Movimento Luta
O verbete apresenta o Movimento Luta. O Movimento, que atua nas favelas do município de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, tem objetivo de lutar por uma vida digna e pelo direito a uma cidade mais equitativa e justa, em um cenário em que as favelas do Brasil, especialmente nos centros urbanos, são caracterizadas por inúmeras desigualdades estruturais e enfrentam obstáculos profundos, sofrem constantemente marginalização, ameaças e adversidades que são intensificadas por políticas neoliberais e ações de controle social. O autor apresenta uma entrevista feita com Mayara Gomes, fundadora do Movimento Luta, que conta sobre a origem, os objetivos e os impactos das ações do movimento nas comunidades.
Autoria: Pedro Rocha
Sobre[editar | editar código-fonte]
As favelas do Brasil, como centros urbanos que são caracterizadas por inúmeras desigualdades estruturais e enfrentam obstáculos profundos, sofrem constantemente marginalização, ameaças e adversidades que são intensificadas por políticas neoliberais e ações de controle social. O neoliberalismo, quando promove essas ideias de privatizações, especulações imobiliárias, pensando apenas no lucro, exacerba ainda mais a exclusão social e esse preconceito com os moradores da favela, o que resulta em um ambiente constantemente vulnerável e inseguro. A gentrificação, apoiada por investimentos dos setores privados e reformas urbanas, força o deslocamento dos moradores, colocando-os sempre longe dos lugares que são vistos como lucrativos para eles, deslocando as favelas e ampliando ainda mais as desigualdades.
Além dessa realidade, a presença de um policiamento excessivo e violento, onde essa implementação de políticas de controle social constantemente violam os direitos humanos, o que aumenta mais ainda esse sentimento de opressão e desamparo nessas comunidades da periferia. As remoções forçadas, que vemos por aí muitas vezes sendo defendidas a partir de justificativas e alegações de risco estruturais e necessidade de desenvolvimento urbano, impactam desastrosamente as comunidades. Muitas famílias se veem frequentemente sendo pressionadas a deixarem suas casas, seus laços comunitários e enfrentam um realocamento inadequado, o que resulta no que vemos, instabilidade econômica, perda de coesão social e moradores cada vez mais individualizados.
Dentro desse contexto que é desafiador, vemos emergir movimentos sociais e coletivos que buscam resistir a essa opressão, lutar por uma vida digna e pelo direito a uma cidade mais equitativa e justa. Um exemplo significativo que pesquisei , é o Movimento Luta, que atua nas favelas de Niterói, no estado do Rio de Janeiro e que exemplifica essa resistência. Criado em 2021, o movimento teve suas raízes na Escola Popular de Boxe no Cavalão, uma favela localizada no bairro de Icaraí. A partir desse projeto, o Movimento Luta consolidou-se como resposta direta às crescentes desigualdades e dificuldades enfrentadas pela população no período da pandemia, como por exemplo, a crise alimentar que afetou muitas famílias.
A seguir, apresento uma entrevista com Mayara Gomes, fundadora do Movimento Luta, que nos conta sobre a origem, os objetivos e os impactos das ações do movimento nas comunidades. Para compor este verbete, realizei essa entrevista por meio do Google Docs e antes de apresentar a entrevista, incluirei o link do movimento e o seu manifesto.
Manifesto do Movimento Luta[editar | editar código-fonte]
Somos filhas e filhos de Tereza de Benguela, Malcon X, Mohamad Ali, Zumbi dos Palmares, Dandara e Carolina Maria de Jesus, negros e negras que se levantaram e arrebentaram as correntes.
Somos os povos indígenas e originários Tupinambás, Yanomamis, Pataxós e Guarani que lutam bravamente pela Vida e para proteger a nossa biodiversidade.
Somos as mulheres que são linhas de frente nas suas casas e nas ruas, guerreiras que se organizam contra todas as formas de opressão.
Somos as Favelas e Periferias, das famílias resistências e dos quilombos urbanos.
Somos as cores da bandeira LGBTQIA+ na sua liberdade de amar e de ser.
E trazemos na fé e na liberdade religiosa nossa esperança de um futuro melhor.
O Movimento Luta surge da sede de transformação e construção de um mundo justo e igualitário para todos e todas. Entre becos, vielas e guetos em um único tom, ecoa: QUEM LUTA, MOVIMENTA!
Acesse o manifesto aqui.
Entrevista com Mayara Gomes, do Movimento Luta[editar | editar código-fonte]
Pergunta 1: Quando e como o Movimento Luta foi fundado? Quais foram os principais eventos que levaram à sua criação?
Resposta:
Nosso movimento, o Movimento Luta, foi criado em 2021 através da Escola Popular de Boxe, um projeto social dedicado a oferecer aulas de boxe, esportes e cultura para crianças e adolescentes do Cavalão. Durante a pandemia, com os impactos da desigualdade social e econômica exacerbados, percebemos como a fome estava afetando severamente as comunidades. Em resposta, formamos o Comitê Popular do Alimento, reunindo moradores e lideranças locais para discutir e propor ações concretas de combate à fome. Distribuímos mais de 100 cestas agroecológicas e também iniciamos ações voltadas para a justiça social e a formação de núcleos comunitários para fortalecer a organização popular. Estamos comprometidos em promover mudanças significativas e positivas em nossa comunidade.
Pergunta 2: Quais são os objetivos principais do Movimento Luta e como vocês trabalham para alcançá-los?
Resposta:
Os principais objetivos do Movimento Luta são promover a justiça social e combater as desigualdades sociais que determinam o acesso aos direitos e à democracia, condicionados pela classe social e raça. Para alcançar esses objetivos, nos organizamos em núcleos populares de juventude e comunitários, visando fomentar a auto-organização, a construção de agendas de lutas e o avanço da consciência crítica e emancipatória. A fundação do Movimento Luta está intimamente ligada ao projeto social Escola Popular de Boxe, localizado na comunidade do Cavalão, em Niterói. Este projeto utiliza o boxe como ferramenta de transformação social, proporcionando formação esportiva e novas perspectivas de vida para crianças e adolescentes de 5 a 18 anos. A Escola Popular de Boxe criou uma rede de moradores da comunidade e impulsionou debates sobre o combate à fome, moradia digna e outras pautas sociais e comunitárias. Por meio dessas iniciativas, buscamos criar uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos tenham acesso aos direitos fundamentais e possam participar ativamente da democracia.
Pergunta 3: Quais são os projetos e ações mais importantes realizados pelo Movimento Luta e como eles impactam a comunidade local
Resposta:
Principais Ações do Movimento Luta e Seus Impactos nas Comunidades:
- Horta Comunitária: Incentivo à agricultura urbana sustentável e promoção da segurança alimentar local.
- Batalha do Ringue - Batalha de Rimas Hip Hop: Fomento à expressão cultural das periferias e o engajamento da juventude através da música e da poesia.
- Organização de Grêmios Estudantis: Fortalecendo estudantes para participação ativa na organização de luta pelos direitos à educação pública, gratuita e de qualidade.
- Festival Novembro Negro: Celebrando e valorizando a cultura afro-brasileira, enquanto enfrenta o racismo estrutural.
- Biblioteca Comunitária: Promoção do acesso ao conhecimento e incentivo à leitura como ferramenta de transformação social.
- Organização de Núcleos Populares e de Juventude: Mobilização das comunidades para lutar por direitos sociais e justiça.
- Ações Educativas em Cidadania e Política: Formação de cidadãos para o exercício pleno de seus direitos e deveres democráticos.
- Combate à Fome com Distribuição de Cestas Solidárias: Apoio às famílias em situação de vulnerabilidade com alimentos e assistência.
- Cuidando de quem Cuida” Ações Sociais para o Cuidado Coletivo das Mulheres: Formação de espaços seguros e promoção da saúde física e emocional das mulheres negras da comunidade.
Essas iniciativas não apenas melhoram as condições de vida local, mas também impulsionam os moradores a serem agentes de mudança em suas próprias realidades. O Movimento Luta se constitui como coletivo de solidariedade e resistência em Niterói.
Pergunta 4: Qual é a proposta pedagógica do Movimento Luta? Quais são os princípios educacionais e políticos que vocês defendem
Resposta:
Nossa proposta pedagógica e princípios políticos se delineiam com base nos tópicos abaixo:
1. Autonomia e Auto-organização: Promovemos a autonomia dos indivíduos e comunidades, incentivando a auto-organização como meio de enfrentar desafios sociais e políticos.
2. Educação Popular:Adotamos a educação popular como método educativo, valorizando o conhecimento construído coletivamente e a experiência de vida como fonte de aprendizado.
3. Consciência Crítica: Buscamos desenvolver uma consciência crítica nas pessoas, capacitando-as a analisar estruturas de poder, desigualdades sociais e a buscar transformações sociais.
4. Emancipação: Nosso objetivo é promover a emancipação das pessoas, capacitando-as não apenas para entender o mundo, mas também para transformá-lo de acordo com princípios de justiça social e igualdade.
Princípios Políticos:
1. Justiça Social: Lutamos pela igualdade de direitos e oportunidades, combatendo todas as formas de discriminação e exclusão social.
2. Combate às Desigualdades: Nosso movimento se opõe às desigualdades sociais que limitam o acesso aos direitos fundamentais, como saúde, educação, moradia e trabalho digno.
3. Democracia Participativa: Defendemos uma democracia participativa, onde todas as pessoas possam contribuir ativamente na construção de políticas públicas e na tomada de decisões que afetam suas vidas.
4. Anti-racismo e Anti-opressão: Combatemos o racismo, sexismo, LGBTfobia e outras formas de opressão, promovendo a diversidade e a igualdade de direitos para todas as pessoas.
5. Pertencimento e Coletividade: Valorizamos a solidariedade entre os indivíduos e a organização coletiva como formas de fortalecer nossa luta por justiça social.
Esses princípios e propostas pedagógicas guiam nossas ações e mobilizações, buscando transformações profundas na sociedade.
Pergunta 5: Esses projetos educacionais são direcionados a quais grupos ou faixas etárias dentro da favela?
Resposta:
Nosso projeto inclui uma diversidade de pessoas, que vão de 4 anos de idade a 80 anos.
Pergunta 6: Quantas pessoas, aproximadamente, são impactadas diretamente pelos projetos do Movimento Luta? O movimento consegue envolver uma ampla gama de moradores da favela?
Resposta:
Nossos projetos alcançam mais de 300 pessoas, seja através de nossos cursos de Capacitação para Mulheres, pela Batalha do Ringue, pelos nossos eventos culturais e pelas ações de combate à fome.
Pergunta 7: O Movimento Luta tem alguma relação com igrejas ou outras instituições religiosas na comunidade? Se sim, como essas instituições influenciam ou participam das atividades do movimento?
Resposta:
O Movimento Luta se organiza com instituições religiosas na comunidade, como o núcleo de mulheres evangélicas e um terreiro de Umbanda na Comunidade do Vital Brazil, em Niterói. Essas parcerias são fundamentais para combater opressões e promover debates críticos e cidadãos, além de desenvolver projetos educativos contra o racismo religioso. Essas colaborações demonstram como o movimento integra diferentes grupos e práticas para alcançar seus objetivos de justiça social e conscientização comunitária.
Pergunta 8: Há apoio de líderes religiosos locais ao Movimento Luta? De que forma esse apoio se manifesta?
Resposta:
O Movimento Luta recebe apoio significativo de líderes religiosos locais, incluindo figuras como Irmã Elaine, Missionária Débora e Mãe Simonete de Oxum. Este apoio se manifesta através da cessão de espaços e tempo para discussões e debates sobre o combate às opressões, reconhecendo a fé como uma mobilizadora dos direitos humanos. Essas parcerias permitem que o movimento amplie suas iniciativas educativas e promova um diálogo inclusivo e enriquecedor dentro da comunidade, fortalecendo assim os laços entre justiça social e práticas religiosas.
Pergunta 9: Como os moradores das favelas percebem o Movimento Luta? Eles apoiam as iniciativas do movimento?
Resposta:
Os moradores das favelas percebem o Movimento Luta de forma positiva e geralmente apoiam suas iniciativas. A participação ativa dos moradores nas reuniões, debates e ações como mobilizadores e assumindo tarefas na organização demonstra um engajamento significativo. Isso reflete um reconhecimento das contribuições do movimento para combater opressões e promover direitos humanos nas comunidades, fortalecendo assim os laços de coletividade e cooperação dentro desses espaços.
Pergunta 10: Existem exemplos de como o movimento tem recebido apoio concreto dos moradores?
Resposta:
O Movimento Luta tem recebido apoio concreto dos moradores de diversas formas. Por exemplo, dois moradores que são professores se engajam ativamente nos cursos de capacitação para mulheres, contribuindo com seu conhecimento e experiência. Além disso, nossas ações sociais, como atividades de estética e recreação, contam com a ajuda de voluntários locais, incluindo trancistas, barbeiros, designers de sobrancelha, instrutores de Tae Kwon Do e voluntários na recreação infantil. Os moradores também demonstram seu apoio mobilizando e contribuindo com alimentos para essas atividades, mostrando um forte comprometimento com os programas e iniciativas do movimento na comunidade.
Pergunta 11: Quais foram os impactos mais significativos das ações do Movimento Luta na vida dos moradores das favelas?
Resposta:
Os impactos das ações do Movimento Luta na vida dos moradores das favelas têm sido profundos e transformadores. Os cursos de capacitação para mulheres têm desempenhado um papel crucial na empregabilidade e geração de renda, empoderando as participantes e fortalecendo sua autonomia. As ações sociais do projeto "Cuidando de Quem Cuida" também têm fortalecido a saúde mental e física das mulheres da comunidade, criando espaços de apoio mútuo e cuidado coletivo. As atividades culturais, como a Batalha do Ringue e o Festival Novembro Negro, têm promovido a valorização da identidade cultural e a resistência contra o racismo, proporcionando um ambiente onde os moradores podem expressar e celebrar sua cultura de maneira segura e significativa.
Além disso, a organização de núcleos populares e a formação de grêmios estudantis têm fortalecido a participação política e social dos jovens e moradores em geral, capacitando-os a lutar por seus direitos e a se envolver ativamente em questões que afetam suas vidas. As ações de combate à fome, como a distribuição de cestas solidárias, têm garantido a segurança alimentar de muitas famílias, aliviando as dificuldades econômicas exacerbadas pela pandemia.
Esses impactos mostram que o Movimento Luta não apenas proporciona apoio imediato e assistência prática, mas também promove mudanças estruturais e duradouras na vida dos moradores, empoderando-os e capacitando-os para construir uma vida mais justa e digna.
Pergunta 12. O movimento realiza alguma forma de avaliação dos resultados de seus projetos e iniciativas? Quais métricas ou indicadores são utilizados para medir o sucesso das ações?
Resposta:
O Movimento Luta realiza avaliações sistemáticas dos resultados de seus projetos e iniciativas. Utilizamos fichas de presença em todas as atividades para monitorar a participação. Além disso, realizamos reuniões semanais de avaliação, onde discutimos os processos e identificamos áreas de melhoria. Além disso, realizamos escuta ativa com o público-alvo das atividades a fim de ouvir os feedbacks necessários. Essas práticas nos permitem medir o sucesso de nossas ações, ajustar estratégias conforme necessário e garantir que estamos atendendo efetivamente às necessidades da comunidade.