São Gonçalo: uma cidade que trabalha e que “dorme”?

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Dados de São Gonçalo

São Gonçalo é uma cidade localizada na região metropolitana do Rio de Janeiro. Atualmente esse local possui uma população estimada em 960.652 pessoas e densidade demográfica de 3.613,57 hab/km², segundo dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2024 e 2022, respectivamente.

Seus limites estão entre as cidades de Itaboraí, Niterói e Maricá, sendo banhado pela Baía de Guanabará.

A cidade é cortada pela BR-101, RJ-104 e RJ-106. O território é dividido em 5 distritos: São Gonçalo, Ipiíba, Monjolos, Neves e Sete Pontes.

São Gonçalo e sua classe trabalhadora

São Gonçalo (SG) se fez como um recinto de parte da classe trabalhadora fluminense, produtora de mão de obra servente e complementar a cidade vizinha, Niterói, e a metrópole, Rio de Janeiro (RJ).

Traçando rapidamente a rotina básica de um morador gonçalense, seu dia inicia-se ainda anterior a nascente solar, é pela madrugada que ele desperta, essa medida é adotada na intenção de fuga dos grandes trânsitos que se formam nas vias que cortam a cidade e a interliga aos territórios adjacentes de Niterói e RJ, caminhos esses que grande parte dos residentes de SG precisam percorrer diariamente para chegar ao seu local de trabalho.

No ônibus é possível enxergar a grande massa que se desloca pela manhã, enfrentando a superlotação e a precarização no transporte público, essa mesma massa é observada no período da noite, quando estes retornam para suas residências, nesse comum movimento pendular é possível que alguns rostos se tornem familiares por se cruzarem cotidianamente enquanto fazem o mesmo vai e vem entre cidades.

O fato de São Gonçalo ser constituído também por esse corpo trabalhador que passa mais tempo no seu ambiente de trabalho do que vivenciando a sua cidade de origem destinou a ela no passado o termo de “cidade dormitório”, que Daniel Rosa (2017)[1] elucida no seu texto “Consensos e dissensos sobre a cidade dormitório: São Gonçalo (RJ), permanências e avanços na condição periférica”, justificando o termo nesse movimento pendular que algumas partes periféricas da metrópole precisam realizar para se manter no mercado de trabalho.

Vem daí o trocadilho feito no título desse texto ‘São Gonçalo: uma cidade que trabalha e “dorme”?’, o ponto de interrogação ao final e o parênteses na palavra dorme se dá por dois motivos. Primeiro, pelo termo “cidade dormitório” empregado a SG ser questionável, já que atualmente a cidade passou a gerar um número considerável de empregos e não se configura por uma dependência da metrópole; Segundo, porque essa população na realidade mais trabalha do que dorme, mais trabalha do que se diverte, mais trabalha do que consegue viver, o trabalho promulgado a eles é uma jornada exaustiva que os afastam das possibilidades de vislumbrar outros horizontes para proveito da vida que não os reduzam a sua atividade laborativa.

O povo gonçalense está localizado geograficamente em um local que o trabalho consome o lugar de outros direitos, como saúde e lazer, já que esses dois tornaram-se antagônicos a esse modelo de trabalho, que retira tempo e energia da classe trabalhadora e os impedem de vivenciar a cidade dentro da totalidade do que esse espaço pode lhes oferecer.

São Gonçalo é essa localidade, por vezes, esquecida dentro do estado carioca, fora do radar dos interesses estatais para promoção de políticas públicas. Mas é sempre bom lembrar que ali mora gente, e são trabalhadores que, em muitos casos, residem, mas não trabalham e nem usufruem da cidade com tanta fervorosidade. Apesar de atualmente São Gonçalo não ser uma cidade que se reduz apenas a um espaço residencial, ela ainda possui um número expressivo de pessoas que necessitam sair desse lugar todos os dias, não para se divertir, mas para vender a sua força de trabalho, e no findar do dia retornam para a sua cidade de origem para, enfim, descansar. É impossível falar desse município sem citar estes.

Notas e referências

  1. Rosa, Daniel Pereira. Consensos e dissensos sobre a cidade dormitório: São Gonçalo (RJ), permanências e avanços na condição periférica. In: Revista política e planejamento regional, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2017, p. 273 – 288.