Esporte e lazer na Zona Oeste do RJ (relatório)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Este relatório foi produzido pelo mandato do vereador William Siri sobre os equipamentos de esporte e lazer da zona oeste do Rio de Janeiro, construído a partir de visitas a diversos bairros e da escuta às demandas da população.

Autoria: Mandato William Siri.

Introdução[editar | editar código-fonte]

No período de jogos olímpicos, o esporte, suas diversas modalidades e seus atletas, dominam o noticiário e as conversas do dia a dia. Muito se fala sobre a importância da prática esportiva e das atividades físicas como fonte de saúde, bem estar e desenvolvimento social. No entanto, a realidade do esporte em nosso país é marcada por dificuldades e pouco investimento. Fora do período dos grandes eventos, são poucos os atletas que conseguem bons patrocínios e muitos precisam trabalhar em outras atividades para buscar seu sustento. Além disso, os equipamentos esportivos são insuficientes e muitas vezes mal conservados, comprometendo a prática de esportes e a descoberta de novos talentos.

Além disso, como nos lembra as Paralimpíadas, esporte também é instrumento de inclusão, sendo necessário que todos os equipamentos sejam acessíveis e que as atividades oferecidas pelo Poder Público sejam pensadas para todos, inclusive pessoas com deficiência. Sabemos que, infelizmente, a realidade se mostra muito pouco inclusiva, por isso a cobrança é fundamental.

Pretendemos com esse documento contribuir para a melhoria da oferta de equipamentos e atividades de esporte e lazer na cidade, democratizando seu acesso e aumentando o incentivo à essa prática, que é fundamental para a construção de uma sociedade baseada na boa saúde, no bem estar e na cidadania.

Legado olímpico[editar | editar código-fonte]

O Rio de Janeiro foi palco das Olimpíadas em 2016, sob a promessa de construção e reforma de complexos esportivos e da criação de novas linhas e modais de transportes que ficariam como legado para a cidade. Atualmente, alguns equipamentos são utilizados, outros foram desmontados ou abandonados e alguns sequer foram entregues.

Apesar das projeções otimistas da Prefeitura, tivemos mais despesas e menos retorno do que o esperado. Na época, a previsão de gastos com os Jogos Olímpicos era de R$ 28 bilhões. No entanto, R$ 41 bilhões foram usados até agora e esse custo irá aumentar já que há projetos que ainda devem sair do papel.

Mobilidade[editar | editar código-fonte]

O BRT foi o principal meio de transporte durante as Olimpíadas, sendo o sistema selecionado para transportar atletas e espectadores pela cidade. Em 2016, circulavam, segundo a Prefeitura, 375 ônibus no sistema BRT. Hoje existem 180. A diminuição de mais da metade do número de carros tem como resultado a superlotação, que, durante a pandemia, se torna um problema ainda mais grave.

Na época da instalação do BRT, a acessibilidade do sistema foi um fator destacado pela Prefeitura. No entanto, atualmente a manutenção das estações deixa a desejar, com elevadores quebrados que impedem o acesso de pessoas com deficiência física e motora ou com mobilidade reduzida. Além disso, muitos dos ônibus alimentadores, que levam a população até as estações de BRT, estão com os elevadores fora de funcionamento ou com barras e cintos de segurança danificados, prejudicando sua acessibilidade. Para piorar, o entorno de boa parte das estações não é acessível, impedindo ou dificultando o deslocamento seguro e autônomo das pessoas com deficiência pela cidade.

Outros problemas são os horários irregulares, o asfalto precário e os ônibus em péssimo estado. Existem ainda as estações abandonadas que, além de não prestarem serviço à população, estão se deteriorando ao longo do tempo. Um desperdício de dinheiro público! Em Campo Grande temos um grande exemplo nesse sentido: a estação Maria Teresa nunca foi utilizada, pois foi construída fora do trajeto do BRT.

Ainda no setor de transportes, a TransBrasil deveria ter sido finalizada em 2017. Segundo a Prefeitura, a obra inacabada, que gera transtornos numa das principais vias da cidade, deverá ser retomada em agosto, com um investimento de mais de R$ 361 milhões. A finalização da TransBrasil seria importante para aumentar a mobilidade da população, principalmente dos pretos e pobres, como mostra o ITDP. Atualmente, 8,3% da população que ganha até um salário mínimo mora perto de uma estação de BRT. Com a finalização da obra, esse número subiria para 12,7%, somando mais de 120 mil pessoas de baixa renda morando mais perto de uma estação. Para a população negra, os números são ainda maiores. Quase 60% a mais de pretos e pardos estariam próximos de uma estação. Para a população como um todo, seria um crescimento absoluto de quase 250 mil pessoas (44,2%).

O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) foi outro modal inaugurado no contexto das Olimpíadas, em 2016, e fazia parte do projeto de aumento da ocupação do centro do Rio, mais especificamente da região portuária. A projeção era que o VLT atendesse 250 mil passageiros por dia útil, integrando a região central. No entanto, o máximo de utilização diária foi de 110 mil pessoas, antes da pandemia. Para piorar, a demanda caiu 90%.

Já a linha 4 do metrô continua parcialmente inacabada, com o canteiro de obras do que seria a estação da Gávea, abandonado desde 2015 devido a problemas estruturais.

Cinco anos após as Olímpiadas no Rio, seguimos com diversos problemas no transporte urbano. Das promessas iniciais temos obras inacabadas e modais que continuam funcionando de forma deficitária. A população carioca continua esperando pelo legado olímpico no setor de transportes, que deveria significar um dia a dia mais tranquilo, com viagens mais rápidas e confortáveis.

Equipamentos esportivos[editar | editar código-fonte]

Dois locais concentraram as competições em 2016: o Parque Olímpico da Barra e o Complexo Esportivo de Deodoro, que juntos custaram mais de R$ 2 bilhões. A Prefeitura gastou, até o ano passado, mais de R$ 10 milhões apenas com a manutenção dos equipamentos que ficaram sob sua gestão. Só o Parque Radical de Deodoro custa R$ 2 milhões ao ano. O Governo Federal gastou mais de R$ 65 milhões com a manutenção de equipamentos sob sua administração.

Visitamos os dois locais, nos quais pudemos perceber o impacto de anos de abandono e má gestão sobre os equipamentos, que deveriam servir de legado à população carioca.

Deodoro[editar | editar código-fonte]

Em Deodoro, grande parte das instalações está em área militar e sob a responsabilidade do Exército. Já o Parque Radical de Deodoro, utilizado para competições de Mountain Bike, BMX e Canoagem Slalom, foi projetado para ser utilizado pela população. Atualmente, o parque se encontra aberto e recentemente retomou a oferta de aulas e atividades. Porém, apesar das melhorias recentes, as condições ainda não são ideais.

A pista de BMX, por exemplo, está sem manutenção, cheia de buracos e em condições precárias. A promessa é de que dentro de seis meses a pista será totalmente reformada e entregue ao público.

Além disso, a população reclama de locais ermos no parque, apesar da presença da Guarda Municipal. A promessa inicial era dotar o parque de ciclovias e trilhas, no entanto, não existe nenhum tipo de sinalização ou rotas.

Já a piscina foi reaberta recentemente para a escolinha de canoagem, mas não para a utilização livre do público, como demanda a população.

A Floresta dos Atletas, com mudas de 207 espécies simbolizando os países participantes dos jogos, foi prometida em 2016 e só foi plantada em 2019. O investimento para o plantio, que foi de cerca de R$ 3 milhões, foi custeado, de acordo com a Prefeitura do Rio, por compensações ambientais, um mecanismo legal de contrapartida em que empresas cujas atividades tenham causado impacto ao meio ambiente compensam os danos plantando árvores em áreas determinadas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC).

O Parque de Deodoro é o segundo maior parque aberto ao público da cidade (perdendo apenas para o Aterro do Flamengo). É situado em uma região que sofre com a falta de espaços de qualidade ao ar livre para a prática de esportes e lazer. Por isso é tão importante que seja bem cuidado e gerido. Vamos continuar fiscalizando e cobrando as melhorias prometidas, visando a qualidade de vida e a prática de esportes na Zona Oeste.

Barra da Tijuca[editar | editar código-fonte]

Em 2012, o antigo Autódromo de Jacarepaguá foi demolido e diversos moradores da região foram removidos para a criação do Parque Olímpico. Atualmente a maior parte do parque está abandonada, com equipamentos sem uso e mato crescendo em diversos locais.

A Arena do Futuro e o Centro Aquático Olímpico foram projetados para serem desmontados após o fim dos Jogos Olímpicos. Cinco anos depois, ambos encontram-se no mesmo local, sem utilização desde o fim dos jogos. Após muitas idas e vindas, com diversas negociações, a Prefeitura abriu uma licitação para a desmontagem dos dois equipamentos, ao custo de R$ 78 milhões.

A estrutura da Arena do Futuro servirá para a construção de quatro escolas, que só deverão ficar prontas em 2023. Elas terão capacidade para 245 alunos cada e serão instaladas nos bairros de Bangu, Santa Cruz, Campo Grande e Rio das Pedras. A promessa em 2016 era de que essas escolas teriam capacidade para 500 alunos cada. Ou seja, cinco anos depois, as escolas ainda não foram entregues e, quando forem, atenderão muito menos alunos do que o previsto, embora a demanda seja grande na região.

Na Arena 3 são oferecidas atualmente uma gama de atividades gratuitas para a população, com bons equipamentos. No entanto, ainda é muito pouco perto do potencial que instalações tão amplas e modernas tem.

As Arenas Cariocas 1 e 2, o Centro Olímpico de Tênis e o Velódromo, que se encontram sem uso, estão sob responsabilidade do Governo Federal. Em julho, a Prefeitura abriu licitação para a concessão desses equipamentos à iniciativa privada. O vencedor terá a concessão dos equipamentos por 15 anos, tornando-se responsável pela manutenção do Parque Olímpico, pela transformação da Arena 3 em um Ginásio Experimental Olímpico (escola municipal voltada para a inclusão de esportes olímpicos na grade de ensino) e pela criação de uma pista de atletismo e de uma piscina olímpica (que deverá ser retirada do Centro de Esportes Aquáticos). O Velódromo será gerido pela Prefeitura e abrigará as atividades hoje oferecidas na Arena 3.

Essas novas promessas serão fiscalizadas de perto pelo nosso mandato. Queremos ver os equipamentos olímpicos servindo de fato à população e precisamos que o legado se torne, mesmo que anos depois, uma realidade para nossa cidade.

Outros equipamentos da ZO[editar | editar código-fonte]

Vilas olímpicas[editar | editar código-fonte]

Na década de 1980, um projeto que visava propiciar o desenvolvimento através do esporte e incentivar a população à prática de atividades físicas, especialmente em áreas de maior vulnerabilidade, gerou as vilas olímpicas. Hoje existem 20 vilas olímpicas espalhadas pela cidade, sendo oito delas na AP 5. Nesses espaços são oferecidas atividades gratuitas diárias abertas ao público, além de colônia de férias. Após meses fechadas ao público por conta da pandemia, as vilas olímpicas voltaram a oferecer aulas este ano.

Todas deveriam contar com piscina, quadras cobertas, campo de futebol, pista de atletismo e salas de aula. No entanto, em nossas visitas, verificamos que o polo Jardim Bangu, por exemplo, não possui piscina, quadra e sequer bebedouro para os alunos. Em outras vilas, o problema é a falta de material (muitos estragaram com o tempo e não foram repostos) e de professores, evidenciando falhas que precisam de atenção urgente do Poder Público.

Dentre as vilas da nossa região, dois equipamentos se destacam: a Cidade das Crianças (Santa Cruz) e o Centro Esportivo Miécimo da Silva (Campo Grande). Apesar de possuírem características diferenciadas das demais vilas, ambos os equipamentos fazem parte do mesmo projeto, fornecendo à população atividades gratuitas relacionadas ao esporte e ao lazer.

Cidade das crianças[editar | editar código-fonte]

A Cidade das Crianças é um grande parque público, de 186 mil m2, localizado em Santa Cruz, próximo à Avenida Brasil e à Rodovia Rio-Santos. Inaugurado em 2004, conta com piscina, quadras de esporte, praça, área de recreação e teatro (com capacidade para 300 pessoas), entre outros equipamentos. Assim como as demais vilas olímpicas, a Cidade das Crianças foi concebida para oferecer aulas gratuitas à população. Algumas, como hidroginástica e pilates, funcionam normalmente. No entanto, a maior parte do parque se encontra abandonado, com grandes áreas tomadas pelo mato e por equipamentos quebrados e enferrujados.

Além disso, em suas dependências, há o Planetário e a Escola Municipal Ricardo Brentani. O Planetário está fechado, em péssimo estado de conservação. A escola funciona, no entanto, também necessita urgentemente de reforma e reparos diversos. Recentemente um gerador foi furtado do Planetário, piorando a situação e escancarando o abandono. Dois equipamentos tão importantes para o desenvolvimento e incentivo à educação e à ciência precisam estar em pleno funcionamento. A negligência com esses espaços mostra como a nossa região ainda precisa de atenção.

A Cidade das Crianças é um local muito importante para a região onde se localiza. O bairro de Santa Cruz, carente de diversos serviços, tem em seu território esse vasto parque público que, infelizmente, funciona muito aquém da sua capacidade. É fundamental que a população possa usufruir desse local, com a reabertura do Planetário e a manutenção de toda área. Além disso, é importante que a oferta de transporte público para o local seja revista, pois, mesmo quando estava em funcionamento, o difícil acesso sempre foi uma crítica dos moradores locais. Um parque público aberto, bem conservado e acessível é direito da população!

Centro Esportivo Miécimo da Silva[editar | editar código-fonte]

O Centro Esportivo Miécimo da Silva (CEMS), localizado no bairro de Campo Grande, é um dos maiores equipamentos públicos da América Latina, ocupando uma área de 64.000m2. É um verdadeiro patrimônio e uma referência para toda a Zona Oeste. Já revelou inúmeros atletas, formou vários professores e possibilita o acesso à prática de esportes que transformam vidas, não somente no aspecto profissional, mas na garantia de lazer, diversão, qualidade de vida, saúde e bem-estar.

Muitas crianças e adolescentes passam suas tardes saindo de uma atividade e entrando em outra. Às 14h horas há prática de jiu-jitsu, às 15h de futsal e às 16h de handebol, uma seguida da outra. Outros acordam bem cedo para pular na piscina às 6h ou praticar yoga, atividade que teve muitos adeptos. Podemos observar, por esse resumo das atividades, que o espaço tem grande função social e atende à comunidade, porém vivencia grave degradação e ausência de manutenção e investimentos.

Hoje a estrutura - que já foi palco do Campeonato Sul-americano de Vôlei, Copa do Mundo de Natação, XVI Torneio Aberto do Brasil de Tênis de Mesa, a Copa do Mundo de Ginástica, competições do PAN Rio 2007 e GP de atletismo - está com a pista de atletismo inutilizável. Após alguns buracos e irregularidades, o acúmulo de terra e sedimentos deixaram a pista úmida e, por falta de escoamento, completamente degradada.

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Rebeca Andrade orgulhou todo país conquistando duas medalhas, uma de ouro e outra de prata. A jovem atleta do Flamengo será inspiração para meninas e meninos que desejam ser ginastas no futuro. Contudo, é triste saber que no Centro Esportivo Miécimo da Silva, por exemplo, alguns aparelhos de ginástica olímpica estão danificados, dificultando os treinos e o contato com o esporte.

Os usuários deste importante equipamento público esportivo têm convivido com banheiros danificados, falta de pessoal para a limpeza, aquecedor da piscina quebrado, entre outros problemas. Cobraremos da Prefeitura mais cuidado e investimento e melhor gestão do espaço para que ele possa ser usado e apropriado pela população em toda a sua capacidade e grande potencialidade.

Praças[editar | editar código-fonte]

As praças são, por tradição, locais de encontro que fortalecem os laços da comunidade. São espaços abertos que permitem a convivência de todos, independentemente da idade e ou classe social. Permitem que as crianças aprendam as primeiras brincadeiras e os jovens, adultos e idosos encontrem espaço para conversar, praticar esportes ou apenas passar o tempo. Apesar disso, nem sempre as praças são tratadas com a atenção que merecem.

Muitas praças da Zona Oeste estão abandonadas, com bancos quebrados, sem iluminação ou manutenção. Visitamos dezenas de praças da AP5 que, em sua maioria, possuíam demandas em comum, como a necessidade de limpeza, poda de árvores, manutenção de quadras, campos de futebol e equipamentos e iluminação adequada. São demandas básicas, mas que infelizmente persistem por anos sem uma solução.

Todos esses problemas estruturais aumentam o risco de acidentes e a sensação de insegurança por parte dos moradores. Como se reunir com vizinhos e amigos em um lugar escuro, sem ter onde se acomodar? Como levar as crianças para brincar onde o mato está alto e os brinquedos quebrados? Por isso, diversas praças acabam se transformando em lugares desertos e perigosos, prejudicando a circulação dos moradores nos bairros.

A ausência de conservação básica se soma a um problema gravíssimo: a falta de acessibilidade. São raras as praças da Zona Oeste que possuem o mínimo de estrutura, como rampas de acesso, piso tátil no entorno e equipamentos adaptados. A maioria é completamente inacessível e não possui nenhum tipo de equipamento adequado a pessoas com deficiência. É importante ressaltar que os espaços destinados ao esporte e ao lazer precisam ser pensados para todos. A acessibilidade, nesse sentido, deve ser assegurada com a presença de caminhos largos e sem obstruções, sinalização correta, equipamentos (como brinquedos e banheiros) adaptados, iluminação adequada e vegetação que não se converta em obstáculos. Do contrário, as praças, que deveriam ser locais democráticos de encontro e convivência, convertem-se em locais de exclusão para uma parcela da população, prejudicando profundamente a interação e o convívio social no espaço público.

É importante ressaltar que a população atua na manutenção e no cuidado das praças de seus bairros. São muitos os casos nos quais os próprios moradores realizam a manutenção das praças, consertando grades, refazendo a pintura de quadras ou o reparo de equipamentos como tabelas de basquete e redes de vôlei. Sem a assistência correta, a população acaba realizando serviços que são de responsabilidade da Prefeitura, na tentativa de minimizar os prejuízos e continuar a utilizar esses espaços. Diversos moradores já realizaram reclamações e solicitações através do 1746, o canal oficial da Prefeitura, mas não obtiveram retorno.

Outra reivindicação comum é a instalação de equipamentos, aparelhos de ginástica (que são muito importantes para atividades na terceira idade), brinquedos e quadras esportivas. Em Santa Cruz, por exemplo, na Avenida João XXIII, a comunidade demanda uma pista de skate, visto que há muitos praticantes do esporte no entorno. Além disso, os moradores sentem falta de atividades culturais, artísticas e esportivas, que possibilitariam melhor aproveitamento do espaço, atração de mais usuários e aumento do dinamismo das praças.

Há ainda o caso de localidades que sequer possuem praças. No sub-bairro Vale Tingui, em Campo Grande, e na rua Itapuca, em Barra de Guaratiba, encontramos áreas amplas sem nenhum tipo de infraestrutura, que são utilizadas de forma improvisada pela população. Sem espaços adequados para atividades de esporte e lazer, os moradores demandam o básico.

Apresentamos aqui as justas reivindicações de pessoas que frequentam e defendem as praças, se empenhando por sua manutenção e consequentemente pelo acesso a um espaço aberto e democrático, que promova qualidade de vida. Ouvimos moradores de diferentes idades e ocupações, que ocupam as praças, criam projetos e oferecem aulas e atividades gratuitas, valorizando e mantendo vivos esses espaços fundamentais. Conhecemos inclusive atletas que lutam para a instalação de equipamentos esportivos, buscando incentivar a prática de diversas modalidades.

Enviaremos Indicações Legislativas à Prefeitura, que apontarão a necessidade de ações urgentes em diversas das praças que visitamos e que estão em situação degradante devido ao descaso ao longo de anos. É fundamental que o Poder Público aumente as equipes de manutenção, invista em reformas e valorize esses espaços. Precisamos com urgência de espaços públicos acessíveis, pensados para todos. Só assim conseguiremos assegurar o pleno exercício da cidadania. Uma praça bem cuidada e iluminada atrai os moradores, dificultando o uso impróprio do espaço e aumentando a segurança local. Vamos lutar para que o Poder Público dê atenção a esses espaços. Chega de abandono!

Movimentos Esportivos[editar | editar código-fonte]

Você já ouviu falar em rugby? Trata-se de um esporte coletivo e com muito contato físico, que surgiu na Inglaterra no século XIX e se espalhou pelo mundo. Duas equipes disputam e o objetivo é levar a bola oval até a linha de fundo do campo adversário e encostá-la no chão, o que é chamado de try. Com o passar do tempo, muitas variações ocorreram no esporte, podendo ser disputado entre 15, 13 ou 7 jogadores. As regras também evoluíram com os anos. Mesmo não sendo tão famoso no Brasil, o esporte desperta paixões e muita dedicação e empenho dos atletas.

Nosso mandato conheceu o André, treinador e idealizador do time de Rugby de Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. O time tem três anos de existência e treina em um campo próximo à Avenida João XXIII e a Rua Pedro Colati. Mesmo sem nenhum patrocínio ou financiamento e com poucos recursos e tempo para treinar, a equipe foi campeã estadual. E os treinos do time se tornaram um atrativo para que as crianças e adolescentes da localidade conhecessem essa prática esportiva e participassem das atividades.

Nosso mandato, juntamente com o Secretário Municipal de Esportes Guilherme Schleder, visitou e conversou com os atletas no campo onde ocorrem os treinos, dialogando sobre as melhorias necessárias para o local, como a construção de grades para cercar totalmente o campo, manutenção do gramado, limpeza, reforma, além da utilização de uma guarita que está abandonada. Há também um lixão e um valão próximo ao campo, o que coloca em risco a saúde e a integridade física dos usuários do espaço. É importante salientar que não existe campo para prática de rugby em nenhum espaço público no Brasil. Assim sendo, a estruturação e as melhorias do espaço tornariam a cidade do Rio pioneira no fomento deste esporte. Vale ressaltar que outras modalidades esportivas, como o futebol, também se beneficiariam com os investimentos neste espaço público.

Durante a conversa, descobrimos que André, técnico e jogador do time, tem um projeto educativo, através do qual apresenta para os alunos da Rede Pública a importância do rugby no combate ao Apartheid, regime político de segregação racial que se consolidou na África do Sul. Não seria incrível ver esse grupo de atletas em um campo com infraestrutura adequada, introduzindo o esporte para a garotada do bairro e realizando palestras nas Escolas Municipais? A Zona Oeste carece de espaços públicos com infraestrutura digna para a realização de esportes e lazer. E Santa Cruz, mais especificamente, é um bairro estigmatizado por estar longe do Centro e marcado pelo descaso histórico do Poder Público. É de fundamental importância a atenção da Prefeitura ao desenvolvimento e criação de espaços que garantam o direito à prática esportiva e ao lazer e incentivem os incríveis atletas que já existem na região, como, por exemplo, os jogadores de rugby.

Você sabe onde praticar e treinar esportes radicais na Zona Oeste?[editar | editar código-fonte]

Com a entrada do skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio e as medalhas de prata conquistadas por Rayssa Leal, Kevin Hoefler e Pedro Barros, a busca por este esporte aumentou bastante em 2021. Outra modalidade radical importante, que também pode ser desenvolvida na cidade, é o ciclismo BMX. Mas onde há infraestrutura para a prática desses esportes na Zona Oeste?

A pista de skate localizada na Praça Marechal Edgard do Amaral, também chamada de “Pistão de Campo Grande”, foi inaugurada em 1978 e é a segunda praça pública de skate do Brasil e uma das primeiras da América latina. No local ocorreu a evolução do skate vertical na cidade do Rio de Janeiro, sendo palco para realização de vários campeonatos.

Depois de muitos anos de descaso do Poder Público, a pista passou por uma reforma em 2016 e voltou a ser um importante exemplar de equipamento de esporte e lazer. De acesso livre a todos, é um espaço democrático de encontro, vivências, aprendizagem e troca de experiências. Mas o pistão tem que ser o único espaço na Zona Oeste a oferecer essa oportunidade de contato com esportes radicais?

Nossa equipe conversou com alguns grupos que lutam pela criação e/ou manutenção de rampas e pistas para skate street na Zona Oeste. Voltamos à Santa Cruz - bem próximo de onde encontramos os jogadores de rugby -, dessa vez para conversar com o senhor Reginaldo, seu filho Vitor e o amigo Harley. Eles entraram em contato com nosso mandato para apresentar a ideia de construção de uma pista de skate street na proximidade de uma praça. No local, já existe uma quadra poliesportiva, alguns brinquedos infantis e um espaço de equipamentos de ginástica.

Temos na Zona Oeste futuras e futuros medalhistas mundiais e olímpicos. Basta construirmos as oportunidades para o desenvolvimento das suas potencialidades, garantindo que possam ter acesso aos meios necessários para se realizarem. Seguimos na luta pelo direito à cidade, aos equipamentos urbanos e a uma infância e juventude seguras. Acreditamos que a construção desses espaços públicos com infraestrutura adequada ao esporte, ao lazer e ao encontro é um vetor para transformações da realidade social. Realidade essa tão marcada pela exclusão, pela marginalização e pela violência.

Você já deve ter visto na televisão ou nas redes sociais uns jovens fazendo verdadeiras acrobacias com bicicletas, certo? Trata-se do ciclismo BMX, que está presente em duas modalidades nas olimpíadas: o supercross, que é uma corrida com diversos obstáculos, e o freestyle, em que os atletas são pontuados por manobras que fazem com as bicicletas.

Esse esporte radical também está presente na Zona Oeste! Nossa equipe encontrou o Lohan, jovem psicólogo e praticante de BMX, na Praça Treze, mais conhecida como Praça Votorantim, no sub-bairro da Carobinha em Campo Grande. Visitamos o local e dialogamos sobre a manutenção e requalificação da praça. Nosso mandato já produziu e protocolou uma Indicação Legislativa, apontando para a Prefeitura as necessidades e cuidados que este espaço precisa. Trata-se de um grande e importante espaço público, com quadra, campo de futebol, espaço para brinquedos infantis, equipamentos de ginástica e uma rampa de skate, porém tudo está em total degradação. Há equipamentos e brinquedos quebrados, a rampa foi reformada de maneira imprópria e falta a mínima manutenção do local pelo Poder Público.

O espaço da praça tem grande potencial para ser um vetor de mudança da realidade social local, pois reúne diversos equipamentos que poderiam estar à disposição da população, garantindo o direito de brincar das crianças, o exercitar dos idoso e, a prática dos esportes coletivos e radicais, como o BMX Freestyle. Apresentamos junto à Prefeitura ideias para a construção de uma ambiência esportiva e de lazer que auxiliaria no desenvolvimento de afetividade e pertencimento à comunidade. É praticamente impossível desenvolver aprendizagens e garantir acesso a direitos e cumprimentos de deveres, se o contato e a vivência se dá em espaços degradados, marcados pelo descaso e pela ausência total de políticas públicas.

Nosso mandato acredita que os esportes radicais podem ser instrumentos motivadores da juventude, impulsionadores de sonhos e de transformação de vidas. Por isso cabe à Prefeitura do Rio fomentar a prática dessas atividades, oferecendo acesso à equipamentos de qualidade por toda a Zona Oeste.

Outro importante espaço para a prática de esportes radicais na Zona Oeste, e que também precisa de atenção do Poder Público, é a praça da Guilherme da Silveira. A pista recebeu reformas e melhorias em 2018, fruto da contrapartida social da Skate Total Urbe (STU Open). Após as reformas, a pista pode ser frequentada por skatistas dos estilos street, vertical, mini-ramp, longboard e downhill.

É um equipamento público de qualidade, que dialoga com a praça central do bairro. Ponto de encontro para diversas tribos urbanas e grupos sociais, a praça apresenta duas quadras poliesportivas, uma quadra de terra, equipamentos de ginástica para a terceira idade, palco e brinquedos infantis. À noite, a praça se transforma: trabalhadores de diferentes frentes ocupam o local com venda de bebidas, serviços de pula-pula e trenzinho para as crianças e barraquinhas de alimentação - atividades que impulsionam a presença de muitas famílias, que cotidianamente frequentam o local.

Nossa equipe conversou com alguns skatistas que utilizam o espaço. Gabriel e Fábio, de 22 e 23 anos respectivamente, são dois jovens que usam a pista e compartilharam suas vivências e desafios conosco. Gabriel está morando em Santa Cruz e trabalha como ambulante vendendo balas na Barra da Tijuca. Todo dia enfrenta o caos do BRT, que, nas palavras dele, é “o pior transporte do mundo”. Mas, estando na Barra, o jovem consegue andar de skate na pista DUÓ. Como em Santa Cruz não há esse tipo de equipamento, Gabriel se desloca até a pista da Guilherme (GDS) para praticar.

Já Fábio é morador de Realengo e começou a andar de skate há cerca de um ano. Em seu bairro não há uma pista de skate tão boa quanto a da Guilherme, restando apenas a mini-rampa na Praça da Cohab e a pista do coletivo (bastante precária e sem manutenção). Para o jovem, seria muito melhor se houvesse uma pista de skate com boas condições próxima a sua residência, pois assim não precisaria gastar dinheiro de passagem para encontrar um bom equipamento em outro bairro.

Temos a esperança de ver espaços públicos como este em mais lugares da cidade, espalhados por diversos bairros da Zona Oeste. Além de dinamizarem muitas práticas esportivas, esses locais também impulsionam mais encontros culturais, aprendizagens e trocas de experiência.

É necessário ressaltar ainda a importância desses espaços para a vida econômica e para a dinâmica da segurança pública dos bairros. A atividade comercial ganha força graças ao aumento do fluxo de pessoas que se apropriam do espaço e consomem no comércio local. Faz circular uma economia que é fundamental para a manutenção da renda de muitas famílias nesse cenário de crise. E espaços mais movimentados, iluminados e ocupados pela população com esporte e lazer, contribuem para a redução nos índices de roubo e furtos.

Outro espaço visitado por nossa equipe - e que tem grande potencial para ser um centro da prática de esportes radicais - é a praça Óscar Rossim, em Sepetiba, espaço amplo, com quadra, brinquedos infantis, equipamentos de ginástica e uma pista de skate. A praça é um importante ponto de encontro no bairro e já foi bastante utilizada por skatistas. Contudo, o péssimo estado de conservação da pista não permite mais seu uso seguro.

Após a conquista das medalhas do Brasil no skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a Prefeitura do Rio prometeu dar mais atenção às rampas e pistas da cidade. A praça e a pista de Sepetiba necessitam desse cuidado, pois não são só os equipamentos públicos da Zona Sul e Centro que merecem ser reformados e mantidos com qualidade.

Considerações finais[editar | editar código-fonte]

Um dos motivos principais deste relatório é apresentar os espaços e equipamentos na Zona Oeste que precisam ser reformados e entregues à população - e, claro, também cobrar junto à Prefeitura ações que implementem políticas públicas de fomento ao esporte e lazer na região.

Dessa maneira, construímos coletivamente este dossiê, ouvindo movimentos sociais, esportistas, jovens e idosos que desejam ter acesso a espaços públicos com melhor qualidade. Nosso mandato visa combater o histórico de negligência e a gestão pública deficitária que estimularam a produção desigual do espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro. Continuamente, foi legado à Zona Oeste o descaso e a ausência do Poder Público em promover intervenções que construam espaços equânimes e mais justos. Nossa luta é para quebrar esse ciclo e desenvolver políticas que transformem a realidade social, econômica e cultural, não só da Zona Oeste, mas de todo o Rio de Janeiro.

Sabemos que talvez você, leitor, conheça outra praça ou equipamento público, de esporte e lazer, perto de sua casa, escola ou trabalho. Não foi possível abordar todos esses espaços neste relatório, pois há muitos lugares marcados pelo descaso e degradação em toda a Zona Oeste. Por isso, contamos com sua fiscalização e com o engajamento de todos que acreditam na política construída de forma coletiva e democrática.

Sentiu falta de algum local para prática de esporte por aqui? Diz para nós! Entre em contato e faça uma fiscalização conosco. A força da sociedade civil e dos movimentos sociais é essencial na luta por justiça e igualdade. Só assim poderemos construir uma cidade verdadeiramente maravilhosa.

Ver também[editar | editar código-fonte]