Memorial aos mortos por Covid-19 na Maré
Realização: Redes da Maré
Informações coletadas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Sobre[editar | editar código-fonte]
Em novembro de 2021, a ONG Redes da Maré, em parceria com a Azulejaria da Maré, inaugurou um mural com o nome de 60 moradores de 16 favelas do Complexo de Favelas da Maré que morreram em decorrência da pandemia de Coronavírus. Parentes das vítimas ajudaram na obra realizada na Favela Nova Holanda, na Rua Bittencourt Sampaio. O oficina existe há mais de 15 anos na favela e cria projetos diversos com os coletivos e moradores.
Reportagem da Agência Brasil[editar | editar código-fonte]
Trecho extraído do trabalho de Cristiane Ribeiro, repórter da Rádio Nacional, publicado em 15 de novembro de 2021.
De acordo com a diretora da ong, Eliana Souza, os nomes das pessoas homenageadas foram mapeados por meio de um trabalho integrado entre as equipes sociais de programas que atuam nas comunidades e que fazem um acolhimento e atendimento psicossocial para os familiares dessas vítimas.
Ela enfatizou que este memorial faz parte da jornada de enfrentamento à pandemia de covid-19, que vem sendo feita na Maré com a participação da prefeitura do Rio e da Fundação Oswaldo Cruz.
O painel tem 18 metros quadrados e foi instalado na rua Bitencourt Sampaio, na favela Nova Holanda.
Eliana Souza lembrou que mais de 400 moradores da Maré morreram de covid-19 e que todos serão homenageados em um outro painel que será instalado no ano que vem no muro da Fiocruz.
A instituição, junto com a prefeitura do Rio e a ong Redes da Maré, fez uma campanha de vacinação em massa contra a Covid-19 nas 16 favelas do Complexo. Mais de 30 mil pessoas já receberam as duas doses da vacina contra o coronavírus.
Reportagem do Maré Online[editar | editar código-fonte]
Trecho extraído da reportagem de Edu Carvalho e Tamyres Matos ao Maré Online, publicada em 04 de novembro de 2021.
Remontar a trajetória de um familiar, um parente, amigo ou conhecido por meio de um simples azulejo que, transformado em tela e unido a tantos outros, forma um grande mural de memórias afetivas. Assim é o Memorial Covid, projeto da Redes da Maré que faz da representação através das artes plásticas uma forma de lidar com o luto. No Brasil, são mais de 606 mil vítimas fatais da doença — a Maré chora e não esquece seus 373 moradores mortos desde o início da pandemia.
“A gente acredita que é preciso lembrar essas pessoas. Para preservar a memória delas, pensamos na construção do memorial. É importante marcar o que aconteceu na Maré neste período de pandemia”, diz Patrícia Ramalho, assistente social do Eixo Direito à Segurança Pública, uma das que coordenam a iniciativa junto à artista responsável pelo projeto Azulejaria, Laura Taves.
Patricia registra o impacto causado pela disseminação do vírus no território, o que fez com que a população precisasse criar estratégias para não ser infectada, quando nem sequer o mais necessário tinha. “Muitos moradores não tiveram como suprir suas necessidades mais básicas, que dirá os materiais para prevenir a covid-19, como máscaras e álcool em gel, além dos artigos de limpeza. Havia e há locais com falta recorrente de água, primordial para o combate ao coronavírus’’, enfatiza.
Neste sentido, Patrícia lembra a importância da campanha Maré Diz Não ao Coronavírus, da Redes da Maré,que distribuiu cestas básicas e equipamentos de proteção individual (EPIs) entre os moradores. Foi nesse momento que os encontros com quem perdera familiares e amigos começaram a ficar ainda mais frequentes, revelando a urgência de alguma ação que tocasse no tema.
“Convidamos os familiares das vítimas que se sentem à vontade a compartilhar memórias de seus entes queridos vitimados pelo vírus”. É na oficina de produção de azulejaria onde eles lembram o que as pessoas mais gostavam, citam letras de música, comidas favoritas, um apelido carinhoso, uma lembrança. “É um momento de acolhimento e afeto”, diz a assistente social. No dia 15 de novembro (feriado da Proclamação da República), um mural com todas as homenagens será exposto na Rua Bitencourt Sampaio, na Nova Holanda. Familiares, parentes e amigos serão recebidos para uma programação especial no Centro de Artes da Maré (CAM).
É assim para Maria Daiane de Araújo Alves, 30 anos, que perdeu a avó Maria das Graças para a doença. “Minha avó sempre foi uma pessoa muito batalhadora, uma mulher muito guerreira, trabalhou para sustentar os filhos. Ela veio do Ceará para ficar mais próxima dos filhos, que já moravam no Rio”, relembra.
Entre idas e vindas, Graça vivia numa ponte-aérea entre o sertão e o frenesi da Maré. ‘’Ela ficava um pouco lá e um pouco aqui. Quando ela morreu, já fazia um ano que morava aqui’’, conta Maria Daiane. Dona Graça tinha doenças preexistentes, o que agravou seu quadro quando ela foi infectada pelo coronavírus, em maio de 2020. “Foi tudo muito rápido. Ela adoeceu, passou mal, foi pra UPA e, em alguns dias, morreu. Não conseguiu ser atendida imediatamente, aguardou muito tempo. Morreu uma semana antes do Dia das Mães”, conta.
Segundo ela, o espaço do projeto Azulejaria tornou-se o ponto de encontro para sua própria família saudar a vida da matriarca, embora a tristeza seja latente. ‘’Acredito que este é um espaço muito importante onde eu e minha família pudemos relembrar situações e histórias. A gente se sentiu feliz, apesar da dor da perda. Conseguimos reviver memórias importantes da história dela conosco e produzir a partir dos azulejos, da arte, memórias que a trouxeram de volta.’’
Para Maria Daiane, reunir-se e compartilhar lembranças com colegas na oficina tornou-se também uma espécie de ato de resistência para que ninguém esqueça a crise sanitária que ainda não está controlada, apesar do sentimento de melhora percebido a cada dia por conta dos avanços da vacinação. “É importante contar as histórias das vítimas tendo em vista a pandemia porque, devido ao aumento exponencial e progressivo das vítimas, acabou parecendo habitual todo dia alguém morrer, o que não deveria acontecer. Cada vida conta uma história. No momento da perda de uma vida, uma família sofre e chora, perde um ser amado. É importante que prevaleça que se trata de um indivíduo, são pessoas que fazem parte da vida de outras e que têm um valor imenso”, afirma.