O ensino de LIBRAS no Complexo Alemão

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

A falta de intérpretes de LIBRAS nas escolas do Complexo do Alemão prejudica a educação de surdos, que, em busca do ensino, precisam se deslocar para a zona sul do Rio. A experiência de Fabiana, diagnosticada aos 3 anos, revela a precariedade do ensino na região e os desafios enfrentados pelos surdos, incluindo o bullying. A inclusão efetiva de intérpretes nas escolas é crucial para evitar evasões e garantir o acesso adequado à educação para a comunidade surda. Com apenas 11 intérpretes em escolas na área do Alemão, surdos precisam se deslocar para zona sul do Rio para aprender LIBRAS.

Autoria: Davi Cidade
Informações do verbete reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir de outras fontes.

Sobre[editar | editar código-fonte]

Divulgação.

A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a segunda língua oficial do país. Desde 2002, a forma de comunicação e expressão das comunidades surdas do Brasil é reconhecida oficialmente pela União (lei nº 10.436). E é por isso que a maioria dos brasileiros – eu, você e várias pessoas surdas – nos comunicamos perfeitamente em LIBRAS, não é mesmo?? Infelizmente, nós sabemos que não!

Segundo o último censo do IBGE (2010), existem quase 10 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência auditiva. Isso corresponde a aproximadamente 5% da população que precisa acessar Educação, Saúde, Lazer, Emprego e depende, na maioria dos casos, da LIBRAS para isso.

Fabiana Vidal, moradora do Complexo do Alemão, faz parte dessa parcela da população e, assim como muitas outras pessoas surdas, não foi nada fácil para ela acessar o ensino da língua brasileira de sinais. Sua família compartilha um pouco da jornada de lutas da Fabiana.

Ela recebeu o diagnóstico de surdez total aos 3 anos de idade e, desde então, sua mãe, dona Ana, sempre teve muita dificuldade de encontrar uma vaga em escolas na área do Complexo do Alemão para ela. “O ensino aqui nas redondezas sempre foi muito precário” afirma dona Ana sobre procurar ensino especializado para sua filha surda.

Com 7 anos, foi matriculada numa escola pública comum e acompanhou a escola do C.A até o 4º ano do ensino fundamental. Em sua alfabetização, teve ajuda do reforço escolar e de sua mãe em casa. Mas, ao trocar de escola, no 5º ano, o mundo passou a ser mais cruel.

Sem reforço escolar e sem integração aos alunos ouvintes, Fabiana começou a sofrer bullying por parte de outros alunos por ser surda. No 8º ano, não suportou as violências sofridas na escola e desistiu de estudar.

A especialista em surdez e professora de LIBRAS há 25 anos, Maria Cristina de Oliveira, afirma sobre casos parecidos com o da Fabiana.

“Muitas vezes os surdos abandonam a escola, pois não tem o próprio acesso dentro dela. E os que ficam são tão ignorados, em muitos casos, que vão passando de uma série para outra sem sequer saber ler ou tendo um mínimo de leitura. Porque não tiveram a inclusão deles de fato”.

Anos depois, com 18 anos, Fabiana conseguiu uma vaga no INES e completou seu ensino médio. Na instituição, fez cursos profissionalizantes, fez pré-vestibular e até mesmo encontrou um namorado, que hoje é seu marido. Sua irmã, Luana Vidal, conta da transformação que viu após a irmã finalmente ter acesso ao ensino de LIBRAS:

“No dia que minha irmã pôde lidar com mais pessoas que surdas como ela, e conseguiu enxergar que a surdez era somente um detalhe na vida dela, ela se aceitou muito mais. Ela conseguiu ultrapassar barreiras”.

Mas e os surdos que não conseguem se deslocar do Complexo?[editar | editar código-fonte]

As escolas municipais do Complexo do Alemão são geridas pela 3ª coordenadoria geral de Educação (3ª CRE) do município que conta com mais de 135 unidades escolares em sua gestão. Sobre a forma de atendimento aos alunos surdos nessa CRE, afirma a secretária municipal de Educação (SME):

“O processo de inclusão de alunos surdos é feito por intérpretes e tradutores de Libras e acontece nas classes regulares, não depende das classes especiais. No caso da 3ªCRE, 11 unidades escolares contam com tradutores e intérpretes para acompanhar os alunos que precisam deste tipo de atendimento. Ressaltamos que nem todos os alunos surdos têm necessidade de serem acompanhados por tradutores e intérpretes, pois contam com outros recursos.”

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

Matéria produzida por Davi Cidade e publicada por Voz das Comunidades em 13 de maio de 2022.