Instituto Entre o Céu e a Favela

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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O Instituto Entre o Céu e a Favela é uma Organização Não Governamental (ONG) sem fins lucrativos fundada em 2011 por Cintia Santanna, mulher e moradora do Morro da Providência, primeira favela do Brasil.

Autoria: Cintia Santanna e Camille Stéphan.
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Sobre[editar | editar código-fonte]

O Instituto Entre o Céu e a Favela é uma Organização Não Governamental (ONG) sem fins lucrativos fundada em 2011 por Cintia Santanna, mulher e moradora do Morro da Providência, primeira favela do Brasil. O IECF atende crianças, jovens e mulheres da Providência e da Região Portuária através de atividades esportivas, culturais, sociais e profissionalizantes.

Propósitos[editar | editar código-fonte]

MISSÃO: Gerar inclusão e transformação social para crianças, jovens e mulheres de favelas, potencializando o seu protagonismo por meio de ações socioculturais.

VISÃO: Construir um novo mundo, dando fim a desigualdade social, se tornando referência de inclusão e transformação da Região Portuária.

VALORES: Proposito e disciplina; protagonismo e transformação; promoção de autonomia; comprometimento e moralidade; diversidade e integração.

Histórico[editar | editar código-fonte]

O Instituto Entre o Céu e a Favela surgiu em 2011, por iniciativa de um grupo de moradores do Morro da Providência, a primeira favela do Brasil, reunidos pela certeza de que a cultura e a comunicação são ferramentas potentes de enfrentamento ao racismo estrutural que distribui direitos e organiza a cidade. Já em 2012 criamos o informativo mensal “Entre o Céu e a Favela”, iniciativa selecionada em edital para ser apoiada pela Agência de Redes para Juventude. O projeto durou 6 meses e produziu eventos, oficinas e ações socioculturais. Em paralelo a isso oferecemos aulas de teatro como uma forma de gerar autoestima nas crianças locais. Em 2016 foi o ano da expansão, quando montamos um coletivo com o intuito de conseguir nos organizarmos coletivamente junto aos outros projetos locais. Assim, organizamos um cortejo cultural no início do ano 2017 para fortalecer os coletivos e projetos culturais locais, como forma de  divulgar pelo morro as ações desenvolvidas. A fundadora do Instituto, Cintia Santana, mulher e moradora da Providência, decidiu encerrar o coletivo em 2018 para poder se dedicar completamente ao projeto e acelerar o seu crescimento, conseguindo atender 100 crianças nas oficinas de teatro, perna de pau, contação de história, educação ambiental e mais 40 mulheres nas oficinas de qualificação profissional. Com esse propósito de ampliação, ela participou do programa de aceleração da ONG Gerando Falcões e foi selecionada para entrar na rede. Devido ao surgimento da pandemia, o projeto sociocultural de 2020 financiado através da lei de incentivo à cultura do município do Rio de Janeiro foi adiado e o Instituto decidiu dedicar o seu trabalho ao atendimento das famílias da região portuária, distribuindo no total 1.750 cartões de alimentação, 1.250 cestas básicas, mais de 14.000 máscaras, além de álcool em gel, kits de higiene, entre outros. A ação foi desenvolvida pelos 4 membros da equipe, junto com alguns voluntários. Com essas ações o Instituto ganhou visibilidade dentro do território e confiança dos moradores, por chegar nos lugares mais difíceis de acesso onde a ajuda não chegava.


No início da pandemia, no mês de março de 2020, também criamos um Gabinete de Crise unindo oito projetos da região, o que ampliou a capacidade de atendimento aos moradores por todos os projetos que participaram. Esta iniciativa surgiu da nossa vontade de trabalhar em rede porque acreditamos que a mudança só é possível quando trabalhamos juntos. O ano 2020 também marca a institucionalização do Entre o Céu e a Favela e a reforma da sede.  Durante o ano 2021, ampliamos nossos atendimentos, com 7 oficinas no polo esportivo cultural para 270 crianças e adolescentes, e 4 oficinas de qualificação profissional para 190 jovens, mulheres e empreendedores. Encerramos o primeiro semestre formando 110 mulheres nos cursos profissionalizantes de trança, design de sobrancelhas e empreendedorismo, abrindo também mais 150 vagas novas para o segundo semestre.

Devido ao fato de que a fundadora e a maioria do time operacional serem nascidos, criados e moradores do Morro da Providência, o Instituto consegue ter uma leitura das carências e demandas do território, assim como ter uma atuação bem ampla e assertiva dentro da região, conseguindo circular e chegar na casa de moradores nos locais mais difíceis de acesso. Temos parceiros do comércio local e somos cada vez mais conhecidos dentro da região de atuação. Essa visibilidade e proximidade ajuda em conseguirmos atender mais pessoas e ter um maior contato com os moradores. Através do bom relacionamento e diálogo com o nosso público alvo, planejamos as nossas ações e objetivos junto com os moradores para construir junto cada atividade que propomos no Entre o Céu e a Favela e assim responder às demandas específicas do território.


É com este modo de trabalho que estamos iniciando o projeto “Favela 3D” (Digital, Digna, Desenvolvida), projeto de transformação da ONG Gerando Falcões, cuja missão é “transformar a pobreza da favela em peça de museu, antes de Marte ser colonizado”. O Instituto Entre o Céu e a Favela foi selecionado pela Gerando Falcões para coordenar o projeto no Morro da Providência, junto com dois institutos, sendo um  do interior de São Paulo e um de Maceió, e assim ser um dois protótipos de transformação da favela para poder expandir esse modelo para as outras favelas do Brasil.

O Morro da Providência é o local da Região Portuária onde a concentração de moradores é a mais importante. Ademais, a Região Portuária possui uma população mais jovem do que o observado na cidade do Rio de Janeiro, sendo que 1/4 dela não estuda e nem trabalha. O índice de domicílios chefiados por adolescentes dobrou, passando de 0,93% para 1,85% entre 2000 e 2010. As maiores demandas socioassistenciais no território são as intervenções complementares para empregabilidade e inserção no mercado de trabalho, pois não possui unidades especializadas para esse atendimento. Por isso, o Instituto se dedica a atender as crianças, jovens e mulheres da Providência.

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Objetivos[editar | editar código-fonte]

Nossas ações para reduzir as desigualdades presentes dentro da favela são desenvolvidas através da atividades cujos objetivos são baseados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), previstos na agenda 2030 da ONU (criada em 2015). Faltam poucos anos antes de atingir essa data chave, porém esses objetivos ainda não foram cumpridos aqui no Brasil, assim como no Morro da Providência.

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O Instituto Entre o Céu e a Favela enfoca as suas ações em 6 ODS:

ODS 1: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.

ODS 3: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.

ODS 4: Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos.

ODS 5: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

ODS 8: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos.

ODS 10: Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.

Time[editar | editar código-fonte]

Time IECF

Morro da Providência[editar | editar código-fonte]

Breve Introdução:

O Morro da Providência teve sua formação na época em que foi ocupado por soldados que participaram da Guerra de Canudos. Em 1897, ao chegarem no Rio de Janeiro, os ex-combatentes não foram considerados heróis e não receberam seus soldos como era prometido. Com isso, eles se instalaram na encosta do morro e passaram a chama-lo de Morro da Favela, fazendo assim uma analogia com os morros que circundavam Canudos e que eram repletos de arvores espinhentas, conhecidas no nordeste pelo nome de "favelas".

Mais tarde o termo favela, utilizado para classificar habitações precárias em áreas de morro, foi ficando tão genérico que novamente passaram a chamar o Morro da Favela de Morro da Providência.

A ocupação do Morro da Providência se intensificou a partir da politicas higienista do final do século XVIII, quando o prefeito Barata Ribeiro decide remover os cortiços, considerados impróprios, da área portuária de grande importância para a economia da época. Muitos desses moradores removidos instalaram-se na encosta do Morro da Providência, próxima ao local dos antigos cortiços.

Região Portuária


Dados gerais: (Censo 2010)

- IDHM: 0,643 = Médio    (no bairro Santo Cristo o IDHM é de 0,746 = Alto)

- Densidade Demográfica: 14.626 hab/km² = densidade muito alta (no Santo Cristo = 5.897hab/km²)

- População: 51,08% mulheres / 48,92% homens

- % pobres 2010:  17,46%  (x6 Santo Cristo = 3,68%)
- Renda per capita mensal:  R$534   (Santo Cristo = R$843)
- Extrema pobreza: Aumento da população em situação de extrema pobreza no Morro da Providência entre 2000-2010.

- Taxa analfabetismo: 9,43%   (RJ= 3,31% e Santo Cristo = 2,81%)

- Creches: 1
- Escolas Municipais: 0

Coleta de dados (projeto Tamo Junto)[editar | editar código-fonte]

Para a aplicação das ferramentas vistas nos últimos encontros do projeto Tamo Junto sobre os métodos de pesquisa e coleta de dados, decidimos desenvolver uma entrevista e um formulário com algumas moradoras do Morro da Providência sobre a temática Favela 3D, projeto de transformação social, o protótipo de uma tecnologia social que busca o engajamento e protagonismo dos moradores locais para tomada de decisões de melhoria em infraestrutura e serviços para dentro da favela.

A entrevista foi feita com uma moradora que não participou das pesquisas desenvolvidas pelo projeto Favela 3D, a ideia foi de confrontar uma opinião parcial com os feedbacks de moradoras que sim participaram das pesquisas, censos, levantamento de dados e apresentação do projeto.

Para a entrevista preparamos um guia com algumas perguntas norteadoras da conversa que foi gravada por áudio no intuito de focar na conversa e registrar as respostas depois, para deixar a pessoa mais confortável e fazer da entrevista uma troca agradável. O formulário foi feito através da ferramenta Google Forms, conversando com as pessoas, fazendo as perguntas e preenchendo as informações coletadas.


Resumo da entrevista:

Anna é mãe solo, moradora da Providência e trabalha na Central como autônoma com uma barraca de suco de laranja junto com a sua irmã.

O maior sonho da Anna para a comunidade é ajudar as crianças carentes tirando-as da pobreza. Se tivesse condições financeiras boas ela iria ajudá-las “igual o Michael Jackson fez na África”. Ajudar as crianças que moram nos casarões, dando roupa, cestas básicas e dinheiro. Ajudar as pessoas que moram na rua, disponibilizando uma clínica para acolher eles e dar assistência médica.

"É importante ter amor ao próximo".

Anna quer dar o melhor para a filha, gostaria de vê-la nas olimpíadas. Tem vontade de inscrevê-la no jiu-jitsu quando crescer, numa escola particular se tiver como pagar. Não tem infraestruturas na região com atividades públicas para as pessoas que não tem condições de pagar. Só sabe de projetos pagos.

Acha importante a implementação de um lugar onde os moradores poderiam se reunir para conversar sobre os problemas e criar soluções coletivas. Acredita que essas reuniões da comunidade funcionariam e seriam um sucesso. Ficaria feliz de participar de um “coletivo” de moradores e teria disponibilidade para participar uma vez por semana.


Resumo do questionário:

O Morro da Providência é uma favela majoritariamente feminina. Com isso, o Instituto sempre foca as suas ações com as mulheres, mães, trabalhadoras, empreendedoras, entre outros, da Providência. Além disso, constatamos uma participação mais ativa das mulheres nos projetos desenvolvidos na região.

O formulário complementar, mandado para mulheres participantes do projeto Favela 3D, permitiu recolher algumas informações extras que não foram tratados nas pesquisas anteriores do projeto com algumas das mulheres pesquisadas anteriormente.

Os feedbacks sobre a pesquisa mostram que 44,4% das entrevistadas têm um emprego e 44,4% estão desempregadas e que a maioria tem filhos menores de 18 anos (66,7%). Sobre o projeto Favela 3D 77,8% acharam bom o projeto e 22,2% acharam ótimos. Os feedbacks sobre a pesquisa também são positivos, a maioria gostou, achou tranquilo e interessante, e uma pessoa achou um pouco embaraçado e confuso. Sobre o sonho das pesquisadas é interessante ver que a maioria deseja reformar, melhorar o possuir a própria casa.

Redes sociais[editar | editar código-fonte]

 

O começo[editar | editar código-fonte]

Em 2011, ainda estudante, a atriz e produtora cultural Cintia Sant’Anna, lançou o informativo mensal “Entre o Céu e a Favela”, com uma tiragem de 250 exemplares, que só foi possível a partir da contemplação do projeto num edital da Agência de Redes para Juventude. O informativo tinha agenda cultural, História e reportagens sobre “gente que faz”, personagens “em ação”, no Morro da Providência. Com ajuda de amigos e apoiadores e voluntários, o projeto foi se mantendo com muita dificuldade. Nessa fase a equipe que participou do informativo foi; o psicólogo Diego Santos, como coordenador geral; a jornalista Gláucia Marinho, como designer; Jeferson Pedro era o jornalista responsável; a logo foi desenvolvida por Galo e Paz Berti era colunista.

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Em 2015, Cíntia, apoiada por suas parceiras; a atriz, Mônica Saturnino e a produtora Sarah Alonso, que adaptaram a ideia do informativo para uma plataforma digital; o portal e inseriram o “Entre e o Céu e a Favela, o Portal” no edital Favela Criativa. Esse edital contemplava projetos já existentes em ação nas comunidades e o projeto Entre o Céu e a Favela foi contemplado.

Em 2016, a verba do edital foi liberada, entretanto com apenas 50% do valor esperado para a manutenção de todo o projeto. Mas, sendo fundamental para o início do renascimento do informativo, agora como portal. Junto com o portal nasce o coletivo, formado por projetos do Morro da Providência. Em Janeiro de 2017 nasce o portal e o coletivo Entre o Céu e a Favela.