Sueli Carneiro (pesquisadora)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Aparecida Sueli Carneiro (São Paulo, 24 de junho de 1950) é uma filósofa, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro. Sueli Carneiro é fundadora e atual diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra e considerada uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil. Possui doutorado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP).[Referência bibliográfica 1]

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir de informações retiradas do site Literafro[Referência bibliográfica 2].
Sueli Carneiro.

Sobre[editar | editar código-fonte]

Em 1983, durante o longo processo de redemocratização do país, o governo do Estado de São Paulo criou o Conselho Estadual da Condição Feminina, porém sem nenhuma negra dentre as trinta e duas componentes. Sueli Carneiro foi uma das lideranças do movimento que se engajou na campanha da radialista Marta Arruda pela abertura de espaço no Conselho para este segmento, campanha que logrou êxito.

Em 1988, a autora fundou o GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra, primeira organização negra e feminista independente de São Paulo. Meses depois, foi convidada para integrar o Conselho Nacional da Condição Feminina, em Brasília. Criou o único programa brasileiro de orientação na área de saúde específico para mulheres negras. Semanalmente mais de trinta integrantes do chamado “segundo sexo” são atendidas por psicólogos e assistentes sociais e participam de palestras sobre sexualidade, contracepção, saúde física e mental na sede do Instituto.

Em 1992, atendendo ao apelo por segurança de um grupo de músicos da periferia paulista, vítimas frequentes de agressão policial, decidiu criar o Projeto Rappers, pelo qual os jovens são agentes de denúncia e também multiplicadores da consciência de cidadania entre os demais moradores, sobretudo desta mesma faixa etária.

Em 2009, Sueli Carneiro produziu o estudo “Mulheres negras e poder: um ensaio sobre a ausência”, como forma de denúncia da hegemonia masculina e branca nas diferentes esferas de poder. A autora não tratava apenas da ausência pela baixa representação, falava sobre aquelas mulheres negras que, mesmo presentes na institucionalidade, foram prejudicadas por questões advindas das discriminações de raça e de gênero. A ex-ministra da SEPPIR, Matilde Ribeiro, e a atual deputada federal Benedita da Silva estavam entre elas.

Na descrição cirúrgica dos episódios, Sueli Carneiro tratou em seu texto sobre a violência política de gênero e raça sofrida por essas mulheres e como, ontologicamente, são elas vinculadas à subalternidade e não ao poder, especialmente na política institucional. A pensadora não trouxe apenas o diagnóstico que expunha as fraturas de nossa pseudo democracia, e também propôs soluções. E algumas delas, fruto da luta por direitos, foram implementadas.

Sueli Carneiro se vale do conceito de “epistemicídio”, cunhado pelo sociólogo Boaventura de Souza Santos (1940-), para abordar a tentativa de apagamento dos saberes dos povos colonizados, com ênfase nas mulheres negras, por serem parte do segmento mais oprimido desses povos. No campo dos estudos de gênero, sua produção dialoga com intelectuais e feministas negras brasileiras como Beatriz Nascimento (1942-1995), Luiza Bairros (1953-2016) e Lélia Gonzalez (1935-1994).

A autora tem sido agraciada com uma série de prêmios e homenagens: Prêmio Bertha Lutz (2003); Menção Honrosa no Prémio de direitos humanos Franz de Castro Holzwarth; Prêmio Direitos Humanos da República Francesa; Prêmio Benedito Galvão (2014); Prêmio Itaú Cultural 30 Anos (2017); Prêmio Especial Vladimir Herzog (2020);

Em 2018, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro (1980- ), cria o selo editorial Sueli Carneiro, inaugurado com uma coletânea em sua homenagem, em reconhecimento à importância de suas ideias e atuação.

O legado de Sueli Carneiro[editar | editar código-fonte]

Publicações[editar | editar código-fonte]

  • A mulher negra brasileira na década da mulher. São Paulo: Nobel, 1985.
  • Mulheres que fazem São Paulo: a força feminina na construção metrópole. São Paulo: Celebris, 2004.
  • A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese (Doutorado em Filosofia). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
  • A cor do preconceito. São Paulo: Ática, 2006.
  • Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.
  • Escritos de uma vida. São Paulo: Editora Letramento, 2018.

Coautoria[editar | editar código-fonte]

  • Mulher negra: Política governamental e a mulher, com Thereza Santos e Albertina de Oliveira Costa. São Paulo:  1985.

Prêmios[editar | editar código-fonte]

  • Prêmio Kalman Silvert (2021).
  • Prêmio Especial Vladimir Herzog (2020).
  • Prêmio Itaú Cultural 30 Anos (2017).
  • Prêmio Benedito Galvão (2014).
  • Prêmio Direitos Humanos da República Francesa.
  • Prêmio Bertha Lutz (2003).
  • Prémio de direitos humanos Franz de Castro Holzwarth (Menção Honrosa).

Referências[editar | editar código-fonte]