criação das equipes de som Black Rio e Soul Grand Prix. Mais do que música, os conjuntos viraram movimentos de massa que refletiam a identidade negra através de roupas coloridas, sapatos, cortes de cabelo e criação artística."[3]

Além da Black Rio, Soul Grand Prix, a década de 70 também foi ponto de partida de outras equipes de som como a Cash Box e a famosa Furacão 2000, que até hoje ainda realiza bailes Funk pelo Rio de Janeiro e Brasil. Com o final da década de 70 e o aumento da repressão realizada pela ditadura a grupos sociais organizados, os Bailes começam a perder a sua força até que em 1976, dois anos antes de ir para o Harlem, Dom Filó é preso sob as acusações de envolvimento em conflitos locais, alinhamento ideológico ao comunismo e conexões com grupos antirracistas dos Estados Unidos, incluindo os Panteras Negras.

Quando retorna ao Brasil, já na década de 80, começa a realizar registros em conjunto com outros amigos[4]. Esses registros que, desde a década de 1980 já pautavam a questão da cultura negra como foco acabaram se tornando alguns dos primeiros materiais a integrar o que, posteriormente, se tornou o Acervo Cultne, No ano de 1987, a convite de Walter Clark, Dom Filó estreou um o programa diário na TV Rio intitulado “Radial Filó”, dedicado ao público negro dos saudosos bailes cariocas dos anos 70. Em 1988, o instituo e produtora CULTNE é criado, com a finalidade de promover registros em audio e vídeo de atividade de resistência negra, incluindo exibições de filmes e documentários em telões em favelas Brasileiras. Segundo o Dicionário da MPB[5], no ano de 2000, Dom Filó aderiu à internet e criou o canal “Cultne” na plataforma YouTube, disponibilizando o seu acervo em vídeo, considerado um dos maiores em termos de cultura negra na América Latina e que hoje tem em sua missão o foco de se tornar o primeiro streaming de conteúdo negro do país e que, em 2023, foi considerado patrimônio cultural material do Rio de Janeiro[6]

A Exposição: "FUNK: Um grito de ousadia e liberdade”[editar | editar código-fonte]

Inaugurada ao público em 23 de setembro de 2023 no MAR, a exposição aborda a história do funk, destacando não apenas sua sonoridade, mas também sua matriz cultural urbana e periférica, sua dimensão coreográfica, suas comunidades e seus desdobramentos estéticos, políticos e econômicos. O funk é tratado como um tema coletivo e é pensado desde os seus primeiros momentos em solo brasileiro, nos anos 70 e 80, com o movimento soul e os bailes Black influenciando a cultura brasileira, incluindo moda, estética e a formação de equipes de som que animavam festas em clubes de bairro, e se estende até os bailes de favela. A exposição também destaca a influência do funk em práticas culturais variadas, especialmente nas artes visuais contemporâneas, onde o funk serve como referência de resistência política e cultural, sobretudo em ambientes periféricos e nas favelas.

Ver também:[editar | editar código-fonte]

Essinger, Silvio (2005). Batidão: uma historia do funk. [S.l.]: Editora Record

Referências:[editar | editar código-fonte]

Notas e referências