Periferia grita o silêncio

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

meu corpo periférico sua tanto que chega a sangrar; de ódio, raiva e tudo o que está aqui dentro e não pode sair. não pode porque não há força, as palavras já foram desumanizadas, rechaçadas e perderam o sentido. são corpos descartável, inúteis e violentados constantemente. É como se minha vida não valesse nada e fosse fácil de exterminar. Qualquer coisa mata: o ódio, a bala, o racismo, água, um brt, absolutamente qualquer coisa. E sabe o que mata mais: o silêncio. O não dizer é o que corrói. E porque não dizem? Há medo, contrafluxo e a naturalização das coisas. Pense em uma multidão caminhando em um único sentido e você na contramão. Será que nós sobreviveria? Ou melhor, será que o andar ao contrário não despertaria quem gostaria de fazer o mesmo? É preciso ao menos tentar. Tentamos todo dia, ao sair de nossas casas às 4h e voltar às 21h. Quando pulamos o esgoto que passa bem nas nossas portas para desbravar o mundo. Usando arte e cultura como a válvula de escape da morte! Meu corpo periférico grita o silêncio!