Ilera - Ancestralidade e Saúde

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

A Ilera é uma iniciativa voltada para o uso dos saberes provenientes das raízes negras e indígenas e tem como finalidade a promoção da saúde da mulher.

Nascida em 2016 na cidade de São Paulo, teve por objetivo apresentar a Campanha Pró Saúde da População Negra e o seu foco era disseminar informações sobre a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Ilera, palavra em Iorubá, traz o sentido de saúde e cuidado. É uma organização voltada para o uso dos saberes provenientes das raízes negra e indígena, tem como finalidade a promoção da saúde da mulher e das comunidades, utilizando-se da flora e do conhecimento ancestral comunitário, garantindo o bem-estar biopsicossocial.

Autoria: Informações do verbete reproduzidas, pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de redes de comunicação oficiais do coletivo 
Circulo ondulado na cor vermelha. No centro, em vermelho os dizeres "Ancestralidade-Saúde-Ilera" e o desenho de uma senhora benzendo uma criança com uma adulta responsável segurando a criança.
Logo Ilera.

Sobre[editar | editar código-fonte]

Compreendemos a partir da nossa vivência e da vivência de outras mulheres do território, que sabíamos ser um território majoritariamente negro, as pessoas negras não tinham acesso a saúde integral. Passamos a frequentar fóruns, unidades de saúde e identificamos que boa parte dos profissionais de saúde desconheciam a PNSIPN e outras políticas que trazem práticas integrativas e complementares como estratégia para o cuidado.

Era necessário abrir um canal de diálogo com as comunidades e fortalecer que a PNSIPN tem como princípio básico a equidade. Que significa dar mais para quem mais precisa. Por isso resgatar a vivência de seus moradores e os saberes ancestrais, tecnologias em saúde da comunidade, do cuidado por meio de ervas, defumações, banhos e receitas transmitidas, a partir da oralidade de suas mães, avós e sábias.

Pulverizamos a nossa atuação e realizamos trocas com diversas interfaces de mulheres e suas questões de saúde; mulheres em situação de prostituição (Mulheres da Luz), mulheres migrantes (venezuelanas e haitianas), mulheres de Axé, catadoras de material reciclável e as mulheres da Aya Education – Escola de Inglês Afrocentrada.

Iniciativas[editar | editar código-fonte]

Nós realizamos encontros, rodas de conversas e oficinas. E, tomando como patamares os aromas, sabores e propriedades medicinais das plantas que estão nos nossos quintais, promove-se um espaço para as mulheres partilharem suas experiências com as ervas medicinais. No intuito de que agreguem histórias memoráveis e receitas aprendidas com as gerações de suas mães, avós e sábias. O pano de fundo é a troca de conhecimento entre as comunidades tradicionais, de matrizes africanas e indígenas.

Mesmo com a presença da facilitadora, ativista do movimento de mulheres negras, estudiosa e pesquisadora das plantas medicinais e saberes ancestrais, a atividade se desenvolve de maneira colaborativa, promovendo a troca entre as participantes, que relembram experiências ancestrais com ervas e autocuidado de família. Privilegia a troca de sabedoria, o acolhimento e a resistência, na busca pelo conhecimento ancestral em prol do autocuidado e da saúde da mulher.

Uma mulher branca de máscara de proteção com as mãos estendidas segurando um objeto, que por sua vés é segurado e observado por uma senhora negra, de vestido verde.
Em Guaianases, Zona Leste, São Paulo.

O público é formado por mulheres diversas; são mulheres negras, indígenas, de ashé, da periferia, migrantes, de comunidades tradicionais e ribeirinhas. Numa sociedade patriarcal como a que vivemos, onde a sexualidade da mulher é inibida e mesmo em pleno século 21 a ideia de procriadora ainda nos persegue, há um momento da vivência em que se discute o nosso direito ao prazer, como podemos nos dar prazer e os cuidados com a saúde da mulher é um momento potente, pois as mulheres compartilham suas experiências, as opressões relacionadas a esse tabu. É um momento de cura e de compreensão que essa opressão é uma violência do patriarcado aos nossos corpos e que a emancipação dos nossos corpos é possível.

Numa perspectiva avançada, aposta-se na difusão da múltipla troca desses conhecimentos reunidos, no sentido de potencializar a instrução de pessoas para a prática do uso medicinal da flora pátria sustentável e de sua biodiversidade. Confiante numa independência ou mesmo numa minimização do uso obrigatório da tecnologia alopata estrangeira, como possível alternativa de menor custo para promoção do bem estar biopsicossocial.

A utilização da medicina tradicional nos cuidados de muitas doenças nas comunidades indígenas, populações tradicionais e população negra foi se perdendo ao longo da história. Não valorizar os saberes ancestrais é uma afronta à identidade cultural desses povos. É preciso entender que “pensar o direito de ser é garantir acesso às outras práticas terapêuticas, permitindo ao usuário participar ativamente da decisão acerca da melhor tecnologia médica a ser por ele utilizada” (PINHEIRO, 2009 apud ARAÚJO; ROCHA, 2018).

Encontros e parcerias[editar | editar código-fonte]

O primeiro Encontro de Saberes Ancestrais nos Cuidados da Mulher da Iniciativa Ilera aconteceu em março de 2019 no Ilê Asé Oya Mesan Orun, da Iyalorisá Marisa de Oya, em São Paulo, capital. Esse encontro fomentou as mulheres do Ilê na organização de novos encontros com temas referentes às necessidades e interesses das mulheres.

Em abril de 2019 a Ilera chega em Roraima e começa a articular os “ Encontros de saberes ancestrais : mulheres negras e indígenas”. É um momento vigoroso para que mulheres negras e indígenas compartilhem conhecimentos sobre os cuidados de saúde herdados das suas mães , avós e comunidades.

Em parceria com entidades indígenas do estado, a Ilera buscou a integração e a partilha entre mulheres negras e indígenas do estado de Roraima. Seis oficinas foram programadas, a primeira foi em outubro e aconteceu em Boa Vista. Todas com enfoque na saúde da mulher e os conhecimentos ancestrais de cada uma das participantes. Parte desses encontros ocorreram na comunidade indígena Serra da Moça, região do Murupu.

Três mulheres e uma criança no colo lado-a-lado, uniformizadas com a camisa do Ilera sorrindo.
Equipe Ilera Roraima

Paralelo a esses encontros a Ilera em parceria com a Associação dos Filhos e Amigos do Ashe Tata Bokule (AFATABE) e a Rede Nacional de Religiões Afrobrasileiras e Saúde (RENAFRO) realizou uma oficina para as mulheres de ashé de Roraima. Diversos terreiros participaram e compartilharam seus saberes ancestrais. Em 2020 , como a chegada da pandemia de Coronavírus , nossas atividades migraram para a modalidade on-line. Em parceria com a Produtora Preto Império, localizada na Brasilândia, no município de São Paulo, e que é uma empresa social que busca viabilizar e materializar os sonhos da população negra e periférica, realizamos duas edições dos encontros Ilera: Ancestralidade e Saúde. Foram quatro encontros em cada edição , cada encontro tratava sobre um sistema do corpo humano e as ervas e preparos para o cuidado em saúde dos seus órgãos. Além das diversas lives, sobre temas variados e relacionados aos saberes ancestrais na Saúde.

Vislumbramos ser um centro de medicina tradicional que possa fomentar novas iniciativas para o uso e preservação dos saberes ancestrais na saúde.

Mulheres protagonistas[editar | editar código-fonte]

Conheça um pouco mais sobre as mulheres que são protagonistas de suas vidas, conectadas a tecnologias ancestrais e que projetam ações visando o desenvolvimento e preservação do meio ambiente e suas comunidades:

Organização[editar | editar código-fonte]

  • Missão: Difundir os conhecimentos de matrizes negras e indígenas referente aos cuidados em saúde. Promovendo encontros entre mulheres para o compartilhamento de seus saberes ancestrais e o fortalecimento de suas identidades culturais e territoriais.
  • Visão: Ser um centro de medicina tradicional que possa fomentar novas iniciativas para o uso e preservação dos saberes ancestrais na saúde.
  • Valores: Acolhimento, respeito, valorização, compartilhamento.

Redes sociais[editar | editar código-fonte]

Veja também[editar | editar código-fonte]