Macedo Sobrinho

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

A comunidade Macedo Sobrinho foi uma favela do Rio de Janeiro que ocupava uma extensa área do  bairro do Humaitá, na encosta do Morro da Saudade, na região onde hoje está o CIEP Pres. Agostinho Neto, e foi removida com outras comunidades próximas da Lagoa no fim dos anos 60.

Informações retiradas da internet pela equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.
Macedo Sobrinho.jpg

História[editar | editar código-fonte]

A favela ao contrário que muitos pensam tinha considerável tamanho, ocupando uma boa parte da encosta do Morro da Saudade.

A parte alta ficava em volta das propriedades do topo da Rua Macedo Sobrinho e abria em três alas, uma em direção à Rua Pinheiro Guimarães até mais ou menos o Largo do IBAM e outra que descia rumo a Rua Humaitá tendo seu ponto mais alto quase na Rua Casuarina.

Informações do surgimento dessa favela são esparsas, mas ela tem origem bem mais recente que suas antigas vizinhas a da Catacumba e a Villa Rica/ Tabajaras, essa já noticiada em 1910. Certamente ela surgiu em terrenos devolutos do Governo Federal, pois em tempos idos essa região de encosta no Morro da Saudade era área militar, em virtude de no século XVIII ter havido ali uma das fortificações de defesa da cidade.

No final da década de 60, a Favela da Macedo Sobrinho foi removida, junto com outras favelas que ficavam no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, quando curiosamente depois da derrubada dos barracos, as ruínas do velho Forte da Piaçava surgiram novamente, para relembrar o passado bélico da região. A área antes ocupada pela favela foi no final dos anos 80 transformada numa área de preservação, o Parque Municipal do Morro da Saudade.

A remoção[editar | editar código-fonte]

Autoria: Hélio Euclides.

Mudança forçada[editar | editar código-fonte]

A política de remoções teve início na gestão do governador Carlos Lacerda (1960-1965), no então Estado da Guanabara, e seguiu por muito tempo. Os moradores da Macedo Sobrinho foram distribuídos pelo município como forma de desarticular uma possível resistência. 

Na Zona Sul, havia pressões da especulação imobiliária. Lacerda, com recurso dos Estados Unidos, implementou conjuntos habitacionais longe do centro e sem contemplar as necessidades dos moradores.

Os moradores foram tirados à força e levados para locais muitas vezes indesejados, sem saneamento básico e transporte, entre outros problemas. Elza Cristina da Silveira lembra que a família não tinha renda, então foi encaminhada para a Nova Holanda. “Foi difícil acostumar com o novo local de moradia, longe da Zona Sul. Lá no morro tínhamos uma tendinha e um ponto de luz, que distribuía energia a outros moradores. Aqui, a luz era precária. Viemos com a ideia de que seria provisório, e ficou para sempre”, conta.

A luta[editar | editar código-fonte]

“Mamãe foi guerreira e lutadora para criar os seis filhos, com tanta dificuldade. O bom era a união da família, um ajudava o outro. Aqui faltava água, mas conforme a comunidade foi crescendo ficou melhor”, l avalia Elza Cristina. Sua irmã, Regina Maria Silveira, ainda tem tudo na cabeça: “nos colocaram num ônibus conhecido como cata-mendigo, como animais. A mudança veio num caminhão. Depois nos destinaram uma casa toda ruim, de madeira podre. Minha mãe chorou com a mudança de casa, sofreu e insistiu. Conseguimos trocar por outra, um pouco melhor, na mesma Rua G”, detalha.

“No morro, tínhamos duas caixas d’água, e oferecíamos água para os vizinhos. Aqui, carreguei muita água de uma vila, que existiu onde funcionou o McDonald’s. No morro, lembro do Carnaval, onde a família tinha a barraquinha de lanches e assim ganhávamos um dinheirinho”. Regina tinha 15 anos quando sentiu na pele a remoção. “Para a Nova Holanda vieram os mais pobres. Remoção é tirar o chão do favelado, é separar os amigos, lembro de muito choro”.

Adaptação difícil[editar | editar código-fonte]

Morando no mesmo lugar até hoje, na Rua H, Jorgina Maria, a Bina, lembra o dia da remoção, 16/01/1971. “Um período de tristeza, não queria sair de lá, aliás ninguém queria. Lá era como uma família só, nos defendíamos. Aqui ninguém se conhecia. O ônibus que trouxe a gente era da DLU (Departamento de Limpeza Urbana), tipo da Comlurb, vínhamos como bichos. Fomos divididos entre Cidade de Deus, Avenida Suburbana, Nova Holanda, Vila Kennedy e Engenho da Rainha. Primeiro fizeram o levantamento, o salário era o que definia para onde cada um iria”, relembra.

“Aqui era muita lama e parecia que os mosquitos iam nos carregar. Tinha 16 anos e ajudei a cuidar dos quatro irmãos. Carregava lata na cabeça lá do Parque União, me equilibrando. Com o tempo, as coisas foram se acertando, reformamos e construímos em cima”, conta Jorgina. Sua mãe, Argentina Tibúrcio, de 89 anos, era acostumada a trabalhar perto de onde morava e, como outros, sofreram com a distância: “eu adorava o meu barraquinho. Lá, o meu trabalho era perto e tinha os amigos para cuidar das crianças. No morro, o ruim era a escada, mas tinha mais espaço para as crianças brincarem”, conclui ela, que até hoje guarda os carnês que pagava da casa na Nova Holanda.

Fotos[editar | editar código-fonte]

1966. Acervo Casa de Oswaldo Cruz..jpg
Favela Macedo Sobrinho, 1964, Mulheres carregando água. Foto de Cristina Schroeder.jpg
Mulher prepara macarronada em uma cobertura da Favela Macedo Sobrinho 1964 by A. Leeds.jpg
Favela Macedo Sobrinho, 1966. Eleições Fafeg, Presidente Marco Torres e o candidato a vice Aloísio..jpg

Referências[editar | editar código-fonte]

https://mareonline.com.br/memoria/um-pedaco-de-macedo-sobrinho-na-mare/  

https://rioquepassou.com.br/2007/08/15/favela-da-macedo-sobrinho/  

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