Lélia Gonzalez (PT - PDT - RJ) - Favela da Praia do Pinto - RJ

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Lélia Gonzalez nasceu “de Almeida”, em Belo Horizonte-MG, em 1º de fevereiro de 1935. Tinha 59 anos quando faleceu, em 10 de julho de 1994, no bairro de Santa Teresa, na cidade do Rio de Janeiro.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Este verbete faz parte do relatório "Favelados no parlamento", produzido pela equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.
Lélia Gonzales - PT

Quando Lélia era criança, sua família instalou-se no Rio, na favela do Pinto, bairro do Leblon, ao lado do Clube de Regatas do Flamengo. Logo depois, a família mudou-se para o subúrbio, para uma casa em Ricardo de Albuquerque.

A preocupação com os excluídos vai nortear suas campanhas para cargos públicos, em 1982 (PT, 1ª suplente como Deputada Federal) e em 1986 (PDT, suplente de Deputada Estadual), tendo como principais referências as liberdades individuais e as transformações sociais.

Primeira intelectual Negra na História do Brasil[editar | editar código-fonte]

Lélia Gonzalez: Mulher Negra na História do Brasil


Lélia Gonzalez (Belo Horizonte, 1 de fevereiro de 1935 - Rio de Janeiro, 10 de julho de 1994).

Foi uma intelectual, autora, política, professora, filósofa e antropóloga brasileira. Foi pioneira nos estudos sobre Cultura Negra no Brasil e cofundadora do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPCN-RJ), do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Olodum.

Seu trabalho envolve a luta contra o racismo estrutural, a desigualdade de gênero vinculada à raça (enfoque do feminismo negro) e o conceito de democracia racial, que supostamente caracterizaria o Brasil. A autora também é conhecida por ter desenvolvido os conceitos de "amefricanidade" e "pretuguês".

A guerreira Lélia Gonzalez passou à condição de “ancestral”. A atualidade da luta que travou; sobre a qual refletiu e ensinou nos faz reviver um pouco de sua trajetória. Que seu exemplo seja guia nessa luta que, a cada caminhada, constatamos mais a fazer: a luta contra o racismo.

Lélia Gonzalez nasceu “de Almeida”, em Belo Horizonte-MG, em 1º de fevereiro de 1935. Tinha 59 anos quando faleceu, em 10 de julho de 1994, no bairro de Santa Teresa, na cidade do Rio de Janeiro.

Quando Lélia era criança, sua família instalou-se no Rio, na favela do Pinto, bairro do Leblon, ao lado do Clube de Regatas do Flamengo, onde jogava (e depois foi técnico) seu irmão, Jaime de Almeida (nascido em 1920), por quem nutria enorme admiração e nos passos de quem seguiu torcendo pelo Flamengo e gostando muito de futebol. Logo depois, a família mudou-se para o subúrbio, para uma casa em Ricardo de Albuquerque. Pela localização da residência, se percebe que Lélia viajou muito no trem suburbano da Central do Brasil, junto com o “povão” (como dizia), principalmente quando estudou no Colégio Estadual Orsina da Fonseca (ao lado do terminal da Central do Brasil, no centro da cidade) e no Colégio Pedro II (na Av. Marechal Floriano, também próximo a Central do Brasil).

Lélia era a penúltima de 18 irmãos/ãs; filha de pai negro (Acácio Joaquim de Almeida), ferroviário, e mãe índia (Urcinda Seraphina de Almeida). À medida que irmãs e irmãos iam constituindo novas famílias, Lélia cuidava da mãe, já residindo na Tijuca, até o final dos anos 1960, quando Dona Urcinda faleceu. Casou-se aos 28 anos, para assumir definitivamente o sobrenome Gonzalez.

Nas escolas e nas faculdades (graduou-se em História/Geografia e Filosofia) era reconhecida pela dedicação e inteligência. O catedrático Tarcísio Padilha logo percebeu a capacidade daquela aluna negra e convidou-a para ser sua assistente, no curso de Filosofia, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e, mais tarde, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Como educadora, Lélia lecionou em muitas escolas de nível médio, em faculdades e universidades. Foi professora no Instituto de Educação, no Colégio de Aplicação (UERJ), na rede estadual de ensino. Pela inteligência e conhecimento que demonstrava na argumentação e por sua capacidade de comunicar e instigar alunos e alunas à reflexão, a professora negra foi muito bem recebida em escolas confessionais, tendo sido, também, professora convidada no Centro de Estudos de Pessoal, do Exército Brasileiro, por alguns anos.

No final dos anos 1960 e início de 1970, Lélia era uma assumida mulher negra: “Essa questão do branqueamento bateu forte em mim e eu sei que bate muito forte em muitos negros também. Há também o problema de que, na escola, a gente aprende aquelas baboseiras sobre os índios e os negros; na própria universidade o problema do negro não é tratado nos seus devidos termos.”1

Foi em 1982 que Lélia escreveu “Lugar de negro”, junto com Carlos Hasenbalg. E por que demoraria 12 anos para gritar, por escrito? Porque só em 1982 Lélia teria firmado na escrita que “O lugar natural do grupo branco dominante são moradias amplas, espaçosas, situadas nos mais belos recantos da cidade ou do campo e devidamente protegidas por diferentes tipos de policiamento: desde os antigos feitores, capitães do mato, capangas, etc., até a polícia formalmente constituída.

Desde a casa-grande e do sobrado, aos belos edifícios e residências atuais, o critério tem sido sempre o mesmo. Já o lugar natural do negro é o oposto, evidentemente: da senzala às favelas, cortiços, porões, invasões, alagados e conjuntos “habitacionais” (cujos modelos são os guetos dos países desenvolvidos) dos dias de hoje, o critério também tem sido simetricamente o mesmo: a divisão racial do espaço.

Antes de mostrar na escrita, Lélia mostrava na palavra, na oralidade. Na verdade (para usar uma expressão corrente em sua linguagem), sua proposta sempre foi falada. Quando compreendeu teoricamente6 a questão da opressão e da exclusão, Lélia continuou fazendo exatamente a mesma trajetória teórica e intelectual que seguia anteriormente, mas, nesse momento, ela se dedica à leitura dos pensadores negros, da história do povo negro, das rainhas negras, lendo e refletindo noite adentro. A inteligência e a desenvoltura teórica – que continuou exercendo institucionalmente, como professora na Pontifícia Universidade Católica, até o final da vida, tendo sido eleita Chefe do Departamento de Sociologia, um mês antes – foi posta a serviço da realidade e da necessidade do povo negro e, em especial, das mulheres negras. Lélia passa a ser a grande referência teórica do Movimento Negro (principalmente do novo7 MN, nos anos 1970, que ajudou a fundar). É a primeira intelectual negra no País. É nessa condição que está citada no Dicionário “Mulheres do Brasil”8, na Enciclopédia Encarta Africana9 e, em “Mulheres Negras do Brasil10. É nessa condição que tornou-se referência como matrona para grupos de mulheres negras, bibliotecas, salas de leitura, prêmios, escolas, jornadas, seminários, dentre outros, conforme consta na indicação das homenagens em seu site oficial www.leliagonzalez.org.br.

Lélia Gonzalez teve uma trajetória, permanente e irrestrita, na direção do conhecimento. Lia, elaborava e falava. (Lia e falava nas línguas espanhola, francesa e inglesa.). Pela fala, olho no olho, ela sabia que conhecimento buscar em sua riquíssima bagagem teórica (Filosofia, História, Teoria da Comunicação, Proxemia, Psicologia e Psicanálise, Antropologia, Sociologia, Teoria da Arte e Estética, Teoria dos Objetos, Política, Hermenêutica) para fazer com que o/a interlocutor/a compreendesse a questão “crucial”. Ou, no embate político com brancos e brancas, ela buscava o contrapé teórico para dissuadir “brilhantemente” o/a adversário/a teórico/a ou ideológico/a. Sua capacidade de interpretação se mostrou na crítica às ideologias e à hegemonia de dominação (de lógica machista, branca e européia) que sempre forçou o povo negro ao lugar de submissão, de menor condição e capacidade.

Lélia não tinha paciência para a elaboração escrita, nos moldes acadêmicos! “No meu caso, fiz um tipo de escolha, que foi a militância de rua, participando de organizações negras, de seminários. Na medida em que nós, os intelectuais negros orgânicos, somos tão poucos, realmente existe um grande leque de atividades para poder responder às exigências que nos são colocadas.”11 O universo de conhecimento que Lélia trazia, forçosamente determinado por ela para a transformação do real, muito mais tem a ver com a oralidade africana de Griot, do que com a academia ocidental. Lélia representou uma Griot que conta histórias verdadeiras para seu povo. Ela falava e ensinava não só para preservar a história, mas, principalmente, para resgatar as genealogias, as origens e as tradições de seu povo, para que esse povo compreendesse a lógica da discriminação e alcançasse a consciência, resgatando o orgulho de si mesmo, para a superação da condição de exclusão em que havia sido colocado. Foi na defesa desse povo que, dentre outras atividades, participou de seminários nacionais e internacionais que duraram, pelo menos, de 1975 a 1989.

A necessidade de implementação e transformação, foi reconhecida pela atriz e política Ruth Escobar (presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher – CNDM, do qual Lélia era membro) que a indicou publicamente, em editorial do jornal Folha de São Paulo, para ocupar a vaga do Ministério da Cultura, em 1985.

Tese Lélia Gonzales - Muda PT com raça e classe[editar | editar código-fonte]

“Nosso medo mais profundo não é que sejamos inadequados. Nosso medo mais profundo é que sejamos poderosos demais. É nossa sabedoria, não nossa ignorância, o que mais nos apavora. Perguntamo-nos: 'Quem sou eu para ser brilhante, belo, talentoso, fabuloso? ' Na verdade, por que você não seria? Você é um filho de Deus. Seu medo não serve ao mundo. Não há nada de iluminado em se diminuir para que outras pessoas não se sintam inseguras perto de você. Nascemos para expressar a glória de Deus que há em nós. Ela não está em apenas alguns de nós; está em todas as pessoas. E quando deixamos que essa nossa luz brilhe, inconscientemente permitimos que outras pessoas façam o mesmo. Quando nos libertamos de nosso medo, nossa presença automaticamente liberta as outras pessoas.”

Nelson Mandela.

Para acessar o arquivo na íntegra, clique aqui.

Lugar de negro[editar | editar código-fonte]

Ação do Nzinga no Morro do Andaraí. Bloco Flor da Mina, 1988.Acervo JG/Foto Januário Garcia.

Entre traduções de livros de filosofia (Editora Freitas Bastos), textos de palestras e “Lugar de Negro”, Lélia deixou “Festas Populares no Brasil”, editora Index, 1987, premiado na Feira Internacional do Livro, de Leipzig, Alemanha, na categoria “Os mais belos livros do mundo”, além de panfletos político-sociais, partidários, engajados, de muita reflexão. Seus escritos, simultaneamente permeados pelos cenários da ditadura militar e da emergência dos movimentos sociais, são reveladores de sua capacidade intelectual e identificam sua constante preocupação em articular as lutas mais amplas da sociedade com a demanda específica dos negros, das mulheres e dos homossexuais. A preocupação com os excluídos vai nortear suas campanhas para cargos públicos, em 1982 (PT, 1ª suplente como Deputada Federal) e em 1986 (PDT, suplente de Deputada Estadual), tendo como principais referências as liberdades individuais e as transformações sociais.

Lélia sempre acreditou que uma sociedade solidária e fraterna é possível. Para isso, compreendia como necessário que, além do engajamento na luta política mais ampla, os grupos não dominantes, excluídos do poder, deviam produzir seu próprio conhecimento. Foi em razão disso que se dedicou ao estudo das culturas humanas, especialmente da cultura negra.

Ressalte-se que muitos de seus escritos e falas (grande parte de sua obra compõe-se de palestras gravadas ou textos), conjugando ciência e política (como poucos brancos e brancas podiam fazer) atuando contra o racismo e outras formas de preconceito, contribuíram para a formação acadêmica e cidadã de muitos dos que com ela conviveram direta ou indiretamente.

Seminário 1985 & Beyond. Baltimore, Estados Unidos, com Angela Davis, 1984.

Na militância, Lélia participou da criação do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN-RJ), do Movimento Negro Unificado (MNU), em nível nacional, do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras-RJ, do Olodum-BA, dentre outros. Depois de sua morte, muitos grupos apareceram no País, lançando seu nome, em homenagem. O Movimento Negro tem montado o Quilombo Lélia Gonzalez e Milton Santos nos vários encontros do Fórum Social Mundial. São muitas as referências que continuam sendo feitas a Lélia Gonzalez, em nível internacional, e inúmeras as homenagens que recebe em nível nacional. No subúrbio de Olaria (no Rio) o governo do estado deu o nome Lélia Gonzalez a uma escola de nível médio. Raquel Andrade Barreto, mestre pela Pontifícia Universidade Católica-RJ, defendeu a dissertação “Enegrecendo o feminismo ou Feminizando a raça: Narrativas de Libertação em Angela Davis e Lélia Gonzalez” (2005), além de Elizabeth Viana que defendeu dissertação de mestrado na UFRJ, sob o título “Relações raciais, gênero e movimentos sociais: o pensamento de Lélia Gonzalez (1970-1990)” (2006).

Um pouco do pensamento de Lélia Gonzalez[editar | editar código-fonte]

Um pouco do pensamento de Lélia.
Um pouco do pensamento de Lélia.

Construção da identidade:

O importante é procurar estar atento aos processos que estão ocorrendo dentro dessa sociedade, não só em relação ao negro, ou em relação à mulher. Você tem que estar atento a esse processo global e atuar no interior dele para poder efetivamente desenvolver estratégias de luta. …só na prática é que se vai percebendo e construindo a identidade, porque o que está colocado em questão, também, é justamente uma identidade a ser construída, reconstruída, desconstruída, num processo dialético realmente muito rico.12

Frente Negra Brasileira /e/ a consciência racial no centro urbano:

O primeiro grande movimento ideológico pós-abolição, a Frente Negra Brasileira (1931-1938), buscou sintetizar ambas as práticas (assimilacionismo e prática cultural), na medida em que atraiu os dois tipos de entidade para o seu seio. Por aí, dá para entender também o sucesso de sua mobilização. Afinal, ela conseguiu trazer milhares de negros para os seus quadros. Precedida pelo trabalho de uma imprensa negra cada vez mais militante, a FNB surgiu exatamente no grande centro econômico do país que era, e é, São Paulo…. Com isso estamos querendo ressaltar o seu caráter eminentemente urbano, uma vez que é o negro da cidade que, mais exposto às pressões do sistema dominante, aprofunda sua consciência racial.13

As Escolas de Samba:

O golpe de 1964 implicaria na desarticulação das elites intelectuais negras, de um lado, e no processo de integração das entidades de massa numa perspectiva capitalista, de outro. As escolas de samba, por exemplo, cada vez mais, vão se transformando em empresas da indústria turística. Os antigos mestres de um artesanato negro, que antes dirigiam as atividades nos barracões das escolas, foram sendo substituídos por artistas plásticos, cenógrafos, figurinistas etc. e tal… Os “nêgo véio” da Comissão de Frente foram substituídos por mulatas rebolativas e tesudas. Os desfiles transformaram-se em espetáculos tipo teatro de revista, sob a direção de uma nova figura: o carnavalesco.14

A responsabilidade na militância /e/ Candeia:

Papo vai, papo vem, ele (Candeia) nos presenteou com o folheto do enredo para o próximo carnaval: Noventa Anos de Abolição [para a Escola de Samba Quilombo, fundada por ele, junto com Lélia e outros/as, em 1975]. Fora escrito por ele, Candeia, “baseado nas publicações de Edson Carneiro, Lélia Gonzalez, Nina Rodrigues, Arthur Ramos (…), Alípio Goulart”… Surpresa e emocionada, disse-lhe que ainda não tinha um trabalho publicado digno de ter meu nome ao lado daqueles “cobras” (afinal, um artiguinho aqui, outro acolá, e de tempos em tempos, não significava nada). Ele retrucou, dizendo que sabia muito bem do trabalho que eu vinha realizando “por aí” e que isso era tão importante quanto os livros dos “cobras’. E foi aí, então, que me incumbiu de representar o Quilombo no Ato Público (contra o racismo)15: “Não importa o que você diga, que eu assino embaixo”. Pela primeira vez, para mim, alguém me fazia refletir sobre a responsabilidade que se tem quando se começa um trabalho “por aí”.16

O aparecimento do Movimento de Mulheres Negras:

Em, 1975, quando as feministas ocidentais se reuniam na Associação Brasileira de Imprensa para comemorar o Ano Internacional da Mulher, elas ali compareceram, apresentando um documento onde caracterizavam a situação de opressão da mulher negra. Todavia, dados os caminhos seguidos por diferentes tendências que se constituíram a partir do “Grupão”, esse grupo pioneiro acabou por se desfazer e suas componentes continuaram a atuar, então, nas diferentes organizações que se criaram.

Os anos seguintes testemunharam a criação de grupos de mulheres negras (Aqualtune, 1979; Luiza Mahin, 1980; Grupo de Mulheres Negras do Rio de Janeiro, 1982) que, de um modo ou outro, foram reabsorvidos pelo Movimento Negro. Todas nós, sem jamais termos nos distanciados do MN, continuamos nosso trabalho de militantes no interior das organizações mistas a que pertencíamos (André Rebouças, IPCN, SINBA, MNU etc.), sem, no entanto, desistir da discussão de nossas questões específicas junto aos nossos companheiros que, muitas vezes, tentavam nos excluir do nível das decisões, delegando-nos tarefas mais “femininas”. Desnecessário dizer que o MN não deixava (e nem deixou ainda) de reproduzir certas práticas originárias de ideologia dominante, sobretudo no que diz respeito ao sexismo, como já dissemos. Todavia, como nós, mulheres e homens negros, nos conhecemos muito bem, nossas relações, apesar de todos os “pegas”, desenvolvem-se num plano mais igualitário cujas raízes, como dissemos acima, provêm de um mesmo solo: a experiência histórico-cultural comum. Por aí se explica a competição de muitos militantes com suas companheiras de luta. Mas, por outro lado, por aí também se explica o espaço que temos no interior do MN. E vale notar que, em termos de MNU, por exemplo, não apenas nós, mulheres, como nossos companheiros homossexuais, conquistamos o direito de discutir, em congresso, as nossas especificidades. E isto, num momento em que as esquerdas titubeavam sobre “tais questões”, receosas de que viessem “dividir a luta do operariado”.

O ‘pretuguês’ na psicanálise: reflexões de Lélia Gonzalez[editar | editar código-fonte]

O pretuguês na psicanálise- reflexões de Lélia Gonzalez

É comum que aos riscos assumidos pelos avanços de um novo pensamento sigam-se algumas incertezas. As dúvidas emergem como se tivéssemos dado passos equivocados, um tanto inconsistentes. Parece que flertamos com lugares que colocam em perigo tudo o que existe. Nada mais falso. Se o pensamento seguiu até aquele ponto, aprimorá-lo significa avançar ainda mais, não retroceder às suas velhas bases. O que parece nos conduzir a um limbo ruminante é só o começo de novos laços intelectuais e afetivos que respondem de modo mais fino às nossas questões.

Quando ainda estava afogada na hesitação em torno de alguns pilares da psicanálise que pareciam frágeis aos meus olhos, encontrei Racismo e sexismo na cultura brasileira, da filósofa, antropóloga e militante brasileira Lélia Gonzalez. Com esse ensaio — no qual é preciso reparar bem em cada detalhe, para que o devido peso seja dado às coisas ditas — a autora promove um rasgo na psicanálise e, de quebra, introduz um amplo glossário na fenda aberta. Reparem bem, insisto: a olhos pouco atentos, o gesto de arrastar palavras novas ao léxico psicanalítico pode parecer singelo, ou até corriqueiro, mas não é.

Com as noções de mulata, doméstica e mãe-preta, a autora retoma o campo da linguagem tratado pela psicanálise de Freud e Lacan. Os vocábulos trazidos por ela não são anódinos para a estrutura teórica psicanalítica como um todo. Provocam um abalo cujas consequências terão que ser tratadas por todos aqueles que não são afeitos a cerrar as pálpebras diante de dificuldades.

Mulata, doméstica e mãe-preta, vejam, são termos que portam cores e linhas. Seus dois componentes de formalismo puramente estético – cor e linha – trazem consigo uma gama repleta de brutalidade histórica, à qual a psicanálise, que trata dores e sofrimentos, preferiu manter-se alheia por um longo período de tempo.

Lélia Gonzalez não foi uma desbravadora isolada. Atrás de seu gesto, deram-lhe respaldo outros, que indicam a mesma direção: os de Frantz Fanon, os de colegas do Movimento Negro Unificado (MNU) e os de muitos outros sujeitos que travaram uma luta pelo espaço de negros e negras esmagados pela lógica branca-europeia que fincou fundações segregatórias nas terras do nosso país.

Ressaltando, a partir dos referenciais da psicanálise, que os caminhos tortuosos da língua levam a lugares reveladores, Gonzalez elenca cenas cotidianas da cultura brasileira, flagrando o racismo e o sexismo naquilo que poderia parecer quase inofensivo. Palavras ditas, lembram Freud e Lacan, sempre carregam mais e menos do que se pretendia dizer. À lógica linguística manifesta subjaz o inconsciente que a aduba e, por isso, a “análise encontra seus bens nas latas de lixo da lógica”. Ela prossegue com esse raciocínio, dizendo as seguintes palavras:

Ora, na medida em que nós negros estamos na lata de lixo da sociedade brasileira, pois assim o determina a lógica da dominação, caberia uma indagação via psicanálise. E justamente a partir da alternativa proposta por Miller, ou seja: por que o negro é isso que a lógica da dominação tenta (e consegue muitas vezes, nós o sabemos) domesticar? E o risco que assumimos aqui é o do ato de falar com todas as implicações. Exatamente porque temos sido falados, infantilizados (infans, é aquele que não tem fala própria, é a criança que se fala na terceira pessoa, porque falada pelos adultos), que neste trabalho assumimos nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa.

A intelectual e militante  retoma a revolução copernicana feita por Freud segundo a qual “o sujeito não é mais senhor em sua própria casa”, mostrando como a consciência conecta-se à alienação egóica, ao esquecimento e ao saber ideológico. No campo da memória, inscrições de uma história muda clamam pela expressão da verdade que se organiza enquanto ficção. Para se manter firme em suas ilusões, a consciência exclui elementos mnêmicos atrelados às angústias e aos desejos. Lélia Gonzalez nota uma coincidência entre a consciência, que rejeita ou sufoca conteúdos “inconvenientes”, e o discurso dominante de uma determinada cultura. Todavia, ainda que abafada, a memória é dotada de estratagemas que lhe permitem aflorar pelos poros dessa força repressora.

Sobre a mulher negra, a autora mostra a antítese discursiva em torno da construção imaginária de sua figura. Deusa no carnaval, empregada doméstica no cotidiano. Em sua análise das diferentes formações discursivas de teor racista e misógino, ela explicita como essa violência simbólica emerge de maneira ostensiva ou aparentemente sutil em diferentes cenas comuns e palpáveis da vida brasileira.

Digna de nota é a versão menos evidente da violência, que tem suas peculiaridades. Ela atenua a raiva e a revolta daquele que está sendo atacado. Sob seu efeito, corre-se o risco de absorver a opressão e a discriminação como verdades óbvias e desinteressadas, algo quase banal. Tal artimanha de uma linguagem “sutilmente violenta” se encontra em linhas de obras consagradas de autores célebres, como o vergonhoso trecho identificado por Lélia Gonzalez em Formação do Brasil Contemporâneo (1976) de Caio Prado Junior. Ali lemos:

Realmente a escravidão, nas duas funções que exercerá na sociedade colonial, fator trabalho e fator sexual, não determinará senão relações elementares a muito simples. […] A outra função do escravo, ou antes da mulher escrava, instrumento de satisfação das necessidades sexuais de seus senhores e dominadores, não tem um efeito menos elementar. Não ultrapassará também o nível primário e puramente animal do contato sexual, não se aproximando senão muito remotamente da esfera propriamente humana do amor, em que o ato sexual se envolve de todo um complexo de emoções e sentimentos tão amplos que chegam até a fazer passar para o segundo plano aquele ato que afinal lhe deu origem.

Lélia Vive!

“Depois que a gente lê um barato assim nem dá vontade de dizer nada porque é um prato feito”, diz Gonzalez. De fato, trata-se de mais um triste flagrante dos “deslizes inesperados” da intelligentsia brasileira. Eles se aproximam das manifestações racistas mais corriqueiras, também capturadas pelo radar da autora. Pelas linhas do Dr. Caio Prado Junior, fica-se com a impressão, ironiza Lélia, “de que branco não trepa, mas comete ato sexual”, expressão de um “tesão de necessidade”. O excerto é uma amostra da “neurose cultural brasileira”, que oculta conflitos e compõe soluções de compromisso sintomáticas.

O nó sintomático forma-se sempre em torno da recusa de encarar os reais motivos de angústias e desejos. Ao afirmar e negar o que disse em uma única manobra – negar o desejo pela mulher escrava negra e afirmá-lo enquanto uma necessidade de um “instrumento de satisfação sexual” –, Caio Prado Junior revela ao leitor atento a parte opaca de si-mesmo. Ignora e expõe sua brutalidade em palavras que rejeitam o estatuto de sujeito humano à mulher negra, seu homem, seus irmãos e seus filhos. Tais sujeitos tornam-se objetos em suas mãos, até mesmo objetos de saber. Insistir na prioridade da luta de classes, renegando-se a incorporar as categorias de raça e gênero convém a privilégios até mesmo de certos doutos senhores da esquerda.

O ensaio de Lélia Gonzalez é extremamente potente, pois, além de reunir e explicitar múltiplas camadas do sintoma brasileiro, está formalmente construído de maneira jocosa, retirando das sisudas convenções acadêmicas a pompa e o ar sapiente que acabam por consagrar poder a construções teóricas alinhadas a tais sintomas, como as que vimos em Caio Prado Junior.

Deixando outras camadas de Racismo e sexismo na cultura brasileira para análises posteriores, gostaria de chamar a atenção, aqui, para estes aspectos formais das construções teóricas que buscam velar os sintomas brasileiros identificados por ela – racismo e sexismo – e dos quais os intelectuais e suas elaborações teóricas não estão livres. Dito de maneira mais precisa: processos de articulação e tessitura das teorias nem sempre se diferenciam da solução de compromisso sintomática observada em manifestações racistas e sexistas e na estruturação discriminatória da sociedade brasileira. Vale dizer que, embora assumam características peculiares no Brasil, tais sintomas também não são exclusividade nacional, fazendo parte de um modelo imperialista colonizador global.

Se assim é, o aspecto geopolítico do sintoma ligado ao racismo e ao sexismo coloca a psicanálise em uma zona de tensão, que se torna visível a partir das linhas escritas por Gonzalez. Se, por um lado, a autora mobiliza os recursos metodológicos da psicanálise para a análise dos discursos sintomáticos brasileiros, por outro, esses mesmos artifícios psicanalíticos passam a mostrar seus limites, já que não estão, eles mesmos, inteiramente livres dos sintomas que a partir deles são detectados. Voltemos à saia justa de Caio Prado Junior, mas seguindo a letra de Lélia, que se articula muito melhor do que a minha:

Não faz muito tempo que a gente estava conversando com outras mulheres, num papo sobre a situação da mulher no Brasil. Foi aí que uma delas contou uma história muito reveladora, que complementa o que a gente já sabe sobre a vida sexual da rapaziada branca até não faz muito: iniciação e prática com as crioulas. É aí que entra a história que foi contada prá gente (brigada, Ione). Quando chegava na hora do casamento com a pura, frágil e inocente virgem branca, na hora da tal noite de núpcias, a rapaziada simplesmente brochava. Já imaginaram o vexame? E onde é que estava o remédio providencial que permitia a consumação das bodas? Bastava o nubente cheirar uma roupa de crioula que tivesse sido usada, para “logo apresentar os documentos”. E a gente ficou pensando nessa prática, tão comum nos intramuros da casa grande, da utilização desse santo remédio chamado catinga de crioula (depois deslocado para o cheiro de corpo ou simplesmente cc). E fica fácil entender quando xingam a gente de negra suja, né? Por essas e outras também, que dá vontade de rir quando a gente continua lendo o livro do “seu” Caio Prado Junior. Aquele trecho, que a gente reproduziu aqui, termina com uma nota de rodapé, onde ele reforça todas as babaquices que diz da gente, citando um autor francês em francês (só que a gente traduz): “O milagre do amor humano é que, sobre um instinto tão simples, o desejo, ele constrói os edifícios de sentimentos os mais complexos e delicados”. (André Maurois) É este milagre que o amor da senzala não realizou e não podia realizar no Brasil-colônia” (Grifos nossos). Pelo exposto, parece que nem Freud conseguiu melhor definir neurose do que André Maurois. Quando à negativa do “seu” Caio Prado Júnior, infelizmente, a gente sabe o que ele está afirmando esquecidamente: o amor da senzala só realizou o milagre da neurose brasileira, graças a essa coisa simplérrima que é o desejo. Tão simples que Freud passou a vida toda escrevendo sobre ela (talvez porque não tivesse o que fazer, né Lacan?). Definitivamente, Caio Prado Júnior “detesta” nossa gente. A única colher de chá que dá prá gente e quando fala da “figura boa da ama negra” de Gilberto Freyre, da “mãe preta”, da “bá”, que “cerca o berço da criança brasileira de uma atmosfera de bondade e ternura”. Nessa hora a gente é vista como figura boa e vira gente.

O apagamento de todas essas cenas – e Gonzalez traz inúmeras delas – acaba por moldar um edifício teórico psicanalítico que é, ele também, composição da estrutura sintomática do racismo e do sexismo de todo dia. Em Lacan, por exemplo, o objeto a, causa do desejo, é formado pelos objetos parciais não integrados à antecipação imaginária que constitui o Eu. O que mobiliza o desejo são pedaços que sobram do recorte especular imagético que molda a estrutura egóica. O Eu precipita-se a partir do desejo do desejo do Outro. Se o Outro – que é, em última instância, uma conformação linguística estabelecida simbolicamente e que articula a cultura – configura-se a partir de uma arquitetura que exclui formalmente componentes da realidade político-social, os alicerces que a sustentam serão erguidos sobre sistemas de forclusão. Deixados como restos jogados no solo sobre o qual se alça o edifício cultural, os elementos opressores e as práticas de espoliação da população negra e indígena deixarão marcas de uma instabilidade simbólica quase irreparável na própria fundação dos pilares que suportam as bases dessa construção.

Daí que, como procurei salientar no início, algumas reflexões pareçam assaz perigosas. Seguir em sua direção parece implicar o desabamento de quase todas as edificações, pois o chão sobre o qual elas estão suspensas reúne restos que não deveriam ser tidos como restos, lixos ou coisas, mas deveriam integrar de maneira central o todo que foi simbólica e concretamente composto.

O fato de a psicanálise ter sido construída em torno de sua teoria edípica oriunda da instituição familiar burguesa de origem europeia faz dela não a explicação de fenômenos psíquico-sociais, mas a complexa radiografia de tais sintomas. Ou seja, os conceitos psicanalíticos estão enredados na problemática estrutural da política e da articulação social que foi estabelecida pelos moldes ocidentais da Europa. Mais uma vez: a psicanálise arma muitos de seus conceitos forcluindo as bases afetivas e intelectuais sobre as quais se estabelecem o triângulo edípico e o sujeito que dele advém – a mãe-preta, a bá, a mucama, a empregada doméstica, a mulata, a mulher escrava que dá tesão ou é tida como necessidade de instrumento sexual. Sem essas figuras, talvez não existissem famílias burguesas, casamentos preservados ao estilo convencional, sobrevivência do tesão e certos cuidados maternos.

Não seria justamente a mulher negra, ofuscada das estruturas sociais endossadas pelas construções teóricas psicanalíticas, o “obscuro objeto do desejo”, aquele objeto que Jacques Lacan denominou a, opaco à articulação da gramática do sujeito e que o convoca de maneira íntima e inquietante? Como se o desejo exigisse do sujeito um gesto de justiça em relação a certos amores não integrados no repertório imaginário egóico e no simbólico de modo mais entranhado. Como se esse amor fosse muito difícil de ser admitido no rol linguístico partilhado pela classe dominante. Amores proibidos, negados e vilipendiados por rememorarem as fraquezas, as dívidas, a dependência e a vulnerabilidade dos senhores.

O desejo e o amor pela mulher negra convertem-se em exaltação da mulata e transbordam de maneira voraz em épocas de carnaval. Toda a cultura negra aparece como uma alegre e grande festa em uma libertação momentânea. Convém ao poder dominante deixar essa e a outra parte da história da população negra adormecida no resto do ano. Para isso, nenhuma opressão e violência será evitada.

Lélia Gonzalez põe os pingos nos is sobre o amor soterrado em nossa cultura ao dizer:

O que a gente quer dizer é que ela [a mulher negra] não é esse exemplo extraordinário de amor e dedicação totais como querem os brancos e nem tampouco essa entreguista, essa traidora da raça como querem alguns negros muito apressados em seu julgamento. Ela, simplesmente, é a mãe. É isso mesmo, é a mãe. Porque a branca, na verdade, é a outra. Se assim não é, a gente pergunta: quem é que amamenta, que dá banho, que limpa cocô, que põe prá dormir, que acorda de noite prá cuidar, que ensina a falar, que conta história e por aí afora? É a mãe, não é? Pois então. Ela é a mãe nesse barato doido da cultura brasileira. Enquanto mucama, é a mulher; então “bá”, é a mãe. A branca, a chamada legítima esposa, é justamente a outra que, por impossível que pareça, só serve prá parir os filhos do senhor. Não exerce a função materna. Esta é efetuada pela negra. Por isso a “mãe preta” é a mãe. E quando a gente fala em função materna, a gente tá dizendo que a mãe preta, ao exercê-la, passou todos os valores que lhe diziam respeito prá criança brasileira, como diz Caio Prado Júnior. Essa criança, esse infans, é a dita cultura brasileira, cuja língua é o pretuguês. A função materna diz respeito à internalização de valores, ao ensino da língua materna e a uma série de outras coisas mais que vão fazer parte do imaginário da gente. Ela passa prá gente esse mundo de coisas que a gente vai chamar de linguagem.

A autora e militante dança com a língua, mostra seus molejos, sua riqueza, distante da polidez empolada à qual tentamos nos adequar. A essa língua dançante ela chama pretuguês. Ao expor suas sinuosidades amputadas das construções morfológicas e sintáticas que se consolidam de modo oficial no léxico gramatical da língua portuguesa, Lélia Gonzalez insiste na força constitutiva do pretuguês. Quando se busca amputar o pretuguês, ele retorna insistente e vivaz.

Um dos vocábulos analisados por Gonzalez é bunda, nome do “objeto parcial por excelência da cultura brasileira”. O termo, ela explica, tem sua origem no “quimbundo que, por sua vez, e juntamente com o ambundo, provém do tronco linguístico bantu que “casualmente” se chama bunda”. Ou seja, no solo sobre o qual se estrutura a língua portuguesa oficial está o pretuguês: “bunda é língua, é linguagem, é sentido é coisa”.

Na língua portuguesa, o termo “mulata” indica que a raça negra se institui enquanto objeto a. “Mulata é crioula, ou seja, negra nascida no Brasil, não importando as construções baseadas nos diferentes tons de pele”. Com essa variação, talvez o senhor pretendesse atenuar seus “pecados” da carne, seu desejo transbordante. O tesão pela mulata no carnaval – algo momentaneamente admissível por ser exótico – ou a “necessidade de um instrumento sexual” atenua as cores do desejo, da gratidão no sentido kleiniano e dos amores do senhor pela mulher negra.

Embora Lélia Gonzalez pense na vitória desse subsolo pela insistência vigorosa do pretuguês que caracteriza a cultura brasileira, resta a pergunta: por que segue sendo tão difícil a alguns reconhecer a importância dessa camada concreta e simbólica da cultura brasileira? À psicanálise, por sua vez, caberia as perturbadoras perguntas: como se formam esses objetos que causam o desejo? Qual é o arranjo estabelecido psiquicamente para que o sujeito se integre a uma sociedade que transforma suas bases amorosas em restos irreconhecíveis a serem jogados no lixo?

Alessandra Affortunati Martins é psicanalista e doutora em Psicologia Social e do Trabalho pela USP. Autora de Sublimação e Unheimliche (Pearson, 2017), O sensível e a abstração: três ensaios sobre o Moisés de Freud (E-galáxia, 2020) e organizadora de Freud e o patriarcado (Hedra, 2020).

Deixa Eu Falá Meu Pretuguês

Legado[editar | editar código-fonte]

Entre outras homenagens, Lélia Gonzalez tornou-se nome de uma escola pública estadual no bairro de Ramos, no Rio de Janeiro, de um centro de referência de cultura negra, em Goiânia, de um coletivo de alunos do curso de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), de uma cooperativa cultural, em Aracaju. Foi homenageada pelo bloco afro Ilê Aiyê em duas edições do Carnaval baiano: em 1997, como parte do enredo Pérolas negras do saber, e em 1998, com Candaces.

O dramaturgo Márcio Meirelles escreveu e encenou em 2003 a peça teatral Candaces - A reconstrução do fogo, baseada em sua obra.

Em 2010, o governo da Bahia criou o Prêmio Lélia Gonzalez, para estimular políticas públicas voltadas para as mulheres nos municípios baianos.

A filósofa estadunidense Angela Davis, ao visitar o Brasil em 2019, afirmou que os brasileiros precisam reconhecer mais a sua própria pensadora Lélia Gonzalez, uma das pioneiras nas discussões sobre a relação entre gênero, classe e raça no mundo. “Por que vocês precisam buscar uma referência nos Estados Unidos? Eu aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês comigo”, resumiu Angela Davis.

Em 2020, a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) lançou o prêmio Lélia Gonzalez de Manuscritos Científicos sobre Raça e Política com o objetivo de incentivar a conclusão de trabalhos de pesquisadoras(es) pretas(os) e pardas(os) sobre desigualdades, identidades e discriminações raciais e suas expressões políticas.

Como dito anteriormente, Lélia Gonzalez sabia da importância da comunicação e do poder da palavra para chegar aos grupos aos quais pertencia. A figura dela tornou-se emblemática por tratar-se de alguém que vivenciou mazelas e que superou obstáculos para chegar a lugares que são difíceis para pessoas como ela. Ter voz acadêmica e ser conhecida popularmente é uma luz na conscientização, mostrando quão significativo é fazer com que pessoas excluídas da sociedade ou marginalizadas percebam a desigualdade que estão envolvidas e, principalmente, percebam que essas estruturas precisam desabar para surgir uma nova sociedade restaurada na afirmação da identidade negra.

Obras[editar | editar código-fonte]

Lélia Gonzales vive!

Livros[editar | editar código-fonte]

  • Festas Populares no Brasil. Rio de Janeiro, Índex, 1987.
  • Lugar de Negro (com Carlos Hasenbalg). Rio de Janeiro, Marco Zero, 1982. 115p. p. 9-66. (Coleção 2 Pontos, 3.).
  • Por um Feminismo Afro-Latino-Americano. Rio de Janeiro: Zahar.

Ensaios e artigos[editar | editar código-fonte]

  • “Mulher Negra, essa Quilombola.” Folha de S. Paulo, Folhetim. Domingo 22 de novembro de 1981.
  • “A Mulher Negra na Sociedade Brasileira. In: LUZ, Madel, T., org. O Lugar da Mulher; Estudos sobre a Condição Feminina na Sociedade Atual. Rio de Janeiro, Graal, 1982. 146p. p. 87-106. (Coleção Tendências, 1.).
  • “Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira.” In: SILVA, Luiz Antônio Machado et alii. Movimentos Sociais Urbanos, Minorias Étnicas e outros Estudos. Brasília, ANPOCS, 1983. 303p. p. 223-44. (Ciências Sociais Hoje, 2.).
  • “O Terror nosso de Cada Dia.” Raça e Classe. (2): 8, ago./set. 1987.
  • “A Categoria Político-Cultural de Amefricanidade.” Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro (92/93): 69-82, jan./jun. 1988.
  • “As Amefricanas do Brasil e sua Militância.” Maioria Falante. (7): 5, maio/jun. 1988.
  • “Nanny.” Humanidades, Brasília (17): 23-5, 1988.
  • “Por um Feminismo Afrolatinoamericano.” Revista Isis Internacional. (8), out. 1988.
  • “A Importância da Organização da Mulher Negra no Processo de Transformação Social.” Raça e Classe. (5): 2, nov./dez. 1988.
  • “Uma Viagem à Martinica - I.” MNU Jornal. (20): 5, out./nov.

Referências[editar | editar código-fonte]

https://www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2022/02/01/noticia-diversidade,1341704/lelia-gonzalez-conheca-a-mineira-que-criou-o-termo-pretugues.shtml

https://revistacult.uol.com.br/home/lelia-gonzalez-pretugues-psicanalise/

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A9lia_Gonzalez

https://mundonegro.inf.br/lelia-gonzalez-vive-projeto-disponibiliza-obras-da-ativista-na-internet/

https://www.geledes.org.br/lelia-gonzalez-mulher-negra-na-historia-do-brasi/

https://www.fenajufe.org.br/noticias/agencia-de-noticias/sindicatos/9231-quem-e-essa-conheca-a-historia-e-obra-de-lelia-gonzalez

https://favelaempauta.com/lelia-gonzalez-para-catimbar-o-racismo/

Redes Sociais[editar | editar código-fonte]

Facebook

Instagram

E-mail: leliadealmeidagonzalez@gmail.com