Rede Afroambiental

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.
Fundo branco com destaque para duas mãos de cor preta viradas para cima e folhas verdes sobre as mãos.
Logo Rede Afroambiental.

A Rede Afroambiental é uma rede que promove os saberes ancestrais afro-brasileiros entre a sociedade civil, educadores e gestores, como alternativa para um mundo sustentável.

Criada em 1992 por Mãe Beata de Yemanjá, a Rede Afroambiental abriu caminhos e construiu um legado para sua comunidade, Ilê Omiojuaro, e os povos de tradicionais de matrizes africanas. Por acreditar em um equilíbrio na relação homem-natureza, nessa trajetória que já dura 30 anos, a Rede tem atuado em defesa da vida e da preservação dos recursos naturais de modo a combater também, o racismo religioso e ambiental.

História[editar | editar código-fonte]

A Rede Afroambiental é formada por comunidades que utilizam ferramentas transversais da ecologia, da cultura e do conhecimento, passadas através de gerações por mestres e mestras, para transformar olhares e ações sobre o meio ambiente. Entre os nossos fundamentos estão o resgate de uma forma de vida sustentável e a cultura como pilar da educação.

Há trinta anos em movimento, a rede nasceu pela ação, incidência, reparação, denúncia, proposição e discussões apresentadas pelas lideranças culturais de matriz africana e do movimento inter-religioso na ECO92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Na ocasião, Mãe Beata de Yemanjá foi a representante dos Povos de Terreiro e, de lá para cá, nossa atuação em rede segue sem interrupções. Mestre Aderbal Ashogun, filho de Mãe Beata, é o responsável pelas articulações do movimento no Brasil e no exterior.

Uma senhora idosa negra de turbante azul na cabeça e adornada de joias segura um objeto colorido ao lado de um senhor idoso negro com uma vestimenta vermelha e branca e um chapéu do tipo quepe branco. Ao fundo, desfocado, há varias molduras com fotos e o que parecem ser prêmios.
Mãe Beata de Iemanjá.

Nossa participação como Rede teve importância efetiva no grupo de trabalho (GT) de Matriz Africana da Comissão Nacional dos Pontos Cultura, orientando várias políticas de ação de cidadania de Povos de Terreiro. Entre elas, destacam-se:

  • Lei 10.639/2003 sobre ensino da cultura Afro-brasileira e da África;
  • Lei 11.645/2008 sobre a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, a Lei dos Mestres e Mestras.

Essas são leis cidadãs e com elas procuramos incluir a Arte e a Cultura como base da Educação – tendo como o maior objetivo elegê-las como um pilar educacional.

“Estamos no campo do transformar e trazemos o conceito da Arte como Oferenda – pois compreendemos que arte é conhecer o espírito, é encantar, afetar e curar” MESTRE Aderbal Ashogun

Nosso compromisso é firmado no protagonismo já deixado pelas nossas antigas gerações. Queremos virar a chave da história e mostrar o que está explícito em qualquer mapa do Brasil: são os povos de terreiro que já discutem e cuidam do meio ambiente há mais de quatro séculos.

Terreiros digitais[editar | editar código-fonte]

Duas fileiras à esquerda e à direita com punhos cerrados levantados para cima. Ao centro no chão um tapete desenhado com cores verde e bege e em cima, projetado na parede, um homem negro de dreads e punho cerrado.
TERREIROS DIGITAIS SÃO NOSSOS TAMBORES, A PRIMEIRA INTERNET DO MUNDO

Terreiros Digitais são estações tecnológicas distribuídas em pontos de interação em rede nas cinco regiões do país. Construídos de forma colaborativa, em territorios vulneráveis, permitem o acesso à internet e às ferramentas que habilitam nosso povo à comunicação contemporânea, potencializando a comunicação comunitária e colaborativa. A conexão entre povos de terreiro que sempre existiu no mundo off-line passa, então, a dialogar online. E a partir do nosso olhar.

A metodologia dos terreiros digitais foi desenvolvida a partir do reconhecimento da importância dos saberes ancestrais, bem como o seu valor enquanto ciência. Temas transversais da ecologia, da cultura e do conhecimento são compreendidos como tecnologias que foram passadas através de gerações por mestres e mestras. Com as ferramentas digitais, os terreiros conectados estabelecem relações intergeracionais que permitem abordagens contemporâneas de nossas tradições.  

As estações digitais permitem interação em tempo real e a participação ativa das atividades e percursos promovidos pela Rede Afroambiental. Com o mapeamento dos espaços cria-se, de maneira colaborativa e sustentável, áreas de produção, de comunicação, de economia solidária e ações para proteção ao meio ambiente e à nossa cultura. O site da Rede Afroambiental e toda a articulação preparatória para a Cúpula dos Povos, da Rio+30, já é resultado dessai interatividade.

Nosso objetivo é implementar uma comunicação com outro olhar – um olhar da cultura, com o olhar da arte, com o olhar da literatura – dentro de uma ancestralidade e uma corporeidade que se contrapõe a um sistema de poder que inviabiliza, impede e invalida saberes produzidos pela maioria da população brasileira.

Nossa comunicação vem de longe, pois o tambor, para os povos e comunidades tradicionais de matriz africana, é a primeira internet do mundo. Ele carrega o poder agregador da memória, essa memória coletiva que nos faz sentir fazer parte de uma família.

Nossos ancestrais escravizados, vindos de diferentes lugares da África, se comunicavam por olhares nos navios negreiros. A comunicação estabelecida, um texto sem palavras, também existia nas senzalas, no Correio Nagô e existe até hoje. Está nos terreiros, nos nossos corpos.

Estamos atualizando nossas conexões e ampliando a capacidade de circulação dos bens simbólicos, produtos, serviços culturais e artísticos dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana. Precisamos saber a receita do angu para, em seguida, adicionar dendê e pimenta. Os Terreiros Digitais retomam o discurso de nós sobre nós mesmos.

Redes sociais[editar | editar código-fonte]

Veja também[editar | editar código-fonte]