Luiz Poeta e a fundação do projeto Verdejar

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Luiz Carlos Matos Marins, conhecido como Luiz Poeta é fundador do projeto Verdejar e atua no bairro Engenho da Rainha na Zona Norte do Rio.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir do RionOnWatch[1]. 
Luiz Poeta e o Verdejar

Sua história de vida[editar | editar código-fonte]

A alimentação orgânica e de alimentos vivos  (biochip) tem um papel fundamental para Luiz Poeta que foi diagnosticado com um câncer de mama que virou uma metástase indo para os ossos em 2008.

Segundo ele, foi através do tratamento tradicional associado a alimentos oriundos da agroecologia que ele tem conquistado a sua saúde e trabalhado nos últimos quatro anos pela preservação da Serra da Misericórdia e a divulgação da agroecologia e agricultura urbana.

Nascimento[editar | editar código-fonte]

Luiz Poeta, nascido em 1955 em Marechal Hermes, conta que teve uma infância muito austera, seus pais eram evangélicos e “até soltar pipa era pecado”. Sua alfabetização foi feita com uma vara ao lado e se ele errasse apanhava. Ele entrou na escola aos 9 anos e após completar o 1o grau, então com 15 anos, parou de estudar e foi trabalhar como marceneiro junto com seu pai. Poeta veio a completar o 2º grau com mais de 50 anos.

A repressão familiar somada a repressão política da ditadura militar, que o Brasil vivia na época da sua juventude, criou dentro de Luiz um sentimento de indignação e revolta, que fez com que ele pensasse em se juntar a luta armada para reverter a situação de opressão que nossa sociedade vivia. Luiz com sua alma de poeta nunca chegou as vias de fatos, pois sabia que isso iria gerar uma realidade tão pesada quanto a que queria combater.

Educação[editar | editar código-fonte]

Educou-se sozinho, indo a teatros, cinema, lendo muito. Foi imensamente influenciado pela cultura hippie, que lhe guiou para os grupos de contra cultura das décadas de 70 e 80, trazendo a ele as influências pacifistas e a concepção de poder dos pensadores anarquistas. E é com essa filosofia que o Verdejar se formou como uma organização horizontal sem hierarquia e aberta a todos.

Somente há 6 anos Luiz Poeta deixou de trabalhar como marceneiro, para se dedicar ao Verdejar. Durante anos ficou recebendo R$200, a partir de doações dos membros do Verdejar.

Luiz Poeta analisa a trajetória do Verdejar e vê que seu sonho e dedicação estão indo adiante. Após muita militância e participação dos membros do projeto, O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, instaurado no Complexo do Alemão, contemplou o Verdejar com uma casa que será a sua nova sede para a implementação dos projetos de Educação Ambiental e Alimentar.

Projeto de Educação Alimentar do Verdejar[editar | editar código-fonte]

O projeto de Educação Alimentar do Verdejar visa a conscientização dos jovens sobre o consumo e produção de alimentos que estejam em uma cadeia produtiva de comércio justo, sem exploração de terras e trabalhadores, além do uso consciente da terra, o que é o princípio da agroecologia, onde se produz o alimento sem desertificar a terra. A parte prática dos projetos do Verdejar são feitas no Horto Chico Mendes na comunidade Sérgio Silva, onde se desenvolvem ações de Educação Ambiental com estudantes e moradores locais. Inclusive com oficinas de produção de plantas nativas de Mata Atlântica, frutíferas, ornamentais e medicinais.

Ecologia Profunda[editar | editar código-fonte]

O programa de Educação Ambiental e Educação Alimentar constitui o que Luiz Poeta denominou de Ecologia Profunda, que alinha a preservação do meio ambiente com a alimentação e as relações de trabalhos baseados na solidariedade e consciência do bem coletivo.

Ao ser perguntado sobre a UPP no Complexo do Alemão, Poeta diz que é necessário alguns anos para que ele tenha uma opinião, mas que a idéia de polícia comunitária que está sendo implementada lá, onde o policial mora na própria comunidade, é positiva.

Como militante de causas ambientais e pacifistas, Luiz Poeta afirma que lidar com o Estado não é tarefa fácil, é um exercício de paciência. Segundo ele, muitos companheiros acabam adoecendo por ter que lutar tanto por conquistas para as comunidades, desafiando os interesses do poder e lucro.

Mas é a fé e a lealdade ao seu sonho de adolescente rebelde que faz com que Poeta, com seu jeito terno, mantenha e expanda o seu legado de amor, visível aos olhos na parte da Serra da Misericórdia que já recuperou sua cobertura verde.

Luiz poeta e a importância da sua atuação[editar | editar código-fonte]

O seu projeto, o Verdejar, tem um histórico de lutas, parcerias, eventos e trabalhos em prol da recuperação da Serra da Misericórdia (maior área de Mata Atlântica na Zona Norte do Rio) com princípios agroecológicos e, que entre outras conquistas, foi decretada APARU (Àrea de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana) pela Prefeitura.

O projeto é responsável pela preservação de uma área verde na comunidade Sérgio Silva, uma extensão do Complexo do Alemão que faz parte da Serra da Misericórdia. A Serra está quase totalmente devastada pela mineração de granito e ocupações sem planejamento.

Com humildade e obstinação, Luiz consegue manter de pé áreas verdes da Serra, sensibilizar e juntar moradores, ecologistas e muitos jovens que se voluntariam para os mutirões organizados pelo Verdejar. Os mutirões servem para manter as matas a salvo de incêndio, construir cerco de água, e corajosamente impedem invasões para habitação por grileiros, traficantes e imobiliárias.

Características do Verdejar[editar | editar código-fonte]

Uma das características do Verdejar é a prática da agroecologia, para a preservação do meio ambiente e para a produção de alimentos saudáveis e socialmente justos, um modelo que é um embrião de um novo jeito de relacionamento com a natureza, onde se protege a vida como um todo. A sua percepção de ecologia é uma concepção profunda, que passa pela transformação do ambiente interno dos seres humanos, no que tange aos seus sentimentos e motivações, assim como pela alimentação.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM)

Verdejar

Agroecologia em favelas