Jovens pobres e o uso das NTICs na criação de novas esferas públicas democráticas

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Relatório da pesquisa "Jovens pobres e o uso das NTICs na criação de novas esferas públicas democráticas". A pesquisa foi coordenada pelo Ibase e financiada pelo Centro de Pesquisas para o Desenvolvimento (IDRC/ Canadá). Teve como objetivo geral produzir informações qualificadas sobre a utilização das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação entre jovens pobres, em especial, moradore(as) de favelas e bairros populares da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Autoras: Patrícia Lânes Araujo de Souza e Julia Piva Zanetti

Texto originalmente publicado na página do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE)[1]

Introdução[editar | editar código-fonte]

O presente relatório refere-se à pesquisa Jovens pobres e o uso das NTICs na criação de novas esferas públicas democráticas , coordenada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e financiada pelo Centro de Pesquisas para o Desenvolvimento (IDRC/ Canadá). A pesquisa teve como objetivo geral produzir informações qualificadas sobre a utilização das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação entre jovens pobres, em especial, moradores(as) de favelas e bairros populares da Região Metropolitana Rio de Janeiro, a fim de contribuir para transformar a visão que o poder público e sociedade têm, fortalecendo a atuação social e política dos atores envolvidos e dando visibilidade aos usos que fazem das NTICs para mobilização social, melhoria de qualidade de vida e garantia de direitos.

O presente relatório baseia-se em três relatórios de estudos de caso que compuseram a investigação. Foram eles: Cultura na Baixada Fluminense e o uso das NTICs; Gênero/mulheres jovens; e Identidade favelada, juventude e o uso das NTICs. Trataram-se de estudos qualitativos, centrados no levantamento bibliográfico e de informações via Internet, observação de eventos e realização de entrevistas em profundidade com pessoas de favelas, bairros e municípios populares da Região Metropolitana do Rio de Janeiro . Os dados foram analisados separadamente e resultaram em três relatórios (também disponíveis para leitura) a partir dos quais este texto foi organizado, buscando destacar metodologia, o papel das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação nos casos em questão e, também, alguns achados que, acreditamos, podem contribuir para se pensar algumas questões relativas à mobilização social de moradores(as) de áreas populares de certa geração.

A presente pesquisa partiu de alguns pressupostos, considerando, inclusive, pesquisas anteriores realizadas por Ibase e parceiros . Entre eles, que as últimas décadas foram marcadas por intensas transformações tecnológicas com variadas implicações sociais. A popularização dos computadores, da Internet e dos celulares, para ficar em alguns exemplos, contribuíram para criar e alterar formas de sociabilidade e de comunicação. De acordo com a antropóloga brasileira e especialista em juventude Regina Reyes Novaes, “a despeito de todas as desigualdades e diferenças, qualquer análise sobre a condição juvenil atual deve levar em conta: as imagens da juventude disseminadas pela publicidade, a televisão que tudo transmite em tempo real e a internet, com seus mais variados usos. ‘Ser jovem’ em um ‘mundo conectado’ é viver uma experiência historicamente inédita”. (NOVAES, 2006, p.113).

O sociólogo Manuel Castells (2007) utiliza a noção de tecnossociabilidade para pensar “as tecnologias de comunicação não como ferramentas, mas como contextos, condições ambientais que tornam possível novas maneiras de ser, novas correntes de valores e novas sensibilidades sobre o tempo, o espaço os acontecimentos culturais”.

Se é verdade que essa é a geração da tecnossociabilidade, não se pode minimizar a convivência das novas tecnologias com diferentes agências de socialização, tais como família, bairro, escola, religião etc. A sociabilidade de determinado segmento juvenil é sempre fruto de diferentes combinações de espaços de socialização. Isso porque o “atual” é composto por uma variedade de arranjos entre tradição e inovação, presentes na vida de diferentes segmentos juvenis. Sem levar em conta esses aspectos, corre-se o risco de homogeneizar a juventude. (NOVAES, 2006).

Além disso, de acordo com Escobar (2005), o ciberespaço, em sua concepção utópica, poderia ser compreendido como “possibilidade de estabelecer uma lógica de autoorganização descentralizada e não hierárquica”. As Novas Teconologias devem ser entendidas, portanto, como contextos, como condições contemporâneas de ser e de compreender o mundo, incluindo a construção de novas (e revisão de velhas) utopias. Elas permeiam não apenas aqueles que as utilizam diretamente, mas a linguagem construída a partir da Internet que alterou, por exemplo, a maneira como outros meios de comunicação (como jornais impressos e televisão) produzem seu conteúdo. No entanto, são entendidas por muitos(as) jovens como instrumentos que podem ser utilizados de acordo com seus objetivos e concebidos a partir de interesses diversos. Não se trataria, portanto, de dimensões contraditórias de análise, mas, ao contrário, de dois planos interrelacionados que se encontram presentes nesta pesquisa e em pesquisas anteriores.

Os(as) jovens pobres, que aparecem dessa maneira no enunciado da investigação, são tomados aqui como pessoas de determinada geração que vivem em territórios onde o acesso a serviços básicos e direitos é dificultado ou inexistente. Ou seja, não estamos tomando pobreza aqui como mera questão de renda (até porque, como será visto mais adiante, há uma grande diversidade nesse ponto entre os entrevistados), mas uma questão relacionada a direitos garantidos disponíveis em seus locais de moradia. Há de se considerar, portanto, uma dimensão estrutural na análise aqui realizada. Se, de certo modo, por pertencerem a uma determinada geração há uma oferta em termos culturais e comunicacionais (que inclui as novas tecnologias, mas não apenas elas), há também constrangimentos que dizem respeito ao lugar em que, a princípio, estariam localizados na estrutura social, que os(as) coloca em posição menos privilegiada em termos de garantia de direitos e acesso a serviços básicos, por exemplo. Esta desigualdade se relaciona a outras tantas, como de gênero e raça, por exemplo, e se revela também em termos territoriais.

Acesse a pesquisa[editar | editar código-fonte]

Referências Bibliográficas[editar | editar código-fonte]

CASTELLS, Manuel. Comunicación móvil y sociedad. Una perspectiva global, Editorial: Ariel – Fundación Telefónica, 2007.

ESCOBAR,Arturo. Mas allá del tecer mundo. Globalización e diferencia. Bogotá: ICANH, 2005.

NOVAES, Regina. Os jovens de hoje: contextos, diferenças e trajetórias. In: ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de. EUGENIO, Fernanda. (orgs.) Culturas Jovens – novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]