Trabalho do cuidado
O trabalho do cuidado é um conjunto de atividades, de vários âmbitos da vida, essenciais para a reprodução social. Envolve o cuidado direto com pessoas como, por exemplo, crianças, idosos, pessoas com deficiência e doentes, mas também de afazeres domésticos e gerenciamento do lar. Historicamente, o trabalho reprodutivo, doméstico, do cuidado foi associado ao gênero feminino e desvalorizado sem remuneração em relação ao trabalho produtivo na economia formal. Dessa forma, Federici (2017) aponta que o capitalismo se apropriou do trabalho não remunerado das mulheres no âmbito doméstico, tornando essencial para a reprodução da força de trabalho sem custo para o sistema. Na história brasileira, enquanto um país colonizado, o trabalho do cuidado foi deixado para as mulheres pretas escravizadas, que, mesmo após a abolição formal do escravismo, permaneceu nesse posto. Nas favelas, essa função é atravessada pela precarização dos serviços públicos e pelo agravamento da estrutura desigual de sociedade. A informalidade, a ineficiência das políticas públicas e a sobrecarga das mulheres pretas pioram a invisibilização do trabalho do cuidado nas comunidades. Além de assumirem o cuidado de idosos, crianças, pessoas com deficiência e o gerenciamento do lar, as mulheres pretas e periféricas, em muitos casos, ainda assumem o trabalho do cuidado de forma remunerada em outros espaços sociais, seja como empregadas domésticas, cuidadoras ou babás em bairros de classe média e alta, o que resulta na dupla jornada de trabalho. Logo, a falta de creches públicas, assistência domiciliar para idosos e pessoas com deficiência, serviços de saúde acessíveis faça com que o cuidado recaia, majoritariamente, sobre as famílias negras, em específico as mulheres. A ausência do Estado nas favelas cria uma situação em que o cuidado se torna um esforço coletivo. Redes comunitárias, igrejas, associações de moradores e ONGs acabam assumindo um papel essencial na prestação de cuidados, funcionando como um suporte para famílias que não têm acesso a serviços públicos adequados. Para que o trabalho do cuidado nas favelas seja valorizado, algumas ações são imprescindíveis, como: políticas públicas que ampliem o acesso a creches, escolas e serviços de saúde, reduzindo a carga do cuidado sobre as mulheres; regularização do trabalho doméstico e de cuidado, garantindo direitos trabalhistas a mulheres que exercem essas funções; investimento em infraestrutura e segurança pública, pois a precariedade estrutural afeta diretamente a possibilidade de cuidar de forma digna; fortalecimento de redes comunitárias e cooperativas de trabalho, possibilitando uma redistribuição mais equitativa do cuidado.